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Prof. Ana Paula Melchiors Stahlschmidt Aluno: Milena de Ornelas Moni ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO: ESPECÍFICO I EM PSICOLOGIA CLÍNICA RELATÓRIO FINAL Equoterapia Terra Amada Porto Alegre, 2021. SUMÁRIO 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ........................................................................................................ 3 1.1 Identificação do estagiário: ...................................................................................................... 3 1.2 Identificação do estágio ............................................................................................................. 3 1.3 Identificação da instituição concedente do estágio ............................................................... 3 1.4 Identificação do supervisor: ..................................................................................................... 3 2. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ............................................................................. 4 3. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 6 4. PLANO DE ATIVIDADES .............................................................................................................. 11 4.1 Atividades Desenvolvidas: Equoterapia................................................................................ 11 4.2 Atendimentos Clínicos: ............................................................................................................ 12 5. SUPERVISÃO ................................................................................................................................. 17 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 18 6.1 Análise Crítica Geral ................................................................................................................ 18 6.2 Auto-Avaliação .......................................................................................................................... 18 7. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 19 LISTA DE ASSINATURAS................................................................................................................. 21 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 1.1 Identificação do estagiário: Nome do estagiário: Milena de Ornelas Moni Número de matrícula: 20180302 Curso: Psicologia Estágio Específico I 1.2 Identificação do estágio Área: Equoterapia Duração: Início: Junho/2021 Término: Dezembro/2021 Total de horas: mínimo 96 horas 1.3 Identificação da instituição concedente do estágio Nome: Equoterapia Terra Amada Endereço: Estrada sítio esplanada, 695 Cidade: Viamão UF: RS Telefone: (51)9.9507-9795 E-mail: danischaly84@gmail. 1.4 Identificação do supervisor: Nome: Danielle Schaly CRP: 07/ 30987 Contato: (51) 995079795 2. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO 2.1 Nome: Equoterapia e Centro de Lazer Terra Amada 2.2 Localização: Viamão/RS 2.3 Breve descrição do local: A entrada do sitio Terra Amada é feita por uma estrada de chão batido, logo na entrada possui uma porteira que é um portão eletrônico que da acesso ao sitio a parte interna do sitio. A direita possui um picadeiro, que é o espaço onde é feito o atendimento da Equoterapia e outros atendimentos em solo. A esquerda tem o espaço das cocheiras, a mata e mais para baixo a casa onde é o consultório de atendimento clinico. Ao entrarmos podemos ver a pista de atendimento que é bem ampla e a céu aberto, um dos motivos de continuarmos atendendo durante a pandemia, lembrando que sempre respeitando os protocolos de cuidados com a Covid. O local possui 9 hectares de uma flora e fauna acessível, outros animais, balanço e um espaço criado para realizar brincadeiras com os pacientes com joguinhos, barracas, bonecos, caso o paciente não se adapte ao cavalo, ou não esteja muito organizado para isso no dia do atendimento. Temos também uma rampa de acesso ao cavalo, permitindo que os pacientes possam montar no cavalo com auxílio do terapeuta ou auxiliar. Possui o espaço de lazer: com salão de festas com piscina, açude, e uma grande figueira onde inclusive recebemos os pacientes ou aproveitamos sua sombra entre um atendimento e