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ORTOPEDIA Carolina Ferreira → -A espondilite anquilosante(EA) é uma artrite inflamatória do esqueleto axial que acomete preferencialmente a coluna vertebral, podendo evoluir c/ anquilose do esqueleto axial -Predomina no sexo masculino, no adulto jovem e em populações brancas, nas quais o HLA-B27 é + frequente. EPIDEMIOLOGIA -Sexo: é + frequente no sexo masculino -Raça: a frequente associação ao HLA-B27 faz c/ que a EA seja + comum em populações brancas, o antígeno é + prevalente. A prevalência do HLA-B27 é muito baixa em algumas populações asiáticas (como no Japão) e nos negros africanos. -Idade de início: a EA juvenil se inicia antes dos 16 anos de idade, geralmente como artrite (predomina em grandes articulações de membros inferiores) ou entesopatia periférica (notada em inserção de tendão aquileano e/ou fáscia plantar), evoluindo somente após alguns anos c/ lombalgia de ritmo inflamatório; costuma ter curso evolutivo + agressivo que a EA de início no adulto, necessitando c/ > frequência de próteses de quadril. A EA do adulto se inicia entre 16 e 45 anos, c/ queixa de lombalgia de ritmo inflamatório, c/ predomínio dos sintomas axiais durante sua evolução. ETIOPATOGENIA -O HLA-B27 parece desempenhar um papel central, embora ñ completamente esclarecido na gênese da EA. P/ o desenvolvimento da EA, em indivíduos geneticamente predispostos, é necessário o contato c/ um “fator gatilho” ambiental, que parece ser representado por bactérias enteropatógenas como Salmonella sp, Shigella sp e Klebsiella sp. Várias teorias são propostas p/ explicar esta associação. -Na teoria do mimetismo molecular, a semelhança estrutural entre segmentos da hélice α1 do HLA-B27 e sequências bacterianas apresenta reação cruzada c/ estruturas HLA-B27 positivas. -Na teoria do peptídeo artritogênico, um fragmento bacteriano antigênico apresentado ao sistema imunológico pelo HLA-B27, ativa linfócitos T citotóxicos, desencadeia as reações imunológicas levam ao desenvolvimento da EA. -Na teoria do peptídeo promíscuo, fragmentos do HLA-B27 seriam apresentados aos linfócitos CD4 através de moléculas de classe II, daí iniciando a inflamação -Teoria do dobramento falho (misfolding) mostra que a ocorrência de um dobramento falho no retículo endoplasmático do HLA-B27 poderia ativar o eixo das interleucinas 17 e 23, que desencadeariam as diferentes manifestações da EA CRITÉRIOS DIAGNÓSTICO E DE CLASSIFICACAO -Diagnóstico: sintoma + a presença do gene HLA-B27 -P/ a confirmação do diagnóstico de EA, podem ser utilizados os critérios de Nova York -P/ o diagnóstico de EA é necessária a presença de um critério clínico e um critério radiológico QUADRO CLÍNICO -As principais manifestações musculoesqueléticas da espondilite anquilosante são: sacroiliíte, entesite e sinovite ORTOPEDIA Carolina Ferreira -A lombalgia de ritmo inflamatório é o sintoma inicial + característico; o paciente também refere dor de ritmo inflamatório em nádegas e face posterior da raiz da coxa. -A evolução costuma ser ascendente, acometendo progressivamente a coluna dorsal e cervical, apresentando a “postura de esquiador”, caracterizada pela retificação da coluna lombar, acentuação da cifose dorsal e retificação da coluna cervical, projetada p/ frente. Ela parece geralmente após a 2º década de doença e se manifesta + precocemente nos pacientes HLA-B27 positivos. -Exame físico: importante realizar a metrologia na avaliação inicial, a cada seis meses ou diante de uma piora clínica. Devem ser incluídos o teste de Schober, distância tragusparede, flexão lateral lombar, abertura das pernas e rotação do pescoço. Também devem ser palpados os pontos de entesite e avaliação de artrite periférica. -A inspeção da coluna lombar revela uma progressiva retificação, e a avaliação da mobilidade mostra que o 1º movimento a ser acometido é a lateralização, seguido da rotação e da flexão/extensão; a manobra de Schöber mostra uma da flexão da coluna lombar. -A inspeção da coluna dorsal revela acentuação da cifose; a coluna dorsal é imóvel, deve ser monitorizada c/ a medida do diâmetro respiratório(em adultos jovens é superior a 3,0 cm) -A inspeção da coluna cervical também mostra retificação, c/ projeção p/ frente, e a avaliação da mobilidade revela que os movimentos a serem acometidos são, a lateralização, a rotação e a flexão/extensão; a distância occipício- parede é utilizada p/ monitorar a evolução do acometimento cervical. C/ relação ao acometimento articular periférico, é característica a presença de oligoartrite e de entesopatias. -As entesopatias (inflamações na junção dos tendões e/ou ligamentos nos ossos) costumam ser manifestações iniciais na EA de início juvenil e acometem a inserção de tendão calcâneo e/ou fáscia plantar; os pacientes queixam- se de dor em tornozelos à deambulação, enquanto o exame físico revela empastamento doloroso do tendão aquileano -Outros acometimentos articulares que podem ser referidos pelos pacientes espondilíticos são a sinfisite púbica, a artrite de articulações esternoclaviculares e a dor torácica (por inflamação de articulações costocondrais). -A osteoporose é frequente nos pacientes espondilíticos, embora as fraturas vertebrais traumáticas ñ sejam tão comuns. -Quanto às manifestações extra-articulares, a + frequente é a uveíte anterior, aguda, ñ granulomatosa, unilateral, recorrente; observada em até 40% dos pacientes no