Prévia do material em texto
PO LÍ TI CA E É TI CA E M A Çà O: CI DA DA NI A E DE M OC RA CI A Ár ea d o co nh ec im en to : Ci ên ci as H um an as e S oc ia is A pl ic ad as > EN SI N O M ÉD IO H um an as Ci ên ci as Angela Rama Gislane Azevedo Isabela Gorgatti Leandro Calbente Reinaldo Seriacopi POLÍTICA E ÉTICA EM AÇÃO: CIDADANIA E DEM OCRACIA > EN SIN O M ÉDIO Área do conhecim ento: Ciências H um anas e Sociais Aplicadas Ciências H um anas 9 7 8 6 5 5 7 4 2 1 1 6 1 ISBN 978-65-5742-116-1 MANUAL DO PROFESSOR PO LÍ TI CA E É TI CA E M A Çà O: CI DA DA NI A E DE M OC RA CI A Ár ea d o co nh ec im en to : Ci ên ci as H um an as e S oc ia is A pl ic ad as EN SI N O M ÉD IO H um an as H um an as H um an as H um an as Ci ên ci as Ci ên ci as CÓ DI GO D A CO LE Çà O 02 15 P2 12 04 CÓ DI GO D O VO LU M E 02 15 P2 12 04 13 4 PN LD 2 02 1 • Ob je to 2 Ve rs ão su bm et id a à av al ia çã o M at er ia l d e di vu lg aç ão DIV-PNLD_21_3075-PRISMA-HUM-GIRA-MP-V2-Capa.indd All PagesDIV-PNLD_21_3075-PRISMA-HUM-GIRA-MP-V2-Capa.indd All Pages 16/04/21 20:1116/04/21 20:11 PRISMA 1a edição São Paulo – 2020 Ár ea d o co nh ec im en to : Ci ên ci as H um an as e S oc ia is A pl ic ad as > EN SI N O M ÉD IO > EN SI N O M ÉD IO H um an as Ci ên ci as Maria Angela Gomez Rama • Mestra em Ciências (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (USP). • Bacharela e licenciada em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). • Especialista em Ensino de Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). • Licenciada em Pedagogia pela Universidade de Franca (Unifran-SP). • Formadora de professores. Atuou como professora no Ensino Fundamental e Médio das redes pública e privada e no Ensino Superior. Gislane Campos Azevedo Seriacopi • Mestra em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). • Professora universitária, pesquisadora e ex-professora de História do Ensino Fundamental e Médio nas redes pública e privada. Isabela Gorgatti Cruz • Bacharela em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). • Especialista em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). • Editora de livros didáticos. Leandro Calbente Câmara • Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP). • Bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). • Mestre em Ciências (História Econômica) pela Universidade de São Paulo (USP). • Editor de livros didáticos. Reinaldo Seriacopi • Bacharel em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). • Bacharel em Jornalismo pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS-SP). • Editor especializado na área de História. MANUAL DO PROFESSOR PO LÍ TI CA E É TI CA E M A Çà O: CI DA DA NI A E DE M OC RA CI A D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 1D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 1 17/09/2020 00:5517/09/2020 00:55 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Prisma : ciências humanas : política e ética em ação : cidadania e democracia : ensino médio / Maria Angela Gomez Rama ... [et al.]. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2020. Área do conhecimento : Ciências humanas e sociais aplicadas Vários autores : Gislane Campos Azevedo Seriacopi, Isabela Gorgatti Cruz, Leandro Calbente Câmara, Reinaldo Seriacopi Bibliografia ISBN 978-65-5742-115-4 (Aluno) ISBN 978-65-5742-116-1 (Professor) 1. Ciências (Ensino médio) 2. Tecnologia I. Seriacopi, Gislane Campos Azevedo II. Cruz, Isabela Gorgatti III. Câmara, Leandro Calbente IV. Seriacopi, Reinaldo 20-44109 CDD-372.7 Índices para catálogo sistemático: 1. Ciências : Ensino médio 372.7 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Copyright © Maria Angela Gomez Rama, Gislane Campos Azevedo Seriacopi, Isabela Gorgatti Cruz, Leandro Calbente Câmara e Reinaldo Seriacopi, 2020 Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira Direção editorial adjunta Luiz Tonolli Gerência editorial Flávia Renata Pereira de Almeida Fugita Edição João Carlos Ribeiro Junior (coord.) Bárbara Berges, Carolina Bussolaro, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Siomara Sodré Spinola Preparação e revisão de textos Maria Clara Paes (sup.) Danielle Costa, Diogo Souza Santos, Eliana Vila Nova de Souza, Felipe Bio, Fernanda Rodrigues Baptista, Graziele Cristina Ribeiro, Jussara Rodrigues Gomes, Kátia Cardoso da Silva, Lívia Navarro de Mendonça, Rita Lopes, Thalita Martins da Silva Milczvski, Veridiana Maenaka Gerência de produção e arte Ricardo Borges Design Daniela Máximo (coord.), Sergio Cândido Imagem de capa nastas_styles/Shutterstock.com Arte e Produção Vinicius Fernandes (sup.) Ana Suely Silveira Dobon, Karina Monteiro Alvarenga, Jacqueline Nataly Ortolan (assist.) Diagramação C2 Artes Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga Licenciamento de textos Érica Brambila, Bárbara Clara (assist.) Iconografia Priscilla Liberato Narciso, Ana Isabela Pithan Maraschin (trat. imagens) Ilustrações Andreia Vieira, Davi Augusto, Eber Evangelista, Leandro Ramos, Ricardo Sasaki, Sonia Vaz Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada. Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD CNPJ 61.186.490/0016-33 Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375 Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à EDITORA FTD. Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br central.relacionamento@ftd.com.br D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 2D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 2 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 APRESENTAÇÃO Diariamente, somos bombardeados por notícias e informações na internet, na televisão, nos jornais, o que torna muito difícil entender o que acontece no mundo e identifi car aquilo que é signifi cativo para nós e que pode infl uenciar nosso cotidiano e impactar nossa comunidade. Se muitas vezes você tem a sen- sação de que não consegue analisar satisfatoriamente esse imenso volume de informações, saiba que não está sozinho. As Ciências Humanas e Sociais Aplicadas são uma ferramenta importante para nos ajudar a refl etir sobre o mundo em que vivemos. Os saberes desenvolvidos pela História, pela Geografi a, pela Sociologia e pela Filosofi a permitem mobilizar competências e habilidades fundamentais para o exercício do pensamento crítico, essencial para transformarmos as informações recebidas diariamente em conhe- cimentos capazes de nos ajudar a modifi car a realidade que nos cerca. Para auxiliá-lo nessa tarefa, selecionamos um conjunto de temas importan- tes para a compreensão dos tempos atuais. Por meio de textos, mapas, gráfi cos, tabelas, fotografi as e muitos outros documentos, você terá condições de interpre- tar e analisar criticamente não só a sua realidade, mas o mundo de uma maneira mais ampla. Com isso, esperamos ajudá-lo no exercício da cidadania e no desen- volvimento de práticas colaborativas que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa, em busca do bem-estar coletivo. Esperamos oferecer o conhecimento necessário para você desenvolver uma visão crítica da realidade e se sentir seguro para adotar uma postura protagonista em seu dia a dia. Os autores D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 3D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 3 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 78 UNIDADE 78 3 Participação política Um aspecto central para a construção de uma sociedade justa é assegurar participa- ção política atodos os cidadãos. Participar da política não significa apenas votar ou acompanhar o desempenho do governo; significa também se envolver em ações comunitárias, se engajar em grupos, tomar parte de discussões de temas do interesse da coletividade e de manifestações públicas ou fazer uso da internet para debater ideias e promover formas de atuação coletiva. Nesta unidade, vamos refletir sobre a organização do governo e as diferentes possibilidades de participação política. 1. Você considera que participa ativamente da política? Como você faz isso? 2. O que pode ser feito para promover a maior participação dos jovens na política no Brasil contemporâneo? NÃO ESCREVA NO LIVRO ■ Ilustração de Paulica Santos, 2012. D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 78D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 78 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 PA U LI CA S AN TO S 79 FAKE NEWS Fake news é um termo em inglês que significa "notícia falsa". Atualmente, podemos definir as fake news como notícias ou informações falsas ou, ainda, distorcidas, pro- duzidas e disseminadas intencionalmente para confundir os leitores. Com a internet, as fake news ganharam grande notoriedade em razão da velocidade e da quantidade de informações que recebemos diariamente por meio de diversos suportes midiáticos. As fake news acarretam as mais diversas consequências, como, por exemplo, modi- ficar cenários eleitorais e reduzir o número de mães e pais que vacinam seus filhos. Neste projeto, utilizaremos a análise de mídias tradicionais para produzir um folheto informativo, com o objetivo de ajudar a comunidade a identificar fake news e a se infor- mar de maneira segura. D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 79D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 79 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 1 CAPÍTULO Em 2019, ocorreu um lance inusitado em uma partida de futebol na Dinamarca. As equipes do Vejle e do AGF disputavam um jogo para fugir do rebaixamento. Em determinado momento, a partida foi inter- rompida quando a bola estava com o AGF. O time do Vejle como manda o fair play, deveria devolver a bola aos jogadores do AGF. O atacante do Vejle, porém, chutou a bola em direção ao campo adver- sário e surpreendentemente marcou um gol. A situação criou uma grande confusão, já que era um gol que poderia mudar o futuro das duas equipes. Os jogadores começaram a discutir e precisaram entrar em um acordo para solucionar o impasse da forma mais justa possível. A solução foi permitir que o AGF marcasse um gol para reestabelecer a igualdade no placar. Essa situação é um exemplo de como a ética é um campo de refle- xão muito importante para a vida cotidiana. Os jogadores das duas equipes iniciaram uma discussão em torno de valores. O objetivo disso era determinar o que era justo e o que era injusto. O que transforma essa discussão em um problema ético é o fato de que não havia uma solução predeterminada para o conflito entre as equipes. As regras do futebol não estabelecem o que fazer em uma situação como essa. Além disso, o juiz da partida não tinha elementos prévios para resolver o conflito e estabelecer a decisão mais justa. Assim, a decisão dos jogadores foi tomada a partir da reflexão em torno do problema, visando ao comportamento mais adequado. Essa decisão criou um valor ético, que foi respeitado por todos. Ao final, a partida foi reequilibrada e o AGF venceu o adversário por 4 a 2. Mesmo derrotada, a equipe do Vejle jogou a partida de forma ética. Neste capítulo, vamos refletir sobre o conceito de ética e analisar como ele é importante para a vida de todos nós. A ética no mundo contemporâneo ■ Cena de partida de futebol disputada entre as equipes do Vejle e do AGF, em Vejle, Dinamarca, 2019. LA RS R O N BO G/ FR O N TZ O N ES PO RT /G ET TY IM AG ES 12 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 12D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 12 17/09/20 02:5517/09/20 02:55 Como vimos , os valores se transformam ao longo do tempo. Por isso, algumas ideias consideradas corretas no passado são vistas atual- mente como práticas criminosas que devem ser combatidas. O estudo da ética é muito importante nesse processo, já que ele pode ajudar a avaliar as transformações dos valores de modo a não reproduzir precon- ceitos ou práticas violentas que eram consideradas moralmente corretas em outras épocas. O texto a seguir, escrito por um juiz dos Estados Unidos em 1927, é um exemplo. Leia atentamente e responda ao que se pede: É melhor para todo mundo se, em vez de esperar para executar os descendentes degenerados por algum crime ou deixar que morram de fome por causa da imbecilidade, a sociedade possa prevenir aqueles que são manifestadamente inaptos de se reproduzirem. O princípio que sustenta a vacinação obrigatória é suficientemente amplo para cobrir o corte das trompas de Falópio. [...] Três gerações de imbecis são suficientes. Fonte dos dados: LANG-STANTON, P.; JACKSON, S. Eugenia: como movimento para criar seres humanos ‘melhores’ nos EUA influenciou Hitler. BBC News Brasil, 23 abr. 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/ portuguese/internacional-39625619. Acesso em: 10 jun. 2020. 1. Tendo em vista o atual conhecimento científico, por que a proposta do juiz não se justifica? Caso julgue necessário, pesquise informações para fundamentar sua resposta. 2. Do ponto de vista ético, por que a proposta do juiz é incorreta? Apresente argumentos para justificar seu posicionamento. 3. Imagine que você deve ela- borar uma resposta ao juiz. Escreva uma carta mobili- zando argumentos cientí- ficos e éticos para refutar aquilo que ele defende. Ao final, discuta seu texto com os colegas em sala de aula. Corte das trompas de Falópio Método de esterilização de mulheres. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> CO U N TW AY L IB RA RY O F M ED IC IN E/ H AR VA RD , E ST AD O S U N ID O S. NÃO ESCREVA NO LIVRO ■ Ilustração representando a "Árvore Eugenia" e a ideia de evolução humana por meio das raízes, que extraem materiais de diversas fontes. O cartaz foi utilizado como símbolo do Segundo Congresso Internacional de Eugenia, realizado em Nova York (Estados Unidos), em 1922. 19 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 19D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 19 16/09/2020 16:1916/09/2020 16:19 Abertura dos capítulos Todos os capítulos iniciam-se com algum assunto do presente, para que você possa começar a entender como as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas se relacionam com o seu cotidiano. Atividades Conjunto de atividades que aparece ao final de muitos capítulos. É o momento em que você aplica os saberes apreendidos e exercita sua reflexão a respeito de diferentes temas estudados. Linguagens e leituras Esta atividade trabalha habilidades de leitura e interpretação de diferentes tipos de documentos, como mapas, gráficos, tabelas, charges, fotografias, textos impressos etc. Muitas vezes, você será convidado a relacionar informações em documentos distintos. A seção encontra-se no meio dos capítulos, mas pode aparecer também ao final deles. Abertura das unidades Texto e imagem apresentam o tema central da unidade. Também encontram-se perguntas que auxiliam na reflexão sobre o assunto. Muitas imagens presentes nas aberturas são trabalhos de artistas plásticos contemporâneos. Todos os volumes estão divididos em quatro unidades, e cada unidade tem dois capítulos. Nossa comunidade Por meio desta seção, você e seus colegas desenvolverão um projeto que impactará a comunidade em que vivem. É o momento de exercerem o protagonismo. São dois projetos por livro, cada um composto de quatro etapas que aparecem ao final de cada capítulo. Esta coleção é composta de seis volumes. A seguir, apresentare- mos algumas das principais características das obras. NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> • Democracia é o tema da tirinha reproduzidaabaixo. Observe-a com aten- ção e responda ao que se pede. 1. Na tirinha vemos personagens que representam dois grupos distintos. a) Quais grupos são representados? b) Que elementos presentes na tirinha embasam sua resposta? 2. A tirinha faz referência à democracia. a) O que é a democracia, no seu entendimento? b) De que maneira essa ideia encontra-se expressa na charge? 3. Pode-se dizer que a imagem mostra um equilíbrio de forças entre dois grupos? Justifique. 4. De acordo com a cartunista, de que modo é possível haver um equilí- brio de forças? Como essa ideia é transmitida na charge? Você concorda com essa ideia? 5. Além da democracia, a tirinha faz referência a outro elemento funda- mental da vida política. Qual é ele? 6. Resuma em uma frase a mensagem que a tirinha transmite, em sua opinião. LA ER TE LAERTE. [Tirinha]. Folha de S.Paulo, 1o maio 2018. 92 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU4.indd 92D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU4.indd 92 17/09/20 02:0717/09/20 02:07 Glossário As palavras destacadas nos textos ganham uma explicação aprofundada no glossário. CONHEÇA SEU LIVRO D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 4D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 4 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 INVESTIGAÇÃO> O slam como forma de resistência Slam (slam poetry) é um estilo de poesia apresentada em forma de batalha e, por isso, também conhecido como batalha de slam. Os poetas devem ler ou recitar produção autoral, sem uso de adereços ou instrumentos, mas podem apresentar performances. ■ Apresentação de slam em CIEP da cidade do Rio de Janeiro (RJ), 2020. BE LG A/ FO TO AR EN A O termo slam teve origem em Chicago, nos Estados Unidos, em 1984, e seu sig- nificado está relacionado ao som de uma batida de porta ou janela. Atualmente, as batalhas de slam são realizadas em mais de 500 comunidades do mundo. No Brasil, todos os anos acontece o Slam BR – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, cujo vencedor compete na Copa do Mundo de Slam, realizada anualmente na França. Esse acontecimento poético dá voz a poetas da periferia, que trazem à tona questões da contemporaneidade, convidando o público a refletir sobre os temas abordados e provocando a tomada de consciência política. Os temas normalmente estão relacionados à realidade das periferias, como racismo, feminismo, desemprego, violência. Por isso, o slam é uma forma de resis- tência e, como tal, uma prática política. Com base nessas informações e em outras pesquisas, organize, coletivamente, uma batalha de slam na escola. Para iniciar essa atividade, em primeiro lugar, converse com os professores sobre como efetivar esse evento. 40 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 40D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 40 15/09/20 15:0215/09/20 15:02 Em seguida, com a ajuda de seus colegas, organize a turma em duplas ou trios para a criação das poesias e monte as chaves para determinar a ordem de confronto entre as duplas e trios, desde a primeira fase até a final. A ideia é que o número de participantes se reduza a cada fase. Após a organização do evento, escolha os professores que serão os jurados para determinar quem venceu cada confronto. É importante discutir previamente as regras de avaliação, de modo que todos tenham clareza dos critérios. Com o evento planejado, é o momento de criar os slams. Para isso, os grupos devem selecionar os temas das poesias e pesquisar informações. Também é inte- ressante buscar na internet exemplos de slams para ter uma ideia mais clara sobre o formato dessa produção. Com as poesias finalizadas, é importante ensaiar a apresentação. Caso nem todos os membros do grupo se sintam à vontade para se apresentar, é possível selecionar um representante. É necessário, porém, que todos os grupos apresentem suas produções no momento do confronto. Pronto, agora basta iniciar o evento. É importante respeitar os colegas e acom- panhar atentamente as apresentações de todos. Além disso, é interessante registrar as apresentações por meio de fotos ou filmagem. Caso o grupo esteja de acordo, é possível divulgar as batalhas nas redes sociais. Ao final, organizem uma etapa de discussão com todos os participantes, para entender como cada um interpretou os poemas e de que forma a atividade ajudou a refletir sobre nossa sociedade. ■ Grande final do Slam BR 2019 – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, no Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), 2019. BE RI TH EI A/ FO TO AR EN A 41 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 41D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 41 15/09/20 15:0215/09/20 15:02 O Complexo do Alemão, ou Morro do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, é formado por 13 comunidades e abriga uma população de 180 mil pessoas. Esses moradores convivem com uma série de pro- blemas, como ruas esburacadas, falta de eletricidade e de saneamento básico. Em 2010, os moradores do Complexo do Alemão viveram um momento de grande tensão quando tropas das Forças Armadas e da Polícia Militar ocuparam o morro, e as ruas se transformaram em um palco de guerra entre militares e traficantes. Foi a partir desse momento que Rene Silva ganhou reconhecimento. Na época com 17 anos, Rene, de dentro de sua casa – localizada no Morro do Adeus, uma das comunidades do complexo –, começou a publicar em uma rede social informações sobre o confronto em tempo real. Suas postagens se tornaram a principal fonte de notícias sobre os conflitos e viralizaram com rapidez. Em poucas horas, o perfil Voz das Comunidades, criado por Rene em uma rede social para divulgar as informações, recebeu milhares de seguidores do Brasil e de vários outros países. Mais do que isso, ganhou destaque nas mídias nacionais e internacionais. A experiência de Rene com o jornalismo comunitário começou aos 11 anos, quando lançou na escola o jornal Voz das Comunidades, para divulgar os problemas do Morro do Adeus. Com apenas quatro páginas e uma tiragem de 50 exemplares, o periódico ajudou a comunidade a chamar a atenção do poder público para suas reivindicações. ■ Rene Silva, funda- dor do jornal Voz das Comunidades, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro (RJ), em 2020. FE RN AN D O S O U ZA DIÁLOGOS> EU TAMBÉM POSSO> 108 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 108D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 108 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 Contando com uma equipe reduzida de colaboradores, todos da mesma faixa etária de Rene, o jornal passou a ser patrocinado por comer- ciantes locais, o número de páginas aumentou e a tiragem saltou para 5 mil exemplares. Tudo isso antes dos acontecimentos de 2010. Desde então, o Voz das Comunidades só cresceu, e seu campo de atuação se expandiu, transformando-se em um portal na internet. Além disso, ele tem contas em diversas redes sociais que conquistaram centenas de milhares de seguidores. O jornal, que no início circulava apenas no Morro do Adeus, chegava a dez comunidades do Complexo do Alemão em 2020. Além de dar voz aos moradores do Complexo do Alemão e mostrar as potencialidades do lugar, o Voz das Comunidades passou a realizar atividades ligadas à cultura, à assistência social, à educação e ao lazer. Todo esse trabalho desenvolvido por Rene lhe rendeu projeção inter- nacional. Em 2018, a Mipad, uma organização sediada em Nova York e ligada às causas dos afrodescendentes, elegeu Rene como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo. No Brasil, o trabalho de Rene serviu de inspiração para a criação de outros portais comunitários, como o Nordeste Eu Sou, de Salvador; e o Diário de Ceilândia, no Distrito Federal. A respeito de seu trabalho, Rene declarou: A realidade das favelas é não ter voz, não ter espaço, não ter mídia, e o meu desejo é fazer com que a gente tenha voz e espaço e que consiga, de fato, mais jovens assim como eu. XAVIER, E. Do Complexo do Alemão ao mundo, Rene Silva amplia voz de quemnão tem palavra. GQ, 20 jul. 2020. Disponível em: https://gq.globo.com/Prazeres/Poder/noticia/2020/07/do-complexo-do-alemao-ao- mundo-rene-silva-amplia-voz-de-quem-nao-tem-palavra.html. Acesso em: 12 ago. 2020. 1. Com base na leitura do capítulo, pode-se dizer que o trabalho de Rene Silva é um exemplo de participação política? Por quê? 2. Rene afirma: “A realidade das favelas é não ter voz, não ter espaço, não ter mídia”. Em sua opinião, por que isso acontece? Qual é o impacto dessa realidade para os moradores das comunidades? 3. A pouca idade não impediu Rene de realizar o desejo de escrever um jornal para a comunidade em que vivia. Como você reage quando se depara com algum problema que pode impedir a concretização de um objetivo seu? Você desiste ou procura alternativas? Conte para seus cole- gas sobre seu comportamento nessas ocasiões, procurando ilustrar com uma experiência vivida por você. NÃO ESCREVA NO LIVRO 109 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 109D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 109 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 Conceito em mudança permanente A própria ideia de cidadania está em mudança permanente. Ela varia de uma nação para outra, de um momento histórico para outro. Se, hoje, esse conceito é cada vez mais inclusivo, na antiga Grécia, onde a ideia da cidadania surgiu, ele tinha um caráter excludente. Nas antigas pólis, nem todos tinham direitos de cidadania. As pessoas escraviza- das, por exemplo, tinham muito menos direitos que os cidadãos livres. Além disso, mulheres e estrangeiros não podiam participar da vida política da cidade. Ainda hoje, o conceito de cidadania varia de um lugar para outro. Ser cidadão, no Brasil, é diferente de ser cidadão nos Estados Unidos ou na França. Uma das grandes questões na atualidade é como garantir a cidadania a todos, considerando as diferenças étnicas, religiosas, culturais, sociais e econômicas observadas em um mundo cada vez mais globalizado, plural e multicultural. São questões para as quais ainda não se tem uma resposta, mas, como afirma o historiador Peter Demant (1951-), para que a cidadania beneficie a todos, é neces- sário que as relações entre maioria e minorias, inclusive em nível institucional (leis, políticas públicas etc.), sejam renovadas de modo a considerar os interesses de toda a população, não apenas os das elites. ■ Refugiados e migrantes chegam a bordo de um barco inflável à ilha de Lesbos (Grécia), 2020. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Observe as fotografias desta página e da página anterior. Em sua opinião, as pessoas retratadas têm seus direitos de cidadão assegurados? Em sua comunidade, existem grupos que carecem desses direitos? Justifique suas respostas. AR IS M ES SI N IS /A FP 55 Esses vazios de cidadãos podem ser verificados em diferentes escalas espaciais: quando se comparam as grandes regiões, unidades da federação, municípios e regiões dentro dos municípios, e quando se verificam vazios nas periferias das cidades. Para que não fiquemos apenas na constatação dos vazios de cida- dãos, vale lembrar que não há outro caminho para reduzir ou eliminar tais vazios que não o da participação democrática de toda a população. Essa participação, como já vimos, vai muito além do voto, devendo cada cidadão estar alerta, cobrar as autoridades e manifestar-se, sempre con- siderando a lei maior do país, a Constituição. ■ Rua alagada no bairro Terra Firme. Os mora- dores convivem com esgoto a céu aberto e frequentes alaga- mentos do canal Lago Verde, que cruza o bairro. Belém (PA), 2019. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Observe atentamente a fotografia desta página e analise a cena retratada com base no conceito de vazio de cidadãos. PE D RO L AD EI RA /F O LH AP RE SS 57 Winter on fire: Ukraine’s fight for freedom Direção: Evegny Afineevsky. Estados Unidos/Ucrânia, 2015. Vídeo (98 min). O documentário, cujo título pode ser traduzido como “Inverno em chamas: a luta da Ucrânia pela liberdade”, aborda a Revolução Ucraniana de 2014, quando jovens foram às ruas protestar contra a aproximação entre o governo ucraniano e a União Europeia. O filme mostra a complexa rede de influências formada por países como Rússia e Estados Unidos, além da União Europeia e partidos de extrema direita. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/80031666. Acesso em: 5 set. 2020. A onda Direção: Dennis Gansel. Alemanha, 2009. DVD (107 min). O filme narra a história de um professor que ministra aulas sobre regimes autocráticos por meio de práticas pedagógicas pouco convencionais. A narrativa mostra a facilidade com que discursos autocráticos conseguem manipular as massas, principalmente os jovens, que estão em processo de formação de personalidade. > SAIBA MAIS E-democracia Disponível em: http://www.edemocracia.leg.br/. Acesso em: 22 ago. 2020. A plataforma, criada em 2009 pela Câmara dos Deputados, permite a participação popular por meio da gestão de dados públicos. É possível encontrar diversos modelos de participação, como edição colaborativa de projetos de lei e interação em audiências. Oxfam Brasil Disponível em: https://www.oxfam.org.br/justica-social-e-economica/forum- economico-de-davos/tempo-de-cuidar/. Acesso em: 22 ago. 2020. O link dá acesso a informações recentes sobre a desigualdade econômica no mundo e ao relatório Tempo de cuidar – O trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade, disponível para download. Navegando no site da organização, é possível acessar notícias atualizadas sobre desigualdades e direitos humanos; juventudes, gênero e raça; e justiça econômica. A ONU e a democracia Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/democracia/. Acesso em: 06 set. 2020. A página das Organização das Nações Unidas apresenta o trabalho desenvolvido pela ONU na promoção da democracia, incluindo o apoio à participação política das mulheres no mundo. 145 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 145D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 145 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 O movimento ambientalista também ganhou destaque nos últimos anos. Para fazer frente às crescentes agressões ao meio ambiente – como desmatamentos, extinção de espécies, despejo de produtos tóxicos na natureza –, que geram prejuízos sociais para as atuais e as futuras gera- ções, os ambientalistas vêm defendendo a necessidade de alterações na estrutura da economia global e no padrão de consumo das pessoas. Nessa esteira também atua o movimento indígena, cuja pauta está cada vez mais vinculada à preservação do meio ambiente. Existem, ainda, grupos que lutam pela ampliação dos direitos de populações marginalizadas. No Brasil, há dois importantes movimentos sociais que lutam, respectivamente, por moradia e terra: o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Enquanto o primeiro reivindica o direito à moradia para famílias carentes, o segundo reclama a concessão de terras públicas e improdutivas a agricultores que não possuem condições de adquirir propriedades. Ambos buscam implementar dispositivos da Constituição de 1988, que inclui o direito à moradia (artigo 6º) e uma política de reforma agrária (artigos 184 a 191). ■ Voluntárias trabalham na campanha Marmita Solidária, iniciativa organizada para fornecer água, alimentos e banho à população em situação de rua durante a pandemia da covid-19, no Recife (PE), 2020. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • O movimento ambientalista vem ganhando um protagonismo cada vez maior nos últimos anos. Pesquise sobre a atuação dos diversos grupos dedicados a essa questão. Em seguida, escreva um texto no caderno, explicando a relação entre a causa ambiental e os direitos humanos. VE ET M AN O P RE M / F O TO AR EN A 72 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 72D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 72 15/09/20 15:4015/09/2015:40 De mãos dadas Atividades que relacionam temas do capítulo com sua realidade, como seus amigos, sua escola, seu bairro, seu município etc. Aparece de forma aleatória nos capítulos. Saiba mais Aqui você encontra sugestões de filmes, sites, vídeos, podcasts, livros e outros materiais que ampliam os saberes explorados nas unidades. Leitura de imagem Atividade de leitura e análise de mapas, gráficos, charges e outras linguagens imagéticas. Aparece de forma aleatória nos capítulos. Meus argumentos Momento em que você expõe suas ideias, pois esta seção explora sua capacidade de analisar, refletir e argumentar a respeito de determinado assunto. Aparece de forma aleatória nos capítulos. Eu também posso Esta seção apresenta exemplos de jovens que exerceram o protagonismo e promoveram mudanças na comunidade em que vivem. O texto vem acompanhado de atividades que exploram, entre outros itens, suas competências socioemocionais. Esta seção aparece duas vezes por volume. InvestigAção Esta seção estimula o pensamento crítico. Aliando criatividade com diferentes práticas de pesquisa, você será convidado a solucionar problemas e desafios relacionados ao seu cotidiano. Esta seção aparece duas vezes por volume. Este ícone aparece junto das atividades em que é proposto o trabalho em grupo. D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 5D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 5 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 Ética e política . . . . . . . . . . . . . . . 10 UNIDADE 1 > Capítulo 1 A ética no mundo contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . 12 O que é ética? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Ética e moral são a mesma coisa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Ética no dia a dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Vivemos uma crise ética? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 A modernidade líquida e a crise ética . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Ética, bem-estar e território . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 > Capítulo 2 Política não se discute? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 O que é política? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Política e justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Política e cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Política e poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 O poder está em toda parte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 Poder, política e resistência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Negação da política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38 InvestigAção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 Direitos humanos . . . . . . . . . 44 UNIDADE 2 > Capítulo 3 Em busca da cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46 É possível ser feliz? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Reflexões sobre a felicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 A felicidade como direito humano . . . . . . . . . . . . . . . .49 Hobbes e a soberania popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Locke e os direitos individuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Direitos universais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Cidadania hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54 Conceito em mudança permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Cidadania e espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 > Capítulo 4 O que são os direitos humanos? . . . . . . . . 60 Evolução histórica dos direitos humanos . . . . . . . 61 Os quatro pilares dos direitos humanos . . . . . . . . . . . . .62 Direitos para grupos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63 Desigualdades estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 Conquistas sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66 Muito a conquistar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 Mundo: violação dos direitos humanos, 2014 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .68 A luta por direitos sociais no presente . . . . . . . . . . . . . . . 70 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Eu também posso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 SUMÁRIO D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 6D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 6 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 Participação política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78 UNIDADE 3 > Capítulo 5 A organização do governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 Diferentes formas de organização do governo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 A divisão dos poderes e a organização do governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83 Formas de governo e regimes políticos . . . . . . . . . . . . . 84 Atividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85 As origens do governo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86 A independência e a organização de um governo autônomo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86 A primeira democracia brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 O governo brasileiro no século XX: entre ditaduras e democracias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .88 Um breve período democrático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .88 A Nova República e o problema da corrupção . . . . . 90 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .92 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93 > Capítulo 6 Participação política . . . . 94 O que é participação política? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95 Participação política e governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95 Outras formas de participação política ao longo do tempo . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 A invenção do sufrágio como forma de participação política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .98 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99 A participação política na era da internet . . . . 100 Internet e colaboração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 A internet e a organização de movimentos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 O problema da desigualdade de acesso à internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 O jovem e a participação política . . . . . . . . . . . . . . . 104 As Jornadas de Junho de 2013 e a mobilização estudantil de 2015 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Eu também posso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Organização do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 UNIDADE 4 > Capítulo 7 A organização do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 A gênese do Estado moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 O fortalecimento da autoridade dos reis . . . . . . . . . . . 116 Os primeiros Estados centralizados: as monarquias nacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 A organização do Estado brasileiro . . . . . . . . . . . . . 119 Estado-nação e nações sem Estado . . . . . . . . . . . . 123 Nações e nacionalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Nacionalismo e conflitos contemporâneos . . . . . . . . 124 O conflito na Palestina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 > Capítulo 8 A democracia pode morrer? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 Origens da democracia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 Os limites da democracia ateniense . . . . . . . . . . . . . . . . 130 Espinosa: uma defesa radical da democracia . . . . . 130 As revoluções do século XVIII: a disseminação dos ideais democráticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Democracia no século XX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 O fascismo e a crise da democracia . . . . . . . . . . . . . . . . 133 A retomada da democratização no pós-guerra . . 134 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 A democracia e o sistema internacional . . . . . . 136 O impacto dos conflitos do mundo bipolar no processo de democratização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 Organismos internacionais e o processo de democratização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 Democracia e desigualdade social . . . . . . . . . . . . . . 138 Uma nova crise da democracia? . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 InvestigAção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 > FICHAS DE AUTOAVALIAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 > BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR . . . . 154 > BIBLIOGRAFIA COMENTADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 Orientações para o professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161 D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 7D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 7 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 NESTE VOLUME Objetivos, justificativas, competências e habilidades Você já parou para pensar por que e para que estuda os conteúdos escolares? Eles devem ter importância para sua vida, sendo uma ferramenta a mais para que você, com seus colegas e professores, pensem em solu- ções para diferentes problemas do cotidiano, da sociedade brasileira e do mundo em geral. Apresentamos, a seguir, as justifi cativas (importância) e os objetivos (para que) de cada unidade deste livro e também indicamos competências e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cujos textos se encontram ao fi nal do livro. UNIDADE 1 Ética e política Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? A ética e a política são práticas fundamentais para a orga- nização e a transformação das sociedades contemporâneas. Por essa razão, é fundamental refl etir sobre esses conceitos e enten- der o modo como eles se manifestam no cotidiano. Assim, esta unidade analisa e incentiva refl exões sobre o papel dessas práti- cas na transformação de nossa sociedade. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Refl etir sobre a importância da ética e da política ao longo do tempo na organização das sociedades contemporâneas, analisando cada um desses conceitos. 2. Compreender a ética como campo de refl exão humana, que se dedica a analisar os valores sociais, a fi m de pro- blematizar questões contemporâneas, como as fake news. 3. Valorizar posturas éticas, compreendendo a importância delas na vida cotidiana e na resolução dos confl itos, como forma de construir uma sociedade mais equilibrada e justa. 4. Reconhecer a importância da ação ética para a transforma- ção de nossa sociedade, diferenciando regra moral e ação ética. 5. Compreender que a política é uma forma de exercer o poder por meio de discussões coletivas, do convencimento e da argumentação, analisando a origem da atividade polí- tica e sua relação com o poder. 6. Reconhecer a importância da ação política dos jovens na busca de soluções para atender aos interesses e às neces- sidades de todos, com vistas ao bem comum. 7. Analisar a negação da política e a descrença na democracia a partir de diversos tipos de linguagens (gráfi cos, tabelas e textos). Competências e habilidades Competências gerais 1,4, 7, 8, 9 e 10 Competências específi cas 1, 5 e 6 Habilidades EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS105, EM13CHS106, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS602, EM13CHS603 UNIDADE 2 Direitos humanos Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? Vivemos em um mundo de grandes conquistas, com avanços científi cos e tecnológicos. Mas, na contramão desse processo, encontra-se boa parte da população mundial e brasileira, que se vê excluída de seus direitos básicos de cidadania e tendo a integridade física e psicológica constantemente violada. Esta unidade, portanto, tem como objetivo problematizar essa rea- lidade, em busca de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Compreender o processo de formação do conceito de cida- dania em diferentes tempos e espaços. 2. Refl etir sobre as condições necessárias para garantir a cida- dania a todos no mundo contemporâneo. 3. Entender o que são direitos humanos e sua importância para a construção de uma sociedade mais justa. 4. Entender as polêmicas existentes em torno dos direitos humanos na sociedade brasileira. 5. Diferenciar igualdade de equidade, de modo a esclarecer que a equidade pressupõe a garantia de direitosvoltados para um público específi co, reconhecendo a importância de corrigir desigualdades preexistentes. 6. Elaborar explicações sobre a posição do Brasil no ranking mundial de violação dos direitos humanos a partir da leitura e análise de informações representadas em mapa. 7. Conhecer as lutas por direitos sociais no presente, compre- endendo que a luta pela ampliação dos direitos humanos continua e identifi cando o protagonismo de jovens nesse processo. Competências e habilidades Competências gerais 1, 2, 4, 6, 7, 9 e 10 Competências específi cas 1, 4, 5 e 6 Habilidades EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS106, EM13CHS403, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS601, EM13CHS603, EM13CHS604, EM13CHS605 D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 8D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 8 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 UNIDADE 3 Participação política Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? A refl exão sobre a participação política é indissociável da refl exão sobre a forma como o governo se organiza ao longo do tempo. Assim, é necessário refl etir criticamente sobre a maneira como o governo se organiza no presente e as possibilidades de transformá-lo por meio da participação política. Além disso, é importante entender que a participação política vai além do voto, se expressando em diferentes atividades coletivas que se desenrolam no cotidiano de todos. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Avaliar as diferentes formas de organização dos governos no mundo contemporâneo a partir do entendimento de conceitos de forma, sistema e regime de governo. 2. Identifi car permanências e rupturas no processo de for- mação do Estado brasileiro, analisando problemas atuais, como a corrupção e o patrimonialismo. 3. Refl etir sobre a desconfi ança em relação às instituições democráticas a fi m de buscar soluções para fortalecer a democracia. 4. Reconhecer a importância da participação política para construir uma sociedade mais justa e democrática. 5. Conhecer práticas de jovens para participar da vida polí- tica, reconhecendo que ações e condutas de indivíduos e grupos podem infl uenciar na formação e na atuação dos governos. 6. Identificar formas variadas utilizadas por indivíduos e grupos para participar das decisões do governo e da socie- dade, ao longo do tempo. 7. Avaliar os pontos positivos e negativos da ação política no mundo digital, refl etindo sobre diferentes visões sobre o impacto da internet na participação política. 8. Reconhecer que o não envolvimento dos indivíduos e grupos sociais ajuda a manter a situação existente, sendo também um gesto político. 9. Utilizar coleta e análise de informações presentes em dife- rentes linguagens (gráfi co, poema, charge). Competências e habilidades Competências gerais 1, 5, 9 e 10 Competências específi cas 1, 5 e 6 Habilidades EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS501, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS601, EM13CHS602, EM13CHS603 UNIDADE 4 Organização do Estado Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? O problema da crise da democracia e o modo como isso afeta a organização das sociedades em diferentes regiões do mundo é uma questão muito presente no mundo contemporâ- neo. Ao se discutir essa crise, é necessária uma refl exão crítica em torno da importância de assegurar a continuidade do processo de democratização. Nesse contexto, são necessárias análises da emergência e transformação da noção de democracia, assim como análises do processo histórico de organização do Estado, da maneira como se estruturam as principais instituições estatais no Brasil e do problema das nações sem Estado. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Entender a organização e as funções do Estado no mundo e no Brasil, reconhecendo a importância da participação política para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. 2. Compreender o processo histórico de constituição do Estado moderno, refl etindo de forma crítica sobre a reali- dade dos Estados no presente. 