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1 ATENÇÃO DOMICILIAR NO BRASIL 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2 2. HOME CARE 4 3. ASSISTÊNCIA DOMICILIAR EM HOME CARE 5 3.1 Atenção Domiciliar na Atenção Básica 9 3.2 Princípios da Atenção Domiciliar 11 3.3 Abordagem Integral à Família 11 4. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E DESLIGAMENTO NA ATENÇÃO DOMICILIAR 15 5. ESTRUTURAÇÃO E PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS PARA O ATENDIMENTO DOMICILIAR 19 5.1 Uma Visão Global dos Conceitos 27 CONCLUSÃO 30 REFERÊNCIAS 31 2 1. INTRODUÇÃO A atenção à saúde abrange dois modelos: o hospitalar e o domiciliar, sendo este último denominado de atenção domiciliar à saúde. O modelo domiciliar (re)surge em função das diversas alterações que a sociedade brasileira sofreu no decorrer dos anos como um modelo para o desenvolvimento de mudanças sociais e no sistema de saúde. Dentre estas alterações, Duarte e Diogo (2000) apontam: a transição demográfica, que demonstra um envelhecimento populacional cada vez mais acentuado; a mudança no perfil epidemiológico da população, no qual se evidencia um aumento das doenças crônico-não transmissíveis; os custos do sistema hospitalar cada vez mais elevado; o desenvolvimento de equipamentos tecnológicos, que têm possibilitado maior taxa de sobrevida das pessoas; o aumento da procura por cuidados de saúde; o interesse dos profissionais de saúde por novas áreas de atuação; a exigência por maior privacidade, individualização e humanização da assistência à saúde, além da necessidade de maior integração da equipe profissional com o cliente e sua família. Este modelo de atenção à saúde tem sido amplamente difundido no mundo e tem como pontos fundamentais o cliente, a família, o contexto domiciliar, o cuidador e a equipe multiprofissional. 3 Por se tratar de um modelo recente no Brasil, há muitos termos utilizados para sua designação, como: "home healthcare", "domiciliarycare", atendimento domiciliar à saúde, atenção domiciliar, enfermagem domiciliar, visita domiciliária, "nursing home", "nursingcare", "home carenursing", enfermagem residencial, cuidado domiciliar, internação domiciliar, cuidados médicos domiciliares, cuidados de saúde no domicílio, atendimentos médicos domiciliares e outros tantos. Muitos são utilizados como sinônimos, devido à tradução e à interpretação dos vocábulos "home care" ou "home healthcare" em português. Todavia, a oferta de serviços no domicílio, bem como a realização de atividades neste contexto, tem diferenças significativas. Embora a atenção domiciliar à saúde esteja em processo de ascensão nas práticas de saúde, ela ainda não está completamente inserida nos sistemas de atendimento à saúde e na formação e/ou capacitação dos profissionais de saúde. Comporta diferentes modalidades que são importantes para sua realização; para este texto serão consideradas as seguintes: a atenção, o atendimento, a internação e a visita domiciliares. Por terem perspectivas e serem atividades diferenciadas e concomitantemente complementares, estes conceitos devem ser diferenciados pelos profissionais que os executam, seja para que haja uma melhor articulação da teoria com a prática, para a adequação da prática profissional daqueles que já atuam na atenção à saúde domiciliar, seja para a formação dos novos profissionais de saúde. Nesse cenário, o governo federal, em novembro de 2011, implantou o Programa Melhor emCasa, que tem como objetivo ampliar o cuidadoprestado ao usuário no domicílio. O programaassegura benefícios como ampliação da assistência em saúde no Sistema Único de Saúde (SUS),atendimento humanizado ao paciente em seu lare perto dos seus familiares, redução do risco decontaminação e infecção de pacientes em pós--cirúrgico, diminuição da ocupação hospitalar etambém economia de 80% dos custos por paciente, quando comparado o custo no internamentohospitalar ao domiciliar (BRASIL, 2011).A AD pressupõe trabalhar com variáveisnão controladas permeadas pelos interesses dopaciente e de seus familiares. Nesse sentido, agestão em AD envolve grande complexidade,porque a atuação da equipe é sempre na casa dooutro. O profissional pede permissão para atuarno domicílio, o que destaca o poder e a autoridade do paciente e de sua família (DAL BEN, 2011). Por ser uma área presente no sistema desaúde e estar em expansão, a AD necessita daatuação de gestores em saúde, que são profissionais que têm 4 competências, como comunicação, tomada de decisão, negociação, trabalho emequipe, relacionamento interpessoal, flexibilidade, empreendedorismo, criatividade, visão sistêmica, planejamento e organização (FURUKAWA;CUNHA, 2011). As ações de gestão do cuidadoem AD referem-se a atos de cuidado direto eindireto, de caráter instrumental e expressivo,realizados por profissionais de saúde de formaintegrada e articulada, cujo propósito é oferecerum cuidado sistematizado e de qualidade aosusuários dos serviços de saúde (CHRISTOVAM;PORTO; OLIVEIRA, 2012). Assim, é necessário todo um processo administrativo em torno da AD para que o gestor dessaatividade obtenha sucesso, atendendo, principalmente, a regulamentação da AD. Todo este processo administrativo abrange: o fluxo de prestaçãode serviços que engloba a sua solicitação; a avaliação do paciente e seu grau de dependência; aavaliação das condições do ambiente; a classificação dos pacientes na modalidade de cuidadoadequada; a geração de orçamentos de custos; aavaliação das condições de recursos humanos; e,por fim, intervenção no domicílio até a alta dessecuidado (DAL BEN, 2011). Na AD, os gestores buscam modelos de gestão que promovam a participação das equipesnos resultados dos trabalhos desenvolvidos comfoco no atendimento das necessidades do paciente, com custos adequados e envolvimentoda família. Para isso, os processos precisam serclaros e bem desenhados, permitindo ao gestor autilização de ferramentas adequadas e avaliaçãoconstante (BERNARDINI; NISHIDA, 2011). Nesse sentido, este artigo tem o objetivo de descrever como a assistência domiciliar é vivenciadapelos gestores em saúde, visando desenvolver ummodelo teórico que contemple essa experiência. 