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Bioética e Educação em Saúde

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Bioética e educação 
em Saúde
Prof.ª Denise da Hora Ferreira
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.ª Denise da Hora Ferreira
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
F383b
 Ferreira, Denise da Hora
 Bioética e educação em saúde. / Denise da Hora Ferreira. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 179 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-007-6
 ISBN Digital 978-65-5663-008-3
1. Bioética. - Brasil. 2. Ética médica. – Brasil. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 174.2
III
apreSentação
Prezado acadêmico, durante a formação do profissional de saúde, 
diversos conhecimentos técnicos devem ser trabalhados para que, ao fim do 
curso, você esteja apto para entrar no mercado de trabalho e preparado para 
os desafios de sua profissão. No decorrer de seu desenvolvimento, alguns 
conhecimentos são essenciais e dão suporte para que você possa, de forma 
criativa, resolver problemas. 
Neste Livro Didático de Bioética e Educação em Saúde você terá a 
oportunidade de conhecer áreas que a princípio podem parecer distintas 
(bioética, bioestatística e educação em saúde), porém, são inter-relacionadas 
e complementares, além de valiosas para ultrapassar os obstáculos que 
você encontrará na prática. No decorrer da leitura, você entenderá sobre a 
construção histórica e social das disciplinas, bem como entenderá conceitos, 
metodologias e terá exemplos para inspirar suas ações futuras. Além disso, 
oportunizaremos que você trabalhe sua criatividade e aperfeiçoe a sua 
habilidade de planejamento por meio de atividades complementares. 
Com o objetivo de promover a reflexão do profissional de saúde sobre 
o seu papel na proteção de vulneráveis, respeito às diferenças e fortalecimento 
do SUS, a Unidade 1 traz algumas bases conceituais da ética e suas correntes 
filosóficas, apresenta o panorama da bioética em âmbito mundial e nacional, 
contextualiza os desafios e debates da atualidade, discute sobre conflitos 
bioéticos em diversos cenários e seus impactos para profissionais e usuários, 
e, por fim, trata sobre as questões éticas e técnicas da pesquisa envolvendo 
seres humanos. 
Na Unidade 2, trataremos sobre a Bioestatística e suas possibilidades 
na pesquisa científica, prática clínica e gestão. Serão apresentados os elementos 
da descrição e análise de dados por meio da probabilidade, inferência, 
medidas de tendência central e o uso da estatística para o entendimento da 
propagação de doenças. Fechando a unidade, serão discutidas as alternativas 
para apresentação de dados, por meio de gráficos e sua interpretação 
apropriada, conhecimento básico ao profissional de saúde, seja na leitura de 
artigos científicos ou no acompanhamento de indicadores gerenciais.
 
A educação como ferramenta transformadora será discutida na 
Unidade 3, na qual você terá acesso sobre o conceito de saúde, seus aspectos 
socioeconômicos e estratégias de promoção através da participação coletiva. 
Debateremos ainda o legado do patrono da educação brasileira, o filósofo 
e educador Paulo Freire, que, por anos, aprendeu e ensinou sobre o poder 
da pedagogia que traz consigo liberdade, autonomia, reflexão e esperança 
para uma comunidade, fortalecendo os pressupostos da genuína educação 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
em saúde e sendo base para as metodologias ativas. Ao fim do estudo desta 
unidade você estará apto a construir ações de educação que mobilizem e 
produzam mudanças positivas em sua sociedade, melhorando a qualidade 
de vida dos usuários dos serviços de saúde. 
Desejamos que o estudo deste livro possa trazer as ferramentas 
necessárias para você se tornar um profissional competente e que 
anseia melhorar a vida das pessoas, sejam elas profissionais ou usuários, 
contribuindo na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
 
Bons estudos!
Profᵃ. Denise da Hora
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!
LEMBRETE
VIII
IX
UNIDADE 1 – BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL .........................................................1
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À BIOÉTICA..........................................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 BASES CONCEITUAIS DA ÉTICA ...................................................................................................3
3 BREVE HISTÓRICO DA ÉTICA E BIOÉTICA ................................................................................5
4 CORRENTES BIOÉTICAS ....................................................................................................................8
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................12
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................13
TÓPICO 2 – PANORAMA ATUAL DA BIOÉTICA: QUAIS OS DESAFIOS DAS 
INSTITUIÇÕES E PROFISSIONAIS? ..........................................................................15
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................15
2 PANORAMA MUNDIAL DA BIOÉTICA ......................................................................................153 PANORAMA NACIONAL DA BIOÉTICA ....................................................................................17
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................19
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................20
TÓPICO 3 – CONFLITOS BIOÉTICOS E A PLURALIDADE ........................................................21
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................21
2 O PROFISSIONAL DE SAÚDE FRENTE A CONFLITOS BIOÉTICOS ...................................21
3 DA FORMAÇÃO EMBRIONÁRIA À ASSISTÊNCIA PALIATIVA: PROBLEMATIZANDO 
 OS CONFLITOS BIOÉTICOS ............................................................................................................24
3.1 DESAFIOS DO ACESSO À ATENÇÃO BÁSICA E ASSISTÊNCIA HOSPITALAR ...............25
3.2 OS NOVOS DESAFIOS BIOÉTICOS ADVINDOS DO PROJETO GENOMA .......................26
3.3 OS DIREITOS INALIENÁVEIS DOS PORTADORES DE TRANSTORNO MENTAL ..........27
3.4 BIOÉTICA E A SAÚDE DA MULHER: DAMOS DE FATO AUTONOMIA? ........................29
3.5 A BIOÉTICA NO CONTEXTO DA TERMINALIDADE ...........................................................30
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................38
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................39
TÓPICO 4 – PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS .....................................................41
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................41
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................54
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................55
UNIDADE 2 – BIOESTATÍSTICA ........................................................................................................57
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À BIOESTATÍSTICA .........................................................................59
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................59
2 BIOESTATÍSTICA E A PRÁTICA CLÍNICA ..................................................................................62
3 ELEMENTOS DA BIOESTATÍSTICAS E NOÇÕES DE PROBABILIDADE ...........................63
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................66
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................67
Sumário
X
TÓPICO 2 – BIOESTATÍSTICA DESCRITIVA E INFERENCIAL .................................................69
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69
2 BIOESTATÍSTICA DESCRITIVA .....................................................................................................69
2.1 MÉDIA ARITMÉTICA ...................................................................................................................69
2.2 MEDIANA ........................................................................................................................................70
2.3 MODA ...............................................................................................................................................71
2.4 VARIÂNCIA E COEFICIENTE DE VARIAÇÃO .......................................................................72
2.5 TAXAS E PROPORÇÕES ...............................................................................................................73
2.6 DESVIO PADRÃO ..........................................................................................................................74
3 ESTATÍSTICA INFERENCIAL ..........................................................................................................75
3.1 MEDIDAS DE DISPERSÃO ...........................................................................................................75
3.2 CORRELAÇÃO ...............................................................................................................................76
3.3 INTERVALO DE CONFIANÇA E MARGEM DE ERRO ..........................................................78
3.4 INTERVALO DE CONFIANÇA PARA PROPORÇÕES ...........................................................79
3.5 INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA ..................................................................................................80
3.6 TESTE DE HIPÓTESE .....................................................................................................................82
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................87
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................88
TÓPICO 3 – POPULAÇÕES E AMOSTRAGEM ...............................................................................89
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................89
2 TAMANHO AMOSTRAL ...................................................................................................................90
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................94
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................95
TÓPICO 4 – ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ...............................................................97
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................97
2 TABELAS E GRÁFICOS ......................................................................................................................97
2.1 GRÁFICOS .......................................................................................................................................99
2.1.1 Gráfico de Pizza .....................................................................................................................99
2.1.2 Gráfico de Barras...................................................................................................................100
2.1.3 Gráfico de linha .....................................................................................................................101
2.1.4 Diagrama de Pareto ..............................................................................................................101
2.1.5 Histograma ............................................................................................................................102
2.1.6 Diagrama de caixas ...............................................................................................................103
2.1.7 Diagrama de dispersão ........................................................................................................104
3 PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS ......................................................................................106LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................108
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113
UNIDADE 3 – EDUCAÇÃO EM SAÚDE .........................................................................................117
TÓPICO 1 – BASES CONCEITUAIS DA PROMOÇÃO DA SAÚDE ........................................119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E A PARTICIPAÇÃO 
 SOCIAL .................................................................................................................................................121
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................124
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................125
XI
TÓPICO 2 – EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A METODOLOGIA FREIREANA ...........................127
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127
2 A EDUCAÇÃO TRADICIONAL E SUAS LIMITAÇÕES ..........................................................127
2.1 PERSPECTIVA FREIRIANA NAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS: SIMULTANEIDADE 
 DO ENSINAR E APRENDER ......................................................................................................135
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139
TÓPICO 3 – EDUCAÇÃO NA SAÚDE: INTEGRAÇÃO, ENSINO E SERVIÇO NA 
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ....................................................................................141
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141
2 DESAFIOS DE ENSINAR E APRENDER AS METODOLOGIAS ATIVAS ..........................143
3 APLICABILIDADE DAS METODOLOGIAS ATIVAS PELO PROFISSIONAL DE 
 SAÚDE ..................................................................................................................................................145
3.1 GAMIFICAÇÃO ............................................................................................................................146
3.2 APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS ........................................................................147
3.3 SALA DE AULA INVERTIDA ....................................................................................................148
3.4 APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS ....................................................................149
3.5 PEER INSTRUCTION ...................................................................................................................150
3.6 SIMULAÇÕES ...............................................................................................................................151
4 EDUCAÇÃO PERMANENTE E ESTÁGIO SUPERVISIONADO: EDUCAÇÃO NO 
TRABALHO E PARA O TRABALHO ...............................................................................................152
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................156
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................160
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................161
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................163
XII
1
UNIDADE 1
BIOÉTICA NO EXERCÍCIO 
PROFISSIONAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir dos estudos desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer as correntes filosóficas nas quais se baseiam a bioética;
• entender o panorama atual na bioética no Brasil e no mundo;
• refletir sobre as interfaces da bioética no exercício profissional; 
• reconhecer os órgãos de controle para pesquisas envolvendo seres 
humanos;
• compreender os requisitos essenciais para o desenvolvimento de uma 
pesquisa com seres humanos no Brasil.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À BIOÉTICA
TÓPICO 2 – PANORAMA ATUAL DA BIOÉTICA: QUAIS OS DESAFIOS 
DAS INSTITUIÇÕES E PROFISSIONAIS?
