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1 TERAPIA RACIONAL EMOTIVA COMPORTAMENTAL Autora: Regina Beatriz Braga Montelli 2 INTRODUÇÃO A terapia racional emotiva comportamental (TREC), criada por Albert Ellis, rompeu com o paradigma da psicanálise tradicional na década de 1950, influenciada por filósofos como Epicteto e Bertrand Russel. Também teve influência da psicanálise, por meio da teoria de Karen Horney: a “tirania do dever” e o desenvolvimento neurótico, as ideias fixas e os dogmas (Dryden e Ellis, 1987; Rangé, 2007). A TREC tem como foco as crenças irracionais que geram os sentimentos e os comportamentos disfuncionais. A substituição das crenças irracionais pelas crenças racionais correspondentes é feita por meio de questionamentos e discussões sobre as demandas ou as exigências em relação a si próprio, ao outro e ao mundo, para que haja mudança do sentimento e, consequentemente, uma vida com mais qualidade, flexibilidade e pautada na realidade. A TREC diminui sofrimentos desnecessários, produtores de estresse e psicopatologias (Ellis, 2004). Antecedeu a terapia cognitivo- comportamental (TCC) de Aaron Beck, considerada TCC de segunda geração, sendo o behaviorismo da primeira geração. Difere das terapias denominadas de terceira geração (por exemplo, a terapia de aceitação e comprometimento, de Steven Hayes) por elas focarem em estratégias emocionais e na aceitação dos sentimentos, lidando com os pensamentos sem questionamentos, com foco na maneira como nos relacionamos com eles, sem tentar alterá-los diretamente. As abordagens de terceira geração podem ser úteis para o tratamento de pacientes mais comprometidos. Alguns pacientes relatam saber que seu pensamento de que “algo ruim vai acontecer” é irracional, sentem- se tolos por isso e continuam a não alterar o sentimento de medo. Ao mesmo tempo, é importante saber quais crenças irracionais levariam a sentimentos ruins e seus respectivos eventos ativadores para o sucesso na terapia. 3 SOBRE ALBERT ELLIS Albert Ellis nasceu em 27 de setembro de 1913, em Pittsburgh, nos Estados Unidos (EUA), e faleceu em 24 de julho de 2007, aos 93 anos de idade. Em 2003, foi considerado, pela Associação Americana de Psicologia (APA), o segundo psicólogo mais influente do século XX, antecedendo Carl Rogers. Ellis teve uma infância difícil. Seu pai viajava muito e era negligente em relação aos filhos, assim como sua mãe, que tinha transtorno bipolar. Ele dizia que ela era uma “tagarela” e não o ouvia. Filho mais velho, com dois irmãos, assumiu a responsabilidade de cuidar deles. Teve diversos problemas de saúde e, aos cinco anos, chegou a ser internado com problemas renais. Gostava de ler e, na vida adulta, passou a escrever contos, poesias e livros de não ficção. Começou a escrever sobre sexualidade e se tornou conselheiro dos amigos. Formou-se primeiro em Administração e, posteriormente, em Psicologia na Universidade de Columbia, nos EUA. Seguia a psicanálise de Karen Horney, mas logo percebeu que a linha não tinha efeito nos clientes. Muitos dos problemas pessoais de Ellis foram resolvidos por meio do budismo e das filosofias de Epicteto, Marco Aurélio, Spinoza e Russell. Assim, começou a desenvolver a terapia racional emotiva e, em 1953, já não se considerava psicanalista. Em 1958, publicou seu primeiro trabalho na revista Journal of General Psychology, intitulado Psicoterapia Racional. Em 1959, fundou o Albert Ellis Institute of New York, que existe até hoje (Rangé, 2007). 4 A TREC é uma psicoterapia de ação orientada que ensina as pessoas a examinarem seus próprios pensamentos, crenças e atitudes, fazendo-as substituir aqueles que são autodestrutivos por alternativas que melhorem a própria vida e, consequentemente, a dos outros. Ellis postulava que o sentimento do “neurótico” (termo usado na psicanálise) está em acreditar na sua desesperança: geralmente, ele aceita como verdade aquilo em que acredita e não pode mudar aquilo que acha que não pode. Por outro lado, se as pessoas acreditam que podem mudar, quase sempre conseguem colocar em prática essa crença (Ellis, 1976). 5 ORIGEM DAS PERTURBAÇÕES EMOCIONAIS As perturbações emocionais originam-se de três influências principais: 1. Tendências inatas de pensar, sentir e agir. 2. Circunstâncias ambientais e culturais nas quais a pessoa é criada. 