2. HOME CARE 5 Figura 1 É a assistência médica ou de suporte prestada por um cuidador profissional na casa individual onde o paciente ou cliente está morando, em oposição a assistência prestada em acomodações em grupo, como clínicas ou lares de idosos. O atendimento home caretambém é conhecido como atendimento domiciliar, atendimento social ou atendimento domiciliar. Compreende um leque de atividades, destacando-se o auxílio paramédico por enfermeiros e a assistência na vida quotidiana a doentes, deficientes ou idosos. Os clientes que recebem cuidados de saúde em casa podem incorrer em custos mais baixos, receber cuidados iguais a melhores e ter maior satisfação em comparação com outros locais. Ocasionalmente, cuidados paliativos e de fim de vida podem ser fornecidos por meio de enfermagem domiciliar. Enfermeiros de saúde domiciliar podem ajudar os pacientes com atividades de vida diária (AVDs), como banho, ir ao banheiro e alimentação, ou eles dirigem e supervisionam o auxiliar na prestação de cuidados de AVD. Os enfermeiros monitoram os sinais vitais, cumprem as ordens do médico, coletam sangue, documentam as tarefas que realizam e o estado de saúde do paciente e comunicam- se entre o paciente, a família e o médico. Algumas enfermeiras viajam para várias casas por dia e fornecem visitas curtas a vários pacientes, enquanto outras podem ficar com um paciente por um determinado período por dia. 3. ASSISTÊNCIA DOMICILIAR EM HOME CARE 6 A subcategoria “Gerenciando recursos humanos” mostra que os gestores emsaúde, aoatuarem na AD, deparam-se com a necessidadede administrar os recursos humanos. Essa subcategoria revelou o trabalho com umaequipemultiprofissional formada, muitas vezes, porprofissionais autônomos. Englobou ainda a maneira como os gestoresorganizam o processo de trabalho, que inclui autilização da comunicação em reuniões comoferramenta para melhoria do serviço, a realização da educação permanente, o acompanhamento do desenvolvimento do profissional pormeio de avaliação, assim como a valorização dotrabalhador para atuar na AD. Destacou-se a necessidade de profissionaiscomunicativos, para atuar na AD, que tenhamhabilidade e sensibilidade de se aproximar dopaciente, família e cuidadores e sejam comprometidos em criar um vínculo de confiança. “[...] porque na assistência domiciliar vocêacaba criando um vínculo com a família [...]dando um amparo para esta família, segurando as questões técnicas e também as emocionais [...] Você tem que ter um equilíbrioemocional para falar com o marido, como filho, e isso exige muito do profissional. Então é difícil encontrar profissionais comprometidos, que tenham essasensibilidade.” (Entrevista). Os gestores afirmam que, em geral, os profissionais atuantes na AD sãoenfermeiros, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e cirurgiões dentistas. Podem ser participantes da equipe de saúde que atua no domicílio – oeducador físico, o terapeuta ocupacional e ofarmacêutico –, porém estão mais presentes naatenção básica. Assim, os gestores refletem a importância das atividades multiprofissionais, buscando estratégias para que elas de fato ocorrame viabilizem a realização de uma AD apropriada. Ao gerenciar recursos humanos, surge a necessidade de realização de reuniões semanais ouquinzenais com os profissionais que compõema equipe para discutir os atendimentos domiciliares prestados aos pacientes sob cuidado eas estratégias de atuação. Trata-se de uma açãoconsiderada relevante, por permitir produtivastrocas de informações entre os profissionais. Outras ações envolvem as atividades de educação permanente necessáriaspara o aprimoramento do cuidado realizado, com consequênciaspara todos os envolvidos no processo de trabalho. Foram mencionadas ações 7 educativasrelacionadas às técnicas que sofrem constantesatualizações, como, por exemplo, curativos. Faz-se necessária nesse processo a supervisãoda equipe e do trabalho dos profissionais. Emgeral, a avaliação dos técnicos de enfermagemé feita pelo enfermeiro responsável pela equipe,sendo repassada ao gestor; em relação às outrascategorias profissionais, o próprio gestor faz asupervisão e a avaliação. Esse acompanhamentodo profissional permite valorizar a atuação profissional no domicílio. A subcategoria “Gerenciando resíduos” explicita a organização do descarte dos resíduos gerados nos domicílios dos pacientes. A instituiçãoprestadora da AD deve ter um plano de gerenciamento de resíduos que possa ser executado. Há casos em que o lixo gerado no domicílio écoletado por empresas contratadas, que passamnas residências dos usuários em dia específico. Em outras situações, o próprio funcionário trazo resíduo para a instituição, que tem local apropriado para descarte e armazenamento desselixo, e uma empresa contratada realiza a coleta. No entanto, os gestores relatam que os profissionais estão expostos a riscos ao retornaremdo domicílio com o lixo gerado até o local apropriado para descarte na instituição de saúde. Oserviço de coleta de lixo nos domicílios, feitopor empresas terceirizadas, tem um custo elevado que, muitas vezes, não permite ao pacientecontratá-lo. A categoria central relaciona-se com a condição causal do fenômeno, explicitada na categoria“Aproximando-se da gestão da AD” e suas duassubcategorias “Apropriando-se da AD” e “SendoCapacitada”. A subcategoria “Apropriando-se da AD” mostraque o maior contato com a assistência domiciliaracontece na graduação e é nesse momento quese apropriam das questões teóricas da AD. Paraos gestores, esse contato é apenas uma aproximação com o tema, ainda muito superficial, tendoem vista a real complexidade da modalidade emquestão. Ainda assim, os participantes afirmamque são poucos os cursos de pós-graduação voltados especificamente para a AD, principalmenteno município em apreço. A fragilidade na formação pode refletir em desconhecimento de novaslegislações específicas da AD, que passaram a vigorar recentemente. A subcategoria “Sendo capacitada” refere-seà capacitação dos gestores que revelam ter experiência profissional em decorrência da experiência acumulada na área da gestão, porém semexperiência específica em AD. Assim, as instituições 8 preocupam-se em capacitá-los, por meio detreinamentos, ao iniciarem suas atividades em ADaprendemos todas as ferramentasutilizadas na ESF, aquela questão de comotratar o paciente, as redes sociais dele, família e tudo mais. As estratégias do fenômeno foram expressasna categoria “Gerenciando o serviço”. A atuaçãona AD envolve o planejamento, a organização doatendimento domiciliar, a implementação do serviço e sua avaliação, além de uma aproximação comoutros serviços de saúde, e a utilização de redesde apoio. Os gestores também referem ser avaliados em relação à sua atuação na gestão em AD. O processo de planejamento do cuidadoocorre pela caracterização do perfil da clientela atendida no domicílio. Todos os participantescomentaram que é constituído, principalmente,por pessoas idosas com doenças crônicas, sequelados de acidente vascular cerebral (AVC)e acidentes por armas de fogo. Portadores detranstornos mentais e crianças também compõem o atendimento, porém em menor