outro. O Centro de psicoterapia no cavalo foi fundado em setembro de 2019, pela Psicóloga Danielle Schaly, com o intuito de tratar crianças e adultos com Autismo e demais transtornos através da psicoterapia no cavalo, que atua como agente facilitador nos atendimentos dessas crianças, concomitantes com os movimentos do cavalo. Adultos, pais das crianças em tratamento e pacientes que não se utilizam do cavalo para psicoterapia podem realizar suas consultas durante um belo passeio pelo campo, desfrutando da natureza. A instituição tem como valores a ética profissional, o cuidado com o ser humano, com os animais e a natureza, também tem como valor o compromisso com a segurança e bem estar de seus clientes (pacientes) e comprometimento de seguir o plano terapêutico traçado para essas pessoas. 3. INTRODUÇÃO Esse trabalho foi realizado com o intuito de observação das práticas adotadas com os pacientes acometidos pelo autismo, que realizam o tratamento através da psicoterapia a cavalo em um sítio chamado Terra Amada, que é parceiro da AMAV no município de Viamão. Esse relatório irá discorrer sobre os seguintes elementos: a descrição do local estágio, lugar onde ocorreu a atividade acadêmica; a escolha do local de estágio, no caso, como se deu a escolha da instituição onde desenvolver as atividades acadêmicas; descrição das atividades realizadas no estágio, que se trata da atuação do graduando em psicologia, no campo de estágio; justificativa do estágio, na qual o aluno esclarece sua motivação para a realização dessa atividade acadêmica e por fim consolida as impressões que obteve dessa atuação em seu campo de atuação. A atividade proposta no dia é passada pela psicóloga, bem como a agenda completa para que possamos nos organizar dentro dos horários e também em como iremos conduzir os atendimentos, que infelizmente nesse período de pandemia estão ocorrendo de forma individual para que possamos ter todo cuidado com as medidas de proteção contra o COVID. Os pacientes no geral têm Síndrome do Espectro Autista (TEA), sendo que alguns têm comorbidades agregadas. São crianças de ambos os sexos, de classe baixa e média e a idade varia entre 02 a 12 anos, utiliza-se da abordagem psicanalítica, na qual se podem observar os aspectos positivos da Equoterapia juntamente com a psicologia, favorecendo a reintegração social, uma vez que o praticante tem contato com a equipe, com o cavalo, os outros animais e com a natureza, o paciente tem entre uma e duas sessões semanais com duração de 30 minutos. Quando se fala a palavra autismo, logo imaginamos a imagem de uma criança isolada em seu próprio mundo, que brinca de forma estranha, balança o corpo para lá e pra cá, alheia a tudo e a todos. Geralmente está associada a alguém diferente de nós, que vive à margem da sociedade e tem uma vida extremamente limitada, em que nada faz sentido. Vivenciar esse novo mundo através do estágio, me fez perceber que a realidade dos autistas é bem distante desse enquadramento de sintomas. Ter esse olhar me parece inadequado e estreito, pois quando temos a chance de conviver com autistas, podemos entender que essas crianças têm habilidades absolutamente reveladoras e que nos fazem refletir sobre quem de fato vive alienado. O autismo é um transtornoglobal do desenvolvimento infantil que se manifesta normalmente antes dos 3 anos de idade e que pode se prolongar por toda a vida, pode ser graduado entre autismo leve, moderado e severo. O início de minhas atividades na Equoterapia deu-se assim, eu acompanhava todos os atendimentos para observar cada situação, cada intervenção, para perceber como é essa linguagem não verbal, tentando captar a comunicação do Autista. Foi quando então recebi o paciente P.L, (é como vou mencionar o paciente que acompanhei na psicoterapia). O paciente P.L é diagnosticado com o transtorno espectro autismo, segundo Gaiato e Teixeira (2018) o autismo ou transtorno do espectro autista é uma condição que altera o comportamento e as relações sociais, podendo trazer em diferentes níveis prejuízos ou comprometimento na linguagem verbal e não verbal na cognição e tendo a presença de comportamentos repetitivos e estereotipados ao seu portador. Entretanto, no paciente P.L o diagnóstico de autismo se deu no nascimento da sua irmã