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Terapia Racional Emotiva Comportamental

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1 
 
 
 
TERAPIA RACIONAL 
EMOTIVA 
COMPORTAMENTAL 
Autora: Regina Beatriz Braga Montelli 
 
2 
 
INTRODUÇÃO 
 
A terapia racional emotiva comportamental (TREC), criada por Albert 
Ellis, rompeu com o paradigma da psicanálise tradicional na década de 
1950, influenciada por filósofos como Epicteto e Bertrand Russel. 
Também teve influência da psicanálise, por meio da teoria de Karen 
Horney: a “tirania do dever” e o desenvolvimento neurótico, as ideias 
fixas e os dogmas (Dryden e Ellis, 1987; Rangé, 2007). 
A TREC tem como foco as crenças irracionais que geram os sentimentos 
e os comportamentos disfuncionais. A substituição das crenças 
irracionais pelas crenças racionais correspondentes é feita por meio de 
questionamentos e discussões sobre as demandas ou as exigências em 
relação a si próprio, ao outro e ao mundo, para que haja mudança do 
sentimento e, consequentemente, uma vida com mais qualidade, 
flexibilidade e pautada na realidade. 
A TREC diminui sofrimentos desnecessários, produtores de estresse e 
psicopatologias (Ellis, 2004). Antecedeu a terapia cognitivo-
comportamental (TCC) de Aaron Beck, considerada TCC de segunda 
geração, sendo o behaviorismo da primeira geração. Difere das terapias 
denominadas de terceira geração (por exemplo, a terapia de aceitação 
e comprometimento, de Steven Hayes) por elas focarem em estratégias 
emocionais e na aceitação dos sentimentos, lidando com os 
pensamentos sem questionamentos, com foco na maneira como nos 
relacionamos com eles, sem tentar alterá-los diretamente. 
As abordagens de terceira geração podem ser úteis para o tratamento 
de pacientes mais comprometidos. Alguns pacientes relatam saber que 
seu pensamento de que “algo ruim vai acontecer” é irracional, sentem-
se tolos por isso e continuam a não alterar o sentimento de medo. Ao 
mesmo tempo, é importante saber quais crenças irracionais levariam a 
sentimentos ruins e seus respectivos eventos ativadores para o sucesso 
na terapia. 
3 
 
SOBRE ALBERT ELLIS 
 
Albert Ellis nasceu em 27 de setembro de 1913, em Pittsburgh, nos 
Estados Unidos (EUA), e faleceu em 24 de julho de 2007, aos 93 anos de 
idade. Em 2003, foi considerado, pela Associação Americana de 
Psicologia (APA), o segundo psicólogo mais influente do século XX, 
antecedendo Carl Rogers. 
Ellis teve uma infância difícil. Seu pai viajava muito e era negligente em 
relação aos filhos, assim como sua mãe, que tinha transtorno bipolar. 
Ele dizia que ela era uma “tagarela” e não o ouvia. Filho mais velho, com 
dois irmãos, assumiu a responsabilidade de cuidar deles. Teve diversos 
problemas de saúde e, aos cinco anos, chegou a ser internado com 
problemas renais. 
Gostava de ler e, na vida adulta, passou a escrever contos, poesias e 
livros de não ficção. Começou a escrever sobre sexualidade e se tornou 
conselheiro dos amigos. Formou-se primeiro em Administração e, 
posteriormente, em Psicologia na Universidade de Columbia, nos EUA. 
Seguia a psicanálise de Karen Horney, mas logo percebeu que a linha 
não tinha efeito nos clientes. 
Muitos dos problemas pessoais de Ellis foram resolvidos por meio do 
budismo e das filosofias de Epicteto, Marco Aurélio, Spinoza e Russell. 
Assim, começou a desenvolver a terapia racional emotiva e, em 1953, 
já não se considerava psicanalista. Em 1958, publicou seu primeiro 
trabalho na revista Journal of General Psychology, intitulado 
Psicoterapia Racional. Em 1959, fundou o Albert Ellis Institute of New 
York, que existe até hoje (Rangé, 2007). 
 