escala. A organização do serviço ocorre pela divisãodos profissionais de saúde por áreas ou regiõesdo município, tendo os profissionais de enfermagem a supervisão de um enfermeiro. A implementação da AD ocorre desde a solicitação do cuidado até a alta do paciente da AD.A solicitação do serviço pode ocorrer por meiodo próprio usuário, da sua família, do plano desaúde, do contato de outro serviço de saúde,de um profissional de saúde ou até mesmo pormeio do Ministério Público. Após a solicitação do serviço, o enfermeirofaz a primeira visita domiciliar para avaliar asnecessidades de saúde do paciente e o ambienteem que ele se encontra. Quando o ambiente nãosuporta esse cuidado e quando não se tem umcuidador presente, dificilmente o serviço aceita o paciente. Os participantes da pesquisa nãomencionaram a realização de visitas ao domicílioenquanto os pacientes ainda estão internados. Em seguida à identificação das necessidades,é elaborado um plano de cuidados com prescrições de profissionais, medicamentos, dietas, materiais e equipamentos. No caso da rede privada,esse plano de cuidados gera um orçamento decustos, que é repassado ao paciente ou ao planode saúde para aprovação e início do processo. A avaliação do trabalho realizado pode ocorrer de duas formas: a discussão entre os membrosda equipe sobre os atendimentos domiciliaresrealizados e a supervisão dos pacientes que utilizam o serviço de AD. Ao empreenderem 9 asdiscussões, os gestores conseguem unir grandeparte da equipe e, assim, têm uma percepçãomaior sobre como está se desenvolvendo o serviço e os resultados obtidos. 3.1 Atenção Domiciliar na Atenção Básica Constitui um recorte da atenção domiciliar que ocorre no âmbito da atenção básica, inserindo-se no processode trabalho das equipes de saúde. Na atenção básica, várias ações são realizadas no domicílio, como o cadastramento, busca ativa, açõesde vigilância e de educação em saúde. Cabe destacar a diferença desses tipos de ações, quando realizadasisoladamente, daquelas destinadas ao cuidado aos pacientes com impossibilidade/dificuldade de locomoção atéa Unidade Básica de Saúde (UBS), mas que apresentam agravo que demande acompanhamento permanente oupor período limitado. É desse recorte de cuidados no domicílio de que trata este material e que a PortariaGM/MS nº 2.527, de 27 deoutubro de 2011, classifica como modalidade AD1 de atenção domiciliar, isto é, aquela que, pelas característicasdo paciente (gravidade e equipamentos de que necessita), deve ser realizada pela atenção básica (equipes deatenção básica – eAB e Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF), com apoio eventual dos demais pontos deatenção, inclusive, os Serviços de Atenção Domiciliar (compostos por equipes especializadas – EMAD e EMAP –cujo público-alvo é somente os pacientes em AD). Contempla as seguintes características: • Ações sistematizadas, articuladas e regulares; • Pauta-se na integralidade das ações de promoção, recuperação e reabilitação em saúde; • Destina-se a responder às necessidades de saúde de determinado seguimento da população com perdas funcionais e dependência para a realização das atividades da vida diária; • Desenvolve-se por meio do trabalho em equipe, utilizando-se de tecnologias de alta complexidade(conhecimento) e baixa densidade (equipamento). Na atenção domiciliar, a equipe deve respeitar o espaço do familiar, ser capaz de preservar os laços afetivos daspessoas e fortalecer a autoestima, ajudando a construir ambientes mais favoráveis à recuperação da saúde. Essaassistência prestada no 10 ambiente privado das relações sociais contribui para a humanização da atenção à saúde. A atenção domiciliar é a modalidade de maior amplitude dentre as quatro citadas. Ela é definida pela Brasil como um termo genérico, que envolve ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação, desenvolvidas em domicílio. As ações de saúde são realizadas no domicílio do paciente por uma equipe multiprofissional, a partir do diagnóstico da realidade em que o paciente está inserido, visando a promoção, manutenção e/ou restauração da saúde (Duarte; Diogo, 2000), portanto, é uma atividade que envolve não só os diferentes profissionais da área da saúde, como também o cliente e sua família, visando ao estabelecimento da saúde como um todo. Permite que os profissionais desenvolvam atividades de modo que o cliente perceba que a sua participação no processo saúde doença é de fundamental importância, pois é ele (o cliente) que poderá diminuir ou até mesmo eliminar os fatores que colocam em risco sua saúde, não bastando apenas à informação veiculada pelos profissionais. Mazza (2004) considera a atenção domiciliar à saúde como "um dos meios de se obter do indivíduo, da família e da comunidade sua participação no planejamento, [na] organização, [na] operação e [no] controle" dos cuidados primários em saúde, fazendo uso dos recursos locais disponíveis. Complementa-se que a atenção domiciliar envolve a prática de políticas econômicas, sociais e de saúde, para reduzir os riscos de os indivíduos adoecerem; a fiscalização e o planejamento dos programas de saúde; e a execução das atividades assistenciais, preventivas e educativas. Assim, abrange desde a promoção até a recuperação dos indivíduos acometidos por um agravo e que estão sediados em seus respectivos lares. Essa modalidade abrange todas as outras, isto é, o atendimento, a internação e a visita domiciliária, que possibilitam a realização e a implementação da atenção domiciliar, de modo que todas as ações que possam vir a influenciar o processo saúde doença das pessoas. Para o modelo americano, a atenção domiciliar à saúde pode ser compreendida como "home healthcare", sendo o cuidado à saúde proporcionado às pessoas no próprio domicílio de forma apropriada e de alta qualidade, com relação ao custo- 11 benefício compatível com a vida dos indivíduos, que devem manter sua autonomia, independência e melhor qualidade de vida (Word Health Organization, 1999). 