Prévia do material em texto
Geopolítica, Regionalização e Integração Terceiro semestre do curso de Ciências Contábeis INSTRUTOR: Marcos Fávaro 26 de Setembro de 2022 Unidade 1 ● 1 - Fundamentos das Relações Internacionais para a compreensão da Geopolítica. - As relações internacionais contemporâneas, especialmente no século XX, podem ser entendidas pela transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais, que ocorreu no mundo e, consequentemente, tornou indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos Estados. - Em plano equivalente, o fenômeno da diversidade de organizações internacionais adquire grande relevância, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, em função de agora existir a necessidade de os Estados dimensionarem coletivamente certas competências que antes pertenciam ao absoluto domínio nacional. Baseados no multilateralismo e na diplomacia parlamentar, esses organismos representam “um esforço civilizatório significativo no contexto das relações internacionais” (SEITENFUS, 1997, p. 21) e têm o objetivo de dirimir as relações conflituosas oriundas do maior grau de interdependência das relações entre os Estados. - Esse quadro retrata a evolução jurídica que acompanhou as transformações da sociedade internacional e as interações nela estabelecidas. Isso significa dizer que as relações internacionais, incluindo-se aqui a geopolítica tal como estabelecida atualmente, podem ser consideradas eminentemente modernas. ● 1.1 - Caráter e conceito das relações internacionais. Geopolítica, Regionalização e Integração 2 - No trabalho Relações internacionais como campo de estudos, Lytton Guimarães (2001) atribuiu o emprego sensato da expressão relações internacionais a pelo menos duas dimensões. Numa primeira análise, conferiu a ela um sentido mais amplo e a vinculou ao que “(...) se refere à gama de contatos e interações de natureza diplomática, política, econômica, militar, social, cultural, étnica, humanitária, que se processam entre atores internacionais, estatais e não estatais” (GUIMARÃES, 2001, p. 9). Numa abordagem mais específica, o autor atribui sentido à expressão relações internacionais quando esta: [...] refere-se ao campo de estudos acadêmicos que enfoca as diversas formas de interações anteriormente descritas, assim como outras questões e fenômenos considerados relevantes para se compreender e explicar a complexidade do cenário internacional (GUIMARÃES, 2001, p. 10). - Ao desconsiderar o que aparentemente já está óbvio, ou seja, a gama de contatos e interações de diversas naturezas que envolve tal conjunto de agentes, instituições e processos específicos, a expressão relações internacionais pode ser traduzida de modo mais simplista por questões transnacionais. Logo, são as questões transnacionais que compõem a ampla agenda internacional que, por sua vez, é o alvo das ocupações dos estudiosos de relações internacionais. ● 1.1.1 - Precedentes históricos das teorias das relações internacionais: - Anterior ao surgimento do Estado nacional, as unidades governamentais existiam em diferentes épocas sob a forma de comunas, cidades-estados e feudos, ao passo que “as unidades econômicas formam nesta ordem: a família, o feudo, a comunidade da vila, a cidade e a liga das cidades” (DIAS, 2004, p. 25). ● 1.1.2 - O mundo do século XX e as teorias das relações internacionais: - O século XX foi marcado pelas duas maiores conflagrações mundiais, pelo conflito ideológico (capitalismo versus socialismos), por revoluções e crises de todas as ordens, pela extraordinária expansão econômica, por profundas transformações sociais, por impérios e hegemonias, entre outros relevantes acontecimentos, como Geopolítica, Regionalização e Integração 3 o vultuoso desenvolvimento tecnológico percebido desde a Primeira Guerra Mundial. Somado ao encurtamento das distâncias , esse desenvolvimento tecnológico abriu as portas para uma crescente transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais que ocorreu no mundo e acabou por tornar indefinidas as fronteiras das políticas interna e externa dos Estados. Cada um a seu tempo e já a partir da Primeira Guerra Mundial, esses acontecimentos começaram a imprimir uma nova configuração ao sistema internacional moldado no século XVII. Além disso, o século XX também é marcado pela evolução da teoria das relações internacionais, que se ocupa em analisar com mais clareza o emaranhado conjunto de relações que se processa no mundo atual. 