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Direito Constitucional II - UFRJ

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Direito Constitucional 11
Direitos fundamentais
Fundamentos histórico-filosóficos
● Os direitos fundamentais estão ligados ao fenômeno do constitucionalismo:
a) Constitucionalismo antigo:
- Torah dos Hebreus limita o poder dos governantes
- Grécia: distinção entre nomoi e pséfisma
- Roma: Lei das XII Tábuas garante direitos da plebe
b) Constitucionalismo medieval
- Magna Charta Libertatum, de João sem-Terra (1215), garante direitos até hoje assegurados
- Constitucionalismo Moderno
- Revolução Gloriosa (Inglaterra, 1688): promulga-se o Bill of Rights, uma importante
declaração de direitos
- Independência Americana (1776) foi precedida por diversas declarações de direitos
- Revolução Francesa (1789) foi sucedida por várias declarações, como a Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão
● Fundamentos filosóficos:
- Dignidade humana: todo ser humano tem um valor intrínseco e é titular de direitos fundamentais;
- Estado de Direito: é o estado de poderes limitados, que reconhece direitos fundamentais dos
cidadãos;
Características
● Historicidade: são direitos construídos social e historicamente e, por isso, variam de acordo com a época e
o lugar;
● Relatividade: nenhum direito fundamental é absoluto; podem entrar em conflito uns com os outros e não
podem ser usados para justificar atos ilícitos;
● Imprescritibilidade: não são perdidos pela passagem do tempo;
● Inalienabilidade: os direitos não podem ser transferidos a terceiros;
● Indisponibilidade: o titular não pode dispor dos direitos fundamentais;
● Indivisibilidade: os direitos fundamentais são um conjunto. O desrespeito a um deles é, na verdade, o
desrespeito a todos;
● Conflituosidade (concorrência): Os direitos fundamentais podem entrar em conflito uns com os outros;
● Aplicabilidade imediata (art. 5º, §1º): as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata. Logo, cabe aos poderes públicos (Judiciário, Legislativo e Executivo) desenvolver esses
direitos;
Titularidade dos direitos fundamentais
● Pessoas físicas: podem ser titulares de direitos fundamentais (pessoas físicas): a) brasileiros natos; b)
brasileiros naturalizados; c) estrangeiros residentes no Brasil; d) estrangeiros em trânsito pelo território
nacional; e) qualquer pessoa que seja alcançada pela lei brasileira (pelo ordenamento jurídico brasileiro).
● Pessoas jurídicas: Os direitos fundamentais também se aplicam às pessoas jurídicas (inclusive as de Direito
Público), desde que sejam compatíveis com a natureza delas. “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”
(STJ, Súmula nº 227).
Geração dos direitos fundamentais
1ª geração 2ª geração 3ª geração
Titularidade Indivíduo Grupos sociais Difuso (grupo indet.) ou
coletivo (grupo det.)
Natureza Negativos Positivos Supraindividuais
Contexto Rev. Liberais Rev. Industrial e Rev.
Russa
Revolução Tecnocientífica
Exemplos Vida, liberdade,
propriedade, igualdade
perante a lei
Saúde, educação,
moradia, lazer,
assistência aos
desamparados,
garantias trabalhistas
Meio ambiente,
comunicação
social, criança,
adolescente,
idoso
Valor-objetivo Liberdade Igualdade real (material) Solidariedade e
fraternidade
A perspectiva objetiva dos direitos fundamentais
● Em relação aos direitos fundamentais podemos elencar duas perspectivas, as quais mantém uma relação
de complemento recíproco:
a) Perspectiva subjetiva:
● Protegem posições jurídicas individuais, desfrutáveis ou exigíveis por um titular determinado,
para proveito próprio;
b) Perspectiva objetiva:
● Está atrelada à noção de que os direitos fundamentais, para além da garantia de posições
individuais, ensejam os princípios básicos da ordem constitucional; > independe dos titulares!
● Eles fazem parte da essência do Estado Democrático de Direito e, por essa razão, operam como
limite do poder e como diretriz para a sua ação; > critério de controle da ação estatal!
