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Medicina de Aves Classe das Aves • São animais endotérmicos e ovíparos • Possuem penas – feitas de queratina, auxiliam a termorregulação • Bico sem dentes • Metabolismo muito elevado, por isso a temperatura corporal é de 41-42ºC - quanto menor a ave, mais elevado é o metabolismo e consequente temperatura • Ausência de glândulas mamárias e sudoríparas - não é normal respiração com bico aberto, pode indicar uma hipertermia ou dispneia - asas abertas e penas eriçadas ajudam a aumentar a superfície de contato corporal • Sacos aéreos – auxiliam o voo e flutuação - auxiliam na respiração e estão presentes na cavidade celomática • Coração possui 4 câmaras: 2 átrios e 2 ventrículos • Esqueleto pneumático – resiste e leve - ossos trabeculados (aerado semelhante ao Suflair) - pesa 25% do PV da ave Tegumento • Possuem a pele muito fina, delgada e flexível • Queratina – patas, bico e penas • Glândula uropigiana: na base da cauda - secreta uma substância oleosa, que a ave distribui pelas penas conferindo impermeabilidade e auxiliando na termorregulação - na clínica sempre devemos examinar essa glândula pois pode ocorrer inflamações e obstruções Tipos de penas • Rêmiges – penas das asas (penas de voo) • Retrizes – penas da cauda • Tetrizes ou penas de contorno Abaixo das penas há a penugem (que é um tipo de plumagem) também presente em aves filhotes PENAS DE CONTORNO Mais presentes no peitoral das aves - Escondem o real escore corporal desses animais, que é medido pela quilha e musculatura que a recobre PLUMAS - Primeiras penas dos filhotes - Não são impermeáveis - Conferem certa capacidade de termorregulação - Animais adultos também possuem plumas, que ficam abaixo das penas de contorno • As penas da cauda (retrizes) que irão dar a direção do voo da ave, por isso animais com as penas das asas mas sem penas na cauda não consegue voar OLHAR CLÍNICO: Quando as penas da cabeça estão intactas e as do restante do corpo estão faltando, pode indicar que o animal está fazendo o arrancamento e não uma doença sistêmica. FUNÇÃO DAS PENAS • Proteção térmica • Impermeabilidade (glândula uropigiana) • Camuflagem • Voo • Identificação de macho e fêmea (algumas espécies com dimorfismo sexual, por exemplo o pavão) OBS: Outras espécies sem dimorfismo como o Papagaio, a sexagem é feita por coleta de DNA e exame PCR – pode ser coletado do corte de unhas (irá sangrar algumas gotas) ou arrancamos as penas de contorno (de 5 a 8 penas), porém o animal sente dor - não há indicação de sedação nesse caso FORMAÇÃO DAS PENAS E MUDAS • Folículo da pena – produzido apenas na fase embrionária, depois que o animal nasce se houver danos nesse folículo não nascerá mais penas, ou nascerão defeituosas • As penas são formadas da ponta para a base • Base da pena – formação da polpa, que é irrigada e inervada, nutrindo os queratinócitos que irão produzir queratina beta e formará a pena • Canhão de sangue – presente em animais filhotes ou em épocas de troca de penas - depois desse momento a pena formada não irá mais ter irrigação nem inervação, fixando-se completamente no periósteo - NÃO podemos cortar as penas que possuem canhão de sangue pois poderá ocorrer uma hemorragia e até mesmo uma infecção sistêmica Fraturas de penas de sangue também podem causar hemorragia e infecção – se for na base da pena corre o risco de não nascer mais • O que confere coloração às penas são pigmentos chamados de carotenoides e melanina • O tempo da muda varia conforme a espécie - exemplo: pinguins fazem a troca em 2 semanas, já os papagaios fazem a muda completa em 6 meses em média - o tempo de formação de cada pena pode levar 2 meses em média - sabe-se que o fotoperíodo, manejo ambiental e nutricional também estão ligados a troca de penas Exemplo: em aves de produção, realiza-se a muda forçada, mantendo o