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Curso de Direito Estágio Curricular Obrigatório Eixo III – Práticas Processuais DIREITO PENAL Peça Prático-Profissional Enunciado Sem dinheiro e precisando quitar um empréstimo feito com um banco, cujos juros eram muito altos, José pede R$5.000,00 (cinco mil reais) emprestados a Caio, assinando, como garantia, uma nota promissória no aludido valor, com vencimento para o dia 15 de novembro de 2020. No início de dezembro daquele ano, Caio se encontra com José e, na presença de Paulo, lhe cobra a dívida, tendo José prometido que quitaria o débito até as festas de ano novo. Em janeiro, Caio se encontra novamente com José, desta vez na presença de Juventino, para mais uma vez lhe cobrar o pagamento devido, mas este afirma que infelizmente não tem qualquer valor para pagar Caio, porque teria perdido o emprego, não tendo nenhuma fonte de renda. Contudo, Caio descobre que José teria aberto uma barbearia e estava com boa clientela. Enfurecido, Caio descobre o endereço da barbearia e interpela José. José esclarece que ele precisaria apenas de mais alguns dias, mas que boa parte do dinheiro de Caio já estava reservado, faltava juntar apenas mais R$1.000,00 (mil reais). Desconfiado da verdade do que José dizia, Caio fica à espreita, aguardando que José feche o estabelecimento. Assim, após um dia de trabalho, no final da tarde do dia 25 de fevereiro de 2021, José segue para sua residência enquanto Caio, arrombando a porta do local, invade a barbearia. Lá encontra R$4.000,00 (quatro mil reais) guardados em uma gaveta, pega o dinheiro, como quitação de parte da dívida, deixando no lugar um bilhete no qual confessa ter levado a quantia que lhe era devida e que ainda aguarda o pagamento do restante da dívida até o próximo mês. A autoria é confirmada pelas gravações da câmera de vigilância da barbearia. No dia seguinte, José encontra seu estabelecimento comercial arrombado e com o bilhete de Caio e a gravação em mãos, se dirige imediatamente para a Delegacia de Polícia mais próxima e registra um Boletim de Ocorrência. Instaurado o Inquérito Policial e cumpridas as diligências necessárias, confirmou-se a ocorrência do evento, tendo o Ministério Público denunciado Caio como incurso nas sanções do art. 155, §4º, inciso I, do Código Penal (furto Curso de Direito Estágio Curricular Obrigatório Eixo III – Práticas Processuais qualificado pelo rompimento de obstáculo). A denúncia foi oferecida e recebida pelo juízo da 6ª Vara Criminal da Capital, sendo Caio devidamente citado no dia 08 de setembro de 2021. Procurado por Caio para representá-lo na ação penal instaurada e com base nas informações dispostas no caso concreto, redija a peça cabível desenvolvendo todas as teses defensivas que podem ser extraídas com indicação dos respectivos dispositivos legais. Obs.: a peça deve abordar todas os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. A mera citação do dispositivo legal não será avaliada. Gabarito comentado Trata-se da apresentação de Resposta à Acusação, prevista nos art. 396 e art. 396-A do CPP. A resposta à acusação, redigida em peça única, é a primeira defesa a ser oferecida pelo réu na fase processual, logo após a citação. A questão é saber que não houve ainda audiência de instrução e julgamento. Deve-se estar atento ao endereçamento que é o do juízo do recebimento da denúncia, qual seja, conforme indicado no caso em questão, a 6ª Vara Criminal da Capital. O prazo é de 10 dias, contado da citação feita pelo oficial de justiça, a teor da Súmula 710 do STF e do art. 798, §1º do CPP. São teses de defesa: 1) Absolvição sumária pelo “fato narrado evidentemente não constituir crime”, a teor do art. 397, III do CPP, tendo em vista a ausência da elementar do tipo penal do art. 155 do Código Penal por não estar o réu subtraindo “coisa alheia” móvel. Portanto deve-se pedir a atipicidade do crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo. 2) Argumentação de erro na capitulação