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Química de Lipídeos Química de Alimentos Introdução > Lipídeos: são macromoléculas insolúveis ou parcialmente solúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos. Eles influenciam na textura, sabor, nutrição e valor energético dos alimentos, dependendo do seu conteúdo e composição dentro dos alimentos, já que são bastante variáveis. > Principais fontes de lipídeos: → Carnes → Ovos → Leite e derivados (manteiga, creme de leite) → Sementes oleaginosas (soja, milho, girassol) → Oleaginosas (castanha, nozes, amêndoa, avelã) → Abacate e coco → Produtos derivados dos alimentos acima > Classificação dos lipídeos: - Lipídeos simples: são compostos por ácidos graxos e álcoois. A principal forma em que se apresentam são os glicerídeos, sendo os triglicerídeos os mais comuns. Compõem os óleos e gorduras. - Lipídeos compostos: possuem outros grupamentos químicos além dos ácidos graxos. Exemplo: fosfolipideos (ácido graxo + ácido fosfórico + grupo nitrogenado); glicolipídeos (ácido graxo + grupo nitrogenado + carboidrato); lipoproteínas (contêm proteínas). - Lipídeos derivados: são obtidos por hidrolise de lipídeos neutros e compostos, mas ainda apresentam propriedades de lipídeos. São compostos por ácidos graxos, álcoois de alto peso molecular, esteróis, hidrocarbonetos, carotenoides e vitaminas lipossolúveis. Ácidos Graxos → Até 96% da massa total de triglicerídeos; → Contribuem para as propriedades físico-químicas dos óleos e gorduras; → Principais ácidos graxos na natureza: entre 12 e 24 carbonos na cadeia principal. > Classificação quanto ao grau de saturação: - Saturados: sem ligações duplas. - Insaturados: uma ou mais ligações duplas. Quanto mais insaturado, menor o ponto de fusão. Isso porque, a insaturação aumenta as distâncias e enfraquece as forças de atração entre os ácidos graxos, fazendo com que haja uma diminuição do da energia necessária para quebrar a interação. A configuração trans dos ácidos graxos instaurados geralmente é decorrente do processamento, pela reação de hidrogenação catalítica. Na natureza, os ácidos graxos geralmente são encontrados na configuração cis. Ácidos graxos trans são usados para aumentar a validade e melhorar a consistência de vários alimentos. O consumo à longo prazo de ácidos graxos trans pode aumentar os níveis de LDL e trigliceróis plasmáticos. Isso contribui para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Os ácidos graxos trans podem estar presentes naturalmente em alguns alimentos, como o leite e seus derivados e carnes. Isso é devido à presença de bactérias no intestino de alguns animais que realizam a isomerização do ácido graxo cis à trans. Ex.: CLA (ácido linolênico conjugado) – esse é um ácido graxo trans natural que não é deletério à saúde, mas pode ser benéfico a partir da sua atuação na modulação da resposta inflamatória, redução do estresse oxidativo e redução de hormônios ligados à obesidade. > Classificação quanto à cadeia: - Curta: até 6 carbonos - Média: 8-18 carbonos - Longa: > 18 carbonos Quanto menor for a cadeia, menor será o ponto de fusão do ácido graxo. > Classificação de acordo com a nomenclatura ômega: o sistema ω é útil pois pode agrupar os ácidos graxos com base em sua atividade biológica e origem biossintética. Algumas enzimas que metabolizam os ácidos graxos no nosso organismo os reconhecem pela extremidade metil (contraria ao grupamento carboxílico). Os ácidos graxos classificados de acordo com essa nomenclatura são ácidos graxos essenciais. - Ácidos graxos essenciais: não são produzidos naturalmente pelo nosso organismo. São precursores de prostaglandinas (importantes funções fisiológicas). São necessários para manter sob condições normais as membranas celulares, as funções cerebrais e a transmissão de impulsos nervosos. - Ômega 3: relacionado à uma resposta anti-inflamatória. → Ácido linolênico – soja e linhaça → Ácido eicosapentanóico (EPA) e decosahexanóico (DHA) – peixes marinhos (origem animal). Algumas enzimas, como as elongases, adicionam mais carbonos na cadeia principal desses ácidos graxos, para funcionarem como precursores de outras moléculas do nosso organismo, como hormônios. Como a afinidade das elongases é diferente entre o EPA e DHA, o metabolismo desses ácidos graxos é diferente. Ácido Eicosapentaenóico (EPA): atua