animal sem comer e em galpões privados de luz solar, para que a troca aconteça em 2 semanas • Pigóstilo – osso da cauda das aves em que as penas estarão conectadas - sendo as penas das asas conectadas a todos os ossos das asas • Coverts são as penas que recobrem as Rêmiges CORTE DE PENAS O corte de penas tem como objetivo limitar o voo da ave evitando fugas, porém, é um mito. Muitas aves conseguem pegar correntes de vento e planar até longas distâncias. • Também pode ser feito para amansar aves que convivem no mesmo ambiente - exemplo: uma ave atacando a outra, corta-se as penas da ave “agressiva” para dar mais chance a outra de conseguir fugir e se defender • Evitar acidentes em cativeiro – bater contra vidros e espelhos, cair em privadas, ventiladores de teto etc Contudo, ao cortar as asas do animal, estamos o impedindo de exercer seus comportamentos naturais. Atualmente já existem alternativas como: telar a casa, adesivos nos vidros, ambientes sem ventiladores de teto, e supervisão do tutor ao deixa- los livres pela casa. • Telas de mosquiteiro ou nylon – mas não deixar os animais soltos nesses ambientes sem supervisão • Telas de metal – mais confiável para deixa-los soltos Motivos de fugas estão mais relacionados ao instinto da ave de fugir de possíveis ameaças, como: barulhos, animais entrando no ambiente delas, etc COMPLICAÇÕES DO CORTE DE PENAS • Corte adequado - Pode gerar atrofia da musculatura peitoral - Artrose: degeneração das articulações - Dependência emocional do tutor pois irá precisar dele para se locomover pelo ambiente - Estresse no caso de animais que tinham o hábito de voar e tiveram suas penas cortadas - Obesidade - Ave torna-se presa fácil em ambientes com outros contactantes • Corte inadequado - Lesões na quilha por queda - Fratura de rinoteca (parte superior do bico) - Traumas crânio encefálicos O corte por um médico veterinário pode ser feito da seguinte forma: • Deixa-se as 3 primeiras penas (de fora para dentro) e cortamos 9 penas de voo na altura do cálamo, de forma que as penas coverts as recubram – esteticamente mais bonito e importante pro tutor • Se houverem penas de sangue, NÃO devemos cortar, e sim pular essas na contagem das 9 penas • Também podemos deixar as penas vizinhas à pena de sangue para conferir proteção e maior estabilidade a elas, sendo assim, essas penas NÃO farão parte da contagem e as 3 serão puladas • OBS: o corte deve ser feito de forma bilateral Sistema esquelético Ossos mais leves, chamados de pneumáticos Fusão do tronco – esterno Fusão dos ossos pélvicos – sínfise pélvica • Sinsacro – união das vértebras lombares e sacrais • Pigóstilo MEMBROS ANTERIORES • Úmero – osso pneumático e tem conexão com os sacos aéreos • Ulna – osso medular, maior que o rádio (diferente dos mamíferos) • Rádio • Dígito alular • Carpometacarpo • Dígitos MEMBROS PÉLVICOS • Fêmur – osso pneumático com conexão com os sacos aéreos • Tibiotarso – osso medular • Fíbula • Tarsometatarso • Dígitos (a maioria das aves possuem 4) Aplicações e acessos intraósseos são feitos em ulna e tibiotarso, que são ossos medulares. Não podemos acessar ossos pneumáticos. EXEMPLO CLÍNICO Um papagaio com fratura de fêmur e opacidade em sacos aéreos direito no exame RX (ventro-dorsal) - Pode significar que a hemorragia ocasionada pela lesão progrediu pelo fêmur até os sacos aéreos - Pode ocorrer osteomielite secundária a fratura exposta e aerossaculite secundária Sistema respiratório • Epiglote AUSENTE - Pode haver aspiração de alimentos e fármacos, por isso ter cuidado ao realizar com seringas• Laringe sem cordas vocais e sem papel de vocalização • Traqueia localiza-se ao lado esquerdo e possui anéis cartilaginosos completos • Siringe – localizada na bifurcação caudal da traqueia e produz a vocalização por meio de vibrações - Siringite: decorrente do esforço do canto prolongado (também