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61 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO Unidade II 3 BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE As contribuições históricas da humanidade são imprescindíveis para o vínculo turístico-cultural, assim como para o próprio desenvolvimento do turismo. O turista vai em busca de conhecimentos, lembranças e percepções de si próprio combinados com a memória do lugar. Ao desvendar a história local, o turista tende a guardar e memorizar o passado por meio de informações que adquiriu com a sua visitação. Desde o século XIX, as viagens motivadas pelo conhecimento são organizadas por empresas, as agências de viagens e intercessores que trabalham com as atividades turísticas organizam as atrações naturais e culturais disponíveis para serem visitadas. Assim, os profissionais do turismo trabalham no sentido de recriar uma atmosfera ideal para o turista em busca da história e da cultura. Por outro lado, existe um custo para a comunidade visitada, que pode ser benéfico ou conflituoso, dependendo das alterações mercadológicas, assim como as mudanças no âmago da própria cultura. Nesse sentido, ocorre uma ligação entre as culturas face à intensidade do contato, tema que será discutido. Ao entrar em contato com as interações e relações sociais ocorridas ao longo dos séculos, importantes na construção histórica da humanidade, podemos compreender como e por que ocorrem as transformações sociais, políticas econômicas atualmente. A percepção dos tempos é fundamental para que possamos traçar uma linha cronológica que indique como se desenvolveu a produção histórico-cultural e como ela pode servir ao mercado turístico. Não se trata apenas de recorrermos à linearidade cronológica dos fatos passados, mas sim de nos ocuparmos com a compreensão e reflexão dos acontecimentos essenciais que modificaram a vida de boa parte da humanidade que experimenta semelhantes formas de viver. Ao nos reportarmos às noções históricas que nos levem a compreender a formação das sociedades primitivas, modernas e contemporâneas, podemos entender inclusive os antecedentes das viagens e do turismo. Uma das matérias-primas do turismo histórico está no lastro artístico e cultural dos povos visitados. Para isso, é necessário conhecer, identificar esse processo de produção cultural da humanidade, entrando em contato com a sua história em particular e estabelecer conexões adequadas. 62 Unidade II Saiba mais Encontre as informações necessárias sobre a história da humanidade em: ARRUDA, J. J. A. História antiga e medieval. São Paulo: Ática, 1990. ARRUDA, J. J. A. História moderna e contemporânea. São Paulo: Ática, 1986. 3.1 Principais períodos históricos A história começa quando os homens encontram os elementos de sua existência nas realizações de seus antepassados. Do ponto de vista europeu, divide-se em cinco grandes períodos: Pré-história, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Pré-história Período que vai do surgimento dos primeiros hominídios na Terra, há cerca de 3,5 milhões de anos, até o aparecimento da escrita, por volta de 4 mil a.C. Tem como marcos a evolução no emprego da pedra como arma e ferramenta, a criação da linguagem oral, o surgimento da arte, a utilização e o domínio da produção do fogo, a domesticação e criação dos animais, a prática da agricultura e a criação da metalurgia. Antiguidade Começa com a utilização da escrita e termina com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476. Principais marcos: o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, a adoção do escravismo, a construção de cidades-estados e de sistemas políticos monárquicos, o surgimento da democracia na pólis grega e das religiões monoteístas, o crescimento das artes e o aparecimento das ciências. Idade Média Abrange o período que vai do século V da Era Cristã até a queda de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, em 1453. Principais marcos: a expansão dos reinos bárbaros na Europa, a transformação do escravismo em feudalismo, o surgimento dos impérios feudais, a expansão do cristianismo e do islamismo, o renascimento do comércio e das cidades medievais e o apogeu da civilização maia na América. Idade Moderna Período entre a queda do Império Romano do Oriente e a Revolução Francesa, em 1789. Principais marcos: o fortalecimento dos Estados nacionais monárquicos, a expansão marítima e colonial, o fortalecimento e expansão do capitalismo – que se torna a forma de produção 63 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO predominante –, o renascimento cultural e científico, a fermentação revolucionária do Iluminismo e a independência norte-americana. Idade Contemporânea Cobre o período do final do século XVIII, a partir da Revolução Francesa até a atualidade. Principais marcos: o período napoleônico (1799 a 1815), a restauração monárquica e as revoluções liberais (1800 a 1848), a Revolução Industrial e expansão do capitalismo (de 1790 em diante), a disseminação das nacionalidades e das doutrinas sociais (a partir de 1789), o surgimento do imperialismo, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as revoluções socialistas, a expansão da democracia, o surgimento do fascismo e do nazismo (1917-1938), a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Guerra Fria (1948-1990) e a desagregação da União Soviética (1991). Para entenderemos essas realizações, devemos refletir, a princípio, sobre a evolução cultural da humanidade. Esse episódio inicia-se a partir do momento em que o ser humano busca retirar da natureza os elementos que possam atender as necessidades básicas (água e alimento). A sobrevivência depende, então, fundamentalmente, da capacidade do homem em obter da natureza a sua refeição e algo para matar a sua sede. Em tempos imemoriais, a procura por comida e água constituía uma ação muito perigosa. O homem primitivo percebe que deveria desenvolver artefatos para conseguir conquistar seu alimento e compreende que o contato e a comunicação com outros da sua espécie poderiam favorecê-lo no seu empreendimento. Dessa forma, grupos humanos começaram a agir conjuntamente para conseguir seus objetivos e aos poucos dominar a natureza. Ao analisar a conduta e os mecanismos das hordas humanas em obter alimento e água, podemos compreender como ocorre a sua evolução cultural, pois todo o processo no que diz respeito às leis, língua e comportamento deriva dessa ação inicial. 3.2 Pré-história Separamos a história da Pré-história, pois o estudo e as forma como obtemos conhecimento sobre esse período são diferentes. Na Pré-história, o homem não havia criado a escrita, por isso não temos registros escritos, apenas achados arqueológicos que podem nos fornecer pistas sobre o estilo de vida da época (fontes históricas). A Pré-história pode ser dividida em três períodos: o paleolítico, o neolítico e a idade dos metais. O primeiro período se inicia com o surgimento da espécie humana. O período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada se divide em paleolítico inferior (2 milhões a 40 mil a.C.), do grego paleos, que quer dizer antigo, mais lithos, que significa pedra, é o período mais longo da Pré-história; e paleolítico superior (40 mil a 10 mil a.C.). O homem vivia em cavernas e era nômade, ou seja, mudava constantemente de local sempre que o alimento onde vivia acabava. Caçava, pescava e coletava frutos com a ajuda de instrumentos pontiagudos feitos de pedra. O domínio humano sobre a pedra era pequeno, ele apenas a lascava e a utilizava para a caça. Por isso, o período é chamado de idade da pedra lascada. 