jurídica do fato. A conduta descrita, em tese, se subsume ao crime do art. 345 do Código Penal, exercício arbitrário das próprias razões. Isto enseja a consequente rejeição da denúncia. O crime é de ação penal privada, conforme parágrafo único do referido artigo, pelo que se tem o Ministério Público como parte ilegítima para propositura da ação penal (art. 100, §2º do CP), faltando condição da ação (art. 395, II). Totalmente viável o magistrado reavaliar a decisão de recebimento da denúncia e rejeitá-la de plano. Curso de Direito Estágio Curricular Obrigatório Eixo III – Práticas Processuais 3) Reconhecimento da decadência, conforme art. 103 e art. 107, IV do CP, pois, tratando-se de crime de Ação Penal Privada, o oferecimento da Queixa-crime tem prazo decadencial de 6 (seis) meses a contar do conhecimento da autoria. Assim, tendo o crime ocorrido no dia 25 de fevereiro de 2021, descoberta a autoria no dia seguinte, já que confessou Caio a prática do delito por meio de um bilhete, bem como teria sido sua ação filmada por câmera de vigilância, poderia ter sido oferecida a Queixa-Crime até o dia 25 de agosto de 2021, pelo que deve ser reconhecida a extinção da punibilidade de Caio em razão da decadência. 4) Pedidos e requerimentos: absolvição pela atipicidade do furto (art. 397, inciso III do CPP); rejeição da denúncia (395, inciso II do CPP); reconhecimento da extinção de punibilidade pela ocorrência da decadência do direito de queixa com relação ao crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 397, inciso IV do CPP). Desempenho ITEM AVALIAÇÃO Preâmbulo 1. A peça deve ser apresentada à 6ª Vara Criminal da Capital (5%). 0,0/5% 2. Indicação da peça Resposta à acusação (10%), com fundamento nos arts. 396 e 396- A do CPP (2%). 0,0/2%/10%/12% Fundamentação jurídica 4. Desenvolvimento do raciocínio com relação à atipicidade da conduta da forma como tipificada na denúncia – atipicidade do crime de furto em vista de não se tratar de “coisa alheia móvel” (15%), conforme art. 397, inciso III, do CPP (2%). 0,0/2%/15%/17% 5. Adequação correta como exercício arbitrário das próprias razões (10%), nos termos do art. 345 do CP (2%). 0,0/2%/10%/12% 6. Identificação da ação penal aplicável ao caso, qual seja, ação penal privada (8%), conforme parágrafo único do art. 345 do CP (8%). 0,0/8% 7. Rejeição da denúncia por ilegitimidade de parte do MP (8%). 0,0/8% 8. Rejeição da denúncia pelo econhecimento da extinção da punibilidade em razão da ocorrência da decadência (10%), nos termos dos arts. 103 e 107, inciso IV do CP (2%). 0,0/2%/10%/12% Pedidos e requerimentos 9. Absolvição pela atipicidade do furto (5%). 0,0/5% 10. Rejeição da denúncia em virtude do reconhecimento da extinção de punibilidade pela ocorrência da decadência do direito de queixa com relação ao crime de exercício arbitrário das próprias razões (5%). 0,0/5% 11. Juntada de documento – nota promissória comprovando a dívida (3%). 0,0/3% 12. Juntada do rol de testemunhas (3%). 0,0/3% Fechamento 13. Local, Data, Advogado e OAB (2%). 0,0/3% EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6ª VARA CRIMINAL DA CAPITAL DO ESTADO DE XXXX/UF Autos n° XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX CAIO, devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, por sua advogada que esta subscreve (mandato incluso), com fulcro nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal, apresentar sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO contestando a Denúncia em todos os seus termos e ao final provar sua inocência, conforme Ditames da JUSTIÇA, pelas razões de fato e de direito abaixo aduzidas. I. DOS FATOS Consta da denúncia que no final da tarde do dia 25 de fevereiro de 2021, Caio, teriam subtraído para si, mediante rompimento de obstáculo, a quantia de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), que seriamprovenientes do trabalho realizado por José em sua barbearia. De acordo com a exordial, o denunciado teria ficado à espreita, aguardando