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Antes de entrarmos na análise dos crimes de perigo comum, faremos uma análise prévia da classificação dos crimes de perigo, pois os crimes contra a incolumidade pública são considerados crimes de perigo. Os crimes quanto ao bem jurídico, podem ser classificados como crimes de dano e crimes de perigo. Quanto ao Bem Jurídico Crimes de Dano: Temos um dano efetivo ao bem jurídico. Crimes de Perigo: Apenas cria-se o risco. Os crimes de perigo, podem ser crimes de perigo comum ou individual, ou, crimes de perigo concreto ou abstrato. ➔ Crime de Perigo Comum O crime é considerado de perigo comum quando ele coloca em risco um número indeterminado de bens jurídicos, como é o caso do Capítulo I (Incêndio, Explosão, Inundação). ➔ Crime de Perigo Individual Os crimes de perigo individual são aqueles que colocam em risco um número determinado de bens jurídicos. Estes crimes começam no art. 130 do CP, que fala do Perigo de Contágio Venéreo; Perigo de Contágio de Moléstia Grave; Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem; etc. ➔ Crime de Perigo Concreto: No crime de perigo concreto, a situação de risco, de perigo do bem jurídico deve ser comprovada, o que se dá normalmente através de perícia. ➔ Crime de Perigo Abstrato No crime de perigo abstrato, pode se trabalhar com presunção da situação de risco/perigo ao bem jurídico. Discute-se muito a constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato, pois uma das características essenciais dos crimes é que eles tenham uma potencialidade lesiva, que seja possível mensurar o risco ao bem jurídico. e nos crimes de perigo abstrato, não temos a lesividade, apenas presumimos o risco/perigo. Observação.: Essas classificações se comunicam, pois podemos ter, por exemplo, um Crime de Perigo Comum Concreto e um Crime de Perigo Comum Abstrato, ou, Crime de Perigo Individual Concreto e um Crime de Perigo Individual Abstrato. Crimes de perigo comum Crimes de perigo comum Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Bem jurídico tutelado É a incolumidade pública, abalada pela conduta do agente, que causou riscos a sociedade. Se o incêndio for culposo, permite-se a transação penal e a suspensão condição do processo, exceto se incidente a majorante do artigo 258, segunda parte. Caso o incêndio resulte em lesão corporal de natureza grave, somente a suspensão condicional do processo, será admitida. Ação penal pública incondicionada Sujeitos do crime Qualquer pessoa pode praticar o delito inclusive o proprietário da coisa incendiada Sujeito passivo será o Estado, a coletividade e aqueles que forem atingidos pelo ato de incêndio. Conduta Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou patrimônio de outrem. “perigo dirigido contra um círculo, previamente incalculável na sua extensão, de pessoas ou coisas não individualmente determinadas” Na ausência de perigo comum, sendo própria a coisa alheia incendiada, o crime será do artigo 171, parágrafo 2°, inciso V, do código penal (fraude contra credores). O crime pode ocorrer não só por ação, mas também por omissão, quando o agente, por exemplo, da causa à sua ocorrência por acidente e, podendo, deixar de evitar sua propagação, bem como nas hipóteses em que sobre ele pesava o dever legal de evitá-la. Causar incêndio Como a lei fala em causar incêndio, obrigatoriamente precisa do resultado. Por isso, trata-se de um crime material, tendo em vista que precisamos da efetiva provocação do Incêndio. Conceito de Incêndio Incêndio é a combustão de material inflamável em proporção capaz de colocar em risco o bem jurídico tutelado. Isso significa, que não é qualquer “fogueirinha” que façamos em nossa casa que é considerada incêndio, sendo, necessário que seja um incêndio capaz de colocar em risco a incolumidade pública. Voluntariedade É o dolo, devido a vontade de causar incêndio, tendo ciência que resultará perigo comum. Consumação Consuma-se no momento em que o fogo se propala, gerando assim o perigo comum. Incêndio Tentativa É admissível a tentativa em incêndio doloso. Majorante de pena ➔ Parágrafo 1° inciso I: Aumenta a pena se o crime é praticado