TÓPICO 3 – CONFLITOS BIOÉTICOS E A PLURALIDADE 
TÓPICO 4 – PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO À BIOÉTICA
1 INTRODUÇÃO
A integralidade e universalidade enquanto princípios do Sistema Único 
de Saúde (SUS) garantem que qualquer cidadão, independente de sua raça, 
credo, situação econômica ou social, possa ser atendido desde a atenção básica 
até a alta complexidade. Apesar de ter reconhecimento em âmbito mundial por se 
configurar como instrumento de justiça social, o SUS ainda luta pela sobrevivência, 
e seus trabalhadores lidam todos os dias com desafios a serem vencidos, pois, se 
de um lado temos a saúde como direito de todos e dever do estado, do outro cabe 
aos seus gestores administrar recursos, por vezes insuficientes, para atender às 
demandas da população. 
Este é apenas um exemplo dos dilemas encontrados por profissionais da 
saúde durante sua atuação na saúde pública. Objetivando preparar você para 
essas situações, este tópico busca refletir os princípios da bioética e seus impactos 
individuais e coletivos. O Tópico 1 faz um levantamento histórico e conceitual 
sobre a ética e seus pensadores clássicos, além de discutir as correntes filosóficas 
propostas e suas contradições. 
2 BASES CONCEITUAIS DA ÉTICA 
Com o objetivo de formar profissionais reflexivos, críticos e munidos de 
competências e habilidades para o cuidado individualizado e humanista, no ano 
de 2001 houve uma atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos 
de Graduação na área da Saúde. Neste contexto, a Bioética, enquanto disciplina 
acadêmica, se tornou indispensável para a formação de um profissional que 
atenda às demandas sociais (FIGUEIREDO; GARRAFA; PORTILLO, 2008; 
BRASIL, 2001). 
A bioética entra nas discussões a respeito da forma mais apropriada de 
manter e criar relações sociais saudáveis para a comunidade e indivíduo. Enquanto 
as ciências naturais se encarregam de descrever de forma lógica como o nosso 
mundo se comporta, variando basicamente em verdadeiro ou falso, a bioética 
ocupa-se em discutir os significados subjetivos dos sujeitos que trabalham com a 
vida, além de refletir sobre suas ações através do prisma de valores estabelecidos 
pela comunidade ou pelo que se acredita ser um conjunto básico de virtudes, ou 
seja, de forma muito simplista podemos definir a bioética como uma ética aplicada 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
4
a ciências da saúde, porém, só se torna possível o aprofundamento neste conceito 
quando se percebe esta disciplina de forma holística, além de compreender sua 
construção por meio do levantamento histórico e teórico (PRUDENTE, 2018). 
Para o devido estudo do tema a ser discutidonesta unidade, é primordial 
o conhecimento acerca de alguns termos. Rego, Palácios e Siqueira-Batista (2009) 
conceituam esses fenômenos de forma clara e objetiva:
• Ética: conforme o senso comum, pode ser entendida como um conjunto de 
regras as quais norteiam os indivíduos na prevenção ou resolução de problemas 
entre os membros de uma sociedade. Sob a ótica do conhecimento técnico, é 
considerada um braço da filosofia que se ocupa em refletir sobre as regras 
morais estabelecidas de forma a justificar comportamentos.
• Moral: objeto de estudo da ética por se tratar de uma coleção de deveres e 
virtudes de um grupo.
• Religião: culto a uma divindade na qual é possível a reflexão sobre conceitos 
divinos que estão além do mundo material.
• Direito: normas estabelecidas para a regulamentação da convivência entre um 
grupo de indivíduos.
• Ciência: conjunto de conhecimentos que, por meio de reflexão racional e crítica, 
se autovalidam.
Antes de prosseguirmos, é importante esclarecer que os termos ética e 
moral por vezes se confundem no imaginário das pessoas, porém, apresentam 
significados diferentes no contexto filosófico. Enquanto a ética está inserida no 
debate sobre a constituição do caráter, a moral determina as regras cotidianas 
utilizadas por cada indivíduo, orientando a vida em sociedade, ou seja, os seus 
deveres frente aos demais (DIAS, 2017).
 
Apesar do campo da bioética sempre levar em consideração as questões 
racionais e filosóficas, a religião eventualmente atribui a fatores divinos as 
decisões a serem tomadas, inclusive no contexto da saúde-doença e vida-morte, 
o que pode levar em alguns momentos a um conflito de ideias sobre o que seria 
moralmente aceito. Por muitos anos, a ética médica e a religiosa caminhavam 
de forma independente e isolada, porém as novas demandas sociais e culturais 
transformaram esse paradigma de forma a se trazer as ideias baseadas na fé para 
a discussão sobre a postura desejável dos profissionais de saúde, em especial na 
pesquisa em seres humanos (DURAND, 2007).
Na discussão a respeito da relação do direito com as questões éticas da área 
de saúde, Clotet (2001) destaca que a aproximação das disciplinas é orientada pela 
moral. Nesta perspectiva, o Poder Legislativo pode tornar palpável os valores e 
princípios de uma comunidade, os quais são a base para uma convivência social 
harmônica. 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À BIOÉTICA
5
Essas transformações metodológicas possibilitam a crítica e a 
reconstrução de certos conceitos fundamentais do Direito, abrindo 
espaço, por igual, à construção do Biodireito, termo que indica a 
disciplina, ainda nascente, que visa a determinar os limites de licitude 
do progresso científico, notadamente da biomedicina, não do ponto 
de vista das “exigências máximas” da fundação e da aplicação dos 
valores morais na práxis biomédica – isto é, a busca do que se “deve” 
fazer para atuar o “bem” – mas do ponto de vista da exigência ética 
“mínima” de estabelecer normas para a convivência social (CLOTET, 
2001, p. 72).
As ideias e os conceitos que uma sociedade tem sobre qualquer temática 
estão diretamente relacionados ao momento histórico e cultural vigente. Através 
dos anos, diversos pensadores propuseram correntes filosóficas que discutiam 
sobre a ética e seus impactos na vida das populações. Entendendo as bases do 
pensamento destes autores, conseguimos fazer uma leitura do nosso próprio 
momento histórico, refletindo e enriquecendo as discussões sobre a relação entre 
a ética e a promoção da saúde. 
3 BREVE HISTÓRICO DA ÉTICA E BIOÉTICA
 
Um dos primeiros registros sobre a conduta do profissional de saúde 
remonta é de 1700 a.C. e é denominado código de Hamurabi, o qual defendia ideias 
a respeito da prestação de serviços do médico, bem como suas remunerações e 
punições. Essa coleção de normas basicamente discutia a relação médico-paciente 
em termos econômicos, enquanto as ideias hipocráticas se concentravam nos 
aspectos comportamentais desejáveis, que até hoje fazem parte do juramento 
solene dos profissionais de saúde (REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 
2009).