que José fechasse sua barbearia, oportunidade em que Caio a invadiu, enquanto José ia para sua residência. Ademais, consta dos autos que este requerido deixou no local um bilhete no qual confessa ter levado a quantia em dinheiro, senho sua autoria confirmada pelas gravações da câmera de vigilância do estabelecimento. No dia seguinte, ao encontrar seu estabelecimento comercial arrombado e com o bilhete de Caio e a gravação em mãos, José se dirigiu a Delegacia de Polícia e registrou Boletim de Ocorrência, dando causa à instauração de Inquérito Policial e, após cumpridas as diligências necessárias, confirmou-se a ocorrência do evento, tendo o Ministério Público denunciado Caio como incurso nas sanções do artigo 155, §4º, inciso I, do Código Penal (furto qualificado pelo rompimento de obstáculo). Não obstante o entendimento exarado pelo douto parquet na denúncia, é certo que este não deverá prevalecer conforme se demonstrará. II. DA TEMPESTIVIDADE Tem-se que o prazo para apresentação da resposta à acusação é de 10 dias, contado da citação feita pelo oficial de justiça, a teor da Súmula 710 do STF e do artigo 798, §1º do Código de Processo Penal. Portanto, tendo sido este requerido devidamente citado no dia 08 de setembro de 2021, tempestiva se faz a presente, datada de 17 de setembro de 2021. III. DO DIREITO a. DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA Preceitua o artigo 397, III, do Código de Processo Penal que trata das hipóteses de absolvição sumária: Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: […] III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; Ora, evidente que o caso em epígrafe evidentemente não constituir crime, visto que o valor subtraído, de R$ 4.000,00 se deu para garantia de dívida, que consiste na quantia de R$ 5.000,00. Vejamos a realidade dos fatos: A denominada vítima, Sr. José, procurou este requerido, alegando estar sem dinheiro e precisando quitar um empréstimo feito com um banco, cujos juros eram muito altos, pedindo a quantia de R$5.000,00 (cinco mil reais) emprestados, assinando, como garantia, uma nota promissória no aludido valor, com vencimento para o dia 15 de novembro de 2020. Após duas tentativas de cobrança, acompanhado das testemunhas posteriormente arroladas, Caio tomou conhecimento da barbearia que José havia aberto, e soube do sucesso que estava tendo com a clientela, oportunidade que viu adequada para conseguir reaver os valores emprestados à José. Pela fúria comum ao homem médio, por se ver prejudicado ao emprestar o valor à José, este requerido de fato ficou à espreita, aguardando que José fechasse o estabelecimento para que pudesse adentrar na barbearia e reaver o seu dinheiro. Para que isso se tornasse possível, necessário se fez o arrombamento da porta do local e, ao encontrar R$4.000,00 (quatro mil reais), valor ainda inferior ao da dívida, Caio pega o dinheiro, como quitação de parte da dívida, deixando no lugar um bilhete de aviso de que pegou o dinheiro, e que ainda lhe era devido o pagamento do restante da dívida até o próximo mês. Portanto, sendo o valor objeto da subtração devido a este requerido, afasta-se a caracterização do delito de furto, diante da ausência da elementar do tipo penal do artigo 155 do Código Penal, por não estar o réu subtraindo “coisa alheia” móvel, e sim, de valor que lhe pertencia. Portanto, de rigor a atipicidade do crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo. b. DA DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO DE ROUBO PARA O CRIME DE EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES Objetiva-se desclassificar o delito de roubo para o crime de exercício arbitrário das próprias razões. Veja-se o disposto no artigo 345 do Código Penal: Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. O réu foi denunciado por infringir o art. 155, §4º, inciso I, do Código Penal, pois, dirigiu-se a barbearia de José, inicialmente a pretexto de cobrança de dívida, e subtraiu quantia em moeda corrente