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UNICESUMAR - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CARACTERIZAÇÃO DOS ÓBITOS ANALISADOS PELO COMITÊ DE MORTALIDADE MATERNO INFANTIL DA 15º REGIONAL DE SAÚDE DO ESTADO DO PARANÁ NOS ANOS DE 2016 E 2017 FERNANDA SANTANA CECILIO SARA NAZARÉ CARVALHO BRITO LOPES MARINGÁ – PR 2018 FERNANDA SANTANA CECILIO SARA NAZARÉ CARVALHO BRITO LOPES CARACTERIZAÇÃO DOS ÓBITOS ANALISADOS PELO COMITÊ DE MORTALIDADE MATERNO-INFANTIL DA 15º REGIONAL DE SAÚDE DO ESTADO DO PARANÁ NOS ANOS DE 2016 E 2017 Artigo apresentado ao curso de graduação em Enfermagem da UniCesumar – Centro Universitário de Maringá como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel(a) em Enfermagem, sob a orientação do Profa. Me. Juliana Dalcin Donini e Silva MARINGÁ – PR 2018 3 CARACTERIZAÇÃO DOS ÓBITOS ANALISADOS PELO COMITÊ DE MORTALIDADE MATERNO-INFANTIL DA 15º REGIONAL DE SAÚDE DO ESTADO DO PARANÁ NOS ANOS DE 2016 E 2017 Fernanda Santana Cecilio1 Sara Nazaré Carvalho Brito Lopes2 Juliana Dalcin Donini e Silva3 RESUMO A mortalidade infantil ainda é um grave problema de saúde pública no Brasil. Mesmo diante da diminuição significativa das taxas nas últimas duas décadas, estas ainda continuam sendo elevada em alguns estados do país. As ações que vêm contribuindo para diminuição consistem na ampliação na cobertura da Estratégia Saúde da Família, intensificação e ampliação do esquema vacinal, melhoria do atendimento ao pré-natal e parto. Nesse ínterim, os Comitês de Prevenção de Mortalidade Infantil têm contribuído significativamente para a melhoria das ações voltadas à redução da morbimortalidade infantil e no planejamento de ações estratégicas para esse fim. A partir disso, o objetivo deste estudo é caracterizar o perfil dos óbitos infantis e fetais dos anos de 2016 e 2017 em uma Regional de Saúde do norte do Paraná. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, retrospectiva e documental, a respeito da mortalidade infantil e mortalidade fetal. O estudo ocorreu por meio da coleta de dados por meio de prontuários da 15ª Regional de Saúde do Estado do Paraná, para complementar participamos dos comitês de mortalidade materno-infantil da cidade de Maringá-PR. Através dos resultados, foi possível verificar que a mortalidade por causas evitáveis ainda é elevada, embora tenha melhorado consideravelmente nos últimos anos. Também foram identificadas falhas nos preenchimentos das documentações necessárias para analisar os óbitos, dificultando o processo e retardando as intervenções nos hospitais, municípios e regional de saúde como um todo. Salienta- se a necessidade de realizar ações educativas junto aos profissionais de saúde, família e sociedade a fim da redução significativa dos óbitos fetais e infantis. Palavras-chaves: Mortalidade Infantil. Mortalidade Fetal. Estratégia Saúde da Família. Qualidade de Assistência à Saúde. Registro de Mortalidade. 1 Acadêmica do curso de Bacharelado em Enfermagem. Centro Universitário de Maringá-UNICESUMAR. Maringá. Paraná. 2 Acadêmica do curso de Bacharelado em Enfermagem. Centro Universitário de Maringá-UNICESUMAR. Maringá. Paraná. 3 Mestre em enfermagem. Docente do curso de Bacharelado em Enfermagem. Centro Universitário de Maringá-UNICESUMAR. Maringá. Paraná. 4 CHARACTERIZATION OF THE OBJECTS ANALYZED BY THE MATERNAL CHILD MORTALITY COMMITTEE OF THE 15TH REGIONAL HEALTH REGION OF THE STATE OF PARANÁ IN THE YEARS OF 2016 AND 2017 ABSTRACT Infant mortality is still a serious public health problem in Brazil. Even in the face of a significant decline in rates over the last two decades, these rates are still high in some states. The actions that have been contributing to decrease include the expansion of the coverage of the Family Health Strategy, intensification and expansion of the vaccination schedule, improved prenatal and delivery care. In the