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OPERAÇÕES LOGISTICAS INTEGRADAS Elton Bonfada Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB – 10/2147 G393 Gestão de serviços jurídicos / Elton Bonfada... et al.; [revisão técnica: Rogério Bohn, Lilian Martins, Luciana Bernadete de Oliveira]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 400 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-453-3 1. Direito. 2. Gestão do trabalho. I. Bonfada, Elton. CDU 330.103.2 Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os principais métodos de previsão de demanda para a cadeia de suprimentos. Reconhecer o papel da previsão da demanda no planejamento inte- grado das atividades empresariais. Comparar as diferentes naturezas da demanda, em particular, dos aspectos espacial e temporal, além da variabilidade e da aleatoriedade. Introdução O profissional de logística busca constantemente melhorar os resultados organizacionais e o nível de serviço aos clientes. Isso implica na tomada de diversas decisões: o que comprar? Em quais quantidades? Em que local é melhor instalar o estoque do meu negócio? Por quanto tempo devo manter uma linha de produção de certo item que tem sido cada vez menos vendido? Para responder às perguntas, o gestor logístico precisa de informações relativas à expectativa de demanda, que permitem a realização de um planejamento adequado. Neste capítulo, você conhecerá ferramentas e aplicações da gestão da demanda. Os principais métodos de previsão de demanda para a cadeia de suprimentos A gestão da cadeia de suprimentos engloba a coordenação das atividades que ocorrem no processamento dos pedidos dos clientes, desde a pré-produção até a entrega. Nesse processo, as partes que compõem o produto mudarão de mãos muitas vezes – do fornecedor à fabricação, expedição, estocagem e, fi nalmente, até chegar à entrega e ao consumo (COELHO, 2010). A escolha do método a ser adotado para previsão de demanda depende da natureza do produto e de outras variáveis, como disponibilidade de dados históricos; horizonte de previsão a longo, médio ou curto prazo; precisão necessária; orçamento disponível; padrão dos dados existentes (horizontal, sazonal, cíclico ou tendência) (DAVIS; AQUILANO; CHASE, 2001). Há métodos variados para prever a demanda e podem ser agrupados em duas categorias principais: quantitativos e qualitativos. Os métodos qualitativos envolvem estimação subjetiva por meio de opi- niões de especialistas (veja abaixo). Além disso, as informações sobre os fatores que influenciam a previsão são tipicamente flexíveis, subjetivas e não quantitativas. Tais métodos recorrem a julgamentos, pesquisas, intuição ou técnicas comparativas. Os métodos quantitativos definem explicitamente como a previsão é determinada e a lógica é claramente determinada e as operações são matemáticas. São usados preferencialmente para previsões de médio e longo prazo. Dois tipos básicos de modelos são usados: modelos de séries temporais e modelos causais: 1. Projeção histórica: utiliza modelos matemáticos e estatísticos e parte da premissa que “o padrão de demanda futura será igual ao passado”. Usado preferencialmente para previsões em curto prazo, em que há estabilidade das séries temporais. 2. Causal: usa modelos estatísticos e descritivos. Enuncia que “o nível da variável de previsão é oriundo do nível de outras variáveis relacionadas”. Usado preferencialmente para previsões de médio e longo alcance. Já a pesquisa quantitativa (pelo método estatístico) estabelece que a solução será utilizada quando a previsão da demanda for feita para um período mais longo de tempo. Geralmente, esse método estatístico é utilizado com mais frequência. Apresenta algumas vantagens: não é subjetivo, como o método qualitativo de pesquisa; trabalha com dados; tem custo inferior de elaboração. Há inúmeros métodos estatísticos de pesquisa: regressão simples e múltipla, projeção de tendências (método comumente utilizado) e da decomposição, média móvel e potencial de suavização. Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda2 A gestão da cadeia de suprimentos é um processo que envolve gerenciamento es- tratégico de diferentes fluxos de bens, finanças, serviços e informações, além do relacionamento entre empresas. Essa gestão busca alcançar objetivos organizacionais da empresa (COELHO, 2010). O que é demanda? Demanda é a quantidade da procura de certo serviço ou bem desejado pelo consumidor. Demanda pode também ser entendida como a procura, mas não consumo, uma vez que é possível determinado serviço ou bem ser comprado, mas não consumido, por diversos motivos. O desejo e a necessidade amparados na possibilidade de compra também devem ser computados, já que o desejo e/ou necessidade só serão realizados se houver condições econômicas para tal. A quantidade demandada representa qualidade de um bem ou serviço que os consumidores desejam e têm condições de comprar e também depende de diversas variáveis que influenciam a escolha do consumidor (pela compra ou não), como renda do cliente, preço, preço de outros itens comparados ou substitutos, gosto, preferência. Os modelos causais utilizados na previsão determinam uma relação de causa e efeito entre variável de demanda, além de outros fatores que podem influenciá-la, como temperatura média ou crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A análise de regressão e os econométricos são exemplos desses modelos. Tais métodos aumentam o erro de predição por demandar previsões das variáveis independentes no futuro, ao assumir que as relações causais históricas se manterão no futuro (THOMAS, 1996). Já a análise de séries temporais utiliza o histórico de demanda para prever o futuro, ao assumir que os padrões de dados passados permanecerão inal- terados, como tendência e sazonalidade (CALSING, 2015). Dessa maneira, os dados históricos coletados são estudados e projetados para verificar o comportamento futuro e utilizados em produtos de grande certeza de demanda. Quanto aos produtos com alta incerteza e quantidade, será necessária maior intervenção humana. Os métodos baseados em análise de séries mais estudados são: média móvel, Box-Jenkins e suavização exponencial. O método de previsão da demanda mais utilizado pelas empresas é o da média histórica, juntamente com a projeção de demanda futura: ou seja, a associação utiliza dados históricos agregados a uma projeção futura de demanda em seu planejamento estratégico. Vários 3Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda fatores afetam a demanda e não fazem parte da previsão quantitativa, devido a sazonalidades, como feriados, promoções, mudanças climáticas etc. Conforme Coelho (2010, documento on-line): O gerenciamento da cadeia de suprimentos é um conjunto de métodos utilizados para proporcionar melhor integração e gestão de todos os parâmetros da rede, como custo, estoque e transporte etc. Esses indicadores ou parâmetros estão presentes na sua própria empresa, nos fornecedores e clientes. A gestão da rede feita corretamente possibilita uma produção otimizada, para oferecer ao cliente o produto e quantidade correta, objetivando reduzir os custos ao longo da cadeia e levando em consideração as exigências do cliente. Ou seja, qualidade é também entregar ao cliente o que ele deseja, nas condições e preços esperados. No que se refere à vertente qualitativa dos bens de consumo, a demanda depende da sociedade influenciada pela mídia ou propagandas, isto é, da maneira que o produto é apresentado ao público-alvo. Já a vertente quantitativa determina que a demanda dependerá diretamente da capacidade ou nível de rendimento do consumidor: o poder aquisitivo determina a demanda. O método de previsão espacial de demanda necessita de grande quantidade de informações (como sistema elétrico e características socioeconômicas da região e população), quedificilmente são obtidas – na maioria dos casos estão indisponíveis – e corretamente manejadas. Martins e Laugeni (1999, p. 226) definem os métodos de previsão de demanda: Previsão é um processo metodológico para a determinação de dados futuros baseado em modelos estatísticos, matemáticos, econométricos ou ainda em modelos subjetivos apoiados em uma metodologia de trabalho clara e pre- viamente definida. Métodos de projeção histórica são abordagens estatísticas e determinam que dados históricos serão a base na previsão da demanda. Analisa a demanda histórica de determinados produtos nessa operação, o que exige uma gama muito grande de dados consistentes e confiáveis. Se o padrão de demanda é regular, o modelo estatístico empregado tem um grau mais elevado de precisão. Basear a demanda somente em dados estatísticos retira a vantagem de contar com a sensibilidade de especialistas que tratam da influência de fatores externos. Armstrong (2002) alerta para o fato de que um dos motivos para erros na previsão ocorre quando as estimativas consideram fontes