27 de setembro de 2022 ● 2 - A Noção de cooperação no enfoque das principais teorias das relações internacionais - Desde sua consolidação como campo de estudo, o pluralismo teórico inerente às relações internacionais possibilitou o desenvolvimento de diferentes estudos e interpretações da realidade internacional, dada a percepção dos fatos para cada analista e a dinâmica das relações entre os agentes. - Porém, não discutiremos aqui a validade lógica dos muitos discursos dos quais os analistas lançaram mão para conferir sentido à realidade desde a primeira metade do século passado. Desse modo, nos ateremos tão somente a identificar a visão de cooperação e de organizações internacionais a partir do prisma de dois importantes debates das teorias das relações internacionais: idealismo e realismo e realismo e interdependência. Geopolítica, Regionalização e Integração 4 ● 2.1 - A noção de cooperação para os teóricos idealistas e realistas - Os resultados destruidores da Primeira Guerra Mundial, com o número de vítimas civis e militares, o nível de violência e a extensão do conflito, impulsionaram o desenvolvimento das relações internacionais como campo de estudo científico a partir da percepção de um mundo ideal, da qual pretendeu-se pautar as relações internacionais desde então. Essa percepção ficou conhecida como idealismo. - O Idealismo é um um conjunto de princípios universais que defende a necessidade de estruturar o mundo buscando o entendimento, através de condutas pacifistas, onde a confiança e a boa vontade sejam os motores que movimentam a história. - O idealismo encontra seu momento de maior aceitação no período entreguerras. Importantes publicações de autores e estudos contribuíram para o desenvolvimento inicial da obra Relações internacionais como campo de estudos, de Lytton L. Guimarães. Identificar as causas da guerra e buscar caminhos para a paz eram preocupações iniciais que, posteriormente, estiveram voltadas também para questões como os problemas de segurança, os desarmamentos, o imperialismo e suas consequências, a negociação diplomática, a balança de poder, a geopolítica etc. ● 2.2 - A noção de cooperação para os teóricos da interdependência - A ordem internacional contemporânea pode ser considerada como “uma série de entendimentos rotineiros por meio dos quais flui a política mundial de um momento ao outro” (Rosenau 2000, 16). Essas “séries de entendimentos rotineiros” produzem consensos acerca de questões globais, os quais subsidiam o processo de formulação e implementação de políticas públicas nos diversos estados nacionais, afetando suas unidades federativas. Essas “séries de entendimentos rotineiros” podem ser consideradas como a chamada globalização, a qual, para Keohane e Nye Geopolítica, Regionalização e Integração 5 (2001, 229), caracteriza-se como um aumento da velocidade institucional nos adensamentos de redes de interdependência complexa, as quais vêm sendo consolidadas, pelo menos, desde o período das grandes navegações e seriam responsáveis pelas alterações na ordem internacional. 28 de setembro de 2022 ● 3 - A política externa e os interesses nacionais: Instrumentos da política estatal e da geopolítica. - O modelo de estado-nação eminentemente moderno, fundado no princípio da soberania e forjado em Westphalia, outorga relativa independência na formulação da estratégia que orienta a ação estatal no âmbito internacional. É por meio de suas receptivas políticas externase de seus recursos disponíveis que os países têm relativa autonomia para escolher seus caminhos, seja para desenvolvimento econômico, capacitação tecnológica, maior participação no comércio global, crescimento de índices sociais ideais, busca por poder etc. ● 3.1 - Introdução à política externa: Conceitos e objetivos - As relações entre Estados, organizações internacionais, partidos políticos, organizações não governamentais e outros atores situam-se dentro de uma ordem ou sistema internacional e acabam por configurar as relações internacionais. - O sistema internacional contemporâneo compreende uma sucessão de macroestruturas: eurocentrismo, transição entreguerras, sucessão da Segunda Guerra Mundial com a Guerra Fria até o multipolarismo. Dentre essas marcantes etapas da história contemporânea, houve ainda conflitos