3. Conhecer exemplos da relação entre a estrutura do Estado centralizado e a vida cotidiana dos cidadãos. 4. Analisar a relação entre nacionalismos e conflitos con- temporâneos, operacionalizando conceitos de nação e de Estado. 5. Analisar os riscos de um novo período de governos auto- ritários no planeta e discutir a perda de confiança na democracia moderna nos dias atuais. 6. Entender avanços e recuos da democratização no planeta, analisando o processo histórico de formação das democra- cias modernas. 7. Identifi car e analisar fatores que desestabilizam as democra- cias no mundo contemporâneo, como a desigualdade social, o enfraquecimento das instituições políticas, a transforma- ção de adversários políticos em inimigos, entre outros. 8. Reconhecer a importância de fortalecer as práticas demo- cráticas, valorizando a imprensa livre, os partidos políticos e os movimentos sociais, entre outros mecanismos. Competências e habilidades Competências gerais 1, 7, 9 e 10 Competências específi cas 1, 2, 5 e 6 Habilidades EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS201, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS603, EM13CHS604, EM13CHS605 D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 9D3-CH-EM-3075-V2-INICIAIS-001-009-LA-G21_AVU1.indd 9 17/09/20 02:5617/09/20 02:56 AR S RO N BO G/ FR O N TZ O N ES PO RT /G ET TY IM AG ES LE AN D RO R AM O S 10 LE AN D RO R AM O S UNIDADE 1 10 Ética e política Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), em parceria com o Datafolha, em 2017, revelou que 90% dos brasileiros entre 14 e 24 anos consideram a sociedade brasileira pouco ou nada ética. Apenas 4% dos jovens que parti- ciparam da pesquisa consideram o Brasil um país muito ético. A pesquisa apontou bombeiros e profes- sores como os profissionais mais éticos na avaliação dos jovens. Numa escala de notas de 0 a 10, os primeiros tiveram média 8,7 e os professores, 8,5. Os políticos ficaram em último lugar, com 2,2. 1. Você concorda com a opinião dos jovens pesquisados? Em seu caderno, justifique sua resposta. 2. O que você pensa do fato de os políticos terem ficado em último lugar na pesquisa? O que seria necessário para que os jovens pudessem ter uma visão mais positiva dos políticos e da política de modo geral? NÃO ESCREVA NO LIVRO D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 10D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 10 16/09/20 17:2616/09/20 17:26 BULLYING Você sabe o que significa bullying? Já vivenciou – como espectador, vítima ou agressor – algum ato de bullying em sua escola? Esse tipo de prática é muito usual e não ocorre apenas nas escolas. Às vezes, o que pode parecer uma brincadeira inofensiva é na verdade uma forma de violência que causa males a toda a comunidade, em especial, àqueles que são vítimas dessas agressões. A proposta deste projeto é organizar uma palestra em sua escola, com base em uma pesquisa de amostragem sobre os problemas acarretados pelo bullying. Em um sentido mais geral, o objetivo é pesquisar informações sobre essa prática, investigar se ocorre em outras escolas do bairro ou da cidade, averiguar quais são os tipos de bullying mais frequentes e quais são suas principais consequências, além de buscar, em conjunto, formas de conscientizar a comunidade escolar sobre o tema e propor formas de combate a esse tipo de violência. BULLYING 11 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 11D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 11 16/09/20 17:2616/09/20 17:26 1 CAPÍTULO Em 2019, ocorreu um lance inusitado em uma partida de futebol na Dinamarca. As equipes do Vejle e do AGF disputavam um jogo para fugir do rebaixamento. Em determinado momento, a partida foi inter- rompida quando a bola estava com o AGF. O time do Vejle como manda o fair play, deveria devolver a bola aos jogadoresdo AGF. O atacante do Vejle, porém, chutou a bola em direção ao campo adver- sário e surpreendentemente marcou um gol. A situação criou uma grande confusão, já que era um gol que poderia mudar o futuro das duas equipes. Os jogadores começaram a discutir e precisaram entrar em um acordo para solucionar o impasse da forma mais justa possível. A solução foi permitir que o AGF marcasse um gol para reestabelecer a igualdade no placar. Essa situação é um exemplo de como a ética é um campo de refle- xão muito importante para a vida cotidiana. Os jogadores das duas equipes iniciaram uma discussão em torno de valores. O objetivo disso era determinar o que era justo e o que era injusto. O que transforma essa discussão em um problema ético é o fato de que não havia uma solução predeterminada para o conflito entre as equipes. As regras do futebol não estabelecem o que fazer em uma situação como essa. Além disso, o juiz da partida não tinha elementos prévios para resolver o conflito e estabelecer a decisão mais justa. Assim, a decisão dos jogadores foi tomada a partir da reflexão em torno do problema, visando ao comportamento mais adequado. Essa decisão criou um valor ético, que foi respeitado por todos. Ao final, a partida foi reequilibrada e o AGF venceu o adversário por 4 a 2. Mesmo derrotada, a equipe do Vejle jogou a partida de forma ética. Neste capítulo, vamos refletir sobre o conceito de ética e analisar como ele é importante para a vida de todos nós. A ética no mundo contemporâneo ■ Cena de partida de futebol disputada entre as equipes do Vejle e do AGF, em Vejle, Dinamarca, 2019. LA RS R O N BO G/ FR O N TZ O N ES PO RT /G ET TY IM AG ES Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. 12 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 12D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 12 16/09/20 17:4616/09/20 17:46 O que é ética? BECK, A. Armandinho Sete. Florianópolis: Edição do autor, 2015. p. 70. A reflexão ética está sempre presente em nossas vidas. Por isso, falamos em ética no trabalho, ética nos esportes, ética jornalística, ética nos relacionamentos e também em bioética. A ética pode ser compreendida como o campo da reflexão humana que se dedica a analisar os valores morais, como o bem, a verdade, a coragem. Ela examina a conduta humana do ponto de vista da ação. A reflexão ética se dedica a entender o que são os valores, como se formam e como podem ser aplicados à vida cotidiana. Cabe à ética refletir sobre o significado da justiça, do dever, da virtude e de outros valores morais. No próximo tópico, veremos a diferença entre a ética e a moral. Nesse sentido, é importante observar que, para a reflexão ética, os valores não são regras fixas e definitivas. Assim como os costumes mudam com o tempo, os princípios éticos também estão em constante transformação. Vamos ver um exemplo dessa situação? Quando os cientistas tra- balham na criação de um novo medicamento, eles precisam fazer testes para avaliar sua eficácia. Uma forma de fazer esses testes é uti- lizar animais criados em laboratório, como camundongos. Há pessoas, porém, que desaprovam essa prática, já que os experimentos subme- tem os animais a sofrimento e, muitas vezes, os levam à morte. Temos aí um impasse. O que é possível fazer para resolver essa questão, já que não existe uma regra fixa e definitiva para decidir qual é o melhor caminho a seguir? Pode-se, por exemplo, criar um comitê de bioética para avaliar os experimentos e tomar a decisão de como agir, a fim de assegurar o avanço do conhecimento científico sem provocar sofrimento aos animais. É esse o trabalho da reflexão ética. Bioética Campo de estudo que se refere às implicações éticas e filosóficas de procedimentos, tecno- logias e tratamentos médicos e científicos, como transplantes de órgãos e engenharia genética, entre outros. AR M AN D IN H O, D E AL EX AN D RE B EC K 13 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 13D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 13 15/09/20 12:1715/09/20 12:17 Ética e moral são a mesma coisa? Enquanto a ética analisa os valores morais e o comportamento humano do ponto de vista da ação, a moral consiste no conjunto de valores, regras e normas de conduta de uma sociedade. A diferença entre uma regra moral e a ação ética é que a segunda se forma a partir de uma reflexão consciente daquele que a pratica. A ética passa pela deliberação do indivíduo, enquanto a moral tem a finalidade de deter- minar o modo de agir dos indivíduos em comunidade. Os valores e as normas de conduta variam de acordo com a época e/ou a sociedade. Ao longo da história, as sociedades humanas criaram diferentes códigos morais. Na Idade Média, no Ocidente, os valores cristãos não podiam ser questionados, e a moral cristã era considerada a única possível e verdadeira. Essa visão teocêntrica do mundo, baseada na fé e na noção de bem e mal, impunha regras rígidas de comportamento social. Nesse caso, os valores se transformam em um conjunto de regras morais. Sendo regras, nem sempre são questionadas. A reflexão ética é um exercício da liberdade e é fundamental para a organização da vida em sociedade. Por meio dela, os indivíduos podem elaborar novas soluções para conflitos e determinar a melhor maneira de agir diante dos mais variados problemas. Ela é também uma importante ferramenta de crítica das regras morais, contribuindo para a transformação da sociedade. Deliberação Reflexão visando à reso- lução de um problema. Teocêntrico Que tem Deus como ponto de convergência de todas as coisas. ■ A ética e a moral estão presentes em nosso cotidiano e muitas vezes se confundem, mas é essencial diferenciá-las. Na foto, cena do programa Café Filosófico sobre ética no cotidiano, com os filósofos Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho. H TT PS :// W W W .Y O U TU BE .C O M /W AT CH ?V =9 _Y N LP XK LL U &H AS _V ER IF IE D =1 NÃO ESCREVA NO LIVRO> MEUS ARGUMENTOS • A ética está diretamente relacionada com nossas ações. Não basta refletir sobre ética sem aplicar a reflexão àquilo que fazemos cotidianamente. Imagine que a justiça comprove que uma loja da qual você é cliente costuma vender roupas produzidas por meio de trabalho análogo à escravidão. Reflita como agir de forma ética diante dessa situação e elabore um texto, no seu caderno, justifi- cando seu posicionamento. 14 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 14D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 14 16/09/2020 16:1816/09/2020 16:18 Ética no dia a dia Como vimos, a ética reflete sobre as ações humanas. Por isso, muitos pensadores entendem a ética como uma forma de saber prático. Isso significa que a reflexão ética não trata apenas de problemas abstratos, mas de situações concretas que afetam a vida e as relações entre os indivíduos. A palavra ética se origina do termo grego ethos, que significa lugar de convívio. Na Grécia antiga, considerava- -se ético aquilo que visasse ao bem comum e ao do lugar em que se vivia. Para o filósofo grego Aristóteles (385 a.C.-323 a.C.), a ética e a política seriam os dois principais saberes práticos da vida humana. Para Aristóteles, todo ser humano busca a felicidade e o bem-estar a partir da realização de seus objetivos e pro- jetos de vida. Segundo o filósofo, existe uma relação entre a felicidade e as virtudes necessárias para a condução da vida individual. Aristóteles considera princípios centrais de uma vida ética a realização das tarefas cotidianas, o empenho nos estudos e o exercício das atividades profissionais com afinco. Para isso, o filósofo grego aconselha a prudência e o desenvol- vimento da capacidade de escolher a melhor opção entre as diversas possibilidades que surgem ao longo da vida. Assim, para ele, a ética seria uma forma de reflexão que poderia ajudar os indivíduos a alcançaruma vida feliz, além de auxiliar na construção de relações sociais harmoniosas. ■ BAGDATOPOULOS, W. S. Aristóteles ensinando aos pés da Acrópole em Atenas. Litografia colorida que ilustra a obra de Arthur Mee, The children's encyclopedia ("A enciclopédia das crianças"), publicada em c 1930. Fonte: MIOTO, R. Felicidade custa R$ 11 mil por mês, aponta estudo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 7 set. 2010. Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/ciencia/2010/09/795092-felicidade-custa-r-11-mil-por- mes-aponta-estudo.shtml. Acesso em: 5 set. 2020. ■ A felicidade é um valor relativo. Na atualidade, muitas pessoas associam a felicidade ao bem-estar material, como apontam os dados do gráfico da pesquisa realizada nos Estados Unidos, em 2010. Para Aristóteles, porém, a felicidade está ligada à vida virtuosa. CO LE Çà O P AR TI CU LA R. F O TO : B RI D G EM AN IM AG ES /F O TO AR EN A Bem-estar segundo a estatística, 2010 1,4 2,8 5,6 11,3 22,6 0 50% 60% 70% 80% 90% Proporção dos entrevistados Entrevistados se dizendo felizes e contentes com a vida Entrevistados que não relataram nenhum estresse R$ 11,3 mil/mês: ponto a partir do qual mais dinheiro não signi�ca mais felicidade Renda mensal em R$ mil SO N IA V AZ 15 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 15D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 15 16/09/2020 16:1816/09/2020 16:18 A ética como um caminho para a felicidade, conforme concebida por Aristóteles, teve grande importância na história do pensamento filosófico e influenciou muitos pensadores, da Antiguidade até o presente. Um exemplo é a forma como o filósofo holandês Baruch de Spinoza, ou Bento de Espinosa (1632-1677), refle- tiu sobre a ética. Para ele, uma vida ética é baseada na busca da felicidade e da liberdade, e um aspecto central dessa busca é o modo como os indi- víduos lidam com seus afetos. Segundo Espinosa, todos os seres vivem em constante interação. Essas interações podem ser posi- tivas, potencializadoras (afecções alegres), aumentando a capacidade dos seres de agir sobre o mundo, ou negativas, despotencializado- ras (afecções tristes), diminuindo essa capacidade. Para esse filósofo, quanto maior a alegria de um ser, maior sua liberdade de ação. Dessa forma, uma vida ética se constrói a partir da alegria compartilhada. Assim como Aristóteles e Espinosa, vários outros pensadores ana- lisaram a importância da ética na vida cotidiana. O filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) analisou o problema ético a partir da ideia de que a liberdade é a característica central do ser humano. Para Sartre, os seres humanos não nascem com uma função determinada. Cada indivíduo vai definir aquilo que é a partir de suas escolhas, e essas escolhas são da responsabilidade de cada um. Assim, ao longo da vida, o indiví- duo toma uma série de decisões que lentamente vão construindo aquilo que ele é. ■ Para Espinosa, o ciúme é um exemplo de afeto triste. Na foto, cena do filme O ciúme, com direção de Philippe Garrel. França, 2014. ■ A vida ética está implícita na relação com o outro. Na foto, adolescentes trabalham em grupo voluntário. Ucrânia, 2018. FI LM E D E PH IL IP PE G AR RE L. O C IÚ M E. F RA , 2 01 3. F O TO : G U Y FE RR AN D IS /C AP RI CC I FI LM S/ CO U RT ES Y EV ER ET T CO LL EC TI O N /F O TO AR EN A DMYTRO ZINKEVYCH/SHUTTERSTOCK.COM 16 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 16D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 16 15/09/20 12:1715/09/20 12:17 Entretanto, se o indivíduo é livre, há sempre o risco de suas escolhas se chocarem com as escolhas de outros indivíduos. É a partir dessa ideia que nasce o problema da ética para Sartre. Ele defende que toda escolha implica não apenas a construção da liberdade individual, mas um modelo de ação para os demais. Assim, um indivíduo que ingressa na vida política e, livremente, decide agir apenas de acordo com seus interesses, desviando dinheiro público, estaria afir- mando não apenas que sua liberdade é mais importante que a dos demais, mas enfatizando que todos podem agir da mesma forma. Segundo essa perspectiva, uma vida ética corresponde àquela na qual a liber- dade individual é construída a partir do fortalecimento da liberdade de todos, o que implica necessariamente escolhas individuais que respeitem o outro. A verdade também é um problema ético que nasce da relação com o outro. O compromisso em dizer e agir de forma verdadeira está estreitamente associado a uma vida ética. Essa questão, discutida por pensadores desde a Antiguidade, ganhou um novo sentido na contemporaneidade. Diversos cientistas sociais contemporâneos afirmam que vivemos a era da pós-verdade, em que a disseminação de fake news vem enfraquecendo a credibilidade dos meios de comunicação e dos pes- quisadores. Com a facilidade de circulação de informações pelas redes sociais e aplicativos, muitas pessoas ignoram canais que divulgam notícias com base em fontes confiáveis e dados científicos, passando a compartilhar mensagens falsas, sem fonte ou de fontes duvidosas. ■ Para Sartre, todos nascem livres para decidir aquilo que farão de suas vidas. São as escolhas feitas ao longo do tempo que fazem de nós aquilo que somos. Fake news Termo utilizado para se referir a notícias falsas, que podem ser intei- ramente fabricadas ou distorcer um conteúdo real. Suas fontes são duvidosas (veículos de mídia sem credibilidade) ou inexistentes. G AT U RR O, N IK © 2 00 6 N IK / D IS T. B Y AN D RE W S M CM EE L SY N D IC AT IO N > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Segundo Espinosa, existem interações positivas e negativas entre os seres, afetos alegres e afetos tristes. Assim, para esse pensador, uma vida ética está relacionada com ações que promovem a alegria em nós mesmos e nos outros. Como é possível aplicar essa ideia em sua vida cotidiana? Converse com seus colegas sobre esse tema. 17 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 17D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 17 15/09/20 12:1715/09/20 12:17 ■ O gráfico demonstra a força das fake news em alguns países. O Brasil é o país com o maior número de pessoas que admitiram já terem sido enganadas por notícias falsas. Ações como compartilhar uma notícia nas redes sociais sem confirmar a pro- cedência da informação contribuem para enfraquecer a credibilidade das fontes confiáveis e estimular comportamentos que ameaçam a democracia e mesmo a vida de outras pessoas. Assim, problematizar as fake news e valorizar o conhecimento científico e a infor- mação baseada em fatos e pesquisas é também uma forma de agir eticamente na sociedade em que vivemos. Nesse sentido, o conceito de maioridade intelectual pro- posto pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) nos ajuda a refletir sobre essa questão. Segundo Kant, quando o indivíduo é incapaz de usar sua capacidade de entendi- mento para agir por si próprio, guiando-se pelo pensamento alheio, ele está vivendo numa condição de menoridade intelectual. Para ele, o indivíduo só conquista a maiori- dade intelectual quando consegue pensar e agir de maneira autônoma, livre da tutela dos outros. Nesse sentido, a maioridade intelectual pode ser entendida como a postura ética diante das informações que recebemos, distinguindo as notícias falsas das verdadei- ras e agindo sempre de modo a evitar a disseminação de inverdades. Enganados pelas fake news, 2018 Fonte: FANTINI, F. Para além das fake news: os fake numbers, escreve Flamínio Fantini. Poder 360, 22 jul. 2019. Disponível em: https://www.poder360.com.br/ opiniao/midia/para-alem-das-fake-news-os-fake-numbers-escreve-flaminio- fantini/. Acesso em: 10 jun. 2020. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Países % Brasil Arábia Saudita Coreia do Sul Peru Espanha China Índia Polônia Suécia Chile média mundial *Pesquisa com 27 países. 6258 58 57 57 56 55 55 55 54 48 SO N IA V AZ Porcentagem dos que admitem ter acreditado em uma notícia falsa na internet 18 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 18D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 18 16/09/2020 16:1916/09/2020 16:19 Como vimos , os valores se transformam ao longo do tempo. Por isso, algumas ideias consideradas corretas no passado são vistas atual- mente como práticas criminosas que devem ser combatidas. O estudo da ética é muito importante nesse processo, já que ele pode ajudar a avaliar as transformações dos valores de modo a não reproduzir precon- ceitos ou práticas violentas que eram consideradas moralmente corretas em outras épocas. O texto a seguir, escrito por um juiz dos Estados Unidos em 1927, é um exemplo. Leia atentamente e responda ao que se pede: É melhor para todo mundo se, em vez de esperar para executar os descendentes degenerados por algum crime ou deixar que morram de fome por causa da imbecilidade, a sociedade possa prevenir aqueles que são manifestadamente inaptos de se reproduzirem. O princípio que sustenta a vacinação obrigatória é suficientemente amplo para cobrir o corte das trompas de Falópio. [...] Três gerações de imbecis são suficientes. Fonte dos dados: LANG-STANTON, P.; JACKSON, S. Eugenia: como movimento para criar seres humanos ‘melhores’ nos EUA influenciou Hitler. BBC News Brasil, 23 abr. 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/ portuguese/internacional-39625619. Acesso em: 10 jun. 2020. 1. Tendo em vista o atual conhecimento científico, por que a proposta do juiz não se justifica? Caso julgue necessário, pesquise informações para fundamentar sua resposta. 2. Do ponto de vista ético, por que a proposta do juiz é incorreta? Apresente argumentos para justificar seu posicionamento. 3. Imagine que você deve ela- borar uma resposta ao juiz. Escreva uma carta mobili- zando argumentos cientí- ficos e éticos para refutar aquilo que ele defende. Ao final, discuta seu texto com os colegas em sala de aula. Corte das trompas de Falópio Método de esterilização de mulheres. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> CO U N TW AY L IB RA RY O F M ED IC IN E/ H AR VA RD , E ST AD O S U N ID O S. NÃO ESCREVA NO LIVRO ■ Ilustração representando a "Árvore Eugenia" e a ideia de evolução humana por meio das raízes, que extraem materiais de diversas fontes. O cartaz foi utilizado como símbolo do Segundo Congresso Internacional de Eugenia, realizado em Nova York (Estados Unidos), em 1922. 19 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 19D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 19 16/09/2020 16:1916/09/2020 16:19 Vivemos uma crise ética? Nas últimas décadas, um tema tem aparecido com frequência nos meios de comunicação, nas redes sociais, nos debates entre especialis- tas e nas rodas de conversa: a crise ética do mundo contemporâneo. Vários pensadores defendem a ideia de que a ação e a reflexão ética perderam espaço em nossa sociedade. No Brasil, por exemplo, muitos especialistas afirmam que vivemos uma profunda crise ética na política. Isso fica claro quando observa- mos os dados alarmantes sobre corrupção e uso das ferramentas e instituições públicas para beneficiar agentes privados. O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) é medido pela Transparência internacional, que classifica 180 países com base em quão corrupto o setor público é percebido por especialistas e executivos. A nota vai de 0 a 100, do mais corrupto ao mais íntegro. A média dos países em 2018 foi 43. Índices abaixo de 50 indicam preocupação no combate à corrupção. A corrupção não é o único exemplo de manifestação da crise ética no mundo contemporâneo. A questão dos refugiados é outro indício desse fenômeno. Milhões de pessoas, em diferentes regiões do mundo, são forçadas a deixar suas terras por causa de confli- tos ou problemas ambientais. Contudo, nem sempre elas são acolhidas de forma digna por outros países. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Você presencia exemplos de ações em sua comunidade que demonstram a crise ética da atualida- de? Converse sobre o assunto com seus colegas e pensem conjuntamente em ações que possam ajudar a superar essa situação. SO N IA V AZ Fonte: ÍNDICE de percepção da corrupção 2018. Gazeta do Povo, 29 jan. 2019. Disponível em: https://infograficos.gazetadopovo.com.br/politica/indice-de- percepcao-da-corrupcao-2018/. Acesso em: 11 jun. 2020. 2012 2013 2014 201720162015 2018 100º 80º 60º 69º 72º 69º 76º 79º 96º 105º Em pontos A nota vai de 0 a 100; quanto mais alta, melhor. Posição no ranking Brasil: índice de percepção da corrupção, 2018 20 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 20D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 20 16/09/2020 16:1916/09/2020 16:19 A modernidade líquida e a crise ética O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) foi um dos pensadores que analisaram as causas da crise ética contemporânea. Em muitas de suas obras, ele refletiu sobre a importância da ética e investigou como as transformações na socie- dade afetam os princípios éticos nas relações entre os indivíduos. Bauman criou o conceito de modernidade líquida para definir uma nova forma de organização das relações sociais, econômicas e produtivas que teve início na segunda metade do século XX. Esse conceito designa uma época na qual todas essas relações se tornaram frágeis, efêmeras e flexíveis. Para o sociólogo, durante muito tempo, as relações sociais se mantiveram estáveis e duráveis. Isso significa que as pessoas desempenhavam papéis predeterminados na sociedade, as estruturas familiares eram rígidas e havia poucas possibilidades de mudança no modo de vida dos indivíduos. Em meados do século XX, muitas pessoas tinham a expectativa de iniciar sua carreira profissional em uma empresa e nela permanecer até se aposentarem. O casamento era considerado uma instituição sólida, em geral concebida como algo indissolúvel. Lentamente, a solidez das relações humanas foi se desfazendo em vista das mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais ocorridas no mundo. Com isso, as relações duráveis e estáveis foram sendo aos poucos substituídas por relações líquidas. Por meio dessa metáfora, Bauman expressa a ideia de que os papéis sociais se tornaram fluidos, transformando-se com rapidez. ■ Para Bauman, na modernidade líquida a amizade deixou de ser uma relação sólida e duradoura, que é construída lentamente, para se tornar algo superficial e passageiro, que pode ser criado e desfeito rapidamente nas redes sociais. Na modernidade líquida, os relacionamentos se tornam mais instáveis e de curta duração, os indivíduos têm maior liberdade para mudar de profissão ou de trajetória profissional, os laços familiares se enfraquecem e o individualismo é valorizado. W IL L LE IT E 21 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 21D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 21 15/09/20 12:1715/09/20 12:17 Com as transformações nas relações entre os indivíduos, os valores também se tornam mais frágeis. Dessa forma, a preocupação em agir de forma ética perde importância e é substituída por uma valorização excessiva da individualidade. Para Bauman, o resultado é a intensificação do consumismo e a des- responsabilização do indivíduo em relação ao outro. Assim, as pessoas se enxergam cada vez mais como consumidoras que agem movidas por seus interesses, sem se preocupar com os efeitos de suas ações. Ocorre também um enfraquecimento da empatia, o que ajudaria a entender o crescimento da xenofobia e de atos intolerantes contra minorias, na visão de Bauman. Para o sociólogo polonês, a reflexão ética e a crítica do individua- lismo e do consumismo são essenciais para lutar contra os efeitos negativos da modernidade líquida e construir relações que não sejam baseadas apenas em valores individualistas e consumistas. Ética, bem-estar e territórioOutra forma de pensar a questão da crise ética é analisar as desigual- dades que marcam os territórios. Segundo o geógrafo Milton Santos (1926-2001), o território é revelador de diferenças, às vezes agudas, das condições de vida da população. ■ Em muitas cidades do mundo, é evidente a desigualdade social na ocupação do território. Vista aérea do bairro Afonso Vidal, distrito de Vila Andrade, São Paulo (SP), 2020. Em um território onde a localização dos serviços essenciais, como postos de saúde, escolas, parques e locais de diversão, entre outros, é deixada à mercê da lei do mercado, tudo colabora para que as desigual- dades sociais aumentem. Empatia Capacidade de se iden- tificar com o outro e se colocar no lugar dele. TA LE S AZ ZI /P U LS AR IM AG EN S 22 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 22D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 22 15/09/20 12:1715/09/20 12:17 Nas cidades brasileiras, quanto mais distantes as pessoas residem das áreas cen- trais e/ou mais valorizadas, menor é o acesso aos serviços essenciais. Para Milton Santos, os bens públicos de serviço deveriam ser acessíveis à população de forma igualitária, a fim de garantir a todos uma vida digna. Os investimentos públicos deveriam ser distribuídos de modo a atender às necessidades de toda a população. Segundo o geógrafo, é possível trazer bem-es- tar a uma grande quantidade de pessoas por meio de uma repartição espacial não mercantil dos serviços, baseada exclusivamente no interesse público. Assim, a falta de políticas públicas que ajudem a combater as desigualdades, garantindo a criação de um território mais igualitário, é um exemplo da crise ética que marca nossa sociedade. Essa situação fica ainda mais clara quando se analisa a problemática do sanea- mento básico, tema de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e social do país, mas que muitas vezes é negligenciado pelos gestores públicos. No mapa a seguir, é possível observar a porcentagem de pessoas atendidas por serviço de esgoto sanitário no estado do Rio de Janeiro. Apesar de ser um item essencial para a manutenção da saúde e a promoção do bem-estar da população, os investimentos públicos são baixos. A falta de ações concretas para assegurar condições igualitárias de saneamento básico e de outros serviços públicos demonstra uma realidade política e social marcada pelo descaso com o outro. A ética pode contribuir para sensibilizar a sociedade com relação às questões sociais e mobilizar a população para exigir do poder público polític as igualitárias de organização do território. Rio de Janeiro: pessoas atendidas por serviço de esgotamento sanitário (por município), 2015 39% 33% 99% 49%44% 41% 45% 44% 42% ND ND ND 42% 31% 93% 39% 12% 57% 83% 41% 46% Rio de Janeiro Itaguaí Seropédica Paracambi Japeri Queimados Nova Iguaçu Duque de Caxias Magé Cachoeiras de Macacu Guapimirim Rio BonitoItaboraí MaricáNiterói São Gonçalo OCEANO ATLÂNTICO Tanguá Belford Roxo Mesquita Nilópolis São João de Meriti 43° O 23° S 0 13 D AC O ST A M AP AS Fonte: CASA FLUMINENSE. Mapa da desigualdade. Casa Fluminense, [20--]. Disponível em: https:// casafluminense.org.br/ mapa-da-desigualdade/. Acesso em: 15 jul. 2020. 23 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 23D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 23 15/09/20 12:1715/09/20 12:17 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Retome o mapa da página anterior e depois responda às questões: a) Como o saneamento básico se relaciona com o bem-estar das pessoas? b) No seu município, a distribuição espacial dos serviços públicos revela desigualda- des? Pesquise. c) Qual é a relação entre ética e desigualdades socioespaciais? 2. O trecho reproduzido a seguir foi escrito por Zygmunt Bauman. Leia-o atentamente e responda ao que se pede: Numa vida de contínuas emergências, as relações virtuais derrotam facilmente a “vida real”. Embora os principais estímulos para que os jovens estejam sempre em movimento provenham do mundo off-line, esses estímulos seriam inúteis sem a capacidade dos equipamentos eletrônicos de multiplicar encontros entre indi- víduos, tornando-os breves, superficiais e sobretudo descartáveis. As relações virtuais contam com teclas de “excluir” e “remover spams” que protegem contra as consequências inconvenientes (e principalmente consumidoras de tempo) da interação mais profunda. BAUMAN, Z. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. E-book. a) Que relação pode ser estabelecida entre o texto e o conceito de modernidade líquida? b) Qual é o peso das relações on-line em sua vida cotidiana? Você concorda com a ideia de que as relações virtuais derrotam a “vida real”? Justifique sua resposta. c) Bauman afirma que as relações virtuais podem ser facilmente excluídas, como mensagens de spam. De que forma esse tipo de situação se relaciona com o for- talecimento do individualismo e com a crise ética na perspectiva do sociólogo polonês? d) Para Zygmunt Bauman, o consumismo é um dos sintomas da crise ética contem- porânea. De acordo com esse pensador, o consumo é utilizado para construir uma imagem positiva de nós mesmos. Vestir uma roupa de grife ou ter um celular caro seria, segundo ele, uma forma de construir uma falsa imagem de superio- ridade. Você considera essa análise adequada para pensar o mundo em que vivemos? Justifique sua resposta. e) Você sabe qual é a diferença entre consumo e consumismo? Consumo é o ato de adquirir produtos realmente necessários para a nossa sobrevivência, enquan- to o consumismo é caracterizado pela compra não consciente e desnecessária, motivada por impulso para a satisfação de desejos. Segundo Zygmunt Bauman, o consumismo na sociedade contemporânea transformou os indivíduos em mercadorias. Com base na sua experiência, você concorda com essa crítica do sociólogo? 24 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 24D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 24 15/09/20 12:1715/09/20 12:17 Etapa 1 DIAGNÓSTICO DA REALIDADE De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em escolas de todo país, Brasília é a capital na qual o bullying ocorre com maior frequência, atingindo 35,6% dos estudantes. Curitiba ocupa o segundo lugar, com 35,2%. Ainda de acordo com essa pesquisa, 32,6% das vítimas de bullying são do sexo masculino e 28,3%, do sexo feminino. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nas escolas brasileiras os estudantes estão duas vezes mais suscetíveis ao bullying do que a média geral das instituições de ensino em 48 países. Em um levantamento da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), realizado em 2018, 28% dos diretores das escolas brasileiras de ensino fundamental afirmam que o bullying ocorre semanal ou diariamente nas escolas, e 18% dos administradores das instituições de ensino médio dizem o mesmo. No entanto, não existe apenas um tipo de bullying. Pesquisadores da área identificam três tipos: [1º] diretos e físicos, que inclui agressões físicas, roubar ou estragar objetos dos colegas, extorsão de dinheiro, forçar comportamentos sexuais, obrigar a realização de atividades servis, ou a ameaça desses itens; [2º] diretos e verbais, que incluem insultar, apelidar, "tirar sarro", fazer comentários racistas ou que digam respeito a qualquer diferença no outro; [3º] indiretos que incluem a exclusão sistemática de uma pessoa, rea- lização de fofocas e boatos, ameaçar de exclusão do grupo com o objetivo de obter algum favorecimento, ou, de forma geral, manipular a vida social do colega. Fonte de dados: ANTUNES, D. C.; ZUIN, A. A. S. Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia & Sociedade, v. 20, n. 1. Porto Alegre, jan./abr. 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo. php? script=sci_arttext&pid=S0102-71822008000100004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt.Acesso em: 6 ago. 2020. Além disso, um tipo de violência muito comum nos dias de hoje é o chamado cyber- bullying, no qual os agressores utilizam a tecnologia e as redes sociais para difamar, ofender e agredir outras pessoas. Para começar nosso projeto, reúna-se com mais três ou quatro colegas e conversem sobre as definições de bullying apresentadas acima. Procurem diferenciar os tipos de bullying e relatem se já presenciaram ou praticaram algum deles. Nesse caso, evitem fazer julgamento ou juízo de valor, tendo em vista que muitas vezes agimos sem pensar criticamente nas consequências de nossos atos. O importante é identificar os problemas e consequências desse tipo de ação e modificar nossas atitudes diante da realidade, a partir de uma reflexão mais crítica sobre a forma como agimos na comunidade escolar. Anotem suas conclusões em seus cadernos. Em seguida, busquem, em fontes confiáveis, mais dados sobre bullying em sua cidade, região e/ou estado, identificando as consequências dessas ações. Por exemplo: muitos estudantes que são vítimas dessa prática passam a ter menor rendimento escolar, se isolam, mudam de escola, desenvolvem doenças e há até casos de suicídio. Anotem as informações mais relevantes obtidas na pesquisa e as respectivas fontes. 25 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 25D3-CH-EM-3075-V2-U1-C1-010-025-LA-G21_AVU1.indd 25 16/09/2020 16:1916/09/2020 16:19 CAPÍTULO 2 No Brasil é muito comum dizer que “religião, política e futebol não se discutem”. Será mesmo que política não se discute? Essa ideia traz implícito o entendimento de que os indivíduos possuem crenças políticas que não podem ser questionadas por quem pensa diferente. Apesar de ser uma expressão muito conhecida e utilizada, ela está longe de expressar a realidade. Nos últimos anos, o desenvolvimento das tecnologias digitais e a ampliação do uso de redes sociais criaram novos canais de discussão pública. O questionamento e o debate de ideias, inclusive entre indivíduos desconhecidos, tornaram-se frequentes à medida que as pessoas pas- saram a expressar suas convicções e posições políticas nas redes. Isso, porém, nem sempre ocorre de forma respeitosa e tolerante. A polari- zação entre pontos de vista políticos é um fenômeno que vem se tornando cada vez mais comum no mundo contemporâneo. São muito comuns nas redes sociais os casos de usuários que xingam, ofendem ou praticam cyberbullying contra pessoas que defendem visões políti- cas diferentes das suas, ignorando argumentos e recusando debates civilizados. Como veremos ao longo do capítulo, esse tipo de atitude intole- rante pode resultar em uma forma de negação da política. Para entender isso, é importante analisar o que é a atividade política, qual é sua origem e como ela se relaciona com o poder. Política não se discute? ■ Atualmente, muitos influenciadores digitais e personalidades utilizam as redes sociais para discutir temas políticos. Exemplo disso foi a série de lives Beabá da política, em que a cantora Anitta entrevista a advogada e comentarista de política Gabriela Prioli, em 2020. HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/WATCH?V=IZJJ4FKAJPS&FEATURE=EMB_TITLE Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. 26 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 26D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 26 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 O que é política? A palavra política deriva do grego politikós, que, por sua vez, se origina de pólis, cidade-Estado, na Grécia antiga. A pólis é a cidade organizada, formada por cidadãos, pessoas livres que têm isonomia, princípio que estabelece a igualdade perante as leis, e isegoria, direito de se expressar e opinar livremente nas assembleias. Frequentemente, a palavra política é empregada para designar o conjunto de atividades referentes ao Estado, exercidas por indivíduos que ocupam cargos políticos, porém esse é apenas um de seus diversos significados. Todo indivíduo pratica diferentes ações políticas ao longo da vida. Um grupo de estudantes que se reúne com professores e com a direção da escola para propor mudanças nas normas da instituição está fazendo política, assim como trabalhadores que se mobilizam para discutir suas condições de trabalho ou reivindicar direitos. Nós também fazemos política quando compartilhamos informações sobre o país nas redes sociais ou discutimos notícias com colegas, amigos ou familiares. A política está presente em nosso cotidiano e se relaciona com os problemas que nascem do convívio entre indivíduos com necessidades, aspirações e desejos distintos. Por essa razão, a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) afirma que “a política trata da convivência entre diferentes”. A atividade política é uma forma de relação que exige negociação e discussão entre os indivíduos. Para encontrar soluções que atendam aos diferentes interesses das pessoas, é necessário construir argumentos que justifiquem determinadas escolhas. Imagine, por exemplo, que uma turma do último ano do Ensino Médio precise decidir como será feita a celebração de formatura. Esse evento é uma etapa importante na vida de todos, e cada um pode ter uma ideia própria para organizá-lo. ■ As manifestações pacíficas são uma forma de exercício da política. Marcha por Nossas Vidas, em protesto contra a violência armada. Os jovens levantam cartazes com letras que formam a palavra enough, que significa “basta”, em português. ■ Washington, DC (Estados Unidos), 2018. ROB CRANDAL/SHUTTERSTOCK.COM 27 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 27D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 27 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 As diferentes ideias surgidas para a organização do evento podem provocar impasses, já que nem sempre é possível agradar a todos. Uma forma de resolver esse problema é criar uma comissão para planejar a festa. A fim de decidir o que deve ser feito, a comissão precisa se reunir e discutir as propostas de modo a chegar a um consenso. Esse tipo de situação é um exemplo de atividade política. Para garantir a melhor escolha, os membros da comissão precisam defender suas ideias com argumentos claros e lógicos. Também é necessário ouvir sugestões e realizar ajustes. Assim, por meio do diálogo, é possível chegar a um acordo entre todos. A política é uma forma de ação que se baseia na discussão e não no uso da força ou da coação. Por essa razão, é fundamental estar sempre aberto a discutir política, já que essa é a única forma de tomar decisões coletivas que respeitem as diferenças e atendam aos interesses da comunidade. A concepção da política como uma ação que visa ao consenso por meio da argumentação tem uma história, e compreendê-la pode nos ajudar a entender a importância da política no presente. D AV I A U G U ST O > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • A argumentação está no cerne da ação política. Uma boa argumentação deve ser fundamentada em informações consistentes, capacidade de síntese e identificação de fragilidades no discurso do interlocutor, lembrando que é essencial manter o respeito. Seguindo essa orientação, elabore um texto argumentativo com base na seguinte frase: “Direito de expressão não dá direito à agressão”. 28 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 28D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 28 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 Uma breve história da invenção da política e de seus antecedentes ■ Paleolítico: Os grupos humanos eram formados por poucos indivíduos que viviam da caça e da coleta. Esses grupos se organizavam de forma bastante igualitária e as principais decisões eram tomadas por meio da participação de toda a comunidade. ■ Neolítico: Nesse período, ocorreu o crescimento das comunidades humanas e o estabelecimento de hierarquias sociais. Nesse processo, as decisões deixaram de ser tomadas coletivamente e surgiram os primeiros governantes. M US EUB RI T NI CO , R EI NO U NI DO . F OT O : F IN E AR T IM AG ES /H ER IT AG E IM AG ES /G ET TY IM AG ES ■ Pnyx, monte rochoso, nos arredores da Acrópole, usado como local de realização das assembleias e onde os cidadãos atenienses se reuniam para votar. Atenas, Grécia, 2014. D IM IT RI S_ K/ SH U TT ER ST O CK .C O M Civilizações sedentárias da Antiguidade: Em diver- sas regiões do planeta, desenvolveram-se civilizações com um governo centralizado, que decidia a forma de organização da sociedade e comandava as decisões. São exemplos os egípcios, na África; os povos meso- potâmicos, no Oriente Médio; os chineses, na Ásia; os astecas, na América. Os governantes desses povos tinham grande poder e suas resoluções deveriam ser obedecidas sem grandes contestações. Os gregos e a invenção da política: Na Grécia antiga, os indivíduos se organizaram nas pólis, cidades-Estado. Cada cidade tinha seu próprio governo, seus costumes e suas leis. No início, as decisões eram tomadas por um líder que comandava sem contestação. Aos poucos, os conflitos entre diferentes setores da sociedade cresceram e provocaram mudanças na forma de organização dessas cidades. Em muitas delas, os governantes perderam parte de seu poder. Foram criadas assembleias e outras instituições que passa- ram a reunir os cidadãos para discutir os interesses da comunidade. A grande inovação desse processo foi o fato de que as decisões das assembleias podiam ser contestadas, não eram impostas. Em razão dessas transformações, atribui-se aos gregos a invenção da política tal como a concebemos até os dias de hoje. ■ ANTIGO livro egípcio da morte. Tumba de Kha Merit. Tebas, meados da 18ª dinastia (1550 a.C-1292 a.C.). Papiro. Na antiga civilização egípcia, o faraó era o representante máximo do poder. EB ER E VA N G EL IS TA 29 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 29D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 29 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 Política e justiça Como vimos no capítulo anterior, para Aristóteles, a política era colocada ao lado da ética como a prática social mais importante, pois ambas permitiam organizar a comunidade de modo a assegurar o bem-estar e a felicidade dos cidadãos. Para Aristóteles, o ser humano se diferencia dos demais animais por ser um animal político. Segundo esse pensador, apenas vivendo em comunidade o indivíduo pode se desenvolver e viver de acordo com sua natureza. Um indivíduo isolado ou alheio às questões políticas de sua comu- nidade não é capaz de desenvolver suas virtudes e viver de forma justa. Um dos elementos necessários para uma vida justa, na visão de Aristóteles, é o exercí- cio da justiça distributiva. De acordo com o filósofo grego, a tarefa principal da atividade política é assegurar uma divisão dos recur- sos da comunidade de forma igualitária entre os iguais e desigual entre os desiguais. Isso significa que a justiça distributiva defende uma concepção de justiça que vai além da ideia de igualdade, atingindo o princípio da equidade. Não seria justo, por exemplo, dividir os recursos do governo de forma igualitária entre ricos e pobres. Para assegurar a distribuição justa dos recursos, segundo a perspectiva aristotélica, seria necessário assegurar que os mais pobres recebessem uma parcela maior desses recursos, e que os mais ricos contribu- íssem com mais recursos na forma de impostos e tributos. ■ A justiça normalmente é representada como uma mulher de olhos vendados segurando nas mãos uma espada. Nesta escultura, chamada Sobrevivência do mais gordo (2002), o dinamarquês Jens Galschiot representou uma justiça obesa, carregada por um homem pobre, esquelético e cansado. Ringobin (Dinamarca), 2018. LU KA SS EK /S H U TT ER ST O CK .C O M 30 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 30D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 30 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 Observe a ilustração. O filósofo estadunidense John Rawls (1921-2002) propôs, em 1971, uma teoria da justiça com base na justiça distributiva, buscando viabilizar sua aplicabilidade nas sociedades democráticas contemporâneas, conciliando as noções de liberdade e igualdade. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em grupo, desenvolvam um projeto para assegurar a estudantes com deficiência o prin- cípio da equidade no ambiente escolar. Avaliem essa questão sob a ótica da organização espacial e de outros elementos necessários: equipamentos, acolhimento e boa convi- vência. Sigam estas etapas: a) Façam um levantamento bibliográfico, a fim de identificar os recursos exigidos para cada tipo de deficiência. Por exemplo: Quais recursos devem ser providenciados para que um estudante que use cadeira de rodas possa usufruir a escola da melhor forma possível? b) Identifiquem na escola a existência de estudantes com deficiência e perguntem se eles consideram adequado o atendimento que recebem da comunidade escolar e as condições de acessibilidade do espaço. c) Com base na pesquisa, na entrevista e na observação da estrutura escolar, produ- zam um relatório indicando possíveis ações para atender aos estudantes portadores de necessidades especiais, a fim de que eles tenham condições adequadas de aces- so à educação. Ao final, com a orientação do professor, agendem uma reunião com a comunidade escolar e apresentem as propostas. IGUALDADE EQUIDADE RI CA RD O S AS AK I 31 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 31D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 31 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 Política e cidadania A p olítica tal qual foi concebida pelos gregos exerceu grande influência em diver- sas culturas ao longo do tempo. Os valores gregos influenciaram outros povos da Antiguidade, como os romanos, e foram retomados em diferentes períodos da história. O modelo de política como uma forma de resolução de conflitos em que os cidadãos participam da tomada de decisões se tornou a base das democracias modernas. Assim como os gregos, os países democráticos organizam suas decisões coletivas por meio de diferentes instituições formadas por cidadãos. Essas instituições visam a assegurar que as decisões serão tomadas de forma coletiva em um Estado democrático, impedindo que um indivíduo imponha suas decisões à sociedade. É importante destacar que existe uma diferença importante entre a concepção de cidadania na Grécia antiga e na atualidade. Entre os gregos, apenas uma parcela da população era considerada cidadã: os homens livres nascidos nas cidades. Os estrangeiros, as mulheres e as pessoas escravizadas não eram considerados cida- dãos, portanto não participavam das decisões políticas da pólis. Atualmente, nos países democráticos, todos os indivíduos são considerados cidadãos e têm o direito de participar de diferentes formas das decisões políticas. A participação dos cidadãos nas decisões políticas é fundamental para a criação de uma sociedade mais justa, que garanta o bem-estar de todos. Estado global da democracia ■ A democracia contemporânea funciona com base em uma combinação de instituições e grupos sociais que promovem o equilíbrio do poder. Fonte: INSTITUTO INTERNACIONAL PARA LA DEMOCRACIA Y LA ASISTENCIA ELECTORAL. Índices del estado global de la democracia. Estocolmo: Idea, 2020. Disponível em: https://www.idea.int/es/%C3%ADndices-del-estado-global-de-la-democracia. Acesso em: 9 jun. 2020. Democracia local Aplicação previsível Ausência de corrupção Integridade da mídia Independência judicial Parlamento eficaz Democracia direta Participação eleitoral Participação da sociedade civil Sufrágio Universal Eleição limpa Partidos políticos livres Governo eleito Acesso à justiça Liberdades civis Direitos sociais e igualdadelocal Aplicação previsível Administração imparcial Integridade Parlamento Controle do governo justiça Liberdades Direitos sociais e Direitos fundamentais Sufrágio Universal limpalivres Governo eleito Governo representativo Democracia direta Participação eleitoral civil Engajamento participativo fundamentais Democracia Participação popular e igualdade política ED IT O RI A D E AR TE 32 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 32D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 32 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 A seguir, temos três documentos: uma charge, um quadro informativo de atendimento hospitalar e um excerto da Constituição Federal. Após a leitura, responda ao que se pede. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> ■ A faixa traz os dizeres: “4048a Olimpíada animal”. Título II Dos Direitos e Garantias Fundamentais Capítulo I Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan- tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 20 jul. 2020. 1. Que ideia a charge transmite? 2. Qual é o objetivo do quadro de classificação de risco do hospital? 3. O que o artigo 5o da Constituição Federal determina? 4. Dos três documentos, qual deles está de acordo com a justiça distributiva? Justifique sua resposta, apresentando argumentos referentes a cada um dos documentos. BR EV IT Y, G U Y EN D O RE -K AI SE R AN D R O D D P ER RY © 2 00 6 G U Y & RO D D / D IS T. B Y AN D RE W S M CM EE L SY N D IC AT IO N ED IT O RI A D E AR TE EMERGÊNCIA Caso gravíssimo, com necessidade de atendimento imediato. MUITO URGENTE Caso grave, com risco significativo. Necessita de atendimento urgente. URGENTE Caso de gravidade moderada. Necessita de atendimento rápido, mas pode aguardar. NÃO URGENTE Sem risco de agravamento da saúde. Pode aguardar atendimento ou encaminhamento à Unidade Básica de Saúde. POUCO URGENTE Baixo risco de agravamento da saúde. Pode aguardar atendimento. BEM-VINDO AQUI VOCÊ É ATENDIDO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO. ENTENDA OS NÍVEIS DE GRAVIDADE POR COR. NÃO ESCREVA NO LIVRO Ver nas Orientações para o professor observações sobre o caráter multimodal da página. 33 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 33D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 33 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 Política e poder A ação política é baseada na negociação. Segundo Hannah Arendt, o sentido da política é que os indivíduos estabeleçam relações entre si em liberdade, regulamentando os assuntos por meio do diálogo e do convencimento recíproco. Existe uma relação entre o exercício da política e o do poder, mas o poder não é exercido apenas por meio da política. Quando um adulto ordena a seus filhos pequenos que não pratiquem determinada ação, não está fazendo política, mas exercendo sua autoridade para garantir o bem-estar das crianças. É uma forma de exercício do poder que não passa por negociação e convencimento. A relação que se estabelecia entre senhores e trabalhadores escraviza- dos durante o período de vigência da escravidão no Brasil também não era política. Essa relação era marcada pela violência e não havia preocupação em convencer o escravizado a realizar tarefas por meio de argumentos. Existem diferentes formas de poder, e a política é apenas uma delas. Diversos pensadores estudaram o conceito de poder, já que ele é muito importante para analisar as sociedades e as relações estabelecidas entre os indivíduos ao longo do tempo. O poder está em toda parte O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) foi um desses pensadores. Uma de suas contribuições essenciais para a reflexão sobre poder e política foi a afirmação de que o poder não é algo controlado apenas pelo governo ou por um pequeno grupo de pessoas. Para esse pensador, o poder é uma forma de relação que se dissemina por todas as esferas da sociedade, como vimos no exemplo do adulto que dá uma ordem aos seus filhos. Foucault entende que sempre há uma relação de poder quando indiví- duos tentam influenciar as ações de outros indivíduos. Um professor que chama a atenção dos estudantes para participar da aula está exercendo uma forma de poder, assim como o dono de uma empresa que dá ordens aos seus funcionários ou o médico que passa instruções ao seu paciente. ■ A imagem abaixo expressa a ideia de um professor que exerce pleno poder sobre sua turma de estudantes, inserindo conhecimento em suas mentes sem questionamentos ou resistências. Ilustração de 1910, de uma série de ilustrações francesas publicadas entre 1899 e 1910, representando uma visão de como seriam as escolas no ano 2000. CO LE Çà O P AR TI CU LA R. F O TO : P IC TO RI AL P RE SS /A LA M Y/ FO TO AR EN A 34 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 34D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 34 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 Poder, política e resistência Outra contribuição importante de Foucault para a reflexão sobre o poder é sua afirmação de que todo poder cria resistência. Para Foucault, não existe uma situação na qual alguém possa exercer um domínio sem contestação e obrigar o outro a obedecê-lo indefinidamente. Os africanos escravizados que viveram no Brasil entre os séculos XVI e XIX, por exemplo, sofriam grande violência, mas resistiam de muitas formas: lutando contra os senhores, organizando fugas e formando comunidades, destruindo fer- ramentas, trabalhando com lentidão, mantendo suas tradições e costumes, entre outras. Muitas vezes, a resistência se torna possível a partir da organização política. Para melhor resistir às imposições, os indivíduos podem se organizar em um grupo com interesses comuns. Esse processo é uma forma de política. No Brasil, por exemplo, durante a ditadura civil-militar (1964-1985), a organiza- ção da sociedade civil contra a violência do regime gerou inúmeras ações políticas visando ao retorno da democracia, como manifestações, greves, produção de obras de arte de protesto, entre outras. Assim, mesmo quando o poder é exercido por meio da violência, é possí- vel resistir fazendo uso de práticas políticas. A organi- zação de grupos que atuam de forma coletiva em prol de um objetivo comum permite o fortalecimento dos indivíduos. ■ WAGENER, Z. Divination ceremony and dance (Cerimônia de adivinhação e dança). Brasil, 1630. COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: THE PICTURE ART COLLECTION/ALAMY/FOTOARENA > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Como vimos, a resistência se manifesta de diferentes formas. No presente, muitos jovens orga- nizam ações coletivas em prol de transformações sociais. Essas práticas podem ser entendidas como exemplos de resistência contra as injustiças do mundo contemporâneo. Pense em exem- plos de ações desse tipo organizadas por jovens de sua comunidade ou do Brasil e discuta a importância dessas práticas com seus colegas. 35 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 35D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 35 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 Negação da política Nas eleições de 2018, que elegeram presidente da República, depu- tados estaduais e federais, senadores e governadores, houve o menor número de eleitores jovens no Brasil desde 2002. ■ O gráfico mostra a participação de eleitores jovens nas eleições de 2002 a 2018. Ano de eleição 2002 2006 2010 2014 2018 0 2 4 6 8 em m ilh õe s Com direito a voto facultativo Com título de eleitor Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apud MORENO, A. C.; COSTA, F. Nº de eleitores jovens cai por desilusão com política e falta de identificação com os partidos, avaliam especialistas. G1, 16 ago. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/ noticia/2018/08/16/no-de-eleitores-jovens-cai-por-desilusao-com-politica-e-falta-de-identificacao-com-os-partidos-avaliam-especialistas.ghtml. Acesso em: 9 jun. 2020. No Brasil, o voto é facultativo para pessoas entre 16 e 17 anos. Assim, a queda do número de jovens que participaram das eleições de 2018 demonstra a perda de interesse dessa parcela da população no pro- cesso eleitoral. Cientistas políticos formularam diferentes hipóteses para explicar esse fato, como a insatisfação dos jovens em relação aos rumos políticos do país, a desilusão com a democracia ou a falta de diálogo de partidos políticos com a população, entre outros motivos. Essa situação é apenas um exemplo de um problema mais amplo que é a chamada negação da política. Essa expressão é utilizada para descrever o crescente desinteresse de setores da sociedade na participa- ção política tradicional, por meio de eleições, organização de partidos e associações políticas ou mesmo de envolvimento direto na construção da democracia. Brasil: eleitorado de 16 e 17 anos, 2002-2018 SO N IA V AZ 36 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 36D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 36 16/09/2020 15:2416/09/2020 15:24 Nos últimos anos, o fenômeno da negação da política vem cres- cendo não só no Brasil, mas em diversas partes do planeta, o que representa um grave problema social. As crises sociais e econômicas que provocam o aumento da pobreza e da desigualdade social, os escândalos de corrupção e a incompetência dos políticos na resolução de problemas são alguns dos fatores que provocam a desconfiança da sociedade civil diante das instituições políticas. Nesse contexto, surgem grupos que passam a questionar a impor- tância da democracia e defender ações autoritárias como forma de resolução dos problemas. Desse modo, o princípio central da ação política, a preocupação em convencer o outro por meio da argumentação, começa a se perder e discursos intolerantes ganham força nas redes sociais e em outros espaços cotidianos. Além disso, a desconfiança em relação à política é acompanhada da perda de credibilidade dos meios de comunicação tradicionais, o que abre caminho para a disseminação de fake news. Esse tipo de discurso também enfraquece o diálogo, já que as falsas notícias são afirmações não baseadas em fatos. No lugar do diálogo e do debate democrático, com base em evi- dências, muitas pessoas preferem acreditar em supostas verdades e considerar incorretos e inaceitáveis outros pontos de vista, sem apre- sentar argumentos fundamentados. Como vimos, a política está em toda parte e todos podem exercê- -la. Quando os indivíduos perdem o interesse pela política e deixam de participar do processo, abrem caminho para pequenos grupos ou setores da sociedade se apropriarem do discurso político e passarem a tomar decisões de forma autoritária, e essas decisões afetarão a vida de todos. É muito importante problematizar a questão da negação da política, bem como a desconfiança em relação à democracia, pois é só a partir da construção coletiva de soluções políticas que os problemas sociais do presente poderão ser resolvidos de modo a atender aos interesses e necessidades de todos. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO 1. Com base no gráfico anterior, o que é possível afirmar sobre a participação dos jovens nas eleições brasileiras? 2. Na sua opinião, o que pode ser feito para modificar a situação representada no gráfico? Apresente seus argumentos. 37 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 37D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 37 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. A seguir é reproduzido o trecho de uma reportagem sobre a participação da jovem ativista sueca Greta Thunberg no Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, em janeiro de 2020. Leia o texto atentamente e res- ponda ao que se pede: “Praticamente nada foi feito já que as emissões globais de CO2 não reduziram”, disse Thunberg. “Será necessário muito mais do que isso.” Mais de 43 bilhões de toneladas de dióxido de carbono foram emi- tidos na atmosfera em 2019, quebrando recorde anual, esta- belecido em 2018, em mais de 0,5%, segundo estimativa prévia da organização interna- cional de pesquisa ambiental Global Carbon Project. [...] Segundo o relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2018, a comunidade internacio- nal só poderá emitir mais 420 bilhões de toneladas de dióxido de carbono a fim de evitar que a temperatura média global aqueça em 1,5 °C a partir de 2030. Nas condições atuais, o limite de carbono será ultrapassado em menos de nove anos. ‘PRATICAMENTE nada foi feito’ contra emissões de CO 2 , diz Greta em Davos. Veja, 21 jan. 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/praticamente-nada-foi-feito-contra-emissoes-de-co2- diz-greta-em-davos/. Acesso em: 9 jun. 2020. a) É possível afirmar que Greta Thunberg estava fazendo política no evento do Fórum Econômico Mundial? Justifique. b) A jovem Greta utiliza argumentos científicos para defender sua posi- ção. Qual é a importância desse tipo de argumento para combater a negação da política que marca o mundo contemporâneo? c) Greta é uma jovem ativista. Você considera importante que os jovens se tornem ativistas no contexto atual? Elabore um texto argumenta- tivo sobre a questão. d) O que você sabe sobre o Fórum Econômico Mundial? Essa organiza- ção internacional reúne os principais líderes empresariais e políticos do mundo, além de intelectuais e jornalistas. Pesquise o histórico, os objetivos e as ações dessa organização e reflita sobre a importância que ela tem no contexto atual. ■ A jovem ativista sueca Greta Thunberg discursa no Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, Suíça, em janeiro de 2020. M AR KU S SC H RE IB ER /A P PH O TO /G LO W IM AG ES 38 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 38D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 38 15/09/20 15:0115/09/20 15:01 2. O texto a seguir contextualiza a campanha “Mais do que um voto”, que ocorreu nos Estados Unidos durante as eleições de 2020. Leia o texto atentamente e responda ao que se pede: ■ Eleitor preenche cédula eleitoral nas eleições primárias presidenciais em Louisville, Kentucky (Estados Unidos), em junho de 2020. BR ET T CA RL SE N /G ET TY IM AG ES Em meio a uma onda de indignação contra o racismo, a estrela da NBA [campeonato de basquete dos Estados Unidos] LeBron James e outros atletas e celebridades uniram forças em uma parceria para promover o voto dos negros americanos antes da eleição presidencial de novembro. "Está na hora de finalmente fazermos a diferença", afirmou o jogador do Los Angeles Lakers nesta quarta-feira (10) em entrevista ao jornal The New York Times. Com o nome de "Mais do que um voto", a associação incentivará os afro-ame- ricanos a se registrarem como eleitores e a votar nas eleições presidenciais de 3 de novembro. Ao mesmo tempo, os membros da associação usarão suas redes sociais como plataforma para alertar sobre qualquer tentativa de interferir no direito de voto das minorias no país. FRANCE PRESSE. LeBron James e outras estrelas do esporte farão campanha pelo voto afroamericano. G1, 11 jun. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2020/noticia/2020/06/11/lebron-james-e- outras-estrelas-do-esporte-farao-campanha-pelo-voto-afro-americano.ghtml. Acesso em: 14 ago. 2020. a) De que forma é possível relacionar a campanha “Mais do que um voto” com o problema da negação da política no presente? b) O movimento visa mobilizar a população afro-americana a participar das eleições nos Estados Unidos. Nesse sentido, esse movimento pode ser visto como um exem- plo de ação de resistência em uma sociedade com grande desigualdade racial como os Estados Unidos. Justifique essa ideia. c) Você acredita que no Brasil seriam importantes movimentos semelhantes ao “Mais do que um voto”? Por quê? d) Imagine que vocêvai organizar uma campanha para estimular a participação da população nas eleições. Como você faria isso? Discuta o tema com seus colegas. 39 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 39D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 39 15/09/20 15:0215/09/20 15:02 INVESTIGAÇÃO> O slam como forma de resistência Slam (slam poetry) é um estilo de poesia apresentada em forma de batalha e, por isso, também conhecido como batalha de slam. Os poetas devem ler ou recitar produção autoral, sem uso de adereços ou instrumentos, mas podem apresentar performances. ■ Apresentação de slam em CIEP da cidade do Rio de Janeiro (RJ), 2020. BE LG A/ FO TO AR EN A O termo slam teve origem em Chicago, nos Estados Unidos, em 1984, e seu sig- nificado está relacionado ao som de uma batida de porta ou janela. Atualmente, as batalhas de slam são realizadas em mais de 500 comunidades do mundo. No Brasil, todos os anos acontece o Slam BR – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, cujo vencedor compete na Copa do Mundo de Slam, realizada anualmente na França. Esse acontecimento poético dá voz a poetas da periferia, que trazem à tona questões da contemporaneidade, convidando o público a refletir sobre os temas abordados e provocando a tomada de consciência política. Os temas normalmente estão relacionados à realidade das periferias, como racismo, feminismo, desemprego, violência. Por isso, o slam é uma forma de resis- tência e, como tal, uma prática política. Com base nessas informações e em outras pesquisas, organize, coletivamente, uma batalha de slam na escola. Para iniciar essa atividade, em primeiro lugar, converse com os professores sobre como efetivar esse evento. 40 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 40D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 40 15/09/20 15:0215/09/20 15:02 Em seguida, com a ajuda de seus colegas, organize a turma em duplas ou trios para a criação das poesias e monte as chaves para determinar a ordem de confronto entre as duplas e trios, desde a primeira fase até a final. A ideia é que o número de participantes se reduza a cada fase. Após a organização do evento, escolha os professores que serão os jurados para determinar quem venceu cada confronto. É importante discutir previamente as regras de avaliação, de modo que todos tenham clareza dos critérios. Com o evento planejado, é o momento de criar os slams. Para isso, os grupos devem selecionar os temas das poesias e pesquisar informações. Também é inte- ressante buscar na internet exemplos de slams para ter uma ideia mais clara sobre o formato dessa produção. Com as poesias finalizadas, é importante ensaiar a apresentação. Caso nem todos os membros do grupo se sintam à vontade para se apresentar, é possível selecionar um representante. É necessário, porém, que todos os grupos apresentem suas produções no momento do confronto. Pronto, agora basta iniciar o evento. É importante respeitar os colegas e acom- panhar atentamente as apresentações de todos. Além disso, é interessante registrar as apresentações por meio de fotos ou filmagem. Caso o grupo esteja de acordo, é possível divulgar as batalhas nas redes sociais. Ao final, organizem uma etapa de discussão com todos os participantes, para entender como cada um interpretou os poemas e de que forma a atividade ajudou a refletir sobre nossa sociedade. ■ Grande final do Slam BR 2019 – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, no Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), 2019. BE RI TH EI A/ FO TO AR EN A 41 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 41D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 41 15/09/20 15:0215/09/20 15:02 PLANEJAMENTO Reúnam-se com os demais colegas de sala e sigam os passos: 1. Identifiquem e mapeiem outras escolas públicas ou particulares da região onde vocês estudam que tenham turmas de Ensino Médio. 2. Elaborem em conjunto um questionário sobre bullying para ser aplicado aos estudantes da sua escola e de outras instituições de ensino. Para isso, utilizem a Escala de Likert, que, basicamente consiste em apresentar afirmações aos entrevistados e pedir que eles escolham uma numeração entre 0 e 10, sendo 0 correspondente a “nunca” e 10, “com muita frequência”, ou, ainda, 0 para “discordo totalmente” e 10 para “concordo totalmente”. 3. Vocês não irão entrevistar todos os estudantes da escola, mas fazer uma pesquisa de amostra- gem, assim como fazem vários institutos de pesquisa. Para isso, é importante saber o número de estudantes de Ensino Médio que existe em cada escola e estabelecer, juntos, qual é a por- centagem de estudantes que serão entrevistados. Por exemplo, caso a escola onde será feita a entrevista tenha 240 estudantes no período da manhã e vocês queiram uma amostragem de 10%, devem entrevistar 24 estudantes. Há várias formas de selecionar os entrevistados. Uma sugestão é pedir que os estudantes se voluntariem. 4. Ainda sobre a elaboração do questionário, criem frases simples, de fácil entendimento, façam uma divisão para enquadrar as afirmações entre as Escalas de Likert, de 0 a 10: “Nunca ou com muita frequência” (pode ser chamada de Pesquisa A) ou “Discordo totalmente e concordo totalmente” (pode ser chamada de Pesquisa B). Não se esqueçam de incluir todos os tipos de bullying identifi- cados anteriormente e outros que vocês julguem ter importância em relação ao tema pesquisado. Formulem afirmações que busquem avaliar se o entrevistado já foi um agressor ou uma vítima, mais uma vez sem emitir juízo de valor. Todos os grupos devem aplicar a mesma entrevista. 5. É possível deixar uma questão ou um espaço aberto, caso o entrevistado queira dar algum depoimento, citar exemplos ou fazer comentários. É importante garantir que os estudantes entre- vistados tenham a opção de responder à pesquisa anonimamente para manter sua privacidade, mas é necessário que forneçam dados como idade e ano que estão cursando. 6. Tenham em mente que o público-alvo da pesquisa são estudantes do Ensino Médio da própria escola e de outras escolas da região. Dividam os grupos de pesquisa para cada escola, orga- nizem-se para calcular quantas entrevistas devem ser aplicadas em cada escola, avaliar as melhores datas para realizar as entrevistas e as melhores formas de deslocamento, bem como decidir se utilizarão questionários impressos em papel ou formulários disponibilizados pela inter- net. Marquem uma data final comum a todos os grupos para apresentar os resultados coletados. 7. Como metodologia de pesquisa, vocês irão utilizar o método de amostragem, que consiste em um estudo estatístico para investigar a experiência ou a opinião de um determinado grupo de pessoas. Nesse caso, o universo pesquisado são estudantes do Ensino Médio, a população da pesquisa são estudantes do Ensino Médio das escolas escolhidas pela turma que se dispuserem voluntariamente a responder a pesquisa. A proposta é que vocês entrevistem 10% da popula- ção da pesquisa. Para isso, calculem a quantidade de estudantes que vocês devem entrevistar, anotem os nomes dos voluntários e façam um sorteio entre eles. Os sorteados que serão entre- vistados compõem a amostra de vocês. 8. Com ajuda de um professor ou da coordenação da escola, redijam uma carta dirigida à coordena- ção e aos estudantes das escolas que vocês visitarão, explicando os objetivos e a forma como a pesquisa será feita. Etapa 2 42 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 42D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 42 15/09/20 15:0215/09/20 15:02 Memórias da ditadura Disponível em: http://memoriasdaditadura.org.br/ O site traz diversos registros de ações organizadas por diferentes setores da sociedade civil durante a ditadura, o que ajuda a refletir sobre as práticas de resistência da sociedade civil durante o período ditatorial no Brasil. Entendendo ética: um guia ilust rado Dave Robinson e Chris Garrat. São Paulo: Leya, 2017. O livro combina uma linguagem didática com quadrinhos para explorar alguns dos principaisproblemas e debates da reflexão ética ao longo do tempo. Dessa forma, é uma excelente obra introdutória para conhecer mais sobre o campo da ética e suas implicações para as sociedades humanas. A náusea Jean-Paul Sartre. São Paulo: Nova Fronteira, 2019. O livro, que é uma das diversas obras literárias escritas pelo filósofo francês, oferece a oportunidade de conhecer melhor suas ideias e refletir sobre suas propostas éticas. Nesse romance, o intelectual Antoine Roquetin faz uma profunda reflexão ética ao enfrentar o problema da ausência de sentido da vida. Nossa casa está em chamas: ninguém é pequeno demais para fazer a diferença Greta Thunberg et al. São Paulo: BestSeller, 2019. Escrita de forma colaborativa por Greta Thunberg, sua mãe e seus familiares, o livro narra o envolvimento da jovem ativista sueca na luta contra a destruição do meio ambiente. Por meio dessa narrativa, é possível refletir sobre a importância da política na construção de um mundo justo para todos. Ética e vergonha na cara! Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho. São Paulo: Papirus, 2014. Nesse livro, os dois pensadores brasileiros refletem sobre questões éticas e políticas a partir de situações cotidianas. A obra pode ajudar a aprofundar alguns temas estudados na unidade. A vida não é útil Ailton Krenak. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. As ideias do autor constituem um exemplo de resistência às relações de poder que marcam as sociedades contemporâneas. O livro é uma excelente introdução ao pensamento de Krenak, que dialoga com alguns problemas éticos e políticos importantes no mundo contemporâneo. Depois da verdade: desinformação e o custo das fake news Direção: Andrew Rossi. Estados Unidos, 2020. Vídeo (95 min). Disponível em: https://www.hbogo. com.br/. Acesso em: 22 jul.2020. Esse documentário analisa o impacto das fake news no mundo contemporâneo a partir de exemplos ocorridos nos últimos anos nos Estados Unidos. > SAIBA MAIS 43 D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 43D3-CH-EM-3075-V2-U1-C2-026-043-LA-G21_.indd 43 16/09/2020 15:2416/09/2020 15:24 PR ET A IL U ST RA (V AN ES SA F ER RE IR A) 44 PR ET A IL U ST RA (V AN ES SA F ER RE IR A) UNIDADE 44 Direitos humanos Os direitos dos cidadãos são resultado da luta de pessoas que sonharam e ainda sonham com um mundo mais justo e sem opressão. Os direitos que usufruímos hoje foram conquis- tados graças à participação ativa de muitas pessoas que não se intimidaram perante injustiças e lutaram por igualdade de direitos civis, políticos, econômicos e sociais. A cidada- nia, porém, se constrói todos os dias e muitos direitos continuam sendo conquistados graças à nossa capacidade de organização e intervenção social. Nesta unidade vamos conhecer um pouco dessa história. 2 1. Você já se sentiu desrespeitado como cida- dão ou já presenciou alguém ser vítima de desrespeito? Qual foi sua reação? 2. Além de direitos, a cidadania estabelece deveres. Em uma roda de conversa, debata com seus colegas quais são os principais de- veres de um cidadão que se preocupa com o coletivo e como isso contribui para a con- solidação de uma sociedade democrática. NÃO ESCREVA NO LIVRO D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 44D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 44 16/09/20 22:4816/09/20 22:48 45 ■ Ilustração criada por Preta Ilustra (Vanessa Ferreira), 2020. D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 45D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 45 16/09/20 22:4816/09/20 22:48 CAPÍTULO 3 Em busca da cidadania É muito comum encontrarmos pessoas para quem a ideia de cida- dania significa apenas ter o direito de votar livremente na época das eleições. O direito ao voto é, sem dúvida um exemplo de prática da cidadania. Entretanto, o termo não se resume a isso; ele é muito mais amplo. Cidadania é a condição do cidadão que, como membro de um Estado, tem pleno direito de participar da vida política e tomar parte das decisões do governo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído, sem poder participar das decisões. Os direitos do cidadão, no entanto, não surgiram ao acaso nem se desenvolveram de modo linear. Eles são resultado de muitas idas e vindas ao longo dos séculos, e sua existência é fruto de conquistas de muitas pessoas que lutaram e ainda lutam por um mundo sem opres- sões e desejam uma sociedade mais justa. Direitos como manifestar ideias livremente, praticar uma religião, ter tratamento igual perante a lei, por exemplo, só se tornaram realidade porque, no passado, muitos batalharam – e até morreram – por esses ideais. Por isso, costuma-se dizer que a cidadania não é algo acabado, mas algo que se constrói todos os dias. Neste capítulo, você verá como se deu o processo de formação do conceito de cidadania que conhecemos no presente. Ele começou ainda no século XVII, na luta dos ingleses contra o absolutismo, e se consoli- dou no século seguinte, com a Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. E, mesmo variando de um país para o outro, ainda hoje esse conceito está em constante mudança.o outro, ainda hoje esse conceito está em constante mudança. ■ Voluntários trabalham em produção emergencial de sacolas de alimentos durante a pandemia do novo coronavírus (covid-19), em Oakland, Califórnia (Estados Unidos), 2020. STEPHEN LAM/REUTERS/FOTOARENA 4646 Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 46D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 46 16/09/2020 18:5016/09/2020 18:50 ■ Crianças em Lunana Gewog, distrito de Gasa (Butão), 2017. PA SC AL B O EG LI /A LA M Y/ FO TO AR EN A É possível ser feliz? O que é a felicidade? Ela também é um direito do cidadão? Para alguns, felicidade é passar bons momentos ao lado da família. Para outros, viajar ou ter algum hobby, como tocar um instrumento, praticar esportes ou ir a baladas com os amigos. Há quem encontre a felici- dade na religião, assim como há pessoas que se sentem felizes quando compram algo que há muito tempo desejavam. A ideia do que é felicidade varia de pessoa para pessoa. O soció- logo holandês Ruut Veehoven (1942-), uma das principais autoridades mundiais a respeito do assunto na atualidade, estuda como a felicidade pode ser considerada uma medida confiável para avaliar o desenvolvi- mento das sociedades. Para ele, a felicidade pode ser entendida como “o grau de satisfação de um indivíduo com sua qualidade de vida”. Ou seja, quanto mais uma pessoa estiver satisfeita com a vida que leva, mais feliz ela é. O Butão, país asiático encravado entre a China e Índia, criou, em 1972, a Felicidade Interna Bruta (FIB), um conceito de desenvolvimento social que faz contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB), indicador econômico utilizado para calcular a riqueza das nações. Enquanto o PIB é medido considerando todos os bens e serviços produzidos por um país ao longo de um determinado período, o FIB é medido considerando variantes como preservação e promoção dos valores culturais, igualdade entre gêneros, liberdade de pensamento, saúde da população, entre outras. 47 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 47D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 47 18/09/2020 00:0218/09/2020 00:02 Reflexões sobre a felicidade Diferentes sociedades humanas formularam reflexões sobre o que significa a felicidade. Na Antiguidade, essa questão foi analisada por diversos filósofos que discorreram sobre o melhor caminho para conquistá-la. Epicuro (341 a.C.-270 a.C.) considerava a felicidade o verdadeiro propósito da vida. Para alcançá-la, o filósofo recomendava a vida em comunidade, o fortalecimento dos laços de amizade, a liberdade e o exercício da filosofia. Segundo a doutrina epicurista, a busca indiscrimi- nada de prazeres é fonte de perturbações que causamdor e sofrimento, portanto cultivar o prazer das coisas simples e habituar-se a um modo de vida não luxuoso são atitudes que proporcionam uma vida feliz. Sócrates (c. 469 a.C.-399 a.C.) defendia a ideia de que a felicidade só podia ser atingida por meio de uma conduta justa e virtuosa. Para o filósofo, o autoconhecimento era importante para que as pessoas pudessem examinar a si próprias com o objetivo de abandonar as falsas opiniões que guiariam seus atos de forma errada, conduzindo à infelicidade. Platão (c. 427 a.C.-347 a.C.), discípulo de Sócrates, entendia a feli- cidade como finalidade última do ser humano e de suas ações. Ela seria alcançada pelos indivíduos que agissem conforme a sua própria natureza. Sendo felizes, as pessoas contribuiriam para a felicidade dos demais membros de sua comunidade, no caso, a pólis. A felicidade, para Platão, não tinha um caráter individualista, mas coletivo. Para Immanuel Kant (1724-1804), a busca pela felicidade individual não podia ser um fim em si mesma, mas estaria condicionada aos prin- cípios da moralidade que deveriam orientar a vida de todos. Essa tese influen- ciou outros pensadores, fortalecendo a ideia de que a felicidade individual não era o princípio central que conduziria a uma vida ética. Ao longo do tempo, outros filósofos abordaram o problema da felicidade, como Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Gottfried Leibniz (1646-1716). ■ STROHMAYER, A. Jardim do filósofo, Atenas, óleo sobre tela,1834. O Jardim de Epicuro era uma comu- nidade onde todos viviam basicamente do consumo de hortaliças cultivadas pelos pró- prios moradores. CO LE Çà O P AR TI CU LA R. F O TO : A RC H IV ES C H AR M ET /B RI D G EM AN IM AG ES /F O TO AR EN A 48 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 48D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 48 18/09/2020 00:0218/09/2020 00:02 A felicidade como direito humano No século XVIII, alguns pen- sadores europeus começaram a refletir a respeito da felicidade como um valor social, um direito natural inerente ao ser humano. Ser feliz era, assim, um projeto de sociedade. A crença nessa ideia ganhou força porque, com a Revolução Industrial – iniciada naquele mesmo século –, trabalhadores passaram a produzir em grandes quantidades os bens necessários para se viver de forma mais confortável. Muitos cientistas, filósofos e pensadores iluministas acreditavam que, com aqueles avanços, seria possível sonhar com uma sociedade em que a miséria e as desigualda- des sociais fossem reduzidas. Assim, seria viável a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, capaz de, em um futuro não tão dis- tante, assegurar a felicidade de toda a população. Essas ideias influenciaram o pensamento social e político da época, ganhando contornos mais claros no processo de Independência dos Estados Unidos, em 1776. No documento elaborado pelos líderes revolucio- nários estadunidenses, que declarava as colônias inglesas livres do domínio britânico, encontra-se a seguinte afirmação: “Todos os homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, [e] que entre esses estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. Para aqueles líderes, a felicidade era entendida como um direito inerente ao indivíduo. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Pensando em seus sentimentos, reflita e responda: O que o faz feliz? Você compartilha sua felicidade com alguém? Como você lida com os mo- mentos em que se sente triste? Você procura ajuda nesses momentos? E quando você encontra alguém triste, você tenta ajudar essa pessoa? Em seguida, compare sua resposta com a de outro colega da sua sala, procurando encontrar semelhanças e diferenças. ■ ARMAND-DUMARESQ, C. E. Declaração da Independência dos Estados Unidos, 4 de julho de 1776. c. 1873. Óleo sobre tela, 74,9 cm x 120,5 cm. TH E W H IT E H O U SE H IS TO RI CA L AS SO CI AT IO N , W AS H IN G TO N , D C, E UA . 49 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 49D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 49 18/09/2020 00:0218/09/2020 00:02 Hobbes e a soberania popular As raízes dessa luta por direitos, que tanto influenciou a Independência dos Estados Unidos, podem ser encon- tradas em duas outras revoluções ocorridas no século XVII, na Inglaterra. Conhecidas como Revoluções Inglesas, elas foram fundamentais para pro- mover uma mudança nas relações de poder, não só na sociedade como também no Estado inglês. Na época, a Inglaterra era uma monarquia absolutista, ou seja, o poder do rei não se encontrava limitado por nenhum outro poder, exceto “pelas leis de Deus”. Os monarcas entendiam que seu poder havia sido concedido diretamente por Deus, princípio conhecido como direito divino dos reis. No entanto, o filósofo Thomas Hobbes publicou, em 1651, o livro Leviatã, no qual contesta essa origem do poder real. Para Hobbes, a origem do poder não é divina, mas é criada a partir de um contrato estabele- cido com cada indivíduo que forma a sociedade. De acordo com Hobbes, os indiví- duos transferem seu poder a um indivíduo ou a uma assembleia, dando origem ao soberano. O dever do soberano é cuidar da defesa nacional e criar leis que garantam a segurança interna. Nesse sentido, o poder do soberano origina-se da soberania popular. Para Hobbes, a única forma de organizar a sociedade seria assegurar que o soberano passasse a concentrar todo o poder, já que isso evitaria conflitos internos, que poderiam provocar a desintegração do Estado. Ao mesmo tempo em que defende o absolutismo, Hobbes prega a existência de direitos inalienáveis aos seres humanos. Entre eles, o direito à vida, à propriedade e à iniciativa privada. Inovadoras para a época, as ideias de Hobbes trazem em si os elementos fundadores do pensamento liberal. Liberal Adepto do liberalismo, doutrina que defende a liberdade individual nos campos econômico, político, religioso e intelectual. ■ Frontispício da pri- meira edição da obra Leviatã, de Thomas Hobbes, publicada em 1651. G RA N G ER /F O TO AR EN A 50 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 50D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 50 18/09/2020 00:0218/09/2020 00:02 Locke e os direitos individuais Em 1688, a burguesia inglesa liderou a Revolução Gloriosa (1688-1689), res- ponsável por acabar com o absolutismo no país e trans- formar a Inglaterra em uma monarquia constitucional. Um dos marcos dessa revolução foi a assinatura, por parte do rei, da Bill of Rights (Declaração de Direitos). Esse documento sig- nificou o reconhecimento do rei de que seus poderes eram limitados pelo Parlamento, ao mesmo tempo em que assegu- rava que o Estado respeitaria os direitos individuais da população. A Bill of Rights pode ser considerada o ponto de partida para a construção de uma sociedade baseada em um Estado de direito, ou seja, que defende os direitos dos cidadãos. Um ano depois da assinatura, em 1690, a questão dos direitos indi- viduais ganharia novo destaque, desta vez com a publicação de Dois tratados sobre o governo civil, do filósofo inglês John Locke. Diferentemente de Hobbes, Locke era contrário ao absolutismo e defendia alguns dos elementos que hoje norteiam um regime cons- titucional, como o fato de que o Poder Legislativo deve ser formado por representantes eleitos pelo povo, renovados periodicamente, e de que as decisões do eleitorado e do Parlamento devem ser tomadas por maioria e obedecidas por todos, mesmo por aqueles que não concor- dam com elas. Locke teve um papel importante na disseminação da ideia de que as pessoas são detentoras de direitos individuais naturais, entre eles, o direito à vida, à liberdade, à saúde. Esses ideais influenciaram os líderes da Revolução Americana, de 1776, bem como afetaram de maneira decisiva a Revolução Francesa, de 1789. ■ William desembar- candoem Torbay, Devon, 5 de novem- bro de 1688 com tropas no início da Revolução Gloriosa. c. 1754. Gravura. U N IV ER SA L H IS TO RY A RC H IV E/ G ET TY IM AG ES > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em um governo absolutista, o poder se concentra nas mãos de uma pessoa, diferentemente de um regime democrático, no qual há uma divisão de poderes. Com base em seus conhecimentos e na leitura do capítulo, cite três aspectos positivos da divisão de poderes entre diferentes esferas. 51 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 51D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 51 18/09/2020 00:0318/09/2020 00:03 Direitos universais A Revolução Francesa (1789-1799) foi uma revolução social com grande participação popular, que teve como lema “liberdade, igualdade e fraternidade” e que pode ser considerada o ápice do processo histó- rico de luta por direitos civis iniciado no século XVIII. O movimento foi liderado pela burguesia, mas dele também fizeram parte outros grupos sociais, como camponeses e trabalhadores urbanos. Os revoltosos pertenciam ao chamado Terceiro Estado, maior grupo social da França, e eles se rebelaram contra o absolutismo do rei Luís XVI e contra os privilégios do clero (Primeiro Estado) e da nobreza (Segundo Estado). Entre esses privilégios, estavam a isenção de diversos impostos e o direito a julgamentos em tribunais próprios. A revolução se estendeu por dez anos, ao longo dos quais o movimento obteve avanços e enfrentou retrocessos. Porém, uma das conquistas mais importantes foi quando os revolucionários consegui- ram decretar o fim desses privilégios e proclamaram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789. Nos 17 artigos desse documento, os franceses procuraram reunir tanto as proteções legais dos direi- tos fundamentais como estabelecer as bases jurídicas do governo. Eles criaram uma sociedade de cidadãos juridicamente iguais. Em seu pri- meiro artigo, a declaração dizia que “todos nascem e permanecem livres e iguais em direitos”. Nela também estavam assegurados o direito à pro- priedade, à segurança, à resistência à opressão, bem como à liberdade de imprensa. Estavam também proi- bidas ordens arbitrárias e punições desnecessárias. Uma característica inédita desse documento é que ele não era voltado exclusivamente ao povo francês, tinha um caráter universal. Ou seja, pretendia abarcar a humanidade como um todo, independentemente de país ou etnia. Começava a se con- solidar, dessa maneira, a ideia de cidadania que conhecemos hoje. ■ LE BARBIER, J-J. F. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. 1789. Óleo sobre madeira, 71 cm x 56 cm. Museu Carnavalet, Paris, França. Direitos civis Direitos que o governo garante aos cidadãos, como o direito ao voto. M U SE U C AR N AV AL ET , P AR IS , F RA N ÇA . 52 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 52D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 52 18/09/2020 00:0318/09/2020 00:03 Os textos a seguir foram produzidos durante a Revolução Francesa: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, escrita em 1791 por Olympe de Gouges (1748-1793). As propostas de Olympe foram recusadas pela Assembleia Legislativa francesa, mas seu documento tornou-se um importante manifesto em favor da igualdade de gêneros e foi retomado por outros movimentos ao longo do século XIX. Leia os excertos selecionados e responda ao que se pede. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> ■ KUCHARSKI, A. Retrato de Olympe de Gouges. (Detalhe). CO LE Çà O P AR TI CU LA R. F O TO : F IN E AR T IM AG ES /A LB U M / FO TO AR EN A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão Art. 1o Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. [...] Art. 10o Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religio- sas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. [...] Art. 15o A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração. DECLARAÇÃO de Direitos do Homem e do Cidadão – 1789. Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o- da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html. Acesso em: 15 ago. 2020. Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã Artigo primeiro A Mulher nasce livre e permanece igual ao homem em direitos. As distinções sociais só podem ser fundamentadas no interesse comum. [...] Artigo dez Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo que sejam de princípio; a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; mas ela deve igualmente ter o direito de subir à tribuna, contanto que suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei. [...] Artigo quinze O conjunto das mulheres, igualadas aos homens na contribuição, tem o direito de pedir contas de sua administração a qualquer agente público. GOUGES, O. de. Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. INTERthesis, Florianópolis, v. 4, n. 1. jan./jun. 2007. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/article/view/File/911/10852. Acesso em: 15 ago. 2020. Com base em seus conhecimentos e nos fragmentos, responda: a) Quais são as semelhanças e diferenças observadas entre os artigos desses dois documentos? b) Nos artigos citados, quais são os direitos reivindicados pelas mulheres? Esses direitos fazem parte da realidade das mulheres no Brasil hoje? c) Olympe de Gouges ressalta uma questão central para o exercício da cidadania, em seu documento: a importância da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Por que essa igualdade é necessária para o pleno exercício da cidadania? NÃO ESCREVA NO LIVRO 53 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 53D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 53 18/09/2020 00:0318/09/2020 00:03 Cidadania hoje A cidadania consolidada pela Revolução Francesa, e que está na base do conceito de cidadania que temos hoje, é chamada pelos his- toriadores de cidadania liberal. Como vimos, ela é fruto de um longo processo de conquistas, como o direito à igualdade política, advindo com a Declaração de Direitos (1689), da Revolução Gloriosa; a conquista da autodeterminação, com a Revolução Americana (1776); a conquista da igualdade jurídica, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). A cidadania liberal rompeu com a ideia de que os indivíduos eram súditos de um rei ou de uma rainha e que tinham apenas deveres a cumprir. Os súditos tornaram-se cidadãos, com deveres, mas também com direitos. A luta pela conquista de direitos, inclusive, ampliou-se ao longo do tempo. A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, provocou o surgi- mento do operariado, que, unido em torno de sindicatos e associações, começou a lutar por melhores condições de trabalho, melhores salários e leis de proteção ao trabalhador. E muitas dessas reivindicações torna- ram-se realidade durante os séculos XIX e XX. Assim, expandiu-se a ideia do que é ser cidadão. O historiador Jaime Pinsky (1939-) nos apresenta a seguinte definição em torno do que é ser cidadão nos dias de hoje: Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direi- tos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais. PINSKY, J. História da cidadania. São Paulo: Contexto,2003. p. 9.PINSKY, J. História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 9. ■ Pessoa em situação de rua em Sumaré (SP), 2017. JO ÃO P RU D EN TE /P U LS AR IM AG EN S 54 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 54D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 54 18/09/2020 00:0318/09/2020 00:03 Conceito em mudança permanente A própria ideia de cidadania está em mudança permanente. Ela varia de uma nação para outra, de um momento histórico para outro. Se, hoje, esse conceito é cada vez mais inclusivo, na antiga Grécia, onde a ideia da cidadania surgiu, ele tinha um caráter excludente. Nas antigas pólis, nem todos tinham direitos de cidadania. As pessoas escraviza- das, por exemplo, tinham muito menos direitos que os cidadãos livres. Além disso, mulheres e estrangeiros não podiam participar da vida política da cidade. Ainda hoje, o conceito de cidadania varia de um lugar para outro. Ser cidadão, no Brasil, é diferente de ser cidadão nos Estados Unidos ou na França. Uma das grandes questões na atualidade é como garantir a cidadania a todos, considerando as diferenças étnicas, religiosas, culturais, sociais e econômicas observadas em um mundo cada vez mais globalizado, plural e multicultural. São questões para as quais ainda não se tem uma resposta, mas, como afirma o historiador Peter Demant (1951-), para que a cidadania beneficie a todos, é neces- sário que as relações entre maioria e minorias, inclusive em nível institucional (leis, políticas públicas etc.), sejam renovadas de modo a considerar os interesses de toda a população, não apenas os das elites. ■ Refugiados e migrantes chegam a bordo de um barco inflável à ilha de Lesbos (Grécia), 2020. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Observe as fotografias desta página e da página anterior. Em sua opinião, as pessoas retratadas têm seus direitos de cidadão assegurados? Em sua comunidade, existem grupos que carecem desses direitos? Justifique suas respostas. AR IS M ES SI N IS /A FP 55 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 55D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 55 18/09/2020 00:0318/09/2020 00:03 Cidadania e espaço Diante do que você estudou até agora, quantos habitantes do Brasil são cidadãos? Quantos não sabem que não são cidadãos? Essas, entre outras perguntas, fazem parte das reflexões feitas pelo geógrafo Milton Santos (1926-2001) no livro O espaço do cidadão, lançado em 1987, quando nosso país acabava de entrar no processo de redemocra- tização e muitos defendiam que havia um longo caminho na luta pelos direitos de toda a população. Desde então, houve inúmeros avanços em relação aos direitos dos cidadãos, o que se refletiu em melhorias nas condições de vida das pessoas nos mais diversos setores, como a ampliação do acesso à edu- cação e à saúde. No entanto, sabemos que ainda há muito o que ser feito para ampliar esse acesso e, principalmente, a qualidade de diversos serviços, ao mesmo tempo em que verificamos retrocessos com gover- nos que não têm um compromisso real com políticas públicas. Ao analisarmos a cidadania e a conquista de direitos do ponto de vista da Geografia, e voltando a Milton Santos, dirigimos o olhar para o espaço que, muitas vezes, é caracterizado por vazios. Não se trata aqui de “vazios populacionais”, mas de “vazios de cidadãos” verificados na ausência de fixos sociais, dos quais fazem parte a infraestrutura que garante os direitos sociais, como hospitais e escolas. Segundo Milton Santos, os fixos são a parte material do espaço geográfico, ou seja, objetos que resultaram do trabalho humano e passaram a ter uma função. Há fixos sociais e cultu- rais, econômicos, religiosos etc. Também podem ser públicos e privados. Exemplos de fixos são as fábricas, os bancos, os templos religiosos, os shoppings etc. Já as ações e práticas são os fluxos. Os fixos e os fluxos formam um conjunto inseparável que compõe o espaço geográfico. Leia, a seguir, um trecho de O espaço do cidadão sobre isso: Olhando-se o mapa do país, é fácil constatar extensas áreas vazias de hospitais, postos de saúde, escolas secundárias e primárias, infor- mação geral e especializada, enfim, áreas desprovidas de serviços essenciais à vida social e à vida individual. O mesmo, aliás, se veri- fica quando observamos as plantas das cidades em cujas periferias, apesar de uma certa densidade demográfica, tais serviços estão igual- mente ausentes. É como se as pessoas nem lá estivessem. SANTOS, M. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: Edusp, 2007. p. 59. 56 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 56D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 56 18/09/2020 00:0318/09/2020 00:03 Esses vazios de cidadãos podem ser verificados em diferentes escalas espaciais: quando se comparam as grandes regiões, unidades da federação, municípios e regiões dentro dos municípios, e quando se verificam vazios nas periferias das cidades. Para que não fiquemos apenas na constatação dos vazios de cida- dãos, vale lembrar que não há outro caminho para reduzir ou eliminar tais vazios que não o da participação democrática de toda a população. Essa participação, como já vimos, vai muito além do voto, devendo cada cidadão estar alerta, cobrar as autoridades e manifestar-se, sempre con- siderando a lei maior do país, a Constituição. ■ Rua alagada no bairro Terra Firme. Os mora- dores convivem com esgoto a céu aberto e frequentes alaga- mentos do canal Lago Verde, que cruza o bairro. Belém (PA), 2019. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Observe atentamente a fotografia desta página e analise a cena retratada com base no conceito de vazio de cidadãos. PE D RO L AD EI RA /F O LH AP RE SS 57 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 57D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 57 18/09/2020 00:0318/09/2020 00:03 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Durante a pandemia de covid-19 no Brasil, em 2020, foram amplamente divulgadas as diferenças entre os fixos relacionados ao direito à saúde e, por consequência, ao direito à vida. Veja o mapa a seguir e responda ao que se pede. Se consideramos o conceito de vazio de cidadãos no mapa acima, em quais regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) os vazios estão concentrados? E, no interior dessas regiões, há diferenças? 2. Releiam a definição de “o que é ser cidadão”, na p. 54, escolham um dos direitos e discutam de que forma ele é atendido em sua comunidade. Como provocação da discussão, adaptem as perguntas feitas por Milton Santos, verificando se há vazios de cidadãos: Quantos cidadãos há na comunidade? Quantas pessoas não sabem que não são cidadãs? Pense em ações, de diferentes atores, que possam garantir tais direitos ou ampliá-los. Fonte: 43% DA POPULAÇÃO brasileira mora em municípios sem estrutura recomendada de respiradores ou leitos de UTI. FGV Dapp, 6 abr. 2020. Disponível em: http://dapp.fgv.br/43-da-populacao-brasileira-mora-em-municipios-sem- estrutura-recomendada-de-respiradores-ou-leitos-de-uti/. Acesso em: 1 ago. 2020. Brasil: proporção da população em municípios sem registro de respiradores/ventiladores, 2020 OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Equador Trópico de Capricórnio 50° O 0° De 0 a 9 De 9,1 a 19 De 27,1 a 41,6 De 41,7 a 100 De 19,1 a 27 Percentual da população por região intermediária em municípios sem registro de respiradores/ventiladores Capital de estado Divisa regional Capital de país 0 355 Rio Branco Maceió Macapá Manaus Salvador Fortaleza Vitória Goiânia São Luís Cuiabá Campo Grande Belo Horizonte Belém João Pessoa Curitiba Recife Teresina Rio de Janeiro Natal Porto Alegre Porto Velho Boa Vista Florianópolis São Paulo Aracaju Palmas BRASÍLIA D AC O ST A M AP AS 58 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 58D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21_AVU2.indd 58 16/09/20 23:0816/09/20 23:08 COLETA DE DADOS E INFORMAÇÃO Para dar continuidadeao projeto, vocês podem seguir estes passos. 1. Cada grupo deve entrar em contato com a escola (por telefone ou pessoalmente), encaminhar ou entregar a carta de apresentação e agendar a melhor data e horário para entrevistar os estudantes. Os grupos devem também obter informações como nome e endereço da escola, dados da coordenação ou do professor que irá auxiliá-los na entrevista, número de estudan- tes da instituição etc. 2. No dia da entrevista, dividam as funções entre os participantes do grupo. Definam quem fará a divulgação da pesquisa; quem realizará as entrevistas pessoalmente ou via internet; quem será responsável pela coleta e distribuição do material (questionários, canetas, lápis). Uma dica: mesmo que vocês tenham optado pelo formulário on-line, tenham disponíveis formu- lários impressos, caso haja algum imprevisto. 3. Na ocasião da entrevista, expliquem brevemente o objetivo do projeto e deem ao entrevis- tado a opção de registrar ou não seu nome no formulário, criando um clima de confiança. Ter empatia é muito importante: coloquem-se no lugar do outro e reflitam sobre como gostariam de ser abordados para falar de um tema tão delicado como o bullying. Após a finalização do questionário, deixem o entrevistado livre para fazer outras observações. Não se esqueçam de agradecer. 4. Após a coleta de dados feita pelo grupo, elaborem uma tabela para organizá-los. Para cada tipo de Escala de Likert vocês devem elaborar tabelas diferentes (por exemplo, Tabela A no formato “discordo totalmente/concordo totalmente”; Tabela B no formato “nunca/com muita frequência”). Cada tabela pode seguir este modelo: Etapa 3 5. Montem uma tabela por pesquisa, dispondo uma afirmação por linha, e contabilizem quantos estudantes responderam 0, 1, 2 etc. para cada uma delas. Em seguida, transformem cada pergunta das tabelas em gráficos de colunas ou de pizza para que possam visualizar melhor os resultados. 6. Analisem em grupo os gráficos fazendo questões como: Do total de entrevistados, quantos afirmam ter sofrido bullying? Quantos afirmam ter praticado bullying? Qual foi o tipo de bullying mais comum citado pelos entrevistados? Identifiquem quais aspectos dos resulta- dos chamam mais a atenção de vocês. 7. Na data combinada, todos os grupos da sala devem se reunir com seus resultados e compa- rá-los, identificando respostas semelhantes ou muito diferentes e selecionando comentários significativos com relação ao tema. NÃO ESCREVA NO LIVRO Respostas da Pesquisa A da Escola X: 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A� rmação 1 A� rmação 2 A� rmação 3 Comentários pessoais mais importantes: [Transcrevam os comentários livres que considerarem mais importantes.] 59 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 59D3-CH-EM-3075-V2-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 59 16/09/2020 18:5116/09/2020 18:51 CAPÍTULO 4 O que são os direitos humanos? Quando foi assassinada a tiros com seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018, Marielle Franco (1979-2018), vereadora da cidade do Rio de Janeiro, era considerada uma das mais importantes defensoras dos direitos humanos no Brasil. O crime chocou a socie- dade e gerou inúmeras manifestações de consternação e repúdio, mas algumas reações ao ocorrido chamaram a atenção pelo fato de tenta- rem justificar o assassinato de Marielle em razão de seu engajamento na luta por direitos. Em duas delas, registradas na seção de comentários do site de um jornal, um leitor escreveu que “a pior coisa do mundo são os direitos humanos”, enquanto outro afirmou que “quem defende os direitos humanos gosta de bandido”. Afirmações como essas são equivocadas, pois os direitos humanos estão ancorados nas noções de igualdade e universalidade, rejeitando qualquer dife- renciação entre as pessoas. Apesar desses equívocos, as críticas aos direitos humanos vêm ganhando força nos últimos anos em alguns segmentos sociais. Frases como “direitos humanos para humanos direitos” evidenciam o quanto esses direitos vêm tendo sua legitimidade questionada com base em ideias autoritárias. Esse tema é extremamente relevante para a realidade brasileira, na qual a violação aos direitos humanos é um dado cotidiano que ameaça boa parte da população. Neste capítulo, veremos o que são os direitos humanos, sua importância para a sociedade e por que estão frequen- temente cercados de polêmicas, mesmo sendo fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa. ■ Pessoas levantam placas de rua com o nome de Marielle Franco em sinal de repúdio ao assassinato da vereadora no Rio de Janeiro (RJ), 2018. SA LT Y VI EW /S H U TT ER ST O CK .C O M Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. 60 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 60D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 60 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 Evolução histórica dos direitos humanos Como analisamos no capítulo anterior, a noção de direitos humanos foi construída com base nas experiências históricas da Revolução Gloriosa, da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa. Da maneira como se cristalizou ao final desse processo, a ideia desses direitos incluía três dimensões: eles deveriam ser naturais, isto é, ine- rentes a todos os seres humanos; iguais, servindo da mesma forma para todos; e universais, sendo apli- cáveis em todo o mundo. Se, por um lado, a natureza desses direitos foi facilmente aceita, por outro, as demandas por igual- dade e universalidade vêm sendo de difícil aplicação desde o final do século XVIII. Isso porque, ao contrá- rio da dimensão natural, as ideias de igualdade e universalidade contras- tam com a realidade das relações sociais, permeadas por diferenças de diversos tipos: social, cultural, econômica, religiosa, política, de gênero etc. A diferença geracional, por exemplo, impõe o seguinte questionamento: A partir de que idade as pessoas devem adquirir plenos direitos políticos? A dife- rença de origem, por sua vez, traz uma série de questões sobre quais direitos os imigrantes devem ter nos países em que fixam residência. Essas diferenças estiveram na base das situações que levaram ao desrespeito aos direitos humanos ao longo da história. No século XIX, essas violações ocorreram com bastante frequência em diversas regiões do mundo, sobretudo naquelas que conviveram com o colonialismo e a escravidão, mas foi no século XX que o nível dessas violações atingiu um novo patamar. Se a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) representou uma experiência marcante no que se refere a essa questão, não restam dúvidas de que os crimes praticados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) chocaram a humanidade em razão de sua extrema violência e do número sem precedentes de mortes. ■ O Tribunal de Nuremberg foi um tribunal militar internacional criado para julgar o alto escalão nazista por crimes de guerra e contra a humanidade praticados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na foto, sala do Tribunal durante audiência no Palácio da Justiça de Nuremberg (Alemanha), 1945. AK G -IM AG ES /A LB U M /F O TO AR EN A 61 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 61D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 61 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 Os quatro pilares dos direitos humanos O assassinato em massa de judeus, ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência e outros grupos nos campos de concentração alemães e as vidas perdidas nos ataques atômicos às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki representaram uma ruptura inédita na noção de direitos humanos que vinha se constituindo desde o século XVIII. Ao fim do conflito, o mundo se deu conta de que o avanço científico havia provocado um extermínio em massa. Três anos depois da Segunda Guerra Mundial, a recém-criada Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Diretamente inspirado na Declaraçãodos Direitos do Homem e do Cidadão, ela- borada durante a Revolução Francesa, esse documento se baseou em quatro pilares: a dignidade, a liberdade, a igualdade e a fraternidade. A Declaração elegeu a vida, a liberdade, a igualdade perante a lei, a educação, o trabalho, a liberdade religiosa e a segu- rança pessoal como direitos inalienáveis de todos os seres humanos. De acordo com o texto, todos esses direitos deveriam, dali em diante, servir como fundamento “da justiça e da paz no mundo” para que tragédias humanas não se repetissem. Por sua importância, a Declaração foi traduzida para mais de qui- nhentos idiomas, servindo de base para a regulamentação e a aplicação dos direitos humanos em todo o planeta. Desde então, ela norteou a assinatura de uma série de tratados internacionais e inspirou o conteúdo de muitas leis e constituições democráticas aprovadas por países de todo o mundo. Um dos casos mais notórios é a Constituição brasileira de 1988, cujos princípios incluem a “prevalência dos direitos humanos” (artigo 4o), dos quais são considerados fundamentais a igualdade entre homens e mulheres, a liberdade de expressão, a liberdade religiosa, a igualdade perante a lei e a liberdade de locomoção, entre outros (artigo 5o). ■ Eleanor Roosevelt, ex-primeira-dama estadunidense (de 1933 a 1945), exibe cartaz com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Washington (Estados Unidos), cerca de 1947. FO TO SE AR CH /A RC H IV E PH O TO S/ G ET TY IM AG ES 62 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 62D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 62 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 Direitos para grupos específicos A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi, sem dúvida, um marco para a delimitação desses direitos em diversos países. Todavia, as constantes transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas no mundo desde a década de 1940 apontaram a necessidade de avanços nessa agenda. Atenta a diversas demandas sociais, a Organização das Nações Unidas passou a elaborar convenções voltadas a grupos histo- ricamente marginalizados. O primeiro avanço nesse sentido foi a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1969. Resultado direto da entrada dos países africanos recém-independentes na ONU e do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, essa convenção foi um passo importante para o combate ao preconceito racial. Os governos que a ratificaram se comprometeram a adotar polí- ticas com o objetivo de eliminar a discriminação racial e garantir “o pleno exercício dos direitos humanos e das liberdades fundamentais” às vítimas de preconceito. Em 1979, na esteira da luta femi- nista, a ONU ratificou a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres. Formado por mais de trinta artigos, o acordo determinou a adoção de leis nacionais que favorecessem a igualdade de gênero. Os países que subscreveram a convenção comprometeram-se a criar políticas públicas e meios de proteção eficazes contra esse tipo de discrimina- ção, de modo a garantir às mulheres o exercício dos direitos humanos e das liberdades fundamentais “em igualdade de condições com o homem”. ■ Bombeiros jogam jato de água contra manifestantes das marchas contra a segregação racial e pela luta dos direitos civis negros na cidade de Birmingham (Alabama, Estados Unidos), 1963. FR AN K RO CK ST RO H /M IC H AE L O CH S AR CH IV ES /G ET TY IM AG ES > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em grupo, discutam as seguintes questões: a) Quando se fala em direitos dos cidadãos, quais direitos vocês acreditam ter? Na opinião de vocês, esses direitos são garantidos a todas as pessoas na prática? b) Os direitos de jovens menores de idade devem ser os mesmos dos jovens maiores de 18 anos? Justifiquem suas respostas. 63 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 63D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 63 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 Desigualdades estruturais Na década de 1980, foi a vez da publicação da Convenção sobre os Direitos da Criança. Ratificada em 1989 por 196 países, a convenção definiu crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, cuja vida e liberdade devem ser respeitadas como valores fundamentais. Além disso, o documento previu a proteção contra abusos e exploração infantil, proibiu os países signatários de adotarem a pena de morte para menores de idade e estabeleceu o direito de crianças e adoles- centes à educação e à saúde como responsabilidades dos pais e dos Estados. Em 2006, a ONU aprovou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, reconhecendo o direito desse grupo à autonomia e à independência, o que significa inclusão social e garantia de igualdade de oportunidades. É importante notar que o Brasil ratificou todas essas convenções, comprometendo- -se a implementar políticas públicas que garantam os direitos e a igualdade de con- dições para os grupos contemplados por elas, de modo a corrigir as desigualdades estruturais existentes no país. Desde a redemocratização, houve diversas iniciativas nesse sentido por parte do governo: a Lei das Cotas para o ensino superior (lei nº 12 711/2012), que garan- tiu o acesso à universidade a jovens de baixa renda, incluindo negros, indígenas e pessoas com deficiência; a Lei Maria da Penha (lei nº 11 340/2006), para coibir atos de violência doméstica e feminicídios; a PEC das Domésticas (proposta de emenda constitucional nº 66/2012, que se tornaria a emenda constitucional nº 72/2012), que estendeu direitos trabalhistas às trabalha- doras domésticas; o Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº 8 069/1990), que definiu o conjunto de direitos de todos os brasileiros de 0 a 18 anos; e o Estatuto da Pessoa com Deficiência (lei nº 13 146/2015), para delimitar os direitos e promover a inclusão social desse grupo. ■ Maria da Penha (à esquerda) se destacou no combate à violência doméstica e familiar contra as mulheres, inspirando a lei que leva seu nome. Na imagem, ela é homenageada em evento ocorrido em São Paulo (SP), 2008. Feminicídio Termo usado para definir assassinato de mulheres motivado por violência doméstica ou discrimina- ção de gênero. AF P PH O TO /M AU RI CI O L IM A 64 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU4.indd 64D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU4.indd 64 17/09/20 02:2617/09/20 02:26 Como vimos, a noção de direitos humanos é bastante ampla, englobando uma série de medidas que visam garantir elementos considerados básicos para a vida das pessoas. Abaixo, você encontrará trechos de três artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o trecho da letra de uma canção de 1987 da banda Titãs. Após a leitura dos documentos, responda às questões que seguem. Declaração Universal dos Direitos Humanos Ar tigo XXIII 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. [...] Artigo XXV 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis [...]. Artigo XXVII 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios. [...] ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: UNIC Rio, 5 jan. 2009. p. 12-15. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf. Acesso em: 17 ago. 2020. Comida [...] A gente não quer só comida, A gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, A gente quer saída para qualquer parte. A gente não quer só comida, A gente quer bebida, diversão, balé. A gente não quer sócomida, A gente quer a vida como a vida quer. [...] A gente não quer só dinheiro A gente quer dinheiro e felicidade A gente não quer só dinheiro A gente quer inteiro e não pela metade COMIDA. Intérprete: Titãs. Compositores: A. Antunes; M. Fromer e S. Britto. In: TITÃS 84/94 – Um. [S. l.]: Warner Music, 1994. Faixa 7. 1. A letra dessa canção trata de direitos humanos? Justifique sua resposta tomando como base os trechos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 2. Você considera que os dois documentos possuem divergências ou estão de acordo? Justifique sua resposta. 3. Reúna-se com alguns colegas e, juntos, componham uma canção que tenha como tema os direitos humanos. Em seguida, apresentem a produção coletiva para o restante da turma. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 65 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU1.indd 65D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU1.indd 65 16/09/20 15:4316/09/20 15:43 Conquistas sociais Embora a ONU e os Estados tenham exercido papel importante no processo que resultou na conquista e no reconhecimento dos direitos humanos, os avanços nessa área foram resultado de lutas promovidas por diferentes movimentos sociais ao redor do planeta. No século XX, em especial, grupos historicamente marginalizados se organizaram para lutar por melhores condições de vida e pela proteção de seus direitos básicos. Um dos casos mais emblemáticos foi a luta contra o racismo, ocor- rida em diversos países. Graças aos movimentos sociais liderados por negros, os Estados Unidos aprovaram, em 1964, a Lei dos Direitos Civis, que acabou com o racismo institucional no país; a África do Sul aboliu, em 1994, o apartheid, regime de forte segregação racial no território sul-africano, que estabelecia proibições como a de brancos e negros habitarem os mesmos bairros; o Brasil implementou, em 1989, a lei no 7 716, que criminalizou o racismo. Outra luta notável foi a do movimento feminista, por meio do qual as mulheres conquistaram direitos políticos e sociais em diversos países, além de melhorar vários aspectos do seu cotidiano. Diferentemente da realidade de outros períodos históricos, atualmente muitas mulheres podem votar e se candidatar a cargos políticos, usufruir de licença- -maternidade e ter liberdade para escolher sua profissão e seus parceiros. Recentemente, o movimento LGBTQI+ também registrou importan- tes conquistas ao redor do mundo. Graças à sua forte atuação política desde a década de 1970, ele conseguiu ampliar a noção de igualdade de direitos civis para gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Hoje em dia, muitos países possuem políticas públicas de combate à homofobia e reconhecem, por exemplo, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, garantindo a elas os mesmos direitos concedidos a casais heterossexuais. ■ Projeção em homenagem ao Dia Mundial do Orgulho LGBTQI+ (comemorado no dia 28 de junho) sobre o edifício do Congresso, em Brasília (DF), 2020. Racismo institucional Racismo praticado pelo Estado e suas instituições. LGBTQI+ Sigla que busca agrupar a diversidade de orien- tações sexuais, além da heterossexualidade, e identidades de gênero. As iniciais signifi- cam: Lésbicas, Gays, Bissexuais,Transexuais, Travestis e Transgêneros, Queer e Intersexuais. RO Q U E D E SÁ /A G ÊN CI A SE N AD O 66 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 66D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 66 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 Muito a conquistar O movimento indígena também alcançou importantes vitórias nas últimas décadas. Tanto no Brasil como no Peru, na Bolívia, no México e em outros países, muitos grupos nativos conse- guiram obter a demarcação de suas terras, fato que contribuiu enormemente para a preservação de suas culturas, seus idiomas e seus modos de vida. Além disso, ampliaram sua participação na política, inclusive assumindo cargos governamen- tais, em alguns países. Os movimentos sociais foram responsáveis por uma série de conquistas que melhoraram a vida de muitas pessoas, o que não significa que tenham resolvido todos os problemas. Nos dias de hoje, negros de diversas partes do mundo vivem em situ- ação socioeconômica pior que a dos brancos, de modo geral, e são as principais vítimas de ações poli- ciais que resultam em morte e prisão de inocentes. As mulheres ainda sofrem diversos tipos de violência de gênero e ganham salários, em média, mais baixos que os dos homens. Muitos homossexuais, bissexuais e transgêneros são alvos de preconceitos cotidianos e de agressões em espaços públicos. Os indígenas, por sua vez, têm suas terras e suas vidas constantemente ameaça- das por pessoas interessadas em se apropriar das riquezas naturais de seus territórios. Essas permanências podem sugerir, à primeira vista, que as lutas por direitos foram inúteis, mas o que elas nos mostram é que um futuro mais igual e com mais direitos para todos depende da luta pela manutenção das conquistas sociais obtidas no passado e por novas conquistas no presente. Sem essa luta constante, mesmo as vitórias obtidas podem ser perdidas. ■ Faixa com os dizeres “Os Wixaritari defendemos a terra até com a vida”, ao lado da estrada Aguascalientes-Nayarit, bloqueada por membros das comunidades indígenas Wixaritari de Tuxpan de Bolanos e San Sebastian, durante protesto contra os partidos políticos e seus candidatos à presidência, no estado de Jalisco (México), 2018. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Observe a foto acima. Em sua opinião, para terem seus direitos respeitados, as pessoas com deficiên- cia física demandam a mesma atenção que os demais indivíduos ou precisam de um olhar especial, voltado para suas necessidades específicas? Justifique sua resposta. ■ Garoto em cadeira de rodas embarca em ônibus com estrutura para atender a pessoas com deficiência física, durantes os Jogos Paralímpicos, no Rio de Janeiro (RJ), 2016. U LI SE S RU IZ /A FP RU BE N S CH AV ES /P U LS AR IM AG EN S 67 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 67D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 67 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • No infográfico analisado, o Brasil recebeu a nota 5,6. Que hipóteses você levantaria para explicar esse resultado? Justifique. O respeito aos direitos humanos varia bastante de país para país. É justamente por isso que algumas entidades internacionais vêm há algum tempo cole- tando informações para medir índices de aplicação desses direitos. Uma delas é a Our World in Data (“Nosso Mundo em Dados”), vinculada à Universidade de Oxford, na Inglaterra, que confeccionou este info- gráfico, com o intuito de fornecer uma visão ampla e comparativa sobre as violações aos direitos humanos em todos os países. Para chegar a esse resultado, a entidade estipulou uma escala de 0 a 10, sendo 0 o melhor e 10 o pior índice. Os números finais foram obtidos pelo cálculo de múltiplas variáveis, que incluem liberdade de imprensa, liberdades civis, liberdade política, tráfico de pessoas e número de prisioneiros políticos, pessoas encarceradas, perseguições religiosas, torturas e exe- cuções cometidas. Abaixo, a descrição dos problemas observados na atualidade em alguns desses países que estiveram entre os piores do ranking. Mundo: violação dos direitos humanos, 2014 Círculo Polar Ártico OCEANO GLACIAL ÁRTICO No data 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0º0º 0º0º Círculo Polar Ártico Trópico de Câncer Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Equador OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO M er id ia no d e G re en w ic h OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0 1230 Círculo Polar Ártico OCEANO GLACIAL ÁRTICO Sem dados 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0º0º 0º0º Círculo Polar Ártico Trópico de Câncer Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Equador OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO M erid ia no d e G re en w ic h OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0 2635 AL LM AP S Na República Democrática do Congo (índice 1) e no Sudão do Sul (índice 9,9), a situação é das mais graves. Mesmo que seus territórios estejam entre os mais ricos do mundo em termos de recursos minerais, esses países sofrem há décadas com guerras entre grupos étnicos e disputas políticas que envolvem milícias armadas. Em razão dessa situação, muitos crimes contra a humanidade foram cometidos, com grande incidência de chacinas de diferentes grupos étnicos, violências sexuais contra mulheres e sequestros de crianças. 68 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 68D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 68 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 Na Síria (índice 9,9), a situação tornou-se crítica desde o início da guerra civil, em 2011. O conflito já causou a morte de pelo menos 400 mil pessoas, forçou 5 milhões de sírios a buscar refúgio em outros países e levou outros 6 milhões a migrar dentro do país. O uso difundido de armas químicas por parte do exército sírio contra civis das regiões dominadas pelas forças da oposição está entre as muitas violações contra os direitos humanos praticadas no país. No Irã (índice 9,3), o governo é acusado do uso sistemático de detenções arbitrárias, e há um elevado índice de pessoas condenadas à pena de morte com base em confissões forçadas, bem como execução de jovens. As condições das cadeias são precárias e os prisioneiros não têm acesso a tratamento médico adequado. Minorias religiosas e étnicas são vítimas constantes de intimidação, perseguição e prisão. Participar de protestos ou publicar as opiniões em mídias sociais pode levar as pessoas à prisão. Círculo Polar Ártico OCEANO GLACIAL ÁRTICO No data 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0º0º 0º0º Círculo Polar Ártico Trópico de Câncer Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Equador OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO M er id ia no d e G re en w ic h OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0 1230 Círculo Polar Ártico OCEANO GLACIAL ÁRTICO Sem dados 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0º0º 0º0º Círculo Polar Ártico Trópico de Câncer Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Equador OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO M er id ia no d e G re en w ic h OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0 2635 Na China (índice 9,1), o governo exerce rígida censura, controlando o tráfego de internet, a atuação de ONGs e de ativistas, promovendo perseguições, prisões e até proibições de viagens. Por meio das novas tecnologias, o Estado procura exercer forte controle social. Grupos minoritários são vítimas de detenções arbitrárias. 69 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU2.indd 69D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU2.indd 69 16/09/20 23:3516/09/20 23:35 A luta por direitos sociais no presente Como vimos, a luta dos indivíduos e dos movimentos sociais é essencial para a manutenção e a ampliação dos direitos humanos. Cientes disso, muitos grupos continuam atuando no Brasil e em outras partes do mundo com o objetivo de construir uma sociedade mais justa. A luta contra o racismo é, sem dúvida, uma das principais bandei- ras atuais. Ações empreendidas pelo movimento estadunidense Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”, em tradução livre), fundado em 2013, e por outros similares na América Latina e na África têm atraído as atenções em todo o mundo. Essas ações visam à conquista de melho- res condições socioeconômicas para os afrodescendentes e ao fim da violência policial contra eles. Sob muitos aspectos, essas pautas são semelhantes às do movi- mento feminista. ■ A greve dos entregadores de aplicativos foi a maior mobilização da categoria no Brasil e ocorreu em diversas cidades do país. Rio de Janeiro, 2020. 70 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 70D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 70 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 As ações do movimento feminista visam a combater o assédio e todo tipo de abuso sexual, o feminicídio e a desigualdade de gênero, além de reivindicar maior igualdade socioeconômica. Esse movimento também questiona as formas de machismo que permeiam o cotidiano das relações sociais, defendendo, por exemplo, uma melhor divisão das responsabi- lidades domésticas, que muitas vezes recaem exclusivamente sobre as mulheres, fazendo com que elas tenham jornadas duplas de trabalho. Não menos importante é o movimento dos trabalhadores, os quais vêm sendo significativamente afetados por recentes mudanças no mercado de trabalho. A luta por melhores condições passou a incluir tra- balhadores que não possuem direitos trabalhistas, como os prestadores de serviços vinculados a aplicativos. Assim, novas categorias profissio- nais surgidas nos últimos anos, como a dos motoristas de automóveis e a dos entregadores de comida por aplicativo, têm reivindicado os mesmos direitos concedidos a funcionários com carteira assinada, como piso salarial e seguro contra acidentes. ZU M A PR ES S, IN C. /A LA M Y/ FO TO AR EN A 71 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 71D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 71 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 O movimento ambientalista também ganhou destaque nos últimos anos. Para fazer frente às crescentes agressões ao meio ambiente – como desmatamentos, extinção de espécies, despejo de produtos tóxicos na natureza –, que geram prejuízos sociais para as atuais e as futuras gera- ções, os ambientalistas vêm defendendo a necessidade de alterações na estrutura da economia global e no padrão de consumo das pessoas. Nessa esteira também atua o movimento indígena, cuja pauta está cada vez mais vinculada à preservação do meio ambiente. Existem, ainda, grupos que lutam pela ampliação dos direitos de populações marginalizadas. No Brasil, há dois importantes movimentos sociais que lutam, respectivamente, por moradia e terra: o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Enquanto o primeiro reivindica o direito à moradia para famílias carentes, o segundo reclama a concessão de terras públicas e improdutivas a agricultores que não possuem condições de adquirir propriedades. Ambos buscam implementar dispositivos da Constituição de 1988, que inclui o direito à moradia (artigo 6º) e uma política de reforma agrária (artigos 184 a 191). ■ Voluntárias trabalham na campanha Marmita Solidária, iniciativa organizada para fornecer água, alimentos e banho à população em situação de rua durante a pandemia da covid-19, no Recife (PE), 2020. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • O movimento ambientalista vem ganhando um protagonismo cada vez maior nos últimos anos. Pesquise sobre a atuação dos diversos grupos dedicados a essa questão. Em seguida, escreva um texto no caderno, explicando a relação entre a causa ambiental e os direitos humanos. VE ET M AN O P RE M / F O TO AR EN A 72 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 72D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 72 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 O texto abaixo foi escrito pela professora e advogada especialista em Direitos Humanos Maíra Cardoso Zapater. Leia-o atentamente e responda às questões que seguem: Não é nada raro que os Direitos Humanos sejam equivocadamente associados de forma pejorativa a “direitos de bandido”: militantes de direitos humanos veem-se frequentemente acusados de um suposto descaso com ditos “direitos humanos das vítimas”, protesto habitualmente acompanhado do desgastado argumento de que os direitos humanos atenderiam apenas aos “delinquentes”, e pior, que corresponderia a uma condescendência com a prática de crimes. “Se você gosta tanto, por que não leva pra sua casa? Você só tem pena de bandido, não tem pena da vítima?” Antes de mais nada, há que se desfazeras confusões entre sentimento de solidariedade e com- paixão pelo sofrimento alheio e direitos que podem ser pleiteados juridicamente. Solidariedade, compaixão, raiva ou revolta são sentimentos humanos naturais e legítimos – ainda mais em uma situação traumática de violência – mas que se encontram fora do alcance dos limites do Direito, em especial do Direito Penal. [...] Afinal, o que têm a ver os direitos humanos com os direitos das pessoas acusadas de crimes? [...] Aqui é preciso destacar que, em determinado momento da História do Ocidente [...], a socie- dade passou a entender que quando um crime ocorre, o problema não é da vítima, e sim do Estado. Isso porque a violação de direito praticada por meio da conduta criminosa passa a ser considerada tão grave que atinge toda a comunidade onde o crime aconteceu, deixando de cons- tituir um mero conflito interpessoal, cabendo ao Estado a responsabilidade de determinar as consequências jurídicas do fato. Além disso, constatou-se que quando se permitia que a própria vítima – ou seus familiares – tomassem providências para fazer justiça com as próprias mãos, a violência se propagava e, tanto quanto o crime precedente, as reações individuais mantinham sob ameaça a paz social: é a fase conhecida historicamente como da vingança privada. Assim, decide-se que somente o Estado teria direito de punir o autor de um crime – ou seja, somente o Estado é que deteria, de forma impessoal, o monopólio da violência. [...] O sistema de justiça criminal e as regras de processo penal foram desenvolvidos para conferir equilíbrio a essa balança [acusado/Estado]: fazê-la pesar para o lado do Estado não aumenta a segurança da população e, independentemente de o acusado ser ou não culpado pelo crime que lhe é atribuído, aumenta seriamente o risco de se praticarem injustiças. Por exemplo, per- manecer preso durante o processo e ser absolvido ao final, ou condenado por uma pena mais curta do que o tempo transcorrido na prisão provisória. [...] ZAPATER, M. C. Direitos Humanos: é direito “de bandido?”. Observatório do Terceiro Setor, 14 set. 2015. Disponível em: https://observatorio3setor. org.br/colunas/maira-zapater-direitos-humanos-e-sociedade/direitos-humanos-e-direito-de-bandido/. Acesso em: 11 ago. 2020. 1. De acordo com o texto, qual é a principal razão que leva as pessoas a pensar que direitos humanos são “direitos de bandido”? 2. O que você entende pela frase “somente o Estado é que deteria, de forma impessoal, o monopólio da violência”? 3. Com base no texto, qual é a importância da existência de um sistema de justiça criminal e de regras do processo penal? 4. Em sua opinião, o sistema judiciário comete injustiças ou arbitrariedades? Justifique sua resposta. 5. Organize com seus colegas uma breve encenação teatral de, no máximo, 10 minutos, que aborde os temas levantados pela autora em seu texto. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 73 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU1.indd 73D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU1.indd 73 16/09/20 16:2516/09/20 16:25 E se fosse com você? A implementação dos direitos humanos não é algo que ocorre facilmente e de maneira automática. Em muitos casos, ela depende da ação das comunidades locais. Os direitos fundamentais assegurados pela atual Constituição do Brasil classi- ficam a legislação brasileira como uma das mais completas do mundo em relação aos direitos humanos. Entretanto, ainda existem muitos obstáculos para que os princípios legais estabelecidos sejam efetivamente cumpridos. Isso significa que há uma grande contradição entre a teoria e a prática: o país apresenta ótimas leis, mas não garante o seu cumprimento. No Brasil, um país com profundas desigualdades sociais, os direitos humanos nem sempre são respeitados. O relatório organizado pela Anistia Internacional Estado dos direitos humanos no mundo 217/218, que reuniu análises sobre 157 países e territórios, apontou os seguintes problemas no que diz respeito aos direitos humanos no país: a alta taxa de homicídios, principalmente de jovens negros; os abusos policiais e as execuções extrajudiciais; a situação crítica do sistema prisional; a vulnerabilidade dos defensores de direitos humanos, sobre- tudo em áreas rurais; a violência cometida contra populações indígenas; e as várias formas de violência contra as mulheres. ■ Betina Garcia Pacheco, Ketlin Rochane da Cunha da Conceição e Roberta da Silveira Caxambu, idealizadoras do projeto “E se fosse com você?”, Novo Hamburgo (RS), 2019.ACE RV O P ES SO AL D O G RU PO 74 DIÁLOGOS> EU TAMBÉM POSSO> D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 74D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 74 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 NÃO ESCREVA NO LIVRO Nas últimas décadas, porém, a sociedade brasileira vem se mobilizando para mudar essa realidade. A mobilização popular tem sido mais intensa nas periferias, onde as violações aos direitos humanos estão mais presentes, mas também ocorre em outras comunidades. Em 2019, Betina Garcia Pacheco, Ketlin Rochane da Cunha da Conceição e Roberta da Silveira Caxambu, alunas do 8º ano do Ensino Fundamental da E. M. E. F. Maria Emília de Paula, em Sapiranga, no Vale dos Sinos, Rio Grande do Sul, resolveram se unir para implementar mudanças em sua comunidade. Após tomarem conhecimento dos casos de violência doméstica sofridos por suas avós e perceberem que o problema persistia no cotidiano de muitas famílias de sua cidade, as meninas resolveram criar um clube para debater igualdade de gênero e combater o feminicídio na comunidade de sua escola. Com isso, deram o pontapé inicial para o projeto “E se fosse com você?”. Auxiliadas por uma psicóloga, uma advogada e uma professora, Betina, Ketlin e Roberta organizaram rodas de conversa e debates entre meninas e sessões de leitura de contos e de obras literárias sobre o tema. Diante do sucesso, o projeto foi ampliado, passando a incluir meninos, crianças mais novas e estudantes de outras escolas de Sapiranga e do município vizinho de Nova Hartz. Não satisfeitas, as fundadoras do projeto foram além. Juntas, entraram em contato com a Secretaria de Educação e com a Câmara de Vereadores de Sapiranga e apresentaram um projeto de lei que garante a discussão sobre a igual- dade de gênero e o combate à violência contra as mulheres em todas as escolas do município. Graças ao projeto “E se fosse com você?”, Betina, Ketlin e Roberta foram sele- cionadas para representar o Brasil na Conferência Global “I Can” (“Eu Posso”, em inglês) de 2019, que reuniu cerca de 2 mil crianças e adolescentes de todo o mundo em Roma, na Itália. Além da oportunidade de conhecer o Papa Francisco, a pre- sença das garotas no evento rendeu ao grupo a quantia de R$ 1,5 mil, usada para levar o projeto adiante. Ao ganhar o mundo, essa iniciativa, desenvolvida em uma pequena cidade do Sul do Brasil, mostra que o respeito aos direitos humanos necessita, muitas vezes, de ações individuais e coletivas. No link a seguir, você pode conferir o texto integral do projeto de lei sugerido pelas organizadoras do projeto “E se fosse com você?”: https://www.camarasapiranga.rs.gov. br/camara/proposicao/Projetos-de-Lei/2019/1/0/16631 (acesso em: 18 ago. 2020). • As estudantes identificaram um problema em sua comunidade e desenvolveram um projeto para combatê-lo. Quando você se depara com um problema em sua comunidade, qual é a sua postura? Você procura resolver sozinho, busca ajuda de outras pessoas ou prefere não se envolver? Em grupo, conversem a respeito dessa questão. 