meantime, the Committees for the Prevention of Infant Mortality have contributed significantly to the improvement of actions aimed at reducing infant morbidity and mortality and in planning strategic actions for this purpose. From this, the objective of this study is to characterize the profile of infant and fetal deaths from the years 2016 and 2017 in a Regional of Health of the north of Paraná. This is a quantitative, retrospective and documentary research on infant mortality and fetal mortality. The study was carried out through the collection of data by means of medical records of the 15th Regional of Health of the State of Paraná, in order to complement the maternal and child mortality committees of the city of Maringá-PR. Through the results, it was possible to verify that mortality from preventable causes is still high, although it has improved considerably in recent years. Failures were also identified in filling in the necessary documentation to analyze the deaths, making the process difficult and delaying interventions in hospitals, municipalities and regional health care as a whole. The need to carry out educational actions among health professionals, family and society is emphasized in order to significantly reduce fetal and infant deaths. Key-words: Infant Mortality. Fetal Mortality. Family Health Strategy. Quality of Health Care. Mortality Registry. 1 INTRODUÇÃO De acordo com Ministério da Saúde (MS), a diminuição da Mortalidade Infantil (MI) e fetal é um desafio mundial. Constitui-se um dos escopos do milênio, pacto este firmado pelos países constituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em razão que a MI e fetal retrata as situações de vida dos cidadãos1. Segundo a portaria nº 72, de janeiro de 2010 do Ministério da Saúde, no art. 2º, aponta que óbitos infantis classificados como menores de 1 ano de vida, podendo ser divido em três períodos: neonatal precoce (0 a 6 dias), neonatal tardio (7 a 27 dias) e pós neonatal (28 dias a 1 ano). Esses representam uma ocorrência notória à saúde 5 pública, visto que, por sua vez, as mortes sucedem precocemente, ocorrendo na maior parte de forma evitável2. Em conformidade com a Organização Mundial de Saúde (OMS), Óbito Fetal (OF) é a morte do feto ainda no ventre da progenitora, sucedendo antecipadamente à expulsão de seu corpo, independente da duração gestacional. Em consequência, OF precoce se resulta desde 22 semanas de Idade Gestacional (IG) completa ou peso igual ou superior a 500g. Assim como os óbitos infantis, os óbitos fetais são apontados em grande parte como evitáveis1. Em nível mundial, a taxa de mortalidade infantil é de 49,4/1000 nascidos vivos e no ranking dos maiores coeficientes de mortalidade no mundo, o Brasil ocupa a 94ª colocação com 18,6 óbitos por 1000 nascidos vivos, já países como Japão, Finlândia, Cingapura, Noruega, Islândia e Mônaco apresentam coeficientes inferiores a 3/1000 nascidos vivos3. Visando diminuir esses números, foram criados os Comitês de Prevenção de Mortalidade Infantil (CPMI), através da Portaria nº 1.399 do Ministério da Saúde (MS), com a finalidade de monitorizar e reduzir a mortalidade infantil através do esclarecimento das circunstâncias da ocorrência dos óbitos infantis, identificando as condições de risco e recomendando modelos de melhoria da qualidade da assistência à saúde4. Os comitês de Prevenção de Mortalidade infantil são essenciais nas investigações aos óbitos, sendo que o mesmo alimenta e aperfeiçoa a qualidade dos dados nos sistemas de informações. Entretanto, caso algum dado necessite ser modificado, o mesmo não poderá ser realizado na Declaração de Óbito original, mas sim, nos dados do Sistema sobre Mortalidade5. Todavia,é pertinente frisar a importância da participação do profissional enfermeiro nesses comitês, sendo que o mesmo é um dos principais componentes para resolutividade dos