onde o mesmo estaria completando quatro anos de idade nesse período. O trabalho realizado com o P.L na psicoterapia é no momento em que ele realiza um circuito no campo ou atendimento na baía envolvendo materiais para brincar de forma natural e aos poucos irmos tentando a aproximação do mesmo com o cavalo para efetivarmos a equoterapia. O paciente P.L tem seis anos de idade e vem para psicoterapia conduzido ora pelo pai e pela sua mãe, ora pelo avô, mas sempre alguém que esteja envolvido no ciclo familiar diretamente com o paciente e esses atendimentos acontecem aos sábados pela manhã. Ainda sobre o paciente P.L, ele é muito inteligente e possui uma cognição muito boa, mas o desejo de sua mãe é que o mesmo possa sair com ela e ser uma criança calma e tranquila, pois o mesmo chegou até o espaço para atendimento intolerante a tudo, não respondia ao seu nome e não mantinha contato visual. Assim realizamos um tratamento psicoterapêutico com o objetivo de trabalhar sua estruturação psíquica de forma a inserir a lei simbólica que, segundo Cecatto (2008), é essencial para a organização psíquica do infante e sua constituição como sujeita. Dessa forma, se estimula a construção da sua autonomia e, por consequência, a aptidão para estabelecer novas interações além do vínculo materno. De acordo com a OMS, isso se refere a uma gama de condições caracterizadas por algum grau de prejuízo no comportamento social, comunicação e linguagem, e uma gama restrita de interesses e atividades que são exclusivas do indivíduo e realizadas de maneira repetitiva. Porém, vale lembrar que a pessoa com autismo não é deficiente e não é incapaz de cumprir seu papel social de forma satisfatória. Segundo a Austism Society of America (ASA), os autistas manifestam pelo menos metade das características citadas a seguir: 1. Dificuldade de relacionamento com outras pessoas; 2. Pouco ou nenhum contato visual; 3. Rotação de objetos; 4. Riso inapropriado; 5. Aparente insensibilidade à dor; 6. Preferência pela solidão; modos arredios; 7. Ecolalia; 8. Age como se estivesse surdo; 9. Inapropriada fixação em objetos; 10. Acessos de raiva; 11. Não faz referência social; 12. Desorganização social; 13. Irregular habilidade motora; 14. Dificuldade em expressar necessidades; 15. Procedimento com poses bizarras; 16. Não tem real medo do perigo; 17. Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade; 18. Ausência de resposta aos métodos normais de ensino; 19. Insistência em repetição desnecessária de assuntos, resistência à mudança de rotina; 20. Recusa colos ou afagos. Reconhecer os sintomas manifestados por crianças com autismo é essencial para o diagnóstico precoce. Uma criança com TEA apresenta características decorrentes de dificuldades e prejuízos qualitativos na comunicação verbal e não verbal, na interatividade social e na limitação do ciclo de atividades e interesses. É, portanto, uma situação que acarreta mudanças na vida familiar devido ao acompanhamento das necessidades de desenvolvimento da criança. Uma criança só se sentirá capaz de superar os obstáculos de sua vida - emocional, psicológica ou física - se contar com a confiança dos pais e de profissionais que a ajudarão ao longo de sua vida. A psicanálise é de suma importância para o tratamento do autismo. No século XIX, Sigmund Freud divulgou a teoria de que as experiências no início da vida da criança poderiam causar distúrbios no desenvolvimento, e que a figura central dessa ideia era com a mãe, e aqui podemos começar a ligação da psicanálise com o autismo. Por volta de 1950, Leo Kanner, pioneiro no estudo de autistas, cunhou a expressão “mães geladeiras”, aplicando-a aquelas mulheres que se mantinham frias e distantes de seus bebês recém-nascidos, não lhes proporcionando o ambiente caloroso e amoroso necessários para que estabelecessem adequadamente seus primeiros vínculos afetivos, o que os levaria para o autismo. Portanto é frequente ouvirmos que a psicanálise põe a culpa de tudo nas mães, mas devemos entender que o fato de a psicanálise apontar para a extraordinária importância dos primeiros anos de vida da criança e das relações primárias com os pais, situando aí os momentos decisivos de sua constituição psíquica e as oportunidades para o aparecimento de inibições, fixações