 
 
4 
 
 
A TREC é uma psicoterapia de ação orientada que ensina as 
pessoas a examinarem seus próprios pensamentos, crenças e 
atitudes, fazendo-as substituir aqueles que são autodestrutivos 
por alternativas que melhorem a própria vida e, 
consequentemente, a dos outros. 
Ellis postulava que o sentimento do “neurótico” (termo usado na 
psicanálise) está em acreditar na sua desesperança: geralmente, ele 
aceita como verdade aquilo em que acredita e não pode mudar aquilo 
que acha que não pode. Por outro lado, se as pessoas acreditam que 
podem mudar, quase sempre conseguem colocar em prática essa 
crença (Ellis, 1976). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
ORIGEM DAS PERTURBAÇÕES 
EMOCIONAIS 
 
As perturbações emocionais originam-se de três influências principais: 
1. Tendências inatas de pensar, sentir e agir. 
2. Circunstâncias ambientais e culturais nas quais a pessoa é criada. 
3. Maneiras de agir escolhidas ou como a pessoa se condiciona ao 
que experimenta. 
Para Ellis, comportamentos neuróticos e atitudes irracionais são 
aprendidos durante a infância, e existe a crença de que certas 
condições, como receber amor e ter sucesso, são necessidades, ou seja, 
precisam e devem ocorrer e, por outro lado, ficar frustrado, por 
exemplo, não. "As pessoas que nos criam nos ensinam 
comportamentos neuróticos. Mas também podemos aceitar ou, 
ocasionalmente, rejeitar esses ensinamentos prejudiciais (Ellis,1976)". 
Ellis considera essas ideias irrealistas e faz com que acabemos odiando 
a nós e os outros, quando acreditamos nelas (Ellis, 1976). 
O distúrbio emocional consiste essencialmente, portanto, em 
proposições ou significados incorretos, ilógicos e não-
validáveis, em que o indivíduo perturbado acredita de modo 
dogmático e sem discussão, e em relação aos quais 
consequentemente se emociona ou age construindo sua 
própria derrota (Ellis, 1976). 
A dificuldade emocional surge quando mantemos as crenças 
aprendidas na infância até a adolescência e a vida adulta. Algumas 
crenças aprendidas nos sustentam, mas as irracionais, que não estão 
pautadas na realidade presente, nos derrubam, por levarem a atitudes 
derrotistas. 
6 
 
Quantas vezes o indivíduo age por obediência a pensamentos e crenças 
que foram ensinados, que ouviu repetidamente ao longo de sua história 
de vida e que nem são realmente dele? A TREC veio com o propósito 
de questionar essas crenças sabotadoras, substituindo-as por crenças 
realistas, revertendo os sentimentos negativos para que a pessoa se 
torne menos “afetável” por qualquer coisa (Ellis, 2004). 
 
As crenças racionais geram estados emocionais negativos 
equilibrados, como tristeza, mágoa, pesar, desprazer e 
aborrecimento. Porém, as crenças irracionais produzem reações 
emocionais perturbadas, como pânico, depressão, fúria etc. 
(Rangé, 2007). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
DEMANDAS 
 
Demandas são as exigências, as avaliações absolutistas que fazemos 
em relação a nós mesmos, ao outro e ao mundo ou à vida de maneira 
dogmática. Manifestam-se por meio de expressões como “tenho que”, 
“deveria”, no sentido de obrigação, de algo inflexível, que não poderia 
ser de outra maneira. 
As demandas são as causas centrais e mais profundas da perturbação 
emocional e comportamental do ser humano. Ellis usava o termo 
musturbation, uma combinação de must (dever, necessidade, 
obrigação) com masturbation (masturbação). Dessa mistura de 
masturbação mental com “tenho quês” deriva um conjunto de 
conclusões irracionais (Rangé, 2007). 
 
A TREC tem como princípio mostrar aos pacientes que suas 
demandas, exigências e insistências geralmente trazem 
resultados de autossabotagem, enquanto seus desejos, 
preferências e vontades trazem melhores resultados. 
Geralmente, as pessoas não precisam ter aquilo que desejam e 
podem suportar o que não gostam. 
É importante que o terapeuta auxilie o cliente a trocar as exigências e 
as necessidades por desejos e preferências, corrigindo suas 
verbalizações. Veja alguns exemplos no Quadro 1. 
 
