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EDUCAÇÃO MULTICULTURAL Núcleo de Pós-Graduação Multiculturalismo e Educação Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 2 A educação deve conduzir à “antropo-ética”, levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduos/sociedade/espécie. Nesse sentido, a ética indivíduo/espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia; a ética indivíduo/espécie convoca, ao século XXI, a cidadania terrestre. (Edgar Morin) 1 – INTRODUÇÃO: Esta apostila tem como objetivo proporcionar aos alunos um diálogo e compreensão sobre mídia, cultura e educação, bem como suas conexões. Teóricos clássicos com suas análises e conceitos serão abordados neste material. Num primeiro momento, proponho que pensemos acerca da importância da comunicação para a sociedade, suas contribuições e interconexões com a cultura e a educação para nossas vidas cotidianas. Veremos também como as tecnologias digitais, bem como as tecnologias da comunicação e informação (TICs) estão contidas na sociedade de controle com seus fluxos velozes. Para analisar questões mais atuais, pertinentes ao final do século XX e início do século XXI, como a educação a distância e a educomunicação trazem desafios para os educadores e alunos numa perspectiva crítica. Para tanto, discorremos sobre o papel da mídia na sociedade, das telecomunicações, das tecnologias de informação e comunicação, sobretudo da Internet. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 3 2 – A importância da Comunicação e sua influência sobre a vida social: E a comunicação? Será que o modo da nossa sociedade usar sua comunicação “social” responde às necessidades das pessoas reais? Os meios de comunicação ajudam na tomada de decisões importantes? Oferecem oportunidades de expressão a todos os setores da população? Fornecem ocasiões de diálogo e de encontro? Estimulam o crescimento da consciência crítica e da capacidade de participação? Questionam os regimes políticos e as estruturas sociais que não respondem aos anseios de liberdade, convívio, beleza, além de não satisfazer às necessidades básicas da população? (Juan E. Díaz Bordenave) A comunicação é essencial para a ampliação das relações humanas e sociais, isto é, por meio dos símbolos mentais, da linguagem e de sua difusão no espaço e no tempo, conseguimos interagir socialmente uns com os outros. A comunicação compreende Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 4 expressões faciais, atitudes e gestos, tonalidades de voz, palavras, publicações (jornais, revistas, propagandas), outrora as ferrovias, os telégrafos e telefones, agora a telefonia móvel, a digitalização, a informática, a Internet e todas as inovações, descobertas e meios de telecomunicações. Neste sentido, podemos afirmar que não existe sociedade, tão pouco cultura, sem comunicação, pois não há separação entre os meios de comunicação e o mundo exterior. Porque sem comunicação, a mente não amplia sua verdadeira natureza. Sinal de trânsito; ritual religioso; fotografia; sinfonia; poema; propaganda; marco de pedras; noticiário; sinal de mão; voz, mapa; filme. Todas essas são comunicações, produzidas e respondidas por seres humanos. Representam somente uma amostra pequena e casual de uma infinidade de objetos, sons, visões, que participam de praticamente toda transação com o meio ambiente. A atividade e a vida humana seriam impossíveis sem elas. Fearing (1971, p. 56). Podemos observar que a comunicação é inerente ao comportamento humano, bem como é parte constitutiva da cultura. Não podemos “falar” de comunicação sem nos remetermos diretamente à cultura, sobretudo, não podemos esquecer a conexão entre comunicação e educação. Justamente porque o sistema de comunicação é um dispositivo, cujos aperfeiçoamentos exercem uma reação sobre o indivíduo, e, portanto, sobre a sociedade. As transformações ocorridas desde o século XIX em decorrência da tiveram importância substancial na comunicação e na vida social, pois contribuíram para o entendimento de ideias e sentimentos; do domínio, duração e rapidez do tempo e espaço; e por último, da difusão e acesso à informação por todas as camadas sociais. Tudo começou com os jornais, ao revolucionarem a comunicação e a sociedade por meio das novidades, interação de ideias, discursos, opiniões, editoriais, etc. Em Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 5 seguida pela publicidade e propaganda, com seus mecanismos de dissuasão e persuasão 1 . Os recursos da comunicação podem ser utilizados para estimular e satisfazer nosso interesse por vários aspectos das relações humanas e da vida social, incluindo o campo da educação, ao promover a difusão da informação e conhecimento, ampliar o pensamento e facilitar a interação social. Ainda que, para a maioria dos cidadãos dos países industrializados, a educação moderna seja algo trivial, demorou muito tempo para o aparecimento desse modelo de instrução de alunos em estabelecimentos especialmente construídos para o ensino. Durante séculos, a educação formal esteve disponível apenas para uma minoria que dispunha de tempo e de dinheiro para dedicar-se aos estudos. (...) O processo da industrialização e a expansão das cidades influenciaram, em muito o desenvolvimento do sistema educacional. Até as primeiras décadas do século XIX, a maioria da população não tinha acesso a nenhum tipo de educação escolar. Porém, com a rápida expansão da economia industrial, houve uma enorme demanda de ensino especializado capaz de formar uma mão de obra instruída e hábil.” (Giddens, 2005, 396) Portanto, podemos constatar que foi por meio do incremento e do avanço da sociedade capitalista que a educação e a instrução tornaram-se importantes dentro da vida social. Neste sentido, existe uma correlação entre educação e industrialização, pois o próprio desenvolvimento do sistema educacional mudou a partir do século XIX, quando se têm o início do ensino especializado e de um sistema educacional universalizado, se opondo à educação doméstica-familiar. 1 Jean Baudrillard. Significação da Publicidade. In: Teoria da Cultura de Massa. Lima, Luiz Costa. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1990. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 6 3 - A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt: Indústria Cultural e Cultura de Massa: Os interessados inclinam-se a dar uma explicação tecnológica da indústria cultural. O fato de que milhões de pessoas participam dessa indústria imporia métodos de reprodução que, por sua vez, tornam inevitável a disseminação de bens padronizados para a satisfação de necessidades iguais. O contraste técnico entre poucos centros de produção e uma recepção dispersa condicionaria a organização e o planejamento pela direção. Os padrões teriam resultado originariamente das necessidades dos consumidores: eis porque são aceitos sem resistência. De fato, o que explica é o círculo da manipulação e da necessidade retroativa, no qual a unidade do sistema se torna cada vez mais coesa. O que não se diz é que o terreno no qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os economicamente mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação. (Theodor Adorno) Este material faz parte do guia deestudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 7 A Escola de Frankfurt surgiu a partir do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, na Alemanha em 1924 e difundiu o conceito da teoria crítica. Seus fundadores trabalhavam em uma perspectiva do pensamento marxista, entre outras questões procurou abordar criticamente diversos aspectos contemporâneos das formas de comunicação e cultura, principalmente, a maneira pela qual a indústria cultural levaria a uma coesão social, e ainda, reforçaria as relações de poder estabelecidas no interior da sociedade no intuito de se assegurar uma ordem. Desta maneira, por meio do reforço, investiria num comportamento servil do indivíduo e sua passividade diante da realidade social. Seus principais teóricos foram: Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, que contribuiram com uma teoria crítica da sociedade ocidental ao desenvolverem, por exemplo, os conceitos de “indústria cultural” e “cultura de massa”. O conceito de indústria cultural de Adorno e Horkheimer acabam por se opor ao termo cultura de massa. A indústria cultural, segundo os dois autores, equivale a qualquer indústria, organizada, planejada para atender o público, agora tratado como $ consumidor. Mais do que dá informações, segundo os dois filósofos, os meios de comunicação buscam o entretenimento