64 Unidade II No Neolítico, o aquecimento do planeta permitiu a saída das cavernas. O homem passou a construir casas chamadas palafitas, feitas sobre estacas que as mantinham elevadas para se proteger de animais selvagens. Desenvolveu a domesticação de animais e a agricultura, que permitiu a sedentarização (fixação), pois agora ele poderia produzir seu próprio alimento no lugar onde morava. As ferramentas foram desenvolvidas, agora os apetrechos feitos de pedra recebiam polimento paraserem mais bem manuseados. Esse é o período da pedra polida. Com a Idade dos Metais, o homem aprendeu a moldar os metais aquecidos no fogo. Inicialmente, o cobre, por ser mais maleável, em seguida, a liga de cobre e estanho (bronze) e, finalmente, o ferro. Com o uso dos metais, as armas são aprimoradas, dando condições para a formação dos grandes impérios da Antiguidade. Nesse momento, surge a escrita, por volta de 4 mil a.C., o que determina o fim da Pré-história e o começo da história. Podemos chamar de civilização as sociedades baseadas no regime de servidão coletiva, de Estado absoluto, como as sociedades asiáticas (Egito e Mesopotâmia) e as sociedades escravistas (Grécia e Roma). Existem muitas definições de civilização, mas muitos estudiosos concordam que quando uma sociedade começa a formar cidades, essa sociedade se transforma em uma civilização. A maior parte das civilizações tem em comum o excesso de alimento – onde há excesso de alimentos, os povos começam a desenvolver outras necessidades. O surgimento da agricultura irrigada na Mesopotâmia, por exemplo, possibilitou o excesso na produção e no consumo de alimentos. Lembrete O que é preciso saber sobre a Pré-história? No período anterior da criação da escrita, as informações foram determinadas pelos achados arqueológicos. No paleolítico, os homens moravam em cavernas e eram nômades. No neolítico, passaram a morar em palafitas e a desenvolver a agricultura (revolução agrícola). Na idade dos metais, passa a moldar metais. Cronologia Os eventos a seguir ocorreram nas datas aproximadas: • Fogo: 500 mil anos. • Ciências míticas: 27 mil anos. • Pinturas: 28 mil-10 mil anos. 65 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO Figura 9 – Stonehenge, aldeia neolítica, Durrington Wall no Reino Unido 3.3 Antiguidade oriental (até 476 d.C.) As civilizações que se desenvolveram no Oriente e no Oriente Médio fazem parte da Antiguidade Oriental. A maior parte delas apresenta grande semelhança, mas cada civilização tem seu diferencial cultural. As civilizações orientais eram governadas por reis absolutos, muitos com poder justificado de forma divina, como é o caso dos faraós no Egito. A economia era movida pela agricultura praticada no modo de produção asiático, em que a população camponesa servia coletivamente ao Estado (servidão coletiva). A sociedade sempre se dividia nas seguintes camadas: os privilegiados (família do rei, ricos, letrados e sacerdotes), que ficavam no topo da sociedade; logo abaixo, vinham os camponeses e outras pessoas livres; em seguida, os escravos. Os pontos em comum entre as civilizações orientais são o governo absoluto, o modo de produção asiático, a servidão coletiva, a sociedade dividida entre privilegiados, camponeses e escravos. Egito A civilização egípcia se desenvolveu graças ao rio Nilo, suas inundações anuais possibilitaram a agricultura em suas margens, mesmo estando no meio do deserto. Os egípcios se destacaram na construção das pirâmides, determinada pelos faraós, e na mumificação dos corpos. Muitas múmias estão em perfeito estado de conservação até os dias de hoje. Destacou-se também na criação do papiro, um tipo de papel usado pelos egípcios, além da criação do sistema de escrita hieroglífico, traduzido por Champollion através da pedra roseta, que continha o mesmo texto escrito em grego e hieroglífico. 66 Unidade II Lembrete Em relação ao Egito, destaca-se a importância do rio Nilo, as pirâmides, a mumificação, o papiro, os hieróglifos, a arte. Mesopotâmia Vários povos e impérios se fixaram na Mesopotâmia, que se desenvolveu graças aos rios Tigre e Eufrates. É na Mesopotâmia que surgiu o Código de Hamurábi, o primeiro código de leis escritas do qual se tem notícia. Nele, se previa a pena do talião, baseado na máxima “olho por olho, dente por dente”, ou seja, quem matasse uma pessoa também deveria ser morto, quem cortasse o dedo de outra pessoa teria o mesmo dedo cortado. Foi lá também que surgiu o sistema de escrita cuneiforme, feito através de sinais talhados em tábuas de madeira. Com a união dos acervos escritos da região, surgiu a Biblioteca de Nínive, que serve de base para os estudos sobre essa região. Lá também foram construídos os famosos Jardins Suspensos da Babilônia. Os mesopotâmicos se destacam também por terem desenvolvido a astronomia e serem os primeiros a dividirem o círculo em 360 partes (graus) e o dia em 12 horas e 120 minutos. Lembrete Em relação à Mesopotâmia, detacam-se os rios Tigre e Eufrates, o Código de Hamurábi, a pena de talião, a escrita cuneiforme, a Biblioteca de Nínive, os Jardins Suspensos da Babilônia, a astronomia. Hebreus Os hebreus chegaram à Palestina guiados pelos patriarcas. Fugiram dali por causa da fome e se reinstalaram no Egito, onde foram escravizados. Saíram do Egito e reconquistaram a região da Palestina liderados por Moisés e Josué. Atingiram o maior desenvolvimento quando instalaram a monarquia, que como reino unido teve apenas três reis: Saul, Davi e Salomão. Dividiram-se em dois reinos. Acabaram enfraquecendo e foram conquistados pelos assírios que habitavam a Mesopotâmia, sendo feitos escravos novamente. Quando os persas conquistaram a Mesopotâmia, foram libertos, mas foram em seguida conquistados pelos romanos, que os dispersaram por todo o mundo até que o Estado de Israel fosse criado por medida das Nações Unidas. O povo hebreu tem toda sua trajetória registrada na Bíblia, principalmente no Antigo Testamento, que conta a história da formação do povo. O diferencial dos hebreus é a sua religião, a única monoteísta (um único Deus) daquela época, com a crença no Deus Jeovah, que levou à construção de um grandioso templo na cidade de Jerusalém. 67 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO Lembrete Sobre os hebreus, destaca-se a história contada na Bíblia, no Antigo Testamento, o monoteísmo, a crença no Deus Jeovah, a escravização no Egito e na Mesopotâmia e sua dispersão pelos romanos até a fundação do atual Estado de Israel. Fenícios Os fenícios nunca fundaram um império unido, sempre se dividiam em cidades independentes. Foram grandes navegadores e fundaram diversas colônias ao redor do mar Mediterrâneo, sendo a mais importante delas a colônia de Cartago, que vai se envolver em uma disputa com o Império Romano. A maior herança deixada pelos fenícios foi o seu alfabeto de 22 letras muito próximo do nosso atual, copiado por muitas civilizações e criado para uma comunicação eficiente entre suas diversas colônias. Eram ótimos astrônomos, traçaram desenhos com as estrelas do céu, criando os símbolos do zodíaco. Lembrete Em relação aos fenícios, destacam-se cidades independentes, a navegação, fundação de colônias, criação do alfabeto de 22 letras. Persas Os persas se fixaram na região leste da Mesopotâmia. Adotaram um eficiente sistema de comunicação e administração. O Império era divido em satrapias (algo como os estados), sendo cada satrapia governada por um sátrapa (rei) e fiscalizada por aqueles que eram denominados “olhos e ouvidos do rei”. As estradas foram calçadas com pedras, permitindo a implantação de um ágil sistema de correio. A economia se tornou eficiente com a cunhagem (produção) de moedas chamadas de dárico. Esse sistema de administração extremamente eficiente foi a maior herança deixada pelos persas, inclusive permanece até hoje, por exemplo, a divisão em estados. Dario I foi um importante rei persa, instituiu a divisão em satrapias e criou a moeda dárico. Ciro I, outro grande rei, libertou os hebreus quando foram escravizados na Mesopotâmia. A religião persa denominada Mazdeísmo também merece atenção. Era dualista, havia duas divindades, uma do bem e outra do mal, o objetivo era o bem vencer o mal. Essa religião foi pregada por Zoroastro. 68 Unidade II Lembrete É preciso saber que os persas eram eficientes em seu sistema de administração, as satrapias, os fiscais eram denominados como os “olhos e ouvidos do rei”, o sistemade correio era avançado, a moeda era o dárico, a religião era dualista, pregada por Zoroastro. Indianos e chineses Os indianos se fixaram nas margens dos rios Indo e Ganges. A sociedade indiana é extremamente imóvel, não é permitida a mobilidade social entre as classes sociais em decorrência da religião bramanista. Filhos de pais de classes diferentes são considerados párias e são excluídos da sociedade. Destacam-se por terem criado os algarismos e elaborado a matemática. Desenvolveram a religião hindu. Os chineses se fixaram nas margens dos rios Yang-Tsé e Hoang-Ho. Destacaram-se por terem feito a pólvora, a porcelana, a imprensa, os fogos de artifícios e a bússola. Plantavam amoreiras para o cultivo do bicho-da-seda, cujos casulos são usados para extrair os fios de seda. 3.4 Antiguidade clássica Grécia No chamado período pré-homérico, a região da Grécia era originalmente habitada pelos pelasgos, mas lentamente foi recebendo outros povos, os eólios e os jônios, que chegaram pacificamente e se agruparam aos habitantes originais. Mas quando os dórios, povo de espírito guerreiro e com técnicas mais avançadas de produção de armas de ferro, decidiram invadir a Grécia, destruíram diversas cidades provocando uma emigração de gregos para outras áreas costeiras do mar Mediterrâneo. Essa foi a primeira diáspora grega e marca o início do período homérico. Os grupos que preferiram fugir dos dórios indo para a região montanhosa da Grécia fundaram os genos. Esses genos eram sociedades de propriedade coletiva, ou seja, todos tinham direito a tudo. Dessa forma, os genos prosperaram, mas acabaram encontrando problemas, pois a população começou a crescer e era impossível dar trabalho e comida para todos. Muitos saíram dos genos, que acabaram se dividindo, provocando a segunda diáspora grega. Os genos restantes procuraram então se fortalecer unindo-se em frátrias. As frátrias se uniram em tribos e as várias tribos se uniram na pólis. Muito do que sabemos sobre esse período vem das obras Ilíada e Odisseia de autoria atribuída a Homero, a primeira narra a história da Guerra de Troia (Troia era chamada de Ilion); e a segunda, a vida de Odisseu. No período arcaico, formaram-se cerca de 110 pólis, mas apenas Atenas e Esparta são estudadas por serem as melhores representantes das características das demais poleis. 