No Século XVI, estudiosos como Galileu acreditavam que através de 
suas descobertas poderiam trazer avanços que impactariam positivamente na 
vida das pessoas partindo sempre de um pensamento eticamente neutro. Nos 
séculos seguintes, Max Weber levanta as ideias sobre o poder que a ciência tem 
de solucionar problemas emergentes na vida de uma sociedade mesmo que 
quebrando paradigmas embasados fortemente no cristianismo, como no caso de 
André Vesalio, que iniciou seus estudos sobre a anatomia humana por meio de 
cadáveres, o que antes era apenas realizado em animais por ser considerado pela 
Igreja Católica um sacrilégio (KOTTOW, 2008). 
No decorrer da história da humanidade, diversos fatos podem ser 
levantados como catalisadores de discussões sobre novos pressupostos éticos no 
campo da experimentação, porém é difícil eleger um único evento como o marco 
inicial da bioética, pois assim como outros fenômenos sociais a sua construção 
se deu por meio de diversas demandas sociais e biotecnológicas (DURAND, 
2007). Entretanto, alguns eventos fortaleceram a discussão da disciplina como a 
publicação do artigo Eles decidem quem vive, quem morre pela revista Life em 1962, 
no qual descreve a constituição do Comitê de Ética Hospitalar em Washington, 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
6
composto basicamente por um grupo de pessoas não médicas, em que se discutia 
o destino dos recursos de saúde. Uma de suas primeiras deliberações foi a seleção 
de pacientes renais crônicos para o serviço de diálise, em um contexto onde a 
demanda de usuários excedia o número de vagas disponíveis para o atendimento 
(DINIZ; GUILHEM, 2017).
O Comitê de Ética Hospitalar em Washington
No início da década de 1960, o nefrologista Belding H. Scribner desenvolveu a primeira 
máquina de hemodiálise criando a possibilidade de tratamento a longo prazo para 
portadores de doença renal crônica. No entanto, logo após a descoberta verificou-se que o 
número de pacientes elegíveis terapia era superior ao número de máquinas. Para a tomada 
de decisão foi formado o Comitê de Ética Hospitalar em Washington ou Comitê de Seatle, 
composto por sete membros da comunidade: um clérigo, um advogado, uma dona de 
casa, um executivo, um líder trabalhista e dois médicos não nefrologistas.
Também conhecido como esquadrão de Deus, esse comitê criou os critérios que decidiriam 
quais pacientes deveriam receber o tratamento. Esses fatores eram: idade, raça, estado 
civil, número de dependentes, renda, grau de instrução, serviços prévios à comunidade e 
potencialidades futuras. Entretanto, após a publicação do artigo Eles decidem quem vive, 
quem morre da revista Life, a sociedade civil iniciou a discussão sobre os aspectos éticos 
da escolha do comitê.
NOTA
Ainda na década de 1960, o médico americano Henry Beecher compilou 
relatos metodológicos de diversos artigos de revistas científicas de grande 
expressão que desrespeitavam os participantes de maneiras tão cruéis quanto 
os casos julgados no Tribunal de Nuremberg. No trabalho em questão, Beecher 
descreveu que os sujeitos das pesquisas compiladas eram pessoas que não 
autorizavam de forma livre e esclarecida a sua cooperação, entre elas, pacientes 
de hospitais filantrópicos, portadores de distúrbios mentais (adultos e crianças), 
idosos, recém-nascidos e presidiários. Nessa obra há a descrição de diversos 
experimentos antiéticos como inoculação de células cancerígenas em pacientes 
idosos hospitalizados para análise das respostas imunológicas. Neste contexto, é 
perceptível o discurso que “os benefícios e as descobertas da ciência são superiores 
aos interesses de um grupo restrito de pessoas” (DINIZ, 1999, p. 333).
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À BIOÉTICA
7
Tribunal de Nuremberg: conjunto de tribunais militares promovidos pelos 
Aliados após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de julgar oficiais nazistas peloscrimes de guerra cometidos nos campos de concentração. A partir deste evento foi 
construído o Código de Nuremberg, que defende os princípios éticos nos quais se baseiam 
a pesquisa com seres humanos.
NOTA
FIGURA 1 – IMAGEM DOS JULGAMENTOS DE NUREMBERG
FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-TGCGe6VTGDY/VdyMiYugvyI/AAAAAAAAAHM/
qSdfQT33kPw/s1600/Tribunal-de-Nuremberg.jpg>. Acesso em: 27 fev. 2020.
As inadequações das pesquisas científicas descritas anteriormente se 
devem a uma visão equivocada dos pesquisadores sobre a aplicabilidade das 
discussões e tratados relacionados aos direitos humanos e defesa dos vulneráveis. 
Esse pensamento fica claro quando considerado o Caso Tuskegeen, em que 
o Sistema de Saúde Pública Americano por cerca de 40 anos acompanhou o 
desenvolvimento da sífilis em 400 pessoas afrodescendentes, sem que estes 
tivessem qualquer conhecimento sobre sua participação no estudo e uso de 
placebo no lugar de penicilina (DINIZ; GUILHEM, 2017).
O marco inicial para a utilização do termo bioética (grego: bios, vida + ethos, 
relativo à ética) ocorreu na década de 1970 em um artigo intitulado Bioethics, the 
Science of Survival do oncologista Van Resselaer Potter. Ele entendia a bioética como 
uma ponte entre o exercício da ciência e os valores humanos, sendo necessária 
uma reflexão sobre o desenvolvimento científico e as responsabilidades junto ao 
indivíduo enquanto disciplina acadêmica e movimento social (DURAND, 2007).
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
8
No Brasil, a consolidação da disciplina se deu através da Constituição de 
1988 no período de redemocratização do país, fortalecido pelo nascimento do 
Sistema Único de Saúde (SUS) e Conselho Nacional de Saúde (CNS), os quais 
davam luz a questões bioéticas, em especial à pesquisa envolvendo seres humanos 
regulamentada primeiramente pela Resolução 196/96 da Comissão Nacional de 
Ética e Pesquisa (CONEP). Todos esses movimentos colaboraram para a reflexão 
crítica da sociedade brasileira sobre os limites éticos a serem estabelecidos (REGO; 
PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009).
Acadêmico, para saber mais sobre as pesquisas envolvendo seres humanos, 
acesse o site do Conselho Nacional de Saúde (CONEP) no link: http://conselho.saude.gov.
br/comissoes-cns/conep.
DICAS
Indicamos, também, o artigo Bioética para iniciantes do Centro de Bioética do 
CREMESP, no link: http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=BioeticaParaIniciantes.
DICAS
4 CORRENTES BIOÉTICAS
 
Diferentes visões podem ser utilizadas para analisar um conflito bioético, 
elas se denominam correntes bioéticas e apresentam conceitos diversos. A seguir, 
discutiremos sobre quatro dessas correntes, levantando suas bases, controvérsias 
e contribuição para as reflexões críticas dos profissionais de saúde. 
• Principialismo: após a Segunda Guerra Mundial emergiu a necessidade de 
construção de bases teóricas e princípios éticos, especialmente no âmbito da 
pesquisa. Mesmo após as experiências negativas do que cerne o respeito à 
dignidade humana nos campos de concentração, surgiram anos depois diversas 
denúncias e escândalos a respeito da infração dos direitos humanos em estudos 
científicos nos Estados Unidos, o que culminou na publicação do Relatório de 
Belmont (1978) pela National Commission for the Protection of Human Subjects 
of Biomedical and Behavioral Research que, devido à complexidade do tema, 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À BIOÉTICA
9
demorou aproximadamente quatro anos para entregar seu relatório final, que 
objetivava declarar os princípios bioéticos a serem seguidos nas pesquisas 
comportamentais e biomédicas (FERREIRA; SILVA JUNIOR; BATISTA, 2015).
Díniz e Guilhem (2009) afirmam que o principialismo é considerado um 
marco histórico na prática da bioética, que possibilitou sua consolidação enquanto 
disciplina e seu fortalecimento em centros acadêmicos, além da modernização 
das práticas de saúde. Dentro dessa perspectiva, o médico não é mais visto como 
o único detentor do conhecimento técnico e decisões éticas, entretanto, outros 
atores sociais podem e devem estar inseridos nessas discussões. Esta corrente 
aponta quatro princípios harmônicos e codependentes básicos, estes são:
• Respeito pelas pessoas: esse princípio também chamado de autonomia é regido 
pela ideia de que os indivíduos são seres autônomos e que aqueles que são 
socialmente vulneráveis devem ser protegidos de qualquer abuso. Isso pode 
ser traduzido de forma prática como o consentimento para participação em 
pesquisas, através da compreensão clara de todos os impactos positivos e 
negativos acarretados dessa decisão. 
•	 Beneficência: caracterizada pelo comprometimento do pesquisador em prover 
o bem-estar dos indivíduos inseridos no estudo, ou seja, não causar dano e 
maximizar as vantagens previstas, atentando sempre para a relação risco/
benefício. 
•	 Não	maleficência: foca na redução ao mínimo aceitável de efeitos indesejáveis 
durante o cuidado de saúde, em que se tem por obrigação não infligir dano 
intencional.