 
8 
 
 
Quadro 1 
 
TERAPIA RACIONAL EMOTIVA COMPORTAMENTAL: EXEMPLOS DE 
DEMANDAS 
 
Demanda em relação a SI MESMO: “Tenho que impressionar os outros”. 
Substituir por: 
“Seria melhor se eu impressionasse os outros, mas não tenho que 
fazer isso.” 
Comentário: 
Algumas crenças revelam esse tipo de demanda, como a de ter 
queser perfeito, de não poder errar. Levam a pessoa a sentir culpa, 
a se rotular como incapaz, ficar paralisada por conta de tal rótulo 
e, assim, construir sua própria derrota, “confirmando” sua crença 
de incapacidade. Dessa maneira, pode chegar à depressão. 
Demanda em relação AO OUTRO: “O outro me perturba, me deixa com raiva”. 
Substituir por: 
 
“Fico perturbado porque lido com as pessoas com muita 
seriedade.” 
Comentário: Esse tipo de demanda em relação ao outro, de que este ame, 
respeite ou satisfaça as nossas vontades, gera grande frustração, 
raiva e hostilidade, pois responsabiliza o outro pela nossa própria 
infelicidade. Algumas pessoas acreditam que, por meio da 
aprovação dos outros, podem superar os sentimentos de 
inferioridade, sendo que estes se originam da própria necessidade 
de aprovação. 
Quanto mais alguém pensa que tem que receber amor e afeto dos 
outros, maior seu sentimento de inferioridade. O desenvolvimento 
da autoestima se dá em bases instáveis, pois depende do outro e 
demanda do outro. Assim, não há garantias. 
Para Ellis, conseguir amor dos outros teria menos importância do 
que optar pela busca do próprio prazer: “(...) em geral, conseguimos 
a felicidade não ganhando a aprovação dos outros, mas 
conseguindo solucionar, com nosso próprio esforço e 
autodisciplina, as tarefas difíceis e os problemas” (Ellis, 1976). 
Demanda em relação AO MUNDO OU À VIDA: “Eu tenho que acordar cedo para 
trabalhar”. 
Substituir por: “Vou acordar cedo para trabalhar”. 
 
Comentários: 
Esse tipo de demanda ocorre quando as condições sob as quais se 
vive têm que ser fáceis e sem frustrações, pois, do contrário, o 
mundo é um lugar horrível, inviável de suportar. A consequência é 
achar que a vida é uma droga e postergar as tarefas que exigem 
algum esforço e dedicação. 
Essa crença pode levar às dependências químicas e 
comportamentais como forma de esquiva da realidade, isolamento 
e alienação e à busca pelo prazer imediato, já que não há tolerância 
à frustração e a ideia é que o mundo tem que trazer apenas prazer, 
e não dor. 
 
9 
 
 
 
As demandas não levam a nenhum tipo de resultado esperado, 
pois o simples fato de haver várias exigências não garante que 
elas sejam satisfeitas. A Figura 1 traz um modelo do que as 
demandas do indivíduo causam em relação a si mesmo, aos 
outros e ao mundo. 
 
Figura 1: Demandas. 
Fonte: Montelli (2017). 
 
Refutação ou discussão das 
demandas 
Há três maneiras de questionar/desafiar as demandas dos pacientes: 
1. Pragmática: ajudar os pacientes a reconhecerem as 
consequências práticas de suas crenças irracionais, que carecem 
10 
 
de resultados satisfatórios. Demandar e exigir não fazem com que 
obtenham o resultado esperado. 
2. Lógica: ajudar os pacientes a identificarem sua 
supergeneralização. 
3. Empírica: mostrar aos pacientes que não há nenhuma evidência 
para fundamentar suas crenças. 
 
Derivados das demandas 
As demandas contam com alguns derivados, formas de pensar 
irrealistas e inflexíveis que podem ser expressas verbalmente. São 
descritas como “terrevelização”, “não aguentoíte” e condenação global. 
Saiba mais sobre cada uma delas! 
“Terrivelização” 
Do inglês awfulizing, caracteriza-se pelo uso de palavras como horrível, 
terrível, catastrófico ao descrever algo. É o que acontece quando um 
acontecimento é avaliado como mais do que 100% ruim (Rangé, 2007). 
 