com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio. • Este é o chamado incêndio mercenário, que é aquele crime cometido com o fim de lucro. Inciso II: Aumenta a pensa se for em: • Casa habitada ou destinada a habitação. • Em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura. • Em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo. • Em estação ferroviária ou aeródromo. • Em estaleiro, fábrica ou oficina. • Em depósito de explosivo, combustível ou inflamável. • Em poço petrolífero ou geleira de mineração. • Em lavoura, pastagem, mata ou floresta. Forma majorada pelo resultado • O crime doloso de perigo comum que resulta lesão corporal de natureza grave. • Caso de culpa, que resulta em lesão corporal • Conduta que resulta em morte, será aplicada a pena cominada com homicídio culposo DIVERGÊNCIA NA DOUTRINA Ex.: Suponhamos que uma pessoa tenha um seguro da sua casa e quer o dinheiro do seguro. Para isso, coloca fogo em seu apartamento para receber a indenização do seguro. Pode se punir esse agente por Incêndio e Estelionato? Não há dúvidas, pois são bens jurídicos diferentes: Incêndio: Incolumidade Pública. Estelionato: Patrimônio. Responde por Estelionato c/c crime de Incêndio: Art. 250 caput, sem o aumento de pena do parágrafo 1º, inciso I do CP c/c art. 171, parágrafo 2º, inciso V do CP, havendo, portanto, concurso de crimes e de pessoas (no caso de o proprietário ter pagado para outra pessoa colocar fogo na sua casa). Para combinar com o artigo 171, deve haver a prova que ele vai receber o dinheiro do seguro. Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. § 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos: § 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo. § 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três meses a um ano. • Pode provocar danos à integridade das pessoas e do patrimônio alheio. • Ação penal pública incondicionada. Expor à Perigo Aqui, o perigo também é perigo concreto, pois tem que se aferir se havia ou não potencialidade lesiva, se havia ou não capacidade de colocar em risco o bem jurídico tutelado. Sujeitos do crime Qualquer pessoa pode praticar o ato, não sendo necessário alguma qualidade específica. Possibilidade de explosão culposa: A) Se não resultar em lesão corporal ou morte, permite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo. B) Em casos de dinamite ou substância de efeitos análogos e da explosão resultar lesão corporal,será cabível somente a suspensão condicional do processo. C) Se a explosão, quando não utilizada dinamite ou substância de efeitos análogos, resultar lesão corporal, ambos os benefícios serão admitidos. D) Sempre que a exploração culposa decorrer a morte, os benefícios despenalizados serão afastados. Conduta Expor a perigo de vida, integridade física ou do patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de artifício de dinamite ou de substância de efeito análogo. Três formas de praticar o crime: → EXPLOSÃO: É o deslocamento de ar provocado pela detonação de engenho de dinamite ou substância de efeitos análogos. Assim, a primeira forma de execução desse crime é com a efetiva explosão, com a efetiva detonação. Quando temos uma granada explodindo, na explosão da granada, temos o deslocamento de ar, que caracteriza a explosão. Além disso, na granada, além do deslocamento, que pode gerar morte, temos Explosão também os pedaços da granada, que saem incandescentes que podem perfurar a pessoa e causar a morte dela por isso. Ocorre que o simples deslocamento de ar já pode arremessar a pessoa à uma distância tal, e nesse arremesso, a pessoa cair ou a energia provocada em seus órgãos internos pode provocar uma hemorragia, etc. → ARREMESSO: Ainda que não tenha ocorrido a detonação, ainda que não tenha efetivamente explodido, o simples arremesso já é suficiente para responder-se por explosão consumada, pois o risco/perigo para o bem jurídico foi criado. → SIMPLES COLOCAÇÃO: A simples colocação da dinamite ou substância de efeitos análogos também já é suficiente para que o crime seja considerado consumado. →OBJETO MATERIAL DO CRIME: Engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos, ou