generalizados, revoluções, flutuações econômicas e outras crises. - A importância de conhecer essas macroestruturas dá-se pelo fato de que cada uma delas corresponde a configurações específicas de poder. Contudo, os sistemas internacionais podem ser examinados sob o ângulo de subsistemas, podendo ser Geopolítica, Regionalização e Integração 6 divididos em ideologia, desenvolvimento, conflito e segurança. Analisemos cada um deles: - Ideologia: tem irrefutável influência na política internacional e está ligada ao modo de organização do país no que concerne à política externa; - Desenvolvimento: o nível de desenvolvimento de um país afeta diretamente sua capacidade de ação internacional; - Conflito: situações de tensão aguda ou conflito aberto constituem oportunidades extremamente ricas para análise da realidade internacional; - Segurança: os arranjos internacionais e os meios nacionais são instrumentos de segurança externa, porém, não deve-se pensar apenas nos instrumentos militares, mas também nos políticos, econômicos e socioculturais. ● 3.2 - A ação e a interação dos estados - Para que um Estado seja reconhecido, ele deve cumprir quatro condições essenciais. São elas: - O Estado deve ter uma base territorial e uma fronteira definida geograficamente; - Uma população estável deve morar dentro de suas fronteiras; - Deve existir um governo ao qual a população respeite; - O Estado deve ser reconhecido diplomaticamente por outros Estados. - É importante mencionar que a interação dos países é processada em três níveis: bilateral, regional e multilateral. Esses níveis não podem ser substituídos e cada um complementa o outro. Dependendo do tipo de divergência internacional, uma nação deve ter opções e talvez buscar mais de um nível, com o especial cuidado de evitar que uma ação em um dos níveis restrinja a liberdade de ação em outro nível ou mesmo elimine essa possibilidade. Geopolítica, Regionalização e Integração 7 29 de setembro de 2022 ● 4 - O Sistema Internacional - O que significa o termo sistema quando aplicado às relações internacionais? Nesse contexto, sistema é uma união de algum modo regular que se dá por meio do agrupamento de unidades, objetos ou partes. Os sistemas reagem de modo constante e têm fronteiras separadas um do outro, sendo que pode haver permuta de fronteiras - Segundo Mingst (2009), a concepção de sistema está interligada ao pensamento das três escolas teóricas dominantes de relações internacionais: a liberal, a realista e a radical. - A escola liberal não vê o sistema internacional como centro de estudo, no entanto, conceitua três pontos diferentes desse sistema; - A escola realista, que acredita que a política é governada por leis objetivas enraizadas na natureza humana; - A escola radical,busca definir a estrutura em termos de estratificação. - Quando a palavra multipolaridade é mencionada, é importante entender que ela está ligada ao conceito de que cada ator principal é considerado inimigo ou parceiro dos demais e as alianças são temporárias, isto é, os países se relacionam com outros dependendo momentaneamente de seu interesse ou necessidade interna ou externa. Assim, não há um líder em questão. Já o conceito de bipolaridade é mais focado, ou seja, existem apenas dois atores importantes, que são inimigos por posição ou por ideologia. Aqui, as alianças são mais duradouras do que no primeiro conceito e existe uma liderança que varia de acordo com a origem dessa aliança. - A bipolaridade possui três tipos de Estados: líderes de blocos, Estados dos blocos e aqueles que não participam. Nela, os líderes buscam sua própria hegemonia e Geopolítica, Regionalização e Integração 8 se dedicam a impedir ao máximo o fortalecimento de seus adversários e a manter a integridade de seus próprios blocos 30 de setembro de 2022. Unidade 2 - Geopolítica ● 5 - O que é a geopolítica? - Segundo Nicholas Spykman: “É o planejamento” da política de segurança de um Estado com base em seus fatores geográficos”. - A Geopolítica é um método de interpretação das relações internacionais pautado em fatores geográficos, principalmente “na configuração dos territórios nacionais” ● Fundamentos da ciência: - Os estados possuem, necessidades territoriais específicas, bem como potencialidades naturais, tais fatores exercem impacto direto sobre o seu modelo de política externa. - Os dois conceitos principais da geopolítica são o de espaço