• Justiça: apresenta relação direta com a equidade, pois promove o tratamento a 
cada pessoa conforme o que é moralmente correto e de forma individualizada, 
através da imparcialidade com foco nas necessidades específicas e interesses 
iguais.
A teoria principialista é usada até os dias atuais como base filosófica para 
conflitos bioéticos e gestão de novas tecnologias. Por conta de sua simplicidade, 
aproximou os profissionais de saúde e juristas da reflexão sobre ética biomédica 
e os norteou para as tomadas de decisão mais justas. Entretanto, a ausência de 
hierarquização de seus princípios ou sua aplicação isolada pode levar a confusões, 
em especial por ter uma fraca concepção antropológica para fundamentar a sua 
prática (IMMIG, 2010). 
O principialismo é apenas uma das correntes filosóficas disponíveis para 
resolução de conflitos éticos, porém por ter se mantido hegemônica durante duas décadas 
pode causar confusão em algumas pessoas, pelo fato de entenderem que a bioética é 
regida única e exclusivamente pelo que cerne suas ideias.
ATENCAO
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
10
• Utilitarismo: o ex-presidente da Associação Internacional de Bioética, e 
controverso autor Peter Singer, foi um importante defensor desta linha teórica. 
Em suas obras podem ser encontradas discussões sobre eutanásia, infanticídio 
e suicídio assistido, o que leva a discussões muitas vezes acaloradas sobre 
os limites da autonomia individual versus o maior benefício para um maior 
número de pessoas (FERREIRA; SILVA JUNIOR; BATISTA, 2015).
Essa corrente parte do conceito de utilidade para o bem-estar geral e 
da autonomia. Os utilitaristas não estão necessariamente preocupados com os 
aspectos bondosos e justos, mas envolvidos com a mensuração do quanto uma 
decisão ética traz de benefício ao coletivo. Nesta visão, o mais importante é 
redução do sofrimento e aumento da felicidade, o que muitas vezes esbarra em 
conceitos morais defendidos especialmente por algumas comunidades religiosas 
pautadas na heteronomia.
Heteronomia é caracterizada pelo estabelecimento de normas baseadas em 
valores morais externos a pessoas, ou seja, ausência de autonomia.
NOTA
O utilitarismo justifica suas decisões na maximização do bem-estar 
e minimização do sofrimento, em que o bem se traduz como uma felicidade 
imediata para o maior número de indivíduos e que se mostra mais benéfica 
socialmente. Essa linha de pensamento pode ser interessante especialmente 
para as discussões a respeito da saúde pública, de forma a atender os interesses 
individuais e coletivos (IMMIG, 2010). 
Com base no utilitarismo, podemos afirmar que sempre os interesses do 
Estado são superiores aos individuais? Na verdade, não é isso que se propõe, pois 
assim estaria de acordo com o abuso de poder político frente aos anseios de seus 
cidadãos. Na verdade, os teóricos dessa linha filosófica acreditam que o ponto de 
vista para analisar conflitos éticos não podem apenas levar emconsideração os 
seres humanos, mas as suas consequências para o meio ambiente e outros seres 
vivos, buscando sempre a maior felicidade possível para o maior número de 
pessoas (DIAS, 2017) (REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009).
• Contratualismo: nesta concepção, os acordos entre indivíduos de uma 
comunidade são dados por meio de consensos racionais, em que o profissional 
de saúde não ocupa o lugar de poder, porém ele é compartilhado com o usuário, 
família ou comunidade através de uma decisão multilateral (IMMIG, 2010).
 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À BIOÉTICA
11
As relações sociais são formadas por diversos aspectos que denotam 
complexidade, em particular na área de saúde, no qual é indispensável 
ao profissional o convívio harmônico com o paciente e a comunidade, e o 
neocontratualismo, derivado do contratualismo clássico, tem um enfoque 
predominantemente deontológico, tendo como principal expoente o filósofo 
Hugo Tristram Engelhardt (LIMA et al., 2014).
 
Segundo Immig (2010), Engelhardt acreditava que controvérsias éticas 
poderiam ser resolvidas mesmo quando os atores não fossem amigos ou não 
compartilhassem do mesmo ponto de vista sobre moral e ética. Esse preceito 
suscitava a ideia de que pessoas diferentes e com ideias divergentes permitissem 
ou negassem ações moralmente impositivas com base na tolerância. Para o 
teórico, quatro características são cruciais nestes indivíduos: autoconsciência, 
racionalidade, sentido moral e liberdade.
 
• Personalista: em todas as correntes apresentadas anteriormente é possível 
perceber um ponto central de discussão, o que não é diferente da bioética 
personalista. Essa corrente filosófica se baseia no fato que independente da fase 
do desenvolvimento, do estado de saúde ou do contexto social, a dignidade é 
inerente a pessoa (IMMIG, 2010). 
O modelo personalista surgiu na Itália baseada na obra de Elio Sgreccia 
e fundamenta-se na ideia de que todas as decisões bioéticas têm como valor 
de referência a vida humana, a qual é vista como única, plena e com diversas 
dimensões (física, psíquica, espiritual, social e moral), resultando na formação 
de um corpo com espírito. Entende-se ainda que, no momento da resolução de 
qualquer conflito bioético, deve ser avaliada a pessoa humana, reconhecendo sua 
identidade e essência, antes de olhar para as normas estabelecidas na sociedade 
(RAMOS; LUCATO, 2010).
Sgreccia entendia que o indivíduo não precisa manifestar comportamentos 
para ser entendido e respeitado como pessoa. Partindo desse pressuposto, em 
qualquer fase de manifestação da vida, seja embrião, feto, criança, idoso ou 
paciente terminal, é inegociável a consideração e respeito da pessoa (IMMIG, 
2010). 
 
No decorrer deste tópico, foram apresentadas as concepções histórico-
filosóficas nas quais a bioética está fundamentada, porém, por vezes o leitor pode 
não entender como poderia ser aceitável que em um passado não muito distante 
tantas pessoas tenham sido desrespeitadas e prejudicadas em nome da ciência. 
Entretanto, é valido refletir que as “encruzilhadas éticas” se adequam ao contexto 
histórico e cultural da sociedade que está inserida. As questões éticas têm impacto 
direto na prática do enfermeiro através de diversas questões, independente do 
cenário que ele atua, sendo primordial estar preparado para lidar com esses 
desafios. 
12
Neste tópico, você aprendeu que: 
• Com base no entendimento filosófico, a bioética é uma disciplina que permite 
a reflexão sobre as consequências de atos com a vida do indivíduo e sociedade.
• O contexto histórico e cultural de uma sociedade pode influenciar na visão 
sobre o que é ético e moral.
• O principialismo, contratualismo, personalismo e o utilitarismo são correntes 
filosóficas que podem dar base científica para a resolução de conflitos bioéticos. 
RESUMO DO TÓPICO 1
13
1 Analise o trecho do texto de autoria de Ferreira, Silva Junior e Batista (2015, 
p. 481), e, considerando as correntes filosóficas exploradas no Tópico 1, 
responda: qual deve ser a decisão do profissional de saúde? Não esqueça de 
justificar sua resposta.
O Sr. João é um homem casado de 57 anos.... Mora com a esposa, que é do 
lar, com a sogra de 85 anos, que sofre de doença de Alzheimer avançada, e 
tem quatro filhos, sendo que três filhos adolescentes moram com eles. O Sr. 
João é um morador antigo na localidade, uma liderança local, muito respeitado 
pela comunidade. A família é muito religiosa, sendo que todos frequentam 
uma igreja evangélica do bairro, exceto a esposa, que nos últimos anos vem 
cuidando exclusivamente da mãe enferma... após a mudança da sogra para a 
sua residência, devido ao adoecimento, há quatro anos, foi notável a mudança 
de seu humor. Mas, há seis meses, durante uma consulta de rotina, ele solicitou 
ao médico de família e comunidade que o acompanhava, de maneira bem-
humorada como era usual, a possibilidade de ser prescrito Viagra® para ele. 