69 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO A pólis grega Esparta se localizou no Peloponeso e é de origem dórica. Como os dórios tinham uma grande tradição guerreira, os espartanos adotaram uma rígida sociedade que enfatizava muito o treinamento militar. Desde cedo, as crianças eram preparadas e treinadas para a guerra, e caso apresentassem deficiência que prejudicassem seu desempenho em campo de batalha, era responsabilidade da mãe matar o filho. Politicamente, era dominada pela aristocracia (espartanos), pela gerúsia (senado) e pelos éforos, que impediam o acesso do povo à política. A pólis grega Atenas se localizava na Ática e é de origem jônica. Ao contrário de Esparta, Atenas visava muito à educação cultural de seus habitantes. Atenas teve reis e ditadores. No período clássico, os persas invadem a Grécia, mas são vencidos pelos atenienses e espartanos. As poleis gregas se unem para combater os inimigos e formam a Confederação de Delos, porém Atenas e Esparta brigam pela hegemonia da Confederação e ocorre a Guerra do Peloponeso, provocando o enfraquecimento da Grécia diante dos invasores e abrindo caminho para que Felipe II dos macedônios a invadisse e acabasse com a independência grega. O filho de Felipe II, Alexandre, expandiu ainda mais o Império de seu pai chegando até às margens do rio Indo. Fundou diversas cidades, que chamou de Alexandria, inclusive a Alexandria do Egito. Alexandre morreu cedo acometido por uma febre e pouco restou de seu Império. Mas a cultura helenística, resultado da fusão da cultura grega com a oriental, sobreviveu e foi herdada mais tarde pelos romanos quando conquistaram a Grécia e a Macedônia. Lembrete Os gregos fundaram as cidades-estados, desenvolveram o teatro, a filosofia, eram excelentes atletas, fundaram a democracia etc. Roma Roma provavelmente se originou de um centro de defesa latino contra os ataques etruscos, mas conserva-se também a origem lendária, contada na obra Eneida, do poeta Virgílio. Conta a história que os irmãos Rômulo e Remo, os fundadores de Roma, teriam sido salvos e criados por uma loba, e, depois de crescidos, Rômulo teria se tornado o primeiro rei de Roma, após ter matado Remo. Roma foi governada por reis, a sociedade era dividida em três camadas: patrícios (aristocracia, possuidora de terras), plebeus (homens livres) e escravos (prisioneiros de guerra), o senado limitava o poder dos reis. O último rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo, foi derrubado pelo Senado com a ajuda dos patrícios. Roma passou a ser governada por cônsules. Os plebeus não tinham representação política. Durante a República, começa a política de conquistas dos romanos baseada na máxima mare est nostrum (o mar é nosso), que pretendia transformar o mar Mediterrâneo em um mar romano. Os romanos conquistaram toda a península itálica, Cartago, Grécia, Egito, Macedônia e Península Ibérica. 70 Unidade II As guerras provocaram um grande afluxo de riquezas para Roma, levando à acentuação das diferenças sociais. O aumento no número de escravos obtidos nas guerras para trabalhar nas grandes propriedades tornava a concorrência com o pequeno produtor injusta. Isso provocou a sua falência e o êxodo rural. A desordem cresce, surgem então elementos fortes na sociedade romana que passou a ser governada por três: o primeiro triunvirato – Júlio César, Pompeu e Crasso. Pompeu e Crasso foram mortos, sobrando apenas Júlio César, que tinha a oposição do senado. Criou-se o mês de julho, que recebeu o título de César (o nome dele era Caio Júlio). Foi morto a punhaladas em pleno senado, não chegando a ser imperador. Surge o segundo triunvirato – Marco Antônio, Otávio e Lépido. Marco Antônio e Lépido acabaram perdendo poder frente a Otávio, que recebeu o título de “augusto” (o divino), sendo aclamado como supremo imperador. Otávio Augusto assumiu como imperador de Roma, iniciando o período de apogeu do Império, chamado Século de Ouro. Cessaram-se as conquistas (pax romana), o que provocou a falta de escravos. Para distrair o povo enquanto os problemas aconteciam, adotou-se a política do “pão e circo”, com a justificativa de que se o povo estivesse se divertindo e bem alimentado, não reclamaria. Os imperadores distribuíam trigo ao povo e promoviam grandes espetáculos com gladiadores. Foi no seu reinado que nasceu Jesus Cristo em Belém de Judá. Após Otávio Augusto, assumem imperadores que não conseguem controlar a crise em Roma ou assumiam o poder simplesmente loucos. Sob o governo de Tibério, Jesus é crucificado. Nero ateia fogo em Roma e Calígula nomeia seu cavalo como oficial do exército, embora tenha havido imperadores que conseguiram manter bons reinados, como é o caso de Trajano, Adriano e Marco Aurélio. A situação se tornou incontrolável. A inflação, o déficit, a falta de mão de obra e o cristianismo em crescimento abalam as estruturas do Império. O imperador Teodósio acaba dividindo-a em duas partes, a ocidental, que teria capital em Roma e a Oriental, cuja capital era Bizâncio, que mais tarde passa a se chamar Constantinopla. O cristianismo é oficializado e as perseguições aos seguidores de Jesus acabam. Por fim, o Império não resistiu aos invasores bárbaros e caiu em 476. Lembrete Os romanos criaram a realeza e impérios, eram eficientes nas conquistas militares, o exército romano era de excelente qualidade, também desenvolveram as artes, a arquitetura, a pintura e o mosaico. 71 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO 3.5 Era Medieval A Alta Idade Média durou aproximadamente 500 anos. Os principais eventos estão enumerados a seguir. Império Bizantino Localizado na Turquia, sede de Constantinopla,a capital atual é Istambul. O principal governante foi Justiniano, governo era teocrático, absolutista e cristão, a religião era católica, iconoclasta e monofisista. Um fato importante é o Cisma do Oriente, conflito com a Igreja de Roma em 1054 que originou a Igreja Ortodoxa. Ocorre a formação da arte bizantina. Muçulmanismo A Arábia era dividida em crenças politeístas e tribos, assim como as pessoas que moravam nas cidades e os povos que viviam no deserto, os beduínos. A divisão religiosa abrangia os xiitas e sunitas. Maomé, beduíno do deserto, recebeu uma mensagem do anjo Gabriel dizendo que havia um único deus denominado de Alah, e Maomé seria o único profeta dessa crença por ter recebido esse dom. Ele pregou os princípios recebidos do Islam (submissão ou rendição a Alah) durante 40 anos. Entretanto, os opositores de Maomé, os mercadores de Meca, perseguiram o profeta. A hégira (622 d.C.) marcou a fuga de Maomé de Meca para Medina ou Yatreb. Maomé retornou a Meca, destruiu os ídolos da Kaaba (pedra negra, provável meteorito que era guardado pelos xiitas) e pregou a união das tribos através do monoteísmo islâmico. Com o tempo, os preceitos foram aceitos, mas continuaram as diferenças entre xiitas e sunitas. Os princípios do islamismo são fatalismo, crença na imortalidade e no juízo final, predestinação, aceitação da poligamia e da escravidão. O livro sagrado é o Corão. A divisão do Império ocorre entre Bagdá (na Mesopotâmia, Iraque), califado do Cairo, no Egito e califado de Córdova, na Espanha. O califado de Córdova durou 800 anos e influenciou a cultura espanhola e portuguesa. Povos bárbaros Chamados assim pelos romanos, invadiram a Europa por volta do século III. Há aqueles provenientes da Ásia (hunos, tártaros, mongóis) e os indo-europeus como os germanos, os francos, os celtas, os saxões, os vândalos, os suevos, os lombardos, os visigodos etc. A cultura bárbara era composta por aldeões que se dedicavam ao pastoreio, à agricultura e tinham uma família monogâmica. As consequências das invasões foi a destruição das instituições romanas, fragmentação do Império Romano, fundação de reinos cristãos com a conversão dos bárbaros, o surgimento do feudalismo e das línguas latinas e interesse pela liberdade. Francos Os francos formaram a Gália, a França. Os reis são Odoacro, Clóvis, Dagoberto, Carlos Martel, Pepino, o breve (reis indolentes). A dinastia Merovíngia e a Carolíngia (Carlos Magno) foram importantes na formação do absolutismo europeu. 