e o de posição. - O primeiro cientista social que desenvolveu essas idéias foi o alemão Friedrich Ratzel (1844-1904). ● Ratzel e a fundação da “Geografia Política” - Ratzel foi o geógrafo alemão criador da “Geografia Humana”. - A “Geografia Política” seria um dos sub-ramos da Geografia Humana. - É considerado o grande teórico do expansionismo territorial. - Ratzel formulou “as leis de crescimento territorial dos Estados”. Geopolítica, Regionalização e Integração 9 ● Kjellén e a fundação da Geopolítica - Johan Rudolf Kjellén é o criador do termo “geopolítica” - Kjellén foi um cientista político que tentou levar para a ciência política o método desenvolvido por Ratzel para a Geografia Humana. - Enquanto a Geografia Política era um ramo da Geografia, a Geopolítica seria um ramo da Ciência Política. - Portanto, Kjellén foi um seguidor e um aperfeiçoador das ideias de Ratzel. ● Escola alemã da Geopolítica: – Ratzel: Cria os princípios teóricos - Kjellén: Aperfeiçoou as ideias de Ratzel e criou o termo “geopolítica” - Haushofer : Institucionalizou a Geopolítica e criou a teoria das pan-regiões ● 5.1 - As relações entre sociedade, Estado, território e poder Estado - Para ser reconhecido como estado, deve cumprir quatro condições básicas: ter uma base territorial, ter fronteiras definidas geograficamente, ter uma população e ter um governo reconhecido por essa população e pelos demais Estados independentes. A diferença crucial entre o conceito de Estado e nação, portanto, recai sob o fato de que a nação é representada por um grupo de indivíduos que compartilham do mesmo conjunto de características, ou seja, costumes, linguagem e história. ● 5.2 - Geografia política e geopolítica. Geopolítica, Regionalização e Integração 10 - A diferenciação entre as vertentes geografia e política, portanto, pode ser feita por meio da simples distinção entre uma área atrelada à geografia e outra estritamente ligada à ciência política. A geografia política, tal como a geografia econômica, social e/ou cultural, fundamenta‐se nas observações estáticas e de fatores naturais, como fronteiras, rios, planícies e planaltos, elementos que compõe e dividem as regiões e os Estados e simbolizam um limite entre os territórios. ● 5.3 - A evolução do pensamento em geopolítica - Com o fim da Guerra Fria, há um processo de globalização e multipolarização política que fez com que o hiato no debate geopolítico decorrente do fim da Segunda Guerra Mundial acabasse. Assim, teve início uma fase de compreensão da conjuntura e de redefinição da política internacional. O processo de descolonização de países africanos, as revoluções no leste europeu, a entrada de naçõesemergentes no contexto internacional e a mudança no paradigma das relações internacionais alteraram o pensamento geopolítico contemporâneo. O mundo não era mais regido somente pelo poderio econômico ou militar das superpotências, mas por aproximações e afinidades culturais, sociais, étnicas e regionais, ocasionando uma perspectiva ainda mais para a análise do sistema internacional. ● 5.4 - Geopolítica Clássica: - Com base na teoria do Heartland, Mackinder demonstrava sua preocupação com uma eventual aliança militar entre Rússia e Alemanha. Segundo sua teoria, um entendimento internacional entre esses países os tornaria ameaçadores do equilíbrio de forças no continente euro- asiático, o que provocaria uma mudança das relações de poder no mundo. Em última instância, quem dominasse essa região e dominasse simultaneamente uma Geopolítica, Regionalização e Integração 11 saída para mares abertos teria condições de desenvolver um poder militar insuperável, dominar a Eurásia e decidir o futuro do mundo. ● 5.5 - Geopolítica contemporânea: - A Guerra Fria é definida como um conflito que ocorreu apenas no campo ideológico, sem que tenha existido um combate militar declarado e direto entre Estados Unidos e União Soviética. A expressão paz armada explica muito bem o período. Os dois países apoiaram uma corrida armamentista e espalharam exércitos e armamentos em seus territórios e em países aliados. Enquanto houvesse equilíbrio bélico e medo do ataque inimigo, a paz estaria mantida. O período ainda alimentou conflitos em outros países, como na Coreia e no Vietnã. 