75 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 75D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 75 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 PREPARAÇÃO, APRESENTAÇÃO DA PALESTRA E AVALIAÇÃO Nesta última etapa, vocês irão preparar a apresentação da palestra e, ao final, fazer a avaliação. Siga as orientações: 1. Um grupo de estudantes deve ficar responsável pela organização da palestra e conversarcom o pro- fessor responsável ou com a coordenação da escola, a fim de marcar uma data e um horário para que os colegas de todas (ou de algumas) séries possam participar do evento. Planejem também o local em que a palestra vai ocorrer e pensem na adequação do espaço ao material que irão utilizar. Se forem usar a quadra, por exemplo, é preciso pensar onde serão colocados os cartazes com os gráficos ou como serão projetados; se será necessário o uso de microfones ou outros materiais. 2. Um grupo de estudantes deve se encarregar da construção e apresentação dos gráficos. Vocês devem reunir as respostas obtidas em cada escola e em cada pesquisa (A e B) em dois gráficos, para registrar a pesquisa de amostragem, e um gráfico geral, juntando todos os resultados. Além disso, devem pensar em como esse gráfico será apresentado para a comunidade escolar: por meio de um grande cartaz, de uma apresentação de PowerPoint ou de outros suportes. 3. Um grupo responsável pela pesquisa e pelo texto deve ser organizado para retomar as pesquisas sobre bullying e analisá-las detalhadamente, em conjunto com os resultados obtidos na pesquisa de amostragem. Em seguida, elaborem um texto informativo e argumentativo sobre o bullying, apresentando suas características, causas e consequências; registrando os diferentes tipos de bullying existentes; e, por fim, incluindo trechos de depoimentos significativos. Caso considerem oportuno, podem acrescentar alguma notícia local sobre um caso de bullying. 4. Um grupo de divulgação deverá assumir a tarefa de convidar os estudantes para participar da palestra, informando o dia, o horário e o local em que ocorrerá o evento. Além de convites pessoais a colegas de outros anos, podem ser produzidos cartazes e posts para redes sociais. Não se esqueçam de escolher um nome para o título da palestra. 5. É importante que todo o material da palestra esteja pronto dias antes da data marcada para a apresentação. Façam um ensaio geral e verifiquem se precisam ser feitos ajustes, melhorias ou mudanças. Garantam que todo material necessário esteja disponível e funcionando. No dia da palestra, todos os estudantes devem estar presentes no local onde ela será realizada para se prepararem e ajudarem uns aos outros. 6. A palestra pode ser dividida em partes, por exemplo: Parte I. Apresentação do projeto (explicar a importância do tema, as leituras que fizeram, como foram feitas as perguntas do questionário, como os dados foram analisados etc.). Parte II. Apresentação dos questionários e dos gráficos, explicando como foram produzidos e quais foram os principais resultados alcançados. Parte III. Apresentação oral do texto elaborado. Parte IV. Tempo para perguntas da plateia e respostas. Parte V. Roda de conversa sobre os problemas representados pelo bullying na própria escola e propostas de como a comunidade escolar pode colaborar para evitar esse tipo de violência. Um estudante pode se encarregar de anotar as principais propostas levantadas e, posteriormente, divulgar para a escola; outro pode ficar responsável pelo registro fotográfico ou pela gravação de cenas da palestra. 7. É importante lembrar que em uma palestra é fundamental ouvir e ser ouvido de forma organizada, acolher ideias diferentes e evitar julgar os colegas. 8. Para finalizar e avaliar se o projeto atingiu os objetivos pretendidos, reúnam-se alguns dias após a palestra e conversem sobre os resultados que obtiveram. As informações que vocês produzi- ram foram bem apresentadas? Houve participação da plateia? Vocês conseguiram responder às perguntas? Foi possível, por meio da roda de conversa, problematizar a questão do bullying na escola e pensar coletivamente em ações para impedir essa prática? Quais foram os pontos fortes do processo de produção do projeto? O que poderia ter sido melhor? Quais foram os principais erros e como podem ser resolvidos em uma próxima oportunidade? Façam anotações no caderno sobre esse momento avaliativo, ponderando todos esses aspectos e fazendo uma autoavaliação da sua participação no projeto. Etapa 4 76 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 76D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 76 15/09/20 15:4015/09/20 15:40 Crianças invisíveis Direção: Ridley Scott, John Woo, Jordan Scott e outros. Itália, 2005. DVD (129 min). Formado por sete curtas-metragens, dirigidos por conhecidos diretores, o filme procura retratar a invisibilidade de algumas crianças ao redor do mundo. Em todos os episódios, o tema central é a vida de crianças que experimentam dramas e responsabilidades da vida adulta. Hoje eu quero voltar sozinho Direção: Daniel Ribeiro. Brasil, 2014. DVD (96 min). Por meio da história de Leonardo, um adolescente cego que deseja ser mais independente em relação a sua mãe, o filme traz um debate sobre homofobia e liberdade sexual, além de discutir a exclusão de pessoas com deficiência. Milk, a voz da igualdade Direção: Gus van Sant. Estados Unidos, 2008. DVD (128 min). No início dos anos 1970, Harvey Milk é um nova-iorquino que, para mudar de vida, decide morar em São Francisco. Disposto a enfrentar a violência e o preconceito da época, Milk busca direitos iguais e oportunidades para todos, sem discriminação sexual. Moonlight: sob a luz do luar Direção: Barry Jenkins. Estados Unidos, 2016. DVD (111 min). Vencedor do Oscar 2017, o filme acompanha a jornada de autoconhecimento de Chiron, em três momentos de sua vida: a infância, passada em um subúrbio de Miami, nos Estados Unidos; a adolescência, quando é alvo de bullying dos colegas de escola enquanto descobre sua homossexualidade; e a fase adulta, quando tenta se adaptar à realidade cruel em que vive. > SAIBA MAIS Organização das Nações Unidas Disponível em: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/. Acesso em: 18 ago. 2020. O site da ONU reúne diversos documentos (textos, fotos e vídeos) e notícias relativos aos direitos humanos e à luta por sua implementação ao longo da história em diversas partes do mundo. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Documento on-line. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 20 ago. 2020. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Documento on-line. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 20 ago. 2020. Estatuto da Juventude Documento on-line. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2013/Lei/L12852.htm. Acesso em: 20 ago. 2020. 77 D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU1.indd 77D3-CH-EM-3075-V2-U2-C4-060-077-LA-G21_AVU1.indd 77 16/09/20 16:2716/09/20 16:27 78 UNIDADE 78 3 Participação política Um aspecto central para a construção de uma sociedade justa é assegurar participa- ção política a todos os cidadãos. Participar da política não significa apenas votar ou acompanhar o desempenho do governo; significa também se envolver em ações comunitárias, se engajar em grupos, tomar parte de discussões de temas do interesse da coletividade e de manifestações públicas ou fazer uso da internet para debater ideias e promover formas de atuação coletiva. Nesta unidade, vamos refletir sobre a organização do governo e as diferentes possibilidades de participação política. 1. Você considera que participa ativamente da política? Como você faz isso? 2. O que pode ser feito para promover a maior participação dos jovens na política no Brasil contemporâneo? NÃO ESCREVA NO LIVRO ■ Ilustração de Paulica Santos, 2012. D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 78D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 78 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 PA U LI CA S AN TO S 79 FAKE NEWS Fake news é um termo em inglês que significa "notícia falsa". Atualmente, podemos definir as fake news como notícias ou informações falsas ou, ainda, distorcidas, pro- duzidas e disseminadas intencionalmente para confundir os leitores. Com a internet, as fake news ganharam grande notoriedade em razãoda velocidade e da quantidade de informações que recebemos diariamente por meio de diversos suportes midiáticos. As fake news acarretam as mais diversas consequências, como, por exemplo, modi- ficar cenários eleitorais e reduzir o número de mães e pais que vacinam seus filhos. Neste projeto, utilizaremos a análise de mídias tradicionais para produzir um folheto informativo, com o objetivo de ajudar a comunidade a identificar fake news e a se infor- mar de maneira segura. D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 79D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 79 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 CAPÍTULO 5 A organização do governo No início de 2020, o Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, uma organização que reúne pesquisadores do Brasil, da Argentina e de Portugal, divulgou um estudo sobre a percepção dos brasileiros sobre a melhor forma de governo para o país. De acordo com a pesquisa, realizada em 2019, 64,8% dos brasileiros consideram que a democracia é sempre a melhor forma de governo, enquanto 11,2% dos entrevistados consideram que uma ditadura pode ser a melhor forma de governo em certas circunstâncias. Essa pesquisa também foi aplicada em 2018. Na ocasião, a parcela dos que defendiam a democracia em qualquer circunstância represen- tava 56,2% dos participantes. Já os que defendiam uma ditadura em determinadas conjunturas representavam 21,1% dos entrevistados. Fonte: INSTITUTO DA DEMOCRACIA E DA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO. Resultados: A cara da democracia 2019. Belo Horizonte, 2019. Disponível em: https:// www.institutodademocracia. org/post/2020/01/27/ resultados-a-cara-da- democracia-2019. Acesso em: 8 set. 2020. Entretanto, muitos dos participantes que afirmaram preferir a demo- cracia não confiam nas instituições democráticas, como o Congresso ou o Poder Judiciário. A pesquisa, portanto, evidencia a fragilidade da democra- cia brasileira e a importância de fortalecê-la. Para entender esse quadro, é importante conhecer os conceitos relacio- nados com as formas, os sistemas e os regimes de governo e, sobretudo, no caso do Brasil, compreender como a corrupção marcou o processo his- tórico de formação do governo brasileiro, provocando o enfraquecimento da democracia no país. Esses são os principais temas deste capítulo. 80 Brasil: preferência pela democracia, 2018-2019 ■ O gráfico destaca os principais dados da pesquisa aplicada em 2019 pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. 0 20,0 40,0 50,0 60,0 70,0 30,0 10,0 12,3 14,8 56,2 21,1 11,2 64,8 2018 2019 Tanto faz um regime democrático ou um regime não democrático A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo Em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático % dos entrevistados Nota: Os dados desse grá�co foram retirados de uma pesquisa feita com duas mil e nove pessoas, em cento e cinquenta e um municípios, entre 8 e 16 de novembro de 2019. SO N IA V AZ D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU2.indd 80D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU2.indd 80 16/09/20 23:4716/09/20 23:47 Diferentes formas de organização do governo Como foi visto no capítulo 2, o desenvolvimento das comunidades humanas deu origem às primeiras formas de governo e, ao longo do tempo, foram criados modos muito diversos de organizar as sociedades, tomar decisões e administrar os recursos. Você provavelmente já ouviu termos como parlamentarismo e presidencialismo. Nem sempre é fácil entender o que diferencia uma república presidencialista de uma república parlamentarista. Conhecer essas diferenças é importante, pois, para participarmos ativamente da vida política e exercermos nossa cidadania, é funda- mental compreender como o governo se organiza e como ele pode se transformar a partir das ações dos diferentes grupos que compõem a sociedade. Ao longo do tempo, diferentes pensadores das ciências humanas se dedicaram ao problema da organização do governo e formularam classificações para analisar como ocorre a tomada de decisões nas socie- dades humanas e avaliar quais seriam as melhores formas de garantir a construção de uma sociedade justa e equilibrada. Na Antiguidade, Platão (428 a.C.-347 a.C.) estabeleceu uma tradi- ção que teve grande influência sobre o pensamento político ocidental. Segundo essa tradição, existem diferentes formas de governo. Algumas seriam formas justas, enquanto outras seriam formas corruptas. As pri- meiras garantiriam o bem-estar da sociedade. Já os governos corruptos seriam aqueles que não se preocupam com o bem comum, conduzindo de forma inadequada os interes- ses da comunidade. Para Platão, a aristocracia ou a monarquia seriam formas de governo justas. Nessas, os gover- nantes agiriam de acordo com suas virtudes e garantiriam o bem coletivo da sociedade. A forma mais corrupta de governo, para Platão, era a tirania. Nela, o gover- nante agiria de acordo com seus caprichos e desejos, esquecendo as virtudes e deixando o bem da sociedade em segundo plano. STE PH AN IE P O LL O 81 ■ Ilustração de Stephanie Pollo, 2020. Aristocracia Para Platão, aristocracia significava o governo dos mais virtuosos. Esse con- ceito, baseado em mérito, transformou-se ao longo do tempo, ganhando diversas conotações até a acepção atual, relacio- nada a títulos de nobreza e hereditariedade. D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 81D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 81 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 A divisão dos poderes e a organização do governo A divisão dos governos proposta por Platão foi criada com base nas experiências da sociedade em que o filósofo viveu. Ao longo do tempo, foram criadas outras formas de organização e estabelecidos novos cri- térios de análise. Todo governo possui diferentes atribuições, como a criação de leis, a administração dos recursos públicos (tributos e impostos), a aplicação das leis, a manutenção da ordem e o julgamento da infração às leis, entre outras. São essas atribuições que constituem os poderes de um governo. Há muitas formas de organizar essas atribuições, e a forma como enten- demos essa divisão na atualidade se deve em grande parte ao modelo de divisão dos poderes proposto no século XVIII, durante o Iluminismo. Um dos principais pensadores a refletir sobre a questão da divisão dos poderes foi o filósofo francês Montesquieu (1689-1755). Para ele, as atribuições do governo não poderiam se concentrar em um só indivíduo ou instituição. Caso isso ocorresse, o exercício do governo tenderia a beneficiar alguns em detrimento de outros. Assim, Montesquieu propôs a distribuição das atribuições do governo entre três poderes distintos: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, cada um deles controlado por ins- tituições diferentes, de modo a promover um equilíbrio e evitar abusos. Veja no esquema a seguir uma síntese das ideias de Montesquieu: Iluminismo Movimento filosófico que se desenvolveu principalmente ao longo do século XVIII e que defendia o uso da razão como forma de resolver os problemas humanos. Para Montesquieu, ao Poder Legislativo caberia a criação das leis; ao Executivo, a administração do governo e a aprovação das leis; ao Judiciário, a interpretação e a aplicação das leis. Essa divisão é fundamental para entender os diferentes tipos de governo em vigor no mundo contemporâneo. Os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário As atribuições do governo podem ser divididas em três poderes: A separação dos poderes visa assegurar um equilíbrio que impeça o domínio do Estado por apenas um dos poderes. O Poder Legislativo, responsável pela aprovação das leis do Estado. O Poder Judiciário, responsável pela interpretação e julgamento das leis do Estado. O Poder Executivo, responsávelpela aplicação das leis do Estado. 82 ■ Vista aérea da praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), 2018. Fonte: THE POLITICS book. London: DK Publishing, 2013. p. 110. RO SA LB A M AT TA -M AC H AD O /S H U TT ER ST O CK .C O M ED IT O RI A D E AR TE D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 82D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 82 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 O pensador político francês Montesquieu publicou em 1748 O espírito das leis, livro no qual apresenta a ideia da divisão dos poderes em três esferas. Leia abaixo um trecho extraído dessa obra e responda ao que se pede: Existem em cada Estado três tipos de poder: o poder legisla- tivo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes e o poder executivo daquelas que dependem do direito civil. Com o primeiro, o príncipe ou o magistrado cria leis por um tempo ou para sempre e corrige ou anula aquelas que foram feitas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, instaura a segurança, previne inva- sões. Com o terceiro, ele castiga os crimes, ou julga as querelas entre os particulares. Chamaremos a este último poder de julgar e ao outro simplesmente poder executivo do Estado. [...] Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura, o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não existe liber- dade; porque se pode temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado crie leis tirânicas para executá-las tiranicamente. MONTESQUIEU, C. de S. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 167-168. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> 1. Qual é a importância da proposta de divisão de poderes elaborada por Montesquieu? Qual seria a consequência no caso de dois ou três poderes se concentrarem em uma única pessoa ou grupo? 2. No Brasil, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são compostos por diversos órgãos, cada qual com uma função específica. Em grupo, selecione dois órgãos pertencentes a cada um desses po- deres e descreva suas atribuições. Ao final, façam uma apresentação oral aos demais colegas. NÃO ESCREVA NO LIVRO ■ Página de rosto da edição original de L'Esprit des loix (O espírito das leis), 1748, de Charles-Louis de Secondat, Barão de la Brède, conhecido como Montesquieu. 83 CU LT U RE C LU B/ H U LT O N A RC H IV E/ G ET TY IM AG ES D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU2.indd 83D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU2.indd 83 16/09/20 23:4816/09/20 23:48 Formas de governo e regimes políticos Com base no princípio da divisão dos poderes, é possível classificar a organização de dife- rentes governos. Atualmente, uma forma de realizar essa classificação é a partir da análise da forma de governo (monarquia ou república), do sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) e do regime de governo (absolutismo, democracia, ditadura e fascismo). O infográfico a seguir apresenta mais informações sobre esses conceitos: Monarquia A monarquia é uma forma de governo cujo representante é um indivíduo, normalmente o rei. Existem monarquias hereditárias, nas quais o título passa de pai para filho. Mas há também monarquias não hereditárias, nas quais existe um sistema para a escolha do sucessor do rei após sua morte. Monarquia parlamentarista A monarquia parlamentarista é um sistema de governo no qual o rei não concentra todos os poderes. Nesse sistema, o Parlamento (formado, na maioria das vezes, por meio do voto dos cidadãos) passa a controlar o Poder Legislativo. Frequentemente, o Poder Executivo é controlado pelo primeiro-ministro, um membro do Parlamento que pode ser escolhido pelo rei ou pelos parlamenta- res. O Poder Judiciário é independente do Legislativo e do Executivo. A ideia de monarquia parlamentar se desenvolveu entre os séculos XVII e XVIII e atual- mente muitos países, como o Reino Unido, adotam esse governo. República A república é uma forma de governo na qual o mandatário é escolhido pelos cidadãos ou seus representantes por meio do voto. A república foi inventada na Antiguidade, mas só se tornou a principal forma de organização do governo no século XX. Atualmente, a maior parte dos países se organizam em governos republicanos. República parlamentarista A república parlamentarista é um sistema de governo no qual os cidadãos votam para escolher os parlamentares. Eles compõem o Poder Legislativo. Além disso, cabe ao Parlamento a escolha do primeiro-ministro, responsá- vel pelo Poder Executivo. Nesse governo, o presidente é o chefe de Estado. Seus poderes são limitados e quem executa as atribuições do Executivo é o primeiro-ministro. A Alemanha é um exemplo desse tipo de governo. EB ER E VA N G EL IS TA 84 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 84D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 84 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADE> • Você considera que, em uma sociedade governada por um regime fascista, a população tem seus direitos de cidadãos preservados? Justifique sua resposta. República presidencialista A república presidencialista é um sistema de governo no qual os cidadãos votam para escolher o presidente, que representa o Poder Executivo, e o Parlamento, que representa o Poder Legislativo. Normalmente, o Poder Judiciário não é escolhido pelo voto dos cidadãos. O Brasil é uma república presidencialista. Absolutismo O absolutismo é um regime de governo no qual um indivíduo, normalmente um rei, concentra todas as principais atribuições do governo. Assim, nesse tipo de governo, a divisão proposta por Montesquieu não existe, e o comandante pode impor sua vontade aos governados. Esse regime de governo foi muito importante na Europa entre os séculos XV e XVIII. Atualmente, ainda existem alguns governos que se enquadram nesse tipo, como o da Arábia Saudita. Democracia A democracia é um regime de governo baseado na participação dos cida- dãos nas decisões políticas. Essa participação frequentemente se dá por meio do voto, do envolvimento em instituições e organizações sociais e pela livre manifestação das ideias. Para assegurar os direitos dos cidadãos, uma democracia se organiza a partir de um sistema de divisão dos poderes, visando evitar que um indivíduo ou grupo possa exercer suas atribuições de forma autoritária. Ditadura Uma ditadura é um regime de governo autoritário. Frequentemente, uma ditadura se forma a partir de um golpe de Estado, quando um grupo derruba os governantes ou subverte as leis com o objetivo de controlar o governo. Em uma ditadura, a divisão dos poderes deixa de funcionar, já que o ditador e seus aliados ampliam seus poderes de modo a agir de acordo com seus interesses. O Brasil foi governado por uma ditadura entre 1937 e 1945 e entre 1964 e 1985. Fascismo O fascismo foi um regime político que surgiu nas primeiras décadas do século XX na Itália e na Alemanha. Trata-se de uma forma específica de ditadura que estabelece um controle mais radical sobre os cidadãos. Em um regime fascista, um grupo passa a controlar o governo de modo a tentar anular todo tipo de oposição e a perseguir e exterminar grupos vistos como uma ameaça. Apesar dos regimes fascistas terem sido derrubados ao final da Segunda Guerra Mundial, suas propostas continuam inspirando grupos políticos até o presente. 85 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 85D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 85 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 As origens do governo no Brasil Ao longo de sua história, o Brasil teve diferentes formas de governo. Durante o processo de conquista e colonização, os portu- gueses estabeleceram instituições e introduziram no território práticas de governo adotadas em Portugal e em outros territórios coloniais. Em 1548, quando Portugal era uma monarquia absolutista, foi criado no Brasil o Governo-Geral e nomeado pelo rei o primeiro gover- nador-geral, que deveria prestar obediência e atenderàs ordens e decisões da Coroa portuguesa. O Governo-Geral vigorou em partes do atual território brasileiro até a independên- cia, em 1822, portanto, durante todo o período colonial, o Brasil foi uma colônia subordinada a uma monarquia, sem governo autônomo e independente. ■ Marco do "descobrimento", monumento de pedra portu- guesa, de cerca de 1500, com uma inscrição afirmando a soberania portuguesa. Centro histórico de Porto Seguro (BA), 2019. A independência e a organização de um governo autônomo A partir de 1822, teve início o processo de construção do Estado brasileiro e a organização do primeiro governo autônomo do Brasil. O processo de independência foi marcado por uma aliança entre as elites brasileiras e dom Pedro I (1798-1834), filho do monarca português, dom João VI (1767-1826). Após proclamar a independência e se tornar imperador, dom Pedro I se articulou para manter a monarquia no Brasil, ou seja, não houve uma ruptura completa com as tradições de governo portuguesas. RIVALDI SOUZA/SHUTTERSTOCK.COM 86 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 86D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 86 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 Além disso, embora o novo governo tenha aprovado em 1824 uma Constituição que previa a divisão dos poderes, dom Pedro I instituiu o poder moderador, um poder exclusivo do imperador, que lhe permitia intervir nos demais poderes. Por meio do poder moderador, dom Pedro I podia, por exemplo, dissolver a Câmara dos Deputados, nomear ou demitir ministros, sus- pender os juízes ou modificar penas impostas a condenados. O Brasil passou, portanto, a contar com um sistema parlamentarista subordi- nado aos poderes do imperador. Por essa razão, muitos historiadores denominam de parlamentarismo às avessas o sistema político que se consolidou ao longo do Império. Em 1889, um golpe militar derrubou dom Pedro II (1825-1891), suces- sor de dom Pedro I, e proclamou a República. A partir de então, uma nova forma de organização de governo foi adotada no Brasil. A primeira democracia brasileira Após o golpe, foi criada, em 1891, uma nova Constituição, que determi- nou a implantação de uma democracia presidencialista. Os cidadãos com direito ao voto podiam escolher os representantes dos poderes Executivo e Legislativo. Entretanto, apenas uma pequena parcela da população par- ticipava das eleições. Mulheres e analfabetos eram os principais grupos excluídos do direito de cidadania. Outro problema do sistema de governo adotado nesse momento é que o voto era aberto. Assim, era possível pressionar e intimidar eleitores para assegurar a vitória de candidatos alinhados com os interesses das elites locais. Além disso, ocorriam muitas fraudes e arranjos políticos que dificultavam a eleição de políticos de oposição. O período de 1891 a 1930 foi marcado pela existência de um governo controlado pelas elites econômicas de diferentes regiões do Brasil, que se afastava do ideal de democracia como exer- cício da vontade e dos interesses dos cidadãos. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Nos primeiros tempos da República, as elites econômicas controlavam a vida econômica e política do país. Nos dias de hoje, essa característica se mantém ou houve mudanças? Justifique sua resposta. ■ BRUNO, P. Pátria. 1919. Óleo sobre tela, 190 cm × 278 cm. Museu da República, Rio de Janeiro (RJ). M U SE U D A RE PÚ BL IC A, R IO D E JA N EI RO , R J 87 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 87D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 87 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 O governo brasileiro no século XX: entre ditaduras e democracias Em 1930, Getúlio Vargas (1882-1954) e setores das elites descontentes com o sistema político brasileiro articularam um golpe que pôs fim à primeira democracia brasileira e deu início à fase conhecida como Era Vargas (1930-1945). Em 1934, quatro anos depois de Vargas ter se tornado presidente do Brasil, foi promulgada uma nova Constituição, que trouxe inovações importantes, como a legislação trabalhista e o direito de voto feminino. Entretanto, as eleições previstas para 1938 não ocorreram. Um ano antes, Getúlio deu um novo golpe e criou o Estado Novo, uma ditadura que governou o país até 1945. Durante o Estado Novo, o Poder Executivo prevaleceu sobre os demais poderes. Getúlio Vargas perseguiu seus opositores e utilizou a propaganda política para ganhar força e conquistar apoio da sociedade. A Constituição de 1934 foi substituída por uma nova Carta constitucional, outorgada pelos aliados do presidente. No Estado Novo, as garantias legais dos cidadãos foram suspensas. As eleições para todos os níveis do governo foram canceladas e a liberdade de manifestação foi abolida. As pessoas podiam ser per- seguidas, presas, torturadas ou mortas por criticar o governo ou defender o retorno da democracia. Com o avanço da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Estado Novo entrou em crise. O Brasil enviou tropas para lutar ao lado dos Aliados contra as forças fascistas da Itália e da Alemanha. Essa atitude do governo gerou críticas dos opositores de Vargas, que passaram a denunciar a contradição de lutar contra regimes autoritários enquanto o país era governado por um ditador. Um breve período democrático A crise do Estado Novo enfraqueceu o poder de Vargas e abriu caminho para a articulação de um novo golpe, em 1945. Com a deposição de Getúlio e a redemocratização do país, foram convocadas eleições no final desse mesmo ano. Em 1946, foi criada uma nova Constituição, visando assegurar os direitos dos cidadãos brasileiros. A democracia presidencialista foi reestabele- cida e voltou a vigorar um sistema de divisão dos poderes. O sufrágio feminino foi assegurado, mas os analfabetos continuaram excluídos do processo eleitoral. Entre 1946 e 1964, o país contou com elei- ções livres e os cidadãos recuperaram sua liberdade de manifestação. ■ Queima das bandeiras dos estados brasileiros durante o Estado Novo, ordenada por Getúlio Vargas para rea- firmar a unidade nacional. Rio de Janeiro (RJ), 1937. AC ER VO IC O N O G RA PH IA 88 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 88D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 88 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 Ainda assim, a liberdade não era plena. O Partido Comunista, por exemplo, teve seu registro cassado, e os sindicatos dos trabalhadores sofreram perseguições do governo, cujo objetivo era conter a organiza- ção da luta por direitos trabalhistas. Esse período também foi marcado por crises políticas. Em 1950, Getúlio Vargas voltou ao poder, desta vez eleito democraticamente, porém não completou seu mandato. Em 1954, diante do fortalecimento da oposição, o presidente se suicidou. Outro exemplo de crise ocorreu em 1961, quando o presidente Jânio Quadros (1917-1992) renunciou ao cargo. Setores conservadores da socie- dade não aceitavam que o vice-presidente, João Goulart (1919-1976), assumisse o governo, como mandava a Constituição, o que resultou no estabelecimento de um curto período parlamentarista na história brasi- leira, entre 1961 e 1963. Essas crises culminaram em um novo golpe de Estado, a partir da articulação de militares com setores da sociedade civil, dando origem a uma ditadura que vigorou no país de 1964 a 1985. Nesse período, novamente o Poder Executivo se impôs sobre os demais poderes, e os direitos individuais foram anulados. As eleições diretas foram suspensas e uma nova Constituição foi outorgada em 1967. As oposições foram duramente reprimidas e milhares de pessoas foram torturadas e mortas por agentes do governo. ■ Reprodução de man- chete do jornal Folha de S.Paulo de 12 de dezembro de 2018 lembrando os 50 anos do decreto do AI-5, ato institucional que deu ao presidente o poder de fechar o Congresso, promover censura e cassar direitos políticos, entre outras formas de repressão.FO LH AP RE SS > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NOLIVRO • Durante a ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985, os partidos políticos foram extintos e somente dois puderam existir: a Arena, partido da situação, e o MDB, partido da oposição. Em sua opinião, qual é o impacto que a extinção dos diversos partidos políticos provoca em um regime democrático? 89 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 89D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 89 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 A Nova República e o problema da corrupção Por mais de vinte anos o Brasil esteve sob o regime de ditadura civil-militar. A crescente pressão da sociedade civil obrigou o governo a promover um lento processo de reabertura política, que culminou na eleição indireta do presidente da República, em 1985. Em 1988, uma nova Constituição foi promulgada. Dessa vez, o texto constitucional foi criado com a participação de amplos setores da sociedade civil. O documento reconheceu direitos inéditos aos cidadãos brasileiros, como a extensão do voto aos analfabetos, a garantia do direito dos povos indígenas a viver em suas terras segundo seus cos- tumes, a defesa da reforma agrária, o reconhecimento das terras quilombolas e a criminalização do racismo. O processo de redemocratização do país deu início à chamada Nova República, uma democracia presidencialista que per- manece em vigor até o presente. Essa forma de governo trouxe avanços políticos importantes, ampliando a participação e as liberdades dos cidadãos, mas também vem sendo marcada por problemas graves. Um dos principais problemas da Nova República é a permanência de práticas de corrupção por agentes públicos e priva- dos. No plano político, a corrupção ocorre quando o bem público é prejudicado, ou seja, quando bens públicos são utilizados para atender a interesses privados. Patrimonialismo e a crise da democracia A corrupção não é recente na história do Brasil; ela marcou o pro- cesso de construção e consolidação do Estado nacional brasileiro. Muitos pesquisadores, como Raymundo Faoro (1925-2003), defendem a ideia de que a origem das práticas de corrupção está relacionada com o problema do patrimonialismo. Esse conceito, formulado pelo sociólogo alemão Max Weber (1864- 1920), foi utilizado para analisar a confusão que ocorre em determinadas sociedades entre as esferas públicas e privadas. Em uma sociedade ■ Placa de terra indí- gena protegida, em Primavera do Leste (MT), 2018. LU CI AN A W H IT AK ER /P U LS AR IM AG EN S 90 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 90D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 90 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 patrimonialista, agentes privados se organizam para utilizar os recursos públicos (provenientes de tributos e impostos) de modo a beneficiar seus próprios interesses em detrimento dos inte- resses de outros grupos. Um exemplo claro de prática patrimonia- lista ocorre quando se desvia dinheiro de obras públicas. Uma emprei- teira pode cobrar um valor mais alto do que o custo real para a cons- trução de um hospital. O político responsável pela aprovação do orçamento aceita a proposta e ambos dividem o valor extra. Dessa forma, os recursos públicos são usados indevidamente, prejudicando a sociedade. O patrimonialismo marcou a história da sociedade brasileira e con- tinua presente. As práticas de corrupção estão arraigadas em nossa sociedade, o que enfraquece os mecanismos democráticos do país. A corrupção fragiliza a democracia na medida em que parte da sociedade passa a olhar os políticos com desconfiança. Essa reali- dade marcou a história brasileira ao longo do século XX, colocando a democracia sob constante ameaça, já que muitas pessoas, ao perder a confiança na democracia, enxergam na ditadura uma solução para o problema da corrupção. Acontece, porém, que em governos ditatoriais as práticas patrimo- nialistas podem ser reforçadas, uma vez que a repressão às oposições e à imprensa dificulta as denúncias e investigações de crimes de cor- rupção. A forma mais eficiente de se combater o patrimonialismo é fortalecer a democracia e o controle da sociedade civil sobre os meca- nismos do governo. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em sua opinião, de que maneira a sociedade civil pode fortalecer a de- mocracia no país? ■ A participação dos cidadãos na política é essencial para defender seus direitos e com- bater a corrupção nos gastos públicos. Na foto, manifestação pela educação em Maceió (AL), 2019. JR M AN O LO /F O TO AR EN A 91 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 91D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 91 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> • Democracia é o tema da tirinha reproduzida abaixo. Observe-a com aten- ção e responda ao que se pede. 1. Na tirinha vemos personagens que representam dois grupos distintos. a) Quais grupos são representados? b) Que elementos presentes na tirinha embasam sua resposta? 2. A tirinha faz referência à democracia. a) O que é a democracia, no seu entendimento? b) De que maneira essa ideia encontra-se expressa na charge? 3. Pode-se dizer que a imagem mostra um equilíbrio de forças entre dois grupos? Justifique. 4. De acordo com a cartunista, de que modo é possível haver um equilí- brio de forças? Como essa ideia é transmitida na charge? Você concorda com essa ideia? 5. Além da democracia, a tirinha faz referência a outro elemento funda- mental da vida política. Qual é ele? 6. Resuma em uma frase a mensagem que a tirinha transmite, em sua opinião. LA ER TE LAERTE. [Tirinha]. Folha de S.Paulo, 1o maio 2018. 92 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU4.indd 92D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU4.indd 92 17/09/20 02:0717/09/20 02:07 DIAGNÓSTICO DA REALIDADE De acordo com os Relatórios de 2018 da We Are Social e da Hootsuite, 66% da população brasileira tem acesso à internet (porcentagem relativamente baixa em relação aos países desenvolvidos). Essas pessoas passam cerca de nove horas diárias conectadas à rede, das quais três horas e meia são dedicadas às redes sociais, o que representa quase o dobro da média mundial. Nesse cenário, devem ser consideradas duas realidades: o analfabetismo e o analfabetismo funcional. No primeiro caso, estão incluídas as pessoas que não sabem ler, escrever ou interpretar formalmente textos escritos; no segundo caso, incluem-se as pessoas que, embora saibam ler, possuem pouca ou nenhuma habilidade para interpretar o que leem. Segundo estudo realizado pelo Ibope Inteligência, em 2018, no Brasil, 29% da população era considerada analfabeta funcional e 8%, analfabeta, o que não sig- nifica que essas pessoas não utilizem as redes sociais. Independentemente desses fatores, o fato é que nem sempre lemos na íntegra os conteúdos que acessamos por meio da internet e das redes sociais, como destaca o texto a seguir: Mesmo quando os links são clicados, poucos leitores vão passar dos primeiros parágrafos, o que facilita ainda mais o trabalho de elaboração de uma notícia falsa. Estudo do Nielsen Norman Group divulgado em 2013 mostrou que 81% dos leitores voltam os olhos – o que não significa necessariamente que estão, de fato, a ler – para o primeiro parágrafo de um texto na internet, enquanto 71% chegam ao segundo. São 63% os que olham para o terceiro parágrafo, e apenas 32% voltam os olhos para o quarto. [...] Outro desafio ainda se coloca na qualidade da leitura. “A não ser que se preste atenção especial ao que está lendo, os artigos ficam descontextualizados em relação às suas fontes e fatos se misturam livremente com ficção” (Chen, Conroy & Rubin, 2015b, tradução própria). DELMAZO, C.; VALENTE, J. C. L. Fake news nas redes sociais on-line: propagação e reações à desinformação em busca de cliques. Media & Jornalismo, v. 18, n. 32, Lisboa, abr. 2018. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S2183-54622018000100012.Acesso em: 11 ago. 2020. O que torna o problema das fake news ainda mais grave é a existência de grupos que operam na deep web, uma parte da rede oculta ao público. Esses grupos criam uma página na internet e programam um robô para disseminar o link nas redes. Quanto mais um tema é mencionado, mais o robô dispara infor- mações, numa velocidade que pode chegar a dois segundos. As limitações de leitura e interpretação de texto, somadas à forma apressada como são lidas as informações na internet, ao volume e à velocidade de disse- minação das fake news e à dificuldade que os leitores, de modo geral, têm em identificá-las, podem levar a um cenário desastroso em relação à maneira como as pessoas se informam, constroem juízos de valor e agem na sociedade. Etapa 1 SH U TT ER ST O CK 93 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 93D3-CH-EM-3075-V2-U3-C5-082-097-LA-G21_AVU1.indd 93 16/09/20 18:1316/09/20 18:13 CAPÍTULO 6 Em junho de 2020, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, organizou um comício para sua campanha de reeleição na cidade de Tulsa, no estado de Oklahoma. A equipe do presidente acreditava que o estádio onde ocorreria o evento lotaria, com mais de 19 mil pessoas, considerando o número de solicitações de convite para o evento. O estádio, porém, não tinha sequer um terço do público esperado: autoridades estimam que cerca de 6 mil pessoas tenham participado do evento. O que teria causado o “sumiço” das pessoas, se havia tantos interessados? Usuários de uma rede social e fãs do gênero musical K-pop reconheceram ter organizado uma ação para solicitar convites, porém, sem intenção de comparecer. Assim, enganaram a equipe do presi- dente, ao fazê-la acreditar que havia um interesse real das pessoas em participar do comício. A ação, cujo objetivo foi desestabilizar a campanha de Trump, é um claro exemplo de participação política de jovens para mudar os rumos políticos do país. Esse tipo de ação colaborativa, que se tornou muito comum nos últimos anos, faz uso intenso da internet como plataforma de organização popular para dialogar com os governos e pressioná-los. Neste capítulo, vamos refletir sobre o conceito de participação polí- tica, conhecendo as várias maneiras pelas quais os indivíduos podem tomar parte das decisões dos governos e da sociedade. Também vamos refletir sobre o impacto da internet na participação política e conhecer exemplos de outras ações organizadas por jovens para participar da vida política de seus países. Participação política ■ Homem em arquiban- cada vazia do estádio onde ocorreu o comício de Donald Trump, em Tulsa, Oklahoma (Estados Unidos), em junho de 2020. refletir sobre o impacto da internet na participação política e conhecer exemplos de outras ações organizadas por jovens para participar da vida política de seus países. em Tulsa, Oklahoma (Estados Unidos), em junho de 2020. LE AH M IL LI S/ RE U TE RS /F O TO AR EN A 94 Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 94D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 94 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 O que é participação política? A expressão participa- ção política é utilizada com grande frequência no mundo contemporâneo. Se você fizer uma busca rápida na internet por vídeos sobre participação política, encontrará mais de 100 mil resultados. Em junho de 2020, era possível encontrar quase um milhão de páginas contendo essa expressão. Nessa vastidão de resultados, pode não ser tão fácil entender com clareza o seu significado. O que significa participar da política? Significa apenas votar ou é preciso se tornar um político? Discutir política é uma forma de participação? Escrever ou gravar postagens sobre política também é uma maneira de participar? E comparecer a manifestações públicas ou tentar modificar aspectos comportamentais da sociedade, pode também ser considerada parti- cipação política? As ciências humanas podem nos ajudar a responder a essas questões e a compreender melhor o conceito de participação política. Entender esse conceito é importante não apenas para ter mais clareza do seu sig- nificado, mas, principalmente, para nos ajudar a transformar a política no mundo em que vivemos e a construir uma sociedade mais igualitária. Participação política e governo Vimos no capítulo anterior que, ao longo do tempo, foram criadas diversas formas de organização do governo, o que significa que houve diferentes maneiras de participação política no decorrer da História. Mesmo nos dias atuais, existem diferentes modos de participar da polí- tica, de acordo com o tipo de governo ou de sociedade, e esses modos também poderão se alterar no futuro. A definição de participação política, portanto, envolve distintas possibilidades de intervenção dos indivíduos ou grupos humanos nas decisões políticas e na sociedade em que vivem. ■ Divina Maloum recebe prêmio de Kailash Satyarthi, durante a cerimônia do Prêmio Internacional da Paz das Crianças. Haia (Holanda), 20 de novembro de 2019. N AC H O C AL O N G E/ G ET TY IM AG ES 95 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 95D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 95 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 O cientista político italiano Gianfranco Pasquino (1942-) define participação política como o conjunto de ações e condutas que são utilizadas por indivíduos e grupos para influenciar a organização e as ações do governo e modificar a sociedade. Essa definição fica mais clara com a ajuda de alguns exemplos. Vamos supor que o presidente de um país decida, com o apoio de seus aliados, cortar os recursos federais para a manutenção das universida- des públicas. Essa decisão irá desagradar uma parcela da sociedade, que, na tentativa de reverter os cortes, passará a se mobilizar por meio de uma série de ações: manifestando-se nas redes sociais, ques- tionando o governo, organizando passeatas ou greves, publicando textos em jornais, entre outras possibilidades. Todas essas ações são exemplos de participação política. Caso o presidente ignore as reivindicações e mantenha sua decisão de corte de investimentos públicos, essa parcela da sociedade pode dar sua resposta nas urnas, nas próximas eleições, votando em outros candidatos. Essa também é uma forma de participação política. Assim, a participação política é bastante ampla e envolve múltiplas possibilidades de pressão, diálogo e convencimento, visando influen- ciar as decisões e ações do governo ou a sociedade, de modo geral. ■ Estudantes da rede estadual paulista de ensino realizam protesto contra o fechamento das escolas em São Paulo (SP), 2015. RO G ER IO C AV AL H EI RO /F U TU RA P RE SS 96 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 96D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 96 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 Outras formas de participação política ao longo do tempo Uma das formas de participação política adotadas na atualidade é a representação. Nas democracias contemporâneas, os políticos são eleitos para representar os interesses dos cidadãos. Nem toda sociedade, porém, se organiza segundo o princípio da representação. A antiga democracia ateniense constitui um exemplo de sistema direto de participação política. Em Atenas, todos os cidadãos participavam das assembleias e podiam ocupar cargos políticos na pólis. Nesse sistema, a participação política dos cidadãos ocorria a partir do envolvimento nas assembleias e discussões realizadas na ágora. Todo cidadão tinha direito a igual participação no exercício do poder, podendo agir diretamente para mudar decisões do governo. Outro exemplo de participação pode ser encontrado nas socieda- des ameríndias. De acordo com o antropólogo francês Pierre Clastres (1934-1977), existem sociedades indígenas que se organizam de forma igualitária.Embora as aldeias tenham um chefe, ele não tem o poder de decisão sobre os assuntos da comunidade. O chefe precisa apresentar suas ideias e encontrar meios de influenciar as decisões do grupo. Há, por- tanto, uma inversão da ordem da participação política que conhecemos. Ágora Praça principal das antigas cidades gregas. ■ Mulheres lutam o huka- -huka durante a Festa do Uluri, ritual de formação de liderança feminina da comunidade. Aldeia Kamayurá Ipavu, Gaúcha do Norte (MT), em 2018. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Um cidadão pode ter uma atuação política independente de vínculos com partidos políticos? Que outras formas de organização política são possíveis? LU CI O LA Z VA RI CK /P U LS AR IM AG EN S 97 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 97D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 97 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 A invenção do sufrágio como forma de participação política A participação política representativa está associada ao sufrá- gio. Durante muitos séculos, porém, a ideia de que toda a sociedade deveria participar das decisões políticas por meio do voto não existia. Na Europa do Antigo Regime, entre os séculos XV e XVIII, a partici- pação política estava restrita a uma pequena parcela de privilegiados, à qual era dado o direito de influenciar os rumos do governo, geralmente por meio de petições e reclamações aos monarcas absolutistas. As revoluções ocor- ridas a partir do final do século XVIII provocaram a queda do Antigo Regime na Europa e na América. Assim começou a se formar a ideia de que os cidadãos deveriam participar ativa- mente da organização do governo e da construção de suas políticas. Foi nesse processo que o sufrágio se transformou em uma fer- ramenta importante para assegurar a representação dos desejos e projetos políticos dos cidadãos. Esse processo deu origem ao sistema moderno de partidos polí- ticos. Um partido político é uma organização social que se constitui em torno de interesses políticos comuns e se propõe alcançar o poder. No Brasil, por exemplo, os filiados a um partido podem se candidatar a um cargo público de vereador, prefeito, governador, deputado esta- dual ou federal, senador ou presidente por meio de eleições. Durante grande parte do século XX, a participação política se manifestou predominantemente por meio do voto e do envolvimento com partidos políticos tradicionais das mais diversas democracias do planeta. Embora não tenha sido a única, o engajamento partidário representou uma forma de participação importante para compreen- der as disputas e a dinâmica política das democracias no período. Sufrágio Ato de votar em uma eleição. ■ Mulher vota nas eleições para novos membros do Parlamento no Rio de Janeiro (RJ), em 1933. KE YS TO N E- FR AN CE /G AM M A- RA PH O /G ET TY IM AG ES 98 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 98D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 98 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 Os dois textos a seguir discutem a questão da participação política. O primeiro é da filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-); o segundo é um poema atribuído a Bertolt Brecht (1898-1956), um dos mais importantes escritores alemães do século XX. Após a leitura de ambos, realize as atividades propostas. As pessoas que [...] não querem ouvir falar em política, recusam-se a participar de atividades sociais que possam ter finalidade ou cunho políticos, afastam-se de tudo quanto lembre ativi- dades políticas, mesmo tais pessoas, com seu isolamento e sua recusa, estão fazendo política, pois estão deixando que as coisas fiquem como estão e, portanto, que a política continue tal qual é. A apatia social é, pois, uma forma passiva de fazer política CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003. p. 379. O analfabeto político O pior analfabeto É o analfabeto político. Ele não ouve, não fala Nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, O preço do feijão, do peixe, da farinha, Do aluguel, do sapato e do remédio Dependem das decisões políticas. O analfabeto político É tão burro que se orgulha E estufa o peito dizendo Que odeia a política. Não sabe o imbecil que, Da sua ignorância política Nasce a prostituta, o menor abandonado, E o pior de todos os bandidos, Que é o político vigarista, Pilantra, corrupto e lacaio Das empresas nacionais e multinacionais. Poema atribuído a Bertolt Brecht apud SOUSA, R. A. de et al. Portal do Professor. Como trabalhar com o conceito de analfabeto político [...]. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=34664. Acesso em: 12 ago. 2020. 1. Segundo Marilena Chaui, por que o fato de alguém se manter alheio à vida política deve ser consi- derado um gesto político? 2. Por que, para o texto atribuído a Bertolt Brecht, “o pior analfabeto é o analfabeto político”? 3. Em sua opinião, não participar das eleições, votar em branco ou anular o voto é também um ato político? Por quê? 4. Escreva no caderno um texto comparando as ideias de Marilena Chaui com o poema. Procure rela- cionar o que leu com a realidade social, política e econômica do Brasil atual. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 99 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU3.indd 99D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU3.indd 99 17/09/20 02:1617/09/20 02:16 A participação política na era da internet Nas últimas décadas, o desenvolvimento da internet e das tecnolo- gias de comunicação provocou mudanças importantes na forma como os cidadãos participam da política. Em alguns países, essas mudanças provocaram o enfraquecimento dos partidos políticos tradicionais e o surgimento de novas estratégias de organização e participação políticas. Alguns cientistas sociais, como o sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-), defendem a ideia de que a internet provocou uma revolução na forma como a democracia é praticada no mundo, uma vez que possibilitou ampliar a participação política dos cidadãos, criando uma ágora digital na qual os indivíduos podem participar da democracia de forma direta. Entretanto, não existe consenso entre os pesquisadores. Segundo o entendimento de parte dos cientistas sociais, a internet cria meca- nismos que aprimoram a participação dos cidadãos na democracia representativa existente, mas que não asseguram efetivamente o exer- cício de uma democracia direta. Há também aqueles que consideram alguns aspectos da internet como ameaças à democracia. Para refletir sobre essas diferentes visões, é importante pensar um pouco sobre o desenvolvimento da internet e o modo como o mundo digital se tornou um ambiente que permite aos cidadãos participar e se organizar politicamente. ■ Diversas mobilizações populares atualmente são organizadas pelas redes sociais. A foto mostra um celular exibindo a hashtag #blackouttuesday, campanha de para- lisação do trabalho iniciada pela indús- tria da música, em solidariedade aos protestos antirracismo, que floresceu nas redes sociais. Washington DC (Estados Unidos), 2020. ER IC B AR AD AT /A FP /G ET TY IM AG ES 100 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 100D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 100 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 Internet e colaboração É provável que você passe a maior parte do seu tempo na internet utilizando as redes sociais. Uma das principais características dessas plataformas é que elas se organizam por meio da interação de seus usuá- rios. Quando, por exemplo, você grava um vídeo e o compartilha em uma rede social, você está produzindo um conteúdo que poderá ser utilizado por outras pessoas. A internet atualmente é uma rede colaborativa e descentralizada. Cada internauta pode produzir conteúdos e divulgar informações, dividindo-os com pessoas conhecidas ou desconhecidas. Ao contrário de outros meios de comunicação, como o jornal, o rádio e a televisão, na internet não existeuma hierarquia clara entre quem produz conteúdo e quem utiliza o conteúdo. Um jornal, uma emissora de rádio ou de televisão têm a possibili- dade de selecionar notícias e informações, determinando previamente o que será divulgado, de acordo com seus critérios. Desse modo, o público leitor, ouvinte ou telespectador não participa da produção desses conteúdos. Na internet, os grandes portais de notícias também fazem uma seleção prévia de conteúdos, porém os usuários conseguem intera- gir com o veículo (no caso dos que permitem comentários) e podem compartilhar os textos em suas redes sociais, o que abre novas possibili- dades de participação política. A rede permite aos internautas defender suas visões políticas de uma forma que não era possível nos veículos de comunicação tradicionais. ■ Aluna de um Centro Educacional Unificado (CEU) participa de uma aula sobre fake news, em São Paulo (SP), 2018. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Um dos principais problemas advindos da rápida expansão da internet é a facilidade para transmitir notícias e informações falsas ou que induzem a erro. São as chamadas fake news, que se disseminam sobretudo em períodos eleitorais. Em sua opinião, qual é o interesse de quem divulga esse tipo de conteúdo e como é possível combatê-lo? M IG U EL S CH IN CA RI O L/ AF P 101 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 101D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 101 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 A internet e a organização de movimentos sociais O caráter colaborativo da internet começou a ser explorado nos anos 1990, quando teve início a expansão da rede de computadores por todo o planeta, per- mitindo as trocas de informações e mensagens entre pessoas das mais diversas partes do mundo. Desde então, tornou-se possível a organização de movimentos sociais que visam à participação popular nas decisões políticas. Um exemplo foi o movimento zapatista, cuja aparição pública ocorreu no estado mexicano de Chiapas, em 1994. Fazendo uso dos recursos de correio eletrônico e das redes de comunicação via internet, os zapatistas construíram uma rede de soli- dariedade formada por ativistas de direitos humanos em todo o mundo para lutar por melhores condições de vida para as populações indígenas do México. O uso da internet para a articulação de movimentos sociais e grupos políticos ganhou mais força na década de 2000. A partir de então, organizações não gover- namentais, grupos políticos, movimentos sociais e cidadãos comuns passaram a se manifestar e a compartilhar ideias pela rede com o objetivo de influenciar as decisões do governo. A internet se transformou em um veículo importante para o ativismo político e social no mundo contemporâneo. Por essa razão, alguns pensadores consideram que a internet pode ajudar a criar uma forma de democracia direta. Outros pensadores lembram que a participação política digital tem limitações. Segundo eles, a internet não é capaz de substituir o sistema de representação, mas oferece aos cidadãos a possibilidade de influenciar a tomada de decisões do governo e acompanhar de forma mais ativa as ações dos políticos eleitos, zelando para que eles defendam os interesses da sociedade que os elegeu. É importante, porém, destacar que o caráter colaborativo da internet esbarra nos limites concretos de acesso a ela, já que a inclusão digital ainda é bas- tante desigual no Brasil e no mundo. ■ Mulheres e crianças participam de marcha pelos direitos humanos na revolta zapatista. O movimento ganhou destaque internacional no dia 1o de janeiro de 1994, quando homens do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) ocuparam as prefeituras de diversas cidades mexicanas. Chiapas (México), 1994.MA RW O O D JE N KI N S/ AL AM Y/ FO TO AR EN A 102 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 102D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 102 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 O problema da desigualdade de acesso à internet O acesso à internet no Brasil avançou nos últimos dez anos, mas revela dife- renças sociais importantes. Segundo dados de um estudo que mede os hábitos e comportamentos de usuários da internet, TIC Domicílios 2018 (TIC é a sigla de Tecnologia da Informação e Comunicação), o acesso da população brasileira à internet teve um avanço de quatro pontos percentuais em relação a 2018, alcançando 74% de usuários (133,8 milhões de pessoas). Contudo, esse índice mostra que um em cada quatro brasileiros ainda não tem acesso à internet. É importante verificar a taxa de usuários que acessam a internet exclusi- vamente pelo celular, já que nem sempre os aparelhos permitem a realização de atividades mais complexas. A pesquisa indica que 58% dos internautas brasilei- ros se conectam apenas pelo telefone móvel. Em 2014, 80% dos usuários aces- savam a internet pelo computador. Em 2018, esse índice caiu para 42%. Essa diferença é ainda maior se considerar- mos as classes sociais: dos usuários que se conectam à internet unicamente pelo celular, 85% pertencem às classes D e E. Observe os gráficos ao lado: Fonte: PESQUISA sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2018 . São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2019. p. 105. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/ 12225320191028-tic_dom_2018_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 11 ago. 2020. Brasil: domicílios com acesso à internet, por área, 2008-2018 2009 2010 201320122011 2014 2015 2016 2017 2018 0 20 40 80 60 Ano Total de domicílios (%) 20 27 31 44 48 54 56 59 65 70 40 18 24 27 40 43 50 51 54 61 67 36 4 6 6 10 15 22 22 26 34 44 8 2008 Urbana Total Rural Fonte: PESQUISA sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2018 . São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2019. p. 111. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/ 12225320191028-tic_dom_2018_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 11 ago. 2020. Brasil: usuários de internet por área, grau de instrução, faixa etária e classe social, 2008-2018 70 74 49 14 57 88 95 83 90 86 80 61 28 92 91 76 48 0 Total da população (em %) To tal Ru ral Ur ba na An alf ab eto / Ed uc aç ão in fan til Fu nd am en tal Mé dio Su pe rio r De 10 a 15 an os De 16 a 24 an os De 25 a 34 an os De 35 a 44 an os De 45 a 59 an os De 60 an os ou m ais A B C D E Área Grau de instrução Faixa etária Classe social 20 40 60 80 100 NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM 1. Observe atentamente os gráficos desta página e escreva no caderno um pequeno texto a respeito do que os dados revelam sobre o acesso à internet no Brasil. De 2018 até o presente, e considerando a sua realidade e a das pessoas que conhece, você avalia que as diferenças entre os grupos repre- sentados tiveram mudanças significativas? 2. O acesso à internet exerce um importante papel a fim de promover melhorias nas condições de vida da população. Em sua opinião, como a ampliação do acesso à internet na sua comunidade poderia contribuir para isso? SO N IA V AZ SO N IA V AZ 103 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU2.indd 103D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU2.indd 103 17/09/20 00:0117/09/20 00:01 ■ Estudantes e trabalhadores participam de manifestação em Paris (França), em maio de 1968. O jovem e a participação política Ao longo do século XX, os jovens se tornaram uma força política importante, organizando ações variadas para influenciar governos e promover transformações sociais. Na década de 1960, por exemplo, uma onda de protestos de estudantes na França mobilizou milhões de pessoas no movimento chamado Maio de 1968. Defendendo mudanças radicais nas estrutu- ras da sociedade da época, os jovens tomaram as ruas de Paris e de outrascidades francesas. As manifestações estudantis estimularam os trabalhadores france- ses a iniciar uma série de greves por melhores condições de vida. Os protestos paralisaram a França durante dois meses e inspiraram jovens de diversas partes do mundo a lutar por mudanças sociais. Muitos artistas aderiram ao movimento por meio da criação de canções, peças teatrais, filmes e outras obras de arte que defendiam novos valores sociais e combatiam o machismo, o racismo e outras espécies de preconceito e desigualdade. Produções artísticas também são uma forma de participação política. Outro exemplo de participação política organizada por jovens ocorreu no Brasil no início dos anos 1990. Milhares de estudantes organizaram o movimento dos caras-pintadas para exigir a cassação do então presidente Fernando Collor de Mello, acusado de envolvimento em esquemas de corrupção. Collor acabou sofrendo um processo de impeachment que resultou na cassação de seus direitos políticos em 1992. Esses dois exemplos demonstram a influência dos jovens na política do século XX e sua ativa participação na sociedade em diversas partes do mundo. No século XXI, a internet tem servido de plataforma para a articulação de novos movimentos juvenis. JA CQ U ES M AR IE /A FP 104 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 104D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 104 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 As Jornadas de Junho de 2013 e a mobilização estudantil de 2015 No Brasil, na segunda década do século XXI, dois movimentos con- taram com intensa participação dos jovens: as Jornadas de Junho de 2013 e a mobilização estudantil de 2015. As jornadas tiveram início após o anúncio de aumento das tarifas de transporte público em diversas cidades brasileiras. Esse episódio defla- grou a articulação de movimentos sociais que lutam pelo direito ao transporte. Esses movimentos, encabeçados por jovens, se organizaram nas redes sociais e conquistaram a opinião pública, especialmente em razão da forte repressão policial contra os manifestantes. Com a adesão de boa parcela da população, os protestos ganharam força. Grandes manifestações populares ocorreram nos centros urbanos de várias partes do Brasil. O movimento acabou extrapolando o objetivo inicial de luta pela redução das tarifas de transporte e incorporou pautas variadas, incluindo a reivindicação de reformas políticas. A mobilização estudantil de 2015 ocorreu no estado de São Paulo e foi organizada por estudantes do Ensino Médio e universitários que questionavam a decisão do governo do estado de promover uma reestruturação do ensino público paulista. O movimento utilizou as redes sociais para organizar a ocupação de escolas e expor seus argu- mentos contra a reforma. Durante as ocupações, os jovens realizaram tarefas de manutenção dos prédios e promove- ram eventos artísticos e aulas livres. Apesar das tentativas do governo do estado de conter o movimento, os jovens conquistaram apoio de amplos setores da sociedade civil e forçaram a Secretaria de Educação a rever a reforma. ■ Em 2015, estudantes do Ensino Médio e uni- versitários ocuparam cerca de 200 escolas no estado de São Paulo. Na foto, faixas em frente à Escola Estadual Fernão Dias Leme, na zona oeste de São Paulo (SP), 2015. RONALDO SILVA/FUTURA PRESS > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • O ativismo por meio da internet tem sido cada vez mais praticado por grupos defensores de diver- sas causas: políticas, sociais, educacionais, ecológicas, de gênero, entre muitas outras. Com seus colegas, discutam as seguintes questões: Qual é a importância desses grupos e o impacto deles na sociedade? Vocês participam de algum movimento semelhante? Em caso positivo, qual e por quê? 105 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 105D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 105 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 Os documentos a seguir permitem discutir a ideia de participação política na sociedade. Inicialmente, apresentamos o trecho de uma entrevista concedida pela desenhista gaúcha Fabiane Langona, na qual ela explica sua visão sobre a relação entre arte e política. Em seguida, reproduzimos desenhos da artista sobre questões femininas. Analise os documentos com atenção e responda ao que se pede. É muito difícil elencar o que é político ou não. Comportamento é político. Amor é político. Todas as coisas são políticas de forma geral. [...] O contexto político está inserido em todo nosso comportamento, em tudo que vivemos. Você fala em “questão feminina”. Quer luta, ou tema mais político que esse? [...] Não são “ques- tões femininas”, são questões de toda a sociedade. São questões de todas e todos que estão dispostos a repensar a história dando real dimensão a abordagens antes deixadas para trás por conta de uma sociedade misógina que nos empurra um papel secundário, no qual as narrativas e experiências femininas são vistas como de segunda classe ou menores. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO FA BI AN E LA N G O N E 106 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 106D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 106 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 1. Que tipos de situação Fabiane Langona apresenta em seus desenhos? Que discussão ela traz à tona? 2. Que relação pode ser feita entre os desenhos da artista e o trecho reproduzido de sua entrevista? 3. Fabiane Langona aponta exemplos de discursos machistas observados na sociedade brasileira. Em sua opinião, a arte tem o poder de promover mudanças nesse tipo de comportamento? Por quê? 4. Os desenhos de Fabiane são um exemplo de participação política por meio da arte. Cite outro trabalho artístico que, na sua opinião, apresenta essa proposta e justifique a sua escolha. 5. Em um trecho da entrevista, Fabiane afirma que "É muito difícil elencar o que é político ou não. Comportamento é político. Amor é político. Todas as coisas são políticas de forma geral". Você concorda com a artista? Justifique. EXPRESSA. Rio de Janeiro, n. 3, p. 9, nov. 2019.FA BI AN E LA N G O N E 107 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU2.indd 107D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU2.indd 107 17/09/20 00:0117/09/20 00:01 O Complexo do Alemão, ou Morro do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, é formado por 13 comunidades e abriga uma população de 180 mil pessoas. Esses moradores convivem com uma série de pro- blemas, como ruas esburacadas, falta de eletricidade e de saneamento básico. Em 2010, os moradores do Complexo do Alemão viveram um momento de grande tensão quando tropas das Forças Armadas e da Polícia Militar ocuparam o morro, e as ruas se transformaram em um palco de guerra entre militares e traficantes. Foi a partir desse momento que Rene Silva ganhou reconhecimento. Na época com 17 anos, Rene, de dentro de sua casa – localizada no Morro do Adeus, uma das comunidades do complexo –, começou a publicar em uma rede social informações sobre o confronto em tempo real. Suas postagens se tornaram a principal fonte de notícias sobre os conflitos e viralizaram com rapidez. Em poucas horas, o perfil Voz das Comunidades, criado por Rene em uma rede social para divulgar as informações, recebeu milhares de seguidores do Brasil e de vários outros países. Mais do que isso, ganhou destaque nas mídias nacionais e internacionais. A experiência de Rene com o jornalismo comunitário começou aos 11 anos, quando lançou na escola o jornal Voz das Comunidades, para divulgar os problemas do Morro do Adeus. Com apenas quatro páginas e uma tiragem de 50 exemplares, o periódico ajudou a comunidade a chamar a atenção do poder público para suas reivindicações. ■ Rene Silva, funda- dor do jornal Voz das Comunidades, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro (RJ), em 2020. FE RN AN D O S O U ZA DIÁLOGOS> EU TAMBÉM POSSO> 108 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 108D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd108 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 Contando com uma equipe reduzida de colaboradores, todos da mesma faixa etária de Rene, o jornal passou a ser patrocinado por comer- ciantes locais, o número de páginas aumentou e a tiragem saltou para 5 mil exemplares. Tudo isso antes dos acontecimentos de 2010. Desde então, o Voz das Comunidades só cresceu, e seu campo de atuação se expandiu, transformando-se em um portal na internet. Além disso, ele tem contas em diversas redes sociais que conquistaram centenas de milhares de seguidores. O jornal, que no início circulava apenas no Morro do Adeus, chegava a dez comunidades do Complexo do Alemão em 2020. Além de dar voz aos moradores do Complexo do Alemão e mostrar as potencialidades do lugar, o Voz das Comunidades passou a realizar atividades ligadas à cultura, à assistência social, à educação e ao lazer. Todo esse trabalho desenvolvido por Rene lhe rendeu projeção inter- nacional. Em 2018, a Mipad, uma organização sediada em Nova York e ligada às causas dos afrodescendentes, elegeu Rene como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo. No Brasil, o trabalho de Rene serviu de inspiração para a criação de outros portais comunitários, como o Nordeste Eu Sou, de Salvador; e o Diário de Ceilândia, no Distrito Federal. A respeito de seu trabalho, Rene declarou: A realidade das favelas é não ter voz, não ter espaço, não ter mídia, e o meu desejo é fazer com que a gente tenha voz e espaço e que consiga, de fato, mais jovens assim como eu. XAVIER, E. Do Complexo do Alemão ao mundo, Rene Silva amplia voz de quem não tem palavra. GQ, 20 jul. 2020. Disponível em: https://gq.globo.com/Prazeres/Poder/noticia/2020/07/do-complexo-do-alemao-ao- mundo-rene-silva-amplia-voz-de-quem-nao-tem-palavra.html. Acesso em: 12 ago. 2020. 1. Com base na leitura do capítulo, pode-se dizer que o trabalho de Rene Silva é um exemplo de participação política? Por quê? 2. Rene afirma: “A realidade das favelas é não ter voz, não ter espaço, não ter mídia”. Em sua opinião, por que isso acontece? Qual é o impacto dessa realidade para os moradores das comunidades? 3. A pouca idade não impediu Rene de realizar o desejo de escrever um jornal para a comunidade em que vivia. Como você reage quando se depara com algum problema que pode impedir a concretização de um objetivo seu? Você desiste ou procura alternativas? Conte para seus cole- gas sobre seu comportamento nessas ocasiões, procurando ilustrar com uma experiência vivida por você. NÃO ESCREVA NO LIVRO 109 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 109D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 109 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 PLANEJAMENTO Atualmente, o que chamamos de mídias tradicionais são revistas, jornais (em versão impressa ou on-line), rádio e televisão. O que, de modo geral, diferencia as mídias tradicionais das demais é o fato de que elas devem provar a veracidade das notícias por meio de depoimentos, documentos, imagens etc. antes de divulgá-las, e há uma equipe de jornalis- tas responsáveis pela divulgação dos conteúdos. Em tese, portanto, as mídias tradicionais seriam mais confiáveis. Isso não significa, porém, que as mídias tradicionais sejam neutras, ou seja, isentas de parcialidade. Ainda que as notícias veiculadas sejam baseadas em fontes fidedignas, há sempre um posicionamento político, econômico ou social que nem sempre está explícito. Por exemplo, dois veículos de comunicação podem noticiar um mesmo fato de maneiras bastante distintas. O jornal X pode apresentar a seguinte chamada: “Manifestantes param o trânsito e causam tumulto na cidade de Porto Alegre”, enquanto o jornal Y decide usar a manchete “Estudantes se manifestam por melhorias na educação, em Porto Alegre”. Reúnam-se e organizem uma roda de conversa para trocar ideias sobre a forma como vocês lidam com as notícias e informações que buscam ou recebem. • Quais meios de comunicação vocês utilizam? • Vocês têm o hábito de ler ou escutar as notícias na íntegra? • Ao buscar informações sobre uma mesma notícia em diferentes fontes, cos- tumam desconfiar de alguma mídia ou tipo de notícia? Ao longo ou ao final da conversa, façam anotações em seus cadernos. Elaborem em conjunto um pequeno questionário com o objetivo de identificar se as pessoas da sua família e da sua comunidade escolar (de diferentes faixas etárias) sabem o que são fake news, se acreditam em informações enviadas por amigos ou conhecidos por meio de redes sociais e se ficam em dúvida quanto à veracidade de algum tipo de informação. Decidam quantas pessoas cada um de vocês irá entrevistar e de que forma as respostas deverão ser recolhidas (por escrito, redigidas pelos próprios entre- vistados ou anotadas pelo entrevistador; gravadas e transcritas). É importante que as perguntas sejam simples e diretas e que possam ser facilmente tabuladas e analisadas. No entanto, é aconselhável prever uma per- gunta que dê ao entrevistado a chance de relatar alguma dificuldade específica ou alguma experiência que teve com fake news. Em seguida, reúnam todas as informações e identifiquem as principais dúvidas e dificuldades dos entrevistados em relação às fake news. Esse rela- tório servirá de base para vocês começarem a planejar a elaboração do folheto informativo sobre o tema. Etapa 2 110 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU2.indd 110D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU2.indd 110 17/09/20 00:0217/09/20 00:02 > SAIBA MAIS Eleições Direção: Alice Riff. Brasil, 2018. DVD (100 min). Documentário que acompanha o processo de organização das eleições para o grêmio estudantil de uma escola pública brasileira. O filme permite refletir sobre a questão da participação política e da organização dos jovens no Brasil. As sufragistas Direção: Sarah Gavron. Reino Unido, 2015. DVD (106 min). O filme retrata a luta das mulheres pelo direito ao voto na Inglaterra, no início do século XX. Um grupo de militantes decide coordenar atos de insubordinação, sofrendo violenta repressão policial e pressão dos familiares para que retornem ao lar. Acabou a paz, isto aqui vai virar o Chile Direção: Carlos Pronzato. Brasil, 2016. DVD (60 min). Por meio de imagens de arquivo e relatos de participantes e pesquisadores, o documentário analisa a mobilização estudantil de 2015, em São Paulo, e revela características do movimento e seu impacto na organização das escolas públicas do estado. Maio de 68: o início dos movimentos universitários TV Cultura. Vídeo (5min40s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PNZRlpeMfFo. Acesso em: 16 set. 2020. O vídeo, produzido pela TV Cultura, analisa o movimento de maio de 1968 e reflete sobre o desenvolvimento das manifestações estudantis no período. O livro da política Vários autores. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2017. O livro apresenta de forma didática e com muitos recursos visuais algumas das ideias centrais para refletir sobre a política no mundo contemporâneo. Há análises sobre a divisão dos poderes, as diferentes formas e regimes de governo e outras informações importantes para entender conceitos relacionados à política. História do voto no Brasil Jairo Nicolau. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. Com linguagem didática, o livro apresenta uma breve história do voto no Brasil, analisando o processo de transformação e extensão do direito ao voto ao longo do tempo e o resultado dessas mudanças na organi- zação do governo brasileiro. Cúpula da Juventude pelo Clima Disponível em: https://www.unenvironment.org/pt-br/events/summit/cupula-da-juventude-para-o-clima. Acesso em: 8 set. 2020. Site da Cúpula da Juventude pelo Clima, organizado pela ONU, traz informações sobre a organização, que é um exemplo de ativismo de jovens no mundo contemporâneo. 111 D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 111D3-CH-EM-3075-V2-U3-C6-094-111-LA-G21_AVU1.indd 111 16/09/20 20:5916/09/20 20:59 112 UNIDADE 112 1. Com base em sua vivência, quais aspectosda sociedade brasileira você considera de- mocráticos e em quais ainda precisamos avançar? 2. De acordo com seu ponto de vista, o que signi- fica exercer a democracia no espaço escolar? Organização do Estado Liberdade de opinião e de expressão e participação política por meio de eleições não são elementos suficientes para caracterizar um regime democrático. A democracia tem a função de assegurar o exercício dos direitos humanos, possibilitando a todos os cidadãos o acesso à educação, ao trabalho e a condi- ções dignas de vida, devendo ainda promover e garantir o respeito às diferenças étnicas, de gênero e religiosas, entre outras. O racismo, o preconceito, a intolerância, as desigualdades sociais, o desrespeito pela reli- gião do outro são atitudes que colocam em risco a existência de Estados democráticos. Nesta unidade vamos conhecer o processo histórico que resultou na formação dos Estados nacionais e refletir sobre a importân- cia de lutar por uma sociedade democrática. 4 NÃO ESCREVA NO LIVRO D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 112D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 112 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 ACERVO MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO ASSIS CHATEAUBRIAND, SÃO PAULO 113113 ■ Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, Brasil [Brazil], 1990). Éramos as cinzas e agora somos o fogo, da série Pardo é papel, 2018. Látex, graxa, henê, betume, corante, acrílica, vinílica, grafite, caneta esferográfica, carvão e bastão oleoso sobre papel pardo, 318,7 cm x 480 cm. Acervo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Doação Alfredo Setubal, Heitor Martins e Telmo Porto, no contexto da exposição Histórias afro-atlânticas, 2019. MASP.10813. Foto MASP. D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 113D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 113 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 CAPÍTULO 7 A organização do Estado “Eu não gosto de política.” É provável que você já tenha ouvido alguém dizer essa frase, justificando-a com argumentos como “política é chata” ou “prefiro não me envolver com política”. O que ganhamos – ou perdemos – nos distanciando da política? Se nós não participarmos da política, outros o farão em nosso lugar e decidirão por nós. É por meio da ação política que os cidadãos ou seus representantes discutem ideias, expõem argumentos e decidem por uma ou outra proposta. Um elemento essencial para entender como ocorre a participação política é o estudo da organização do Estado. No Brasil, por exemplo, existem diversas instituições das quais os cidadãos podem participar. Para isso, é muito importante conhecer como o Estado está organizado e quais são as funções de cada instituição. Este capítulo aborda a organização do Estado a partir de uma breve contextualização histórica da emergência do Estado centralizado, seguida de uma discussão a respeito da organização do Estado brasi- leiro, destacando as principais instituições que administram o país. Finalmente, uma análise sobre o processo de construção das nações e sobre a luta das nações sem Estado por sua emancipação política no mundo contemporâneo permite uma reflexão crítica sobre o Estado atual e sobre as diferentes formas de participar da política. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítu- lo e sobre o trabalho com as atividades. CRIS FAGA/NURPHOTO/GETTY IMAGES ■ O Estado está presente em diversas situações da nossa vivência em sociedade, como nos transportes públicos. Na foto, passageiros aguardam embarque em trem do metrô de São Paulo (SP), 2019. 114 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 114D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 114 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 A gênese do Estado moderno Atualmente, o território brasileiro é administrado por um Estado centralizado. Isso significa que existem diferentes instituições, como tribunais e assembleias, com funções que se combinam para assegurar a administração de vários aspectos da vida em sociedade. No mundo contemporâneo, quase toda a população está orga- nizada em Estados. Assim como o Brasil, outros países constituem Estados formados por instituições responsáveis pela administração de seus territórios. Algumas nações não possuem Estado, como é o caso dos curdos e dos palestinos. Esses povos lutam pelo direito de constituir seus pró- prios Estados para assegurar seus direitos. Atualmente, temos a tendência de considerar natural a existência de Estados, como se essa fosse a única forma possível de viver em socie- dade. Será que essa ideia tem fundamento? Os Estados tal qual conhecemos hoje foram criados em um período histórico determinado. Eles nem sempre existiram e não é possível afirmar que sempre existirão. Muitas sociedades humanas se organizaram e ainda se organizam sem a presença de instituições administrativas centralizadas. O Estado centralizado foi uma invenção que teve origem nas amplas transformações sociais ocorridas nas sociedades europeias a partir do final da Idade Média (476-1453), entre as quais se destaca o advento do capitalismo. Por isso, compreender o processo de formação do Estado é muito importante para entender a maneira como vivemos no presente e refletir sobre o funcionamento do capitalismo e seu impacto sobre a vida das pessoas. ■ Mulheres participam da marcha "Juntos por uma sociedade palestina com justiça social e igualdade", na Faixa de Gaza, em março de 2019. LO AY A YY O U B/ CO N TR O LU CE /A FP 115 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 115D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 115 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 O fortalecimento da autoridade dos reis A formação dos primeiros Estados centralizados ocorreu na Europa, na passagem da Idade Média para a Idade Moderna (1453-1789). Durante parte da Idade Média, a maioria das regiões europeias se organizava segundo o sistema feudal. Nesse sistema, não havia uma autoridade capaz de exercer total controle sobre amplos ter- ritórios. O senhor feudal, como era chamada a principal autoridade, exercia o domínio sobre as terras chamadas de feudos e tinha poderes para determinar as leis e a cobrança de tributos. O senhor feudal era também a principal liderança militar nessa sociedade, pois era respon- sável pela defesa do feudo. A Europa era dividida em inúmeros feudos, por isso a autoridade era fragmentada. Os reis exerciam um papel secundário, pois não eram capazes de impor sua autoridade aos senhores feudais. No século X, esse modelo de sociedade estava consolidado em importantes regiões da Europa. Em um processo lento e gradual, os reis começaram a fortalecer sua autoridade, provocando o colapso do feudalismo. Por meio de alianças militares com nobres e comerciantes que viviam nas cidades medievais, os chamados burgos, os reis conseguiram recursos para ampliar suas forças militares, o que pos- sibilitou a organização de guerras contra senhores feudais que se opunham aos monarcas. Os recursos financeiros dos burgueses, como eram chamados os moradores dos burgos, foram decisivos nesse processo. O fortalecimento dos reis interessava aos comerciantes, já que isso facilitava o comércio de longa distância na Europa e nas regiões vizinhas. Além disso, os reis criavam leis que favoreciam a burguesia, padronizando moedas e impostos. ■ D'WAVRIN, J. Batalha de Aljubarrota. In: CHRONIQUE d 'Angleterre (Volume III). S. Holanda (Bruges), final do século XV. A iluminura medieval representa a batalha que marcou o fim da Revolução de Avis e o início da Dinastia de Avis. BR IT IS H L IB RA RY /A LB U M /F O TO AR EN A 116 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 116D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 116 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 Os primeiros Estados centralizados: as monarquias nacionais O processo de fortalecimento dos reis deu origem, entre os séculos XIV e XVI, às primeiras monarquias nacionais, como Portugal, Espanha, França e Inglaterra.Esses monarcas conseguiram submeter os senho- res feudais à sua autoridade e impor seu domínio sobre grandes áreas territoriais. Uma característica fundamental desses Estados centralizados é a exis- tência de um conjunto de instituições administrativas estatais que regulam a sociedade. Essas instituições detêm três prerrogativas fundamentais: a criação de leis, o estabeleci- mento dos tributos e o direito do exercício da força legítima. Isso significa que as institui- ções estatais são as únicas que podem criar as leis que regem a vida dos habitantes de um território. Além disso, são res- ponsáveis por determinar quais tributos devem ser pagos pela população. Finalmente, o mais impor- tante é que as instituições estatais controlam o monopólio da violência legítima, ou seja, é o Estado que determina se uma violência é legítima ou não. Segundo esse princípio, a repressão de uma revolta, por exemplo, pode resultar na morte legítima dos revoltosos, porém, se um indivíduo assassina outro, sem autorização do Estado, ele comete uma ação ilegítima, isto é, um crime. Esse modelo de Estado se expandiu ao redor do planeta nos séculos seguintes, tornando-se a principal referência de organização administrativa de territórios. ■ BRUEGHEL, P. O cobrador de impostos. 1616. Óleo sobre madeira, 75 cm × 125 cm. CO LE Çà O P AR TI CU LA R > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • O modelo de Estado que conhecemos nos dias de hoje tem suas origens na aliança entre os reis e a burguesia, que atendia aos interesses de ambos os grupos. Do seu ponto de vista, na atualidade, os Estados estão a serviço de todos ou apenas de grupos específicos? Discuta essa questão com seus colegas e formule argumentos baseados em exemplos concretos. 117 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 117D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 117 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 Leia trechos da entrevista do professor Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), ao Conselho Nacional de Justiça e depois responda às questões: [...] “Eu acho que nós precisamos conquistar o monopólio estatal da violência no Brasil, que nunca foi efetivamente conquistado. Quando você tem policiais, por exemplo, agindo em grupos de extermínio, você não tem monopólio. Se o policial está do lado do crime, então o monopólio estatal não existe. Isso sem falar em questões tradicionais como, por exemplo, de exércitos particulares no campo para conter conflitos rurais. Então o espectro de privatização da violência é muito grande no Brasil” [...]. [...] “Eu vejo isso (monopólio estatal da violência) como positivo; é um avanço das sociedades ocidentais. Agora, o problema é o controle que a sociedade civil deve ter sobre os eventuais abusos dos agentes do Estado no exercício do monopólio estatal da violência” [...]. [...] “eu acho que uma fiscalização, não só da corregedoria da polícia, que é uma corregedoria interna, como uma fiscalização externa, no caso o Ministério Público, [...] é fundamental para erradicar o problema dos maus-tratos, sobretudo da tortura, que ainda é um problema das prisões brasileiras, sobretudo nas cadeias públicas”. [...] “É preciso pensar a questão do monopólio também pensando num modelo de Justiça que seja eficiente e eficaz, que possa estar presente, que as pessoas, ao verificarem que a Justiça e a polícia cumprem suas funções dentro do estado de direito, ou seja, cumprem a lei sem o uso abusivo da força, elas comecem a confiar nas instituições, ou passem a confiar mais nas instituições, e a Justiça possa, de fato, prevalecer” [...]. VASCONCELLOS, J. Fonape: Falta de confiança no Estado incentiva criminalidade, diz professor. JusBrasil, 2016. Disponível em: https://cnj.jusbrasil.com.br/noticias/307592966/fonape-falta-de-confianca-no-estado- incentiva-criminalidade-diz-professor. Acesso em: 4 ago. 2020. 1. O intertítulo deste capítulo, “A gênese do estado moderno”, aponta como uma das características do Estado moderno a existência de diferentes instituições que se combinam para assegurar a administração. Com base na entrevista de Sérgio Adorno, exemplifique a afirmação. 2. “Se o policial está do lado do crime, então o monopólio estatal não existe.” Explique o que você entendeu dessa frase. Segundo o seu entendimento, Sérgio Adorno estaria se colocando contra a ação da polícia? Apresente argumentos. 3. Outro problema que o texto aponta é a questão dos maus-tratos e das torturas que ocorrem nas prisões brasileiras, perpetrados por agentes do Estado. Com base na fala do professor Sérgio Adorno e nas informações do capítulo 4, sobre Direitos Humanos, por que podemos dizer que essa não é uma prática correta? Monopólio estatal da violência Ideia de que apenas o Estado centralizado pode legitimamente utilizar a violência para manter a ordem social. Corregedoria da polícia Órgão da polícia que tem a função de avaliar possíveis crimes cometidos por policiais. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 118 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 118D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 118 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 A organização do Estado brasileiro A organização do Estado brasileiro segue o modelo geral de Estado centralizado, no qual existem diferentes instituições responsáveis pela administração do território. No caso do Estado brasileiro, trata-se de uma república federativa. Isso significa que as unidades que compõem o Estado são autônomas, mas estão subordinadas a uma entidade central. A federação brasileira está dividida nos seguintes entes federados: os estados, o Distrito Federal, os municípios e a União. O Brasil conta atualmente 26 estados e o Distrito Federal. Em 2020, havia no país 5 570 municípios. Cada ente da federação possui autonomia para regulamentar diferentes aspectos da admi- nistração, desde que essa autonomia respeite a Constituição federal de 1988. Assim, a União, um estado ou um município não podem estabelecer leis ou medidas que contrariem as determina- ções gerais da Constituição. A autonomia de cada ente da federação se expressa no estabele- cimento de regras para a cobrança de tributos, já que existem tributos municipais, estaduais e federais (da União), e na possibilidade de criação de leis próprias ou mesmo no exercício da violência legítima por meio das forças armadas (União) e das forças de polícia (estados e municípios). Como vimos no capítulo 5, o governo brasileiro está organizado segundo o princípio da divisão dos poderes. Assim, cada ente da federa- ção conta com diferentes instituições que promovem a divisão de suas atribuições, visando assegurar a administração democrática do território. Conhecer e compreender o papel dessas instituições é muito importante para todos os cidadãos, já que é uma forma de entender as possibilidades e limites de transformar a realidade de cada instituição. O infográfico a seguir apresenta as linhas gerais de organização do Estado brasileiro. ■ O menos populoso dos 5 570 municípios brasi- leiros, com apenas 781 habitantes, segundo estimativa feita pelo IBGE em 2019, é Serra da Saudade (MG). Foto de 2020. ANNA LÚCIA SILVA/G1 > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Como vimos, o município é um dos componentes da república federativa brasileira. Leia o artigo 30 da Constituição, que trata das competências dos municípios. Em seguida, organize grupos para pesquisar como seu município atende a essas competências. Ao final, cada grupo deverá fazer uma exposição oral sobre o tema pesquisado. 