72 Unidade II Feudalismo Teve como origem a clientela, o colonato e o precarium (dos romanos), o beneficium, as imunidades, o comitatus (dos bárbaros). As características são êxodo urbano, agricultura, baixa produção, sem grandes inovações técnicas e servidão. Os servos, homens livres, estavam presos à terra e ao seu senhor e deveriam lhe pagar tributos pelo seu uso, as chamadas talha, corveia, mão-morta, capitação e banalidades etc. Os senhores eram donos da terra, provavelmente ex-patrícios romanos, cuidavam dos cavaleiros para protegerem o feudo dos bárbaros. As relações entre senhores feudais eram chamadas de suserania e vassalagem, um ajuda o outro. Baixa Idade Média As invasões bárbaras chegam ao fim, há aumento da produção e fortalecimento da Igreja Católica. As pessoas começam a voltar para as cidades e fazer um pequeno comércio artesanal para atender a pequena demanda. Assim, o comércio se desenvolve, surgem as corporações de ofício, as feiras medievais. Aparece a figura do mercador/burguês, ou seja, aquele que morava nas cidades em volta dos burgos (propriedade senhorial) e que havia sido emancipado da tutela feudal. As cidades eram amuralhadas. A Igreja desempenha um papel hegemônico. As características são hierarquia, clero regular e secular, ordens mendicantes (beneditinos, dominicanos, franciscanos), ocorrem excomunhões, a Igreja Católica é a fundadora das universidades medievais. Com as cruzadas, há o fortalecimento do poder real. Exemplo de aplicação Figura 10 – Catedral-Notre-Dame de Paris na França A Catedral-Notre-Dame de Paris, um importante símbolo turístico da cidade, sofreu um grande incêndio em 14 de abril de 2019. A torre mais alta da catedral, chamada de flecha, desmoronou. 73 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO A catedral foi construída entre 1163 e 1345, em uma ilhota chamada Île de la Cité a mando do rei Luís VII para representar a importância de seu governo: as torres frontais, de 69 metros de altura cada uma, demonstravam a soberba do monarca. Ela era o ícone da Igreja Católica. A catedral ainda conta com elementos decorativos como a rosácea (para trazer maior iluminação para o seu interior), vitrais e as gárgulas ou quimeras, figuras decorativas míticas e híbridas que serviam para escoar a água da chuva, mas que amedrontavam os fiéis que não seguissem os ensinamentos bíblicos, servem também para afastar o ambiente dos maus espíritos. Todos esses ingredientes supersticiosos e míticos foram capazes de guardar a catedral das adversidades do mundo moderno? Reflita sobre a questão das crenças. 3.6 Era Moderna Reforma Protestante O monge alemão Martinho Lutero se opôs às ideias da Igreja Romana e fundou a Igreja Protestante, formando os primeiros presbiterianos, batistas, metodistas e luteranos. Lutero é excomungado, foge e fica escondido no castelo de um nobre alemão que lhe dá apoio, pois os nobres estavam descontentes com o poder político e interferência da igreja. Com o desenvolvimento do Humanismo na Alemanha e o surgimento da impressão de Guttemberg, o povo alemão foi alfabetizado com a Bíblia traduzida para o alemão. A Igreja Protestante na Inglaterra foi chamada de Anglicana (fundada por Henrique VIII) e a Igreja Protestante na Suíça, fundada por Calvino, foi chamada de Calvinista. A Contrarreforma foi a reação da Igreja Católica contra os protestantes, fez surgir o barroco como estratégia católica e os jesuítas, que vieram para a América catequizar os indígenas. Absolutismo As características do Absolutismo são poder absoluto do rei, fortalecimento das monarquias nacionais, aliança rei-burguesia, adequação do poder político às transformações gerais da sociedade, maior poder ao rei e não ao papa, como era antes, justiça real, criação de companhias de comércio e máquina burocrática, exército real e nacional. O burguês desenvolvia o comércio, pagava impostos ao rei e, em contrapartida, o rei desenvolvia recursos para as navegações. Início das grandes navegações marítimas europeias em busca de produtos, principalmente especiarias do Oriente, que estavam nas mãos dos árabes muçulmanos e que controlavam as rotas de produtos orientais para serem vendidos na Europa. Descoberta da América por Cristóvão Colombo. Início da colonização europeia na América comandada pelo rei. Escravidão, monopólio comercial do país descobridor, Pacto Colonial (a colônia só poderia comercializar com a sua metrópole). Pioneiros nas grandes navegações: Portugal (Brasil), Espanha (toda a América restante, com exceção dos EUA e Canadá), Inglaterra (treze colônias americanas formada por colonos ingleses na América que depois se tornaram independentes na Guerra de Independência americana de 1776) e a França (parte sul dos EUA e partes do Canadá). Os grandes reis absolutistas são dom Manuel, o venturoso; os reis católicos 74 Unidade II espanhóis, Fernando e Isabel, importantes na expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica (Guerra de Reconquista); Elisabeth I (filha de Henrique VIII com Ana Bolena, que foi decapitada pelo marido) e principalmente os reis Bourbons, Luís XIV, XV e XVI, este último decapitado na Revolução Francesa. Renascimento Surgimento do humanismo, naturalismo, desenvolvimento da ciência e da literatura. Os principais personagens do período são Erasmo de Rotterdam, Thomas Morus, Francis Bacon e Shakespeare (sustentado por Elizabeth I, criadora do teatro elisabetano), Miguel de Cervantes e Maquiavel, escritor de O príncipe, quedefendia a ideia de que as pessoas deveriam conceber o rei como um ser divino. As características presentes são o desenvolvimento da arte renascentista, que fugia dos padrões medievais (Leonardo da Vinci e Michelangelo), surgimento das ciências modernas com Galileu Galilei (que escapou da fogueira da Inquisição, ao contrário de seu professor, Giordano Bruno, que foi queimado), Nicolau Copérnico e Johannes Kepler. Iluminismo Corrente de pensamento de um grupo de burgueses franceses que criticava o rei pelo seu poder absoluto e pelo mercantilismo, que limitava o poder da burguesia nas decisões comerciais. Tinha como características a ideologia capitalista e a burguesia em ascensão, o surgimento dos enciclopedistas (Diderot e D’Alembert) etc. Alguns reis para governarem pediam sugestões dos iluministas. Eram chamados de déspotas esclarecidos: Catarina da Rússia, Marquês de Pombal etc. Liberalismo econômico O pensamento era antiabsolutista. Os indivíduos deveriam cuidar de seus interesses individuais, e o Estado não deveria interferir. Os teóricos liberais são Adam Smith, David Ricardo e Quesnay. Na Inglaterra, surgem as primeiras fábricas têxteis no século XVII e os movimentos operários como Ludismo, Cartismo e Trade Unions (sindicato) devido à exploração da mão de obra inglesa. Revolução Francesa Movimento burguês na França contra os reis Bourbons, que atrasavam a economia francesa, pois eram reis perdulários (os ingleses já tinham iniciado a Revolução Industrial). A Revolução durou dez anos e foi dividida em fases: • Primeira fase – assembleia (1789-1792): queda da Bastilha, abolição dos direitos feudais, Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, constituição republicana, constituição civil do clero, o rei é preso, mas foge. • Segunda fase – convenção (1792-1795): abolição da monarquia, girondinos (alta burguesia) no poder, ameaça externa, execução do rei Luís XVI e de sua família. Jacobinos (radicais) tomam o poder e impõem uma ditadura jacobina que provocou o “terror”. Os líderes são Robespierre, Danton, Marat, Saint-Just; todos executados. 75 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO • Terceira fase – diretório (1795-1799): girondinos voltam ao poder. Napoleão Bonaparte, jovem general que lutou contra os inimigos da França, dá um golpe e se estabelece como governante. Essa fase foi chamada de 18 de Brumário. Era Napoleônica (1799-1815) A era napoleônica se divide nas seguintes partes: • Consulado: Napoleão Bonaparte se torna o primeiro cônsul francês. São características do Consulado a intensificação das finanças francesas, a criação do Banco da França e do código napoleônico. • Império: Napoleão se torna imperador e anula todas as liberdades individuais. Instaura o Bloqueio Continental na tentativa de impedir que a Inglaterra se desenvolvesse comercialmente. Ele instaura um bloqueio comercial contra a Inglaterra. Napoleão impõe vários protetorados na Europa, vitória francesa na guerra Franco-prussiana. Portugal e Rússia fogem do Bloqueio Continental. Napoleão manda invadir Portugal e o rei dom João VI foge para o Brasil (fator que influenciará a independência do Brasil). Napoleão invade a Rússia, que desenvolve a estratégia de “terra arrasada”, matando as tropas napoleônicas lentamente. Napoleão é preso e mandado para a ilha de Elba. • Restauração: Napoleão foge e prepara uma guerra contra a Inglaterra. Perde na Batalha de Trafalgar e das Nações em Leipzig. Napoleão é mandado para ilha de Santa Helena onde morre. Começa o Congresso de Viena e a Santa Aliança. Saiba mais Um filme merece destaque sobre o período pré-revolução: MARIA Antonieta. Direção: Sofia Coppola. EUA: Columbia Pictures, 2006. 