3. Maneiras de agir escolhidas ou como a pessoa se condiciona ao que experimenta. Para Ellis, comportamentos neuróticos e atitudes irracionais são aprendidos durante a infância, e existe a crença de que certas condições, como receber amor e ter sucesso, são necessidades, ou seja, precisam e devem ocorrer e, por outro lado, ficar frustrado, por exemplo, não. "As pessoas que nos criam nos ensinam comportamentos neuróticos. Mas também podemos aceitar ou, ocasionalmente, rejeitar esses ensinamentos prejudiciais (Ellis,1976)". Ellis considera essas ideias irrealistas e faz com que acabemos odiando a nós e os outros, quando acreditamos nelas (Ellis, 1976). O distúrbio emocional consiste essencialmente, portanto, em proposições ou significados incorretos, ilógicos e não- validáveis, em que o indivíduo perturbado acredita de modo dogmático e sem discussão, e em relação aos quais consequentemente se emociona ou age construindo sua própria derrota (Ellis, 1976). A dificuldade emocional surge quando mantemos as crenças aprendidas na infância até a adolescência e a vida adulta. Algumas crenças aprendidas nos sustentam, mas as irracionais, que não estão pautadas na realidade presente, nos derrubam, por levarem a atitudes derrotistas. 6 Quantas vezes o indivíduo age por obediência a pensamentos e crenças que foram ensinados, que ouviu repetidamente ao longo de sua história de vida e que nem são realmente dele? A TREC veio com o propósito de questionar essas crenças sabotadoras, substituindo-as por crenças realistas, revertendo os sentimentos negativos para que a pessoa se torne menos “afetável” por qualquer coisa (Ellis, 2004). As crenças racionais geram estados emocionais negativos equilibrados, como tristeza, mágoa, pesar, desprazer e aborrecimento. Porém, as crenças irracionais produzem reações emocionais perturbadas, como pânico, depressão, fúria etc. (Rangé, 2007). 7 DEMANDAS Demandas são as exigências, as avaliações absolutistas que fazemos em relação a nós mesmos, ao outro e ao mundo ou à vida de maneira dogmática. Manifestam-se por meio de expressões como “tenho que”, “deveria”, no sentido de obrigação, de algo inflexível, que não poderia ser de outra maneira. As demandas são as causas centrais e mais profundas da perturbação emocional e comportamental do ser humano. Ellis usava o termo musturbation, uma combinação de must (dever, necessidade, obrigação) com masturbation (masturbação). Dessa mistura de masturbação mental com “tenho quês” deriva um conjunto de conclusões irracionais (Rangé, 2007). A TREC tem como princípio mostrar aos pacientes que suas demandas, exigências e insistências geralmente trazem resultados de autossabotagem, enquanto seus desejos, preferências e vontades trazem melhores resultados. Geralmente, as pessoas não precisam ter aquilo que desejam e podem suportar o que não gostam. É importante que o terapeuta auxilie o cliente a trocar as exigências e as necessidades por desejos e preferências, corrigindo suas verbalizações. Veja alguns exemplos no Quadro 1. 8 Quadro 1 TERAPIA RACIONAL EMOTIVA COMPORTAMENTAL: EXEMPLOS DE DEMANDAS Demanda em relação a SI MESMO: “Tenho que impressionar os outros”. Substituir por: “Seria melhor se eu impressionasse os outros, mas não tenho que fazer isso.” Comentário: Algumas crenças revelam esse tipo de demanda, como a de ter queser perfeito, de não poder errar. Levam a pessoa a sentir culpa, a se rotular como incapaz, ficar paralisada por conta de tal rótulo e, assim, construir sua própria derrota, “confirmando” sua crença de incapacidade. Dessa maneira, pode chegar à depressão. Demanda em relação AO OUTRO: “O outro me perturba, me deixa com raiva”. Substituir por: “Fico perturbado porque lido com as pessoas com muita seriedade.” Comentário: Esse tipo de demanda em relação ao outro, de que este ame, respeite ou satisfaça as nossas vontades, gera grande frustração, raiva e hostilidade, pois responsabiliza o outro pela nossa própria infelicidade. Algumas pessoas acreditam que, por meio da aprovação dos outros, podem superar os sentimentos de inferioridade, sendo que estes se originam da própria