● São entendidos, ainda, como as bases da ordem jurídica da coletividade, estruturando todo o
direito e os valores em que a sociedade funda o Estado > elemento objetivo fundamental da
comunidade;
● existe, portanto, uma carga axiológica dos direitos fundamentais que emana dos direitos
fundamentais e atinge o Estado e a sociedade;
● Os direitos fundamentais devem ser, ao mesmo tempo, respeitados pelo “Estado assim como assim
como deve o poder público zelar pelo respeito a este rol especial de direitos enquanto interesses
públicos fundamentais;”
● prestação na medida em que a dimensão objetiva dos direitos fundamentais cobra a adoção de
providências, quer materiais, quer jurídicas, de resguardo dos bens protegidos; > por isso, interfere
na dimensão subjetiva dos direitos fundamentais, atribuindo-lhe reforço de efetividade!
● as constituições democráticas assumem um sistema de valores que os direitos fundamentais
revelam e positivam. Esse fenômeno faz com que os direitos fundamentais influem sobre todo o
ordenamento jurídico, servindo de norte para a ação de todos os poderes constituídos;
● O bem tutelado pelos direitos fundamentais deve ser visto como um valor em si, a ser preservado e
fomentado;
Obs! Quatro aspectos a serem observados sobre a dimensão objetiva dos direitos fundamentais:
a) Direitos fundamentais como normas de competência negativa:
- Controle abstrato de constitucionalidade como limitação da atuação de qualquer órgão estatal em
função dos direitos fundamentais;
b) Critério de interpretação e configuração do direito infraconstitucional:
- Efeito de irradiação dos direitos fundamentais;
c) Permite limitar os direitos fundamentais quando isso estiver no interesse de seus titulares:
- Crítica: o Estado assumiria uma postura paternalista;
d) Dever estatal de tutela dos direitos fundamentais:
- Eficácia horizontal dos direitos fundamentais
Obs! Desdobramentos conceituais:
● Eficácia irradiante dos direitos fundamentais: entende que todo o ordenamento jurídico brasileiro deve
ser aplicado pelo operador no caso concreto mediante um reexame que considere as garantias previstas
pelos direitos fundamentais. Como fazer isso? por meio da interpretação da norma conforme a
Constituição, permitindo a irradiação dos direitos fundamentais na legislação ordinária;
● Filtragem constitucional: afirma que toda legislação, decisão jurídica ou política que não recepcione os
valores consagrados pela Constituição ou que não se identifique com os valores prementes numa
sociedade democrática, deve ser conformada e orientada a sua aplicação ao atendimento dos aludidos
valores. Como fazer isso? acondicionado a ordem jurídico-política ao conteúdo axiológico dos direitos
fundamentais;
● Dever de proteção: é o direito prestacional oponível ao Estado consistente no dever de proteger e fazer
prevalecer os valores fundamentais.
Eficácia horizontal dos direitos fundamentais
● No que tange à relação entre particulares qual o modo e a extensão da influência dos direitos
fundamentais? Isto é, como se dá a eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas relações
particulares-particulares?
● A problemática deste tema consiste na tensão entre a hierarquia normativa superior que enuncia os
direitos fundamentais e a impossibilidade da Constituição regular a relação entre particulares, tarefa
essencial do direito privado > hierarquia dos direitos fundamentais X autonomia do direito privado;
● Modelos propostos para a harmonização dessa tensão:
a) Teoria da ineficácia horizontal (ou state action doctrine):
● Os direitos fundamentais surgiram para proteger o indivíduo do Estado;
● Os direitos fundamentais vinculam apenas os Poderes Públicos e não há como aplicá-los nas
relações entre particulares;
Obs! Exceções à teoria da ação estatal: a) public functions exception → pretende demonstrar o absoluto
cabimento da incidência de normas jusfundamentais a problema ocorrido entre particulares, isso quando a forma
de atuação do indivíduo se encerra em autêntica ação estatal; b) entanglement exception→ significa tão só que a
Constituição será aplicada em tema de relação entre particularesquando o governo, de modo afirmativo,
autorizar, estimular ou facilitar a conduta privada que viola as normas constitucionais
b) Teoria da eficácia indireta e mediata:
● Nega a possibilidade de aplicação dos direitos fundamentais nas relações de natureza privada;
● Essa impossibilidade é explicada em decorrência da noção de que direitos fundamentais são
expressões objetivas de valores. Isto é eles irradiam por todo o direito, influenciando as relações
entre particulares a partir da legislação e dos parâmetros dogmáticos hermenêutico-aplicativos do
próprio direito privado;
● Os valores expressos pelos direitos fundamentais irradiariam pela esfera do direito privado
mediante suas cláusulas gerais;
● Razões pelas quais a aplicação direta não deve ocorrer:
- Causaria uma desconfiguração do direito privado, em razão da perda da clareza conceitual;
- Aniquilaria a autonomia da vontade;
- Incompatibilidade com o princípio democrático da separação dos poderes e da segurança
jurídica
c) Teoria da eficácia direta e imediata:
● Para essa teoria, os direitos fundamentais irradiam sobre as relações privadas de modo semelhante
à incidência destes direitos sobre as relações entre o cidadão e o Estado;
● Apesar disso, existem direitos fundamentais que vinculam apenas o Estado; são exemplos os
direitos de nacionalidade e os direitos políticos;
● Os demais direitos seriam bidirecionais e vinculam diretamente o Estado e os particulares;
● Isso não significa que todos os direitos fundamentais tenham aplicação imediata sempre em toda e
qualquer situação concreta. Isso porque: a) a ausência de regulamentação legislativa inviabiliza o
pleno exercício de liberdades e direitos constitucionais; b) existe a necessidade de ponderação em
diversos casos, o que implica na não aplicação absoluta do rol de direitos fundamentais;
d) Teoria dos deveres de proteção:
● Para essa teoria, seria dever de todos, e principalmente do Estado, a tutela dos direitos
fundamentais, objetivando seu respeito, proteção e promoção.