dos indivíduos. A indústria cultura informa o consumidor de maneira homogênea, rápida e alienante o mundo em que se depara. Segundo Souza e Santos, os autores da Escola de Frankfurt para justificar sua tese, afirmam que o cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. Na verdade, para tais autores, estes bens culturais, quando são produzidos em série, são apenas um negócio. Para Adorno e Horkheimer os meios de comunicação de massa compreendem uma proposta de alienação, diversão ou mesmo a desorientação sem permitir a reflexão sobre as coisas. Os dois autores Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 8 destacam que a indústria cultural tem um objetivo: chegar aos seus consumidores a partir da venda. Por essa razão, pode-se dizer que a indústria cultural vai buscar legitimar tudo isso a partir de uma ideologia que, é uma falsa consciência ou uma inversão da realidade. (Adrian, 2012, p. 2) Segundo Giddens (2005), a Escola de Frankfurt produziu um estudo sistemático do que ela designava como “indústria cultural”, isto é, as indústrias de entretenimento vinculadas ao cinema, televisão, rádio, música popular, jornais e revistas. Sustentavam que a difusão da “indústria cultural” com seus produtos condescendentes e padronizados, debilita a capacidade dos indivíduos exercerem um pensamento crítico. Neste sentido, por exemplo, a arte se perde em detrimento da pasteurização e exarcebada comercialização, o que gera uma cultura de massa 2 . Para Adorno (1978), o termo indústria cultural surgiu para substituir a designação de cultura de massa. Segundo ele, era preciso extingüir definitivamente a interpretação utilizada pelos “advogados das coisas”, que acreditavam que a cultura poderia surgir diretamente da própria massa, em detrimento da arte popular contemporânea. Todavia, para Adorno, a indústria cultural se distinguia essencialmente deste tipo de arte, mesmo porque, via a cultura de massa como sinônimo de alienação, manipulação e massificação. A indústria cultural impõe gostos e preferências às massas, modelando suas consciências ao introduzir o desejo de necessidades supérfluas. Ela é tão eficaz nessa tarefa que os indivíduos não percebem o que ocorre, impedindo, assim, a formação, de pessoas capazes de julgar e de decidir conscientemente. Fenômeno similar ocorre na música popular produzida pela indústria cultural. O processo de padronização torna as canções parecidas umas às outras e reprime qualquer tipo de desafio, autenticidade ou estimulo intelectual na música elaborada 2 Gabriel Cohn. Sociologia da Comunicação: teoria e ideologia. São Paulo: Pioneira, 1973. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 9 para venda. No processo de elaboração da indústria cultural segundo Adorno e Horkheimer, não existe a criatividade artística como se imagina, mas simplesmente a padronização de produtos e serviços para a venda e o consumo. (Adrian, 2012, p. 3) De acordo com Gabriel Cohn (1973, p.17), “... o termo massa designa uma coletividade de grande extensão, heterogênea quanto à origem social e geográfica dos seus membros e desestruturada socialmente. Isto é, trata-se de um coletivo, contíguo ou à distância, de indivíduos indiferenciados quanto a normas de comportamento, valores e posições sociais, pelo menos naquilo que diz respeito a uma situação determinada.” Mais adiante em sua análise, Cohn problematiza a questão da massa como uma “categoria social” e suas responsabilidades advindas do surgimento de determinadas formas do próprio sistema social, ou mesmo, no contexto de uma cultura globalizada, ou seja, da sociedade de massas. A sociedade de massas, é a sociedade do consumo, que se encontra diante da disponibilidade de produtos que podem ser desejados e consumidos. Mesmo que a massa não consiga consumir o que uma minoria abastada, qualificada e muitas vezes denominada elite possa possuir, ela anseia, deseja e cria mecanismos ou maneiras de progredir socialmente, para se divertir e para se entreter. Na sociedade de consumo, a massa é seduzida, é estimulada a obter necessidades de consumo que outrora não existiam. Entretanto, apesar de não consumir tudo aquilo que deseja, está determinada em atingir um futuro promissor e feliz, de acordo com o mercado e seus fluxos capitalistas que incidem, inclusive sobre a educação. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 10 4 – Os Teóricos Funcionalistas e suas contribuições acerca da sociedade e da comunicação: Numa sociedade em que a desconfiança recíproca encontra expressões populares tais como 'quanto ele vai ganhar por isso' (...) em que a defesa contra as desilusões traumáticas talvez consistam em estarmos permanentemente desenganados, reduzindo as expectativas sobre a integridade de outros, dando por descontados de antemão seus motivos e talentos. (Robert Merton) 3 Émile Durkheim contribuiu para a sistematização de uma corrente teórica denominada funcionalismo, da qual também é considerado componente. Os funcionalistas viam a sociedade como um mecanismo intrincado em que diferentes partes operariam conjuntamente para garantir a harmonia e estabilidade avaliada pela moral e o direito, só assim se alcançariam à coesão social, ou seja, a integração da sociedade. 3 Na primeira foto Robert Merton, em seguida, Talcott Parsons. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 11 O funcionalismo enfatiza a importância do ‘consenso moral’ para se manter a ordem e a estabilidade na sociedade. O consenso moral existe quando a maioria das pessoas na sociedade compartilha os mesmos valores. Os funcionalistas vêem a ordem e o equilíbrio como o estado normal da sociedade – esse equilíbrio social é baseado na existência de um consenso moral entre os membros da sociedade. (Giddens, 2005, p. 35) Ao longo do século XX, a teoria funcionalista predominou a sociologia, principalmente nos Estados Unidos entre as décadas de 1930 e 1960, sob as figuras de inúmeros pensadores entre eles Talcott Parsons, Robert Merton e Paul Lazarsfeld, que foram diretamente influenciados por Durkheim.Para Durkheim, o indivíduo tem um papel importante na sociedade, deve cumprir e seguir à risca as normas e regras sociais pré-estabelecidas, a imposição de costumes em nome da coerção social. Isto geraria a harmonia da vida social e coletiva, no caso da individualidade e liberdade, estas devem ser coibidas e controladas, para tanto, a educação tem papel fundamental para o indivíduo internalizar, minimante as regras e normas, e ainda, ter noção de que, ao não cumprir o seu papel está passível de uma punição. Influenciados por Durkheim, os funcionalistas enxergaram no século XX o imperativo de um controle sobre a sociedade. Entretanto, este controle não deveria utilizar-se de força física e violência, mas sim, tornar-se um “controle invisível” 4 , ou seja, o controle da opinião pública. Mesmo porque, o problema para os funcionalistas, está justamente imbricado à manutenção da ordem e coesão social em qualquer sociedade. Para tanto, é preciso não apenas a divisão do trabalho, mas inclusive, uma 4 Guga Dorea. Democracia Midiática: Controle e Fuga. PUC-SP, Doutorado, 2002. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 12 “integração funcional” 5 , um consenso acerca de valores sociais e morais, estabelecidos pela ordem social. Neste sentido, a comunicação de massa, a “mídia de massa” deve avaliar o que pode ou não ser publicado e veiculado, pois ela não deve contrariar as instituições sociais, e sim, constituir vínculos com estas instituições – família, escola, polícia, igreja, partidos políticos, ONGs, etc. – visando uma integração social e cultural. Como muito bem observou Merton e Lazarsfeld (1990, p. 113), a respeito da função dos “mass media” como contribuição das normas sociais: A publicidade elimina o hiato existente entre as ‘atitudes particulares’ e a ‘moralidade pública’. A publicidade exerce pressão para que haja uma moralidade única ao invés de uma moralidade dual, impedindo a contínua evasão do problema. Suscita a reafirmação pública (embora esporádica) e a aplicação da norma social. A mídia de massa atua sobre interesses de grandes veículos de comunicação em torno do conformismo social, da manutenção de um sistema com dispositivos de controle sobre os indivíduos, que passivamente e docilmente aceita tudo o que é dito, lido ou ouvido. Diversas ramificações das ciências humanas e sociais se prontificaram a compreender os efeitos da mídia no comportamento humano e na vida social. A sociedade da comunicação investe numa cultura de consumo vinculada à democracia que apregoa a liberdade, mas sob a insígnia de um controle invisível sobre a opinião pública. Um dos primeiros teóricos a tecer observações precisas foi Harold D. Lasswell, ao defender um modelo de comunicação: 5 Warren Breed. Comunicação de Massa e Integração Sociocultural. In: Comunicação e Indústria Cultural, Cohn, Gabriel (org.). 4ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 13 Quem diz o que Em que canal Para quem Com que efeito Estes questionamentos levaram o autor a discutir os efeitos gerados com o envio de determinadas mensagens, o que ele denominou de “efeito-sinal”. Ou seja, sua inquietação era justamente com a eficácia dos mecanismos de controle e persuasão produzidos pela propaganda e veículos de comunicação de massa. Então, o que está em jogo são as reações, nas mudanças do comportamento do receptor que recebe determinada mensagem, o que ele percebe e os efeitos causados no seu comportamento e modo de vida. 5 - Estado Educador versus Estado Sedutor, a análise de Régis Debray: Nada engole nada. Não sejamos simplistas nem ingenuamente evolucionistas. As mídias feras sucedem-se entremeando- se. A imagem submete a escrita, mas não a faz, de modo algum, desaparecer. A oposição escrita/tela não é séria. Todo mundo sabe que a tela informática oferece textos em profusão. Além disso, não podemos esquecer o efeito “jogging” do progresso técnico. (Régis Debray) Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 14 Vivemos num período em que a democracia representativa vem cedendo espaço para a democracia midiática. E assim, encontramos a análise de Régis Debray sobre a mídia e a política a partir da “imagem” do Estado. Sua analítica expõe o Estado Educador, que surgiu com a Revolução Francesa e o ideário republicano do direito a educação para o povo. A educação levaria a coesão social, pois era um dispositivo político do governo que deveria ser usado pelo governo democrático. Entretanto, o Estado Sedutor, ou Estado Midiático se apóia nas sondagens e na opinião pública, que transformou o cidadão em consumidor, e num telespectador ávido pela realidade e verdade que são transmitidas pela televisão. Sendo que, a publicidade e o marketing procuram seduzir o cidadão para comercializar o governo. 8.1 – O Estado Educador: Ao analisar o atual papel do Estado e o comportamento “telecomandado” dos governantes diante dos veículos de comunicação de massa, o filósofo francês Debray, se reportou ao século das Luzes e à Revolução Francesa, na qual se originou o Estado Educador. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 15 A partir do Renascimento a monarquia se empenhou em demonstrar a capacidade intelectual de seus governantes, não obstante em dado momento se aliou à burguesia para fundar os Estados-Nações, no qual a instituição da ordem social dependeria da atuação do monarca enquanto estadista, para a implementação do capitalismo. Mas a capacidade de governo dos reis para programar uma ordem social estava atrelada à Igreja, pois cabia a ela a instrução do povo. Durante o período do Renascimento até a Revolução Francesa, os monarcas foram considerados representantes de Deus, no entanto, para se sustentarem diante dos súditos dependiam da ação da Igreja, para instruir, doutrinar e guiar o povo. Não obstante, a República, regime da representatividade por excelência, vai se preocupar não apenas com a “instrução”, mas, sobretudo com a “educação” dos cidadãos, pois isto seria dever do Estado. Apoiada na Razão, a República encontrou legitimidade e consistência nas instituições eruditas (academias, institutos, conservatórios, colégios, museus). A revolução vê os sábios tomar o poder. Para o Rei, impor-se significava: mostrar-se. Para a República, demonstrar. Para ela, não é possível uma eucaristia visual: o corpo do republicano nunca será sacramental. O Rei de direito divino maravilha, unicamente, por sua presença física; o eleito do povo não tem essa faculdade. Deve convencer através de razões. (Debray, 1994, p. 77) Segundo Debray (1994), o matemático e filósofo Condorcet 6 , concebeu a idéia de “instrução” simplesmente como uma “transmissão de conhecimento sem valor agregado”. Entretanto, o pastor Rabaut Saint-Étienne, acreditava que a “educação” 6 Segundo o autor, Condorcet criou o conceito de República e no período da Revolução Francesa defendeu a criação de instituições de instrução pública. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 16 elevava o espírito e introjetava nos indivíduos os valores morais. Neste sentido, a instrução estaria vinculada à formação do indivíduo, já a educação formaria uma coletividade. Daí a importância para os governos republicanos – principalmente na França do século XIX -, investiremem educação como um ampliador político capaz de unificar um povo e uma nação. O ensino confessional, que tinha levado a gostar da monarquia, só podia ser posto em concorrência por um ensino cívico que levaria a gostar da República e da Revolução. Portanto, os mestres-escola deviam ser não só transmissores do saber, mas ‘instrumentos de educação política’, ou ‘suboficiais da democracia’. Sua missão: onde estava Deus, colocar a Pátria. Só é possível combater uma fé com outra fé e não unicamente pela Razão. (Debray,1994, pp. 78-79) Desta forma, o Estado Educador baliza o direito à igualdade e às doutrinas evangélicas. Sua finalidade é manter a ordem, tendo em vista que ele funda-se na persuasão para conquistar o consenso dos indivíduos e utiliza como mecanismo de controle a coerção física. Mesmo porque, atribui-se à educação a introjeção de valores e normas sociais, o indivíduo que não aderir à educação coletiva deve ser castigado e punido. Para Debray, o Estado Educador exprime uma vocação “progressista”, no entanto, o Estado Sedutor – Estado Midiático – têm uma vocação “conservadora”. Para ele, a educação é simplesmente um “mito da esquerda” e a comunicação é um “mito da direita”. 8.2 – O Estado Sedutor: O Estado Midiático é o Estado Sedutor, aquele que depende da dinâmica da mídia para fomentar a opinião pública. Para Debray (1994), os dispositivos midiáticos Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 17 são utilizados para disseminar seus poderes sobre os indivíduos midiatizados, que podem ser cidadãos plenos de seus direitos e deveres. Para ele, a mídia transformou o cidadão em consumidor e o Estado-Nação foi absorvido pelo mercado mundial. No âmbito político, a mídia levou os partidos políticos a se adequarem à sua linguagem, especialmente porque tudo que é transmitido pela televisão é compreendido como real e verdadeiro. Para ele, vivemos a época da “videocracia”, na qual o objetivo da mídia é seduzir o cidadão por meio de acontecimentos midiáticos e não mais pelo distanciamento entre jornalismo e telespectador. Eis o desafio cívico do próximo século: será que a simbólica do Estado (isto é, seu âmago) irá sobreviver ou não ao reino do ‘visual’? A TV coloca em perigo o desdobramento dos Príncipes, no mais elevado grau das visibilidades sociais. O chefe de Estado sedutor tem um corpo a mais: o seu. Já não é possível olhar de través. Apresentações, performances, exibições – o que comprova sua presença, desvaloriza sua autoridade. A crença que liga seu destino à TV será cada vez menos crível, como a própria TV. Por se ter deixado escoar demasiado pela torneira das imagens, a autoridade se liquifica e a estátua do Comendador audiovisual acaba por se afogar em seus reflexos, paródias e escárnios em cascata. Na videocracia, a personalização (física)m tende a arruinar a personificação (moral). A transparência liquida a transcendência. (Debray,1994, p. 27) Desta maneira, o Estado passou a ser forçado a produzir informações espetaculares para a mídia, isto a todo instante, dado a necessidade de incrementar a televisão com notícias diárias e sedutoras, pois deve-se estar sempre atento aos anseios do cidadão-consumidor-telespectador, para que o governo enquanto produto possa ser aceito por meio da publicidade e do marketing. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 18 Neste sentido, há uma idealização da “performance” do homem público na mídia, que deve se assemelhar ao “anchorman” dos telejornais, distanciando-se cada vez mais dos propósitos políticos, sociais e econômicos da realidade da sociedade civil, causando um esvaziamento do debate político em relação à questões relevantes de primeira ordem. A substituição, nos primeiros camarotes, do homem de letras pelo homem da imagem refaz as silhuetas, tanto como as condutas. Muito mais severa do que a fotografia de antanho, a telegenia recomenda a apresentação de um rosto agradável e palavra fácil (eloqüente, gozadora, atrevida oportuna). Satisfaz-se com uma das duas facetas, mas somente a reunião desses atributos será consagrada. Ao novo homem moral corresponde um homem físico e o conjunto cria uma nova ‘raça’ de animais políticos: aberta, franca concreta, dinâmica, relacional, calorosa, simples, sorridente, que fala a verdade, etc. Estamos reconhecendo o ‘anchorman’ (ou woman), ideal tipo e concorrente do homem público. (Debray, 1994, p. 54) Para o político, o mais importante é sua aparência jovial, que demonstre um vencedor. Na verdade, existe uma mistura de homem público com o mundo das “celebridades”, pois a todo momento ele deve ser visto e ocupar o seu espaço no mundo midiatizado. É a visibilidade da sua imagem que vai garantir sua aceitação diante do cidadão que se tornou um consumidor-telespectador. No limiar do século XXI, nos encontramos diante da sociedade do espetáculo, na qual o Estado Sedutor (Midiático) seduz cada vez mais os cidadãos por meio das sondagens ao disseminar um “telestado” – ou como afirma Debray, um “Estado publicitário”, na qual o governo nada mais é do que um produto comercializado. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 19 9 - Jean Baudrillard: Publicidade e Hiper-Realidade: O resultado de um consumo rápido e maciço de ideias só pode ser redutor. Há um mal- entendido em relação a meu pensamento. Citam meus conceitos de modo irracional. Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial. (Jean Baudrillard) Jean Baudrillard (1929 – 2007) foi um dos mais influentes teóricos contemporâneos que analisa o forte papel da mídia de massa na atualidade, principalmente o seu efeito impositivo de padronização banal sobre a realidade social. No que diz respeito à publicidade, Baudrillard é enfático, ao dizer que sua função é informar as peculiaridades de determinado produto para promover sua venda. No entanto, ressalta que a publicidade não é apenas informação, mas também persuasão, o consumidor torna-se dirigido, manipulado, e até mesmo saturado de certas mensagens publicitárias. Porém, o que está em jogo não é necessariamente persuadir o consumidor a comprar determinado produto/marca, e sim, reforçar a ordem vigente da sociedade. Assim ele afirma: Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 20 De fato, a publicidade não omite tão cuidadosamente os processos objetivos, a história social dos objetos senão para, através da instância social imaginária, melhor impor a ordem real de produção e de exploração. É aí que se precisa escutar, atrás da psicagogia publicitária, a demagogia e o discurso político, a tática deste discurso que, ainda neste plano, repousa sobre um desdobramento: o da realidade social em uma instância real e em uma imagem – a primeira se diluindo atrás da segunda, tornando-se ilegível e só dando vez a um esquema de absorção na ambiência maternal. (Baudrillard, 1990, p. 276) Neste sentido, observa que o papel da publicidade nada mais é que a coesão moral e política dos indivíduos na sociedade, pois estes aderem a um oportuno movimento de consumo, balizados pela instância social e suas normas. Segundo Baudrillard, vivemos o advento da hiper-realidade, tendo em vista que não vivemos apenas uma realidade concreta e específica, mesmo porque, a mídia televisiva com suas transmissões “ao vivo”, ou seja, em tempo real, permite que os indivíduos de alguma forma assistam a imagens do mundo todo, tratando-se assim de um episódio mundial. Baudrillard sustenta que, em uma era na qual a mídia de massa está em toda a parte, na verdade, cria-se uma novarealidade – hiper- realidade – composta pelo amalgamento do comportamento das pessoas com as imagens exibidas pela mídia.” (Giddens, 2005, p.375) Neste sentido, o entendimento de Giddens (2005), sobre o mundo da hiper- realidade são seus efeitos de “simulacros”, isto é, experiências de imagens que tem como sentido revelar outras imagens que conduzam a uma “realidade externa”. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 21 10 - As Tecnologias de Informação e Comunicação: De alguma maneira, eu nunca me interessei pela comunicação em si mesma, embora tenha tratado de temas adjacentes em livros como O Cinema e o homem imaginário, Cultura de massa no século XX e As Estrelas, isso pela simples razão que me parecia fundamental refletir sobre a cultura de massa, evidentemente uma cultura que só pôde desenvolver-se graças aos midia. Essencial não era constatar que a mídia permitia uma explosão da comunicação, mas que trazia consigo as condições de criação de uma nova arte e de uma nova indústria, como o cinema e a televisão. (Edgar Morin) Atualmente quando nos referimos às tecnologias de informação, nos remetemos diretamente à Internet, ou à telefonia móvel. Porque estas tecnologias representam nos dias de hoje um elemento dinamizado da mudança social, política, econômica e cultural das nossas sociedades. Entretanto, não podemos nos esquecer como as tecnologias de informação estão diretamente conectadas a outros veículos de comunicação, como rádio, cinema, jornais e televisão. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 22 Segundo Giddens (2005), os celulares não são uma grande novidade, mas a tecnologia que foi utilizada para criar e estimular tal transformação pode ser considerado um fenômeno social e global, porém extremamente recente. Num primeiro momento os celulares eram grandes e sua tecnologia analógica, no entanto, o par comunicação e mobilidade eram perfeitas. Em curto tempo a tecnologia digital produziu uma segunda geração de celulares, pequenos e velozes, capazes de produzir menos inconveniências. A tecnologia raramente combina com lentidão, e, no caso dos telefones celulares, ela saiu em disparada. A tão esperada ‘terceira geração’ da tecnologia celular irá prenunciar a era da ‘internet sem fio’. Com o auxílio de um Wireless Application Protocol (WAP, Protocolo para Aplicações sem Fio), as informações em formato de texto extraídas dos websites serão filtradas e exibidas em palavras na tela do telefone. Os usuários conseguirão acessar a internet através de seus telefones celulares para efetuar tarefas que vão desde negócios bancários, compra de ingressos e passagens até leitura das manchetes dos jornais e o controle dos preços das ações. (Giddens, 2005, p. 379) A Internet faz parte das denominadas tecnologias de informação e comunicação – TIC. Todavia, a Internet permitiu uma nova comunicação, na qual está acoplada a um sistema tecnológico de computadores, onde os indivíduos, ou melhor, os usuários se conectam, interagem, buscam informações, procuram sites, visitam portais, navegam, ou seja, se comunicam. Segundo GIDDENS, através da Internet os usuários podem transferir documentos e programas, que vão desde política de governos a softwares de antivírus. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 23 As tecnologias de informação e comunicação permitem novas formas de organização da produção, do acesso ao conhecimento, de funcionamento da economia e consequentemente de cultura dentro da sociedade. Elas nos trazem uma interpretação diferente do tempo e do espaço das nossas redes de relacionamento sejam elas entre empresas, entre associações, entre familiares, entre amigos, entre Estado e cidadãos. Desta forma, podemos estabelecer uma relação entre a Internet e as cidades, dado que o mundo é constituído cada vez mais por populações urbanas. No início do século XXI, diversos autores apontam que a maior parte da população mundial habita áreas urbanas. Na verdade, estamos assistindo o aumento da apropriação das tecnologias de informação e comunicação pelas populações e sociedades, o que gera uma crescente urbanização da sociedade contemporânea. A princípio estes fatores estão vinculados em determinados planos, pois grande parte do discurso sobre as vantagens da utilização das tecnologias de informação teve como finalidade, a possibilidade de alterar os padrões de vida sociais e culturais nas cidades urbanas. Entretanto, nesta mesma sociedade as empresas, o mercado e os trabalhadores especializados conseguem trabalhar e negociar entre si, a partir de localizações longínquas. Isto tudo em tempo real, pois vivemos na “era digital”, numa unidade de tempo que procura tornar as tarefas simultâneas, num outro tipo de deslocamento e mobilidade de indivíduos a nível global. O crescimento da comunicação baseada na informática foi iniciado por um movimento de jovens metropolitanos cultos que veio á tona no final dos anos 80. Os atores desse