3.2 Princípios da Atenção Domiciliar A atenção domiciliar potencializa o resgate dos princípios doutrinários do SUS (integralidade – universalidade– equidade) se assumida como prática centrada na pessoa enquanto sujeito do seu processo de saúde–doença. Para nortear a atenção domiciliar realizada na atenção básica, propõem-se os fundamentos descritos a seguir,que se estendem para as modalidades AD2 e AD3: 3.3 Abordagem Integral à Família Figura 2 Abordagem integral à pessoa em seu contexto socioeconômico e cultural, dentro de uma visão éticacompromissada com o respeito e a individualidade. Assistir com integralidade inclui, entre outras questões,conceber o homem como sujeito social capaz de traçar projetos próprios, intervindo dinamicamente nos rumosdo cotidiano. A assistência no domicílio deve conceber a família em seu espaço social privado e doméstico, respeitando omovimento e a complexidade das relações familiares. Ao profissional de saúde que se insere na dinâmica da vidafamiliar cabe 12 uma atitude de respeito e valorização das características peculiares daquele convívio humano. Aabordagem integral faz parte da assistência domiciliar por envolver múltiplos fatores no processo saúde–doençada família, influenciando as formas de cuidar. A construção de ambientes mais saudáveis para a pessoa em tratamento envolve, além da tecnologia médica,o reconhecimento das potencialidades terapêuticas presentes nas relações familiares. Os conflitos, as interaçõese as desagregações fazem parte do universo simbólico e particular da família, intervindo diretamente na saúde deseus membros. Assistir no domicílio é cuidar da saúde da família com integralidade e dinamicidade, reconstruindorelações e significados. Consentimento da Família, Participação do Usuário e Existência do Cuidador. A primeira condição para que ocorra a assistência domiciliar (AD) é o consentimento da família para aexistência do cuidador. A assistência prestada no domicílio não pode ser imposta, já que o contexto dasrelações familiares é sempre mais dinâmico que as ações desenvolvidas pelos profissionais, comprometendo aeficácia terapêutica proposta. Recomenda-se que toda família esteja ciente do processo de cuidar da pessoa assistida, comprometendo-se junto com a equipe na realização das atividades a serem desenvolvidas. É de sumaimportância a formalização da assinatura do termo de consentimento informado por parte da família e/ou dousuário (se consciente) ou de seu representante legal. Trabalho em Equipe e Interdisciplinaridade Figura 3 13 Para impactar sobre os múltiplos fatores que interferem no processo saúde– doença, é importante quea assistência domiciliar esteja pautada em uma equipe multiprofissional e com prática interdisciplinar. Ainterdisciplinaridade pressupõe, além das interfaces disciplinares tradicionais, a possibilidade da prática de umprofissional se reconstruir na prática do outro, transformando ambas na intervenção do contexto em que estãoinseridas. Assim, para lidar com a dinâmica da vida social das famílias assistidas e da própria comunidade, além deprocedimentos tecnológicos específicos da área da saúde, a valorização dos diversos saberes e práticas da equipecontribui para uma abordagem mais integral e resolutiva. Processo de Trabalho em Equipe A atenção domiciliar no plano da atenção básica faz parte do processo de trabalho das equipes e prima pela interdisciplinaridade. Cada caso deve ser discutido e planejado pela equipe, considerando as especificidades técnicas, socioculturais e ações entre equipe, família e comunidade. O primeiro passo é a identificação dos pacientes elegíveis para a AD na territorialização. O segundo passo é classificar a complexidade desses pacientes, identificando em qual modalidade de AD se enquadram (AD1/AD2/AD3). Alguns pacientes se enquadrarão na modalidade AD1, sendo possível identificar elegíveis para AD2 e até 14 para AD3. Caso existam pacientes da AD2 e AD3, a equipe de atenção básica deverá acionar a EMAD de sua área, caso exista, para elaboração compartilhadado projeto terapêutico. Se não existir Serviço de Atenção Domiciliar no município, a equipe deverá elaborar o projeto terapêutico, acionando o NASF e/ ou equipes dos serviços especializados, quando necessário, para complementar o cuidado prestado. A capacidade da equipe de atenção básica de cuidar dos pacientes de AD2 e AD3, sobretudo de AD3, quando não houver SAD no município, deve ser avaliada, além de precisar ser discutido se o paciente se beneficiaria de outra modalidade de cuidado, como a internação hospitalar. Importante estar atento para o fato de que o mesmo paciente pode, a depender da evolução do quadro clínico, “migrar” de uma modalidade para outra. O terceiro passo é elaborar um plano de cuidados/projeto terapêutico (ou Projeto Terapêutico Singular – PTS, no caso de casos mais complexos) para cada paciente, contendo as condutas propostas, os serviços ou equipamentos que precisam ser acionados, a periodicidade de visitas, a previsão de tempo de permanência (geralmente os pacientes em AD1 são crônicos, tendo necessidade de cuidados contínuos), o papel de cada membro da equipe e o profissional de referência (responsável por coordenar as ações propostas para o paciente). Estímulo a Redes de Solidariedade Figura 4 A participação do usuário em seu processo saúde–doença faz parte da conquista da saúde como direitode cidadania. Trata-se, pois, de investir no 15 empoderamento de sujeitos sociais, potencializando a reordenaçãodas relações de poder, tornando-as mais democráticas e inclusivas. O estímulo à estruturação de redes desolidariedade em defesa da vida, articulando a participação local da sociedade civil organizada (ONGs,movimentos sociais, grupos de voluntários, associações, igrejas etc.), potencializa a ação da coletividade nabusca e consolidação da cidadania. A assistência domiciliar é uma modalidade de atenção à saúde integrada aos projetos sociais e políticos dasociedade, devendo estar conectada aos movimentos de lutas por melhorias na área da saúde. No âmbito de atuação local, a equipe de atenção básica deve identificar parcerias na comunidade (seja comigrejas, associações de bairro, clubes, ONGs, entre outros) que viabilizem e potencializem a assistência prestadano domicílio ao usuário/família. 4. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E DESLIGAMENTO NA ATENÇÃO DOMICILIAR Caracterização da Modalidade AD1 de Atenção Domiciliar 16 Nesta modalidade, estarão os usuários que possuam problemas de saúde controlados/compensados comalgum grau de dependência para as atividades da vida diária (não podendo se deslocar até a unidade de saúde). Os idosos que moram sozinhos devem ter sua condição avaliação pela equipe, considerando ser um relevanteproblema de saúde pública. Essa modalidade tem as seguintes características: • Permite maior espaçamento entre as visitas; • Não necessita de procedimentos e técnicas de maior complexidade; • Não necessita de atendimento médico frequente; • Possui problemas de saúde controlados/compensados. Inclusão • Ter tido alta da AD2/AD3, mantendo interface entre as equipes de atenção domiciliar e as da atençãobásica; • Ter, no domicílio, infraestrutura física compatível com a realização da AD; nos casos em que ascondições físicas precárias implicam aumento de riscos para a saúde do usuário, elas deverão