123 min. Essa película retrata os abusos da corte francesa na figura da rainha Maria Antonieta, esposa de Luís XVI, que resultaram em uma reação revolucionária da burguesia e do povo. A diretora, para realizar o filme, contou com o apoio da historiadora francesa Évelyne Lever, que já havia realizado a biografia sobre essa rainha. Bibliografia complementar: SOBOUL, A. História da Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. 76 Unidade II 3.7 Era Contemporânea No século XIX, desenvolvem-se diversos acontecimentos históricos. É o período do liberalismo, imperialismo e socialismo. A geografia da Europa muda, a aristocracia enfraquece, o capitalismo liberal triunfa na Inglaterra, que expande a Revolução Industrial para outros países (Segunda Revolução Industrial). A Revolução Industrial prova dos conflitos de classes, começa a marcha do socialismo de Marx e Engels. Ocorre a Comuna de Paris, um foco socialista na França comandado pelo primo de Napoleão, Luís Bonaparte, que toma Paris durante dois meses (influenciado pelos socialistas Louis Blanc, Proudhon e Blanqui), mas fracassa. Em 1864, a I Internacional Socialista em Londres é fundada. Surge o anarquismo. Desenvolvimento do imperialismo americano após a sua maior guerra ocorrida entre as colônias do Sul (escravista) e as do Norte (abolicionista e capitalista), a chamada Guerra de Secessão Americana ou Guerra Civil, com a vitória das colônias do Norte em 1865. Também se dá a independência das colônias latino-americanas. Eclode o Neocolonialismo ou Imperialismo, que é a partilha da África e Ásia pelos europeus a fim de conseguirem mão de obra barata, matérias-primas e mercado consumidor para suas fábricas. Inglaterra e França têm os maiores territórios. No Japão, a indústria se desenvolve. Os acontecimentos do século XIX irão desembocar nos eventos históricos do século XX enumerados a seguir. Primeira Guerra Mundial (1914-1917): Teve origem na política expansionista e imperialista, no sistema de alianças, nos atritos coloniais, na crise balcânica. Foi um conflito europeu que acabou envolvendo outros países, por exemplo, Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Austrália, países de língua inglesa que auxiliaram a Inglaterra. O estopim foi a morte do arquiduque da Áustria-Hungria, Francisco Ferdinando, por um sérvio. Formaram-se alianças de interesses como a Tríplice Aliança, composta por Império Austro-Húngaro, Alemanha e Itália e a Tríplice Entente, com a Inglaterra, Rússia e França. Teve como características ser uma guerra de trincheiras, com submarinos, aviões de guerra. Ocorre o avanço alemão e a rendição das forças ententes. A Rússia saiu da guerra em 1917. O presidente Wilson dos EUA lança os 14 pontos de Wilson, um tratado de rendição. Não é aceito. Em 1919 o Tratado de Versalhes impõe condições penosas e humilhantes à Alemanha, tendo como consequência a queda dos impérios, 42 milhões de soldados mortos e crises sociais em praticamente toda a Europa. Revolução Russa A Rússia estava atrasada em relação à industrialização e mantinha a monarquia (Dinastia Romanov). Oitenta e sete por cento da população era pobre e morava no campo. Em 1901, foi criado o Partido Socialista Revolucionário. Um evento histórico foi o Domingo Sangrento em São Petersburgo, o czar 77 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO manda a guarda imperial executar os manifestantes contrários ao regime imperial. Lênin funda o Partido Bolchevique. Em 1917, cai o czar e a família real é executada. Cria-se o Conselho dos Comissários do Povo comandado por Lênin. É formado o Exército Vermelho. A Nova Política Econômica (NEP) é implantada. Em 1924, Lênin morre e Stalin assume o poder. Período entre guerras e o novo capitalismo O desenvolvimento capitalista vertiginoso dos EUA provoca a primeira grande crise do capitalismo: a Crise da Bolsa de New York, em 1929. Após socorrer a Europa, que estava arrasada pela Primeira Guerra, os americanos não tinham para quem vender seus produtos que ficaram estocados, provocando a Grande Depressão. O presidente Roosevelt lançou o New Deal, plano para aquecer a economia americana, que foi recuperada em 10 anos. Os cafeicultores brasileiros também quebram, pois não tinham para quem vender o seu produto, assim a cafeicultura sofre uma queda.Getúlio Vargas ascende ao poder no Brasil. Na Alemanha e Itália, há a ascensão do nazifascismo que tem como características o militarismo, anticomunismo, racismo, patriotismo, nacionalismo etc. Hitler é escolhido chanceler na Alemanha e prepara a revanche contra Inglaterra e França (Segunda Guerra Mundial) e Mussolini é eleito ao poder em 1924. Matteotti é assassinado pelos fascistas e Gramsci é preso. Na Espanha, eclode a Guerra Civil (1939-1975) e a consequente ditadura de Franco, que apoiava os fascistas. Segunda Guerra Mundial Em 1937, ocorre a formação do eixo Berlim-Roma, invasão da Tchecoslováquia e anexação da Áustria à Alemanha (Anschluss). Em 1939, Hitler invade a Polônia. Em 1940, a Dinamarca e a França se partem em duas: a França ocupada, da resistência (De Gaulle), e a França livre que colabora com os nazistas (general Pétain). A Inglaterra é bombardeada pela Luftwaffe (força área alemã). Italianos invadem o Egito, contraofensiva inglesa e formação dos Afrika Korps pelos alemães. Em 1941, Roosevelt e Churchill assinam a Carta do Atlântico. Ocorre o ataque japonês a Pearl Harbor e a entrada dos EUA na Guerra. Apesar do tratado de não agressão, Hitler invade a URSS. Em 1943, os russos vencem a Batalha de Stalingrado, também ocorre a contraofensiva inglesa e norte-americana na África. Em 1944, aliados recuperam Roma. No dia D (6 junho de 1944), tropas aliadas desembarcam na Normandia e na Provença. Em 1945, os russos entram e destroem Berlim, os aliados ocupam em Berlim semanas depois. Hitler se suicida, Mussolini é preso e executado pelos partigiani, grupo antifascista. Com a insistência japonesa no Pacífico, os americanos jogam duas bombas atômicas: uma em Hiroshima e outra em Nagasaki. No Brasil, a ditadura de Getúlio Vargas cai. A Alemanha é dividida em duas influências: URSS e EUA. A República Democrática Alemã (RDA), capital Berlim, ficou sob o domínio soviético; e a República Federal da Alemanha (RFA), capital Bonn, ficou sob influência dos americanos. Berlim foi dividida entre as quatro forças que venceram a Segunda Guerra (URSS, EUA, França e Inglaterra), porém, em 1961, foi construído o Muro de 78 Unidade II Berlim, dividindo a cidade sob influência capitalista (EUA) e socialista (URSS). Evidentemente, cada lado ficaria sob o jugo desses dois países. Os países alinhados aos soviéticos se transformaram em países socialistas, como é o caso da Polônia, por exemplo, outros compunham a Cortina de Ferro socialista: Tchecoslováquia, Romênia, Hungria e Bulgária, além da própria União Soviética. Já os países aliados, como Inglaterra, França, Espanha, Holanda, Áustria, Bélgica, Dinamarca e Grécia, e os países latino-americanos, com exceção de Cuba, ficaram alinhados aos EUA. Após a Segunda Guerra, Os EUA e a URSS passaram a disputar a hegemonia política, militar e econômica do mundo, pois isso seria conveniente para a conquista de novos mercados. Os soviéticos com sua economia planificada necessitavam de mercados fornecedores de matérias-primas para suas indústrias, assim como os americanos, que estavam em plena expansão capitalista. Esse período chamado de Guerra Fria foi de grande disputa ideológica que também representava uma concorrência por mercados. Ela não foi uma guerra declarada, foi uma guerra ideológica e de influência. A ONU, nascida em 1945, que substituiu a Liga das Nações, finalizada em 1942, teve inúmeros problemas em preservar a paz mundial sob esse quadro mundial polarizado. A Guerra Fria já estava sendo desenhada bem antes do término da guerra. Quando o presidente americano Harry Truman ordenou o ataque de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki em 1945 já procurava demonstrar seu poderio militar sobre os soviéticos. Cronologia de eventos da Guerra Fria • 1945: Organização da ONU. • 1947: Plano Marshal, independência da Índia. • 1948: Brasil rompe relações com URSS – início da Guerra Fria. • 1949: Revolução Chinesa. • 1950-1953: Guerra da Coreia. • 1957: corrida espacial entre EUA e URSS. • 1959: Revolução Cubana. • 1961-1975: Guerra do Vietnã. • 1989: cai o Muro de Berlim e as duas Alemanhas são reunificadas. • 1990: Gorbachev acelera o fim do socialismo na URSS. 79 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO Observação No final da Segunda Guerra Mundial, o Brasil se alinhou aos Estados Unidos e rompeu com a União Soviética. Considerado país de Terceiro Mundo, o Brasil aproveitou para fortalecer seu relacionamento econômico com os EUA. Em troca, a influência americana no Brasil, como também na América, foi ostensiva, como medida para barrar a influência soviética. Para isso, os norte-americanos favoreceram e financiaram as ditaduras na América, assim como no Brasil. O governo brasileiro aceitou, em troca da entrada de capital estrangeiro para financiar as empresas, exportar nossos produtos e incrementar a economia brasileira. Figura 11 – Muro de Berlim 3.8 Produção cultural e artística da humanidade Conhecidos os eventos que transformaram a humanidade, vamos identificar alguns dos principais atrativos turísticos culturais relacionados a cada período histórico que representam a importância da história do lugar. • Oferta turística relacionada à Pré-história: pinturas rupestres nas grutas de Altamira (Espanha), em Niaux, Font-de-Gaume e Lascaux (frança), Tassili n´Ajjer (Saara), Vênus de Savinhano e Vênus de Willendorf (Áustria), Dolmens em Stonehenge. 