casos, com atribuição de supervisionar e fiscalizar a ocorrência dos óbitos fetais e infantis e exibir soluções para diminuição da mortalidade1. Para realização da análise dos óbitos, são utilizados os seguintes instrumentos: Fluxograma de classificação dos óbitos perinatais segundo Wigglesworth modificada, que permite determinar as causas dos óbitos fetais infantis/perinatais e; Lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde (SUS), 6 permitindo assim, a análise das mortes por causas evitáveis em menores de cinco anos1. Os bancos de dados comumente utilizados para complementar o planejamento de ações para diminuição da mortalidade infantil são o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Além dessas, podem ser utilizadas informações sobre renda familiar, tipo de financiamento do pré-natal e parto, complicações na gestação ou internações do recém-nascido1. Destarte, o Brasil está entre os quatro países em destaque na redução de óbitos infantis, que se dá pelas boas práticas executadas, com adequada assistência e atenção integral de qualidade às mulheres e crianças, melhoria nutricional, diminuição da taxa de fecundidade, intervenções ambientais, melhoria no acesso e qualidade dos serviços de saúde, nível educacional mais elevado6. Contudo, a redução é ainda um desafio para os serviços de saúde e sociedade como um todo, sendo necessárias melhores práticas de saúde, envolvendo uma assistência satisfatória prestada ao pré-natal e ao parto, investimento em saúde e a formação de qualidade de novos profissionais, especialmente voltadas à atenção básica, com intuito da realização do pré-natal eficaz e o alcance da assistência no âmbito hospitalar6. Neste ínterim, considerando que os óbitos infantis e fetais são, na maioria evitáveis, e além da deficiência de estudos atualizados sobre Mortalidade Infantil e Fetal, atentou-se para a importância em pesquisar as razões primordiais de óbitos infantis e fetais evitáveis, sendo elementar tipificar o perfil dos óbitos a fim de planejar estratégias com finalidade de minimizá-los. Logo, a temática pretende contribuir para a reflexão dos profissionais de saúde frente à tomada de decisões e medidas para a prevenção dos óbitos, destacando a carência da confiabilidade das informações e qualificação das notificações. Assim, o objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil dos óbitos infantis e fetais analisados pelo Comitê Regional de Mortalidade Infantil e Fetal no âmbito da 15ª Regional de Saúde do Estado do Paraná. 2 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva, retrospectiva e documental. 7 Os dados foram coletados dos prontuários e documentos analisados pelo Comitê de Prevenção de Mortalidade Infantil da 15ª Regional de Saúde do Estado do Paraná nos anos de 2016 e 2017. A Secretaria de Estado da Saúde divide o Estado em Regionais de Saúde, que são reconhecidas conforme recortes territoriais implantados em um espaço geográfico constante. São instâncias administrativas intermediárias responsáveis por criar estratégias e colaborar junto aos municípios, influenciando na gestão das questões regionais, incentivando a procura contínua e crescente da eficiência em saúde7. Os documentos analisados pelo CPMI contêm ficha de investigação do óbito infantil (FI), cópia do prontuário da Unidade Básica de Saúde (UBS) onde a mulher realizou o pré-natal, cópia da Declaração de Óbito (DO), cópia da Declaração de Nascido Vivo (DN) e os prontuários da mãe e criança do âmbito hospitalar. A partir desses documentos analisados, são apresentadas informações fundamentais para o estudo, englobando identificação da mãe e criança, pré-natal, dados ambulatoriais e hospitalares, cartão de gestante e da criança, parto, pós-parto assim como, dados sobre a visita domiciliar. A coleta foi realizada entre os meses de fevereiro e julho de 2018. Para coleta dos dados foi elaborada