seravaliadas pela equipe multidisciplinar; • Ter o consentimento informado do usuário (se consciente) e/ou de seu representante legal; • Estar impossibilitado de se deslocar até o serviço de saúde; • Necessitar de cuidados numa frequência de visitas e atividades de competência da atenção básica; • Não se enquadrar nos critérios de inclusão nas modalidades AD2 e AD3. Desligamento • Mudança de área de abrangência, devendo ser transferido para a equipe responsável pela área donovo domicílio; • Impossibilidade da permanência do cuidador no domicílio; • Não aceitação do acompanhamento; • Recuperação das condições de deslocamento até a unidade de saúde; • Piora clínica que justifique AD2/AD3 ou internação hospitalar; • Cura; • Óbito. Pactuação com a Família 17 A atenção domiciliar pressupõe a participação ativa do usuário e familiares no processo de cuidar da pessoaassistida. Para tanto, responsabilidades devem ser pactuadas entre todos os envolvidos para que os objetivosterapêuticos sejam alcançados. Recomenda-se reunião prévia da equipe com todos os membros da família envolvidos na assistência domiciliarpara planejamento conjunto das ações a serem desenvolvidas no domicílio. Essas reuniões devem acontecerperiodicamente, para avaliações e replanejamentos, enquanto durar a assistência domiciliar. Atribuições da Equipe de Saúde no Domicílio na Atenção Básica • Respeitar os princípios da assistência domiciliar, buscando estratégias para aprimorá-los; • Compreender o indivíduo como sujeito do processo de promoção, manutenção e recuperação de sua saúde e visualizá-lo como agente corresponsável pelo processo de equilíbrio entre a relaçãosaúde–doença; • Coordenar, participar e/ou nuclear grupos de educação para a saúde; • Fornecer esclarecimentos e orientações à família; • Monitorizar o estado de saúde do usuário, facilitando a comunicação entre família e equipe; • Desenvolver grupos de suporte com os cuidadores; • Realizar reuniões com usuário e família para planejamento e avaliação da AD; • Otimizar a realização do plano assistencial; • Fazer abordagem familiar, considerando o contexto socioeconômico e cultural em que a família seinsere; • Garantir o registro no prontuário domiciliar e da família na unidade de saúde; • Orientar a família sobre sinais de gravidade e condutas a serem adotadas; • Dar apoio à família tanto para o desligamento após a alta da AD, quanto para o caso de óbito dosusuários; • Avaliar a condição e infraestrutura física do domicílio; • Acompanhar o usuário conforme plano de assistência traçado pela equipe e família; • Pactuar concordância da família para AD; 18 • Buscar garantir assistência integral, resolutiva e livre de danos ao usuário da AD; • Trabalhar as relações familiares na busca pela harmonia, otimizando ações para um ambientefamiliar terapêutico; • Solicitar avaliação da equipe de referência, após discussão de caso; • Dar apoio emocional; • Orientar cuidados de higiene geral com o corpo, alimentos, ambiente e água. O Home Care e o uso de tecnologia e dispositivos médicos Nos primórdios da medicina, a tecnologia que assistia aos médicos e profissionais de saúde eracomposta de equipamentos básicos. Com o desenvolvimento da engenharia os equipamentos médicosse tornaram maiores, mais complexos e necessitavam de condições especiais para seu funcionamentonos hospitais. Embora no primeiro momento estes equipamentos foram desenhados para utilização noshospitais, posteriormente com o desenvolvimento do serviço de HC tiveram que ser adaptados para seuuso na casa dos pacientes (Anon, 1988; Anon, 2000; Subbarayappa, 2001). Este novo procedimento fezcom que os riscos intrínsecos de utilização destes equipamentos nos hospitais fossem transferidos paraum novo ambiente para o qual não foram projetados. Nos últimos anos os fabricantes estão produzindoequipamentos especialmente desenhados para home care e as autoridades sanitárias estãoregulamentando a fabricação e o uso deste tipo de equipamentos (ISO, 2000). Fontes de risco em Home Care As fontes de risco em HC são diferentes que nos hospitais e precisam de um gerenciamentoespecífico e singular (Mestas& Calil, 2008). A GR em HC é singular, particular e único para cadaServiço de Home Care (SHC), porque cada um deles tem características e objetivos singulares. a. Fazer uma lista das possíveis fontes e fatores de riscos que podem apresentar-se na organizaçãoestudada.b. Classificar as fontes e fatores de risco nas categorias a seguir5 (Mestas&Calil, 2008): − Fontes e fatores de riscos decorrentes de fatores humanos. − Fontes e fatores de riscos biológicos. − Fontes e fatores de riscos decorrentes da falha funcional de dispositivos biomédicos. 19 − Fontes e fatores de riscos decorrentes da falha de uso de dispositivos biomédicos. − Fontes e fatores de riscos decorrentes da influência do ambiente externo à casa dopaciente de home care. − Fontes e fatores de riscos decorrentes do ambiente interno da casa do paciente. − Risco inaceitável ou intolerável (preenchida em vermelho com valoração de ≥8): é umnível de risco não aceito (pela organização ou sociedade) por ser tão alto que requer açãosignificante e urgente para reduzir sua magnitude. − Risco tolerável (preenchida em amarelo com valoração de ≥4 a <8): estes riscos estão natransição entre o os riscos inaceitáveis e aceitáveis, esta zona é conhecida como ALARP (doinglês “As Low As isReasonablyPracticable”) por que o risco deve ser mantido "tão baixoquanto razoavelmente praticável", neste tipo de riscos por um lado, esforços devem serfeitos para reduzir o risco, por outro lado os benefícios compensam o risco. − Risco aceitável (preenchida em verde com valoração <4): é um nível de risco baixo, nestecaso não tem necessidade de controle de risco ou a necessidade é baixa, mas este risco deveser gerenciado, monitorado e mantido embaixo desse nível. 