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Milena Marques 145 Dip – Leptospirose Introdução: • É uma doença infecciosa febril de início abrupto causado pela bactéria espiroqueta Leptospira interrogans. • É uma zoonose (doença habitualmente encontrada em animais vertebrados, porém circunstancialmente transmitida ao homem em condições naturais) de distribuição mundial e presente em todos os estados brasileiros. O homem entra como hospedeiro acidental e terminal. • Importante problema de saúde pública no Brasil. Agente etiológico: • É uma bactéria espiralada do gênero Leptospira. • São microorganismos aeróbicos obrigatórios, helicoidais, flexíveis, moveis (possui 2 flagelos) e tem a extremidade em gancho. Elas podem permanecer viáveis no solo úmido ou na água por semanas ou meses (podem sobreviver no meio externo por até 180 dias), mas precisam de um hospedeiro animal para manter o seu ciclo. • Ampla variedade de animais susceptíveis podem hospedar o microorganismo. • O gênero leptospira foi dividido em duas espécies o Leptospira interrogans (patogênica) o Leptospira biflexa (saprófita ou não patogênica) • Em cada espécie existem diversos sorotipos (sorovares) e elas foram individualizadas pelas suas características antigênicas o 2 ou mais sorovares antigenicamente relacionados formam um sorogrupo • Entre os sorogrupos principais do nosso meio destacam-se: o L. icterohaemorrhagiae (mais relacionado com a síndrome de Weil) o Pomona o Canicola o Gripptyphosa Existe uma tendencia de nova classificação genotípica que divide em 14 espécies genômicas. Epidemiologia: • Alta incidência em aglomerados urbanos • Infra-estrutura sanitária inadequada • Infestação de roedores • Estações chuvosas e inundações • A letalidade das formas graves varia de 10-50% • É uma doença de distribuição endêmica, com ocorrência em todos os meses do ano • Epidemias urbanas associadas a períodos chuvosos • Surtos em regiões rurais (subnotificados) É uma doença de notificação compulsória • Homens são mais afetados do que as mulheres (exposição? Hormônio?) Definição de caso de leptospirose: Divisão em dois critérios: 1 – Critério clínico-laboratorial: Caso suspeito com resultado laboratorial reagente de ELISA-IgM, mais soroconversão no teste de microaglutinação (MAT) 2 – Critério clínico-epidemiológico: Caso suspeito com febre e alterações nas funções hepáticas, renal ou vascular com antecedentes epidemiológicos e não tenha coletado material para exames específicos, ou estes sejam negativos com amostra única coletada antes do 7 dia de início dos sintomas. Transmissão da doença: • Principal reservatório: roedores sinantrópicos das espécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto) e Mus musculus (camundongo ou catita) Esses animais ao se infectarem não desenvolvem a doença, mas tornam-se portadores albergando a leptospira nos rins, eliminando-a viva no meio ambiente contaminando água, solo e alimentos • Outros reservatórios: caninos, suínos, bovinos, equinos, caprinos, animais silvestres. • Os seres humanos são hospedeiros acidentais e terminais dentro da cadeia de transmissão. Milena Marques 145 • Infecção humana pode ocorrer ✓ Exposição direta ou indireta à urina de animais infectados ✓ Penetração do microrganismo em pele lesada ou mucosa da boca, narinas e olhos ✓ Pele integra quando imersa em água por longo tempo ✓ Contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados ✓ Ingestão de água ou alimentos contaminados ✓ Transmissão acidental em laboratórios. • Período de transmissibilidade: os animais infectados podem eliminar a leptospira através da urina durante meses, anos ou por toda a vida (depende da espécie do animal e do sorotipo envolvido) Fisiopatogenia A penetração da bactéria leptospira ocorre por meio