ou regressões no desenvolvimento, não exclui a importância da genética e dos neurotransmissores, nem significa culpabilizar a mãe pelas dificuldades que o filho venha apresentar no futuro. Se a relação com a criança é insatisfatória, não é por deliberação maliciosa, voluntária e consciente da mãe, mas pelo possível surgimento de seu conteúdo inconsciente e reprimido para ser abraçado e cuidado. Assim, podemos mostrar que não se trata apenas de culpar a mãe, o pai ou a família, mas sim compreender as complexidades da visão psicanalítica sobre a constituição do sujeito e o auxílio que ela oferece a quem encontra dificuldades no processo, sejam eles pais ou filhos. Ressalto que não compete a psicanálise julgar ou culpar, e sim analisar. Em minhas observações, pude ver que o diagnóstico de autismo é como chegar a um acordo com a morte de uma criança idealizada com a qual a mãe estava ligada e aprender a amar aquela nova criança nascida após a descoberta do autismo. Essa é a criança que os pais acreditavam saber que não existia mais, todas as expectativas e desejos investidos naquela criança, todos os projetos para o futuro, tiveram que ser deixados de lado. É como um processo de luto, com a incerteza, os medos que surgiram nessa transição. Portanto, é muito importante aprender a descobrir quem é essa criança, que está tão próxima, mas muitas vezes não consegue se expressar ou mostrar seus sentimentos, investir todo o amor, cuidado e dedicação possíveis para se tornar a melhor versão dela. 4. PLANO DE ATIVIDADES 4.1 Atividades Desenvolvidas: Equoterapia Terra amada é um sítio de lazer onde é utilizado o cavalo como auxílio na psicoterapia de pacientes com Autismo. A Terra Amada realiza consultas particulares e gratuitas, com o intuito de prestar serviço social. Esses atendimentos são constituídos pela supervisora, que é a psicóloga responsável e está sempre presente no local. O resto da equipe é formado por estagiárias graduandas em psicologia, que estão matriculadas no nono, sétimo e quarto semestres. Tais acadêmicas são responsáveis pelos 30 minutos do circuito terapêutico com o paciente, que se encontra montado em um cavalo no momento do atendimento. O objetivo da psicoterapia no cavalo em relação aos autistas é trazer uma melhora na qualidade de vida desses pacientes, assim como a busca do seu desenvolvimento e da sua estruturação psíquica, procurando utilizar os sintomas como norteadores na elaboração do plano terapêutico. Tendo em vista que o Transtorno do Espectro Autismo(TEA) não tem cura, através desse tipo de psicoterapia visa-se à busca da construção de um “setting” facilitador da escuta. Já os pacientes que não utilizam o cavalo visam à psicoterapia para poder estruturar suas vidas através da organização de suas ideias, pensamentos e condutas. Há registros de que, na Grécia antiga, os cavalos eram usados para tratamento médico por mais de dois mil anos. Também há registros mais recentes após a Primeira Guerra Mundial, onde a intenção era salvar os soldados de suas consequências físicas e psicológicas, mas a equoterapia não se tornou parte dos estudos acadêmicos até 1967, com a criação do primeiro centro equestre para deficientes físicos nos Estados Unidos. No Brasil, foi reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina em meados de 1997. Severo (2010) denomina-se o método de intervenção terapêutica que utiliza a relação com o cavalo, as técnicas equestres e as atividades equestres como recursos de apoio ao desenvolvimento através do movimento tridimensional e da brincadeira. Um paciente que usa essa terapia é chamado de praticante porque é um sujeito ativo no processo terapêutico. A equoterapia, terapia assistida por cavalos, teve a palavra criada pela ANDE Brasil e foi registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Segundo definição da Associação Nacional de Equoterapia, a equoterapia é: [...] um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais. A equoterapia emprega o cavalo como agente promotor de ganhos a nível físico e psíquico. Esta atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio. A interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, os cuidados preliminares, o ato de montar e o manuseio final desenvolvem, ainda, novas formas de socialização, autoconfiança e autoestima”. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2015). E desempenha um importante papel de: (...) A equoterapia estimula a mente e o corpo por meio do andar do cavalo, que faz movimentos em três eixos: para cima e para baixo, para um lado e para outro, para frente e para trás. Esses estímulos ritmados provocam uma serie de reações no corpo do paciente, pois é levado a contrair e relaxar as pernas e o tronco, melhorando assim suas percepções, funções motoras e, principalmente, o equilíbrio. O andamento é a forma de locomoção do cavalo, e existem formas distintas de andamento, que são elas: “A forma natural, que o animal executa de forma instintiva e a artificial, que é imposto pelo homem.” (Haras Gamarra, 1010) Possui uma subdivisão em três tipos: o passo, trote e galope. Ficou definido que o passo é a melhor opção para a prática equoterápica, pois sua característica mais importante são os movimentos sequenciais e simultâneos. “Movimentos em três dimensões 95% semelhantes aos de uma pessoa andando a pé”. (Queiroz, 2010) Devemos estar sempre atentos para podermos identificar que tipo de passo o paciente precisa naquele dia, pois podemos mudar conforme a necessidade, exemplo: se o paciente está muito agitado, vamos utilizar de um passo com o cavalo bem mais lento, a ponto de que possa dar sono no paciente. Requer que o praticante utilize todo seu corpo, o que contribui para o desenvolvimento da força muscular, relaxamento, consciência corporal, melhora da coordenação motora e equilíbrio. O mais importante de todo o processo da equoterapia é que proporciona a possibilidade de dar atenção para suas capacidades interiores, de guiar sua própria vida, aprendendo a ter mais autonomia e reduzindo sua dependência de seus cuidadores, tornando-os indivíduos conscientes das suas capacidades e não focados nas suas deficiências. 4.2 Atendimentos Clínicos: A inserção no espaço inicialmente se dá através do conhecimento da estrutura física, aproximação do cavalo agente facilitador, do manuseio dos equipamentos utilizados no cavalo e no paciente, e na interação com as crianças e seus respectivos cuidadores que os levam até o local. O psicólogo tem como atividade principal planejar a sessão, orientar a família e a equipe no sentido de dar suporte, avaliar o praticante buscando informações a respeito de suas potencialidades e necessidades, auxiliando esse praticante no contato com o cavalo e desenvolver capacidades no que diz respeito a enfrentamento de novas situações e tolerar frustrações entre outras.” (Rev. Saberes UNIJIPA, Ji-Paraná, Vol. 9 nº 2 Especial 2018 ISSN 2359-3938) Para cada atendimento, é composta uma equipe de tres profissionais que participam do atendimento em funções distintas proporcionando ao paciente o seu momento terapêutico. A composição da equipe é a seguinte: o guia (que conduz o cavalo), o principal (que realiza as intervenções) e o auxiliar (que ajuda o principal dando o suporte necessário). A transferência é um item essencial para um trabalho bem sucedido, tanto entre terapeuta e paciente, bem como entre os profissionais que estão trabalhando em conjunto. Freud relata em A Dinâmica da Transferência (1912/1980), a junção da disposição inata com os acidentes da história individual faz com que o sujeito adquira uma forma específica de conduzir-se na vida erótica. Ele adquire aquilo que o autor denomina clichê estereotípico, o qual é constantemente repetido no decorrer de sua vida, sem que exista consciência dessa reedição de padrões de relacionamentos. Na neurose, há uma fixação ainda maior nesses protótipos afetivos. logo percebemos que a transferência é, ela própria, apenas um fragmento da repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido, não apenas para a figura do médico, mas também para todos os outros aspectos da situação atual. (Freud, 1912/1980, p. 197) Quando um novo paciente chega à Terra Amada, o primeiro passo é realizar uma entrevista com os cuidadores, uma anamnese completa para entender profunda e detalhadamente como foi a gestação, se a criança foi programada e desejada, se obtém rede de apoio, como foi o parto, quantas semanas tinha o bebe, se a criança apresentou algum problema de saúde, enfim, tudo que puder ser