na produção de substâncias anti-inflamatórias que auxiliam na saúde do coração e da circulação sanguínea. Ácido Docosahexaenoico (DHA): com ação antioxidante, é considerado o ácido graxo mais benéfico para a saúde do cérebro, envolvido em diversos processos cognitivos. - Ômega 6: relacionado à uma resposta inflamatória. → Ácido linoleico – sementes oleaginosas. - Considerações importantes sobre esses ácidos graxos: Os ácidos graxos das famílias ω-6 e ω -3 competem pelas enzimas envolvidas nas reações de dessaturação e alongamento da cadeia; Estas enzimas possuem maior afinidade pelos ácidos da família ω-3. Por isso é necessário consumir mais ω- 6 do que ω-3, para haver um equilíbrio na absorção desses produtos. A conversão de ácido linolênico a ácidos graxos essenciais é influenciada pela concentração de ω-6; Relação ω-6/ω-3 da dieta é muito importante – diferente para cada país. > Composição de ácidos graxos (% da massa total de ácidos graxos) de alguns alimentos: Geralmente, os alimentos de origem vegetal são ricos em ácidos graxos insaturados – com exceção do cacau e coco. Os de origem animal são mais ricos em ácidos graxos saturados. - Gordura do leite → Grande quantidade de ácidos graxos de cadeia curta (C4 a C10) – são mais voláteis; → Principal representante é o ácido butírico (3 a 15%); → Os principais ácidos graxos de cadeia longa são o ácido oléico (30 a 40%), ácido palmítico (25 a 32%) e ácido esteárico (10 a 15%). - Grupo do ácido láurico (12:0) → São todos os alimentos que apresentam 40 a 50% de ácido láurico; → Pouco ácidos graxos insaturados; → Óleo de coco, babaçu e dendê. - Grupo dos ácidos insaturados (oléico-linoléico) → Maior e mais variado grupo; → Todas as gorduras de origem vegetal; → Teor menor que 20% de ácidos graxos saturados; → Óleo de algodão, milho, girassol e azeite de oliva. - Grupo do ácido linolênico → Predominantemente insaturados, em especial o linolênico (não necessariamente é o mais abundante); → Linhaça. - Grupo das gorduras animais → Alto teor de ácidos graxos saturados; → Teor varia de 30 a 40% de ácido palmítico (16:0) e esteárico (18:0); → Toucinho, banha, etc; → Apresentam elevado ponto de fusão. Propriedades Físicas e Químicas dos Lipídeos > Ponto de fusão: → Comprimento da cadeia – quanto maior o peso molecular, maior o ponto de fusão → Ramificações – cadeia linear, maior ponto de fusão → Insaturações – maior grau de insaturação, menor o ponto de fusão (óleos líquidos a temperatura ambiente). Isso porque, a insaturação causa um impedimento espacial, que é devido à dobra que a ligação dupla provoca na cadeia, provocando menor interação entre os ácidos graxos. - Os ácidos graxos trans tem menor ponto de fusão que o cis e ponto de fusão semelhante ao ácido graxo saturado de mesmo comprimento de cadeia. → Localização dos AG no TG – TG com AG iguais nas 3 posições possuem maior ponto de fusão > Óleo x Gorduras: - Óleos: → Geralmente de origem vegetal (extraído por prensagem ou com solvente); → Ricos em AG insaturados – menor ponto de fusão; → Líquidos a temperatura ambiente; → Soja, girassol, azeite de oliva, milho. - Gorduras: → Geralmente de origem animal; → Consumidas como parte integrante do alimento ou isoladamente; → Ricas em AG saturados – maior ponto de fusão; → Sólida a temperatura ambiente; → Toucinho, creme de leite, manteiga, banha. > Ponto de fumaça – temperatura na qual ocorre a formação de fumaça do óleo quando este é colocadosob aquecimento. Esse ponto indica que o ácido graxo está perto de sofrer uma degradação por conta do calor. Um óleo utilizado para a fritura deve ter um ponto de fumaça elevado, para que ele não seja degradado antes. Para fritura é indicado um óleo de soja (origem vegetal), que é rico em ácido graxo insaturado – ponto de fumaça maior. - AG saturados – menor ponto de fumaça - AG insaturados – maior ponto de fumaça Quanto mais próximo do ponto de fumaça, maior a quantidade de componentes secundários formados. Estes são prejudiciais à saúde. Um desses componentes é a acroleína. - Acroleína: composto de cheiro desagradável e de ação irritante para os olhos, mucosas e pele. Considerado cancerígeno. Assim, utilizar o óleo várias vezes para a fritura, proporciona uma maior chance de produção desse composto. > Ponto de faísca – temperatura na qual os componentes do óleo são capazes de