uma planilha no programa Microsoft Excel 2013 com as variáveis: idade gestacional, idade das mães, realização do pré-natal, idade do óbito, tipo de parto, causa básica antes e após análise do comitê, evitabilidade, cobertura da estratégia saúde da família. A seguir, os dados foram tabulados e posteriormente inseridos em gráficos, sendo analisados e discutidos à luz de estudos previamente realizados sobre o tema. Destaca-se que o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UniCesumar pelo parecer Nº 2.657.253, cumprindo-se assim os preceitos dispostos na Resolução 466/2012 do CNS/MS, sobre pesquisa com seres humanos. 3 RESULTADOS Foram coletados dados de 361 prontuários de óbitos fetais e infantis analisados pelo CPMI nos anos de 2016 e 2017, referentes aos 30 municípios pertencentes a 15ª Regional de Saúde de Maringá. A idade materna variou entre 16 e 43 anos, com média de 27 anos, sendo que 63% (227) estavam na faixa etária de 24 a 39 anos e 27% (98) entre 18 e 23 anos. 8 Em relação ao pré-natal, 92% (331) realizaram e 8% (30) não realizaram ou não havia informações nos prontuários. Quanto ao tipo de atendimento no pré-natal, 63% das mulheres realizaram pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 23,6% realizaram na rede particular/convênios e apenas 2% aconteceram de forma mista entre Sistema Único de Saúde e convênio/particular. Quanto ao tipo de parto, constatou-se que 47,4% (171) foram partos normais e 52,6% (190) cesarianos. Conforme o gráfico 1, pode-se verificar que em 2016, dos óbitos fetais e infantis, 37,5% (60) ocorreram ainda antes do nascimento e 62,5% (100) ocorreram no período que compreende o nascimento até um ano de vida. Gráfico 1. Distribuição de morte fetal e infantil nos anos de 2016 e 2017 na 15ª Regional de Saúde – Paraná. Fonte: Prontuários 15ª RS/ Paraná A maioria dos óbitos ocorreu no período neonatal precoce (74%), seguido do período pós-neonatal (14%) e neonatal tardio (12%). Gráfico 2. Percentual de óbitos infantis nos períodos neonatal precoce (0 a 6 dias), neonatal tardio (7 a 27 dias) e pós-neonatal (28 dias a um ano). 9 Fonte: Prontuários 15ª RS/ Paraná Quanto à evitabilidade dos óbitos, constatou-se que em média 64% foram considerados evitáveis após a análise pelo CPMI e 36% inevitáveis. A partir da análise dos prontuários sobre a causa da morte, 54,1% (195) foram mantidas, 43,2% (156) foram modificadas e 2,7% (10) foram inconclusivas ou faltaram informações nos prontuários. Destacam-se que as causas mais incidentes foram malformações congênitas 7,2% (26) e transtorno materno hipertensivo 6,6% (24), dentre inúmeras outras causas. Gráfico 3. Percentual de evitabilidade de óbitos fetais e infantis nos anos de 2016 e 2017, na 15ª Regional de Saúde - Paraná Fonte: Prontuários 15ª RS/ Paraná 10 4 DISCUSSÃO A mortalidade infantil ainda é um sério problema de saúde pública no Brasil. Mesmo diante da representativa queda das taxas de mortalidade em menores de um ano no país nas últimas duas décadas, a situação ainda merece atenção especial. No presente estudo, as mães tinham em média 27 anos e 17,4% tinham menos de 20 anos, divergente ao levantamento realizado em Cuiabá na qual 31% das mães tinham idade inferior a 20 anos8. Outra característica importante para que haja redução dos óbitos é a realização do pré-natal e, nesse estudo, 11,4% não realizaram acompanhamento durante a gestação. As que realizaram, 63% o fizeram pelo SUS e 25,6% por convênios, particular ou intercalaram os atendimentos entre SUS e convênios. A partir desses dados, nos quais a maioria é usuária do SUS, depreende-se a necessidade de garantir o acesso ao atendimentodurante o pré-natal e parto a fim de melhorar o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento do feto. A implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF) foi fundamental para reestruturar e expandir a atenção