investigado da forma mais detalhada possível, pois isso ajuda muito na hora de formular hipóteses diagnósticas, bem como será organizado o plano terapêutico. Freud traz a ideia do tratamento de ensaio, que se refere ao período inicial da análise, um momento em que se faz uma sondagem do caso e se questiona se é adequado à psicanálise, sua função essencial é diagnosticar, de preferência entender se estará se tratando de uma psicose ou neurose. Uma estrutura, portanto, uma sincronia subjetiva será consequência de uma série de deslocamentos e reposicionamentos, necessária e logicamente diacrônicos, causados pelas articulações de registros distintos, por contingencias do real da condição orgânica, do simbólico dos laços sociais e do imaginário das unificações de funções corporais. (Vorcaro, 2004, p.15) Gimenes (2004) argumenta que o profissional pode realizar avaliações psicológicas com o paciente e sua respectiva a família com o intuito de melhor compreender as suas potencialidades e limitações e, a partir disso, propor procedimentos de intervenção que visem suprir as suas necessidades e melhorar o seu desempenho Inter e intrapessoal. A rotina das atividades diárias se dá da seguinte maneira: primeiro de tudo é o contato com o cavalo (agente facilitador), é imprescindível prestar atenção em como ele está quando chegamos no espaço, pois ele é o instrumento principal para o desenvolvimento da equoterapia. Assimque o paciente chega, nos dirigimos até ele para inseri-lo no ambiente e também pode analisar sua disposição para o atendimento, se está agitado, alimentado, vestido adequadamente para a temperatura do dia, etc. Só então podemos auxiliar o paciente na sua aproximação com o animal, o que é crucial, pois é na montaria que irá se estabelecer o vínculo afetivo entre o indivíduo e o cavalo, que é muito importante para obter a confiança do paciente em montar. Ferrari (2003), afirma que o ato de cavalgar em um animal manso, porém de porte avantajado, possibilita ao praticante experimentar sentimentos de independência, liberdade e capacidade, contribuindo para o desenvolvimento da afetividade, autoconfiança, autoestima, a organização do esquema corporal, responsabilidade, atenção, concentração, memória, criatividade, socialização. Pelo seu tamanho, o cavalo impõe respeito e limites, facilitando assim a aceitação de regras de segurança e disciplina, engloba ao mesmo tempo as qualidades de um terapeuta, um educador e um motivador. Segundo Brentegani (2005), a utilização do animal no atendimento permite trabalhar o afeto e a autonomia do ir e vir. Além disso, há o ganho físico proporcionado pelo movimento do cavalo e o ganho emocional pela sensação de liberdade de se locomover. Deste modo, o papel do Psicólogo não consiste em realizar a psicoterapia “clássica”, podemos perceber que trabalhar em um setting diferente pode trazer os mesmos benefícios. A Equoterapia é considerada como uma intervenção sobre o corpo (terapia corporal), não se tratando apenas do corpo real orgânico, mas de um corpo discursivo, que se constrói por meio do Outro* O reconhecimento por parte da criança de um corpo inteiro, totalizado, ocorrerá pela imagem externa, que é a imagem que vem do Outro, aqui representado pelo equoterapeuta. A partir de um diagnóstico clínico diferencial, o processo lúdico/cênico da equoterapia permite a observação da presença da imagem e do esquema corporal. São nas brincadeiras cênicas que os praticantes apontam a fragilidade da sua organização psíquica nestes aspectos. (Rev. enferm UFPE on line. 2010 abr./jun.;4(1):757-63) Depois de receber o paciente, deixá-lo ambientado e aproximá-lo do cavalo, levamos ele até a rampa de acesso para a montaria e colocamos o equipamento de segurança (capacete). Com tudo pronto, podemos dar início ao trabalho, nos próximos trinta minutos iremos nos dedicar a tentar desenvolver a parte da linguagem cantando músicas que eles gostem, conversando, nomeando os sentimentos e todas as coisas que iremos encontrando no caminho, tendo a possibilidade de trabalhar o tato, a orientação espacial, memória, raciocínio, percepção visual, auditiva e corporal. Ao final, após todos os encontros de um determinado dia, encontramos a psicóloga para supervisão, onde temos um espaço aberto para discutir casos, evolução do paciente, conversar sobre nossos sentimentos, sobre transferências e contratransferências, além de organizar e providenciar novas visitas. Concluindo com um registro no prontuário dos pacientes dos quais fui terapeuta principal. 