Limites dos direitos Fundamentais
● Direitos fundamentais não são absolutos e, por essa razão, podem sofrer limitações ou restrições >
podem ser relativizados!;
● Direitos Fundamentais são relativos, pois a) podem entrar em conflito uns com os outros; b) não podem
ser utilizados como justificativa para a prática de atos ilícitos;
● O mais comum é compreender direitos fundamentais como princípios (não é um comando definitivo), e
não como regras; → Princípios “são mandados de otimização a serem aplicados pelo intérprete na maior
extensão possível, mas que podem ceder diante de razões jurídicas ou fáticas que lhe sejam contrárias;”
● Onde estão os limites ou quando podem ocorrer? Os limites podem ser estabelecidos pela Constituição ou
por via via legislativa, judicial ou administrativa;
● O que são restrições ou limitações? ação ou omissão de qualquer dos poderes públicos, ou mesmo do
particular, que venha a reduzir um direito fundamental;
Condições para potencial situação de conflito:
● A presença de um obstáculo em relação ao exercício de um direito fundamental;
● A provocação desse óbice por norma hierarquicamente inferior à Constituição→ lei, tratado internacional,
medida provisória, norma infralegal ou omissão normativa que impede o exercício dos direitos
fundamentais;
Tipos de conflito:
● Conflito direto entre titulares de direitos;
● Conflito entre um direito fundamental e um interesse geral constitucionalmente tutelado;
● Conflito entre um direito fundamental e um interesse (pelo menos em primeira linha) “estatal em sentido
estrito”;
Tipos de limites:
● Concorrência de direitos: o primeiro limite ao direito fundamental é a existência de outros direitos
fundamentais. É daqui que surge o conflito aparente entre dois direitos fundamentais. A solução para esse
tipo de conflito é a harmonização (ou concordância prática). Ou seja, mediante o caso concreto, a solução é
o sopesamento dos bens jurídicos em conflito para compreender qual deles prevalecerá;
● Liberdade de conformação: para que alguns direitos sejam concretizados, o legislador possui uma esfera
discricionária de definição do direito. É o caso de enunciados que são extremamente abrangentes ou
genéricos; é um tipo de limite implícito de definição do direito;
● Reserva legal: há reserva legal quando o legislador especifica e delimita o conteúdo dos direitos
fundamentais. Esses tipos de restrições pelo legislador ordinário são admitidas, em tal caso, uma vez
que foram expressamente permitidas pela Constituição. Tipos de reserva legal:
- Reserva legal simples: menção genérica da Constituição ao fato de que a lei regulará determinado
direito; ex: “os crimes hediondos, que importam em regime penal mais drástico para o condenado,
são definidos por lei (art. 5º, XLIII)” ou “é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”
- Reserva legal qualificada: abrangem as situações em que a restrição tem o seu escopo, objeto ou
finalidade definidos na própria Constituição; ex: “assegura-se a liberdade de profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (art. 5º, XIII) ou “resguarda-se o sigilo das
comunicações, salvo nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal” (art. 5ºXII)
Obs! Para que uma interferência do legislativo seja legítima ela deve ocorrer por meio das reservas legais.
Obs! Como então ocorre interferência quando não há reserva legal? A interferência ocorre, pois, caso não
acontecesse, seria impossível - ou muito difícil - a aplicação do direito fundamental na prática. A isso chamamos
de reserva legal tácita. Ela possibilita ao poder legislativo restringir o DF sem o comando do Poder Constituinte
sempre que existir a necessária interferência. Para ser efetiva deve estar baseada em dados!