seguimento prolongado -Dentre as manifestações cardíacas, também associadas ao HLA-B27 positivo, destacam-se a aortite e a arritmia cardíaca (bloqueio cardíaco grau III) -As alterações pulmonares são caracterizadas por um distúrbio da função pulmonar (defeito ventilatório restritivo leve) e por uma fibrose pulmonar apical -Quanto às manifestações renais, destacam-se a nefropatia por IgA e a amiloidose secundária; no paciente espondilítico c/ hematúria, convém pensar-se em nefropatia intersticial por AINES ou litíase renal antes de se partir p/ uma investigação renal + agressiva -As manifestações neurológicas, bastante raras, são caracterizadas pela subluxação atlantoaxial e síndrome da cauda equina. EXAMES LABORATORIAIS -O laboratório na EA resume-se: à elevação das provas de atividade inflamatória inespecíficas (VHS, mucoproteínas, proteína C reativa), associadas principalmente à atividade periférica da doença. A pesquisa do fator reumatoide e do fator antinuclear costuma ser negativa -Solicito: reagentes de fase aguda (proteína C reativa e VHS) e o HLAB27. EXAMES DE IMAGEM ORTOPEDIA Carolina Ferreira -A Rx simples de bacia é o 1º a ser solicitado, porque a sacroiliíte radiológica é critério obrigatório p/ o diagnóstico da doença. Deve ser avaliado de acordo c/ os critérios de Nova York modificados -As alterações radiológicas de coluna lombar podem-se resumir à presença de ângulos brilhantes (esclerose óssea nas margens vertebrais) nos 1º anos do curso evolutivo da EA. A partir da 2º década da doença, vão aparecendo os sindesmófitos (pontes ósseas unindo 2 vértebras adjacentes), que se iniciam frequentemente na junção dorsolombar, evoluindo p/ o acometimento de toda a coluna vertebral, de maneira simétrica, bilateral, c/ sindesmófitos delicados ligando as margens vertebrais, dando o característico aspecto de “coluna em bambu” -Na avaliação radiológica da coluna vertebral do paciente espondilítico, tem-se observado a presença de osteopenia difusa -RM: deve ser solicitada apenas nos casos em que o RX apresenta normal e existeuma forte suspeita clínica de EA. A alteração que permite classificar o paciente c/ EA é o edema ósseo subcondral, embora outras alterações, como erosões, esclerose subcondral e lesões gordurosas, possam estar presentes. -O exame de densitometria óssea tem revelado osteoporose lombar nos casos de EA + agressiva, associado à atividade da doença; em pacientes c/ longa evolução da doença, a densitometria óssea de coluna lombar pode revelar valores de massa óssea falsamente normais, em virtude da presença dos sindesmófitos MÉTODOS DE AVALIAÇAO -Permitem a avaliação de várias manifestações clínicas, fornece informações + completas e confiáveis sobre o estado da doença: • BASDAI : 6 questões que abordam domínios relacionados à fadiga, dor na coluna, dor e sintomas articulares, dor causada pelo acometimento das enteses e duas questões relacionadas à intensidade e duração da rigidez matinal; • ASDAS: utiliza em seu cálculo um marcador de atividade inflamatória: a proteína Creativa ou da velocidade de sedimentação. A partir do escore final, são definidos pontos de corte que indicam o grau de atividade da doença e resposta ao tratamento • BASFI: 10 escalas numéricas (010) ou escalas visuais analógicas (010 mm), autoaplicáveis, ancoradas pelos descritores “fácil” e “impossível” (Quadro 6). Escore final é a média aritmética dos escores individuais. Um escore final de zero significa ausência de comprometimento funcional, e 10 reflete máximo comprometimento. TRATAMENTO -É indispensável que o paciente seja informado que, embora a EA seja uma doença crônica, apresenta boas perspectivas terapêuticas de controle da dor e da rigidez -Tratamento ñ farmacológico: educação de paciente, atividade física e fisioterapia são de extrema importância e devem estar presentes em todas as fases do tratamento -Tratamento farmacológico: → Antiinflamatórios não esteroidais (AINE): medicações de 1º linha no tratamento ORTOPEDIA Carolina Ferreira → Sulfassalazina (SSZ): apresenta resposta + significativa na artrite periférica e na prevenção de surtos recorrentes de uveíte. A experiência brasileira demonstra que pode haver da medicação em pacientes c/ comprometimento axial. A dose recomendada é de 2 a 3 g/dia. → Metotrexato: recomendado apenas p/ as formas periféricas, na dose de 15 a 25 mg/semana. → Corticosteroides: a prednisona, até a dose de 10 mg/dia, costuma ser utilizada nos casos de artrite periférica persistente, em casos ñ responsivos aos AINH → Infiltração intra-articular: pode ser benéfica em pacientes c/ sacroiliíte intensa, é guiada por TC ou RM → Corticosteroide endovenoso: é usado em casos muito agressivos da doença → Medicamentos modificadores de doença biológicos (MMCDb): estão indicados os inibidores do fator de necrose tumoral (antiTNF – infliximabe, etanercepte, adalimumabe ou golimumabe) diante de doença ativa e grave, definida clinicamente como BASDAI ≥ 4 e dor na coluna > 4 pela Escala Visual Analógica (EVA) de dor, além de falha terapêutica com o uso de pelo menos dois AINE ou, no caso de artrite periférica, falha com sulfassalazina (ou metotrexato). Mais recentemente foi incluído p/ tratamento das , o inibidor da IL17A (antiIL17A – secuquinumabe), que pode ser utilizado diante da falha a um antiTNF ou como 1º opção em caso de contraindicação ao uso dos antiTNF.
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