de dados com considerável grau de incerteza. Contudo, o autor afirma que se existem Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda4 dados estatísticos suficientes, métodos quantitativos são preferíveis, pois são, em geral, mais precisos do que os métodos qualitativos. No que se refere ao dimensionamento da demanda pelo método causal, Bowersox e Closs (2001) explicam que uma previsão por regressão estima as quantidades vendidas para cada produto com base em outras variáveis independentes. Por sua vez, Ballou (2001) comenta que modelos causais po- dem ser estatísticos, com regressão e modelos econométricos e descritivos, com modelos de entrada e saída, ciclos de vida e simulação por computador. Bowersox e Closs (2001) afirmam que as previsões comprovadamente mais confiáveis são baseadas em relações causais, embora uma relação de causa e efeito entre a venda de um produto e a variável independente não seja neces- sária. Já Ballou (2001) demonstra mais pessimismo em relação à técnica, ao comentar que relações verdadeiramente causais são difíceis de se encontrar, e, quando o são, verifica-se que a correlação geralmente é baixa. Os métodos quantitativos de forecasting “[...] são aqueles que utilizam como base uma série histórica de dados sobre determinada variável, com o intuito de identificar padrões de comportamento que possam ser projetados para o futuro” (CORRÊA; CORRÊA, 2009, apud BONOTTO; FOGLIATTO, 2018, p. 6). Tais métodos só podem ser aplicados se houver disponibilidade de informações históricas, possibilidade de transformação das informações em dados numéricos e suposição de repetições de padrões observados nos dados. Os métodos qualitativos de previsão são aqueles que apresentam pouca ou nenhuma informação quantitativa disponível, mas que dispõem de co- nhecimentos qualitativos suficientes (MAKRIDAKIS; WHEELWRIGHT; HYNDMAN, 1998). O papel da previsão da demanda no planejamento integrado das atividades empresariais Diversos parâmetros são considerados com a fi nalidade de aprimorar a cadeia de abastecimento e reduzir custos: redução do número de fornecedores (quando é alcançada uma relação mais próxima); restrição da quantidade de terceirizados, a fi m de buscar o mesmo objetivo; criação de canais para distribuição e gestão partilhada de estoques (com os produtos já acabados), ao compartilhar custos, riscos e lucros ao fornecedor e ao cliente; previsão da pouca demanda, por 5Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda meio de previsões adequadas de demanda e eventos históricos; manutenção de estoques adequadamente ajustados (COELHO, 2010). No mercado atual, os clientes estão cada vez mais bem informados e exigentes e têm abundantes escolhas à disposição. Por isso, custo e agilidade são os fatores que determinarão o sucesso ou fracasso do empreendimento. Além disso, todos os envolvidos na cadeia (integrados e comprometidos na parceria) devem estar mais próximos dos clientes e dos fornecedores e dis- ponibilizar a oferta do melhor produto do mercado a um preço competitivo, a fim de alcançar os objetivos de venda. A gestão da demanda é um elemento fundamental para o sucesso do geren- ciamento da cadeia de suprimentos. Ela gera benefícios importantes no processo e cria benefícios substanciais aos resultados econômicos da empresa, como diminuição dos níveis em estoque, melhoria do emprego e disponibilidade do produto. O processo de gestão da demanda objetiva estabelecer a previsão de vendas, criar sincronia entre a capacidade produtiva e a cadeia, implementar a estratégia da organização e manter as necessidades do consumidor (e suas próprias) devidamente atualizadas e mapeadas. A equipe encarregada pela gestão deve ter grande entendimento da estratégia da organização, das ne- cessidades do consumidor, da capacidade da rede, da cadeia de suprimentos e da manufatura. Ademais, é fundamental determinar a frequência com que os procedimentos de previsão serão utilizados. Do ponto de vista estratégico, o processo de gestão pode conduzir duas orientações: aumento da flexibilidade do sistema produtivo, com objetivo de atender à demanda, e melhoria dos métodos, a fim de reduzir os erros de estimativas. A flexibilidade diz respeito a capacidade e agilidade para reagir em eventos inesperados e resposta efetiva frente a mudanças ocasionais. Nesse contexto, entender como a demanda se comporta e varia permite manter quantidade precisa de materiais no estoque disponíveis