01 de Outubro de 2022. ● 6 - Aspectos da Geopolítica Atual: Fronteiras nacionais e internacionais, a guerra e a paz de acordo com a geopolítica, o poder central e o poder local de políticas territoriais ● 6.1 - As fronteiras nacionais e internacionais. - As fronteiras não representam apenas uma mera divisão e unificação de pontos diversos, elas determinam também a área territorial precisa, a base física de um Estado. Assim, as fronteiras delimitam a soberania de um poder nacional. Para que haja um Estado soberano de direito, é necessário que haja fronteiras estipuladas e respeitadas. Geopolítica, Regionalização e Integração 12 - O transporte de mercadorias por meio de uma fronteira muitas vezes exige o pagamento de impostos de consumo, recolhidos por funcionários. Animais e, ocasionalmente, seres humanos que atravessam as fronteiras podem precisar entrar em quarentena para evitar a propagação de doenças exóticas ou infecciosas. ● 6.2 - A guerra e a paz de acordo com a geopolítica. - Geopolítica e guerra são termos que se integram num processo dinâmico de soberania, sendo o foco direcionado para o território e seu estabelecimento. Em certas circunstâncias, geopolítica, guerra e paz sempre foram comparadas a gêmeos siameses ou até mesmo a amantes inseparáveis. Isso pode ser comprovado por uma análise simples da importância do território e dos fatos históricos para a compreensão desses conceitos. Além disso, é impossível discutir geopolítica, suas tendências e sua evolução num único contexto e a partir de um ponto de vista estratégico e prático. A gama de fatos históricos e geográficos que o tema geopolítica inclui exigiria uma enciclopédia. Portanto, é insignificante pensar e falar dos fenômenos da guerra e da paz sem a inclusão contextual da geopolítica. ● 6.3 - O poder central e o poder local - Nos últimos anos, os governos mundiais passaram por um processo transformador em sua gestão de poder. Esse processo, conhecido como descentralização, já existia há séculos, embora já estivesse mais solidificado desde a década de 1990. Nele, o poder central, que concentra as funções administrativas de um território, delega poderes de decisão para outras entidades dotadas de capacidade jurídica para administrar certa parte desse território. A intenção dessa delegação é melhorar a eficácia da gestão governamental de um país. Geopolítica, Regionalização e Integração 13 ● 6.4 - As políticas territoriais - As políticas territoriais podem ser entendidas como o campo das ações emanadas dos poderes centrais, regionais e locais sobre os diversos territórios. Esse tipo especial de política pública – que tem recebido um aporte mais tradicional do planejamento regional – está situado em plena crise do Estado territorial moderno em cenários globais‐regionais, que passam por profundas transformações. A década de 1990 e a crise dos Estados desenvolvimentistas periféricos representam rupturas de paradigmas socioeconômicos e políticos com significados e alcances tão ou mais profundos do que a própria constituição dos Estados nacionais sul‐americanos, no século XIX. ● 7 - A agenda da geopolítica moderna. - A globalização capitalista causou provavelmente mais riqueza material e progressos sociais do que jamais ocorreu em fases precedentes da economia mundial. Ao mesmo tempo, visualizamos o crescente aumento das diferenças entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Na era em que são as relações internacionais com fins econômicos que movimentam a economia mundial, nenhum país deseja estar limitado a seu território. - Os interesses nacionais de cada país estão manifestados por meio de sua política externa e refletem seus objetivos no que diz respeito a desenvolvimento econômico, capacitação tecnológica, maior participação no comércio global, crescimento de índices sociais, busca pelo poder, entre outros. Seja qual for o objetivo, em geral as ações do Estado estarão sujeitas à eventual influência de grupos de interesse que apoiam suas decisões políticas no âmbito interno. - Nas questões de meio ambiente, o número de acordos ambientais internacionais e os acordos voluntários cobrem grande parte das regiões e das questões globais. ● 7.1 - Comércio internacional e desenvolvimento econômico - Numa perspectiva histórica, a expansão do comércio internacional foi sustentada pelos contínuos aumentos da produtividade e das produções Geopolítica, Regionalização e Integração 14 agrícolas e industriais, pela especialização e divisão de trabalho e pelas vantagens comparativas de