iniciar uma ignição. > Ponto de combustão – temperatura na qual é capaz de ocorrer combustão do material. Reações envolvendo lipídeos > Hidrogenação catalítica: transformação de lipídeos. É uma reação de adição, onde o gás hidrogênio (H2) é adicionado à cadeia de ácido graxo do óleo (líquido insaturado) com a ajuda de um catalisador, formando uma gordura (sólida saturada). Pode ser usado o metal níquel (Ni) ou platina (Pt) como catalisadores. - Vantagens da hidrogenação catalítica: → Aumento estabilidade oxidativa de produtos. Isso porque, na forma insaturada, os ácidos graxos têm maior suscetibilidade de serem degradados por oxidação do que os saturados. Assim, aumenta-se o prazo de validade do alimento. → Aumento do ponto de fusão – estado liquido para o sólido. → Aumento do ponto de fumaça → Sem sabor residual → Confere textura macia a produtos de panificação → Produtos produzidos por esse processo: margarina, gordura vegetal hidrogenada, cremes vegetais → Formação aleatória (isomerização) de ácidos graxos trans. > Interesterificação: → Não altera a estrutura química dos ácidos graxos – não gera ácidos graxos trans. Apenas realiza um rearranjo dos ácidos graxos eu compõem os triglicerídeos. → É mais caro e realizado em pequena escala. → Implicações funcionais – modifica propriedades de textura, estabilidade oxidativa, e propriedades nutricionais. Os ácidos graxos que estão na posição SN2 (primeira) são mais biodisponíveis no organismo. Assim, é possível realizar, pelo processo de interesterificação, a troca de um ácido graxo para essa posição conforme o desejado. → A interesterificação pode ser feita de duas formas: - Via química: utiliza catalizadores químicos, como bases e ácidos, levando à uma hidrólise aleatória nos ácidos graxos na cadeia do TG. - Via enzimática: utiliza lipases fúngicas, permitindo que a hidrólise ocorra com maior especificidade. Por exemplo, se deseja modificar a posição do ácido graxo nas partes Sn1 ou Sn2, utiliza-se uma enzima que corte nessas posições. A mesma lipase que realiza a hidrólise pode fazer a esterificação (adição de um ácido graxo), conferindo novas propriedades ao lipídeo. > Rancidez: deterioração química de lipídeos → Rancidez hidrolítica (lipólise): ocorre hidrólise de ácidos graxos da cadeia do TG (ação enzimática, térmica ou química), tornando-os livres. Quanto mais ácidos graxos livres, mais eles estarão suscetíveis à rancidez oxidativa. - Hidrolise enzimática: lipase e outras enzimas lipolíticas, enzimas presentes naturalmente nos alimentos ou presentes em microrganismos. - Hidrólise física e química: calor, luz, metais traço e extremos de pH. - A hidrólise provoca: Odores indesejados Redução da estabilidade oxidativa Formação de espuma – emulsificação Redução do ponto de fumaça –degradação do ácido graxo mais acelerada → Rancidez oxidativa (oxidação lipídica): oxidação dos ácidos graxos nos alimentos, provocando sua degradação e geração de compostos nocivos à saúde. - Complexo de reações químicas envolvendo a ação de radicais livres que vão interagir com os ácidos graxos livres. Estes posteriormente vão interagir com o oxigênio atmosférico, iniciando o processo de oxidação. - Formação de moléculas pequenas e voláteis que produzem aroma indesejado (ranço); - Alterações indesejáveis de cor, sabor, aroma e consistência do alimento. - A rancidez oxidativa ocorre em 3 etapas: A peça central das reações de oxidação lipídica são as espécies moleculares conhecidas como radicais livres. 1) Iniciação: forma espécies radicalares. Primeiro ocorre uma reação que provoque a abstração de um hidrogênio perto de uma ligação dupla do ácido graxo, formando um radical. Essa reação é induzida pela presença de íons metálicos, enzimas e luz UV. Quanto mais insaturado for o ácido graxo, mais suscetível à oxidação. Isso porque, a força de ligação entre o hidrogênio e o carbono é menor quando se tem ligações duplas próximas, o que facilita a reação de abstração. 2) Propagação: presença de O2. O radical alquil formado na etapa anterior pode sofrer ressonância, o que confere a ele uma alta reatividade. Assim, é necessário que ele se complexe com outra molécula para se estabilizar. Isso é feito pela interação com outro ácido graxo na sua forma nativa, o que gera um novo radical livre (radical peroxil) a partir de outro ácido graxo. O radical peroxil reage com o oxigênio atmosférico, no processo de oxidação, formando o radical hidroperóxido. Assim, quanto mais livre os ácidos graxos estiverem, devido ao processo de hidrólise, maiores as chances de ocorrer a oxidação. 