5. ESTRUTURAÇÃO E PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS PARA O ATENDIMENTO DOMICILIAR Tabela 1 20 A estrutura da assistência domiciliar engloba um conjunto de componentes que iniciano hospital ou clínica e estende-se ao domicílio do paciente, família, cuidador, e equipe multiprofissional, onde cada local ou indivíduo desempenha uma função vital para que aconteça aassistência domiciliar de forma adequada e eficaz. O primeirocomponente é o hospital, onde o médico realiza a avaliação do pacientee, juntamente com o enfermeiro, realiza a prestação dos cuidados necessários. Cabe ao profissional médico decidir pela alta hospitalar após cura ou indicar a assistência domiciliar para opaciente. A AD traz benefícios também para o hospital, pois é devido a indicação desse tratamento que é disponibilizado leitos hospitalares, reduzindo custos com o paciente (MAEDA,2011). O segundo componente é a residência ou lar em que o paciente reside, podendo serem casa própria ou casas de apoio. No entanto, existem as exigências solicitadas para a execução da AD, pois o local deve ser adequado para guardar equipamentos, no caso da internaçãodomiciliar, guardar medicações e oferecer segurança tanto para o paciente quanto para os profissionais que vão executar os serviços da assistência domiciliar (MAEDA, 2011). O terceiro componente é o paciente que possui inúmeras necessidades a serem sanadas pela equipe multiprofissional, uma vez que, em muitos casos, grande parte do estado físico está comprometido, o que exige cuidados complexos. Outro aspecto relevante é o psicológico do paciente, que geralmente está em conflito, 21 tornando-se de suma importância desenvolver uma relação interpessoal com ele, ganhando sua confiança e o ajudando a enfrentar seusmedos, o que pode proporcionar uma melhora mais rápida do seu quadro clínico. O quarto fator abordado é a família, que segundo Silva et al (2014) deve dar suporte emocional, lazer e encorajar o paciente a aderir ao tratamento, sendo vista como porto seguro do paciente, auxiliando-o nas tomadas de decisões. O quinto componente é o cuidador que é obrigatório em casos de internação domiciliar. O mesmo pode ser um familiar ou uma pessoa contratada para executar as tarefas simplescom o paciente, como por exemplo: higienização, passear com o paciente, administrar medicação por via oral, etc. (MAEDA, 2011). O sexto componente é a equipe multiprofissional que é formada por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, entre outros. Aparticipação ativa desses profissionais é de suma importância para recuperação do paciente,contudo somente após a avaliação e classificação do paciente é possível decidir o nível decomplexidade mais adequado e designar os profissionais que devem atendê-lo. É imprescindível que a equipe multiprofissional possua uma relação interpessoal para melhor tratamento docliente, sendo, também, comprometidos com a ética, almejando sempre o bem-estar dopaciente CAPACIDADE E INCAPACIDADE FUNCIONAL: IDENTIFICAÇÃO DANECESSIDADE DA ASSISTÊNCIA DOMICILIAR E SEU NÍVEL DECUIDADO A capacidade funcional consiste na habilidade e competência do ser humano para arealização de atividades diárias básicas que são essenciais para nossa vida, sem precisar daajuda de terceiros. Atividades essas que podem variar desde a higienização pessoal, preparação e ingestão de alimentos, limpeza do ambiente em que vive, entre outros (DIAS et al,2010). Ao longo do processo natural do envelhecimento, essas capacidades vão sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas, mas conforme os anos vão passando, as mesmas vão sendo gradativamente reduzidas, recebendo o nome de incapacidade funcional, quando não conseguimosmais desempenhar essas atividades básicas sozinhos, necessitando, assim, da ajuda de outrapessoa. A capacidade funcional, em bom estado, pode estar diretamente relacionada ao estado de saúde do paciente. Uma pessoa saudável consegue manter suas 22 habilidades físicas ementais por mais tempo, assim como pessoas que apresentam patologias podem perder umpouco de sua autonomia (DIAS et al, 2010). Para a contratação dos serviços de Enfermagem na assistência domiciliar e imprescindível que o profissional enfermeiro, junto a família do indivíduo, analise o grau de dependência desse paciente para então optar pelo nível de atendimento mais adequado ao caso, na intenção de suprir necessidades do paciente em vários aspectos visando seu bem-estar e manutenção da sua saúde. AÇÕES INTERACIONAIS 1. Relação de ajuda/interação 2. Apoio afetivo mental ou psicológico 3. Comunicação 4. Relação de confiança 5. Negociação 6. Respeito 7. Diálogo e escuta 2. AÇÕES EDUCACIONAIS 1. Orientações a familiares, cuidadores e/ou pacientes. 2. Desenvolvimento de estratégia de ensino. 3. Educação sobre recursos sociais. 4. Preparo de paciente, família e rede de vizinhos e outros setores para prevenção de riscos emcasos de emergências. 5. Orientações a outros enfermeiros. 3. AÇÕES ASSISTENCIAIS 1. Gestão ou infusão de medicamentos 2. Cuidado agudo no Domicílio 3. Manejo clínico de feridas 4. Gestão da dor 5. Cuidados na nutrição parenteral, diálise peritoneal e oxigenoterapia 6. Visita domiciliar 7. Avaliação de riscos, prevenção e complicações 23 8. Procedimentos técnicos: avaliação física, higiene pessoal, realização de enema, verificaçãode sinais vitais, cuidados de decúbito, exercícios para deambulação, atendimentos em casos deemergência, sondagens vesicais, sondagens gástricas e enterais, entre outros procedimentosprivativos. AÇÕES ADMINISTRATIVAS 1. Supervisão clínica e administrativa 2. Planejamento e organização das visitas domiciliares 3. Coordenação do cuidado 4. Gestão do caso. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL Quanto a proteção ao profissional e ao paciente, observar a Norma Regulamentadorada NR - 32, com a finalidade de minimizar os riscos à saúde da equipe de Enfermagem, principalmente, no que se refere aos EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL(EPI), vestimentas e adornos. O profissional de Enfermagem deverá conhecer previamente o REGIMENTO INTERNO próprio, adotado pelas Home Care e Cooperativas, neles devem abordar questões comoescala, regime de plantão, carga horária semanal, entre outros aspectos de trabalho que, porsuavez, deve ser aceito pelo profissional. Sendo assim, o profissional deve conversar com responsável da instituição sobre a escala do serviço de enfermagem. Atendimento Domiciliar Este termo é utilizado por alguns autores para designar atividades nomeadas como assistência domiciliar ou, por outros autores, como cuidado domiciliar. Assim, considera-se esses três termos sinônimos e representantes de uma mesma modalidade da atenção domiciliar à saúde. Segundo a Anvisa (Brasil, 2006), assistência domiciliar (ou atendimento) é um conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas, desenvolvidas em domicílio. Podemos compreender essa expressão como "home care" em outros países. No sistema de saúde canadense é a provisão de uma disposição de serviços de saúde e sociais designados a dar suporte aos pacientes em suas próprias casas (Wealth 24 Canada, 1997). O objetivo é permitir que indivíduos que necessitem de cuidados para circunstâncias agudas ou crônicas de saúde recebam o tratamento da alta qualidade no domicílio ou na comunidade, ou facilidades a longo prazo do cuidado, sendo que a sustentação ou cuidado para os amigos e a família, que fornecem o cuidado para seus