associado à imunossupressão) • Coana* – fenda no palato, fazendo uma comunicação da cavidade oral e nasal - Sinusite pode causar obstrução da coana, levando secreção da cavidade nasal para oral, e possíveis formações de abcessos caseosos • Pulmões fixos (ou seja, não contraem nem expandem) próximos a coluna – realizam as trocas gasosas; • Parabrônquios – fazem as trocas no pulmão • Brônquios primários e secundários • Sacos aéreos – NÃO fazem trocas gasosas SACOS AÉREOS Função de ventilar o pulmão, expandem e contraem levando e recebendo ar dos pulmões. Além disso diminuem o peso e a temperatura das aves. Em média as aves possuem 9 sacos aéreos Levam o ar para os pulmões: • Sacos aéreos torácicos craniais (2) • Intraclavicular (1) • Sacos aéreos cervicais (2) Recebem o ar dos pulmões: • Sacos aéreos abdominais (2) • Sacos aéreos torácicos caudais (2) A musculatura peitoral – intercostais – irá movimentar os sacos aéreos (expansão e contração) de forma que o ar se movimente em direção aos pulmões e para fora do corpo da ave A anestesia pode ser feita direta nos sacos aéreos caudais, principalmente em afecções de traqueia ou emergências Drenos podem ficar fixados nos sacos por até 7 dias É uma estrutura pouco vascularizada, por isso, em aerossaculite faz-se nebulização. E em uma necrópsia, nota-se áreas mais opacas. Sistema cardiovascular • Frequência cardíaca 250-550bpm - Quanto menor o tamanho da ave, maior será a frequência • Volume de sangue – 7% do PV • Coração localizado entre os lóbulos hepáticos - Diâmetro é de 50 a 60% do tórax - Possível avaliar se há cardiomegalia ou hepatomegalias por esse parâmetro - Forma de ampulheta na imagem radiográfica Sistema digestório • Língua – formato varia conforme a espécie e seus hábitos alimentares • Esôfago • Inglúvio (papo) • Proventrículo • Ventrículo (moela) • Fígado • Intestinos • Pâncreas • Ceco INGLÚVIO Popularmente chamado de papo, tem como função armazenar comida e permitir que o animal tenha reserva energética • Não realiza digestão • Permite a ingestão de grandes quantidades de alimento de uma vez • NÃO existe em todas as espécies, principalmente em piscívoros (pinguins) • Cabe de 3 a 5% do PV da ave • Alimentar adultos a cada 6h e filhotes a cada 4 horas • Ao dilatar exageradamente o papo, pode ocorrer estase de Inglúvio – pela compressão da circulação, ocorre fermentação do alimento e proliferação de leveduras como a Candida Na contenção é necessário tomar cuidado com o Inglúvio cheio, além disso, nessa condição a coleta de sangue pela jugular é dificultada CASO CLÍNICO Um proprietário veio em sua clínica com sua calopsita filhote, ainda sem penas, recebendo papinha no bico, apresentando com os seguintes sinais clínicos: - dispneia - estertor em sacos aéreos - escore corporal baixo 1- Qual (s) regiões anatômicas estão envolvidas? R: Sistema respiratório e digestório 2- Qual característica anatômica das aves facilita a ocorrência deste problema? R: Ausência da epiglote e traqueia na base da língua 3- Qual o possível diagnóstico? R: aspiração de alimento ESTÔMAGO • Proventrículo Estômago químico, revestido por glândulas que secretam muco, pepsinogênio e ácido clorídrico – digere principalmente as proteínas • Ventrículo – moela Estômago muscular que realiza a digestão mecânica – trituração do alimento pelas contrações musculares e pela presença de gastrólitos (estruturas que parecem pedras e ajudam a macerar o alimento) É revestido por uma membrana de queratina – Membrana de Coilina – que protege a mucosa do ventrículo de traumas causados pela movimentação do alimento Em avaliações de exames radiográficos é importante conhecer a radiopacidade dos gastrólitos e a localização anatômica do ventrículo, para não confundir com possíveis corpos estranhos INTESTINO Duodeno x jejuno x íleo • Intestino Delgado – realiza digestão enzimática e absorção