3) Terminação: interação de dois radicais livres entre si ou com outras moléculas presentes no alimento para formar espécies não radicalares, que são estáveis (encerramento da propagação); > Produtos finais: Alguns dos produtos formados nesse processo de oxidação, como os hidroperóxidos, podem se decompor em moléculas mais nocivas, conferindo efeito prejudicial ao consumir o alimento. → Produtos da decomposição de hidroperóxidos (são radicais muito instáveis) – álcoois, aldeídos, cetonas, ésteres e outros hidrocarbonetos; produção de aroma e sabor rançoso. → Aldeídos de baixo peso molecular – responsáveis principalmente pelo odor de ranço; → Alteração na viscosidade – produtos de alto peso molecular formados por reações de dimerização e polimerização; → Alteração na cor – formação de polímeros insaturados; → Perda de vitaminas lipossolúveis e carotenoides, redução do valor nutricional dos alimentos (oxidação de ácidos graxos essenciais). > Fatores que afetam a oxidação lipídica: → Ácidos graxos: quanto mais ácidos graxos insaturados livres, mais suscetível à oxidação lipídica; → Área de superfície: quanto maior a área de superfície maior é a exposição ao O2; → Concentração de oxigênio – alimentos embalados à vácuo ou com nitrogênio não são suscetíveis à oxidação → Atividade de água: baixos teores de água aumentam a taxa de oxidação. Isso porque, a água presente no alimento o protege do contato com o oxigênio. → Catalisadores: íons metálicos, radiação UV, pigmentos como clorofila e mioglobina. > Resumo da oxidação: → Fatores determinantes: presença de oxigênio de dupla ligação → Presença de catalisadores: traços de metais (Ex: Cu e Fe) → Consequências: sabor e odor desagradáveis e formação de compostos prejudiciais à saúde. → Prevenção: exclusão do oxigênio (embalagem a vácuo, atmosfera modificada) e adição de antioxidantes (BHA e BHT). → Avaliação: análises químicas (índice de peróxido) > Problemas à saúde: - Hidroperóxidos: podem promover desde irritação na mucosa intestinal, diarréia, degeneração hepática, até a morte celular. Perda parcial de vitamina C, formação de lipídeos oxidados antagonistas de nutrientes essenciais (tiamina, riboflavina, lisina, aa sulfurados, vit. B12) e destruição parcial dos ácidos graxos insaturados. - Produtossecundários (malonaldeído, acroleína, etc.): se relacionam com o aparecimento de doenças como aterosclerose, anemia hemolítica, inflamações, mutagênese e possivelmente o câncer. Alterações de Lipídeos no Aquecimento > Fritura por imersão: - Contínua: processos industriais (snacks extrusados, massas fritas, pré-fritura e fritura de batata). Ranço hidrolítico e formação de ácidos graxos livres (características sensoriais e redução do ponto de fumaça) - Descontínua: Processos caseiros e mercado institucional (restaurantes, redes de fast food, pastelarias, etc). Reações de oxidação, hidrólise e polimerização (formação de compostos voláteis e acroleína). - Reações hidrolíticas: Catalisadas pela ação do calor e umidade nos triglicerídeos - Reações oxidativas: Ação do oxigênio atmosférico durante o processo. À medida que se aumenta o uso do óleo na fritura, as reações de oxidação se intensificam. > Quais características um óleo/gordura deve ter para ser considerado ideal para um processo de fritura por imersão? Para ser considerado ideal para um processo de fritura por imersão, o óleo/gordura deve ter um ponto de fumaça elevado, acima de 220°C, o que é proporcionado pelo aumento de insaturação na cadeia do ácido graxo; uma concentração de ácidos graxos livres entre 0,005 e 0,1; e odor e sabor neutros. > Quais as principais alterações em óleos e gorduras decorrente do processo de fritura por imersão? Em temperaturas mais elevadas e devido à oxidação lipídica, os óleos e gorduras de fritura apresentam um aumento na concentração de radicais livres que levam à formação de dímeros e polímeros que vão aumentar a viscosidade desse óleo. Além disso, o aumentam o escurecimento do óleo e aumentam da formação de espuma e ponto de fumaça observados durante a fritura.
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