119 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 119D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 119 17/09/2020 00:1017/09/2020 00:10 120 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 120D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 120 17/09/2020 01:5017/09/2020 01:50 NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Com base no infográfico e em seus conhecimentos, como você consideraa divisão dos poderes no Brasil? Por exemplo, existe alguma atribuição que você acredita que deveria ser incumbência de outro poder? Ou algum aspecto que você não vê representado? AN D RE IA V IE IR A 121 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 121D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 121 17/09/2020 02:2117/09/2020 02:21 É a partir dessa estrutura geral que o Estado brasileiro se organiza e exerce a administração do território nacional. Cada ente da federação desempenha um papel próprio na construção de políticas públicas e na organização de múltiplas instituições que asseguram direitos básicos aos cidadãos. Um exemplo disso é a organização do sistema escolar público no Brasil. Esse sistema está distribuído entre os entes da federação de modo a assegurar aos cida- dãos a possibilidade de realizar sua formação desde os anos iniciais da Educação Básica até o Ensino Superior. É por essa razão que é importante conhecer a dinâmica de funcionamento de todos os entes da federação. Quando há falta de vagas na Educação Básica, por exemplo, os cidadãos podem pressionar as autoridades municipais, já que elas são encarregadas de assegurar esse direito a todos. Os entes da federação, porém, não são inteiramente autônomos e muitas vezes as políticas públicas passam por diversos deles. O financiamento da Educação Básica não é feito apenas com recursos municipais, mas conta também com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Criado em 2005, esse fundo conta com recursos de todos os entes da federação e é administrado pela União. Assim, para assegurar a qualidade das escolas municipais, os cidadãos também podem pressionar a União para ampliar os recursos do fundo. Esse exemplo demonstra como a estrutura do Estado centralizado está direta- mente relacionada com a vida cotidiana de todos os cidadãos, já que os recursos públicos fundamentais para o exercício da cidadania circulam pelas diversas insti- tuições públicas e as afetam. ■ Alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso (IFMT) parti- cipam de aula no laboratório de Física do 2o ano do Ensino Médio em técnico de informática. Pontes e Lacerda (MT), 2018. LU CI AN A W H IT AK ER /P U LS AR IM AG EN S 122 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 122D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 122 17/09/2020 00:1117/09/2020 00:11 Estado-nação e nações sem Estado Nações e nacionalismo Os Estados centralizados administram um território formado por um povo que compartilha tradições e costumes e possui uma história em comum. Por isso, esse povo recebe o nome de nação. O Estado-nação é um desdobramento do processo de formação dos Estados centralizados. Durante a Idade Média, uma pessoa que vivia no norte do atual território da França e outra que vivia no sul desse mesmo território não se imaginavam como membros da mesma nação. O processo de construção dos Estados centralizados foi acompanhado por ações como a construção de estátuas, a produção de pinturas, a composição de hinos nacionais, o registro de narrativas folclóricas e de outras tradições que representariam o conjunto dessa população. Desse modo, os membros do Estado passaram a se identificar como membros da mesma nação. É por isso que os Estados cen- tralizados também são chamados de Estados-nação. Esse movimento de construção da ideia de nação ganhou mais força a partir do século XIX, quando o nacio- nalismo se tornou uma forma de pensamento importante em diferentes partes do mundo. Como explica o histo- riador Eric Hobsbawm (1917-2012), o nacionalismo é um pensamento que defende que a unidade política de um território deve corresponder à unidade de uma nação. Indivíduos e grupos inspirados por ideias nacionalistas passaram a lutar pelo direito de criar Estados sob o controle de nações que até então se encontravam sob o domínio de outras nacionalidades. Muitas vezes, o nacionalismo inspira ações que enxergam outras nacionalidades de forma negativa. Assim, o nacionalismo pode ser usado para defender o direito de uma nação se impor sobre outras nações, inclusive de forma violenta. Uma das causas da Primeira Guerra Mundial foi o nacionalismo exacerbado entre os europeus. ■ Cartaz de propaganda britânica do século XX, com os dizeres: “Serviço Nacional. Defenda sua ilha da ameaça mais sombria que sempre a ameaçou. Todo homem de 18 a 61 deve se inscrever hoje”. IM PE RI AL W AR M U SE U M , L O N D RE S, IN G LA TE RR A. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • O nacionalismo foi um dos fatores que resultaram na Primeira Guerra Mundial, um conflito que durou de 1914 a 1918 e matou mais de 8 milhões de pessoas. A propaganda foi bastante utilizada para mobilizar as pessoas. Observe a imagem desta página e busque identificar elementos de exaltação do nacionalismo. 123 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 123D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 123 17/09/2020 00:1117/09/2020 00:11 Nacionalismo e conflitos contemporâneos A base do nacionalismo é a ideia de que a nação tem o direito de criar seu próprio Estado. Essa ideia incentivou movimentos variados, como a formação da Itália e da Alemanha (que somente se tornaram Estados centralizados no final do século XIX) e a emancipação das colô- nias africanas e asiáticas ao longo do século XX. No mundo contemporâneo, ocorrem diversos conflitos e tensões envolvendo diferentes povos que reivindicam a criação de um Estado, como curdos e palestinos, no Oriente Médio; bascos, catalães e ciganos, na Europa; chechenos, no Cáucaso; tibetanos, na Ásia Meridional. Há, contudo, Estados multinacionais onde vive mais de uma nação, como é o caso da Federação Russa, que possui territórios historica- mente habitados por povos de distintas origens, culturas e tradições. Há também nações que se espalham por diversos Estados, como os curdos. Entretanto, como vimos, o nacionalismo pode dar origem a posturas violentas contra outras nações, resultando em práticas de xenofobia, racismo e intolerância, o que pode causar conflitos entre nações. Um exemplo de conflito provocado pela luta de uma nação sem Estado é o que ocorre na região da Palestina, no Oriente Médio. ■ A xenofobia é algo que coloca o mundo em perigo. Participantes da 13a Marcha dos Imigrantes e Refugiados, organizada pelo Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI), exibem faixas na avenida Paulista. São Paulo (SP), 2019. Xenofobia Segundo a ONU, xenofobia é um conjunto de “atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e frequentemente difamam pessoas, com base na percepção de que eles são estranhos ou estrangeiros à comunidade, sociedade ou identidade nacional”. ET TO RE C H IE RE G U IN I/F U TU RA P RE SS 124 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 124D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 124 17/09/2020 00:1117/09/2020 00:11 O conflito na Palestina Os palestinos são uma nação sem Estado que conta mais de 11 milhões de pessoas. Para compreender o processo de construção da identidade nacional palestina, é necessário analisar a criação do Estado de Israel. Motivada pela perseguição religiosa que causou a morte de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu, em 1947, criar um Estado judeu na Palestina, estabelecendo a divisão do território em três partes: Estado de Israel, Estado da Palestina e Cidade Internacional de Jerusalém, considerada sagrada por judeus e árabes. Na proposta de partilha da ONU, o Estado árabe e o Estado judeu teriam seus territórios divididos. A Palestina seria constituída pelas áreas conhecidas como Faixa de Gaza (oeste) e Cisjordânia (leste). Israel ficaria com o restante do território. Os palestinos não aceitaram a proposta da ONU. Mesmo assim, em 1948, Israel declarou sua independência.A presença de um Estado judeu na Palestina não foi aceita pelos demais países árabes. Egito, Síria, Iraque, Jordânia e Líbano declararam guerra a Israel, um dia após sua fundação. O conflito, conhecido como Guerra da Partilha, se estendeu de maio de 1948 a janeiro de 1949, quando chegou ao fim com a vitória de Israel e a ampliação de seu poder sobre as áreas que seriam destinadas ao Estado palestino. Os palesti- nos passaram a viver em um território que lhes pertence, mas sem autonomia para administrá-lo, já que está sob o domínio de Israel. Desde então, ocorrem conflitos entre palestinos e israelenses. A partir da década de 1990, foram empreendidas ações para construir um acordo de paz na região e assegurar os direitos das duas nações. Entretanto, os conflitos retorna- ram e voltaram a se intensificar nos últimos anos. O conflito entre israelenses e palestinos se torna mais complexo a cada ano. Frequentemente, há um motivo ou outro para que recomecem os ataques de ambas as partes. A paz entre os dois povos, bem como a criação do Estado da Palestina, continua distante. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em grupo, busquem informações sobre a existência de estudantes estrangeiros em sua escola. De forma acolhedora e respeitosa, e sob a orientação do professor, es- colha um desses estudantes para uma entrevista, que pode ser gravada (com au- torização). Perguntem como era a vida dessa pessoa em seu país de origem, quais as razões e expectativas que a fizeram vir para o Brasil, quais as dificuldades que enfrentou aqui, como são suas relações na escola, entre outras questões. Caso não haja a presença de estrangeiros na escola, você e seu grupo podem entrevistar algum que seja morador do município ou buscar o relato de um jovem estrangeiro que viva no Brasil. 125 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 125D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 125 17/09/2020 00:1117/09/2020 00:11 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. O Estado brasileiro é formado por diferentes instituições, responsáveis por diversos aspectos da coletividade. Ainda assim, todo brasileiro pode participar da política do país por meio de diversos mecanismos, como voto para eleger seus representantes, conselhos municipais que cuidam da saúde, educação, entre outros. Em grupo, façam uma pesquisa sobre a realidade de seu município e avaliem possíveis canais de parti- cipação. Ao final, juntem todas as informações e produzam um material on-line, que deve ser enviado à comunidade escolar e às famílias. 2. O nacionalismo pode ser um sentimento positivo quando visa à independência e ao de- senvolvimento de uma nação, mas também pode ser negativo, quando parte da ideia de superioridade e incentiva atitudes de dominação, ódio, intolerância e discriminação em relação a outros povos. Com base em seus conhecimentos, você acredita que o povo bra- sileiro, de modo geral, tem uma atitude positiva ou negativa em relação a outros povos? Organize seus argumentos para uma exposição oral, citando exemplos. 3. O primeiro texto reproduzido a seguir é um trecho do preâmbulo da Constituição de 1988. O segundo é um excerto de um artigo de um geó grafo. Após a leitura de ambos os documentos, responda às questões. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exer- cício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos [...]. ATIVIDADE Legislativa: Constituição Federal (Texto compilado até a Emenda Constitucional no 99 de 14/12/2017). Brasília, DF: Senado Federal, 2017. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_14.12.2017/CON1988.asp. Acesso em: 5 ago. 2020. [...] os interesses e ações de cada Estado-Nação, investido de poder político pelo povo nos regimes democráticos, não necessariamente coincidem com os interesses do povo pertencente a este estado nacional, visto que o poder político apenas inter- vém de maneira a estabilizar-se no poder, evitando sua transferência para outrem. Ele pode, porventura, atender a algumas demandas sociais com vistas à manuten- ção da estabilidade social, mas quando o próprio poder político é composto dos detentores do capital ou aliam-se ao capital, desenvolvem projetos econômicos de modo a favorecer o crescimento de ambos por meio da manutenção dos poderes político e econômico. [...] ANTUNES, M. G. Espaço, poder e nação: bases para a Constituição de um Estado-nação. GeoAtos, Presidente Prudente, v. 3, n. 10, p. 5-31, jan.-abr. 2019. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/geografiaematos/article/viewFile/5893/pdf. Acesso em: 5 ago. 2020. a) Segundo o preâmbulo, quais os valores centrais do Estado brasileiro? b) Em que sentido o segundo documento se contrapõe ao preâmbulo? c) O segundo documento afirma que “o poder político apenas intervém de maneira a estabilizar-se no poder, evitando sua transferência para outrem”. Você concorda com essa afirmação? Justifique. 126 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 126D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 126 17/09/2020 00:1117/09/2020 00:11 COLETA DE DADOS E INFORMAÇÃO Para a realização desta etapa, sigam as instruções: 1. Dividam-se em grupos de quatro ou cinco integrantes. Cada grupo deve escolher um jornal ou revista da mídia tradicional, que pode ter circulação local, estadual ou nacional. O objetivo de cada grupo é verificar se a mídia escolhida trata do tema fake news, em qual tipo de notícia a fake news é tratada (notícias internacionais, política, economia, tecnologia, cultura etc.) e se traz informações aos leitores sobre como identificar e evitar fake news. 2. Decidam coletivamente o recorte temporal, ou seja, o período que a pes- quisa irá considerar. Uma possibilidade de recorte temporal é o ano de 2016, quando jornais e revistas do mundo inteiro abordaram as fake news envolvendo o então candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, que utilizou informações falsas em sua campanha. 3. Durante a pesquisa, não se esqueçam de anotar os seguintes dados: • nome do meio de comunicação, periodicidade e abrangência; • nome do redator, redator-chefe ou responsável pela notícia; • se a notícia foi consultada em meio impresso ou on-line, como foi feita a pesquisa, quantas vezes o tema fake news foi mencionado e em quais datas, o título da notícia na qual o tema foi abordado e qual o posicionamento dessa mídia com relação às fake news; • se há informações de como identificar e prevenir fake news e outras infor- mações que vocês julguem importantes. 4. Na data combinada, cada grupo deve apresentar os resultados obtidos e estabelecer uma comparação entre o material que foi analisado. Busquem identificar pontos comuns e diferentes na abordagem do tema nos perió- dicos pesquisados. Organizem as informações, preferencialmente, de duas formas: como as mídias tradicionais tratam o tema das fake news e se trazem informações de como identificá-las e evitá-las. 5. Organizem um debate sobre as informações recolhidas, identifiquem o que mais chamou a atenção de vocês, em qual tipo de matéria as fake news foram mais ou menos abordadas e quais foram as consequências apontadas pelos veículos de comunicação. Pensem coletivamente sobre a importância do tema e as possíveis formas de conscientizar a comunidade escolar e a comunidade em que vivem a esse respeito. 6. Por fim, organizados em grupos, busquem na internet sites de verificação de fake news. Neles, além de orientações claras sobre o tema, é possível verificar diretamente se determinada notícia é verdadeira ou falsa. Façam testes com informações recentes que vocês tenham recebido via redes sociais, observando quais elementos esses sites utilizam ou indicam para verificar se a notícia é falsa ou não. Etapa3 IC O M AK ER / S H U TT ER ST O CK 127 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 127D3-CH-EM-3075-V2-U4-C7-116-131-LA-G21.indd 127 17/09/2020 00:1117/09/2020 00:11 CAPÍTULO 8 A democracia pode morrer? Segundo a organização internacional Polity Project, em 1985 exis- tiam em todo o mundo 42 democracias que concentravam 20% da população do planeta. Em 2015, esse número passou para 103, concen- trando 56% da população mundial. Esses dados demonstram um importante crescimento da demo- cracia no planeta. Entretanto, esse crescimento foi acompanhado pelo aumento do número de pessoas insatisfeitas com os governos demo- cráticos. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Cambridge, em 2019, essa porcentagem era de 57,5%, maior índice registrado desde o início da pesquisa, na década de 1990. Os pesquisadores atribuem esse crescimento à crise econômica global e a problemas sociais, como o aumento do número de refugia- dos, a polarização política e a falta de medidas políticas para melhorar o nível de vida da população em geral. Atualmente, o modelo democrático de governo atravessa um período de crise e tem sido questionado. Entretanto, desde que a demo- cracia foi inventada na Grécia antiga, ocorrem embates entre grupos da sociedade que a defendem e outros que se opõem a ela. Neste capítulo, vamos analisar a história da democracia para enten- der como esses embates possibilitaram o avanço da democratização de diversos países no mundo, ao mesmo tempo em que levaram a recuos, dando origem a regimes autoritários. Além disso, vamos refletir sobre o risco de que a perda de confiança na democracia resulte em um novo período de governos autoritários espalhados pelo planeta. ■ Mensagens afixadas em muro, escritas por manifestantes pró-democracia, reivindicando autonomia política e direito ao sufrágio universal em Hong Kong (China), em 2014. D AN IE L FU N G/ SH U TT ER ST O CK .C O M 128128 Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 128D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 128 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 Origens da democracia No capítulo 2, vimos que os gregos inventaram a política, uma forma de lidar com os problemas da comunidade. Cada pólis tinha suas próprias instituições, que organizavam a prática de discussão e convencimento de modo a garantir o exercício da política. Por isso, o mundo grego foi marcado por diferentes formas de governo, entre as quais a democracia. O principal modelo democrático da Grécia antiga foi o governo de Atenas. Por muito tempo, essa pólis foi governada por reis escolhidos pela aristocracia da cidade. Posteriormente, o sistema monárquico foi abandonado e substituído por um sistema de assembleias, que conti- nuaram sob o controle dos aristocratas. Esse sistema provocou o crescimento das desigualdades sociais, já que algumas leis prejudicavam os interesses dos mais pobres. Muitos deles perderam suas terras e propriedades, enquanto outros se sujei- tavam ao trabalho escravo para pagar suas dívidas com os aristocratas. A tensão social cresceu entre os séculos VII a.C. e VI a.C., resultando em conflitos que ameaçaram a estabilidade da pólis. Essa situação levou alguns legisladores a promover reformas nas leis, como a proi- bição da escravidão por dívidas. Foi nesse contexto que um desses legisladores, Clístenes (570 a.C.- 492 a.C.), promoveu uma reforma política importante em Atenas. Em 508 a.C., o território da cidade foi dividido em uni- dades políticas chamadas demos e os cidadãos passa- ram a participar da escolha do governante de cada demo e a se manifestar livremente na assembleia que governava Atenas. A partir daí, o governo de Atenas deixou de ser uma aristocracia e se tornou um governo dos demos, que pode ser traduzido como governo do povo, dando origem à democracia ate- niense. Nesse sistema, os cidadãos da pólis passaram a participar das decisões polí- ticas da cidade. Fonte: DUBY, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2007. p. 34. Mar Negro OCEANO ATLÂNTICO Mar Mediterrâneo 0° 40° N Mar do Norte PENÍNSULA IBÉRICA Málaga Emeroscópio Ampúrias Agde Massília (Marselha) Olbia Nice Alália Cumas Pitecusa Nápoles Tarento Pesto Síbaris CrotonaMessina Locri Reggio Naxos Agrigento Gela Catânia Siracusa Epidamo Apolônia Mégara Tebas Lêucade Cálcide AtenasCorinto Argos Esparta Cnossos Macedônia Potideia Cirene Náucratis EGITO FENÍCIA Ásia Menor Aspendo Rodes Mileto Samos Foceia Lâmpsaco Cízico Bizâncio Apolônia Odessa Istro Heracleia Sinope Amiso Dioscúridas Quersoneso Tanais Mar Tirreno M ar Adriático Mar Jônico Mar Egeu Cidades da Grécia antiga Territórios colonizados 0 435 Cidades gregas e territórios colonizados, séculos IX a.C. a VI a.C. Demo Termo comumente traduzido como conjunto de indivíduos que vivem em uma comunidade, povo, também tem o significado de terra, território; divisão admi- nistrativa criada na antiga sociedade ateniense e generalizada por toda a Grécia nos tempos modernos. VE SP Ú CI O C AR TO G RA FI A 129 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 129D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 129 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 Os limites da democracia ateniense Atualmente, o conceito de democracia pressupõe a participação de todos, mas por muito tempo a participação política esteve restrita a alguns cidadãos. Na antiga Grécia, grande parte da população não pertencia ao grupo dos cidadãos. Apenas os homens livres atenienses eram conside- rados cidadãos. As mulheres, os estrangeiros e os escravizados estavam excluídos do direito à cidadania. Segundo estimativas, de um total de 400 mil pessoas que viviam em Atenas no século V a.C., apenas 40 mil eram consideradas cidadãs. Espinosa: uma defesa radical da democracia Na história do pensamento filosófico ocidental, o regime demo- crático foi visto de forma crítica durante séculos. Até mesmo alguns pensadores gregos não consideravam a democracia a melhor forma de governo possível. Para Aristóteles (385 a.C.-323 a.C.), por exemplo, uma sociedade na qual todos participassem do governo resultaria em desordem, sob risco de esse governo se transformar em uma tirania. Essa concepção crítica da democracia foi hegemônica no Ocidente até a Idade Moderna (1453-1789). Um dos primeiros a se afastar da tradição ocidental que enxergava a democracia com desconfiança para defendê-la como elemento fundamental na garantia da liberdade e do bem-estar de todos foi o filósofo holandês Bento de Espinosa (1632-1677). Espinosa considerava a democracia o regime de governo que mais se aproximava da condição natural dos seres humanos, uma vez que ela assegura a liberdade dos indivíduos, permitindo a todos manter sua potência de agir e criar um corpo coletivo (o governo) capaz de expres- sar os interesses e as necessidades individuais. Tirania Governo de um tirano, que comanda segundo sua vontade, ignorando as leis. ■ Manifestantes em defesa da democracia, em São Paulo (SP) 2020. ANTONIO MOLINA/FOTOARENA 130 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 130D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 130 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 As revoluções do século XVIII: a disseminação dos ideais democráticos As ideias de Espinosa e de outros pensadores dos séculos XVII e XVIII inspiraram diferentes indivíduos e grupos sociais a lutar contra as estruturas do Antigo Regime, abrindo caminho para revoluções que deram origem a novos governos democráticos. A Revolução Francesa e os movimentos de independência dos Estados Unidos, do Haiti e, posteriormente, de outras colônias america- nas provocaram a queda de monarquias e impulsionaram a organização de repúblicas democráticas na América e na Europa. Esses governos ainda eram marcados pelaideia de que a democra- cia não implicava a participação de todos. A democracia estadunidense, por exemplo, que se constituiu a partir da independência das colônias inglesas em 1783, promoveu diferentes formas de exclusão dos escravi- zados e negros. Ao longo do século XIX, vários grupos sociais se organizaram para reivindicar participação política nas democracias. Em muitos países da Europa e da América, houve luta pela inclusão das mulheres, dos negros e dos mais pobres, estendendo a esses segmentos da população o direito ao sufrágio. A democracia foi se consolidando progressiva- mente como um modelo de governo associado à participação de todos e como a melhor forma de organizar o Estado. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em grupo, discutam a seguinte afirmação: “A democracia é muito mais do que o sufrágio universal”. Vocês concordam com essa afirmação? Por quê? ■ Suffragettes caminham pela rua portando cartazes que reivindicam o voto para as mulheres. Londres (Inglaterra), 1912. H U LT O N -D EU TS CH C O LL EC TI O N /C O RB IS /G ET TY IM AG ES Antigo Regime Período da história euro- peia que vai do século XV até a Revolução Francesa (1789), marcado por monarquias que centrali- zavam o poder nas mãos do rei ou do imperador. 131 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 131D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 131 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 Democracia no século XX A democracia se disseminou lentamente ao longo do século XIX. Apesar do temor por parte de setores das elites de que a inclusão polí- tica da população mais pobre pudesse provocar revoluções sociais, os movimentos organizados em diversas partes do mundo resultaram em reformas democratizantes em muitos países. Na década de 1870, França, Alemanha, Suíça, Dinamarca e Inglaterra já haviam instituído sistemas eleitorais com sufrágio universal mascu- lino. Embora ainda estivesse distante da noção atual de democracia, representou um avanço importante nos direitos políticos. A Inglaterra promoveu reformas democráticas entre 1867 e 1883 que elevaram o número de votantes de 4% da população para 29%. Na Bélgica, uma grande greve, ocorrida em 1893, fez a população com direito ao voto saltar de 3,9% para 37,3% em 1894. Ainda mais radical foi o salto da Finlândia: após um movimento revolucioná- rio, o país assegurou o direito de voto a 76% dos indivíduos adultos do país em 1905. Fora da Europa, no início do século XX, já existiam sistemas democráticos con- solidados nos Estados Unidos, na Austrália, na Nova Zelândia e na Argentina. Nesse período, o sistema democrático no Brasil era extremamente limitado: menos de 10% da população brasi- leira participava das eleições. No México, uma revolução iniciada em 1910 deu origem a uma nova Constituição, que ampliou de forma considerável o direito ao voto mas- culino, incluindo setores populares. Esses dados demonstram um claro avanço do sufrágio masculino no início do século XX, mas o voto feminino avançou mais lentamente. A Nova Zelândia foi o primeiro país a garantir às mulheres o direito ao voto, em 1893. Esse direito foi legalizado na Austrália em 1902 e na Finlândia em 1906. Apenas a partir da década de 1920, porém, o sufrágio feminino começou a se expandir pelo mundo. No Brasil, isso ocorreu na década de 1930 e na Suíça, somente na década de 1970. ■ Mulheres carregam faixa com os dizeres "Mulheres na luta por vida digna" durante manifestação realizada no Dia Internacional da Mulher, no centro do Rio de Janeiro (RJ), em 2020. AL EX AN D RE S IL VA /F O TO AR EN A 132 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 132D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 132 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 O fascismo e a crise da democracia No período entreguerras (1918-1939), diversos países foram marcados pela formação de regimes autoritários. Na Europa, em 1926, Portugal sofreu um golpe de Estado que interrompeu o processo de democratização do país. Na Espanha, um golpe militar em 1939 derrubou o governo democrático e instaurou uma ditadura. Na América, muitos países passaram por golpes que interromperam a democracia. O Brasil, por exemplo, foi governado de forma autoritária por Getúlio Vargas entre 1937 e 1945. Na Argentina, ocorre- ram golpes militares em 1930 e 1943, fragilizando a democra- cia do país. O principal sinal de crise da democracia no período, porém, foi a formação de governos fascistas na Itália e na Alemanha. Benito Mussolini, líder do Partido Fascista, e Adolf Hitler, líder do Partido Nazista, tomaram o poder nesses países nas décadas de 1920 e 1930, respectivamente. Esses governos represen- taram as formas mais radicais de regimes autoritários, marcados pela forte concentração de poderes nas mãos de um pequeno grupo e pela rigorosa repressão política e policial, que passou a afetar a vida de todos os cidadãos. Para evitar oposições, os meios de comunicação foram censurados, os partidos políticos, proibidos, e muitas pessoas foram perseguidas e enviadas a prisões políticas. Na Alemanha nazista, os campos de con- centração foram criados, primeiramente, para receber presos políticos, como socialistas e comunistas. Depois foram usados para aprisionar judeus, que eram perseguidos e exterminados em nome do regime. Campo de concentração Espaço de confinamento no qual prisioneiros eram submetidos a múltiplas violências, inclusive tortura e assassinato. ■ Grupo de judeus é escoltado por soldados da SS nazista em direção a um campo de concentração, sob o olhar de curiosos. Berlim (Alemanha), 1934. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • O nazismo e o fascismo foram pioneiros no desenvolvimento de propagandas voltadas às massas, procurando incutir na população a defesa incondicional da pátria, o amor à hierarquia e o ódio aos adversários do regime. Em sua opinião, esse tipo de propaganda ainda encontra espaço nos dias de hoje? Justifique sua resposta. M O N D AD O RI P O RT FO LI O /G ET TY IM AG ES 133 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 133D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 133 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 A retomada da democratização no pós-guerra Os regimes fascistas também foram marcados por grande belicismo, utilizando a guerra como uma forma de consolidar o poder e expandir as forças do Estado. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as forças da Alemanha nazista e da Itália fascista ocuparam grande parte da Europa, provocando o fim dos regimes democráticos de países como França, Bélgica e Holanda, entre outros. Os regimes fascistas foram derrotados ao final da Segunda Guerra Mundial, o que pos- sibilitou a retomada do processo de democratização do planeta. Todos os países da Europa ocidental adotaram governos democráticos com sufrágio universal. O mesmo não ocorreu na Europa oriental, cujos países se tornaram zona de influência do governo comunista da União Soviética. Ainda no contexto do pós-guerra, teve início o processo de emancipação das colônias europeias na África e na Ásia. Esse processo deu origem a diversos governos democráticos nesses continentes, ainda que conflitos sociais e guerras civis tenham inviabilizado a conso- lidação imediata de democracias em diversos países que conquistaram sua independência. A América Latina também passou por um processo de redemocratização, como é o caso do Brasil a partir de 1945. Entretanto, especialmente a partir da década de 1960, conflitos sociais e políticos resultaram na formação de ditaduras civis-militares em vários países dessa região. ■ Mapa da Europa no pós-guerra. Fonte: DUBY, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2007. p. 298. Zonas de influência na Europa, após a Segunda Guerra Mundial ISLÂNDIA IRLANDA REINO UNIDO PORTUGAL ESPANHA FRANÇA PAÍSES BAIXOS BÉLGICA REPÚBLICA FEDERATIVA DA ALEMANHA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA ALEMà POLÔNIA SUÍÇA ÁUSTRIAIUGOSLÁVIA ITÁLIA ROMÊNIA BULGÁRIA ALBÂNIA HUNGRIA UNIÃO SOVIÉTICA GRÉCIA TURQUIA LUXEMBURGO DINAMARCA NORUEGA SUÉCIA FINLÂNDIA TCHECOSLOVÁQUIA ÁSIA Mar Negro M er id ia no d e G re en w ic h Mar do Norte50º N Mar Mediterrâneo Ma r B ál tic o Círculo Polar Ártico OCEANO ATLÂNTICO 0º 0 375 União Soviética Países do Leste Europeu Europa ocidental capitalista Bloco comunista VE SP Ú CI O C AR TO G RA FI A ISLÂNDIA IRLANDA REINO UNIDO PORTUGAL ESPANHA FRANÇA PAÍSES BAIXOS BÉLGICA REPÚBLICA FEDERATIVA DA ALEMANHA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA ALEMà POLÔNIA SUÍÇA ÁUSTRIA IUGOSLÁVIA ITÁLIA ROMÊNIA BULGÁRIA ALBÂNIA HUNGRIA UNIÃO SOVIÉTICA GRÉCIA TURQUIA LUXEMBURGO DINAMARCA NORUEGA SUÉCIA FINLÂNDIA TCHECOSLOVÁQUIA ÁSIA Mar Negro M er id ia no d e G re en w ic h Mar do Norte50º N Mar Mediterrâneo Ma r B ál tic o Círculo Polar Ártico OCEANO ATLÂNTICO 0º 0 375 União Soviética Países do Leste Europeu Europa ocidental capitalista Bloco comunista 134 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 134D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 134 17/09/20 00:2017/09/20 00:20 Abaixo, duas produções artísticas abordam a questão da democracia. A primeira produção é uma tira em quadrinhos da Mafalda, personagem criada em 1964 pelo cartunista argentino Quino, cujas histórias foram publicadas até 1973. A outra é uma pintura do artista canadense Chris Harris, intitulada Democracia vê a si própria. Essa obra faz parte de uma série de pinturas que o artista chamou de Guerra – Propagando a democracia. O nome da série foi inspirado em uma frase do então presidente estadunidense George W. Bush, que afirmou, em 2003, que a invasão do Iraque por tropas dos Estados Unidos era uma forma de propagar a democracia pelo mundo. Analise os dois documentos com atenção e responda ao que se pede: DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> ■ HARRIS, C. Democracia vê a si própria. s/d. Acrílico sobre tela, 60 cm X 84 cm. 1. A tirinha da Mafalda e a pintura de Harris apresentam duas representações distintas de uma mesma ideia. Explique essas representações e identifique como elas se manifestam nas obras. 2. Em sua opinião, quais foram as intenções de Quino e de Harris ao produzirem esses trabalhos? 3. Que sensações você teve ao ler a tira da Mafalda? E após ver a pintura de Harris? Foram sensações semelhantes ou diferentes? Compartilhe suas experiências com os colegas. © JO AQ U IM S . L AV AD O T EJ Ó N (Q U IN O ), TO D A M AF AL D A/ FO TO A RE N A NÃO ESCREVA NO LIVRO CO LE Çà O P AR TI CU LA R. QUINO. Toda Mafalda.São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 415. 135 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 135D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 135 17/09/20 00:2017/09/20 00:20 A democracia e o sistema internacional A partir do pós-guerra, o ideal democrático se expandiu pelo mundo, mas isso não significa que o período apresentou um crescimento cons- tante e que a democracia não passou por crises. Na realidade, como vimos, esse processo foi marcado por avanços e recuos. Para melhor compreen- são, é importante analisar o mundo bipolar que se formou nesse contexto. O impacto dos conflitos do mundo bipolar no processo de democratização Com o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética tornaram-se duas potências globais que passaram a disputar o controle geopolítico do planeta. Por essa razão, o pós-guerra inaugurou o chamado mundo bipolar e o período que ficou conhecido como Guerra Fria. A disputa entre as duas potências pelo controle de regiões do planeta, visando transformá-las em zonas de influência, em muitos casos resultou em conflitos militares indiretos. A Guerra da Coreia (1950-1953) e a Guerra do Vietnã (1959-1975), por exemplo, foram conflitos nos quais forças estadunidenses tentaram impedir a formação de regimes comunistas na Ásia. Já a Guerra do Afeganistão (1979-1989) foi um conflito no qual forças soviéticas inva- diram o país asiático para assegurar o controle do território por um governo soviético. Esses conflitos causaram desestabilizações regionais e ameaçaram a liberdade de nações, que não podiam estabelecer livremente seus siste- mas de governo. Entretanto, não foram apenas os conflitos militares que ameaçaram o processo de democratização nesse período. Estados Unidos e União Soviética apoiaram movimentos organizados em diversos países para derrubar governos democráticos visando à constituição de regimes alinhados aos inte- resses dessas potências. Na América Latina, por exemplo, vários golpes militares que derruba- ram governos democraticamente eleitos foram apoiados pelos Estados Unidos. Na África, as duas potências também apoiaram movimentos pró-comunistas e anticomunistas, o que gerou instabilidade e alimentou conflitos sociais e guerras civis. ■ Crianças sul- -vietnamitas observam a passagem de um comboio de tanques blindados do Exército dos Estados Unidos por uma estrada de terra próxima a Saigon (Vietnã), década de 1960. N IK W H EE LE R/ CO RB IS /G ET TY IM AG ES 136 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 136D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 136 17/09/20 00:2117/09/20 00:21 Organismos internacionais e o processo de democratização Os conflitos do período da Guerra Fria demonstram como o poder político-militar exercido pelas duas potências funcionou muitas vezes como fator limitador do processo de democratização, enfraquecendo movimentos e grupos sociais que lutavam por participação política e pela consolidação de regimes efetivamente democráticos. Uma das decisões dos países vitoriosos ao final da Segunda Guerra Mundial foi a criação de uma organização internacional que teria a fina- lidade de promover a paz mundial e o progresso de todas as nações. Assim nasceu, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU). Como vimos na unidade 2, a ONU teve um papel importante na disseminação dos direitos humanos pelo planeta. Além disso, essa instituição contribuiu para fortalecer a luta pela democracia e pela par- ticipação política no mundo. Um exemplo foi a criação da Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher, de âmbito internacional, estabe- lecida pela ONU em 1952. Esse documento ajudou a introduzir o sufrágio feminino em países que ainda não reconheciam esse direito e consolidou a ideia de que homens e mulheres de todo o mundo devem ter os mesmos direitos políticos. Assim como essa convenção, a ONU e outros organismos inter- nacionais criados no pós-guerra ajudaram a consolidar os valores democráticos como sinônimos da participação de todos, o que foi fun- damental para construir a noção de democracia que temos no presente. ■ Discurso do ex-primeiro-ministro do Reino Unido Clement Attle durante a primeira reunião da Assembleia Geral da ONU. Londres (Inglaterra), 1946. FO TO W IL H EL M /IN TE RF O TO /F O TO AR EN A 137 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 137D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 137 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 Democracia e desigualdade social Não são apenas os conflitos e tensões entre nações que podem desestabilizar os regimes democráticos. Outra grave ameaça à demo- cracia é a concentração de renda. No decorrer do século XX, alguns pensadores defenderam a ideia de que, a longo prazo, a combinação do avanço da industrialização e da democratização no mundo reduziria a concentração de renda e as desigualdades sociais. Segundo esse pensamento, a criação de políticas sociais seria capaz de construir sociedades mais igualitárias. A tributação de grandes fortunas, por exemplo, ocorreria por meio da dinâmica democrática, favorecendo a população de baixa renda. Entretanto, esse processo não ocorreu. No início do século XXI, quando a maioria dos países contava com governos democráticos, observou-se uma concentraçãode renda inédita na história da humanidade. Em 2015, 1% da população global detinha a mesma riqueza dos 99% restantes. O gráfico desta página demonstra a evolução do processo de con- centração de renda no período entre 2000 e 2015. Dados mais recentes, divulgados no início de 2020 no relatório Tempo de cuidar – O trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade, produzido pela organiza- ção não governamental britânica Oxfam, revelaram que os 2 153 mais ricos do mundo detinham mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas, cerca de 60% da população mundial. Esses dados confirmam as análises de Thomas Piketty (1971-), registradas no livro O capital no século XXI, publicado em 2013, no qual o economista francês afirma que as desigualdades sociais fazem parte do sistema capitalista, o que põe em xeque o modelo das atuais democracias liberais. ■ Gráfico representando a evolução da riqueza dos 50% mais pobres do planeta e das 62 pessoas mais ricas entre 2000 e 2015. Fonte dos dados: REUBEN, A. 1% da população global detém mesma riqueza dos 99% restantes, diz estudo. BBC, 18 jan. 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn. Acesso em: 22 ago. 2020. 500 0 1 000 3 000 2 500 2 000 1 500 Ano 030201 1514131211100908070605042000 Riqueza total em bilhões de dólares Riqueza dos 50% mais pobres Riqueza das 62 pessoas mais ricas As 62 pessoas mais ricas do mundo possuem mais riqueza do que os 50% mais pobres, 2000-2015 Evolução do processo de concentração de renda, 2000-2015 SO N IA V AZ 138 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 138D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 138 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 A tese de Piketty e os dados produzidos por organizações internacionais e pesquisadores de diferentes partes do mundo demonstram que não existe uma relação natural entre democracia e redução das desigualdades. As diferenças crescentes entre ricos e pobres ameaçam a democracia, por isso o combate às desigualdades exige a ação dos governos e da sociedade civil. Nesse cenário de crescimento das desigualdades sociais, a população mais pobre corre o risco de ser alijada de seus direitos de cidadania e de participação política. Esse contexto contribui para o descrédito da democracia e dos processos de representação política, que abrem caminho para governos com posturas autoritárias. ■ A imagem aérea revela desigualdades sociais entre duas áreas residenciais localizadas na Cidade do México (México), 2016. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Observe novamente o gráfico da página anterior. O que ele revela a respeito da concentração de renda dos dois grupos analisados? Por essa razão, Piketty e outros pensadores defendem que é necessário promover medidas democráticas para a redução das desigualdades. Uma das principais soluções apontadas pelo economista é a criação de mecanismos tributários mais eficientes. De acordo com as conclusões do relatório da Oxfam, se o 1% dos mais ricos do planeta pagasse uma taxa extra de 0,5% sobre sua riqueza, seria possível fornecer educação a 262 milhões de crianças que estão fora da escola e serviços de saúde que salvariam a vida de 3,3 milhões de pessoas. Uma proposta é modificar as regras do imposto de renda de modo que ele tenha um caráter progressivo, ou seja, que os mais pobres paguem menos tributos e os mais ricos paguem mais impostos. Essa estratégia permitiria a tributação das grandes fortunas, o que forneceria recursos ao Estado para a criação de políticas sociais voltadas à redução da pobreza e à promoção de par- ticipação política de todos. © JO H N N Y M IL LE R PH O TO G RA PH Y/ U N EQ UA L SC EN ES 139 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 139D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 139 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 Uma nova crise da democracia? Uma teoria clássica do pensamento político é a de que os governos democráti- cos podem entrar em crise ao longo do tempo, tornando-se uma versão corrompida de suas características originais. Pensadores gregos, como Platão (c. 427 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles, formularam esse problema na Antiguidade. Outros pensadores, como Maquiavel (1469-1527) e Montesquieu (1689-1755), retomaram essa questão para enten- der os fatores que provocariam a corrupção política de um governo. De modo geral, a ideia de crise é utilizada para analisar a passagem de um governo que visava ao bem-comum para um governo que privilegia os interesses particulares de um grupo. A tese da crise dos governos foi atualizada por alguns pensadores contemporâ- neos para refletir sobre os indicadores que apontam um novo período de crise da democracia. Os cientistas políticos Daniel Ziblatt (1972-) e Steven Levitsky (1968-), por exemplo, se dedicaram a analisar as transformações nas práticas políticas dos Estados Unidos a partir da eleição de Donald Trump. Ziblatt e Levitsky consideram que a eleição de Trump representa uma séria ameaça a uma das democracias mais antigas do planeta, já que ela vem provocando o enfra- quecimento das “salvaguardas institucionais” da democracia, como o equilíbrio entre os poderes. Esse processo é acompanhado pela corrosão da confiança na democracia e pelo fortalecimento de grupos sociais que defendem ações autoritárias contra opositores, inclusive a interrupção das eleições ou a proibição de partidos políticos. Na análise de Ziblatt e Levitsky, os Estados Unidos não são o único país que vem sofrendo um processo de crise democrática. Esses cientistas políticos acreditam que vivemos um novo contexto de crise da democracia global e ressaltam que atualmente existe uma forma diferente de ameaça. As democracias podem morrer em consequência de um lento processo de cor- rupção nas práticas e ações de políticos eleitos democraticamente. Isso significa que a grande crise das democracias atuais não está mais relacionada a golpes de Estado diretos, ela é produzida pelos próprios governos eleitos, que corrompem a democracia no seu interior. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • De que maneira você pode contribuir para o fortalecimento das práticas democráticas na sociedade? 140 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 140D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 140 17/09/20 00:3617/09/20 00:36 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt defendem a ideia de que, na atualidade, golpes militares ou tomadas violentas de poder são episódios cada vez mais raros. Mesmo assim, a democracia está sob ameaça em muitos países, que, em- bora mantenham em vigor a Constituição e assegurem eleições, adotam medidas que corroem a democracia em sua essência. Leia o trecho abaixo e, em seguida, responda ao que se pede. Muitos esforços do governo para subverter a democracia são “legais”, no sentido de que são aprovados pelo Legislativo ou aceitos pelos tribunais. Eles podem até mesmo ser retratados como esforços para aperfeiçoar a democracia – tornar o Judiciário mais eficiente, combater a corrupção ou limpar o processo eleitoral. Os jornais continuam a ser publicados, mas são comprados ou intimidados e levados a se autocensurar. Os cidadãos continuam a criticar o governo, mas muitas vezes se veem envolvidos em problemas com impostos ou outras questões legais. Isso cria perplexidade e confusão nas pessoas. Elas não compreendem imediatamente o que está acontecendo. Muitos continuam a acreditar que estão vivendo sob uma democracia. [...] Aqueles que denunciam os abusos do governo podem ser des- cartados como exagerados ou falsos alarmistas. A erosão da democracia é, para muitos, quase imperceptível. LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018. p. 17. a) De acordo com o texto, quais estratégias costumam ser postas em prática por governos para restringir as práticasdemocráticas de um país? b) Segundo os autores, por que a população muitas vezes não percebe que a demo- cracia está sendo erodida? c) Levitsky e Ziblatt afirmam que uma das ações de governos com caráter autoritário é a intimidação aos veículos de comunicação. Em grupo, discutam a seguinte questão: Qual é a importância da liberdade de imprensa em uma sociedade democrática? 2. Observe a tirinha abaixo e interprete-a. AR M AN D IN H O, D E AL EX AN D RE B EC K. BECK, A. Armandinho Doze. Florianópolis: Edição do autor, 2019. p. 11. 