para a demanda. Não haveria tal precisão no estoque se a previsão fosse subestimada nem superestimada. Se subestimada, as vendas poderiam ser afetadas devido à falta de material em estoque. E superestimada, o volume do estoque seria excedente, e haveria custo de armazenagem. Tudo isso geraria prejuízo que poderia ser previsto e evitado facilmente. O processo de planejamento deve compreender etapas que possibilitem levar em conta a demanda passada, o cenário comercial atual e futuro, as limitações de capacidade de suprimentos, distribuição e produção. O objetivo do planejamento é a resolução e prevenção de possíveis conflitos, cujo início deve ser a análise econômica das alternativas, da visão do marketing e da estratégia global do empreendimento. Além disso, é importante identificar os motivos dos erros e deslizes de planejamento, tanto os causados por razões Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda6 operacionais quanto os comerciais, a fim de viabilizar a melhoria das decisões nos ciclos futuros. Desenvolver um sistema de gestão de contingências que envolve clientes cria condições para que o atendimento dos pedidos mantenha o fluxo de in- sumos na comunicação com fornecedores e não seja interrompido. Tal medida impede que causas externas ou internas possam comprometer a capacidade da empresa em atender a demanda. Nesse contexto, a criação de planos de contingência é de suma importância, para a empresa dispor de capacidade para contornar e superar possíveis consequências e gerar controle equilibrado entre capacidade de fornecimento e demanda. De acordo com Coelho (2010, documento on-line): Todo modelo de gestão de cadeia de suprimentos deve incluir maneiras de melhorar a eficiência – o ganho de rendimento – das atividades seguintes: - Previsão e planejamento do equilíbrio entre oferta e demanda; - Localização de fornecedores de matérias-primas; - Fabricação do produto; - Armazenagem do produto; - Entrega do produto; - Devolução do produto pelo cliente, caso necessário; - Feedback através do serviço de atendimento ao cliente e melhoria do pro- cesso, onde necessário. O planejamento da demanda é responsável pela coordenação entre os produtos físicos em uma empresa e o fluxo de informação, com importantes consequências em esferas distintas: matérias-primas; controle de produção, programação e de logística; gerenciamentocomercial e de marketing; assim como suprimento de produtos, o que reflete no nível de serviço percebido nos centros de custos da empresa mais importantes e pelos clientes. Isso quer dizer que planejar e executar uma demanda de forma eficaz representa mais do que elaborar uma previsão acurada de vendas. Significa alocar apropriadamente os recursos disponíveis na empresa, com vistas a maximizar os resultados financeiros, ao levar em conta os cenários de mercado e a estratégia de longo prazo. Consequentemente, reconhecer as variações da demanda permitirá realizar melhor gerenciamento do fluxo de caixa. Por exemplo: se, em de- terminada empresa, o pico na demanda em certo produto for por três meses do ano, significa que ela necessariamente deve se programar para ter capital necessário disponível para honrar suas obrigações nos demais nove meses, ao projetar seu fluxo de caixa. 7Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda Uma má previsão de demanda acarreta em uma gestão no fluxo de caixa ineficiente e cria impossibilidade de pagar seus fornecedores nos prazos. Esse gerenciamento ineficaz dos fornecedores pode resultar, ao final do processo, em recebimento de matéria-prima ou serviço defeituosos. E a empresa não conseguirá entregar adequadamente ou no prazo o produto prometido ao cliente. O objetivo do processo de planejamento da demanda é que ele possa ser ajustado e incrementado. Seu ponto de partida parte das observações dos fatos que não ocorreram adequadamente e como planejado. Dessa forma, tal avaliação possibilita a implementação de melhorias e/ou correções para o próximo ciclo a ser planejado. Indiscutivelmente, erros na cadeia podem ocorrer por diversos motivos, como falhas operacionais, quebra de equipamento imprevista, referente plano de vendas incorreto ou equívocos de planejamento na área comercial. Assim, é fundamental que os responsáveis pelo planejamento estratégico a ser adotado saibam identificar e quantificar tais erros. Além disso, é recomendável dispor de um planejamento logístico adequado e eficaz para o processo de