seja, tem que ser uma substância que provoque os mesmos efeitos que uma dinamite. Não é necessário que seja efetivado a explosão, bastando somente que ocorra o perigo a incolumidade pública. Voluntariedade É o dolo, em que o agente tem consciência das condutas que está a praticar. Consumação Será no momento em que a ação, causar perigo a coletividade. Tentativa É admissível em tese, mas de difícil comprovação. O fato de a pessoa estar transportando um engenho de dinamite não é considerado tentativa de explosão, pois esta conduta por si só, já caracteriza um crime específico, que é o disposto no art. 253 do CP: Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação: Assim, o único caso admissível de tentativa seria a hipótese de a pessoa estar tentando arremessar e alguém segurar o braço dele, impedindo-o de arremessar. Forma privilegiada ➔ Primeiro parágrafo Será reduzida a pena, se a substância utilizada pelo agente, não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos. Neste dispositivo, enquadram-se as substâncias diversas da dinamite, mas que tenham uma potencialidade lesiva semelhante à da dinamite. • Um exemplo seria o Coquetel Molotov. Majorante de pena ➔ Segundo parágrafo Aumenta a pena se houver constatação da ocorrência de qualquer das hipóteses previstas no parágrafo 1°, inciso I, do artigo 250 do código penal, ou é visada, ou atingida qualquer das coisas enumeradas no n° II do mesmo artigo. Forma culposa ➔ Terceiro parágrafo Diminui a pena, se o crime for culposo, de acordo com a natureza da substância que causou a explosão. Art. 252 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. • A pena cominada no caput permite a suspensão condicional do processo, desde que não incidente a causa de aumento de onda do artigo 258 do código penal. • Se o crime for culposo, admite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo, exceto se resultar em morte. • Ação penal pública incondicionada. Sujeito do crime Qualquer pessoa pode praticar o crime. O sujeito passivo será a coletividade, e aqueles que sofrerem risco devido ao ato. Conduta Consiste em expor a perigo a vida, integridade física ou o patrimônio de outrem, utilizando gás tóxico ou asfixiante. Não basta somente o uso do gás tóxico, sendo necessário também a comprovação de perigo concreto a coletividade. Voluntariedade É o dolo, no qual o a gente possui a vontade consciente de praticar o ato. Consumação Sendo comprovado, a acusação de perigo comum devido a conduta. Tentativa É admitida. A pessoa que tem em seu poder um spray de pimenta, objeto que utiliza para defesa de um assalto, por, pode responder pelo crime de gás tóxico? NÃO, existe potencialidade lesiva para a coletividade no emprego individual do gás tóxico ou asfixiante. A quantidade empregada é pequena em relação ao risco para coletividade. Causa de exclusão de ilicitude Quando um policial usa o gás de pimenta, bomba de efeito moral, bomba de gás lacrimogêneo, não responderá pelo art. 252, pois estão no estrito cumprimento do dever legal. O que deve ser observado é se há excesso ou não, art. 23, parágrafo único, do CP. Sempre que houver excesso o agente responderá e este excesso pode ser doloso ou culposo. Uso de gás tóxico ou asfixiante Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa. • Ação penal pública incondicionada Sujeitos do crime Qualquer pessoa poderá praticar o crime. O sujeito passivo será a coletividade, assim como, aqueles que forem atingidos pelo delito. Conduta Causar Inundação, expondo a perigo a vida, à integridade física ou o patrimônio de outrem. Voluntariedade É o dolo, pois o agente com ciência de que expõe a vida, a integridade ou o patrimônio de outrem a perigo, não exigindo -se uma finalidade especial do agente. Consumação É no momento em que a coletividade é exposta a efetivo perigo pela Inundação causada. Tentativa É admissível. Majorante de pena Quando a Inundação é devido imprudência, negligência ou imperícia por parte do agente. Quando se pune uma pessoa por tentativa de inundação ou perigo de inundação? Por exemplo: quando o agente provocou um desvio no curso de um rio para inundar um determinado