141 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 141D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 141 17/09/20 00:2317/09/20 00:23 INVESTIGAÇÃO> Política tributária e desigualdade social Diversos estudos apontam que uma das propostas para reduzir as desi- gualdades sociais seria a criação de mecanismos tributários mais eficientes. Tributo é tudo aquilo que os governos arrecadam para que possam prestar serviços públicos essenciais, como educação, saúde, segurança. Eles se dividem em impostos, taxas e contribuições. No Brasil não existe uma tributação unificada; há cerca de 80 tribu- tos diferentes. Segundo levantamento feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo internacional que em 2020 contava 37 países, boa parte deles de IDH alto, a carga média de tributos brasileiros se situa abaixo da média dos países-membros: a desses países representa entre 34% e 35% do PIB e a do Brasil, entre 32% e 33%. Por que nosso modelo tributário resulta em grande desigualdade social? De acordo com diversos estudos, isso ocorre porque esses tribu- tos incidem sobre o consumo e não sobre a renda, como acontece em muitos países da OCDE. Observe o infográfico abaixo: Considerando que a pessoa A e a pessoa B compram uma cesta de alimentos que custa em torno de R$ 60,00, destes, R$ 25,00 correspon- dem a tributos e R$ 35,00, ao preço de custo mais o lucro. Nesse caso, a pessoa A paga o equivalente a 2,5% de seu salário em tributos e a pessoa B gasta o equivalente a 0,25% de seu salário. Ou seja, uma pessoa que ganha 10 vezes mais paga o mesmo valor em impostos que uma pessoa que ganha muito menos, o que significa que, proporcionalmente ao salário, o gasto é maior para quem ganha menos. AN D RE IA V IE IR A 142 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 142D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 142 17/09/20 01:1317/09/20 01:13 Com base nessas informações, o grupo deverá: 1. Buscar exemplos de impostos, taxas e contribuição vigentes no Brasil, identificar a diferença entre eles e verificar onde são empregados. 2. Pesquisar exemplos de pelo menos três países com bom desenvolvimento econômico e social (como os países-membros da OCDE) e procurar saber se a tributação é feita pela renda ou pelo consumo. 3. Organizar entrevistas com pessoas de categorias profissionais variadas: operário, dono de mercadinho, profissional liberal, microempreendedor individual, por exemplo. Perguntar aos entrevistados qual é a percepção que eles têm desses tributos e qual é a relação deles com a desigualdade social. Algumas sugestões de pergunta: a) Em sua opinião, o Brasil tem impostos adequados? Por quê? b) Você acredita que os impostos arrecadados no país são bem empregados? Exemplifique. c) Você sabe citar alguns impostos arrecadados pelos governos federal, estadual e municipal? d) Você vê alguma relação entre desigualdade social e tributos? e) Responda se você concorda com as frases a seguir e justifique: • O Brasil tem a maior carga tributária do mundo. • A educação e a saúde devem ser responsabilidade de cada cidadão. Após realizadas as entrevistas, cada grupo deve reunir as informações recolhidas e organizá-las em forma de cartaz, ilustrado com imagens, como gráficos e tabelas (de compreensão acessível), que permita apresentar os dados para toda a turma. Finalizada a apresentação do material, a turma deverá montar, de forma colaborati- va, uma cartilha para ser enviada por e-mail à comunidade escolar, às famílias e aos amigos. Na produção da cartilha, pensem em um título atraente e utilizem uma linguagem acessível a todos. Tenham em mente que esse material deve ser um instrumento que ajude as pessoas a refletir sobre tributação e justiça social. Os links indicados a seguir podem servir para complementar as informações: CREMASCO, D. M. F. A carga tributária no Brasil é alta comparada à de outros países? Politize, 27 jun. 2017. Disponível em: https://www.politize.com.br/carga-tributaria- brasileira-e-alta/. Acesso em: 22 ago. 2020. FACHIN, P. Reforma Tributária Solidária no combate à desigualdade social. CEE Fiocruz, 17 jun. 2019. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=Reforma-Tributaria-Solidaria- no-combate-as-desigualdades. Acesso em 22 ago. 2020. VALOR Econômico: reforma tributária e desigualdade. Oxfam Brasil, c2020. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/blog/reforma-tributaria-e-desigualdade/. Acesso em: 22 ago. 2020. 143 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 143D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU2.indd 143 17/09/20 00:2817/09/20 00:28 Etapa 4 ELABORAÇÃO DE PRODUTO FINAL E DIVULGAÇÃO De posse de todas as informações, vocês irão produzir um folheto informa- tivo sobre fake news. Decidam em conjunto o tamanho do folheto e as formas de divulgação. Lembrem-se de que muitas pessoas têm dificuldade em lidar com as redes sociais e, portanto, o folheto deve apresentar linguagem fácil, porém informativa. Com relação à divulgação, é possível pensar em uma versão impressa e em uma versão que possa ser divulgada nas redes sociais. Para isso, vocês deverão se dividir em quatro grupos, de acordo com as afinidades pessoais ou habilidades. 1. O grupo 1 fará um pequeno texto explicando o que são fake news e por que elas são perigosas em nossa vida social e individual. 2. O grupo 2 criará uma lista de dicas para que as pessoas identifiquem as fake news e indicará sites que permitem checar a veracidade das notícias. 3. O grupo 3 será responsável pelo visual do folheto e deverá decidir se haverá imagens, escolher as cores e tipologias de texto e pensar na disposição das informações na página. 4. O grupo 4 divulgará o folheto na escola e nas redes sociais. Além disso, deverá criar um endereço de e-mail (que deve constar no folheto) para tirar eventuais dúvidas sobre fake news ou sobre o processo de trabalho de vocês. É importante entender que o trabalho de um grupo depende do trabalho dos demais. Montem um calendário conjunto com prazos de entrega para acompa- nhar o processo de produção e a divulgação do folheto. Ao fim do projeto, façam avaliações conjuntas e individuais. • Como você avalia os resultados do projeto como um todo? • O que poderia ter sido feito de outra forma? • Como os diferentes grupos trabalharam e se comunicaram entre si? • Como foi a receptividade do folheto? • Como você avalia sua participação no grupo? • O que você mais gostou de fazer? • De que forma você ajudou o grupo? • Você acredita que poderia ter ajudado mais? Essas reflexões devem servir para que vocês utilizem essa experiência em futuros trabalhos e em projetos que desenvolverão ao longo da vida. 144 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 144D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 144 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 Winter on fire: Ukraine’s fight for freedom Direção: Evegny Afineevsky. Estados Unidos/Ucrânia, 2015. Vídeo (98 min). O documentário, cujo título pode ser traduzido como “Inverno em chamas: a luta da Ucrânia pela liberdade”, aborda a Revolução Ucraniana de 2014, quando jovens foram às ruas protestar contra a aproximação entre o governo ucraniano e a União Europeia. O filme mostra a complexa rede de influências formada por países como Rússia e Estados Unidos, além da União Europeia e partidos de extrema direita. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/80031666.Acesso em: 5 set. 2020. A onda Direção: Dennis Gansel. Alemanha, 2009. DVD (107 min). O filme narra a história de um professor que ministra aulas sobre regimes autocráticos por meio de práticas pedagógicas pouco convencionais. A narrativa mostra a facilidade com que discursos autocráticos conseguem manipular as massas, principalmente os jovens, que estão em processo de formação de personalidade. > SAIBA MAIS E-democracia Disponível em: http://www.edemocracia.leg.br/. Acesso em: 22 ago. 2020. A plataforma, criada em 2009 pela Câmara dos Deputados, permite a participação popular por meio da gestão de dados públicos. É possível encontrar diversos modelos de participação, como edição colaborativa de projetos de lei e interação em audiências. Oxfam Brasil Disponível em: https://www.oxfam.org.br/justica-social-e-economica/forum- economico-de-davos/tempo-de-cuidar/. Acesso em: 22 ago. 2020. O link dá acesso a informações recentes sobre a desigualdade econômica no mundo e ao relatório Tempo de cuidar – O trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade, disponível para download. Navegando no site da organização, é possível acessar notícias atualizadas sobre desigualdades e direitos humanos; juventudes, gênero e raça; e justiça econômica. A ONU e a democracia Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/democracia/. Acesso em: 06 set. 2020. A página das Organização das Nações Unidas apresenta o trabalho desenvolvido pela ONU na promoção da democracia, incluindo o apoio à participação política das mulheres no mundo. 145 D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 145D3-CH-EM-3075-V2-U4-C8-128-145-LA-G21-AVU1.indd 145 16/09/20 21:4616/09/20 21:46 > FICHAS DE AUTOAVALIAÇÃO Autoavaliação Esta é a hora de se autoavaliar em seu percurso de estudos. Para tanto, sugerimos que retome os objetivos propostos para as unidades. Depois, leia atentamente cada um dos itens relacionados a seguir e escreva em seu caderno como considera seu atual momento de aprendizagem. A resposta para cada um dos itens pode ser sim, não ou em algumas situações. Registre também uma justifi cativa para suas respostas. Unidade 1 Critérios 1.Identifi co os diferentes conceitos de ética ao longo do tempo. 2. Identifi co os diferentes conceitos de política ao longo do tempo. 3. Posso reconhecer a importância de práticas políticas éticas na organização das sociedades contemporâneas. 4. Consigo problematizar discursos que negam a política no mundo contemporâneo. 5. Sou capaz de perceber e analisar a impor- tância de ações éticas nas sociedades contemporâneas. 6. Consigo reconhecer e valorizar posturas éticas para a construção de uma sociedade mais justa. 7. Sinto que minhas escolhas se pautam por valores éticos, comprometidos com a demo- cracia e a construção de uma cultura de paz. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabelecerem um plano de ação. Unidade 2 Critérios 1. Compreendo que o conceito de cidadania não se desenvolveu de forma linear e não está acabado, pois é resultado de diferentes processos históricos de luta. 2. Consigo identifi car como se deu o processo de formação do conceito de cidadania que conhecemos no presente, reconhecendo a influência da democracia na conquista de direitos humanos. 3. Sou capaz de compreender que a igualdade jurídica entre homens e mulheres não garante a igualdade de gênero no Brasil. 4. Compreendo os desafios de se garantir cidadania no contexto atual de globalização considerando as diferenças étnicas, religio- sas, culturais, sociais e econômicas. 5. Tenho facilidade em analisar e comparar indicadores que evidenciam a ausência de infraestrutura que garantam os direitos sociais (fixos sociais) no Brasil. 6. Sou capaz de identifi car e combater situações de violação dos Direitos Humanos, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários. 7. Compreendo a importância da atuação dos indivíduos e dos movimentos sociais na manu- tenção e ampliação dos direitos humanos. 8. Sinto que minhas escolhas pessoais e pro- fissionais podem ser potencializadas a partir de iniciativas de engajamento pessoal em projetos de combate às desigualdades em minha comunidade. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabelecerem um plano de ação. NÃO ESCREVA NO LIVRO 146 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 146D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 146 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 Unidade 3 Critérios 1. Identifico diferentes formas de organização do governo ao longo do tempo. 2. Consigo analisar o problema da divisão de poderes. 3. Posso identificar o processo histórico de construção do governo no Brasil. 4. Sou capaz de conceituar patrimonialismo e relacionar o conceito com problemas políticos contemporâneos no Brasil. 5. Consigo entender que existem diferentes formas de participação política. 6. Sou capaz de relacionar participação política com o sufrágio. 7. Sou capaz de analisar o impacto da internet nas formas de participação política no mundo contemporâneo. 8. Sinto que minhas escolhas pessoais afetam e também são afetadas pelas várias formas de participação política. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabelecerem um plano de ação. Unidade 4 Critérios 1. Sou capaz de diferenciar o modelo democrá- tico de outros modelos, como aristocrático ou monárquico. 2. Reconheço a transformação do conceito de democracia ao longo da história desde a Grécia Antiga até os dias atuais. 3. Sou capaz de analisar as causas para a centra- lização do poder no nascimento dos Estados modernos. 4. Percebo que existem ameaças à democracia e que posso agir para combatê-las. 5. Analiso a importância dos Direitos Humanos para a consolidação do ideal democrático. 6. Sou capaz de compreender como a demo- cracia foi uma construção histórica de lutas e disputas políticas, como a luta pela ampliação do sufrágio, entre outras conquistas. 7. Sinto que minhas escolhas profissionais, edu- cacionais e como cidadão são afetadas pelas políticas públicas e índices socioeconômicos, como indicadores de desigualdades sociais. 8. Sou capaz de identificar discursos antidemo- cráticos, de ódio ou de cunho nacionalista na história e na atualidade. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabelecerem um plano de ação. 147 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 147D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 147 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 > BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as competências são identifi cadas por números (de 1 a 10) e as habilidades, por códigos alfa- numéricos, por exemplo, EM13CHS101, cuja composição é explicada da seguinte maneira: § as duas primeiras letras indicam a etapa da Educação Básica, no caso, Ensino Médio (EM); § o primeiro par de números indica que as habilidades descritas podem ser desenvolvidas em qualquer série do Ensino Médio (13); § a segunda sequência de letras indica a área (três letras) ou o compo- nente curricular (duas letras): MAT = Matemática e suas Tecnologias; LGG = Linguagens e suas Tecnologias; LP = Língua Portuguesa; CNT = Ciências da Natureza e suas Tecnologias; CHS = Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; § os três números fi nais indicam a competência específi ca (1o número) e a habilidade específi ca (dois últimos números). A seguir, os textos na íntegra das competências gerais, competências específi cas e habilidades mencionadas nesta obra. Competências gerais da EducaçãoBásica 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversifi cadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como 148 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 148D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 148 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 conhecimentos das linguagens artística, matemática e científi ca, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sen- timentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comuni- car, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apro- priar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer esco- lhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confi áveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a cons- ciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocio- nal, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de confl itos e a coope- ração, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabili- dade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, susten- táveis e solidários. 149 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 149D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 149 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 Ciências Humanas e Sociais Aplicadas no Ensino Médio: competências específicas e habilidades Competência específi ca 1: Analisar processos políticos, econô- micos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científi cos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científi ca. (EM13CHS101) Identifi car, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à com- preensão de ideias fi losófi cas e de processos e eventos históricos, geográfi cos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS102) Identifi car, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambien- tais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, cooperativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu signifi cado histórico e comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos. (EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômi- cos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos fi losófi cos e sociológicos, documentos históricos e geográfi cos, gráfi cos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros). (EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identifi car conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço. (EM13CHS105) Identifi car, contextualizar e criticar tipologias evolutivas (populações nômades e sedentárias, entre outras) e oposições dicotômicas (cidade/campo, cultura/natureza, civiliza- dos/bárbaros, razão/emoção, material/virtual etc.), explicitando suas ambiguidades. 150 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 150D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 150 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 (EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfi ca, gráfi ca e ico- nográfi ca, diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, signifi cativa, refl exiva e ética nas diversas práticas sociais, incluindo as escolares, para se comunicar, acessar e difundir informações, produzir conhecimen- tos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. Competência específi ca 2: Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compre- ensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações. (EM13CHS201) Analisar e caracterizar as dinâmicas das popu- lações, das mercadorias e do capital nos diversos continentes, com destaque para a mobilidade e a fi xação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de eventos naturais, políticos, eco- nômicos, sociais, religiosos e culturais, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a esses processos e às pos- síveis relações entre eles. (EM13CHS202) Analisar e avaliar os impactos das tecnologias na estruturação e nas dinâmicas de grupos, povos e sociedades contemporâneos (fl uxos populacionais, fi nanceiros, de mercado- rias, de informações, de valores éticos e culturais etc.), bem como suas interferências nas decisões políticas, sociais, ambientais, eco- nômicas e culturais. (EM13CHS203) Comparar os signifi cados de território, fronteiras e vazio (espacial, temporal e cultural) em diferentes sociedades, contextualizando e relativizando visões dualistas (civilização/bar- bárie, nomadismo/sedentarismo, esclarecimento/obscurantismo, cidade/campo, entre outras). (EM13CHS204) Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades e fronteiras, identifi cando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os confl itos populacionais (internos e externos), a diversidade étnico-cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas. 151 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 151D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 151 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 (EM13CHS205) Analisar a produção de diferentes territorialidades em suas dimensões culturais, econômicas, ambientais, políticas e sociais, no Brasile no mundo contemporâneo, com destaque para as culturas juvenis. (EM13CHS206) Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de localização, distribui- ção, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem para o raciocínio geográfi co. Competência específi ca 3: Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades com a natureza (produção, dis- tribuição e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à proposição de alternativas que respeitem e promovam a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional, nacional e global. (EM13CHS301) Problematizar hábitos e práticas individuais e coletivos de produção, reaproveitamento e descarte de resíduos em metrópoles, áreas urbanas e rurais, e comunidades com diferentes características socioeconômicas, e elaborar e/ou selecionar propostas de ação que promovam a sustentabilidade socioambiental, o combate à poluição sistêmica e o consumo responsável. (EM13CHS302) Analisar e avaliar criticamente os impactos econômi- cos e socioambientais de cadeias produtivas ligadas à exploração de recursos naturais e às atividades agropecuárias em diferentes ambien- tes e escalas de análise, considerando o modo de vida das populações locais – entre elas as indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais –, suas práticas agroextrativistas e o compromisso com a sustentabilidade. (EM13CHS303) Debater e avaliar o papel da indústria cultural e das culturas de massa no estímulo ao consumismo, seus impactos econômi- cos e socioambientais, com vistas à percepção crítica das necessidades criadas pelo consumo e à adoção de hábitos sustentáveis. (EM13CHS304) Analisar os impactos socioambientais decorrentes de práticas de instituições governamentais, de empresas e de indivíduos, discutindo as origens dessas práticas, selecionando, incorporando e pro- movendo aquelas que favoreçam a consciência e a ética socioambiental e o consumo responsável. 152 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 152D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 152 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 (EM13CHS305) Analisar e discutir o papel e as competências legais dos organismos nacionais e internacionais de regulação, controle e fi scalização ambiental e dos acordos internacionais para a promoção e a garantia de práticas ambientais sustentáveis. (EM13CHS306) Contextualizar, comparar e avaliar os impactos de diferentes modelos socioeconômicos no uso dos recursos naturais e na promoção da sustentabilidade econômica e socioambiental do planeta (como a adoção dos sistemas da agrobiodiversidade e agro- fl orestal por diferentes comunidades, entre outros). Competência específi ca 4: Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades. (EM13CHS401) Identifi car e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos. (EM13CHS402) Analisar e comparar indicadores de emprego, traba- lho e renda em diferentes espaços, escalas e tempos, associando-os a processos de estratifi cação e desigualdade socioeconômica. (EM13CHS403) Caracterizar e analisar os impactos das transfor- mações tecnológicas nas relações sociais e de trabalho próprias da contemporaneidade, promovendo ações voltadas à superação das desigualdades sociais, da opressão e da violação dos Direitos Humanos. (EM13CHS404) Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos históricos e/ou geográfi cos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em consideração, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais. Competência específica 5: Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos. 153 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 153D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 153 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 (EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identifi cando processos que contri- buem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade. (EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identifi car ações que promovam os Direitos Humanos, a solidarie- dade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais. (EM13CHS503) Identifi car diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus signifi cados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e avaliando mecanismos para com- batê-las, com base em argumentos éticos. (EM13CHS504) Analisar e avaliar os impasses ético-políti- cos decorrentes das transformações culturais, sociais, históricas, científi cas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdo- bramentos nas atitudes e nos valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas. Competência específi ca 6: Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. (EM13CHS601) Identifi car e analisar as demandas e os prota- gonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigual- dades étnico-raciais no país. (EM13CHS602) Identifi car e caracterizar a presença do paterna- lismo, do autoritarismo e do populismo na política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, relacionando-os com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade, 154 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 154D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 154 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 do diálogo e da promoção da democracia, da cidadania e dos direi- tos humanos na sociedade atual. (EM13CHS603) Analisar a formação de diferentes países, povos e nações e de suas experiências políticas e de exercício da cidada- nia, aplicando conceitos políticos básicos (Estado, poder, formas, sistemas e regimes de governo, soberania etc.). (EM13CHS604) Discutir o papel dos organismos internacionais no contexto mundial, com vistas à elaboração de uma visão crítica sobre seus limites e suas formas de atuação nos países, conside- rando os aspectos positivos e negativos dessa atuação para as populações locais. (EM13CHS605) Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça, igualdade e fraterni- dade, identifi car os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas sociedades contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses direitos em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo. (EM13CHS606) Analisar as características socioeconômicas da sociedade brasileira – com base na análise de documentos (dados, tabelas, mapas etc.)de diferentes fontes – e propor medidas para enfrentar os problemas identifi cados e construir uma sociedade mais próspera, justa e inclusiva, que valorize o protagonismo de seus cidadãos e promova o autoconhecimento, a autoestima, a autoconfi ança e a empatia. 155 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 155D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 155 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 ABBAGNANO, N. Dicionário de Filoso� a. São Paulo: Martins Fontes, 2012. § O dicionário apresenta, de forma didática, alguns dos principais con- ceitos, ideias e fi lósofos que marcaram a tradição fi losófi ca ocidental, sendo uma ferramenta importante para a refl exão fi losófi ca. AMARAL, D. F. do A. História do pensamento político ocidental. Coimbra: Almedina, 2011. § Nesse volume, o autor analisa as ideias de pensadores que, desde a Antiguidade até o século XX, trouxeram importantes refl exões para a construção do pensamento político do mundo ocidental. AZEVEDO, A. C. do A. Dicionário de nomes, termos e conceitos histó- ricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. § Dicionário com cerca de 1.400 verbetes dos principais conceitos fre- quentemente presentes na área de História. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. § Nessa obra, o sociólogo Zygmunt Bauman refl ete sobre o conceito de modernidade líquida e suas implicações políticas, sociais e éticas. BOBBIO, N. Direita e esquerda: razões e signifi cados de uma distinção política. São Paulo: Unesp, 1995. § Neste livro, o autor analisa os conceitos de direita e esquerda na polí- tica e discute o signifi cado desses termos na atualidade. BOBBIO, N. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral da polí- tica. São Paulo: Paz & Terra, 2017. § Livro no qual o autor reúne quatro ensaios que se inter-relacionam e discutem os seguintes conceitos: Estado, poder e governo; sociedade civil; o público e o privado; democracia e ditadura. BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília, DF: Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Ofi cial, 2000. 2 v. § Obra em dois volumes que oferece uma ampla interpretação dos prin- cipais conceitos que fazem parte do discurso político, expondo sua evolução histórica, analisando sua utilização atual e fazendo referência aos conceitos afi ns. BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L. M. (org.). Cidadania: um projeto em con- trução. São Paulo: Claro Enigma, 2012. > BIBLIOGRAFIA COMENTADA 156 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 156D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 156 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 § Reunião de textos que tratam de assuntos ligados a questões de cida- dania no Brasil contemporâneo, abordando temas como combate à desigualdade, segurança pública, luta contra o racismo, luta pelos direitos civis e políticos, entre outros. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF, 2018. Disponível em: http://basenacional comum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofi nal_site.pdf. Acesso em: 15 set. 2020. § Documento que estabelece as bases do currículo e das práticas de aprendizagem da Educação Básica no Brasil. BOURDON, R.; BOURRICAUD, F. Dicionário crítico de Sociologia. São Paulo: Ática, 2001. § Ao longo de 101 verbetes, o dicionário aponta as questões fun- damentais da Sociologia, discutindo as orientações teóricas mais importantes do ponto de vista dos fenômenos sociais. Cada verbete vem acompanhado de uma bibliografi a básica a respeito daquele tópico. CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. § O autor aborda a construção da cidadania no Brasil, com ênfase na questão dos direitos civis, sociais e políticos. CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2013. § Uma obra clássica sobre as transformações sociais provocadas pelo processo de desenvolvimento da internet e outras tecnologias de comunicação no mundo contemporâneo. CASTRO, I. E. de C. Geogra� a e política: território, escalas de ação e instituições. São Paulo: Bertrand, 2005. § A obra trabalha as relações entre espaço e política, buscando com- preender como a política, no seu sentido institucional e operacional, se insere nas mais diferentes esferas da sociedade contemporânea. CHAUÍ, M. Introdução à história da Filoso� a. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. v. 1. § A obra analisa aspectos centrais do pensamento fi losófi co na Grécia Antiga, contribuindo para a compreensão do processo histórico de formação da tradição fi losófi ca ocidental. CLAPHAM, A. Human rights: a very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2009. 157 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 157D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 157 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 § Nesse livro, o autor analisa o conceito de direitos humanos, abor- dando de suas origens históricas até o presente, trazendo à tona discussões que vão desde o direito à saúde até a prática de deten- ções arbitrárias no contexto de combate ao terrorismo. DORTIER, J.-F. (dir.). Dicionário de Ciências Humanas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. § Dicionário enciclopédico com os principais conceitos da área das Ciências Humanas, abrangendo as disciplinas de antropologia, demografi a, economia, geografi a, história, linguística, fi losofi a, ciên- cias políticas e da educação, entre outras. ESPINOSA, B. de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. § Em sua principal obra, o fi lósofo holandês elabora suas ideias sobre ética e o modo de se alcançar uma vida ética. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. São Paulo: Paz & Terra, 2014. § Essa obra reúne diversos textos do fi lósofo francês que exploram a questão do poder e suas implicações sociais. GIDDENS, A.; SUTTON, P. W. Conceitos essenciais da Sociologia. São Paulo: Unesp, 2014. § A obra apresenta alguns dos conceitos essenciais da Sociologia, fornecendo elementos para a compreensão de temas e processos sociais que marcam o mundo contemporâneo. HUNT, L. A invenção dos direitos humanos: uma história. Tradução: Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. § A historiadora estadunidense Lynn Hunt traça a gênese e a evolução da ideia e da prática dos direitos humanos no mundo, mobilizando conhecimentos que vão da fi losofi a à história do cotidiano na Europa e na América. LEE, K. et al. (ed.). Human and civil rights: essential primary sources. Farmington Hills: Thomson Gale, 2006. § Essa obra reúne e contextualiza documentos variados – discursos, legislação, artigos de revistas e jornais, ensaios, memórias, cartas, entrevistas, romances, canções e obras de arte – que abordam ques- tões referentes aos direitos humanos. LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018. § O livro analisa os diferentes momentos em que as democracias tra- dicionais entraram em crise e procura mostrar de que forma muitos 158 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 158D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 158 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 governos na atualidade vêm colocando em risco a democracia em seus países, utilizando-se das regras de funcionamento das próprias instituições democráticas. LEWIS, J. R.; SKUTSCH, C. The human rights enciclopedia. New York: Sharpe Reference, 2001. § Essa enciclopédia sobre direitos humanos oferece uma abordagem país a país, com verbetes sobre tortura, escravidão, asilo, genocídio, reféns, prisão e liberdade de imprensa, entre muitos outros. MARCONDES, D. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. § A obra traz uma seleção de textos de fi lósofos que se dedicaram a analisar problemas de ética, fornecendo um panorama geral da his- tória da fi losofi a e do modo como diferentes pensadores refl etiram sobre questões éticas. MARTINS, A. R. de Q.; ELOY, A. A. da S. (org.). Educação integralpor meio do pensamento computacional. Curitiba: Appris, 2019. § Conjunto de artigos relacionados ao pensamento computacional e relatos de experiências sobre como esse conceito foi aplicado em sala de aula. MORAES, A. C. R. Ideologias geográ� cas: espaço, cultura e política no Brasil. São Paulo: Annablume, 2005. § A obra analisa a Geografi a por meio de uma visão crítica, levantando indagações e valorizando a política, a democracia e a liberdade. MOTA, C. G.; LOPEZ, A. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Editora 34, 2016. § Os autores traçam um olhar panorâmico sobre a história do Brasil, desde os tempos pré-cabralinos até as primeiras décadas do século XXI, aprofundando as discussões sobre o desenvolvi- mento do país e os entraves que impedem a real modernização da sociedade brasileira. PIKETTY, T. O capital no século XXI. São Paulo: Intrínseca, 2014. § A obra analisa o processo de concentração de riqueza no mundo contemporâneo e suas implicações sociais, políticas e econômicas. PINSKY, J.; PINSKY, C. B. (org.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2014. § Essa obra reúne ensaios de diferentes historiadores, que analisam como se deu a construção da ideia de cidadania. O livro mostra 159 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 159D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 159 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 os diferentes signifi cados que esse conceito adquiriu desde a Antiguidade até os dias de hoje. SARTRE, J.-P. Existencialismo é um humanismo. São Paulo: Vozes, 2014. § Nessa obra, o fi lósofo francês sistematiza suas ideias de forma didá- tica, explorando as implicações éticas da perspectiva existencialista. SANTOS, J. de O. Educação emocional na escola. Salvador: Faculdade Castro Alves, 2000. § A obra discute o conceito de inteligência emocional e as possibi- lidades de trabalhar com essas questões em sala de aula. SANTOS, M. O espaço do cidadão. São Paulo: Edusp, 2007. § Livro lançado em 1987 que continua bastante atual para discutir desigualdades e território no Brasil. SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma bibliografi a. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. § As autoras constroem um amplo painel dos mais de 500 anos da história do Brasil, lançando um olhar não só para os fatos marcantes mas também para o cotidiano, incluindo as minorias, as diferentes formas de expressão artística e os embates sociais. SCHWARCZ, L. M. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. § Essa obra refl ete sobre a tradição política brasileira e o impacto de práticas autoritárias na formação do Brasil. SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006. § Dicionário com importantes conceitos históricos discutidos e ana- lisados de forma a relacionar o saber histórico com a prática em sala de aula. Muitas vezes, os conceitos apresentados estabelecem relação com a realidade brasileira e latino-americana. VINCENT-LACRAIN, S. et al. Desenvolvimento da criatividade e do pensamento crítico dos estudantes: o que signifi ca na escola. São Paulo: Fundação Santillana, 2020. § Obra elaborada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reunindo artigos de espe- cialistas na área da educação que discutem como construir ambientes de aprendizagem nos quais os alunos possam exercitar suas competências de criatividade e pensamento crítico. 160 D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 160D3-CH-EM-3075-V2-FINAIS-146-160-LA-G21_VU1_4.indd 160 17/09/2020 15:4517/09/2020 15:45 Orientações para o professor Sumário • Parte I • Um mundo em transformação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162 Educação para o século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162 Brasil: o mundo mudou, e a nossa escola? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 • Parte II • O Novo Ensino Médio e a BNCC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 • Parte III • Abordagem teórico-metodológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 Principais fundamentos metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 Práticas de pesquisa sociais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 Metodologias ativas de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 • Parte IV • Recursos e estratégias didáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 Organização das seções de textos e atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 Sugestões de cronogramas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 • Parte V • O processo de avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184 Avaliar para quê? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184 Principais modelos de avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186 • Parte VI • O trabalho com este volume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191 D3-CH-EM-3075-MPG-161-190-LA-G21_AVU4.indd 161D3-CH-EM-3075-MPG-161-190-LA-G21_AVU4.indd 161 25/09/20 17:5125/09/20 17:51 162162 Um mundo em transformação Educação para o século XXI No século XXI, a aceleração das inovações tecnológicas ocorre em intervalos de tempo cada vez mais curtos, acarretando nas sociedades uma série de transformações nos âmbitos político, econômico, social e cultural. Diante dessas transformações vertiginosas da tecnologia, surgem novos produtos e novas maneiras de produzi-los; profissões são extintas e outras são criadas; alteram-se as formas de comunicação e as relações interpessoais. As instituições também são modificadas para se adequar à nova realidade. A escola, por exemplo, se vê diante da necessidade de rever suas práticas na formação dos sujeitos que vivem nesse mundo atual. A educação contemporânea pressupõe a formação para a vida, no sentido de habilitar o jovem à leitura e à análise crítica da realidade, além de promover o seu desenvolvimento integral, individual e social. Para atingir esse objetivo, é importante valorizar os conheci- mentos prévios dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem. O biólogo, psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980) foi um dos pioneiros no estudo do desenvolvimento cognitivo e intelectual e do processo de construção do conhe- cimento. Embora o foco de Piaget não fosse a educação formal, suas pesquisas serviram de base para que outros estudiosos entendessem que o ponto de partida para a construção de um novo conhecimento é aquilo que o estudante já sabe. Amparado nas pesquisas de Piaget, David Ausubel (1918-2008), psicólogo estadunidense da área educacional, foi um dos primeiros a usar o termo conhecimento prévio. Para ele, o conjunto de saberes que um estudante traz é extremamente importante para a elaboração de novos conhecimentos e para a garantia de uma aprendizagem significativa1. Na escola do século XXI, marcada pelo fenômeno da globalização e da sociedade da informação, torna-se também fundamental a promoção da discussão, da interpretação dos fatos, da análise crítica das informações e o uso criativo das novas tecnologias para a construção de conhecimentos. Segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha:O problema educacional não está, portanto, apenas em utilizar a tecnologia como instrumento avançado no ensino, acompanhar a sua evolução no mundo do trabalho, ou ainda estabelecer a interação entre a escola e a educação informal dos meios de comunicação de massa, mas questionar como deve ser daqui em diante uma pedagogia que realmente oriente o cidadão para compreender o mundo transformado pela técnica e atuar sobre ele de maneira crítica. Mais ainda, aprender de modo contínuo — tanto o aluno como o professor —, já que essas transformações continuarão ocorrendo de modo vertiginoso2. 1Como aponta a pedagoga Cynthia Duk: “A aprendizagem significativa implica proceder a uma representação interna e pessoal dos conteúdos escolares, estabelecendo relações substantivas entre o novo conteúdo de aprendizagem e o que já se sabe. Neste processo de construção modificam-se conhecimentos e esquemas prévios e cria-se uma nova representação ou conceituação. Nesta perspectiva, a aprendizagem não é um processo linear de acumulação de conhecimentos, mas uma nova organização do conhe- cimento, que diz respeito tanto ao ‘saber sobre algo’ (esquemas conceituais), como o ‘saber o que fazer’ e, ainda, como ‘com o que se sabe’ (esquemas de procedimentos) e o ‘saber quando utilizá-lo’ (em que situações usar o que se sabe). In: DUK, C. Educar na diversidade. Brasília: MEC/SEESP], 2006. p. 172-173. 2ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006, p. 440-441. > PARTE I D3-CH-EM-3075-MPG-161-190-LA-G21_AVU.indd 162D3-CH-EM-3075-MPG-161-190-LA-G21_AVU.indd 162 24/09/2020 09:1924/09/2020 09:19 163 Essa reflexão pode ser complementada com a seguinte afirmação do historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014): “[a crítica] é a contrapartida cultural diante da técnica, é o modo de a sociedade dialogar com as inovações, ponderando sobre seu impacto, avaliando seus efeitos e perscrutando seus desdobramentos. A técnica, nesse sentido, é socialmente consequente quando dialoga com a crítica”3. Nesse sentido, a escola e a sociedade como um todo precisam estabelecer um diálogo crítico com essas inovações tecnológicas para a avaliação dos seus impactos, efeitos e des- dobramentos no mundo contemporâneo. Segundo Sevcenko, esse diálogo pressupõe três movimentos fundamentais: O primeiro consiste em conseguirmos desprender-nos do ritmo acelerado das mudanças atuais [...]. O segundo requer que recuperemos [...] o tempo histórico, aquele que nos fornece o contexto no interior do qual podemos avaliar a escala, a natureza, a dinâmica e os efeitos das mudanças em curso, bem como quem são seus beneficiários e a quem elas prejudicam. O terceiro movimento seria, então, o de sondar o futuro a partir da crítica em perspectiva histórica, ponderando como a técnica pode ser posta a serviço de valores humanos, beneficiando o maior número de pessoas.4 > REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMENTADAS • ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. O livro apresenta um amplo panorama da história da educação e da pedagogia. Cada um dos capítulos da obra está dividido em: Introdução, Contexto histórico, Educação (descrição de práticas educativas), Pedagogia, textos e atividades complementares. O livro traz importantes referências para a discussão dos rumos da educação na atualidade. • SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Nesse livro, Sevcenko utiliza a imagem da montanha-russa para tratar do desenvolvimento tecnológico das sociedades ocidentais. Na obra, o historiador desenvolve o conceito de “síndrome do loop” para caracterizar a postura de muitos contemporâneos ante as grandes mudanças políticas e econômicas e da difusão das novas tecnologias globais. Essa síndrome, segundo Sevcenko, tende a acentuar a pas- sividade das pessoas e torná-las menos reflexivas e críticas diante da precipitação das transformações tecnológicas. Brasil: o mundo mudou, e a nossa escola? No Brasil, após o término do regime civil-militar (1964-1985) e o restabelecimento da democracia, algumas conquistas foram alcançadas, entre elas a promulgação da Constituição Federal de 1988, que estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado e da família, a fim de garantir o pleno desenvolvimento do indi- víduo, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Veja a seguir as principais mudanças educacionais no Brasil a partir dessas diretrizes constitucionais. 3SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 17. 4Idem, ibidem, p. 19. D3-CH-EM-3075-MPG-161-190-LA-G21_AVU.indd 163D3-CH-EM-3075-MPG-161-190-LA-G21_AVU.indd 163 24/09/2020 09:1924/09/2020 09:19 164164 » Mudanças educacionais no Brasil Acompanhe o percurso das principais leis e diretrizes educacionais da década de 1990 a 2018. 3 Muitas foram as contribuições da LDB para o avanço das reflexões educacio- nais no país, entre elas as diretrizes fornecidas para a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que deram ênfase à compreensão do processo de aprendiza- gem do estudante, ao desenvolvimento de competências e habilidades, à formação para o exercício da cidadania e à discussão de temas transversais, como Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde, Trabalho, Consumo e Orientação Sexual. > PCNS 1997-1998 1 Após um longo período de debates, foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9394/96), que dispôs sobre os princípios e fins da educação no país, baseados na igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; no respeito à liberdade e apreço à tolerância, entre outros princípios. > LDB 1996 6 Em 2018, foram atualizadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM/2018). As DCNEM/2018 trazem orientações e definições para o planejamento dos currículos escolares e para os siste- mas de ensino. As DCMs determinam que a proposta pedagógica das unidades escolares deve considerar, entre outros aspectos, o reconhecimento e atendimento da diversidade e das diferentes nuances da desigualdade e da exclusão na sociedade brasileira e a promoção dos direitos humanos mediante a discussão de temas relativos a raça e etnia, religião, gênero, identidade de gênero e orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros, bem como práticas que contribuam para a igualdade e para o enfrentamento de preconceitos, discriminação e violência sob todas as formas. > DCNEM 2018 2 Desde 1996, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) prevê a avaliação pedagógica dos livros inscritos no processo de seleção do Ministério da Educação. Essa avalia- ção toma como base os documentos oficiais da educação do país. O PNLD garantiu a universalização da distribuição do livro didático na rede pública de ensino e a livre escolha dos docentes das obras aprovadas. > PNLD 1996 5 O processo de elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) durou cerca de quatro anos e, para isso, foram consultadas diversas entidades representativas dos diferentes seg- mentos envolvidos com a Educação Básica. Em dezembro de 2017, a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental foi normatizada pelo Conselho Nacional de Educação e homologada pelo MEC. A parte referente ao Ensino Médio foi entregue ao CNE em abril de 2018 e aprovada e homologada em dezembro do mesmo ano. > BNCC 2017-2018 4 Um novo modelo de Ensino Médio foi sancio- nado pela Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que alterou a LDB de 1996. Essa lei determinou o aumento da carga horária mínima, a ampliação das escolas de tempo integral e a possibilidade de todos os estudantes dessa etapa escolar poderem escolher