distribuição. Esse cuidado contribuirá na redução dos custos de produção, na velocidade de entrega do produto e, consequentemente, no atendimento aos pedidos dos clientes, que será rápido. Também simplifica e melhora o geren- ciamento de itens de fornecimento, nos custos e no inventário. Dessa forma, tal planejamento pode e deve ser aplicado tanto na logística externa (embalagem, expedição, transporte dos produtos já acabados, manutenção) quanto na logística de entrada, que engloba circulação de matéria-prima (entregue ao processo pro- dutivo), circulação interna (circulação de matéria-prima dos produtos acabados) e em produção (ocorre no interior da empresa). Por fim, pode-se afirmar com segurança que não há um método de previsão da demanda ideal. Ainda assim, há possibilidade de eleger o método mais adequado à realidade de certa empresa. Para isso, é preciso cautela e critério na escolha desse método e dos especialistas a participar da sua elaboração. As diferentes naturezas da demanda Os aspectos que classifi cam ou determinam a demanda de produtos são regu- lados por diversos fatores. Ela é dependente e infl uenciada diretamente por sua natureza, cujos aspectos se dividem em: Espacial: diferenças geográficas que influem no padrão de demanda. Temporal: variação atrelada ao tempo e resulta da evolução da taxa de vendas, do padrão da demanda, da sazonalidade e de flutuações gerais. Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda8 A maior parte dos métodos de previsão e estatística é norteada pela utilização de dados históricos, a partir de uma série de tempo. Uma série temporal tem esse nome por uma abarcar diversas informações de interesse moderado em relação ao tempo. Aleatório: variação da demanda que não pode ser prevista. Em outras pala- vras, o padrão aleatório resulta do acaso e, portanto, não pode ser previsto. Variável: divide-se em duas possibilidades: ■ Regular: padrões de demanda divididos em componentes de ten- dência, aleatórios ou sazonais. ■ Irregular: apresenta-se se determinado produto é sazonal, ou seja, é direcionado a certa data ou ocasião específica do ano. Por isso, a procura aumenta nessa época. Se a demanda é intermitente, não há padrão regular, e, assim, manifesta-se insegurança sobre o nível de demanda e sobre quando essa demanda irá se repetir. O grande número de variáveis aleatórias no padrão da demanda não possibilita a observação da tendência e sazonalidade. Análise de séries temporais No que se refere a logística, as previsões de natureza temporal e espacial da de- manda são imperativas. Ballou (2001) afi rma que o conjunto de atividades logísticas que envolvem o planejamento e o controle precisa que sejam feitas estimativas da quantidade de vendas e de movimentação com o máximo possível de exatidão. Como já mencionado, uma série temporal é uma sequência de observações históricas sobre uma variável de interesse. Para prever séries temporais, é necessário representar o comportamento do processo por meio de um modelo matemático que pode ser extrapolado para o futuro (MONTGOMERY; JO- HNSON, 1976). A análise de séries temporais apresenta quatro componentes dos dados históricos da demanda: 1. Variação sazonal: flutuações regulares que se repetem em períodos quase coincidentes com o calendário anual, mensal ou semanal. 2. Variação cíclica: visível somente em séries que transpõem diversos anos. Um ciclo pode ser definido como oscilação de longo prazo ou impulso de dados sobre a linha de tendência somente durante um período de ao menos três períodos completos. 3. Variação aleatória: variações deste tipo ocorrem sem causa e padrão específicos. Portanto, são tratados como erros aleatórios. 9Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda 4. Variação de tendência: direção da série a longa distância e inclui qualquer quantidade constante de demanda nos dados (SHAFER; ME- REDITH, 1998, apud SANTOS, 2011, p. 28-29). O atendimento aos prazos de entrega dependerá das informações relaciona- das às seguintes variáveis: demanda, tempo de reposição e níveis de estoque. Se houver incerteza em qualquer uma dessas variáveis, o planejamento de suprimentos estará em risco (FAVARRETO, 2012). As empresas precisam estar atentas para atender a imprevisibilidade e manter os mesmos níveis de serviços. Assim, elas se tornarão fundamentais à prática de estoques de segurança, caso ocorra uma falha no processo de suprimento das necessidades apresentadas pelos clientes. É