80 Unidade II • Oferta turística relacionada ao Egito: Templo da rainha Hatshepsut em Deir el-Bahari, Sarcófago de Tutancâmon (Museu do Cairo), Templo de Abu-Simbel na Baixa Núbia, Pirâmide de Djoser (de degraus) em Sacará, Pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, o Escriba Sentado (estatueta no Museu do Louvre), Templo de Amon em Luxor. • Oferta turística relacionada aos gregos: cidades gregas e do mundo grego, como Atenas e Creta. As esculturas importantes são Discóbolo, Zeus de Artemísio, Kouros. Na arquitetura, temos Paternon de Atenas, Vaso de Clítias e Ânfora de Exéquias. • Oferta turística relacionada aos romanos: Teatro de Epidauro, Teatro de Marcelus, templos, basílicas em Roma, Termas de Caracala, Circo Máximo. Anfiteatros como o Coliseu de Roma, Arco de Tito, Fórum Romano, Coluna Triunfal de Trajano. E pinturas como mosaicos e afrescos em Pompeia e Herculano. • Oferta turística relacionada à arte bizantina: mosaico do imperador Justiniano, em Ravena, na Itália, arte bizantina em Ravena, Basílica de Santa Sofia em Istambul. • Oferta turística relacionada à Idade Média: igrejas românicas como a Basílica de Saint-Sernin (Toulouse), Catedral de Pisa, afrescos como Cristo em Majestade (Catalunha), Abadia de Saint-Denis, Catedral de Chartres, Notre-Dame de Paris, Catedral de Sainte-Chapelle. Manuscritos-iluminuras como a ilustração da Bíblia de Toledo, pintura-Giotto, Jan van Eyck. • Oferta turística relacionada à Renascença: catedrais, pintura e escultura, principalmente nas cidades italianas. • Oferta turística relacionada aos povos pré-colombianos: — Olmecas – 1100 a.C. a 200 d.C. (México): esculturas rústicas feitas inclusive com jade. — Maias – 1 mil a.C. a 250 d.C. (Península de Iucatã): arquitetura trapezoidal encontrada no sul do México, Guatemala e Honduras, palácios e pirâmides, esculturas sob a forma de monólitos isolados e cerâmicas. — Astecas (México): fundadores da cidade de Tenochtitlán, templos piramidais. — Mochica – 200 e 800 (Peru): ourivesaria e cerâmica. — Tiahuanaco – 1 mil (Bolívia): arquitetura maciça. — Chimu – 1300 e 1438 (Bolívia): cerâmica, ourivesaria, vasos zoomórficos e antropomórficos, ídolos e máscaras cerimoniais. — Inca – 1400 e 1532 (Peru): arquitetura trapezoidal encontrada em Cuzco e Machu Picchu. 81 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO • Oferta turística relacionada à arte barroca: pintores Caravaggio (italiano), Velázquez (espanhol), Rembrandt (holandês), Palácio Nacional de Mafra (Portugal), Igreja de Santiago de Compostela (Espanha). Cidade mineiras no Brasilcomo Ouro Preto, Mariana, Diamantina, entre outras. Nossa Senhora de Guadalupe (México). • Oferta turística relacionada ao Rococó: Petit Trianon e Palácio de Versalhes em Versalhes na França. • Oferta turística relacionada ao Neoclassicismo: Jacques Louis David (Bonaparte atravessando os Alpes) e Jean-Auguste Ingres (Banhista de Valpiçon). Vários edifícios na Europa e Brasil, principalmente no Rio de Janeiro. • Oferta turística relacionada à arte romântica: aproxima-se do barroco. Francisco Goya (temas históricos – Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808), Eugène Delacroix (documentava hábitos – Liberdade guiando o povo), Joseph Turner (pintura paisagística – Grande canal de Veneza), John Constable (natureza, paisagens do lugar onde nasceu – Carroça de Feno). • Oferta turística relacionada à arte hindu: o templo Jaini de Jaya Sthamba, em Ranakpur, Palácio de Akshardham, Palácio de Taj Mahal. Saiba mais Leia o livro para refletir sobre a construção da paisagem turística: SILVA, M. G. L. Cidades turísticas: identidades e cenários de lazer. São Paulo: Aleph, 2004. (Série Turismo). 4 HISTÓRIA DO TURISMO As discussões acerca da temática do turismo suscitam algumas definições que tendem a mesclar-se com outros conceitos como os de deslocamento e viagem. É fato que os deslocamentos são bastante antigos e iniciaram-se com o surgimento das hordas humanas que estavam em busca de locais que fornecessem água e alimentos, além de matérias-primas para a confecção de artefatos que pudessem auxiliar na sua sobrevivência. Com o tempo, as trocas comerciais, as circulações de objetos e as guerras contribuíram para que os deslocamentos humanos se tornassem mais frequentes. As viagens também se desenvolveram com bastante intensidade, seja por motivos culturais, sociais, econômicos ou políticos. Com a ocupação dos espaços e o surgimento das cidades, as trocas culturais ocorreram de forma acentuada, uma vez que muitas das cidades da Antiguidade negociavam seus excedentes econômicos. 82 Unidade II Além disso, as cidades paulatinamente se tornaram centros irradiadores de cultura, proporcionando encontros entre os habitantes locais e de outros lugares, como é o caso da Biblioteca de Alexandria, no norte do Egito, considerada como um dos maiores centros de conhecimento da Antiguidade e bastante visitada por diferentes povos que habitavam o entorno. As viagens educativas eram muito comuns nessa época. As mudanças ocorridas no mundo antigo, que envolviam mobilidade, eram marcadas por disputas locais, falta de incentivo econômico, escravidão, ausência de terras férteis e condições de existência, por perseguições religiosas, curiosidade intelectual, entre outros. Grandes deslocamentos ou êxodos ocorreram na região do Oriente Médio. Os hebreus, povos de origem semita, retiraram-se da Palestina em busca de melhores condições de vida e se estabeleceram no Egito. Lá, prosperaram, mas devido à ganância dos faraós, foram escravizados e perseguidos. Por volta de 1250 a. C., de acordo com o relato bíblico, os hebreus, conduzidos por Moisés, saíram do Egito, vagaram 70 anos pelo deserto e retornaram à Palestina. Apesar de perigosas, as viagens ocorriam timidamente na Idade Média, pois era necessário o contato entre suseranos e vassalos durante o período. Com o tempo, ao finalizar a invasão dos povos bárbaros, as viagens foram estimuladas pelas trocas comerciais entre a Europa e o Oriente. Com a formação das monarquias nacionais, o fortalecimento e enriquecimento da burguesia, o mercantilismo, a expansão marítima, o renascimento científico e cultural, os descobrimentos de novos territórios, ocorreram transformações profundas na Europa a partir do século XVII, o que mudou o panorama das viagens e dos deslocamentos devido à circulação de objetos e seres humanos. Nos séculos XV, XVI e XVII, o mundo assistiu ao desenvolvimento das grandes navegações ocorridas a partir do continente europeu com a finalidade de descobrir novos territórios que fornecessem matérias-primas e possibilitassem trocas comerciais para abastecer as cidades europeias e, como efeito, da política mercantilista. Com isso, ocorreram grandes deslocamentos como resultado das descobertas no Novo Mundo. Mas foi com a Revolução Industrial que aconteceram grandes impactos nas estruturas econômicas e sociais da época, esse evento teve grande repercussão em todo o mundo, pois modificou o sistema produtivo da época. A substituição da energia humana pelo maquinário teve grande significado e ressonância na vida humana. As mudanças ocorridas com a Revolução Industrial na Inglaterra rapidamente se propagaram pelo mundo, pois o empreendimento capitalista minava a ordem social dos outros povos que, em sua maioria, se tornaram dependentes das empresas capitalistas europeias. Com base nessa perspectiva, podemos compreender as configurações que abrangem o fenômeno turístico como conhecemos hoje. 83 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO Segundo Paulo de Assunção (2012, p. 13): O turismo é uma atividade baseada em três elementos operativos: o tempo livre, o rendimento e as condições e sanções locais que permitem a atividade turística. O turismo pode ser entendido como um conjunto de técnicas baseadas em princípios científicos, as quais têm o objetivo prestar diferentes tipos de serviços às pessoas que utilizam seu tempo livre para viajar. Isso evidencia, segundo o autor, que para ocorrer o turismo, é necessário que haja condições estruturais que promovam a incrementação da viagem. Por isso, ao discorrer sobre a viagem turística na