5. SUPERVISÃO No caso da supervisão do estágio, trata-se de reuniões que são feitas após os atendimentos onde todos os estagiários relatam como sucederam os atendimentos do dia, ressaltando pontos que julgam importantes e todos tem a oportunidade de aprender e entenderem os casos dos pacientes do dia. Quando necessário a psicóloga se coloca a disposição para supervisões individuais para esclarecer todas as possíveis duvidas existentes. Na visão de Saraiva e Nunes (2007), eles salientam que a característica da supervisão é um método de ensino-aprendizagem que se incorpora ao ensino psicanalítico, que é um dos três pilares da formação psicanalítica, ou no nosso estágio, é o pilar da análise-orientada, que tenta desenvolver para nos nossas habilidades técnicas e proporcionam espaço de "feedback" para nossa atuação como terapeutas. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 6.1 Análise Crítica Geral Aprendi que o autismo não existe. Para todas as pessoas com autismo, não existem padrões fixos. Infelizmente, devido à falta de informações confiáveis, quando os pais não conseguem ver esses estereótipos em seus filhos, eles negam o autismo. Se ele não fizer contato visual, ele não vai tremer, ele não é autista, certo? Incorreto. É preciso aceitar o autismo o mais rápido possível, para que possamos superá-lo enfrentando-o. Pude descobrir e ver a essência de cada paciente com quem tive o prazer de partilhar momentos únicos, com cada descoberta, cada palavra, cada sorriso e a sua menor evolução é devidamente festejada por todos. Voltando ao paciente P.L, o qual fui responsável pelo seu atendimento, ver a evolução de uma criança que não tolerava a espera, que não parava um instante e hoje após dois meses de atendimento ver uma criança que brinca, se comunica e se vê sendo entendido é incrível. Sabemos que ainda temos muito caminho pela frente, mas esse primeiro passo está sendo essencial para vida dele e para sua família. 6.2 Auto-Avaliação A realização deste estágio simboliza um marco histórico na minha trajetória como graduanda em psicologia, pois através deste estágio pude ter meu primeiro contato com o mundo da prática na psicologia, consegui perceber a importância do trabalho de um psicólogo, como o psicólogo vira uma ponte, ajudando o paciente a chegar ao outro lado do seu percurso. Também visualizei o impacto que a psicoterapia tem na vida dos pacientes, como a psicoterapia ressignifica vidas e muda histórias. A mente humana sempre foi e sempre será motivo de estudos. Isso porque uma pessoa precisa estar saudável de sua mente e de seu corpo, podendo assim se desenvolver em todas as áreas da sua vida. Esse estágio reforçou ainda mais minha vontade de exercer a psicologia como profissão, a arte de dominar os estudos da mente me encanta e poder cuidar, orientar, transformar vidas e mentes desorganizadas em organizadas, com certeza vai ser um dos maiores prazeres da minha vida. 7. REFERÊNCIAS ABRAPSO. A Equoterapia luz da perspectiva histórico – cultural. Disponível em: http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/conteudo/pdf/trab_com pleto_76.pdf. Acesso em: 01/04/2021 ATHENEU. Levin, E. (2000). A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. (J. Jerusalinsky, trad.) (3ª ed). Petrópolis: Vozes. EDITORA REALIZE. A Importância da Psicologia na prática da Equoterapia. Disponível em:https://editorarealize.com.br/revistas/cintedi/trabalhos/TRABALHO_EV060_MD1_ SA6_ID9_13102016145449.pdf. Acesso em: 04/04/2021 FERRARI, Juliana Prado. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faculdade de Psicologia. A prática do psicólogo na equoterapia. São Paulo. 2003. Disponível em: https://silo.tips/download/universidade-presbiteriana-mackenzie-faculdade-de- psicologia-5. Acesso em: 20/04/2021 FREEDOM. Tudo o que você precisa saber sobre a equoterapia. Disponível em: https://blog.freedom.ind.br/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-equoterapia/. Acessado em: 07/04/2021 FREIRE, H. B. G.; POTSCH, R. R. O Autista na Equoterapia: a descoberta do cavalo, Universo Autista. São Paulo, 2009. FERREIRA, Carlos Alberto Mattos. Psicomotricidade da Educação Infantil à gerontologia: teoria & prática. São Paulo: Lovise, 2000. FERREIRA, C. A. M. & Cols. (2002). Psicomotricidade Clínica. São Paulo: Lovise. FERREIRA, C. A. 