Após verificar as questões clínicas, o médico realizou a prescrição... Após 
alguns dias, o Sr. João retorna, com uma feição bem diferente da última vez, 
transparecendo nervosismo e preocupação. Começou a conversar com o médico 
com a voz baixa, dizendo que confiava muito nele devido a todos aqueles anos 
de convivência e que precisava confessar algo. Disse que “sumiu” do posto 
porque descobriu que estava com uma doença grave e ficou com vergonha 
do médico... Diz que, uns seis meses atrás, começou a ter um relacionamento 
extraconjungal com uma senhora da igreja que frequentava, que era viúva… 
Porém, logo após as primeiras relações sexuais com ela, que faz questão de 
afirmar que foram poucas e demoraram a acontecer, apareceu uma ferida em 
seu pênis, que, na verdade, foi notada e comentada pela esposa dele quando 
ele estava saindo do banho. Nesse momento, diz que ficou muito preocupado 
e dali já arranjou uma desculpa para sair de casa e foi direto a um pronto 
atendimento. Diz que aí, sim, foi vergonhoso ter que mostrar suas “partes” 
para uma jovem médica plantonista e ouvir dela que aquilo estava parecendo 
uma lesão de sífilis! Então, ele conta que quase “morreu do coração” nessa 
hora. No dia seguinte, fez o exame que confirmou o diagnóstico e iniciou o 
tratamento com as injeções na policlínica no centro da cidade, pois estava com 
muita vergonha de vir ao posto. Porém, ele se refere que está com muito medo 
de ter passado essa “desgraceira” para a esposa, mas não sabe como fazer 
para descobrir isso e queria uma ajuda do médico. Ele comenta que sabia que 
a esposa iria fazer o exame preventivo nos próximos dias e queria saber se 
tem como ver se ela está infectada por este exame e implorou que, caso fosse 
positivo, o médico não contasse para ela, tratasse o problema dizendo que era 
outra coisa, mas não contasse... caso essa história venha à tona agora, poderá 
acabar com a família dele...
AUTOATIVIDADE
14
2 Referente aos estudos do Tópico 1, analise e indique V para as sentenças 
VERDADEIRAS e F para as FALSAS. 
( ) A bioética permite que o profissional de saúde mantenha relações mais 
saudáveis com o usuário de seu cuidado.
( ) Apesar de respeitar as crenças individuais, a bioética não entende que seja 
necessário discutir os preceitos morais de uma sociedade com a religião, 
afinal as decisões devem ser tomadas apenas com o auxílio da racionalidade. 
( ) O marco inicial de estudo da bioética foi a publicação do código de 
Hamurabi, o qual discutia a relação do médico e paciente.
( ) O utilitarismo se configura como uma corrente filosófica que acredita 
que as decisões bioéticas devem focar na maximização do bem-estar e 
minimização do sofrimento.
Agora, assinale a alternativa que contenha a sequência CORRETA: 
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) F – F – F – F.
d) ( ) V – V – V – F.
3 Sobre o episódio do Comitê de Ética Hospitalar de Washington e sua 
composição inicial, você acredita que as decisões sobre a alocação de 
recursos na saúde devem ser feitasapenas por profissionais de saúde ou 
por membros da comunidade? Na sua opinião, como deveria ser montado 
esse comitê e por quê? 
4 Ao chegar em um serviço de emergência, uma pessoa fala com a recepcionista, 
se identifica como irmão do médico de plantão e solicita que ela avise que 
está esperando por ele na recepção. Pensando se tratar de alguma questão 
pessoal, a recepcionista telefona e logo o plantonista aparece na porta. Após 
uma breve conversa em particular, o médico pede para que seja feita a ficha 
do seu familiar e o coloque como o próximo da fila a ser chamado, apesar de 
estarem aguardando para atendimento muitas pessoas com problemas mais 
urgentes. Analisando esse episódio, você diria que ele fere os preceitos da 
ética ou da moral? Justifique sua resposta.
15
TÓPICO 2
PANORAMA ATUAL DA BIOÉTICA: 
QUAIS OS DESAFIOS DAS 
INSTITUIÇÕES E PROFISSIONAIS?
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A bioética enquanto disciplina começou a se estruturar a partir das 
publicações de Potter e sua corrente principialista, até então dominada pelas 
ciências biológicas. Nas décadas seguintes, suas ideias se disseminaram pelo 
mundo, mesmo que, por vezes, de forma reduzida e simplista em relação às 
proposições originais do autor. Apenas por volta dos anos 2000, com a Declaração 
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, foi possível delinear de forma mais 
clara as nuances globais (CUNHA; LORENZO, 2014). 
Segundo Fortes (2011), neste contexto de expansão, alguns fatores como 
as condições de vida heterogêneas das sociedades, marcada pelas diferenças 
econômicas e de distribuição de renda, além de mudanças do perfil epidemiológico 
e ambiental, suscitam por si só a responsabilização individual e a necessidade de 
remodelamento das políticas públicas para a realidade desejada. O autor descreve 
ainda qual o foco a ser dado no momento atual:
Considerando essas transformações com as quais convivemos, somos 
favoráveis a uma bioética que se oriente pelo respeito e incentivo à 
liberdade individual de tomada de decisão, adicionada dos princípios da 
solidariedade, da justiça, da equidade e da responsabilidade na reflexão 
bioética, reforçando a necessidade de proteção dos mais desfavorecidos, 
vulneráveis, vulnerados ou frágeis (FORTES, 2011, p. 323).
Com passar dos anos, a discussão dos profissionais de saúde sobre a 
bioética foi se aprofundando ao passo que foram surgindo inovações tecnológicas. 
Além desse contexto, as discussões em âmbitos mundiais têm se concentrado nas 
desigualdades sociais e em questões capitalistas, na qual, quem tem condições 
paga pelo tratamento mais caro, enquanto aqueles que estão abaixo da linha da 
pobreza não têm o mínimo acesso à atenção básica à saúde. 
2 PANORAMA MUNDIAL DA BIOÉTICA 
O advento da globalização proporcionou uma comunicação e uma relação 
mais estreita entre os países, marcado pela conexão entre ideias e culturas, 
rediscutindo o protagonismo do estado e fortalecendo o capitalismo. Esse 
movimento interfere diretamente na cadeia de produção, na qual nem sempre as 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
16
pessoas com menos recursos terão acesso as suas vantagens, mas pelo contrário, 
estarão mais vulneráveis aos seus malefícios (FORTES, 2011).
Existem diversas peculiaridades no contexto mundial, especialmente 
quando se leva em consideração as desigualdades econômicas, gerando a 
necessidade de fortalecimento da responsabilidade ética internacional, pois o 
nosso planeta é um sistema vivo e único e seu destino deve ser compartilhado 
com as gerações atuais e futuras (CUNHA; LORENZO, 2014).
Buscando um discurso mais coeso e pertinente aos problemas atuais, o 
desenvolvimento das discussões entre diversos países e cultura no campo da 
bioética tem se baseado na promoção de congressos e encontros internacionais, 
espaço onde ocorre troca de conhecimentos e experiências, aproximação de temas 
eminentes trazidos pelo progresso da ciência, como as descobertas relacionadas 
ao genoma humano e foco na redução das desigualdades, pois no mundo 
contemporâneo, a população pobre é sempre a mais prejudicada (CUNHA; 
LORENZO, 2014).
Um avanço importante dentro das diretrizes da bioética mundial foi a 
proclamação da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos durante a 
33ª Conferência Geral da Unesco, em 2005. Esse documento é um marco para a 
história da bioética, ao passo que redireciona o foco das discussões que até então 
se baseavam nos desdobramentos das ciências e tecnologia, para os aspectos 
políticos, sociais, legais e ambientais. Um grande mérito deste manuscrito se 
deve ao estabelecimento de princípios e procedimentos para nortear os países 
a formularem instrumentos de controle e evolução coesa do estudo da bioética 
(RIPPEL; MEDEIROS; MALUF, 2016).
FIGURA 2 – CONFERÊNCIA GERAL DA UNESCO
FONTE: <https://www.mppm-palestina.org/sites/default/files/field/image/palestina_admitida_
na_unesco.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2020. 
TÓPICO 2 | PANORAMA ATUAL DA BIOÉTICA: QUAIS OS DESAFIOS DAS INSTITUIÇÕES E PROFISSIONAIS?
17
3 PANORAMA NACIONAL DA BIOÉTICA 
Algumas características da bioética brasileira se diferenciam das 
experiências na Europa e Estados Unidos, pois suas discussões foram 
profundamente fortalecidas dentro do campo da saúde pública, em que 
muitos dos pesquisadores da disciplina atuam, além do envolvimento com 
diversos movimentos de direitos sociais e civis, fortalecidos pelo processo de 
redemocratização da nação ao fim do regime militar. Ao se considerar o contexto 
da América Latina, destaca-se ainda um envolvimento multidisciplinar na 
produção científica (RAMOS et al., 2019).
Todavia, ainda existem fronteiras a serem transpostas para o fortalecimento 
das reflexões bioéticas no Brasil. O primeiro aspecto a ser considerado se refere 
ao número tímido de publicações brasileiras em periódicos internacionais, além 
das discussões e debates restritos à academia e cenários diretamente relacionados 
à saúde. Destaca-se ainda os desafios relativos à falta de representatividade do 
tema na agenda política, falta de leis que melhor delimitem a criação e atividades 
dos comitês de ética, ofertas reduzidas de vagas para pós-graduação stricto sensu 
e o baixo investimento em pesquisadores (RAMOS et al., 2019).