Obs! Quando não há reserva legal, a análise feita é o direito constitucional de colisão. A intervenção judicial mais
típica que ocorre, nesse caso, é mediante a ponderação nos cenários em que existam colisões de direitos ou entre
direitos e princípios ou interesses coletivos de lastro constitucional.
Obs! Teoria interna X Teoria externa: para a teoria interna, é impossível que direitos fundamentais sejam
restringidos externamente. Ou seja, a extensão dos DF’S seria extraída por meio somente dos limites imanentes
dispostos no texto constitucional. Já a teoria externa entende que a Constituição estabelece limites razoáveis aos
direitos fundamentais, mas, por não serem absolutos, podem entrar em rota de colisão com outros direitos ou
bens jurídicos igualmente tutelados pela Constituição. Para a harmonização necessária entre eles, admitem-se
intervenções legislativas e ponderação judicial, sempre observada a máxima da proporcionalidade. Obviamente,
adotamos a teoria externa!
Limites constitucionais em casos excepcionais:
● São situações excepcionais, nas quais as regras relacionadas à reserva legal e ao direito de colisão não são
válidas; são situações radicais!
Art. 136 O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado
de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social
ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas
e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos
danos e custos decorrentes.
§ 2º O tempo de duraçãodo estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual
período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
§ 3º Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz
competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua
autuação;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder
Judiciário;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
a) Estado de defesa: É estabelecido pelo Presidente da República em locais restritos e determinados,
normalmente em razão de óbices causados por indivíduos (grave instabilidade institucional) ou
pela natureza. Há uma ameaça à ordem pública ou à paz social.
Art. 137 O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao
Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o
estado de defesa;
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação,
relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.
b) Estado de sítio, conforme o art. 137, I: o Presidente da República envia para o Congresso o
requerimento. É o Congresso que autoriza ou não o Estado de sítio. Os direitos restringidos nesse
caso estão dispostos no art. 139 CF/88;
c) Estado de sítio, conforme o art. 137, II: é a situação mais drástica. Todos os direitos fundamentais
podem ser restringidos nesse caso. Essa hipótese é dada pela hermenêutica do art. 139 da CF/88
(isso é explicado, uma vez que o art. 139 só cita o inciso I do art. 137, dando margem à
interpretação de que na hipótese do art.137, II tudo é possível);
Área de proteção de direitos fundamentais:
● A área de regulação seria o tema que o direito fundamental regula de modo generalista. É o exemplo do
direito de ir e vir ou o direito de se manifestar;
● Já a área de proteção corresponde a comportamentos ou situações específicas estabelecidas pela lei;
● O que é necessário, segundo a teoria alemã, para que seja possível uma interferência na área de proteção
de um DF?
- Final, intencional e não representar mera consequência colateral não desejada pelo Estado;
- Direta e não consequência indireta da ação estatal;
- Configurar um ato jurídico e não ter efeito meramente fático;
- Deve ser imperativa, incontornável pela vontade e próprias forças do titular do direito atingido,
podendo ser imposta quando e se necessário pela força organizada do Estado;
Razoabilidade e proporcionalidade
● A restrição aos direitos fundamentais, seja ela produzida pelo Poder Legislativo - mediante leis - ou pelo
Poder Judiciário - mediante a ponderação de colisões em casos concretos -, está sujeita à máxima da
proporcionalidade e da razoabilidade;
● Embora a CF/88 não preveja expressamente, é correto afirmar a necessidade, no plano objetivo, da
preservação do núcleo essencial do direito fundamental que sofre a interferência, sob pena do seu
esvaziamento; isto é, um direito não pode prevalecer sob o outro;
Obs! Existem duas teorias sobre o núcleo essencial do DF:
a) Teoria absoluta: o núcleo essencial de um DF não pode ser violado em hipótese alguma. Segundo essa
teoria, seria possível estabelecer, a priori e em abstrato, qual é a esfera mínima de cada direito;
b) Teoria relativa: essa teoria compreende que o núcleo essencial pode ser esboçado abstratamente, mas a sua
definição somente ocorre no concreto mediante a técnica da ponderação; no Brasil, essa teoria é a mais
adotada!
Obs! A depender do intérprete, no Brasil, pode ser chamada de razoabilidade ou proporcionalidade; possuem,
contudo, trajetórias doutrinárias e jurisprudenciais distintas; qual a diferença?