familiares doentes é também importante. Na Coréia o "home care" esta baseado em uma perspectiva do setor público de saúde e as ações de saúde no domicílio junto à família e à comunidade se consolidam para pacientes com doenças crônicas e de longo tratamento, que estejam sem hospitalização (Ryu, an, Koabyashi, 2004). Melies (1997) sugere que o cuidado domiciliar – "home care" – seja visto como um conceito relacionado ao fenômeno de "home care", que pode ser compreendido como as atividades que representam o todo das atividades de cuidado, desde as de prevenção primária até os cuidados paliativos para o fim da vida. Assim, representam um extenso campo de atividades de cuidado. O cuidado dos profissionais de saúde para a pessoa em sua própria casa, com o objetivo final de bem-estar, além de contribuir para a qualidade de vida e para o funcionamento do estado de saúde, substitui o cuidado hospitalar, esta é uma compreensão do sistema de saúde sueco. (Thomé, Dykes e Hallberg, 2003). O atendimento domiciliar representa uma estratégia de atenção à saúde, que engloba mais do que o fornecimento de um tratamento padrão. É um método aplicado ao cliente com o objetivo de enfatizar sua autonomia e realçar suas habilidades em seu próprio ambiente – o domicílio (Duarte e Diogo, 2000). Ele envolve ações menos complexas, multiprofissionais ou não, que podem ser comparadas a um "consultório em casa" (Tavolari e col., 2000). Segundo Paskulin e Dias (2002), o atendimento domiciliar pode propiciar um contato mais estreito dos profissionais de saúde com o paciente e seus familiares em seu próprio meio, podendo este momento ser útil para uma avaliação das condições que o cercam, por vezes, de grande importância para o sucesso do acompanhamento. Compreende-se que o atendimento domiciliar envolve a realização de ações educativas, orientação, demonstração de procedimentos técnicos a serem delegados ao cliente ou ao seu cuidador, bem como a execução destes procedimentos pela equipe multiprofissional no domicílio do cliente. O atendimento domiciliar é, portanto, um conjunto de ações que busca a prevenção de um agravo à saúde, a sua manutenção por meio de elementos que 25 fortaleçam os fatores benéficos ao indivíduo e, concomitantemente, a recuperação do cliente já acometido por uma doença ou sequela. Evidencia-se com isso que o atendimento domiciliar compreende todas as ações, sejam elas educativas ou assistenciais, desenvolvidas pelos profissionais de saúde no domicílio do cliente, direcionadas a ele próprio e/ou a seus familiares. Desse modo, abrange tanto atividades simples como as mais complexas, incluindo, assim, as modalidades visita e internação domiciliar. Internação Domiciliar A internação domiciliar é uma atividade continuada, com oferta de tecnologia e de recursos humanos, equipamentos, materiais e medicamentos, para pacientes mais em estados mais complexos, que demandam assistência semelhante à oferecida em ambiente hospitalar (Ribeiro, 2004). Para Lacerda (2000), a internação domicilia é a prestação de cuidados sistematizados de forma integral e contínua no domicílio, com supervisão e ação da equipe de saúde específica, personalizada, centrada na realidade do cliente, envolvendo a família e, podendo ou não, utilizar equipamentos e materiais. A autora pontua ainda que, nessa modalidade, o cliente recebe cuidados e orientações sobre várias ações, pois está com o estado de saúde alterado, precisando de acompanhamento profissional. O uso da palavra internação requer cautela, pois pode incorrer em apropriação da terminologia e da compreensão utilizada em instituições hospitalares, não considerando a especificidade que o domicílio apresenta (Lacerda, 2000). A internação domiciliar, segundo Tavolari, Fernandes e Medina (2000), refere- se ao cuidado intensivo, contínuo e multiprofissional, desenvolvido em casa. Requer aparato tecnológico semelhante ao existente na estrutura hospitalar, pois o cuidado é direcionado a doentes com complexidade moderada ou alta, no entanto, esses recursos tecnológicos são solicitados de acordo com a necessidade do cliente. Dal Ben (2001) afirma que nesta modalidade o acompanhamento contínuo, ou seja, diário e até, às vezes, ininterrupto, pode ser de 24, 12, 8 ou 6 horas de assistência de enfermagem. A autora refere ainda que "é fundamental o suporte contínuo com uma central de atendimento para solução de emergência, durante 24 26 horas, com médico e enfermeiro disponíveis para orientar e atender às necessidades do paciente". A internação domiciliar, portanto, é uma modalidade que tem se revelado uma opção segura e eficaz, direcionada a pacientes portadores de doenças crônicas ou agudas (Freitas e col., 2000). Está adquirindo cada vez mais importância nas distintas organizações sanitárias e sociais, acompanhada por estudos que prevêem um aumento dos serviços de atendimento domiciliar, assinalando que diferentes setores colocam a internação domiciliar como alternativa viável e promissora (Lacerda, 1999). Na França, a internação domiciliar é uma alternativa assistencial do setor de saúde que consiste em um modelo organizado capaz de dispensar um conjunto de cuidados e atenção de médicos, enfermeiras, tanto em qualidade como em quantidade, para pacientes em seu domicílio, que não precisam da infra-estrutura hospitalar, mas necessitam de vigilância ativa e assistência completa (Nogueira, e col., 2000). Para Cotta (2001), é importante salientar que a internação domiciliar deve ter caráter transitório e que a equipe de saúde que atende o paciente no domicílio esteja dotada de meios tecnológicos necessários e que visitem regularmente a residência do paciente para fazer o diagnóstico e prover o tratamento e os cuidados. Em um documento preliminar do Ministério de Saúde brasileiro sobre as diretrizes para a atenção domiciliar no sistema único de saúde (Brasil, 2004), há as seguintes ações que podem ser realizadas pela internação domiciliar: procedimentos terapêuticos, educação sanitária, cuidados paliativos e visitas de monitoramento, pautando-se pelo cuidado integral, por ações inter- e transdisciplinares, devendo ser consideradas as condições locais, as questões habitacionais, sociais, culturais, a formação de equipes, a rede básica e a decisão do gestor local de saúde. Visita Domiciliar O conceito de visita domiciliar parece ser o mais difundido no sistema de saúde brasileiro e nas práticas de saúde na comunidade. Ribeiro (2004) o considera um 27 contato pontual de profissionais de saúde com as populações de risco, enfermos e seus familiares paraa coleta de informações e/ou orientações. Na visita domiciliar são desenvolvidas ações de