Van Resselaer Potter já nos anos 1970 defendia que para a manutenção 
da sobrevivência humana, a bioética deveria ser exercida de forma mais ampla, 
protegendo não apenas nossa espécie, mas o meio ambiente e outros animais, 
através da agregação de conhecimentos biológicos e valores humanos. O reflexo 
deste pensamento foi marcado juridicamente em nossa sociedade pela Lei n° 
6.638/1979, que apesar de não apresentar penalidades aos cientistas infratores, 
discorria sobre uma série de recomendações na pesquisa em animais, porém 
restrito apenas à prática de dissecação (DINIZ; GUILHEM, 2017) (BRASIL, 1979).
Acadêmico, para saber os detalhes da Lei n° 6.638/1979, acesse o site do 
Planalto, no link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6638.htm.
DICAS
No ano de 2008, a Lei n° 6.638/1979 foi revogada pela Lei n° 11.794, que 
estabelece o uso científico de animais além de definir as punições cabíveis no 
caso de violação. Foi instituído a partir de então o Conselho Nacional de Controle 
de Experimentação Animal, responsável pela publicação de resoluções e análise de 
supostas infrações. Essa regulamentação determinou também a obrigatoriedade 
das instituições que utilizavam animais em pesquisas de manterem uma Comissão 
de Ética no Uso de Animais com composição multidisciplinar (BRASIL, 2008).
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
18
Ao analisar o conhecimento dos alunos que tinham contato com animais 
por meio de aulas da graduação ou pesquisa, Dittrich et al. (2019) afirmam que a 
legislação em questão ainda apresenta um alcance insuficiente entre os discentes, 
sugerindo o oferecimento de minicursos para os graduandos de iniciação científica, 
divulgação das universidades nomeio on-line através de postagem em redes 
sociais, artigos e e-books. Por fim, os autores concluem que ainda tem um longo 
caminho de discussão sobre o tema e o envolvimento de todos os atores desse 
processo é primordial para maiores avanços neste campo: “a Lei n° 11.794/2008 só 
vai se tornar plenamente efetiva quando todos aqueles que manipulam animais 
em suas investigações – pesquisadores, técnicos de laboratório, bioteristas, e, 
especialmente, estudantes – estiverem cientes de suas obrigações e de como 
executar seu trabalho adequadamente” (BRASIL, 2008). 
Apesar dos desafios levantados, Ramos et al. (2019) apresentam algumas 
sugestões sobre quais melhorias poderiam ser feitas com o intuito de fortalecer 
conhecimento social acerca da bioética, dentre elas está a criação do Conselho 
Nacional de Bioética, proposta que tem marcado a luta atual dos pesquisadores 
na área. Esse órgão seria responsável não apenas pelas fundamentações jurídicas, 
econômica e científica, mas seria um catalisador de debates coletivos para a 
consolidação da democracia e justiça social. 
A aplicabilidade dos princípios éticos nem sempre é uma tarefa fácil em 
uma sociedade capitalista, em especial quando se considera os princípios de 
justiça e equidade, porém, é primordial que a discussão avance também para 
fora dos muros das universidades e o profissional de saúde tem por obrigação 
levantar essas discussões independente do espaço que atua, pois é essencial que 
a comunidade esteja incluída no processo de fortalecimento da democracia e 
direitos humanos (FORTES, 2011).
Para a criação de um debate social rico, é primordial considerar as 
transformações políticas, sociais e culturais além de ter claro os significados, 
abrangência e limites da bioética. Temos um longo caminho de problematização 
pela frente, pois apesar dos grandes avanços nas questões individuais, 
especialmente os ligados ao nascer e morrer, os desafios coletivos precisam ser 
melhor explorados (FORTES, 2011). 
19
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que: 
• As diferenças socioeconômicas têm impacto direto nas discussões da bioética 
no âmbito mundial, dessa forma, os países buscam a proteção dos mais pobres 
e vulneráveis.
• A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos possibilitou um 
discurso mais coeso entre as nações do globo sobre o fortalecimento das 
políticas bioéticas, em especial para a defesa dos mais vulneráveis.
• No Brasil, os principais desafios para o avanço da bioética é a tímida discussão 
política e o baixo investimento para pesquisa e formação na área.
20
1 Classifique V para as sentenças VERDADEIRAS e F para as FALSAS com 
relação ao estudo do Tópico 2. 
( ) A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos foi um 
importante documento de construção coletiva publicada nos anos 2000, 
que deu uma ideia mais concreta sobre as discussões em âmbitos mundiais 
relacionados à bioética. 
( ) No Brasil, é possível destacar alguns desafios relacionados ao fortalecimento 
da bioética, entre eles se destaca a atuação modesta em pesquisa de outros 
profissionais de saúde além dos médicos. 
( ) A globalização trouxe uma importante influência no processo de consumo 
e produção, o que pode aumentar o abismo entre mais ricos e mais pobres, 
sendo necessária a proteção dos vulneráveis.
( ) A Lei n° 11.794/2008  que trata sobre a pesquisa em seres humanos 
determina que os centros de pesquisa estabeleçam Comissões de Ética de 
caráter multidisciplinar.
( ) As políticas públicas de saúde devem estar alinhadas para a redução das 
desigualdades, porém sem esquecer o respeito à individualidade.
( ) O desenvolvimento da bioética mundial tem se concentrado na promoção 
de encontros e congresso para a articulação e trocas de experiências, além 
de suscitar o debate sobre as novas tecnologias.
( ) No Brasil, o debate acerca da bioética tem aumentado notoriamente para 
fora das universidades e hospitais.
( ) A aplicabilidade dos princípios éticos é um desafio nas sociedades 
capitalistas 
Agora, assinale a alternativa que contenha a sequência CORRETA:
a) ( ) V, V, F, V, F, F, V, F.
b) ( ) F, V, V, F, V, V, V, V.
c) ( ) V, F, V, F, V, V, F; V.
d) ( ) V, V, F, F, F, F, F, V.
AUTOATIVIDADE
21
TÓPICO 3
CONFLITOS BIOÉTICOS E A 
PLURALIDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O reconhecimento da pluralidade e suas nuances morais dentro dos 
conflitos existentes é uma das questões centrais da Bioética. Existe então a 
necessidade de um acordo mínimo no sistema ético de uma sociedade para a 
resolução de um conflito, mesmo diante de concepções morais diferentes entre os 
atores (HOGEMANN, 2013).
Nas complexas sociedades atuais, a comunicação pode ser uma importante 
arma para a resolução de conflitos e impasses éticos. Neste momento, o segredo 
para uma solução racional é promover a “inclusão moral” por meio da negociação, 
chegando a uma resolução minimamente razoável. No entanto, não existe uma 
decisão equânime, pois dos dois lados existe uma forte base de argumentação, 
que nos leva a entender que o fato de uma ideia ser legítima não impossibilita que 
a outra também seja (SCHRAMM; PALÁCIOS; REGO, 2008).
2 O PROFISSIONAL DE SAÚDE FRENTE A CONFLITOS 
BIOÉTICOS
Imagine-se em um passeio por uma bela savana africana com campos 
verdejantes, céu azul e um clima agradável. No entanto, durante a sua caminhada, 
você consegue ver ao longe as longas folhas da vegetação balançando ao mesmo 
tempo que surge um enorme leão faminto que cruza o olhar com o seu. Ao ser 
tomado pelo desespero, você percebe uma grande árvore próxima a um lago e 
opta por subi-la, pensando ser a melhor opção para se livrar do felino. À medida 
que consegue se equilibrar nos galhos, uma cobra está à espreita, impedindo a 
sua chegada ao topo, rapidamente lhe vem à mente a possibilidade de pular no 
lago, entretanto, um jacaré observando toda a cena espera conseguir um saboroso 
almoço o mais breve possível. O que você faria para sair vivo desse desafio? 
Após essa breve história, é possível entender metaforicamente que, muitas 
vezes, nos sentimos encurralados na hora de tomar decisões em nossa vida 
pessoal, porém se faz necessário refletir sobre essas provocações na perspectiva 
profissional, em especial o enfermeiro, por ser um indivíduo que trabalha 
diretamente com o cuidado a pessoas, que são diversas em suas histórias, culturas 
e percepções do mundo. 
22
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Raymundo (2011) esclarece que a interseção de diversos fatores pode 
levar uma pessoa a adoecer, essa circunstância sofre influência direta de suas 
condições socioeconômico-culturais, entendendo-se que não existe apenas uma 
única maneira de adoecer. Esse processo se dá de forma complexa, bem como os 
indivíduos que apresentam diferentes formas de entender e lidar com as doenças. 
Torna-se muito importante que o enfermeiro ao perceber este contexto se relacione 
de forma dialogada e equitativa, atento às demandas a serem supridas.