necessidade de aprovação. Quanto mais alguém pensa que tem que receber amor e afeto dos outros, maior seu sentimento de inferioridade. O desenvolvimento da autoestima se dá em bases instáveis, pois depende do outro e demanda do outro. Assim, não há garantias. Para Ellis, conseguir amor dos outros teria menos importância do que optar pela busca do próprio prazer: “(...) em geral, conseguimos a felicidade não ganhando a aprovação dos outros, mas conseguindo solucionar, com nosso próprio esforço e autodisciplina, as tarefas difíceis e os problemas” (Ellis, 1976). Demanda em relação AO MUNDO OU À VIDA: “Eu tenho que acordar cedo para trabalhar”. Substituir por: “Vou acordar cedo para trabalhar”. Comentários: Esse tipo de demanda ocorre quando as condições sob as quais se vive têm que ser fáceis e sem frustrações, pois, do contrário, o mundo é um lugar horrível, inviável de suportar. A consequência é achar que a vida é uma droga e postergar as tarefas que exigem algum esforço e dedicação. Essa crença pode levar às dependências químicas e comportamentais como forma de esquiva da realidade, isolamento e alienação e à busca pelo prazer imediato, já que não há tolerância à frustração e a ideia é que o mundo tem que trazer apenas prazer, e não dor. 9 As demandas não levam a nenhum tipo de resultado esperado, pois o simples fato de haver várias exigências não garante que elas sejam satisfeitas. A Figura 1 traz um modelo do que as demandas do indivíduo causam em relação a si mesmo, aos outros e ao mundo. Figura 1: Demandas. Fonte: Montelli (2017). Refutação ou discussão das demandas Há três maneiras de questionar/desafiar as demandas dos pacientes: 1. Pragmática: ajudar os pacientes a reconhecerem as consequências práticas de suas crenças irracionais, que carecem 10 de resultados satisfatórios. Demandar e exigir não fazem com que obtenham o resultado esperado. 2. Lógica: ajudar os pacientes a identificarem sua supergeneralização. 3. Empírica: mostrar aos pacientes que não há nenhuma evidência para fundamentar suas crenças. Derivados das demandas As demandas contam com alguns derivados, formas de pensar irrealistas e inflexíveis que podem ser expressas verbalmente. São descritas como “terrevelização”, “não aguentoíte” e condenação global. Saiba mais sobre cada uma delas! “Terrivelização” Do inglês awfulizing, caracteriza-se pelo uso de palavras como horrível, terrível, catastrófico ao descrever algo. É o que acontece quando um acontecimento é avaliado como mais do que 100% ruim (Rangé, 2007). “Seria terrível se... ”; ”Isso seria a pior coisa que poderia acontecer”; “Isso seria o fim do mundo”. “Não aguentoíte” Do inglês I-cant-stand-it-itis, significa considerar um acontecimento insuportável. Diz respeito a uma pessoa acreditar que não consegue experimentar felicidade alguma se um acontecimento que não deveria 11 ocorrer, de fato, ocorre. Indica baixa tolerância à frustração (Rangé, 2007). “Não suporto isso”; “Isso é absolutamente insuportável”; “Vou morrer se eu for rejeitado...”. Condenação global Caracteriza-se por avaliar todo o próprio self ou o de outras pessoas, em vez de determinado comportamento em certas circunstâncias. Quando refere-se a si mesmo, é denominada de autocondenação (self- damning, em inglês). “Sou um estúpido/desesperado/inútil/sem valor”; “Ele disse uma mentira, então, ele é mentiroso”; “O mundo é perigoso”. 12 CRENÇAS IRRACIONAIS Por meio de estudos realizados com seus próprios pacientes, Ellis levantou as principais crenças produtoras de perturbações emocionais, que levam a sentimentos de inutilidade e falta de autoconfiança, ansiedade exagerada, hostilidade e pouca tolerância à frustração. Veja, a seguir, as principais crenças irracionais. • Devemos ter a aprovação e o amor de quase todas as pessoas por quase tudo o que fazemos. • Temos que ser competentes, adequados e ter sucesso em importantes aspectos; do contrário, nosso mérito e valor diminuem. • Precisamos nos condenar severamente por nossos erros ou maus procedimentos. • Devemos acusar os outros por mau comportamento e ficar perturbados por causa de seus erros e suas tolices. • Devemos pensar que, se algo afetou profundamente nossas vidas, deve continuar afetando