troca. O comércio assume papel fundamental na expansão da economia internacional a partir da revolução comercial industrial, sendo que sua importância é plenamente admitida nos princípios da teoria clássica do comércio. ● 7.2 Alguns desafios para a inserção positiva dos países em desenvolvimento nas relações de comércio internacional - A globalização capitalista percebida nas últimas décadas do século XX trouxe provavelmente mais riqueza material e progressos sociais do que jamais ocorreu em fases precedentes da economia mundial. Ao mesmo tempo, tem‐se o “aumento das diferenças entre nações desenvolvidas e países em desenvolvimento, assim como das desigualdades no acesso a bens e a distância acumulada entre os rendimentos dos grupos sociais” - Diante desse paradoxo, há que se questionar quais são os desafios a serem superados pelos países em desenvolvimento a fim de que alcancem maiores benefícios nas relações do comércio internacional. ● 7.3 O meio ambiente - Mediante a vasta diversidade de temas que compõem a agenda das relações internacionais, a ecopolítica e as questões ambientais ganharam destaque nas últimas décadas. O meio ambiente e a política de desenvolvimento sustentável causaram discussões entre os Estados nos organismos internacionais, o que promoveu ações e tentou minimizar os efeitos do aquecimento global. Ainda que os Estados estejam no dilema entre soberania, crescimento econômico, interesses individuais e questão ambiental, notamos que a ONU e as organizações não governamentais (ONGs) participam ativamente do processo de conscientização. Geopolítica, Regionalização e Integração 15 ● 8 - A Regionalização e Integração. - No mundo globalizado, participar efetivamente das relações internacionais significa, essencialmente: 1. Manter um bom relacionamento comercial com os demaispaíses ou blocos de países; 2. Participar efetivamente das negociações de acordos comerciais dos mais variados moldes; 3. Estar sempre atualizado em relação às mudanças de comportamento dos diversos atores. - A proliferação de acordos regionais marcou profundamente as relações internacionais a partir da segunda metade do século XX, tanto no campo econômico como no campo político, e refletiu também no desenvolvimento do próprio Direito Internacional. Os acordos regionais encontram apoio no artigo XXIV do GATT, que dispõe sobre a criação e a formação das uniões aduaneiras e das zonas de livre comércio. - A justificativa para a formação de blocos era a de propiciar maior liberdade de comércio, mesmo que discriminatória, com vistas ao aproveitamento das vantagens comparativas recíprocas. Acreditava-se que a integração contribuiria para gerar ganhos de comércio e, consequentemente, aumento do bem‐estar. - Nas negociações de acordos comerciais, os países buscam ampliar o acesso aos mercados externos, sobretudo no que diz respeito à elevação das margens de preferência para seus produtos, preferência esta que se dá por meio da redução das alíquotas do imposto de importação. ● 8.1 Aspectos teóricos e históricos de integração regional - O livre comércio é considerado pelos clássicos como a melhor forma de usar eficientemente todos os recursos disponíveis para atingir o máximo de Geopolítica, Regionalização e Integração 16 bem-estar mundial. Mas só isso não é suficiente, pois, como ocorre transferência de renda entre pessoas e nações, alguns ganham e outros perdem com a liberdade de comércio. ● 8.2 - Fases da Integração - No passado, a integração entre povos era realizada por invasões e conquistas e os exércitos eram o principal instrumento de persuasão. Hoje, as nações independentes procuram se integrar por meio de acordos firmados em função de seus interesses recíprocos. Há diversos tipos de integração econômica que podem ser classificados segundo um grau crescente de interdependência: - Zonas de preferência: são acordos estabelecidos por países geograficamente próximos, com o objetivo de promover desenvolvimento e aumento de suas produções interna e externa mediante mecanismos de incentivo ao comércio intrarregional. Geralmente, são negociados acordos setoriais e concessões tarifárias ou não tarifárias para todos os participantes, relacionando as mercadorias e as respectivas margens de preferência; - Área de livre comércio: prevista no artigo XXIV do GATT, ela consiste na eliminação das barreiras alfandegárias e outras restrições