“Seria terrível se... ”; ”Isso seria a pior coisa que poderia 
acontecer”; “Isso seria o fim do mundo”. 
“Não aguentoíte” 
Do inglês I-cant-stand-it-itis, significa considerar um acontecimento 
insuportável. Diz respeito a uma pessoa acreditar que não consegue 
experimentar felicidade alguma se um acontecimento que não deveria 
11 
 
ocorrer, de fato, ocorre. Indica baixa tolerância à frustração (Rangé, 
2007). 
 
“Não suporto isso”; “Isso é absolutamente insuportável”; “Vou 
morrer se eu for rejeitado...”. 
Condenação global 
Caracteriza-se por avaliar todo o próprio self ou o de outras pessoas, 
em vez de determinado comportamento em certas circunstâncias. 
Quando refere-se a si mesmo, é denominada de autocondenação (self-
damning, em inglês). 
 
“Sou um estúpido/desesperado/inútil/sem valor”; “Ele disse uma 
mentira, então, ele é mentiroso”; “O mundo é perigoso”. 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
CRENÇAS IRRACIONAIS 
 
Por meio de estudos realizados com seus próprios pacientes, Ellis 
levantou as principais crenças produtoras de perturbações emocionais, 
que levam a sentimentos de inutilidade e falta de autoconfiança, 
ansiedade exagerada, hostilidade e pouca tolerância à frustração. Veja, 
a seguir, as principais crenças irracionais. 
• Devemos ter a aprovação e o amor de quase todas as pessoas por 
quase tudo o que fazemos. 
• Temos que ser competentes, adequados e ter sucesso em 
importantes aspectos; do contrário, nosso mérito e valor 
diminuem. 
• Precisamos nos condenar severamente por nossos erros ou maus 
procedimentos. 
• Devemos acusar os outros por mau comportamento e ficar 
perturbados por causa de seus erros e suas tolices. 
• Devemos pensar que, se algo afetou profundamente nossas vidas, 
deve continuar afetando indefinidamente. Exemplo: certas 
tradições que nos foram ensinadas pelos pais ou pela sociedade 
devem nos influenciar de modo profundo. 
• Se desejamos conseguir aquilo que valorizamos, devemos 
consegui-lo; se não pudermos, tornamo-nos vítimas de uma 
catástrofe. Não devemos adiar os prazeres por ganhos futuros. 
• É mais fácil evitar do que enfrentar as dificuldades e as 
responsabilidades da vida. Dessa forma, não nos frustramos 
seriamente. 
• Acontecimentos externos causam reações emocionais e, 
portanto, não temos virtualmente nenhum controle sobre essas 
emoções. 
• Devemos nos preocupar sempre com as coisas potencialmente 
perigosas ou prejudiciais, pois a ansiedade impedirá sua 
ocorrência. 
13 
 
Quando acreditamos que as coisas que preferimos ou desejamos que 
acontecessem precisam ou devem acontecer, pensamos, sentimos e 
nos comportamos irracionalmente, já que, geralmente, não podemos 
mudar a realidade desagradável e não desejada. Ao encararmos com 
sensatez uma situação detestável, tentaremos mudá-la ou aceitá-la, 
caso não seja inalterável. A perturbação diante de tal situação leva ao 
fracasso e podemos torná-la ainda pior (Ellis, 1976). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
O ABC DA MUDANÇA 
 
Quando criou a TREC, Ellis utilizou uma estrutura bem simples para 
conceitualizar os problemas psicológicos dos seus pacientes: o modelo 
ABC (Dryden e Ellis, 1987), apresentado na Figura 2. 
 
Figura 2: ABC da mudança. 
Fonte: Montelli (2017). 
 
No modelo ABC, “A” significa acontecimento desencadeador ou 
ativador (em inglês, activanting event), “B” representa o que se acredita 
ou pensa diante desse ativador, ou seja, as crenças (em inglês, beliefs), 
e “C” são as consequências, respostas emocionais e comportamentais 
que derivam de “B”. 
 
 
 
 
15 
 
PAPEL DO TERAPEUTA 
 
Mas como o terapeuta pode auxiliar o paciente em relação a cada um 
dos três itens do modelo ABC? Saiba mais a seguir. 
1. Como identificar “A” (acontecimento desencadeador ou ativador) 
Trata-se do acontecimento presente ou do próprio comportamento, 
que ativa determinados pensamento e sentimento. Ele não existe em 
um estado puro, mas interage com “B” e “C”. As pessoas colocam algo 
de si mesmas nos “As”, como objetivos, pensamentos, desejos e 
tendências fisiológicas (Dryden e Ellis, 1987). 
 