movimento exploraram e construíram um espaço de encontro, de compartilhamento e de invenção coletiva. Se a Internet constitui o grande oceano do novo planeta informacional, é preciso não esquecer dos muitos rios que a alimentam: redes independentes de empresas, associações, de universidades, sem esquecer as mídias clássicas (bibliotecas, museus, Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 24 jornais, televisão etc.). É exatamente o conjunto dessa “rede hidrográfica”, até o menor dos BBS, que constitui o ciberespaço, e não somente a Internet. (Lévy, 1998, p.126) Contudo, a Internet e as comunicações móveis possibilitam uma nova forma de comunicação, de organização do trabalho, do mercado, da economia e, sobretudo, da sociedade. Entretanto, isto não significa que todos tenham acesso, pois encontramos um outro fator que advém da exclusão social, a “exclusão digital”, justamente pela incursão e difusão do uso de novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), vinculadas à informática, tais como a Internet. Se o indivíduo não está inserido na sociedade por meio do trabalho, ele não é reconhecido como um consumidor, como um cidadão. Desta forma, está fora deste novo modelo de comunicação, não está inserido na rede de informação, pois vive à margem da sociedade. Tecnologia da informação e comunicação (TIC) pode ser definida como um conjunto de recursos tecnológicos, utilizados de forma integrada, com um objetivo comum. As TICs são utilizadas das mais diversas formas, na indústria (no processo de automação), no comércio (no gerenciamento, nas diversas formas de publicidade), no setor de investimentos (informação simultânea, comunicação imediata) e na educação (no processo de ensino aprendizagem, na Educação a Distância). O desenvolvimento de hardwares e softwares garante a operacionalização da comunicação e dos processos decorrentes em meios virtuais. No entanto, foi a popularização da internet que potencializou o uso das TICs em diversos campos. Através da internet, novos sistemas de comunicação e informação foram criados, formando uma verdadeira rede. Criações como o e- http://www.infoescola.com/informatica/tecnologia-da-informacao-e-comunicacao/ http://www.infoescola.com/educacao/educacao-a-distancia/ http://www.infoescola.com/informatica/tecnologia-da-informacao-e-comunicacao/ Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 25 mail, o chat, os fóruns, a agenda de grupo online, comunidades virtuais, webcam, entre outros, revolucionaram os relacionamentos humanos. 7 Para algunsautores, participar do universo digital exige um investimento financeiro alto em equipamentos, tais como: computador, linha de telefone, servidor, banda larga, etc. O indivíduo deve adquirir um conhecimento mínimo em computação, sobretudo das linguagens adotas na Internet. Assim, estas tecnologias estão à disposição de uma classe média trabalhadora e formadora de opinião. Mas não se encontra disponível aos pobres, desempregados, trabalhadores informais, ou marginalizados, por uma questão que envolve diretamente o econômico e o social: a educação. Por outro lado, os defensores da “democracia digital”, enfatizam que a Internet pode atingir diversos campos e pessoas dos mais variados meios sociais, econômicos, políticos e culturais, dadas a sua disposição horizontal e a falta de hierarquia, na qual a censura seria impraticável. No limiar do século XXI a democracia digital avançou, nos centros urbanos além dos telecentros, redes de wi-fi são encontradas em praças, parques e comunidades. Em cidades interioranas o mesmo acontece. E com mais inovações tecnológicas lugares longínquos tem acesso à rede e programas produzindo uma verdadeira democracia eletrônica. De acordo com Lévy (1988) em relação à cibercultura existe uma interconexão que vai do mais simples ao mais elaborado como programas fundamentais do ciberespaço: a própria interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva o que levaria a uma a uma cibercultura que investe em uma civilização da “telepresença generalizada. Para além da comunicação, a interconexão estabelece a humanidade contínua e sem fronteiras. 7 Disponível em: http://www.infoescola.com/informatica/tecnologia-da-informacao-e-comunicacao/ Acesso: 27/04/2015. http://www.infoescola.com/informatica/tecnologia-da-informacao-e-comunicacao/ Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 26 11 - Sociedade Disciplinar e Sociedade de Controle: A sociedade disciplinar pressupõe mecanismos de controle e poder para extrair dos corpos o máximo de sua potencialidade no tempo e trabalho, para além da riqueza e dos bens, investe na sua “docilidade”, ou seja, numa conduta obediente. O regime da disciplina requer um tipo de poder que se exerce por meio da vigilância constante sobre o indivíduo. No entanto, a partir dos anos de 1980 teve início a sociedade de controle que não é especificamente disciplinar, pois opera por controle contínuo e comunicação instantânea, ou seja, os novos mecanismos de controle produzem fluxos ao investirem em velocidade. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 27 10.1 – A Sociedade Disciplinar: O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. (...)A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos ‘dóceis’. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). (Michel Foucault) A sociedade disciplinar está pautada na docilidade dos corpos baseado no confinamento, o que gerou a criação de rígidas e meticulosas regras de atuação por parte das instituições disciplinares, com seus mecanismos de controle coercitivos e punitivos. O que antecedeu a sociedade disciplinar foi à sociedade da soberania, advinda do feudalismo, que estendia suas técnicas e mecanismos de poder dos níveis mais altos aos mais baixos, ou seja, na relação entre soberanos e súditos que percorria todo o corpo social. Porém, entre os séculos XVII e XVIII, surge um acontecimento com uma nova mecânica de poder, com novos procedimentos de controle, instrumentos e aparelhos específicos, que a princípio eram incompatíveis com as relações de soberania. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 28 Este novo mecanismo de poder apoia-se mais nos corpos e seus atos do que na terra e seus produtos. É um mecanismo que permite extrair dos corpos tempo e trabalho mais do que bens e riqueza. É um tipo de poder que se exerce continuamente através da vigilância e não descontinuamente por meio de sistemas de taxas e obrigações distribuídas no tempo; que supõe mais um sistema minucioso de coerções materiais do que a existência física de um soberano. Finalmente, ele se apoia no princípio, que representa uma nova economia do poder, segundo a qual se deve propiciar simultaneamente o crescimento das forças dominadas e o aumento da força e da eficácia de quem as domina. (Foucault, 2001, pp. 187-189) A disciplina foi um grande instrumento de poder utilizado pelo Estado a partir do século XIX, pois por meio das técnicas disciplinares houve a possibilidade de conceber fórmulas de dominação sobre os corpos dos indivíduos, no intuito de extrair ao máximo sua capacidade e força, no entanto, sempre o mantendo útil e obediente sob o aspecto da vigilância. Entretanto, com a constituição do capitalismo industrial, o Estado deparou-se com o a expansão demográfica, a fartura monetária, mais o aumento da produção agrícola, o que levou à formulação de uma nova concepção de poder político: a centralização da economia devido aos problemas da população. Com a biopolítica os problemas da população, tais como: comportamento sexual, taxa de natalidade e mortandade, higiene, consumo, etc., foram sendo administrados pelo Estado, tendo em vista que ela é o “objetivo final do governo”, ao procurar melhorar sua saúde e sua duração de vida para absorver seu potencial, tornando-a um instrumento em suas mãos. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 29 Zelar pela saúde do corpo produtivo era também administrar as doenças da economia. O capitalismo é uma forma de produção da riqueza que não pretende empregar a todos. O que poderia ser o objetivo, pela lógica formal, sua saúde, seria sua verdadeira doença da alma, seu suicídio. Para manter sua economia livre para dispor dos corpos necessários (úteis e dóceis; e, portanto, não basta ser livre, exige-se obediência), inventou-se o direito universal, a democracia, o atendimento social, a administração dos corpos vivos e mortos.” (Passetti, 2003, p. 241) Neste sentido, todo governo deve ser paciente com relação à população, pois ela é o seu objeto. Assim, um governante tem a obrigação de levar em consideração os problemas da população, para conseguir governar e planejar racionalmente suas táticas ao investir numa “bio-regulamentação”. Segundo Foucault, quando o governo soma o seu saber a um saber sobre os processos que permeiam a população, ele volta-se para uma economia política que busca analisar as relações entre população, território, riqueza, etc. 10.2 – A Sociedade de Controle: Estamos entrando nas sociedades de controle, que funcionam não mais por confinamento, mas por controle contínuo e comunicação instantânea. (...) A cada tipo de sociedade, evidentemente, pode-se fazer corresponder um tipo de máquina: as máquinas simples ou dinâmicas para as sociedades de soberania, as máquinas energéticas para as de disciplina, as cibernéticas e os computadores para as sociedadesde controle. (Deleuze, 2000, 216) Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 30 Atualmente vivemos numa sociedade eletrônica, pautada em fluxos contínuos que se atualizam, na qual o regime de controle não tem nada acabado. A noção do inacabado convoca todos os indivíduos a participarem ativamente da vida social, política e econômica por meio da produtividade e empenho na integração. Todos devem aderir à participação para contemplar a democracia, pois este é o motor do controle contínuo. A sociedade de controle não suprimiu a sociedade disciplinar, pelo contrário, houve uma passagem gradativa e contínua de uma para outra, do assujeitamento para uma sujeição social. O Estado passou a investir numa adesão pacífica e dócil dos corpos. Na sociedade eletrônica e digitalizada tudo funciona em rede e fluxos, onde o indivíduo é convocado a participar efetivamente enquanto cidadão-consumidor. Segundo Passetti (2003), a sociedade de controle não trabalha “por meio da maximização e minimização, quantidades e qualidades. Acrescenta uma exigência ao lado das duas anteriores: investe em velocidade.” 8 O investimento na rapidez não se converge a um lugar específico e uno ao apropriar-se da capacidade das forças produtivas, como ocorre na sociedade disciplinar. No entanto, procura-se aplicar “velocidade nos fluxos”, romper barreiras, no intuito de redimensionar a economia e a política. Na sociedade de controle pretende-se integrar as forças políticas por meio da materialidade econômica em fluxos, fazendo com que cada um participe criando e reformando programas. Mais do que isso, integra por meio da cultura de telecomunicação, da cultura de informática pela Internet, uma emergente cultura biotecnológica, que funde trabalho, lazer, corpo, política, escola. Trata-se de uma nova diversidade de assujeitamentos que se anuncia, ultrapassa e cria na 8 Edson Passetti. Anarquismos e Sociedade de Controle, op.cit., p.248. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 31 instantaneidade, na atualização de outra virtualidade. (Passetti, 2003, p.250) Segundo Deleuze (2000), a crise generalizada das instituições de confinamento, tais como, a prisão, o hospital, a fábrica, a escola e a família, disseminou-se por toda a sociedade. Foi preciso então que o Estado pensasse em reformas e concebesse novas técnicas de controle e vigilância para perpetuar sua intervenção sobre o indivíduo e na sociedade. Para tanto, foi preciso investir em dispositivos ultra-rápidos de controle ao ar livre, para localizar e identificar cada cidadão e seus movimentos. 11 – Televisão e Educação: uma “prestação de serviços” à sociedade: Antes de existir computador existia tevê Antes de existir tevê existia luz elétrica Antes de existir luz elétrica existia bicicleta Antes de existir bicicleta existia enciclopédia Antes de existir enciclopédia existia alfabeto Antes de existir alfabeto existia voz Antes de existir a voz existia o silêncio O silêncio (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown) Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 32 Desde os seus primórdios a televisão brasileira teve a incumbência de mostrar diariamente como o regime, fosse militar, democrático ou autoritário, fazia um bom governo do Estado com repercussão direta na conduta dos indivíduos e de sua família. A televisão brasileira também tomou para si as ocupações e afazeres que cabiam às mulheres, aos homens, e enfim, adentra no governo das famílias. Continua sendo a babá eletrônica, a amiga imaginária e companheira de muitas crianças, alterando e conformando as relações e percepções com o mundo, modelando seu imaginário. Aos pais, fala diretamente ditando e reeditando regras de comportamento e condutas, ensinando-lhes como educar seus filhos, e a terem uma vida reta, harmoniosa e feliz. A televisão educa. (Silva, 2011, p. 8) Segundo Silva (2011) na década de 1960 com a Ditadura Civil-Militar ocorre um redimensionamento da televisão brasileira em território nacional, que tinha como objetivo de atingir a maior parte da população. Os militares precisaram da televisão para por em prática o seu programa de integração nacional com segurança; para administrar Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 33 o território e a população brasileira e obter apoio incondicional da maioria por meios do programas televisivos. É neste período que as emissoras de televisão começam a esboçar o que viria a ser a “prestação de serviços” à sociedade. O seu papel não seria apenas entreter e informar, investir no mercado consumidor, disseminar a campanha de integração do país, operar sobre as subjetividades do telespectador-cidadão, mas educá-lo, moldá-lo desde a infância, acompanhá-lo na sua juventude e fase adulta, fazer-lhe companhia na velhice, de acordo com as exigências de uma sociedade de controle. Na sociedade de controle a televisão também educa. Ela é a parte mais presente da mídia, a de contato instantâneo com o espectador, a criadora de telerrealidades conformistas. Da mesma maneira a televisão entra na escola com vídeos, Internet, filmes telecinados, ensino a distância, enfim, aproximando e informando sobre as exigências de uma sociedade de controle que investe em potencialidades, em produtividade virtual. (Passetti, 2003, p.83) Em 1966 os militares em nome da integração nacional implementaram novas normas de censura da televisão que estavam vinculadas ao Departamento Federal de Segurança Pública, endurecendo o controle e a vigilância sobre a mídia e a programação das emissoras de TV. Em 14 de outubro de 1966, foi promulgado o Decreto 59.366, que instituiu o Fundo de Financiamento de Televisão Educativa, mas não prosseguiu. No entanto, o ano de 1967 tornou-se emblemático, os militares delinearam o Ministério das Comunicações que agrupou a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a Embratel 9 e a Companhia Telefônica Brasileira. 9 Mesmo tendo sido implantada em 1962, a Embratel passou a operar em 1967. Em www.tudosobretv.com.br http://www.tudosobretv.com.br/ Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 34 Uma TV educativa não pode se alinhar a uma TV comercial é expressamente proibido que haja veiculação de propaganda, patrocínios e merchandising. Existe uma série de normas, regras e responsabilidades em relação aos canais educativos. As TVs educativas surgiram num momento, década de 1960, no qual a sociedade brasileira vivia um crescente processo de industrialização. Seu intuito sempre foi garantir a qualificação de uma mão de obra que pudesse, de fato, atuar na nova economia que se inseria em território nacional, com ênfases em conteúdos que reproduziam uma subjetividade da Ditadura Civil-Militar em decorrência da sua manipulação. Vide o exemplo de uma série de telecursos profissionalizantes que foram concebidos naquele período. Contudo, é preciso ressaltar que desde o início o conceito educativo está presente até os nossos dias, o da constituição de uma televisão educativa possível e real, que investisse, sobretudo, na cultura e na sociedade. Uma mudança efetiva mudança ocorreu na década 1990 com a redemocratização no Brasil. Em 1999 a Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (ABEPEC) instituiu a Rede Pública de Televisão (RPTV), numa tentativa de consolidar uma grade de programas televisivos comuns destinados àsemissoras associadas, ou seja, a programação pode não ter um papel rigorosamente educativo, como acontecia nos primórdios das transmissões dessas emissoras. Porém, atualmente, o investimento é poder transmitir programas jornalísticos, culturais e de entretenimento, todos com um “pano de fundo” condutor na educação. Um dos melhores exemplos que temos hoje é a TV Escola, que está a encargo do Ministério da Educação (MEC). Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 35 12 – Comunicação, Cultura e Cidadania: a Educomunicação: A educação crítica considera os homens como seres em devir, como seres inacabados, incompletos em uma realidade igualmente inacabada e juntamente com ela. Por oposição a outros animais, que são inacabados mas não históricos, os homens sabem- se incompletos. Os homens têm consciência de que são incompletos, e assim, nesse estar inacabados e na consciência que disso têm, encontram-se as raízes mesmas da educação como fenômeno puramente humano. O caráter inacabado dos homens e o caráter evolutivo da realidade exigem que a educação seja 'uma atividade contínua. A educação é, deste modo, continuamente refeita pela práxis. Para ser, deve chegar a ser. (Paulo Freire) Comunicação e cultura estão vinculadas por diversos meios e aspectos, dentre eles, pela ação social, interatividade, sustentabilidade, redes sociais, protagonismo, participação social, linguagem audiovisual, leitura, mídia e política. http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http://www.krcomunicacao.com.br/conselho-de-comunicacao-social-pode-ser-regulamentado-congresso/&ei=fSZAVdnpB7PIsQSrxoCgCQ&bvm=bv.92189499,d.cWc&psig=AFQjCNEKN3v8eznC4O-0FCfWP7VhOr5X4A&ust=1430353909532103 Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 36 A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe, transmitidos, pelo qual aprendeu a ser “membro” de sua sociedade – família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua “cultura”, isto é, os modos de pensamento e de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isto não ocorreu por “instrução”, pelo menos antes de ir para a escola; ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. (Bordenave, 1997, p.17) Podemos nos referir à cultura como sendo as formas de vida dos indivíduos que compõe uma sociedade ou de grupos sociais instituídos dentro de uma sociedade, ressaltando seus hábitos e costumes, comportamentos, como se vestem, vida familiar, padrões sociais estabelecidos, religiosidade, ocupações e divertimento, e, principalmente como se comunicam. Sabemos que sem a cultura não existiria humanidade e tão pouco sociedade. Os indivíduos não conseguiriam usar a linguagem e símbolos, muito menos falar e se expressar, assim nossa comunicação e raciocínio estaria comprometido. A cultura é transmitida por meio da herança social e pela educação. A maneira como aprendemos é um elemento essencial para que os indivíduos compartilhem, cooperem entre si a partir da comunicação. Segundo Castells (1999) na atual sociedade a cultura é intercedida e determinada pela comunicação por isso o espaço, o tempo e as dimensões essenciais da vida humana são transformados radicalmente pelo novo sistema tecnológico tanto digital quanto midiático. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 37 Entretanto, nessa esfera, mídia e educação podem ser transformadores para um indivíduo e para a sociedade, na medida em que investe em positividade e potencialidades. A educomunicação tem como objetivo fomentar uma educação crítica para que se possa ler, refletir e discutir sobre o papel dos meios de comunicação, bem como o uso da informação por professores e alunos. Ainda há confusões conceituais quando pensamos em “Educomunicação”. Apesar de não ser uma área tão nova como se pensa, discussões em torno do conceito começaram a ganhar maior visibilidade recentemente. Ao falarmos em “Educomunicação” falamos em diálogos possíveis entre educadores e comunicadores, ou seja, trata-se de uma área que tenta entender como a educação e a comunicação, integradas, podem produzir novas práticas educativas. A “Educomunicação” é um campo que conversa de forma muito próxima com a realidade do mundo em que vivemos hoje: um mundo “midiatizado”, em que os meios de comunicação assumem papel fundamental na dinâmica da sociedade sugerindo interações sociais inéditas. 10 Educomunicação não é um neologismo, não significa apenas a ligação entre duas áreas; educação e comunicação. Todavia, é um campo de saber que se manifesta como uma intersecção entre duas áreas de saber que procura investir em questionamentos e proposições de conhecimentos e construção de saberes, considerando também um ambiente de ação e experiência para a produção de outros saberes transdisciplinares e interdisciplinares. 10 Disponível em: https://cadernodia.wordpress.com/2011/08/29/o-que-e-educomunicacao/ Acesso: 27/04/2015 https://cadernodia.wordpress.com/2011/08/29/o-que-e-educomunicacao/ Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 38 13 – Tecnologias Digitais e Educação a Distância: A sociedade em rede é global, mas com características específicas para cada país, de acordo com sua história, sua cultura e suas instituições. Trata-se de uma estrutura em rede como forma predominante de organização de qualquer atividade. Ela não surge por causa da tecnologia, mas devido a imperativos de flexibilidade de negócios e de práticas sociais, mas sem as tecnologias informáticas de redes de comunicação ela não poderia existir. (Manuel Castells) Com o advento da Internet presenciamos a transformação dos modos de comunicação dos indivíduos a partir de uma maior interatividade, bem como da educação que utiliza seus mais variados recursos, propiciando inúmeras mudanças na área educacional tanto na tecnologia utilizada, quanto na maneira apresentada do conteúdo didático. http://www.fundaplub.org.br/site/noticia/cenario-da-educacao-superior-a-distancia/ Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 39 Não podemos esquecer o papel fundamental no século XXI da contribuição da educação a distância, como um princípio democrático no que se refere ao indivíduo, enquanto cidadão e a sociedade em que se insere. É importante notar que a EaD acabou recebendo denominações diversas em diferentes países, como estudo ou educação por correspondência (Reino Unido); estudo em casa e estudo independente (Estados Unidos); estudos externos (Autrália); telensino ou ensino a distância (França); estudo ou ensino a distância (Alemanha); educação adistãncia (Espanha); teleducação (Portugal), etc. (...) A EaD é uma modalidade de educação em professores e alunos estão separados, planejada por instituições e que utiliza diversas tecnologias de comunicação. (Maia; Mattar, 2007, pp. 5-6) Segundo Buckingham (2007) a tecnologia na era das mídias eletrônicas é responsável pela mudança das relações sociais, do funcionamento mental, de concepções básicas de conhecimento e cultura. O incremento tecnológico, sua amplificação e difusão de uso alteraram e transformaram o comportamento de grupos sociais abrangendo instituições e espaços sociais. O espaço de ensino-aprendizagem tornou-se dinâmico com as novas tecnologias de comunicação e informação (TICs),pois se investiu em transformações de caráter prático e considerável para a educação, modificando totalmente o modele das aulas tradicionais. O uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber. (...) Ao prolongar determinadas capacidades cognitivas humanas (memória, imaginação, percepção), as tecnologias Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 40 intelectuais com suporte digital redefinem seu alcance, seu significado, e algumas vezes até mesmo sua natureza. As novas possibilidades de criação coletiva distribuída, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede oferecidas pelo ciberespaço colocam novamente em questão o funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho, tanto nas empresas como nas escolas. (Lévy, 1999, p. 172) Sendo assim, Lévy (1999) afirma que é preciso construir novos modelos de espaços para o conhecimento, preferindo a imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos. E o papel do professor agora é o de incentivar a aprendizagem e o pensamento tornando-se um animador da inteligência coletiva dos grupos com atividades centradas na gestão e acompanhamento das aprendizagens. Neste momento, o professor não é mais visto como o único detentor do conhecimento. Com a Internet, o conhecimento está ao alcance de todos e o trabalho do professor não pode ser mais isolado. O professor se torna um mediador, orientador e tutor, aprendendo também a cada dia com seus alunos. Professores interessados numa pedagogia que se pretende midiática precisam aprender a utilizar a mídia não como resolução dos problemas impostos pela prática didática, mas como proposta que traga uma fonte de aprendizado a mais para ser trabalhada em sala de aula. Essa visão implica ter uma atitude sem preconceito, não somente porque colabora