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Acesso 11/04/2021 SARAIVA, Lisiane Alvim; NUNES, Maria Lucia Tiellet. A supervisão na formação do analista e do psicoterapeuta psicanalítico; Estudos de Psicologia 2007, 12(3), 259- 268.https://www.scielo.br/j/epsic/a/KJYBZXWC4gghpk7V8P7jWXx/?format=pdf&lang =pt > Acesso em 26/09/2021 KUPFER, Cristina M. Notas sobre o diagnóstico diferencial da psicose e do autismo na infância. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusp/a/9wQz5yN8bkTrkg3vsRmHhCb/?lang=pt. Acesso em 06 de junho de 2020. LISTA DE ASSINATURAS _____________________________________________________ Estagiário _____________________________________________________ Supervisor Local _____________________________________________________ Orientadora FICHA DE AVALIAÇÃO DO ESTAGIÁRIO Este documento tem como objetivo registrar a avaliação do supervisor de campo sobre o estagiário Milena de Ornelas Moni, aluno do curso de Psicologia da UNIFIN – Faculdade São Francisco de Assis, matriculado no Estágio Específico 01, e que realizou ou vem realizando sua prática no local Equoterapia Terra Amada, com início das atividades em 07/2021 e conclusão (prevista ou realizada) em 12/2021. Solicitamos, portanto, que seja elaborado um parecer detalhado sobre a inserção do aluno no serviço no semestre em vigência e a forma como desempenhou suas atividades ao longo deste período, considerando os seguintes critérios, estabelecendo, ao final, um grau de 0 a 2 (utilize outras folhas se necessário): 1. Forma de desempenhar as atividades e busca de subsídios para a realização das mesmas. (0,4) 2. Postura ética na realização do trabalho, considerando a interação com público atendido no serviço, interlocução com colegas de equipe e relação com o supervisor. (0,4) 3. Posicionamento crítico do estagiário em relação às práticas realizadas e seu desempenho em relação às mesmas, mencionando também sua capacidade de elaborar propostas de trabalho ou propor diferentes formas de realizar suas atividades. (0,4) 4. Articulação das práticas realizadas à teoria e capacidade de, quando necessário, elaborar documentos em que se evidencie esta articulação. (0,4) 5. Assiduidade e pontualidade. (0,4) A aluna teve excelente desempenho nas atividades propostas, colaborando ativamente para buscas de subsídios teóricos e materiais para as intervenções. Apresentou postura ética com pacientes, colegas, supervisora e demais pessoas do local. Milena conseguiu colocar em prática tudo o que foi acordado dentro do plano terapêutico, desde entrevistas até o decorrer dos atendimentos. Teve aproveitamento satisfatório. A estudante é muito assídua e pontual, tanto nos atendimentos quanto nas demais atividades, como a produção escrita. Nota (de 0 a 2): 2____ Supervisor Local: Daniele Schally___________________________________________ CRP: 07/30987_______ Assinatura:______________________________________________ Assinatura do estagiário:___________________________________ 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 1.1 Identificação do estagiário: 1.2 Identificação do estágio 1.3 Identificação da instituição concedente do estágio 1.4 Identificação do supervisor: 2. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO 3. INTRODUÇÃO 4. PLANO DE ATIVIDADES 4.1 Atividades Desenvolvidas: Equoterapia 4.2 Atendimentos Clínicos: 5. SUPERVISÃO 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 6.1 Análise Crítica Geral 6.2 Auto-Avaliação 7. REFERÊNCIAS LISTA DE ASSINATURAS edatalia@edatalia.com +34 943 440 710 2021-11-13T02:56:52+0000 www.edatalia.com Firmado por SIGNply SIGNply - https://firmar.online Estoy de acuerdo con el contenido del documento SIGNply - https://firmar.online edatalia@edatalia.com +34 943 440 710 2021-11-13T02:58:16+0000 www.edatalia.com Firmado por SIGNply SIGNply - https://firmar.online Estoy de acuerdo con el contenido del documento SIGNply - https://firmar.online
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