mediante rompimento de obstáculo. Todavia, a finalidade do réu era tão somente cobrar uma dívida e não praticar o crime de furto, destacando-se que para a configuração do delito de exercício arbitrário das próprias razões, o agente deve atuar convencido de estar agindo em busca de um direito legítimo, pouco importando a legalidade de sua pretensão. Na espécie, resta cristalina a prova de que o dolo do agente foi o de fazer justiça com as próprias mãos, para satisfazer uma pretensão considerada legítima, porquanto a subtração se deu para garantir o pagamento de dívida preexistente e incontroversa, desse modo, cabível a desclassificação do delito de roubo para o de exercício arbitrário das próprias razões, nos moldes do art. 345 do CP. Com efeito, os Magistrados reconheceram a prescrição da pretensão punitiva, haja vista a pena máxima cominada ao crime do art. 345 do CP ser inferior a um ano e ter decorrido mais de dois anos entre a data do fato e o recebimento da denúncia (art. 107, inciso IV do CP). Assim, o Colegiado por não vislumbrar a intenção dos réus de praticar o crime de roubo, desclassificou a conduta para o crime de exercício arbitrário das próprias razões e declarou extinta a punibilidade. c. DA REJEIÇÃO DA DENÚNCIA - ILEGITIMIDADE AD CAUSAM O Ministério Público, diante da notitia criminis de que poderia ter havido crime de furto qualificado, ofereceu denúncia contra este réu, pessoa que supostamente teria praticado a subtração, sendo certa a imputação a este denunciado. Entretanto, conforme o parágrafo único do artigo 345 do Código Penal: “Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.” Portanto, o crime é de ação penal privada, conforme previsão legal, pelo que se tem o Ministério Público como parte ilegítima para propositura da ação penal (art. 100, §2º do CP), faltando condição da ação (art. 395, II). Assim, necessário se faz que este magistrado reavalie a decisão de recebimento da denúncia, devendo rejeitá-la de plano. d. DA DECADÊNCIA Traz o artigo 103 do Código Penal: “o ofendido decai do direito de queixa ou de representação, se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contados do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º, do art. 100, (isto é, da ação privada subsidiária) do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.” No mesmo sentido, o artigo 107, inciso IV do mesmo diploma legal: “Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - Pela prescrição, decadência ou perempção;” Portanto, tratando-se o exercício arbitrário das próprias razões crime de Ação Penal Privada, o oferecimento da Queixa-crime tem prazo decadencial de 6 (seis) meses a contar do conhecimento da autoria. Assim, visto que, através das câmeras de segurança da barbearia José tomou conhecimento da autoria de Caio, precisamente no dia 26 de fevereiro de 2021, o prazo para oferecimento da Queixa-Crime se deu até o dia 25 de agosto de 2021. Diante disso, deve ser reconhecida a extinção da punibilidade deste denunciado em razão da decadência. IV. DOS PEDIDOS Frente ao exposto, requer este peticionário: a. A absolvição pela atipicidade do furto (artigo 397, inciso III do CPP); b. rejeição da denúncia (395, inciso II do CPP); c. reconhecimento da extinção de punibilidade pela ocorrência da decadênciado direito de queixa com relação ao crime de exercício arbitrário das próprias razões (artigo 397, inciso IV do CPP) d. Provar o alegado, em especial pela juntada da nota promissória que comprova a existência da dívida, bem como outros documentos necessários à elucidação dos fatos; e. A intimação e oitiva das testemunhas adiante arroladas, que comprovarão a existência da dívida, bem como as tentativas pacíficas de cobrança, sob pena das cominações legais: ROL DE TESTEMUNHAS: 1 PAULO – qualificado às fls. Xx 2 JUVENTINO – qualificado às fls. Xx Nestes Termos, Pede e Espera Deferimento. São Paulo, 17 de setembro de 2021. (Advogado), (OAB/SECCIONAL)
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