Por sempre se manter alerta às solicitações e condições dos seus clientes, 
profissionais de saúde tem como um importante objeto de estudo a assistência à 
saúde. Considerando a pluralidade dos perfis profissionais, é observável graus 
diferentes de comprometimento, que serão modelados pelos seus interesses 
pessoais, conflitos de valores e modo de pensar. O estudo da bioética propicia 
ao prestador de cuidados a reflexão sobre seus atos, culminando diretamente na 
qualidade do atendimento e satisfação do usuário (CECERE et al., 2010).
Se imaginarmos a trajetória de um profissional de saúde, como o 
enfermeiro, mesmo que ele considere a individualidade do paciente como 
importante na prestação do cuidado, há sempre o risco que sua opinião vença 
de forma unilateral no momento da tomada de decisão, pois o profissional pode 
vir a considerar que o seu domínio do saber técnico científico atribui mais peso 
as suas ideias, ao passo que acredita que seu conhecimento estáacima do outro, 
impedindo o intercâmbio de concepções e o protagonismo daquele que está 
sendo cuidado (RAYMUNDO, 2011).
O desejo das pessoas envolvidas, por vezes, também dificulta a busca 
pela melhor decisão ética, pois cada participante pode ter crenças e ideias muito 
particulares. Podemos exemplificar essa ideia através de um cenário onde o 
paciente manifestou o desejo de morrer naturalmente na ocorrência de uma 
doença terminal e a família deseja que todo investimento possível seja feito 
para mantê-lo vivo. Ao conhecer as crenças e desejos do paciente, o profissional 
de saúde pode mudar completamente a sua ideia frente ao processo decisório 
(GOLDIM, 2006) (SIQUEIRA, 2012).
Entretanto, ainda no meio acadêmico não está totalmente claro o limite 
entre o respeito às estruturas simbólicas culturais, por vezes milenares, e a defesa 
do indivíduo pela proteção ao sofrimento. Podemos pegar como exemplo uma 
prática comum entre alguns grupos indígenas, na qual a coitarca de todas as 
meninas da tribo é realizada obrigatoriamente pelo pajé sem qualquer proteção 
contra doenças sexualmente transmissíveis, onde se tem conhecimento da 
ocorrência de contaminação pelo vírus HIV na comunidade. Mesmo interferindo 
em prol da pessoa e com a ideia de promover o bem, o impedimento desta 
manifestação pode gerar dissolução social de um grupo que já tem sua existência 
ameaçada (MARQUES et al., 2012).
TÓPICO 3 | CONFLITOS BIOÉTICOS E A PLURALIDADE
23
Frente à necessidade de reflexão bioética, a abordagem interdisciplinar 
pode auxiliar na solução de problemas, pois realiza a integração de profissionais de 
diversos campos do saber. Desta forma, é possível trocar conhecimento com foco 
em um objetivo comum, considerando que os atores apresentam necessidades e 
concepções por vezes distintas entre si, sendo necessário o respeito às diferenças 
(GOLDIM, 2006).
Dentro da equipe multiprofissional é corriqueira a prática da preceptoria, 
especialmente quando uma instituição abre as portas para o desenvolvimento 
prático dos alunos em formação. Isso não se restringe aos profissionais da mesma 
classe, mas não é incomum, por exemplo, um fisioterapeuta auxiliar um aluno de 
enfermagem no entendimento sobre o uso do respirador ou um fonoaudiólogo 
conversar com acadêmicos de nutrição sobre a consistência da dieta a ser 
introduzida. Mediante esse relacionamento, por vezes diário, vemos mais uma 
oportunidade de fortalecimento da bioética, pois, no decorrer de sua rotina, é 
possível utilizar a pedagogia do exemplo para inspirar os novos profissionais e 
colegas de trabalho, além da promoção de ações de educação permanente com 
vistas ao aprimoramento e melhoria da qualidade do atendimento (ZOBOLI; 
SOARES, 2012).
De acordo com Maciel e Nogaro (2019), dentre os principais conflitos 
bioéticos vivenciados por enfermeiros, por exemplo, destacam-se a falta de leito, 
problemas de comunicação da equipe, quebra de sigilo, infração ao direito de 
informação, negligência, rompimento da autonomia e distanásia. Todos os dias, 
mesmo que não seja sempre perceptível, o enfermeiro, de forma recorrente, 
necessita tomar decisões morais, um exemplo corriqueiro é a priorização de 
atividades, quando decidimos dentre as várias demandas dos pacientes qual 
atenderemos primeiro. Nesse momento, o profissional pode seguir dois caminhos: 
embasa suas decisões em suas crenças e valores ou age com base no que outrem 
determina e espera dele, mesmo isso contrariando seus princípios. 
A confidencialidade das informações é um ponto crucial na relação do 
profissional-paciente, pois em um espaço sem julgamentos e despido do medo 
de ser exposto, o doente confia ao profissional de saúde informações que podem 
ser determinantes no seu tratamento e cuidado. O direito ao sigilo é retratado na 
Carta de Direito dos Usuários da Saúde do Brasil e sua salvaguarda se mantém 
irrefutável mesmo após a morte (LÜTZ; CARVALHO; BONAMIGO, 2019) 
(BRASIL, 2011). 
Com a proposição de ter maior representatividade dentro das instituições, 
o Conselho Federal de Medicina (Resolução CFM n° 2.152/2016) e o Conselho 
Federal de Enfermagem (Resolução COFEN n° 593/2018) normatizaram a criação 
e o funcionamento das Comissões de Ética Médica e de Enfermagem, instâncias 
imparciais e autônoma com a função de educar, deliberar e apurar denúncias 
a respeito de atos antiéticos no exercício profissional. Sobre a relação esperada 
entre o Comissão de Ética de Enfermagem e a categoria, Torres, Oliveira e Abud 
(2017, p. 2) destacam:
24
UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Assim, os profissionais devem ser estimulados a conhecer 
profundamente o seu Código de Ética para que possam adotar uma 
conduta profissional adequada. A existência de uma CEEnf auxilia os 
profissionais a conhecerem o Código, a esclarecer dúvidas e a conduzir 
suas ações de acordo com deontologia da enfermagem.
A postura ética frente à prestação de cuidado vai muito além dos 
pressupostos racionais, ela abrange um envolvimento pessoal onde o profissional 
se abre para novos diálogos por meio de uma contínua reflexão e permite ser 
tocado por aquele que cuida em um empenho constante da defesa de seus direitos 
enquanto ser humano (CARVALHO; BOSI; FREIRE, 2008) (RAMOS; Ó, 2009). 
Desde o início de sua concepção teórica, a bioética tem se destacado 
por trazer à tona a discussão sobre os conflitos culturais. O conceito individual 
sobre início e fim da vida tem impacto direto nas ideias e posicionamentos sobre 
aborto, doação de órgãos, ortotanásia, entre outros. Fato que pode facilitar ou 
dificultar o diálogo com o profissional de saúde no momento da tomada de 
decisão (ALBUQUERQUE, 2015) (CORRÊA, 2002) (BARBOSA; BOEMER, 2009).
3 DA FORMAÇÃO EMBRIONÁRIA À ASSISTÊNCIA PALIATIVA: 
PROBLEMATIZANDO OS CONFLITOS BIOÉTICOS
Neste subtópico, discutiremos alguns conflitos bioéticos comuns na 
vivência do profissional de saúde, o maior objetivo aqui é muito mais do que 
dar respostas exatas ou impor o que deve ser feito frente a esses desafios, mas 
de desenvolver no aluno o pensamento crítico sobre temas controversos, porém 
comuns em nossa prática.
Para a promoção de saúde junto a uma população, o profissional de 
saúde, além de todo seu arcabouço teórico, precisa considerar a realidade social, 
que podem levar a dois modelos de pensamento bioético. Um no qual ele reflete 
sobre a condições de saúde de modo a considerar um conjunto amplo de usuários 
(comunidade) e outro que se concentra na busca do aumento da qualidade de 
vida individual, ambos baseados nas ideias de responsabilidade e autonomia. A 
forma como o conceito de promoção de saúde é construída pode levar à limitação 
da liberdade da pessoa, motivado pela ideia de melhoria dos padrões de saúde 
de comunidade (VERDI; CAPONI, 2005).
Confirmando este pensamento, Gaudenzi e Schramm (2010) problematizam 
sobre o caminho a ser seguido para equilibrar as disparidades entre justiça social 
e autonomia individual:
TÓPICO 3 | CONFLITOS BIOÉTICOS E A PLURALIDADE
25
Tal discussão tem grande relevância bioética, pois o que está em jogo 
– por trás desta responsabilização frente aos recursos finitos e escassos 
– é a tensão entre dois princípios morais: o da justiça social e o da 
autonomia individual, considerados no contexto de uma “topologia 
administrativa” consistente em procedimentos que se destinam, em 
última instância, a finalizar a conduta humana de acordo com um 
paradigma econômico que controla o comportamento dos humanos e 
tenha em vista o difícil equacionamento entre competição e cooperação.