aos produtos produzidos dentro do grupo de dois ou mais países, porém, mantêm‐se as políticas comerciais independentes em relação aos demais. Trata-se de um estágio de integração mais avançado do que a zona de preferência. O Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) é um exemplo desse modelo de integração regional; - União aduaneira: também definida no artigo XXIV do GATT, refere-se à substituição de dois ou mais territórios aduaneiros por um só, com consequente eliminação de tarifas aduaneiras e restrições ao comércio internacional dos países membros. A união aduaneira é consequência da eliminação de todos os obstáculos às trocas internacionais. Os regulamentos aduaneiros dos participantes da união devem ser semelhantes em relação Geopolítica, Regionalização e Integração 17 ao comércio exterior com países não participantes da união. Assim, os produtos adquiridos de países externos devem ter livre circulação na união. Portanto, uma união aduaneira carece necessariamente da adoção de uma tarifa externa comum e de uma política comercial em relação a produtos originários de terceiros países. Como exemplo desse modelo de integração regional, podemos citar o Mercosul; - Mercado comum: consiste numa união aduaneira na qual os participantes se obrigam a implementar a livre circulação de pessoas, de bens, de mercadorias, de serviços, de capitais e de fatores produtivos, eliminada toda e qualquer forma de discriminação. As comunidades europeias já passaram por esse estágio de integração; - União econômica: nessa fase de integração, os acordos não se limitam aos movimentos de bens, serviços e fatores de produção, mas buscam harmonizar políticas econômicas para que os agentes possam operar sob condições semelhantes nos países constituintes do bloco econômico. A União Europeia encontra‐se atualmente nesse estágio de integração; - Integração econômica total: esse estágio de integração implica livre deslocamento de bens, serviços e fatores de produção, além de completa igualdade de condições para os agentes econômicos, o que consiste na união econômica e política e na unificação dos direitos civil, comercial, administrativo, fiscal etc., ambas administradas por autoridades supranacionais. ● 8.3 - Principais sistemas de integração regional ○ 8.3.1 - Mercosul (Mercado Comum do Sul): - O Mercado Comum do Sul, conhecido como Mercosul, é um bloco econômico sul-americano formado pelo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e outros países associados e observadores. Foi criado oficialmente em 1991, na tentativa de aumentar a oferta de emprego e renda, melhorar a Geopolítica, Regionalização e Integração 18 produtividade e intensificar as relações econômicas entre os países. Esse bloco econômico regional é muito parecido com outros existentes pelo mundo, mas apresenta peculiaridades próprias da região sul-americana. - O objetivo principal do Mercosul, no início de sua criação, era estabelecer uma zona de livre comércio entre os países envolvidos. Essa zona garantiria a circulação comercial de produtos sem precisar dos trâmites burocráticos em relação a uma exportação. - Esse objetivo foi alcançado em 1994. A partir daí, outro objetivo foi idealizado: a criação de uma Tarifa Externa Comum (TEC), em 1995. Essa tarifa é utilizada para produtos importados que entram nos países envolvidos. Todos os quatro (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) devem cobrar um imposto comum e único para esses produtos que vêm de fora (importados), evitando, assim, que um dos países dê preferência a um tipo de produto e que esse país seja porta de entrada de algumas mercadorias. ○ 8.3.2 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) - O Nafta – sigla em inglês para Tratado Norte-Americano de Livre Comércio – é um bloco econômico composto por Estados Unidos, México e Canadá. Fundado em 01 janeiro de 1994, seguiu uma das tendências do processo de Globalização: a organização dos países em acordos regionais. Assim como ocorre nos demais blocos econômicos, o Nafta objetiva promover a integração comercial entre os seus países-membros, o que se faz por intermédio, sobretudo, da redução das tarifas alfandegárias. Geopolítica, Regionalização e Integração 19 ● 8.3.3 - União Européia - União Europeia é um bloco econômico que reúne 27 Estados do continente europeu. Essa organização desempenha também a função de