contemporaneidade, é necessário um aprofundamento sobre as questões que envolvam o espaço visitado, a modalidade da viagem, os meios de locomoção, a infraestrutura, entre outros aspectos que atualmente assumem outra conotação. Como consequência do desenvolvimento capitalista na Europa, a viagem adquire uma nova formatação, uma operação complexa muito diferente dos deslocamentos e viagens da Antiguidade, da Era Medieval e do mundo moderno. Além disso, é necessário distinguir a mobilidade que ocorre hoje como resultado de movimentos migratórios mundiais: populações em busca de melhores condições de vida nos países mais ricos ou fugas causadas por guerras ou epidemias. Esses deslocamentos não estão relacionados com o fenômeno turístico. Desde o crescimento industrial, as relações sociais se transformaram, pois a sociedade passou a depender da forma pela qual os indivíduos organizavam a produção social dos bens de produção. Para uma maior compreensão do processo industrial, devemos perceber que esse fenômeno não foi apenas uma revolução tecnológica que correspondeu à passagem da energia humana para a energia motriz, mas uma autêntica revolução em todos os sentidos da vida social, cultural e de mentalidades. A economia industrial protagonizou mudanças nos homens, nas mercadorias e nos serviços, que desencadearam outras mudanças que iriam culminar nas transformações do século XIX, como salientou Maurice Dobb (1981, p. 258): [...] o ritmo da modificação econômica, no que diz respeito à estrutura da indústria e das relações sociais, ao volume de produção e à extensão e variedade de comércio, mostrou-se inteiramente anormal, a julgar pelos padrões do séculos anteriores: tão anormal a ponto de transformar radicalmente as ideias do homem sobre a sociedade de uma concepção mais ou menos estática de um mundo onde, de uma geração para outra, os homens estavam fadados a permanecer na posição que lhes fora conferida ao nascer, e onde o rompimento com a tradição era contrário à natureza, para uma concepção de progresso como a lei da vida e do aperfeiçoamento constante como estado normal de qualquer sociedade sadia [...]. 84 Unidade II Confirmando essa ideia, o processo de produção se modificou do artesanato para o sistema manufaturado e maquinofaturado: o trabalhador era agente da produção, mas não controlava a confecção do produto até seu final, responsabilizando-seapenas por uma parte do produto realizado, posteriormente, ele foi submetido à realização de apenas uma etapa da produção por meio de um trabalho mecânico. O trabalhador fazia seu trabalho por intermédio da máquina com uma grande rapidez, controlava a velocidade, alimentava-a e zelava pela sua manutenção. Ele recebia um salário muito baixo para realizar essa tarefa. Nesse período, a classe operária vivia em péssimas condições, era destituída dos meios de produção e submetida a longas jornadas de trabalho (até 16 horas por dia), recebia salários baixos, não havia programas médicos e sociais, entre outros problemas. Por outro lado, os donos dos meios de produção, os burgueses, tinham tempo livre, já que recebiam grandes somas de dinheiro a partir da exploração do trabalhador. O século XIX é marcado pela luta do trabalhador em busca de melhores condições de sobrevivência. Com o aparecimento do proletariado, surgiram novas ideias que apresentaram propostas de como reverter esse quadro de exploração social por movimentos populares. Outros proletários se escolarizaram (pelo menos a segunda geração) e conquistaram algumas melhorias sociais através desses movimentos. Com as novas conquistas sociais, salários melhores e novas experiências culturais, o trabalhador pode usufruir de maior tempo de lazer e aumento da expectativa de vida. Podemos caracterizar o lazer como uma atividade orientada com prioridade para a expressão pessoal. Como resultado do tempo livre, ele manifesta o prazer de usar o livre-arbítrio e o devaneio. Antes da Revolução Industrial, o tempo tinha características cíclicas, isto é, ele era marcado por repetições que compreendiam começo, meio e fim. Essa noção espiral do tempo foi adotada pela forma como o homem tratava a natureza e retirava dela o seu sustento. São os ciclos da natureza. Com o surgimento da máquina, o tempo passou a ser linear, isto é, passou a ser marcado pelo relógio, cronometrado, automatizado e fragmentado. Isso ampliou as perspectivas de lazer, o período livre era resultado do tempo em que não se estava na fábrica, na produção. Juntamente com o turismo, o lazer promove no indivíduo desenvolvimento cultural e integração social se olharmos do ponto de vista coletivo. Isso se deve à redefinição do lazer e das viagens a partir do século XIX: elas se tornam paliativos para abrandar o estresse. Com o desenvolvimento dos transportes e dos serviços turísticos na sociedade pós-industrial, ocorreu um maior uso e adequação do tempo sem trabalho, que muitos definem como escapismo (KRIPPENDORF, 2000). 85 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO As origens mais remotas do turismo indicam que a prática de idas aos banhos termais se tornou comum entre a burguesia no final do século XIX. Essa ação, concebida com o desenvolvimento industrial, é anterior aos banhos de mar. Muitos autores identificam o início do turismo com o desenvolvimento dos balneários surgidos no século XVIII para práticas medicinais. A prática balneária se intensificou com a transformação das termas em um ambiente melhor e também com a modificação da arquitetura do lugar. Associada a isso, estava a valorização da natureza e da história local relacionando-as com o romantismo, corrente predominante do século XIX. É importante diferenciar o público visitante dos lugares termais: a burguesia industrial, ao tentar copiar o turismo aristocrático do século XIX, vai em busca de lugares aquáticos no verão, onde o clima era mais brando, a fim de descansar. É importante frisar que o operário não utilizava esses serviços por questões econômicas, mas no futuro eles serão adaptados e barateados para o consumo dessa classe social. Com isso, intensificaram-se atividades e instalações dedicadas à talassoterapia (ida ao mar e às águas), termalismo (termas), climatismo (ar puro) e crenoterapia (terapia da cura através das águas minerais). A valorização do tratamento termal é acompanhada pela valorização da natureza romântica e pela apreciação da vida social no campo. Aos poucos, foram delineados espaços, distantes das grandes cidades poluídas pelas chaminés das indústrias, nos subúrbios, onde se originam propriedades campestres ou à beira-mar: a vilegiatura. Como explica Júlio Ambrózio (2005, p. 107): Conquanto o turismo possua contraparentesco com a vilegiatura naquilo que conserva de temporada de deslocamento e recreio, a própria origem do vocábulo vilegiatura, derivado de villa — a casa italiana de campo ou mesmo sinônimo de povoação —, já noticia a diferença. De origem aristocrática, despregada portanto do caráter burguês do turismo, a vilegiatura, porém, atualmente permanece diminuída na construção da segunda casa da burguesia e de parte da classe média em áreas próximas, ou nem tanto, às grandes cidades. A vilegiatura dos fins do século XIX (derivada das villas romanas, onde o romano rico tinha propriedade), estava distante dos subúrbios industrial-proletários, pois era um lugar destinado aos nobres e posteriormente aos burgueses para refrescarem a alma, era um local de meditação e repouso. A vilegiatura estava sustentada pelo âmbito imobiliário de segunda residência, fenômeno que teve seu auge no século XX e que ainda é muito comum: o deslocamento do lar no período de férias. Esses espaços de ócio, destinado às classes mais abastadas, estão distantes das definições de viagens turísticas propriamente ditas, porém estão próximos dos significados de utilização do tempo livre, matéria-prima do turismo atualmente. 