local, vai depender do dolo. Perigo de Inundação Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. É a punição devido ao perigo, e não da efetiva Inundação. Sujeitos do crime Qualquer pessoa pode praticar o delito, inclusive o proprietário do prédio em perigo, ante a expressa previsão legal. O sujeito passivo será a coletividade e aqueles que forem atingidos e prejudicados pelo crime. Inundação Conduta É remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, à integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra determinada a impedir Inundação. O perigo deve ser concreto, comprovando-se não só a possibilidade de sua ocorrência, como também de que, da ação, advirão ameaça a incolumidade pública. VoluntariedadeÉ o dolo, não prevendo uma finalidade especial do agente. Consumação Ocorrerá com a instalação do perigo comum, se a inundação ocorrer sem que o agente, tenha querido ou assumido o risco de provocá-la, responderá em concurso formal com o artigo 254 do código penal, na forma culposa. Tentativa A possibilidade é controversa em relação a doutrina. HIPÓTESES dos art. 254 e 255: Ou seja, tudo depende da intenção do agente. 1ª) Se o agente remove o obstáculo querendo inundar e não consegue seu crime será tentativa de inundação. Quer inundar e não consegue = tentativa de inundação. 2ª) Caso queira inundar removendo obstáculo e consiga seu crime será inundação dolosa Quer inundar e consegue = inundação dolosa 3ª) Caso remova o obstáculo sem a intenção de inundar e a inundação não ocorra seu crime será Perigo de Inundação Não quer inundar e não consegue = Perigo de Inundação 4ª) Caso remova obstáculo sem querer inundar e a inundação ocorra seu crime será Inundação culposa. Não quer inundar e não consegue = Inundação Culposa Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. • Ação penal pública incondicionada Se o crime for culposo, permite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo, inclusive se a conduta decorrer de lesão corporal grave. Se, todavia, advir a morte, nenhum benefício será admitido, a não ser o acordo de não persecução penal. sujeitos do crime Qualquer pessoa pode praticar o delito, até mesmo o dono do imóvel. O sujeito passivo será a coletividade, assim como, o indivíduo que for lesado pela conduta. conduta Consiste em provocar desabamento ou desmoronamento, expondo um número indeterminado de indivíduos a perigo a vida. A queda de material isolados não basta para configurar o delito do artigo 256 do código penal (JTACRIM 76/142 e RT 582/345) Voluntariedade É o dolo, no qual a gente está ciente de que causará perigo ou dano as pessoas. Consumação Ocorrerá com o desmoronamento ou desabamento, desde que cause perigo comum. Tentativa Devido ser possível fracionar o crime, a tentativa é de admissível. Desabamento ou desmoronamento Art. 257 - Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. • Ação penal pública incondicionada • Não há previsão da modalidade culposa do crime sujeitos do crime Qualquer pessoa pode praticar o crime, inclusive o proprietário do material de salvamento. O sujeito passivo será a coletividade eu os eventuais atingidos pelo crime. Conduta É feito através de subtração, ocultação ou inutilização, por causa de incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre, de material destinado a serviço de combate ao perigo, socorro ou salvamento. O agente também poderá impedir que seja utilizado os equipamentos necessários, cometendo se assim também o crime. É necessário que o crime trate de desastre ou calamidade que esteja em andamento, caso contrário o crime deverá ser outro como de furto ou danos. Voluntariedade É o dolo, no qual a gente está ciente que causará perigo há um Indeterminado número de pessoas. Dependendo da intenção do agente, poderá esse responder também pela prática de outro crime, como homicídio ou lesão corporal, entre outros. consumação Se dá no momento em que o agente pratica qualquer das condutas listadas acima, não sendo necessário que seja comprovado o perigo concreto. Tentativa É possível Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento
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