- No que tange à razoabilidade, não há critérios bem definidos. Para tentar compreender melhor como o
Judiciário utiliza a razoabilidade, Humberto D'Ávila elencou três tipos de razoabilidade: a) razoabilidade
como equidade; b) razoabilidade como congruência; c) razoabilidade como equivalência;
- No que tange à proporcionalidade, por outro lado, é um mecanismo instrumental bem delimitado. Por
meio das três máximas parciais (ou etapas), é possível uma análise de princípios formais que implique
uma adequada teoria da discricionariedade legislativa. A base desse modelo é a fórmula peso;
● “Quanto mais alto é o grau do não-cumprimento ou prejuízo de um princípio, tanto maior deve ser a
importância do cumprimento do outro”
Obs! O caso hipotético dos recursos hídricos: há dois princípios colidentes; a) o direito de acesso à água, bem
indispensável à sadia qualidade de vida; b) o direito-dever de prevenir o dano aos recursos hídricos, ainda que,
para isso, seja restringido o acesso a esse bem.
Dignidade da pessoa humana
● A dignidade da pessoa humana, a partir da II Guerra Mundial, tornou-se um dos grandes consensos éticos
do mundo ocidental, materializado em declarações de direitos, convenções internacionais e constituições;
● A DH possui fluidez. A sua dimensão depende do caso concreto;
● É o fundamento do Estado democrático de direito; os direitos fundamentais são ferramentas jurídicas para
concretizar esta essência perseguida;
● Sua definição, no entanto, não é única e a sua relação com os direitos fundamentais diverge de acordo com
o enfoque analítico dado;
→ Para o Neoconstitucionalismo, a dignidade humana pode ser:
a) Fundamento dos direitos fundamentais: a dignidade humana, nesse caso, é compreendida como uma
fonte de interpretação do sentido normativo dos direitos fundamentais e também um critério de solução
judicial dos conflitos envolvendo direitos fundamentais. Isso reforça a ideia de que os direitos
fundamentais são indivisíveis, pois emanam da mesma fonte. Além disso, essa perspectiva traz a
dignidade da pessoa humana como um critério de abertura material do catálogo constitucional de direitos
fundamentais a novos direitos;
b) Conteúdo dos direitos fundamentais: se os direitos fundamentais decorrem da dignidade humana, então é
consequência lógica que esta ideia faça parte do conteúdo dos direitos fundamentais.
c) Um direito fundamental, o direito à dignidade;
● Nesse escopo, Ana Paula de Barcellos entende que são três as dimensões da dignidade da pessoa humana:
I) Dimensão de princípio instrumental ou postulado normativo: a DH pode servir como ferramenta hermenêutica
para compreendermos os direitos fundamentais e a sua aplicabilidade prática;
II) Dimensão de regra: a DH pode adotar a dimensão de regra. Isto é, um comando definitivo a ser aplicado no
caso concreto. Exemplo é a fórmula do objeto que decorre da DH: o indivíduo não pode ser utilizado como
instrumento de forma desprezível;
III) Dimensão de princípio;
Obs! Mínimo existencial: conceito que estabelece o dever do Estado de garantir aos indivíduos as condições
mínimas para uma existência digna. É considerado um instituto jurídico aberto que, a depender da análise
concreta pode assumir distintas espécies. Ao longo do tempo, o seu conteúdo sofre modificações. Ele pode, no
entanto, ser identificado como direito fundamental autônomo.
Obs! Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais no novo constitucionalismo latino-americano: existem
constituições latino-americanas que, para além de fundamentar a sua existência na dignidade humana,
absorveram o fundamento do bem viver. A proposta dessas constituições surge da luta dos povos originários,
sobretudo em razão de força identitária. O bem viver é uma forma de enxergar o mundoque não envolve a
concepção ocidental de direitos centrados no indivíduo, mas uma cosmovisão que engloba vivências, práticas e
experiências dos povos originários. É um modo de experienciar a vida que assume a amplitude do bem estar que
depende de um contexto comunitário e ambiental relacional específico. O território, nesse sentido, assume grande
relevância, não por razões patrimoniais tal qual o Ocidente tradicionalmente destaca, mas por seu valor inerente.