O desejo de sair-se bem em um trabalho e não conseguir ativará 
“Bs” e “Cs”. 
O que deve ser feito? 
Levantar com o paciente qual foi a situação em que ele se sentiu 
perturbado e o que ativou essa perturbação (C). 
Pedir para ele descrever a situação sem inferir. Assim, poderá encontrar 
o acontecimento ativador (A). 
Depois de identificar o “A” do seu paciente, é importante resistira 
qualquer tentação de desafiar “A”, mesmo que seja obviamente 
distorcido. 
 
 
16 
 
 
O terapeuta deve incentivar que o cliente assuma que seu "A" é 
verdade. Isso permitirá a identificação da crença irracional "B" 
mais tarde (Dryden, 2006). 
 
 Acompanhe, a seguir, exemplos de eventos ativadores ou 
desencadeadores: 
• Sofrer ameaça. 
• Falhar; perder. 
• Machucar alguém; quebrar com seus valores morais. 
• Cair de nível social. 
• Ser traído. 
• Agir contra seus próprios valores (transgredir regra pessoal); ter 
sua autoestima ameaçada. 
• Ter um relacionamento ameaçado de rompimento. 
• Não possuir o que é valorizado e ambicionado. 
 
2. Como encontrar “C” (consequências emocionais, 
comportamentais e cognitivas) 
Quase sempre é mais fácil chegarmos aos “Cs”, antes mesmo dos “As” e 
dos “Bs”, pois é mais fácil identificar os sentimentos e os 
comportamentos primeiro. 
As consequências vêm da interação entre “A” e “B”. Costumamos 
relacionar “C” como consequência de “A” por reagirmos aos estímulos 
ambientais. Quando “A” tem muito poder (terremotos, condições de 
vida miseráveis, etc), tende a afetar profundamente “C”. 
Quando “C” é uma alteração emocional (ansiedade, depressão, 
hostilidade, etc.), a causante mais direta é “B”. Há também alterações 
17 
 
emocionais que podem emergir de “A” muito poderosa (desastres 
ambientais, guerras) e também de fatores do organismo, como doenças 
e alterações hormonais, que podem causar as consequências “C” 
(Dryden e Ellis, 1987). 
Veja, a seguir, algumas das possíveis consequências (C) dos 
acontecimentos ativadores listados acima: 
• Ansiedade. 
• Depressão. 
• Culpa. 
• Vergonha. 
• Mágoa. 
• Raiva. 
• Ciúmes. 
• Inveja. 
O que fazer nesses casos? 
O terapeuta pergunta ao cliente como se sentiu na situação em 
questão. Ajuda a selecionar uma emoção negativa não saudável e, caso 
existam várias, ajuda a identificar a principal. 
O comportamento do paciente na situação descrita deve ser verificado, 
perguntando o que ele fez. Tanto a emoção quanto o comportamento 
a serem mudados devem ser disfuncionais (Dryden, 2006). 
 
3. Descubra “B” (crenças irracionais) 
Segundo a TREC, as pessoas têm inúmeras crenças sobre os 
acontecimentos ativadores (A). Essas crenças exercem uma forte 
influência sobre as consequências cognitivas, emocionais e 
comportamentais (C). Mesmo que pareça que “A” causa “C”, quase 
nunca isso é verdade, porque “B” serve como mediador entre “A” e “C”, 
portanto, “B” causa “C”. 
18 
 
As crenças racionais são responsáveis por comportamentos de 
autoajuda. As crenças irracionais, por comportamentos disfuncionais, 
autodestrutivos e de destruição da sociedade (Dryden e Ellis,1987). 
O que deve ser feito? O cliente deve receber ajuda para entender que 
reações perturbadas em "C" não são determinadas pela situação "A", 
mas, em grande parte, por "Bs". Nas situações "Bs" estão as demandas 
e seus derivados. A conexão entre "B" e "C" vai ser feita com ajuda do 
terapeuta. 
Ajude o paciente a conectar “B” e “C”. Acompanhe alguns exemplos. 
 