orientação, educação, levantamento de possíveis soluções de saúde, fornecimento de subsídios educativos, para que os indivíduos atendidos tenham condições de se tornar independentes (Mazza, 2004). As orientações realizadas dizem respeito a saneamento básico, cuidados com a saúde, uso de medicamentos, amamentação, controle de peso, ou qualquer coisa que diga respeito àquele indivíduo, à família e à comunidade em que vivem (Jacob, 2001). Segundo Lacerda (1999), a visita é realizada pelos profissionais de saúde e/ou equipe na residência do cliente, com o objetivo de avaliar as demandas exigidas por ele e seus familiares, bem como o ambiente onde vivem, visando estabelecer um plano assistencial, geralmente programado com objetivo definido. Ela pode ser utilizada, ainda, como atividade de subsidio de intervenção no processo saúdedoença de indivíduos ou o planejamento de ações visando à promoção da saúde coletiva. Deve compreender ações sistematizadas, que se iniciam antes da visita e continuam após ela. (Freitas e col., 2000). Conclui-se, portanto, que a visita domiciliar é uma forma de assistência domiciliar à saúde, que dá subsídios para a execução dos demais conceitos desse modelo assistencial. É, por intermédio da visita, que os profissionais captam a realidade dos indivíduos assistidos, reconhecendo seus problemas e suas necessidades de saúde. 5.1 Uma Visão Global dos Conceitos A internação domiciliar é a mais específica modalidade da atenção domiciliar à saúde, envolvendo a presença contínua de profissionais no domicílio e o uso de 28 equipamentos e materiais. Ela é uma forma de operacionalizar o atendimento domiciliar, assim como utiliza a visita domiciliar como estratégia de realização desta atividade. A visita domiciliar possui um caráter mais pontual, de contato com os profissionais, que observam a realidade do paciente em seu domicílio, isto é, seu contexto domiciliar, seja de estrutura física e material ou de relações pessoais intra- familiares; em que também podem realizar orientações. O atendimento domiciliar é uma modalidade um pouco mais ampla, que envolve atividades profissionais realizadas diretamente no domicílio das pessoas, envolvendo o cliente e sua família. Conforme dito anteriormente, pode ser operacionalizado pela internação ou pela visita domiciliar; mas, ainda, pode ser simplesmente atendimento domiciliar. Isso porque os profissionais podem realizar atividades e procedimentos no domicílio, sem configurar o tratamento intensivo da internação domiciliar ou os objetivos de educação e levantamento de dados da visita domiciliar, constituindo atendimento domiciliar propriamente dito. A atenção domiciliar à saúde, além de envolver as atividades profissionais da internação, da visita ou do atendimento domiciliares, engloba práticas de políticas de saúde, saneamento, habitação e educação, dentre outras; dependendo de diferentes esferas de atuação para a saúde dos grupos sociais. Assim, as modalidades apresentadas possuem diferenças entre si, mas são complementares e interdependentes, como pode ser observado na representação esquemática. Figura 2: Representação esquemática da atenção à saúde domiciliar e seus respectivas modalidades. 29 30 CONCLUSÃO Há uma complementaridade entre as modalidades da atenção domiciliar, atendimento domiciliar, visita e internação domiciliar. Cada uma possui peculiaridades e características que as distinguem, e devem ser estabelecidas de maneira clara pelos profissionais de saúde, não apenas por questões de operacionalização dos serviços de saúde, mas para sua orientação na execução das práticas profissionais. Para que o modelo de atenção à saúde domiciliar ocorra de forma a efetivar seus preceitos, deve-se lançar mão de suas modalidades para que a prática assistencial seja planejada, sistematizada, organizada e documentada. Esse último aspecto merece ênfase, pois é muito importante para a avaliação desse modelo assistencial e seu constante aperfeiçoamento. Este artigo pretende propor uma reflexão sobre as modalidades da atenção domiciliar à saúde, de modo a auxiliar os profissionais na aquisição de subsídios teóricos para uma prática fundamentada. Deste modo, afirma-se que a atenção domiciliar é a modalidade mais ampla, envolvendo a vigilância à saúde dos indivíduos, de modo a promover, manter e/ou restaurar a saúde da população. O atendimento é a execução de qualquer atividade profissional direta à saúde dos indivíduos, ao passo que a internação domiciliar é uma prática mais intensiva e complexa no domicílio do cliente e a visita domiciliar é uma forma de avaliação dos indivíduos, da família e do domicílio, sendo, os dois últimos, uma forma de atendimento domiciliar. Não se pretende exaurir a discussão sobre o tema. Tem-se o intuito, sim, de chamar a atenção dos profissionais da área da saúde para uma nova concepção, para uma estratégia de assistência à saúde inovadora, pautada em uma percepção diferenciada sobre o processo saúdedoença, que contempla o indivíduo e seus familiares em seu domicilio, em cujo espaço dimensões sociais e afetivas se efetuam. Com o ressurgimento dessa modalidade, há a necessidade de os profissionais buscarem atualização e qualificação profissional, para atuar nesse campo de trabalho, espaço que trará grandes perspectivas para o profissional, visto os fatores que favorecem a implementação desse modelo. Por fim, existe a certeza de que os maiores beneficiados da atenção domiciliar à saúde serão os clientes e seus familiares, porque o cuidado passará a ser individualizado, humanizado, distante dos riscos iatrogênicos, pertinentes ao contexto 31 hospitalar e, acima de tudo, contará com a participação do principal cuidador: o familiar ou o significante. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 11, de 26 de janeiro de 2006. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 30 jan. 2006 Disponível em: <http://e- 32 legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id= 20642&word=rdc%202006%20domiciliar>. Acesso em: 20 mar. 2006 [ Links ] BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para a atenção domiciliar no sistema único de saúde. Brasília, DF, 2004 [ Links ] COTTA, R. M. M. et al. La hospitalización domiciliaria: antecedentes, situaciónactual y perspectivas. Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, DC, v. 10, n. 1, p. 45-55, jul. 2001. [ Links ] DAL BEN, L. W. Home care. Médicis, São Paulo, n. 11, p. 14-17, jul./ago. 2001. [ Links ] DUARTE, Y. A. O.; Diogo, M. J. E. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu, 2000. [ Links ] FREITAS, A. V. S.; Bittencourt, C. M. M.; Tavares, J. L. 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