de mucosas, pele, ingestão ou aerossol. Após a invasão a leptospira alcança a corrente sanguínea e se dissemina por diversos órgãos e sistemas, tendo facilidade de se difundir pelo tecido conjuntivo atingindo liquor e humor aquoso, sem causar alteração inflamatória grave. A evolução da doença vai depende da agressividade da bactéria e da defesa do hospedeiro. Fatores de virulência: • Produção de endotoxina (LPS) – sistema imune inato reconhece mal a LPS da leptospira • Toxinas hemolíticas • Superantígenos – causa ativação de células T • Adesinas e hialuronidase (facilita a penetração nos tecidos) Fatores do hospedeiro: • Fatores genéticos – HLA DQ6 (susceptibilidade) • Liberação de citocinas • Formação de imunocomplexos • Suscetibilidade e imunidade – a imunidade adquirida pós-infecção é sorovar-específica (sorotipo especifica) Existem dois aspectos principais na patogênese da infecção pela leptospira: 1 – Lesão direta do endotélio vascular, cursando com um capilarite generalizada • Isso leva ao extravasamento de liquido para o terceiro espaço -> eventos hemorrágicos • Síndrome febril devido a liberação de citocinas inflamatórias • Aumento da capilaridade pulmonar -> extravasamento de liquido e sangue para os alvéolos 2 – Adesão das leptospira à membrana das células determinando lesão ou disfunção celular • Disfunção hepática com predomínio na função de excreção biliar (colestase) -> aumento das bilirrubinas diretas e aminotransferases pouco alteradas. • Nefrite intersticial e necrose tubular no rim • Miosite (Aumento da CPK) • Miocardite -> alterações ECG (arritmias como extrassístole e FA) Formas e manifestações clínicas Cerca de 90-95% dos casos de leptospirose apresentam formas assintomáticas ou oligossintomaticas (síndrome febril) -> essa é a chamada forma anictérica da doença. Cerca de 5-10% evoluem para as formas graves da doença -> chamada síndrome ictérico-hemorrágica ou síndrome de Weil Milena Marques 145 1 – Forma anictérica: • Período de incubação de 3-14 dias • Evolução geralmente bifásica (gravidade variável) • Período de leptospiremia (septicémico): dura de 3-7 dias, onde predomina sintomas como febre alta, cefaleia, dor-retrorbitária, calafrios, nauses, vômitos, intensa mialgia o Palpação da panturrilha dolorosa – achado que chama atenção o Sufusoes conjuntivais – olho vermelho (40- 30%) Após essa fase, o paciente passa por um período de defervescência e evolui para a segunda fase: • Período imune: Duração de 4 a 30 dias. Queda gradual da febre em forma de lise, e nessa fase podem ocorrer complicações devido a dificuldade de destruição do vírus principalmente no SNC e no olho (pela opsonização dos anticorpos) o Complicações ✓ Meningite asséptica – manifestação neurológica mais comum da doença (cefaleia + confusão mental + vômitos + sinal de irritação meníngea + alteração liquórica) ✓ Uveíte – manifestação mais tardia (após a terceira semana), acometimento uni ou bilateral normalmente autolimitado. o Nessa fase temos a detecção de anticorpos específicos o Leptospirúria (eliminação de leptospira pela urina, mas a transmissão não é feita pelo ph urinário ácido) No laboratório temos: • Leucocitose com desvio a esquerda • Plaquetopenia (consumo de plaquetas devido a ativação endotelial) • Hematócrito elevado • VHS elevado • CPK elevada 2 – Forma ictérica- hemorrágica (síndrome de Weil) • Evolução monofásica → maior gravidade • Passa pelo estágio de septicémico, evoluindo de maneira fulminante para a síndrome multissistemica. • Sintomas descritos anteriormente com maior intensidade, associados a: o Icterícia rubínica (coloração alaranjada devido a vasculite conjuntival associada) o Colestase intra-hepática (hiper bilirrubinemia) o Manifestações hemorrágicas ✓ Petéquias, equimoses ✓ Hemorragias