para desnudar a noção de verdade perpassada pelas mídias e aceita por um expressivo número de cidadãos, mas também porque pensa esse fenômeno como parte da nossa realidade. (Gaia, 2007, p.33) Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 41 O professor tem que estar se preparando para as aulas constantemente, pois com o avanço tecnológico, a forma de transmitir o conhecimento tem que acompanhar esse avanço, os exemplos têm que ser de acordo com a realidade dos alunos e os métodos utilizados tem que acompanhar esse avanço para que não se tornem obsoletos e ineficazes. A relação com o saber sofre uma mutação com o uso crescente das tecnologias digitais e redes de comunicação interativas. Determinadas capacidades cognitivas humanas são prolongadas (memória, percepção e imaginação) redefinindo o alcance, o significado e até mesmo a natureza das tecnologias digitais. O funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho de empresas e escolas são questionados. Segundo Kenski (2007) as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) modificaram nossa linguagem oral, escrita e digital, sendo que a linguagem digital articula com as tecnologias eletrônicas e de informação e comunicação de forma simples englobando aspectos da oralidade e escrita em novos contextos. As novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), sobretudo a televisão e o computador, movimentaram a educação e provocaram novas mediações entre a abordagem do professor, a compreensão do aluno e o conteúdo veiculado. A imagem, o som e o movimento oferecem informações mais realistas em relação ao que está sendo ensinado. Quando bem utilizadas, provocam a alteração dos comportamentos de professores e alunos, levando-os ao melhor conhecimento e maior aprofundamento do conteúdo estudado. (Kenski, 2007, p. 45) Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 42 Lévy (1999) afirma que as tecnologias audiovisuais, multimídias interativas, computador, televisões educativas, telefone, fax e internet compõem as escolas e universidades virtuais que custam menos que as escolas e universidades materiais fornecendo um ensino no presencial. De acordo com Lévy (1999) a aprendizagem à distância por muito tempo foi reserva do ensino e em breve se tornará a principal. Escolas primárias, secundárias e até universidades oferecem aos estudantes possibilidades de navegação no oceano de informações e conhecimentos acessíveis pela internet através de programas educativos, de fato, as características dessa aprendizagem a distância são semelhantes às da sociedade da informação como um todo. Usar todas as novas tecnologias na educação e na formação sem mudar os mecanismos de validação das aprendizagens seria o equivalente a inchar os músculos da instituição escolar bloqueando, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de seus sentidos e de seu cérebro. (LÉVY,1999 p. 175) Para Lévy (1999) cabe aos poderes públicos assegurar a todos os cidadãos uma formação de qualidade e adequada, que de fato, permitia um acesso aberto e gratuito a midiatecas sem negligenciar a mediação humana regulando e animando uma nova economia do conhecimento onde todos seriam considerados recursos de aprendizagem potenciais ao serviço de percursos de formação contínua e personalizados. De acordo com Kenski (2007), as tecnologias digitais permitem à nova geração falar de igual para igual com os adultos e a provocação a ser assumida por toda a sociedade é o de abrir-se para novas formas de educação que são resultados do processo de mudança e transformação da sociedade que por sinal, afetam tanto na maneira de aprender e na maneira de ensinar próprias das tecnologias digitais. Todavia, as tecnologias digitais são geradoras de novos problemas na educação Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 43 com softwares que prometem muito e faz pouco, programas produzidos por empresas internacionais que não se adéquam aos objetivos pretendidos nas propostas educacionais da instituição, com a facilidade de acesso a informação os alunos copiam pesquisas e entregam sem muitas vezes ler e compreender o que se está informando, sem falar da facilidade da compra e venda on-line de trabalhos escolares. Por fim, Lévy (1999) em sua análise propõe uma reflexão ao discutir que não somos além do que sabemos ao enfatizar a necessidadedesterritorialização do conhecimento e o compartilhamento da criação da inteligência coletiva que leva a ecologia de comunicação. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 44 14 – Sugestões de Vídeos: 1 - Documentário “Educação a Distância – o ensino sem fronteiras” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4El7MKxUp1g 2 – Globonews Alexandre Garcia: “Educação a Distância cresce aceleradamente no Brasil” – Disponível em: http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news- politica/v/alexandre-garcia-educacao-a-distancia-cresce-aceleradamente-no- brasil/3995817/ 3 – Vídeo aula sobre “Educomunicação – Mídias na Educação NCE – USP” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8iMyk4ddXZI 4 – Vídeo sobre “Inclusão Digital e o uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação)” – Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fpbKl8luTyw 5 – Vídeo sobre “Tecnologias Digitais na Educação – formação de educadores”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cEFhJqtX2YY 6 - Vídeo sobre “O Papel da Cultura na Educação do Sujeito Transformador”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EhFqc3W7YcM7 – Vídeo sobre “Democracia Digital e as Redes Sociais.” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X1q0iMr82ao https://www.youtube.com/watch?v=4El7MKxUp1g http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-politica/v/alexandre-garcia-educacao-a-distancia-cresce-aceleradamente-no-brasil/3995817/ http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-politica/v/alexandre-garcia-educacao-a-distancia-cresce-aceleradamente-no-brasil/3995817/ http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-politica/v/alexandre-garcia-educacao-a-distancia-cresce-aceleradamente-no-brasil/3995817/ https://www.youtube.com/watch?v=8iMyk4ddXZI https://www.youtube.com/watch?v=fpbKl8luTyw https://www.youtube.com/watch?v=cEFhJqtX2YY https://www.youtube.com/watch?v=EhFqc3W7YcM https://www.youtube.com/watch?v=X1q0iMr82ao Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 45 14 - Referências Bibliográficas: Adorno, Theodor W. A Indústria Cultural. In: Cohn, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. 4 ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1978. Adrian, Nelson. Cultura de Massa. São Paulo: Primeiro Conceito, 2012. Baudrillard, Jean. Significação da Publicidade. In: Adorno et. al.; Introdução, Comentários e Seleção de Lima, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. 4 ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1990. Bordenave, Juan E. Díaz. O que é Comunicação. São Paulo: Brasiliense, 2007. Breed, Waren. Comunicação de Massa e Integração Sociocultural. In: COHN, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. 4ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978. Castells, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Cohn, Gabriel. Sociologia da Comunicação: Teoria e Ideologia. São Paulo, Pioneira, 1973. Debray, Régis. O Estado Sedutor: as revoluções midiológicas do poder. Petrópolis, Vozes, 1994. Deleuze, Gilles. Conversações. São Paulo, Editora 34, 2000. Dorea, Guga. Democracia Midiática: controle e fuga. São Paulo, Ciências Sociais PUC- SP, Doutorado, 2002. Este material faz parte do guia de estudos dos Cursos de Pós-Graduação da Faculdade Campos Elíseos 46 Fearing, Franklin. A Comunicação Humana. In: Cohn, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. 4 ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1978. Foucault, Michel. Microfísica do Poder. 16 ed. Rio de Janeiro, Graal, 2001. Gaia, Rossana Viana. Educomuicação e Mídias. Maceió, Edufal: 2007. Giddens, Anthony. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre, Artmed, 2005. Kenski, Vani Moreira. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas/SP: Papirus, 2007. Lazarsfeld, Paul F. e Merton, Robert K. Comunicação de Massa, Gosto Popular e a Organização da Ação Social. In: Cohn, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. 4 ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1978. Lévy, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. São Paulo, Editora 34, 1998. Maia, Carmen; Mattar João. ABC da EaD. 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