básica, acarretando na diminuição dos óbitos e nas internações principalmente os caracterizados como “reduzíveis por diagnósticos e tratamento precoce9. Outro programa que contribuiu para a melhoria do acesso ao pré-natal e parto foi a Rede Cegonha em 2011, elaborado pelo Ministério da Saúde que objetiva a redução da taxa de morbimortalidade materno-infantil no Brasil bem como, amplificar o acesso das gestantes aos serviços de saúde, assegurando acolhimento e resolutividade com foco no direito à reprodução, cuidado integral qualificado e humanizado na gestação, parto e puerpério, do mesmo modo à criança, proporcionando atenção integral desde o nascer até os 24 meses de vida10. A realização do pré-natal corresponde a uma atitude indispensável na precaução e/ou identificação prévia de patologias, tanto maternas como fetais, permitindo um desenvolvimento saudável da gestante e do bebê, assim como a redução de riscos10. Destaca-se assim a importância da melhoria na assistência em relação ao pré- natal, principalmente nas mulheres vulneráveis socioeconomicamente e/ou com história reprodutiva desfavorável, visando à diminuição dos óbitos fetais e infantis5. 11 Nesse pensar, a deficiência do acompanhamento pré-natal é um dos principais fatores responsáveis pela mortalidade infantil, sobretudo os óbitos fetais e neonatais. Assim, diante da análise dos óbitos no período deste estudo, foi possível verificar que 40,3% dos prontuários analisados eram de óbitos fetais. Verificou-se que a mortalidade é mais incidente no período neonatal (0 a 27 dias de vida) com 86% dos óbitos ocorridos até um ano de idade. Destaca-se que a maioria ocorre no período neonatal precoce, ou seja, do nascimento até o sexto dia de vida completo, correspondendo a 74%. Importante destacar que a mortalidade é mais incidente devido à vulnerabilidade do recém-nascido, onde o nascimento prematuro, malformações congênitas e infecções neonatais são as principais causas de morte11. Esses dados são maiores aos obtidos no estudo realizado no norte e nordeste do país, onde 53,1% dos óbitos no mesmo período12. No Brasil, a mortalidade infantil teve uma significativa redução de 51/mil nascidos vivos em 1990 para 15/mil nascidos vivos em 2015. Dados publicados no IndexMundi mostram um coeficiente de 17,2/1000 nascidos vivos, colocando o Brasil em 92º lugar a nível mundial. Essa média do país ainda é considerada alta ao compararmos com países desenvolvidos como Islândia e Japão (2 e 2,1/1000 nascidos vivos) e Singapura (1,8/1000 nascidos vivos). Os piores números estão no Afeganistão com 110,6/mil nascidos vivos13. Ao tratar sobre o tema mortalidade infantil como evento sentinela, torna-se essencial a discussão sobre a evitabilidade das mortes, tendo em vista que ainda é um sério problema, sendo visível neste estudo (gráfico 3), no qual, em média 64% dos óbitos ocorridos poderiam ser evitados, de acordo com as análises realizadas pelo CPMI. Essa informação é semelhante à encontrada no estudo realizado no Espirito Santo, onde a maioria dos óbitos (63,1%) eram evitáveis, atribuindo-se a causas relacionadas à qualidade da assistência ao pré-natal, parto e puerpério9. Convergente a isso, estudo realizado no Recife, mostrou que 76,4% dos óbitos analisados foram classificados como evitáveis, e desses, 61% poderiam ser evitados pela adequada atenção à mulher durante a gestação14. Embora o percentual de mortes evitáveis ainda seja elevado, ao comparar-se com estudo realizado na mesma Regional de Saúde em 2008, no qual foi identificado 12 um percentual de 82% de óbitos evitáveis, depreende-se que houve redução significativa nesses dois últimos anos15. As ocorrências dos óbitos evitáveis sugerem a deficiência do sistema de saúde, visto que não oferecem recursos suficientes para intervir na redução das mortes infantis9. Quanto aos óbitos inevitáveis, constatou-se que as causas