indefinidamente. Exemplo: certas tradições que nos foram ensinadas pelos pais ou pela sociedade devem nos influenciar de modo profundo. • Se desejamos conseguir aquilo que valorizamos, devemos consegui-lo; se não pudermos, tornamo-nos vítimas de uma catástrofe. Não devemos adiar os prazeres por ganhos futuros. • É mais fácil evitar do que enfrentar as dificuldades e as responsabilidades da vida. Dessa forma, não nos frustramos seriamente. • Acontecimentos externos causam reações emocionais e, portanto, não temos virtualmente nenhum controle sobre essas emoções. • Devemos nos preocupar sempre com as coisas potencialmente perigosas ou prejudiciais, pois a ansiedade impedirá sua ocorrência. 13 Quando acreditamos que as coisas que preferimos ou desejamos que acontecessem precisam ou devem acontecer, pensamos, sentimos e nos comportamos irracionalmente, já que, geralmente, não podemos mudar a realidade desagradável e não desejada. Ao encararmos com sensatez uma situação detestável, tentaremos mudá-la ou aceitá-la, caso não seja inalterável. A perturbação diante de tal situação leva ao fracasso e podemos torná-la ainda pior (Ellis, 1976). 14 O ABC DA MUDANÇA Quando criou a TREC, Ellis utilizou uma estrutura bem simples para conceitualizar os problemas psicológicos dos seus pacientes: o modelo ABC (Dryden e Ellis, 1987), apresentado na Figura 2. Figura 2: ABC da mudança. Fonte: Montelli (2017). No modelo ABC, “A” significa acontecimento desencadeador ou ativador (em inglês, activanting event), “B” representa o que se acredita ou pensa diante desse ativador, ou seja, as crenças (em inglês, beliefs), e “C” são as consequências, respostas emocionais e comportamentais que derivam de “B”. 15 PAPEL DO TERAPEUTA Mas como o terapeuta pode auxiliar o paciente em relação a cada um dos três itens do modelo ABC? Saiba mais a seguir. 1. Como identificar “A” (acontecimento desencadeador ou ativador) Trata-se do acontecimento presente ou do próprio comportamento, que ativa determinados pensamento e sentimento. Ele não existe em um estado puro, mas interage com “B” e “C”. As pessoas colocam algo de si mesmas nos “As”, como objetivos, pensamentos, desejos e tendências fisiológicas (Dryden e Ellis, 1987). O desejo de sair-se bem em um trabalho e não conseguir ativará “Bs” e “Cs”. O que deve ser feito? Levantar com o paciente qual foi a situação em que ele se sentiu perturbado e o que ativou essa perturbação (C). Pedir para ele descrever a situação sem inferir. Assim, poderá encontrar o acontecimento ativador (A). Depois de identificar o “A” do seu paciente, é importante resistira qualquer tentação de desafiar “A”, mesmo que seja obviamente distorcido. 16 O terapeuta deve incentivar que o cliente assuma que seu "A" é verdade. Isso permitirá a identificação da crença irracional "B" mais tarde (Dryden, 2006). Acompanhe, a seguir, exemplos de eventos ativadores ou desencadeadores: • Sofrer ameaça. • Falhar; perder. • Machucar alguém; quebrar com seus valores morais. • Cair de nível social. • Ser traído. • Agir contra seus próprios valores (transgredir regra pessoal); ter sua autoestima ameaçada. • Ter um relacionamento ameaçado de rompimento. • Não possuir o que é valorizado e ambicionado. 2. Como encontrar “C” (consequências emocionais, comportamentais e cognitivas) Quase sempre é mais fácil chegarmos aos “Cs”, antes mesmo dos “As” e dos “Bs”, pois é mais fácil identificar os sentimentos e os comportamentos primeiro. As consequências vêm da interação entre “A” e “B”. Costumamos relacionar “C” como consequência de “A” por reagirmos aos estímulos ambientais. Quando “A” tem muito poder (terremotos, condições de vida miseráveis, etc), tende a afetar profundamente “C”. Quando “C” é uma alteração emocional (ansiedade, depressão, hostilidade, etc.), a causante mais direta é “B”. Há também alterações 17 emocionais que podem emergir de “A” muito poderosa (desastres ambientais, guerras) e também de fatores do organismo, como doenças e alterações hormonais, que podem causar as consequências “C” (Dryden e Ellis, 1987). Veja, a seguir, algumas das possíveis consequências (C) dos acontecimentos ativadores listados acima: • Ansiedade. • Depressão. • Culpa. • Vergonha. • Mágoa. • Raiva. • Ciúmes. • Inveja. O que fazer nesses casos? O terapeuta pergunta ao cliente como se sentiu na situação em questão. Ajuda a selecionar uma emoção negativa não saudável e, caso existam várias, ajuda a identificar a principal. O comportamento do paciente na situação descrita deve ser verificado, perguntando o que ele fez. Tanto a emoção quanto o comportamento a serem mudados devem ser disfuncionais (Dryden, 2006). 