união política e monetária, atuando nas esferas econômica, política e jurídica e também em prol da segurança e do desenvolvimento socioeconômico dos seus países-membros. Em 1999, entrou em vigor o euro, moeda do bloco oficialmente adotada por 19 países, os quais fazem parte da Zona Euro. - A União Europeia surgiu em um contexto de pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), visando à recuperação conjunta e à retomada da paz e união entre os países do continente, maioria dos quais foi diretamente afetada pelos conflitos. Diante disso, o objetivo principal da UE permanece o mesmo desde a sua criação, que é o de promoção da paz, dos seus valores e também do bem-estar de sua população. - Os valores sobre os quais se baseiam as atividades da União Europeia são os seguintes: - Dignidade humana; Liberdade individual e de circulação; Democracia; Igualdade; Estado de direito; Direitos Humanos. - As atividades da União Europeia compreendem as esferas política, econômica e jurídica. Paraque todas essas funções sejam atendidas, elas são desempenhadas no âmbito de diferentes instituições e organismos que compõem o quadro institucional do bloco. Geopolítica, Regionalização e Integração 20 INTERATIVIDAD� ● 1. O estado nacional é a principal organização social de todos os povos do planeta, mesmo depois de cinco séculos de evolução. Escolha a alternativa que melhor explique esse fato. a. O estado é a principal organização social porque ele tem a missão de ajudar as empresas a progredirem. b. O estado nacional é tão importante porque ele ajuda a população mais pobre a subsistir. c. É o �tado Nacional que provém a sociedade de direitos, de pr�eção e de ordem social. d. O estado nacional é importante porque, em todas as sociedades, ele é um financiador da saúde pública. e. Na verdade, o �tado Nacional não é importante e se encontra em processo de substituição. Geopolítica, Regionalização e Integração 21 ● 2. Leia com atenção as alternativas abaixo aponte para a alternativa que apresenta os dois principais fenômenos da globalização política. A. A integração dos mercados e a universalização do Dólar como moedas de trocas internacionais. B. A universalização do �tado nacional como modelo de organização social e o surgimento de organizações internacionais de caráter político. C. A universalização das organizações internacionais e a revolução da informática. D. O surgimento do �tado nacional e o estabelecimento do Dólar como moeda internacional E. A universalização do �tado nacional como modelo de organização social e a revolução da informática ● 3. Com base na discussão, aponte para a alternativa que melhor descreva o período de tensão e disputa entre EUA e URSS pela hegemonia mundial. A. Primeira Guerra Mundial B. Segunda Guerra Mundial C. Terceira Guerra Mundial D. Guerra Fria E. Guerra das Malvinas ● 4 - Leia com atenção as alternativas e aponte aquela que contenha as escolas das Relações Internacionais com maior vinculação com a geopolítica. A. Idealismo clássico B. Cientificismo C. Teoria da Interdependência complexa D. Construtivismo E. Realismo Geopolítica, Regionalização e Integração 22 ● 5 - Ratzel tem uma visão particular da dinâmica evolutiva da sociedade internacional. Assinale a alternativa que melhor descreva a visão de Ratzel do Estado, frente à sociedade internacional. A. O estado é um ator estável, prom�or da paz. B. O estado é um elemento ultrapassado da sociedade internacional, prestes a ser e�into. C. Ratzel vê o �tado como um prom�or da moralidade D. Para o autor, o �tado seria substituído pelas organizações internacionais. E. Para Ratzel o �tado, seria um prom�or de guerra, sempre interessado em expandir os seus domínios. Saiba mais O GRANDE ditador. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos. 1940. 124 min. SYRIANA. Dir. Stephen Gaghan. Estados Unidos. 2005. 126 min. DIAMANTE de sangue. Dir. Edward Zwick. Estados Unidos. 2006. 143 min. IMPÉRIO do Sol. Dir. Steven Spielberg. Estados Unidos. 1987. 154 min. SOLDADO anônimo. Dir. Sam Mendes. Estados Unidos. 2005. 125 min. A REVOLUÇÃO não será televisionada. Dir. Kim Bartley e Donnacha O’Briain. Irlanda. 2003. 74 min. Geopolítica, Regionalização e Integração 23 UMA VERDADE inconveniente. Dir. Davis Guggenheim. Estados Unidos. 2006. 100 min. TERRA. Dir. Alastair Fothergill e Mark Linfield. Alemanha/Estados Unidos/ Inglaterra. 2009. 96 min.