86 Unidade II Com o aumento da tecnologia, a velocidade nos meios de transportes e o aumento da circulação de mercadorias, o fenômeno turístico adquiriu um folego impressionante se distanciando desse tipo de ocupação do tempo livre ocorrida na vilegiatura: [...] menos tomada pelos azedumes dos meios de transportes que envolviam as viagens antes da Revolução Industrial, desde Thomas Cook, pôde o turismo conhecer paisagens sem concretude existencial (AMBRÓZIO, 2005, p. 108). Vale lembrar que o turismo moderno permite que a diversão seja tomada pelo tempo livre, desapegando-se apenas do contexto de restauração biológica e repouso. Nesse sentido, a felicidade criada pela restauração da vida em família foi transferida para uma rotina divertida que acompanha as viagens e que podem também incluir a vida familiar. Os espaços turísticos desenvolverão esforços para rearranjar a distração. O desenvolvimento industrial ocorrido no século XIX afetou a vida de muitos indivíduos a partir do crescimento econômico, da difusão dos meios de transportes, do aumento de riquezas, e, assim, novas configurações sociais se estabeleceram devido ao aumento de classes mais endinheiradas como a classe dos comerciantes e dos proprietários das fábricas. A palavra turismo originou-se no século XIX: “[...] a primeira agência de viagens nasce inglesa e no século XIX, 1845. Variante do antigo vocábulo tour – o equivalente inglês para a viagem, a palavra turismo nasceria na Inglaterra em 1811” (AMBRÓZIO, 2005, p. 106). Com isso, gradativamente, o turismo se desenvolveu de forma mercadológica, acompanhado das inovações trazidas pela Thomas Cook & Son, agência de viagens criada em 1851 na Inglaterra, com roteiros e pacotes. Thomas Cook já havia proporcionado em 1840 a primeira viagem em grupo organizada de forma comercial, tornando acessível excursões ao litoral e posteriormente viagens para Antuérpia e França. A campanha turística de Cook contava com o apoio de publicidade e marketing que incrementavam o desejo pela viagem. Com o tempo, a melhoria das condições de vida da classe trabalhadora fez com que Cook tornasse a viagem disponível para esse grupo social, que era absolutamente numeroso na Inglaterra. O consumo do produto turístico pela abundante classe trabalhadora fez surgir o turismo de massa, isto é, o fabrico em massa da atividade turística, apesar do conflito que isso ocasionou nas diversas esferas da oferta e da demanda. Com o fim daSegunda Guerra Mundial, em meados do século XX, a atividade turística evoluiu progressivamente em função da retomada econômica da Europa, apesar dos conflitos políticos e sociais gerados pela Guerra Fria, mas também ocorreu um avanço tecnológico que ocasionou o aumento do tempo livre e um incremento da produtividade dos negócios turísticos, tais como interesses hoteleiros, criação do credit card e desenvolvimento dos transportes aéreos. 87 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO Lembrete Importante componente do turismo, o lazer na modernidade adquire características de anseios de uma sociedade orientada para a produtividade. Por isso, é necessário compreender o lazer para assimilar o fenômeno do turismo. Resumo Entramos em contato com vários tempos históricos e eventos que promoveram transformações históricas relevantes para o mundo, além de contribuir para as particularidades de cada região. A importância da análise está no desenvolvimento da capacidade de desvendar os acontecimentos e refletir sobre eles, as rupturas, as mudanças que se verificaram em várias regiões do mundo e como se difundiram, influenciando várias sociedades, como é o caso do Brasil. O turismo cultural se desenvolve a partir da busca de conhecimentos e ao desvendar a histórica local, entrando em contato com a memória coletiva, esse tipo de turismo acelera a preservação dessa história, estimulando os órgãos oficiais a assumir a proteção dos bens históricos para que possa haver visitação e perpetuar essa memória. Entramos em contato com os principais períodos históricos desde a formação das primeiras hordas humanas até o mundo contemporâneo de uma forma abreviada, mas explanando acontecimentos significantes para que pudéssemos observar como se deu a evolução histórica da humanidade. Começamos nossas reflexões a partir da Pré-história, com o desenvolvimento humano no paleolítico, em que um evento importante iria conceder um salto evolutivo para as populações: a descoberta do fogo. No neolítico, o ser humano deu outro salto cultural ao descobrir a agricultura. Com isso, ele deixou de ser nômade, tornou-se sedentário, começou a construir habitações e a morar em lugares próximos aos rios. Surgem as civilizações e a escrita. O homem começa a utilizar o ferro para construir artefatos. No mundo antigo, vimos o surgimento de várias civilizações com características diferentes: egípcios, mesopotâmicos, persas, fenícios, entre outros, tinham crenças e modo de vida econômica diferentes. Posteriormente, entramos em contato com o mundo grego e romano e contemplamos várias transformações fundamentais que ocorreram 88 Unidade II nesse período como o aparecimento da democracia, filosofia, impérios e exércitos imbatíveis. Quando o mundo romano acabou, as pessoas migraram para o campo em busca de proteção das invasões bárbaras. Os feudos caracterizavam o mundo feudal e era comandado pelos senhores feudais e pela Igreja. Com o tempo, formou-se uma classe social burguesa que irá se rebelar e transformar o período. O mundo moderno é caracterizado pelo domínio da burguesia nos assuntos políticos, econômicos e sociais, promovendo uma grande ruptura com o mundo até então: foi a Revolução Industrial. A partir daí, vimos o surgimento do turismo, pois a relação entre lazer e trabalho se modifica, revolucionando a vida do indivíduo. Posteriormente, com o aumento do consumo mundial, os governantes representando o Estado nacional e direcionados pelos burgueses entram em conflitos que resultaram em duas grandes guerras. Com o final da Segunda Guerra, dois países vencedores desenvolveram um sistema de influência: Estados Unidos e URSS. Foi a Guerra Fria. Exercícios Questão 1. Observe a imagem, leia o texto e analise as afirmativas: Figura 12 – Partenon em Atenas na Grécia Partenon é o nome de um templo erguido no século V a.C. na Acrópolis, uma montanha localizada no centro da cidade de Atenas, e cuja estrutura, apesar do tempo, conflitos e poluição, ainda se encontra 89 HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO preservada. A palavra Partenon significa “a sala da virgem”, e o objetivo de tal edifício era prestar uma homenagem à deusa Atena. Sua ideia é atribuída a Péricles, um dos principais líderes democráticos de Atenas, que iniciou uma série de obras públicas (entre elas, a construção do Partenon) após um saque à cidade feito por tropas persas. O projeto é de autoria dos arquitetos Ictinus e Calícrates, que se baseiam nos preceitos da arquitetura dórica, cuja característica principal é a utilização de colunas caneladas, de molde redondo com uma placa quadrada em cima. Para realizar a tarefa, foi designada uma equipe de arquitetos e artistas liderada pelo escultor Fídias, que inicia o trabalho por volta de 447 a.C. e o conclui quinze anos depois. Disponível em: https://www.infoescola.com/grecia-antiga/partenon/. Acesso em: 20 set. 2019. I – O Partenon, construção do período medieval, é um ponto turístico importante da Grécia, visitado por pessoas do mundo todo. II – O fato de o templo estar em ruínas o impossibilita de ser um lugar de memória, uma vez que aspectos importantes da construção foram destruídos. III – Construções e esculturas do período clássico são atrações turísticas oferecidas pela Grécia. É correto o que se afirma em: A) I, II e III. B) II e III, apenas. C) I e III, apenas. D) I e II, apenas. E) III, apenas. Resposta correta: alternativa E. Análise da questão O Partenon não é do período medieval, e o fato de estar parcialmente desconstruído não o impossibilita de ser um lugar de memória. As obras arquitetônicas e artísticas são importantes atrativos turísticos da Grécia. Questão 2. Conhecer uma cidade histórica envolve todos os sentidos do ser humano. Para isso, é fundamental conhecer as ruas e o casario, os costumes, as tradições, as festas, as igrejas e a gastronomia 90 Unidade II do lugar. Visitar esses locais implica conhecer sua dinâmica e seus significados e compreender por que aquele espaço pode ser um importante símbolo da história e da cultura nacional. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br. Acesso em: 13 ago. 2018. Adaptado. Baseando-se nessa reflexão sobre o turismo em cidades históricas, avalie as afirmativas a seguir. I – A concentração dos investimentos públicos na recuperação de monumentos e edifícios históricos deve ser prioritária, dado o objetivo principal do turismo de gerar renda para as localidades visitadas. II – Os atrativos culturais das cidades históricas vão além dos seus monumentos e edificações, incluindo também aspectos do modo de vida da população no passado e no presente. III – A percepção e a valorização do patrimônio de uma cidade histórica se dão quando o visitante se propõe a vivenciar as características do lugar por meio do contato e interação com seu povo e sua cultura. IV – A encenação de aspectos históricos é fundamental para atrair visitantes às cidades tradicionais, ao mesmo tempo em que contribui para a valorização da cultura local. É correto apenas o que se afirma em: A) I e II. B) II e III. C) III e IV. D) I, II e IV. E) I, III e IV. Resposta correta: alternativa B. Análise da questão O objetivo principal do turismo não é gerar renda para as localidades visitadas, e a restauração é importante para manter vivos o patrimônio e a memória. É fundamental que o turista vivencie a cultura local e o modo de vida dos habitantes da cidade. A encenação não é uma atividade essencial.
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