sabido que a variabilidade compromete o planejamento decisivamente. De certo modo, planejar por meio de considerações medianas parece ser uma tarefa fácil. No entanto, a origem e a causa do problema consistem nos desvios. Por isso, algumas possibilidades e alternativas podem ser empregadas para enfrentar e solucionar problemas com gerenciamento no aumento da flexibilidade e na redução da variabilidade, ao implementar soluções a fim de minimizar ou reduzir problemas e promover a identificação das fontes causadoras de variabilidade. Dessa forma, a cadeia de suprimentos que melhor identificar e promover a redução das incertezas e variabilidades conseguirá grande vantagem com relação a concorrência e competitividade. É importante salientar que o aumento da flexibilidade pode influenciar diretamente quali- dade, confiabilidade, rapidez e custo do processo. Consequentemente, é im- portante e necessário determinar quanta flexibilidade é necessária. Para tanto, é preciso entender as necessidades do cliente e sua capacidade e os padrões de demanda em toda a cadeia de suprimentos. Ao tratar das previsões, Ballou (2006) compara as características específicas e os detalhes influenciadores. Sobre demanda espacial versus demanda temporal, o autor (2006, p. 242) afirma que: A variação da demanda de acordo com o tempo é um resultadodo crescimento ou do decréscimo nas taxas de vendas, sazonalidade do padrão da demanda e flutuações gerais causadas por um sem-número de fatores. A logística tem dimensões tanto de espaço quanto de tempo. Ou seja, o especialista precisa saber onde e também quando irá se manifestar o volume da demanda. A localização espacial da demanda é indispensável para planejar a localização de armazéns, determinar o balanceamento dos estoques ao longo da rede logística e alocar geograficamente os recursos de transporte. Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda10 Sobre demanda regular versus irregular, Ballou (2006, p. 242) afirma: Os profissionais de logística reúnem produtos em grupos, a fim de diferenciar níveis de serviços entre eles ou simplesmente para administrá-los diferencia- damente. Esses grupos e seus itens componentes formam padrões variados de demanda com o passar do tempo. Na demanda regular, as variações aleatórias se tornam uma pequena parcela da variação restante na série temporal, e as previsões podem obter sucesso com procedimentos populares. Na demanda irregular (também chamada nebulosa), que costuma ser composta por itens com baixo volume total, os métodos de previsão normalmente utilizados não apresentam a eficiência usual, o que ocorre porque são itens demandados por poucos clientes, ou seja, seu volume está condicionado à demanda de outros itens semelhantes. A variação da demanda resulta em sérios problemas enfrentados pelas empresas e em grandes desafios na procura de soluções, ao contrário das estimativas estipuladas pelos métodos de previsão. Do mesmo modo, diferenças entre oferta e demanda têm alto custo e geram prejuízo sequencial aos demais componentes das cadeias de suprimentos. Assim, a previsão da demanda é fundamental a todas as áreas de uma empresa: marketing, logística, produção e finanças, já que ela afeta os níveis das necessidades financeiras, assim como a capacidade e estruturação geral dos negócios. 1. O planejamento e o controle das atividades da cadeia de suprimentos dependem de estimativas apuradas dos níveis de demanda, cuja previsão é essencial à empresa. Diante disso, é correto afirmar que: a) as necessidades financeiras não são afetadas pelos níveis de demanda e os momentos em que ocorrem. b) os problemas de previsão são os mesmos para cada uma das áreas funcionais da empresa, como logística, marketing e produção. c) a previsão colaborativa é uma abordagem moderna de previsão da demanda, mas não substitui a previsão tradicional. d) diferenças geográficas podem interferir nos padrões de demanda. Por isso, as técnicas de previsão devem abranger esse aspecto. e) a natureza temporal é um aspecto com pouca 11Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda relevância para estabelecer a previsão da demanda. 