Você acha que seus sentimentos...(C) foram determinados pelo 
acontecimento... (A) ou por sua crença sobre... (A)? 
O que você estava dizendo a si mesmo sobre... (A) que o levou 
a sentir... (C)? 
O que você estava demandando ou exigindo sobre... (A)que o 
levou a sentir.. .(C)? 
Quando você estava sentindo... (C) na... (A), você estava exigindo 
que... ou estava querendo, mas não exigindo... (A)? 
 
 
 
19 
 
DESAFIO DAS CRENÇAS 
IRRACIONAIS (DEF) 
 
Nos tópicos a seguir, serão abordadas algumas maneiras de questionar 
as crenças irracionais (B) por meio de desafios (D) que levarão a uma 
nova crença, mais adequada à realidade (E), e a novos comportamentos 
e a sentimentos (F) mais adaptativos. 
 
Disputa ou desafio (D) 
Há várias maneiras de se questionar as crenças irracionais após sua 
identificação em “B”: 
• Essa crença ou esse pensamento o ajuda? 
• Quais evidências confirmam seu pensamento? 
• Quais evidências não confirmam seu pensamento? 
• Isso é mesmo insuportável? 
• O que de pior pode acontecer? 
 
Novas filosofias efetivas (E) 
São uma resposta racional para as crenças irracionais: 
• Qual seria um pensamento alternativo que o ajudaria nesta 
situação? 
• Poderia substituir exigências por preferências, por avaliações 
realistas, tolerar o que não gosta, não rotular a si e aos outros? 
20 
 
Novos sentimentos e 
comportamentos efetivos (F) 
 
Incluem emoções negativas saudáveis, como decepção, preocupação, 
aborrecimento, tristeza, arrependimento, frustração e novos 
comportamentos funcionais. Emoções negativas saudáveis são as 
emoções que nos incomodam, mas que estão coerentes com a situação 
de vida atual. Estar triste diante de uma perda é saudável, deprimir ou 
desesperar, por exemplo, não é. 
 
Uma vez que a demanda do paciente seja identificada, refutada 
e substituída por preferências ou desejos, deve-se verificar "F" 
correspondente a "E". O Quadro 2 é um modelo de diário 
ABCDEF para ser feito com o cliente durante a sessão e como 
tarefa de autoajuda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Quadro 2 
DIÁRIO ABCDEF 
 
A 
Evento 
ativador 
 
 
B 
Crenças e 
pensamentos 
(que não o 
ajudam) 
C 
Consequên-
cias 
D 
Desafio 
E 
Novas 
crenças e 
pensamentos 
efetivos 
F 
Novos 
sentimentos 
O que 
aconteceu? 
O que pensou? 
Por que 
pensou isso? 
O que 
sentiu? 
O que fez? 
Desafie seus 
pensamentos 
e crenças! 
 
Ache um 
novo 
pensamento, 
mais 
adequado, 
efetivo e que 
lhe ajude. 
Como se 
sente sobre 
isso agora? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
OUTROS CONCEITOS 
 
Além do que foi proposto anteriormente, na TREC o terapeuta deve 
estar atento a alguns pressupostos importantes para orientá-lo em seu 
trabalho. O Quadro 3 aborda alguns pressupostos importantes para a 
orientação do trabalho terapeuta na TREC. 
 
Quadro 3 
PRESSUPOSTOS PARA ORIENTAÇÃO NO ATENDIMENTO COM TREC 
 
Aceitação 
incondicional 
Não importa quão negativo seja o comportamento do 
paciente, o terapeuta deve aceitá-lo como um ser 
humano que pode falhar, mas que não manterá seu 
comportamento disfuncional. 
Autoestima versus 
autoaceitação 
 
Autoestima implica dar-se um valor “x”, mas é 
impossível qualificar alguém globalmente. Todos 
fazemos coisas boas e más e sempre podemos deixar de 
fazer ou começar a fazer algo. 
Culpa versus 
arrependimento 
Culpa é disfuncional, pois supõe desqualificar-se como 
pessoa e não o comportamento. Não dá chance para 
mudança, enquanto o arrependimento é a condenação 
do comportamento, que é passível de mudança. 
Hedonismo a curto 
prazo versus a longo 
prazo 
 
Conflito que vem da necessidade de prazer imediato 
relacionada à baixa tolerância a frustração e à 
dificuldade em esperar para obter gratificação futura. 
23 
 
TÉCNICAS EMOTIVAS E 
COMPORTAMENTAIS 
 
O Quadro 4 apresenta algumas das técnicas que podem ser utilizadas 
pelo terapeuta na TREC. 
 