3. Descubra “B” (crenças irracionais) Segundo a TREC, as pessoas têm inúmeras crenças sobre os acontecimentos ativadores (A). Essas crenças exercem uma forte influência sobre as consequências cognitivas, emocionais e comportamentais (C). Mesmo que pareça que “A” causa “C”, quase nunca isso é verdade, porque “B” serve como mediador entre “A” e “C”, portanto, “B” causa “C”. 18 As crenças racionais são responsáveis por comportamentos de autoajuda. As crenças irracionais, por comportamentos disfuncionais, autodestrutivos e de destruição da sociedade (Dryden e Ellis,1987). O que deve ser feito? O cliente deve receber ajuda para entender que reações perturbadas em "C" não são determinadas pela situação "A", mas, em grande parte, por "Bs". Nas situações "Bs" estão as demandas e seus derivados. A conexão entre "B" e "C" vai ser feita com ajuda do terapeuta. Ajude o paciente a conectar “B” e “C”. Acompanhe alguns exemplos. Você acha que seus sentimentos...(C) foram determinados pelo acontecimento... (A) ou por sua crença sobre... (A)? O que você estava dizendo a si mesmo sobre... (A) que o levou a sentir... (C)? O que você estava demandando ou exigindo sobre... (A)que o levou a sentir.. .(C)? Quando você estava sentindo... (C) na... (A), você estava exigindo que... ou estava querendo, mas não exigindo... (A)? 19 DESAFIO DAS CRENÇAS IRRACIONAIS (DEF) Nos tópicos a seguir, serão abordadas algumas maneiras de questionar as crenças irracionais (B) por meio de desafios (D) que levarão a uma nova crença, mais adequada à realidade (E), e a novos comportamentos e a sentimentos (F) mais adaptativos. Disputa ou desafio (D) Há várias maneiras de se questionar as crenças irracionais após sua identificação em “B”: • Essa crença ou esse pensamento o ajuda? • Quais evidências confirmam seu pensamento? • Quais evidências não confirmam seu pensamento? • Isso é mesmo insuportável? • O que de pior pode acontecer? Novas filosofias efetivas (E) São uma resposta racional para as crenças irracionais: • Qual seria um pensamento alternativo que o ajudaria nesta situação? • Poderia substituir exigências por preferências, por avaliações realistas, tolerar o que não gosta, não rotular a si e aos outros? 20 Novos sentimentos e comportamentos efetivos (F) Incluem emoções negativas saudáveis, como decepção, preocupação, aborrecimento, tristeza, arrependimento, frustração e novos comportamentos funcionais. Emoções negativas saudáveis são as emoções que nos incomodam, mas que estão coerentes com a situação de vida atual. Estar triste diante de uma perda é saudável, deprimir ou desesperar, por exemplo, não é. Uma vez que a demanda do paciente seja identificada, refutada e substituída por preferências ou desejos, deve-se verificar "F" correspondente a "E". O Quadro 2 é um modelo de diário ABCDEF para ser feito com o cliente durante a sessão e como tarefa de autoajuda. 21 Quadro 2 DIÁRIO ABCDEF A Evento ativador B Crenças e pensamentos (que não o ajudam) C Consequên- cias D Desafio E Novas crenças e pensamentos efetivos F Novos sentimentos O que aconteceu? O que pensou? Por que pensou isso? O que sentiu? O que fez? Desafie seus pensamentos e crenças! Ache um novo pensamento, mais adequado, efetivo e que lhe ajude. Como se sente sobre isso agora? 