2. A gestão da demanda inclui preocupações sobre o tempo e o espaço, ou seja, o especialista precisa saber onde e quando o volume da demanda irá se manifestar. Nesse sentido, marque a opção correta. a) As técnicas de previsão da demanda devem ser selecionadas, ao observar alguns aspectos, com exceção das diferenças geográficas, pois não influem no padrão da demanda. b) As taxas de vendas não interferem na variação da demanda de acordo com o tempo. c) As técnicas de previsão permanecem as mesmas quando se tratar de uma demanda prevista e depois desagregada por locação geográfica. d) A localização espacial da demanda é indispensável para, por exemplo, planejar a localização de armazéns e alocar geograficamente os recursos de transporte. e) Quando se tratar de uma previsão de demanda desagregada de cada localização geográfica e posterior agregação (apenas se necessário), trata-se uma previsão de cima para baixo. 3. Os métodos padronizados de previsão de demanda são divididos em três categorias: qualitativos, causais e de projeção histórica. Sobre os métodos qualitativos, aponte a alternativa correta. a) A premissa básica desse método é que o padrão de tempo futuro será uma repetição do passado, ao menos em sua maior parte. b) São modelos que detectam mudanças a partir da atualização sempre que novos dados se tornam disponíveis. c) Recorrem a julgamento, intuição, pesquisas ou técnicas comparativas, a fim de produzir estimativas quantitativas sobre o futuro. d) Nesse método, o nível da variável de previsão é derivado do nível de outras variáveis relacionadas, como, por exemplo, se o serviço ao cliente é positivo para as vendas. Conhecê-lo permite projetar o nível das vendas. e) São efetivos na antecipação de grandes mudanças nas séries de tempo e na previsão exata para períodos de médio a longo alcance. 4. Sobre o método de projeção histórica para a gestão da demanda, considere as seguintes afirmativas: I - Quando há dados históricos, e a tendência e variações sazonais nas séries de tempo são estáveis e bem definidas, a projeção desses dados no futuro pode representar uma maneira eficiente de previsão de curto prazo. II - A natureza quantitativa das séries de tempo prejudica o uso de modelos matemáticos e estatísticos como principais fontes de previsão. III - São modelos que detectam mudanças a partir da atualização sempre que novos dados se tornam disponíveis, uma característica que lhes permite se adaptar a mudanças nos padrões sazonais e de tendência. Assinale a alternativa correta. Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda12 a) Apenas a afirmativa I está correta. b) Apenas a afirmativa III está correta. c) As afirmativas I e II estão corretas. d) As afirmativas II e III estão corretas. e) As afirmativas I e III estão corretas. 5. Os modelos causais surgem em uma variedade de formatos, como estatísticos e descritivos. Contudo, esses modelos apresentam problemas e complicadores. Marque a opção correta. a) Quando são encontradas variáveis causais, sua associação com a variável a ser prevista é, muitas vezes, alta demais. b) Encontrar as variáveis causais que conduzem a variável prevista no tempo é fácil demais, razão pela qual as variáveis se confundem. c) O fato de indicar o quanto é difícil localizar variáveis verdadeiramente causais. d) O tempo necessário à aquisição de dados para as variáveis líderes é muito rápido e não interfere no tempo em que tais variáveis conduzem a previsão. e) Em virtude dos problemas identificados nesse método, modelos à base de técnicas econômicas e de regressão elaboram a previsão de demanda com êxito. ARMSTRONG, J. S. (Ed.). Principles of forecasting: a handbook for researchers and practitioners. New York: Springer, 2002. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BONOTTO, G.; FOGLIATTO, F. S. Previsão de demanda a partir de métodos quantitativos aplicada ao setor varejista. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/147496/000999425.pdf?sequence=1>. Acesso em: 31 maio 2018. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2001. CALSING, L. C. Previsão de demanda combinada a partir de métodos quantitativos e opinião de especialistas. 68 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: <https://www.lume. ufrgs.br/bitstream/handle/10183/127809/000970204.pdf?sequence=1>. Acesso em: 31 maio 2018. 13Conceitos e ferramentas da cadeia de suprimentos: gestão da demanda http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/ https://www.lume/ http://ufrgs.br/bitstream/handle/10183/127809/000970204.pdf?sequence=1 C15_Licitacoes_e_Contratos.indd 10 04/05/2018 09:27:36 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para estaUnidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Capa Ficha catalográfica Acesse na íntegra