gastrointestinais✓ Hemorragia pulmonar -> principal causa de óbito nesses pacientes ➔ Capilarite hemorrágica pulmonar grave ➔ Tosse + hemoptise + dispneia ➔ Alvéolos cheios de sangue e líquidos o Acometimento cardíaco – miocardite e alterações ECG (arritmias) o Insuficiência renal aguda A insuficiência renal aguda tem três causas: ➔ Pré-renal (por hipovolemia) ➔ Nefrite tubular intersticial ➔ Necrose tubular aguda Atenção: Ocorre maior acometimento nos túbulos proximais. Milena Marques 145 Relembrando um pouco de fisiologia: No túbulo contorcido proximal ocorre a reabsorção de sódio. Se o túbulo proximal está defeituoso, ele não consegue reabsorver como deveria e acaba chegando um maior aporte se sódio no túbulo contorcido distal e no ducto coletor. Com esse sódio em excesso o túbulo contorcido distal tem que reabsorver, as custas de colocar potássio para fora¸por isso que é bem característico da leptospirose uma IRA NÃO oligúrica com potássio sérico normal ou baixo. PROVA – tríade da síndrome de Weil – manifestações hemorrágicas + insuficiência renal + icterícia. Os sinais clínicos de alerta para leptospirose: Indicam internação hospitalar • Dispneia, tosse e taquipneia • Alterações urinárias, geralmente oligúria • Fenômenos hemorrágicos, incluindo hemoptise e escarros hemoptoicos • Hipotensão • Alteração do nível de consciência • Vômitos frequentes • Arritmias • Icterícia Exames laboratoriais: • Hemograma: anemia, leucocitose com desvio a esquerda, plaquetopenia • Transaminases normais ou pouco elevadas • Aumento da bilirrubina direta (colestase) • CPK elevada • Potássio sérico normal ou diminuído, creatinina elevada e ureia elevada. o Causas de potássio sérico diminuído: ✓ Reduzida reabdorçao de sódio (defeito do túbulo proximal) ✓ Aumento do aporte distal de sódio ✓ Perda de potássio • INR alargado, fibrinogênio elevado • Urina rotina: leucocitúria, proteinúria, cilindrúria • Gasometria arterial: acidose metabólica e hipoxemia Diagnóstico: • Suspeita clinica e epidemiológica: antecedente de contato com ratos, exposição a enchentes ou animais, icterícia rubinica, mialgia na panturrilha, petéquias conjuntivais o Exames gerais – bilirrubina direta elevada, TGP/TGP normais, ureia creatinina elevada com K+ baixo, plaquetopenia, leucocitose com desvio a esquerda e INR aumentado. Exames confirmatórios: • Fase precoce o Leptospiras podem ser visualizadas no sangue, por meio de exame direto ✓ Cultura em meio apropriado ✓ PCR • Fase tardia o Métodos sorológicos – melhor alternativa ✓ ELISA-IgM – detecção a partir do 7ª dia de doença (permanece positivo por 1 a 2 meses) → mais utilizado Milena Marques 145 ✓ Reação de microaglutinação – padrão ouro Detecta sorovares, aumento de 4x o titulo dos anticorpos confirma o diagnostico, alta sensibilidade ✓ Reação de macroaglutinação – mais acessível, rápida execução Diagnóstico diferencial: Tratamento: • Antibioticoterapia indicada em qualquer período da doença, mas com maior eficácia na 1ª semana de início dos sintomas Forma anictérica -> doxiciclina / amoxicilina Forma ictérica-hemorrágica -> penicilina G cristalina/ ampicilina/ ceftriaxone • Tempo de tratamento é de 7-10 dias Para as formas mais graves: • Hidratação vigorosa EV (SF ou ringer) • Furosemida se disfunção renal oligúrica • Reposição de K+ se hipocalemia • Dialise se necessário • Assistência ventilatória se necessário • Transfusão de hemácias e plaquetas se necessário. Prevenção: • Controle dos reservatórios • Melhora da infraestrutura, eduação em saúde, EPI • Vacinação de animais Profilaxia • Pós exposição -> doxicilina 100 mg VO 12/12h (não esta recomendada pós enchentes pelo MS) • Pré-exposição -> doxiciclina 200 mg VO 1x por semana. Milena Marques 145
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