22 OUTROS CONCEITOS Além do que foi proposto anteriormente, na TREC o terapeuta deve estar atento a alguns pressupostos importantes para orientá-lo em seu trabalho. O Quadro 3 aborda alguns pressupostos importantes para a orientação do trabalho terapeuta na TREC. Quadro 3 PRESSUPOSTOS PARA ORIENTAÇÃO NO ATENDIMENTO COM TREC Aceitação incondicional Não importa quão negativo seja o comportamento do paciente, o terapeuta deve aceitá-lo como um ser humano que pode falhar, mas que não manterá seu comportamento disfuncional. Autoestima versus autoaceitação Autoestima implica dar-se um valor “x”, mas é impossível qualificar alguém globalmente. Todos fazemos coisas boas e más e sempre podemos deixar de fazer ou começar a fazer algo. Culpa versus arrependimento Culpa é disfuncional, pois supõe desqualificar-se como pessoa e não o comportamento. Não dá chance para mudança, enquanto o arrependimento é a condenação do comportamento, que é passível de mudança. Hedonismo a curto prazo versus a longo prazo Conflito que vem da necessidade de prazer imediato relacionada à baixa tolerância a frustração e à dificuldade em esperar para obter gratificação futura. 23 TÉCNICAS EMOTIVAS E COMPORTAMENTAIS O Quadro 4 apresenta algumas das técnicas que podem ser utilizadas pelo terapeuta na TREC. Quadro 4 TÉCNICAS EMOTIVAS E COMPORTAMENTAIS Nome da Técnica Definição IMAGINAÇÃO RACIONAL-EMOTIVA É um método para ajudar seu cliente a praticar a mudança de sua crença irracional para sua equivalente saudável enquanto imagina a situação perturbadora em questão. Esse método ajuda a fortalecer sua convicção em seu novo repertório de crenças racionais.* RECOMPENSAS São técnicas de reforço comportamental para alcançar objetivos a longo prazo. TREINAMENTO EM HABILIDADES É uma técnica que amplia o repertório do paciente para que tenha recursos de enfrentamento. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Ajuda o cliente a desenvolver estratégias para resolver questões práticas de sua vida. HUMOR É um recurso para ensinar o cliente a não levar tudo tão a sério. Rir da situação, nunca do cliente! ROLE-PLAYING Representa situações com troca de papéis. 24 Nome da TécnicaDefinição AUTORREVELAÇÃO Pode ser revelada pelo terapeuta, se for pertinente ao contexto do cliente, uma própria dificuldade passada em determinado assunto, desde que já tenha resolvido tal dificuldade. TAREFAS DE AUTOAJUDA São necessárias para obter a mudança. Exemplos: escrever um diário nos moldes do ABC, ler, assistir a filmes, exercitar a exposição a situações fóbicas, usar experimentos para comprovar resultados de comportamentos alternativos e utilizar práticas de relaxamento, meditação, respiração, etc. *Todo o processo ABC que foi feito com o cliente anteriormente deve ser refeito com ele de olhos fechados, revivendo a situação “A” e as emoções “C” correspondentes às crenças irracionais “B”. Em seguida, refaça o processo novamente, imaginando a mesma situação ativadora “A”, mas com a nova crença efetiva “B” e a nova emoção “C” correspondente ou a diminuição da emoção disfuncional. 25 CONCLUSÃO A TREC, proposta por Albert Ellis, foi construída na década de 1950 pela necessidade de se obter resultados eficazes em terapia. Suas ferramentas, baseadas na filosofia e no budismo, mantêm-se atuais e continuam sendo estudadas e aprimoradas. A TCC de Beck, tema da próxima aula, surge a partir da TREC, com alguns avanços — como o conceito das distorções cognitivas (generalização, rotulação, catastrofização, filtro mental etc.). Essa terapia foi desenvolvida a partir da década de 1960. Para Ellis, as próprias pessoas contribuem com seus problemas psicológicos pela maneira como interpretam os acontecimentos e as situações. Entretanto, podem aprender habilidades durante a terapia para identificar e desafiar suas crenças irracionais e ajudar a diminuir as perturbações emocionais, a sentir-se melhor (ABC da mudança). As práticas de autoaceitação, arrependimento, tolerância às frustrações, entre outras, aliadas às técnicas de mudanças comportamentais e à ideia de que há esforço para tais mudanças, levam a pessoa a direcionar sua vida para onde deseja ir, em vez de se deixar levar pelos outros ou por seus pensamentos disfuncionais para qualquer lugar. 26 REFERÊNCIAS Dryden W. First steps in REBT: a guide to practicing REBT in peer counseling. New York: Albert Ellis Institute; 2006. Dryden W, Ellis A. Practica de la terapia racional emotiva. Bilbao: Desclee de Brouwer; 1987. Ellis A. Como conquistar sua própria felicidade. São Paulo: Best Seller; 2004. Ellis A. Como viver com um neurótico: em casa e no trabalho. São Cristóvão: Artenova; 1976. Rangé B. Homenagem a Albert Ellis. Rev Brasil Ter Cogn. 2007 Dez;3(3).
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