estão relacionadas a vários fatores como malformações múltiplas, gemelaridade e insuficiência placentária, assemelhando-se ao estudo realizado na mesma regional de saúde em 200815. A partir da ocorrência dos óbitos, ao serem analisados pelo CPMI, além da análise da evitabilidade, a causa básica do óbito pode ser modificada ou mantida. Ficou evidente o alto número de alterações da causa básica após análise do comitê, encontradas neste estudo (43,2%), denotando que há muitas falhas dos profissionais ao preencher as Declarações de Óbitos, tanto na qualidade quanto na fidelidade dos dados, sendo que podem ser identificados dados sem preenchimento ou mal preenchidas, dificultando a análise das causas dos óbitos e consequentemente das intervenções a serem realizadas1. Assim, para que efetivamente os óbitos possam ser analisados, é necessário que haja investimento em educação permanente para os profissionais envolvidos, com intuito de qualificar a investigação e identificação das principais causas de ocorrência. Todavia, vale ressaltar também a importância da criação de políticas públicas, uma vez que a utilização dos métodos de evitabilidade incentiva repercussões nas estratégias de saúde pública em nível local, nacional e até mesmo internacional9. Depreende-se que, para realização desse estudo, houve alguns fatores dificultadores, como a falta de dados nos prontuários e fichas de investigação, divergências de dados entre os instrumentos e ausência de documentações. Além disso, salienta-se o número reduzido de publicações atualizadas sobre o assunto, podendo-se sugerir que mais trabalhos sobre o tema possam ser realizados para instrumentalizar os profissionais e gestores para realização de intervenções efetivas sobre o assunto. 5 CONCLUSÕES 13 Diante dos resultados do estudo, onde o objetivo foi caracterizar os óbitos fetais e infantis em uma regional de saúde do sul do Brasil, constatou-se que, no período estudado, 40,3% dos óbitos eram fetais e 57,3% infantis. Quanto à evitabilidade, verificou-se que 64% eram evitáveis e 36% inevitáveis. Assim, destaca-se que houve diminuição significativa dos óbitos evitáveis quando comparados ao estudo realizado na mesma regional de saúde em 2008. Isso se dá pela melhoria das informações realizadas nos prontuários e também melhor atuação dos Comitês Permanentes de Mortalidade Infantil. Outro ponto de melhoria é a atuação significativa das equipes de Estratégia de Saúde da Família, através da oferta de melhor acompanhamento no período pré-natal e também ao recém-nascido. O avanço das ações voltadas à prevenção da mortalidade infantil pode ser mais efetivo quando a equipe multiprofissional é capacitada e sensibilizada a realizar atendimento com mais qualidade, atentando-se aos fatores de risco. Destaca-se também a importância dos profissionais de saúde em aderirem às orientações propostas pelo comitê a fim de melhorar a implementação de intervenções que objetivam a redução dos casos de mortalidade fetal e infantil. Neste contexto é essencial a participação do profissional enfermeiro, sendo que o mesmo é capacitado para realizar consulta e acompanhamento de enfermagem durante todo o pré-natal das gestantes de baixo risco, atuando ativamente na melhoria da assistência ao pré-natal, parto e puerpério. REFERÊNCIAS 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Secretaria de Atenção à Saúde. Manual de vigilância do Óbito Infantil e Fetal e do Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal. Brasília DF, 2009. [acesso em: 2017 set 2017]. 98p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº72, de 11 de janeiro de 2010. Estabelece que a vigilância do óbito infantil e fetal é obrigatória nos serviços de saúde (públicos e privados) que integram o Sistema Único de Saúde (SUS). 11 janeiro, 2010. [acesso em: 2017 set2017]. 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