Quadro 4 
 
TÉCNICAS EMOTIVAS E COMPORTAMENTAIS 
 
Nome da Técnica Definição 
IMAGINAÇÃO RACIONAL-EMOTIVA 
 
É um método para ajudar seu cliente a 
praticar a mudança de sua crença 
irracional para sua equivalente saudável 
enquanto imagina a situação 
perturbadora em questão. Esse método 
ajuda a fortalecer sua convicção em seu 
novo repertório de crenças racionais.* 
RECOMPENSAS São técnicas de reforço 
comportamental para alcançar 
objetivos a longo prazo. 
TREINAMENTO EM HABILIDADES É uma técnica que amplia o repertório 
do paciente para que tenha recursos 
de enfrentamento. 
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Ajuda o cliente a desenvolver 
estratégias para resolver questões 
práticas de sua vida. 
HUMOR 
 
É um recurso para ensinar o cliente a 
não levar tudo tão a sério. Rir da 
situação, nunca do cliente! 
ROLE-PLAYING Representa situações com troca de 
papéis. 
24 
 
Nome da TécnicaDefinição 
AUTORREVELAÇÃO Pode ser revelada pelo terapeuta, se for 
pertinente ao contexto do cliente, uma 
própria dificuldade passada em 
determinado assunto, desde que já 
tenha resolvido tal dificuldade. 
TAREFAS DE AUTOAJUDA São necessárias para obter a mudança. 
Exemplos: escrever um diário nos 
moldes do ABC, ler, assistir a filmes, 
exercitar a exposição a situações 
fóbicas, usar experimentos para 
comprovar resultados de 
comportamentos alternativos e utilizar 
práticas de relaxamento, meditação, 
respiração, etc. 
*Todo o processo ABC que foi feito com o cliente anteriormente deve ser refeito com ele de 
olhos fechados, revivendo a situação “A” e as emoções “C” correspondentes às crenças 
irracionais “B”. Em seguida, refaça o processo novamente, imaginando a mesma situação 
ativadora “A”, mas com a nova crença efetiva “B” e a nova emoção “C” correspondente ou a 
diminuição da emoção disfuncional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
CONCLUSÃO 
 
A TREC, proposta por Albert Ellis, foi construída na década de 1950 
pela necessidade de se obter resultados eficazes em terapia. Suas 
ferramentas, baseadas na filosofia e no budismo, mantêm-se atuais e 
continuam sendo estudadas e aprimoradas. 
A TCC de Beck, tema da próxima aula, surge a partir da TREC, com 
alguns avanços — como o conceito das distorções cognitivas 
(generalização, rotulação, catastrofização, filtro mental etc.). Essa 
terapia foi desenvolvida a partir da década de 1960. 
 
Para Ellis, as próprias pessoas contribuem com seus problemas 
psicológicos pela maneira como interpretam os acontecimentos e as 
situações. Entretanto, podem aprender habilidades durante a terapia 
para identificar e desafiar suas crenças irracionais e ajudar a diminuir 
as perturbações emocionais, a sentir-se melhor (ABC da mudança). 
As práticas de autoaceitação, arrependimento, tolerância às 
frustrações, entre outras, aliadas às técnicas de mudanças 
comportamentais e à ideia de que há esforço para tais mudanças, 
levam a pessoa a direcionar sua vida para onde deseja ir, em vez de se 
deixar levar pelos outros ou por seus pensamentos disfuncionais para 
qualquer lugar. 
 
 
 
 
 
 
26 
 
REFERÊNCIAS 
 
Dryden W. First steps in REBT: a guide to practicing REBT in peer 
counseling. New York: Albert Ellis Institute; 2006. 
Dryden W, Ellis A. Practica de la terapia racional emotiva. Bilbao: 
Desclee de Brouwer; 1987. 
Ellis A. Como conquistar sua própria felicidade. São Paulo: Best Seller; 
2004. 
Ellis A. Como viver com um neurótico: em casa e no trabalho. São 
Cristóvão: Artenova; 1976. 
Rangé B. Homenagem a Albert Ellis. Rev Brasil Ter Cogn. 2007 
Dez;3(3).

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