A natureza, assim, é um sujeito que, por essa razão, deve ter seus direitos assegurados. A sua positivação
constitucional implica na construção de uma sociedade que leva em consideração a convivência harmônica do ser
humano com a natureza, na não mercantilização das relações sociais e das coisas. Além disso, há uma inversão do
modelo eurocêntrico de poder, no qual o poder emana das camadas superiores da sociedade, para uma versão na
qual há uma pluralidade de formas de jurisdição e de centros de poder;
Direitos e garantias individuais
● Direitos: disposições meramente declaratórias.
● Garantias: disposições assecuratórias.
● Garantias gerais: são destinadas a assegurar a existência e a efetividade daqueles direitos, sendo que o
conjunto dessas garantias gerais formará a estrutura social que permitirá a existência real dos direitos
fundamentais em um Estado democrático de direito;
● Garantias constitucionais: consistem nas instituições, determinações e procedimentos mediante os quais a
própria constituição tutela a observância, ou, em caso de inobservância, a reintegração dos direitos
fundamentais; dividem-se em:
a) Garantias constitucionais gerais: são as instituições constitucionais que se inserem no mecanismo
de freios e contrapesos dos poderes e, assim, impedem o arbítrio, são gerais porque
consubstanciam salvaguardas de um regime de respeito à pessoa humana em toda a sua dimensão;
b) Garantias constitucionais especiais: são prescrições constitucionais estatuindo técnicas e
mecanismos que protegem a eficácia, a aplicabilidade e a inviolabilidade dos direitos
fundamentais. Não são um fim em si mesmo, mas um instrumento para a tutela de um direito
principal;
Direitos individuais em espécie
● Direito à vida:
- Direito fundamental. Pode, por isso, sofrer restrição;
- Há duas noções que prevalecem na doutrina em relação ao direito à vida:
a) O direito à vida é entendido como o direito de permanecer vivo, ligado às funções vitais.
Ganha uma conotação negativa, gera direitos negativos do Estado e da sociedade, ou seja,
ninguém pode tirar a vida de ninguém. A previsão do homicídio como crime, por
exemplo, é uma consequência dessa acepção de direito à vida. No âmbito das obrigações do
Estado, a garantia dessa faceta do direito à vida tornaria impossível a instituição da pena de
morte (vedação constitucional expressa – salvo em casos de guerra declarada).
● Nos EUA, existe a possibilidade de relativizar o direito à vida frente a crimes muito graves.
b) Compreende que o direito à vida é o direito a uma vida digna, não sendo suficiente só a
manutenção das funções vitais. Nesse sentido, ele tem uma acepção positiva, gerando
obrigações ao Estado e à sociedade, com o objetivo de garantir certos direitos. Exemplos:
mínimo existencial – o Estado precisa garantir direitos sociais mínimos para que as pessoas
tenham uma vida digna; discriminação de minorias – justifica a implementação de medidas
do Estado para combater esse problema social. Está ligado à ideia da D.P.H, que deve ser
observada pelo Estado e também ao artigo 170 da Constituição, que prevê que a ordem
econômica tem por fim assegurar à existência digna. Se só o direito à vida na primeira
acepção fosse utilizado, a tortura e a escravidão não seriam contempladas, tendo em vista
que ocorrem violações muito graves de DFs, mas as funções vitais são mantidas.
● Limitação do direito à vida:
- Pode ser restrito, por exemplo, em relação ao direito à vida de outra pessoa (legítima defesa –
restrição do direito à vida do agressor).
- Também existe a ponderação de direitos à vida nos casos de aborto necessário, em que o direito à
vida da mãe prevalece em relação ao direito à vida do feto. Além disso, no caso de aborto em
gravidez decorrente de estupro, a relativização do direito à vida do feto (direito à vida em sua
primeira acepção) se dá em relação a princípios morais e sociais da mulher (direito à vida em sua
segunda acepção).
● Aborto – argumentos contrários e favoráveis: os argumentos favoráveis ao aborto, via de regra, se
pautam na Teoria Natalista do CC, tendo em vista seu artigo 2º que diz que a personalidade
começa com o nascimento com vida. Além disso, são utilizados argumentos em relação à saúde da
mãe e à sua liberdade de escolha, tendo em vista que ambas as concepções são DFs assegurados
pela Constituição. Em contrapartida, os argumentos contrários à legalização do aborto se fixam na
última parte do artigo 2º do CC, que determina que a lei garante os direitos do nascituro, partindo
de uma Teoria Concepcionista, em que a vida começa na concepção do feto, não podendo haver o
“assassinato intrauterino”. O debate se dá principalmente no âmbito da relativização do direito à
vida frente a outros direitos, como os que a mãe possui.

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