No início do século XXI, o Estado, que até então tinha a 
responsabilidade de reduzir as desigualdades de renda e melhorar 
as condições de higiene da população, se torna um coadjuvante neste 
processo à medida que a responsabilidade pelo cuidado com a saúde 
cabe a cada indivíduo que, diante das informações médicas, deve ser 
capaz de mudar seus hábitos de vida (VAZ; BRUNO, 2002). A saúde 
e a doença passam, portanto, a sercompreendidas como resultado 
do comportamento, e não mais como efeitos das condições de vida; 
e o indivíduo – agora supostamente informado – passa a ser o único 
responsável pelo cuidado com sua saúde, cabendo ao Estado o controle 
para que esta responsabilização seja efetiva
O cenário delimitado no parágrafo anterior questiona o papel do 
profissional de saúde enquanto agente moral, tendo em vista que o dinamismo 
de nossa sociedade é regido por forças políticas e disputas entre interesses 
individuais e coletivos. Portanto, a ideia de promoção de saúde deve ser voltada 
para políticas públicas que busquem a redução das iniquidades, permitindo o 
acesso a condições básicas para a saúde e suprindo as carências individuais e 
coletivas refletidas pela fome, pobreza e exclusão social (VERDI; CAPONI, 2005).
3.1 DESAFIOS DO ACESSO À ATENÇÃO BÁSICA E 
ASSISTÊNCIA HOSPITALAR
O uso de novas tecnologias, em especial no contexto hospitalar, suscita 
numerosas expectativas nas indústrias, órgãos reguladores, administradores, 
profissionais de saúde e, por fim, nos pacientes. Além da avaliação acerca da 
qualidade e efetividade dessas inovações, é imprescindível o comprometimento 
com as questões morais que envolvem o seu uso, como a verificação se o produto 
de fato cumpre os requisitos de beneficência e não maleficência (SCHRAMM; 
ESCOSTEGUY, 2000) 
Ainda nesse debate, debruça-se também sobre o acesso às novas 
tecnologias de forma justa para todos, considerando ainda um cenário de recursos 
cada vez mais escasso e de grandes desigualdades sociais. Seria ético que apenas 
as pessoas mais abastadas tivessem as melhores oportunidades de diagnóstico e 
tratamento? Como equiparar essa balança sem prejuízo ao Estado e ao usuário? 
Como julgar essa questão de forma a promover a equidade que nos é garantida 
através de nossa Constituição? (SCHRAMM; ESCOSTEGUY, 2000). 
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UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Para o usuário do SUS, que tem a ideia de que a atenção à saúde deve 
ser oferecida de forma irrestrita, muitas vezes não fica claro que existe um 
racionamento de recursos, o qual é preestabelecido por meio de orçamentos 
definidos pelos Poderes Executivos e Legislativos. A maneira que esses recursos 
serão alocados fica por conta do Ministério e Secretarias de saúde, contando com 
o aval dos Conselhos de Saúde e órgãos de controle social (FORTES, 2008).
Para designar o destino dos investimentos na área de saúde são 
consideradas as ideias de base utilitaristas, apoiando a premissa de maximização 
do bem-estar, elegendo a proposta que garanta a maior felicidade para o maior 
número possível de pessoas. Essa ideia pode ser exemplificada através da 
vacinação em massa para a erradicação de doenças transmissíveis. Para que, 
de fato, os recursos sejam alocados de modo a maximizar a saúde de um maior 
número de pessoas, é primordial o controle social efetivo sobre essas decisões, 
nem sempre há uma completa concordância sobre os desejos da sociedade, porém 
essa é a medida que tem uma maior probabilidade de responder aos anseios dos 
cidadãos (FORTES, 2008).
3.2 OS NOVOS DESAFIOS BIOÉTICOS ADVINDOS DO 
PROJETO GENOMA 
Em 1990, ocorreu um marco conceitual da genética moderna denominado 
Projeto Genoma. Esse movimento contou com a colaboração de diversos países 
desenvolvidos para mapeamento do código genético humano, que diferente de 
outras pesquisas, disponibilizou seus achados para os pesquisadores do mundo 
inteiro os seus dados parciais e totais rapidamente por via eletrônica, ajudando 
assim o desenvolvimento de outras pesquisas ao redor do mundo. 
Os avanços relacionados à fertilização in vitro trouxeram consigo novas 
possibilidades e implicações éticas sobre a pesquisa genética e manipulação 
de células-tronco. A perspectiva de se criar seres humanos mais resistentes 
ao ambiente, com aparência física desejada pelos pais entre outras demandas, 
apresenta-se como algo que poderia melhor a estadia do homem no planeta. 
No campo da saúde, a possibilidade de aplicações terapêuticas também gera 
otimismo pela prevenção de doenças e tratamentos mais assertivos com base na 
composição genética individual (CORRÊA, 2002).
A manipulação genética pode envolver riscos a longo prazo até agora não 
conhecidos, não se tem claro ainda se as ações desenvolvidas na atualidade podem 
prejudicar de alguma forma as gerações após a nossa. Por conta dos enormes 
riscos iatrogênicos, é necessário cautela, além de pautar as tomadas de decisão 
nessa área sob os princípios da beneficência e autonomia (CLOTET, 2000).
Ao se imaginar a possibilidade de escolha dos traços genéticos entra 
em debate algumas questões éticas, como o medo do surgimento de uma ideia 
moderna de eugenismo baseada em conceitos racistas e discriminatórios. Se assim 
TÓPICO 3 | CONFLITOS BIOÉTICOS E A PLURALIDADE
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seguir, corremos o risco que os aspectos físicos, intelectuais e de beleza possam 
ser padronizados como um quesito básico do que é ser um humano de sucesso, 
tudo através da manipulação do genoma (CORRÊA, 2002).
Eugenismo é um termo que significa bem-nascido. Uma falsa ciência que 
defendia ser necessário realizar uma seleção natural onde “raças superiores” deveriam 
dominar e melhorar uma sociedade.
No Brasil, o movimento eugenista foi institucionalizado no início do século XX e buscou 
embranquecer a população, de modo a afastar e diminuir as pessoas negras, por acreditar 
que só assim seria possível elevar o país a melhores patamares de desenvolvimento e 
riqueza.
NOTA
Acadêmico, indicamos a leitura do artigo Reflexões sobre raça e eugenia no 
Brasil a partir do documentário Homo sapiens 1900 de autoria de Lilian de Lucca Torres e 
disponível no link: https://journals.openedition.org/pontourbe/1914.
DICAS
Mais uma vez caímos na discussão sobre acesso à tecnologia e seus 
desdobramentos. Seriam os avanços genéticos de impacto direto sobre a 
saúde disponíveis irrestritamente a toda população? Considerando o histórico 
discriminatório em nossa sociedade, como se dará as relações sociais dos que não 
obedecem aos padrões? Seria possível o surgimento de um apartheid genético 
ou uma biocracia? Como as questões religiosas impactarão nos debates sobre a 
manipulação genética?
 
3.3 OS DIREITOS INALIENÁVEIS DOS PORTADORES DE 
TRANSTORNO MENTAL
A concepção de loucura e os cuidados aplicados aos portadores de 
transtornos mentais mudou conforme a época vivida. Passamos da ideia 
estabelecida no século XVII que enclausuramento e afastamento social dos 
mentalmente afligidos, marcado pela internação compulsória em manicômios e 
hospitais, é o melhor caminho para o cuidado ao portador de distúrbios mentais. 
Ressaltamos que, neste momento histórico, todos aqueles que se afastavam do 
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UNIDADE 1 | BIOÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
que a sociedade encarava como normal (miseráveis, bandidos ou vagabundos) 
eram entendidos como “loucos” e encarcerados (BRAZ; SCHRAMM, 2011). 
Com a chegada do século XIX, por não se encaixarem nos padrões da 
sociedade burguesa, em especial pela sua “incapacidade para o trabalho”, novas 
modalidades de manejo foram concebidas e a ideia “loucura” se solidificou na 
concepção de que não havia problema no tratamento desumano, através de 
ameaças, violências físicas e aprisionamento em calabouços, o que mudou anos 
mais tarde pelo advento da reforma psiquiátrica (BRAZ; SCHRAMM, 2011).
Como pode se constatar por esse breve histórico, os portadores de doenças 
mentais estão entre os mais sujeitos à violação de direitos humanos, refutando 
toda e qualquer forma de dignidade. Por vezes, a perda da autonomia desses 
indivíduos se deve a sua condição clínica, não sendo incomum o uso da força 
física na contenção, muito mais apoiado no que é mais vantajoso para o que está 
em posição de poder (em muitos casos o profissional de saúde) do que de fato na 
escolha do que é melhor para o indivíduo. 
O código de Nuremberg versava sobre a participação deste perfil de 
pacientes em pesquisas,

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