de nutrientes • Duodeno tem um loop onde está localizado o pâncreas • Pâncreas – similar aos mamíferos, secreta amilase, lipase e tripsina • NÃO produzem lactase – por isso, não devemos oferecer leite com fubá para filhotes, ele não irá conseguir digerir e irá ocorrer fermentação • Algumas espécies possuem vesícula biliar Ceco x cólon x reto • Intestino grosso – relativamente curto e sem demarcações definidas, é dividido em: • Ceco – junção do intestino delgado com o grosso, geralmente tem formato em par, realiza a fermentação de matéria vegetal com digestão microbiana - o ceco é mais desenvolvido em espécies que ingerem grandes quantidades de matéria vegetal Ex: papagaios, calopsitas, psitacídeos e passeriformes possuem ceco vestigial • Cólon/reto – tubo curto e estreito, responsável pela reabsorção de água (lembrar que são animais que não apresentam vesícula urinária) • Cloaca – compartimento comum aos sistemas digestório, urinário e reprodutor FÍGADO • Síntese de colesterol, albumina, vitaminas, fatores de coagulação e ácidos biliares • Maior órgão do corpo • Vesícula biliar presente em galiformes, rapinantes e alguns passeriformes BAÇO • Colado ao fígado em formato de meia lua • Doenças virais podem causar esplenomegalia CLOACA • Coprodeo: reto – maior porção da cloaca (presença de um esfíncter para evitar contaminação dos outros sistemas) • Urodeo: menor porção, recebe o ureter e oviduto • Proctodeo: parte final da cloaca – presença da Bursa de Fabrícius (na maturidade sexual há uma regressão desse órgão linfóide) Excretas: As fezes normais tem formato de “minhoca” com coloração esverdeada e amarronzada Cristais de urato – coloração branca (em outras cores pode indicar problema hepático e dependendo da quantidade um problema renal) Parte líquida – halo de urina transparente em volta das excretas sólidas, em grandes quantidades indica poliuria e possíveis problemas renais • A ausência da vesícula urinária facilita o voo Sistema renal e urinário RIM • Pode ser dividido em porção cranial, medial e caudal - em passeriformes a medial é junta com a cranial - rins são aderidos ao sinsacro – difícil acesso em uma necrópsia • Não há distinção clara de medula e córtex 10 a 30% dos néfrons tem alça de Henle 90 a 70% néfrons reptilianos – não possuem alça de Henle e estão localizados no córtex (não são capazes de concentrar a urina) • Lobo cranial – próximo a ele estão localizados os ovários (as fêmeas só possuem o esquerdo funcional) e os testículos nos machos • Produzem ácido úrico como produto final do metabolismo do nitrogênio • Vantagem na produção de urina dentro dos ovos pois a ureia é tóxica para o desenvolvimento embrionário • SISTEMA PORTA RENAL - em situações de adrenalina, ativação do sistema nervoso simpático, o sangue que chega da veia ilíaca externa passa pela válvula porta renal aberta e vai para a veia cava caudal - já em situações de relaxamento (sistema nervoso parassimpático) o sangue que chega da veia ilíaca NÃO consegue passar pela válvula porta renal, e segue DIRETO para os rins Sistema reprodutor feminino • Ovários localizados na parte cranial do rim, sendo somente o esquerdo funcional • Fêmeas em período de reprodução apresentam diversos folículos (gemas) • Animais adultos fora da época de reprodução apresentam ovários e testículos diminuídose inativos (atresia) • Infundíbulo – local onde ocorre a fertilização - o sêmen escorre da cloaca do macho para a cloaca da fêmea • Útero ou glândula da casca – formação da casca pela deposição de cálcio (galinhas podem passar até 20h nesse processo) Sistema reprodutor masculino • 2 testículos intracavitários • Região cranial ao rim • Mudança de cor e tamanho na época reprodutiva • Ausência de pênis – algumas espécies apresentam o falo erétil Nutrição ORDEM PSITTACIFORMES Família: Loridae, cacatuidae e psittacidae • Peso de 30g a 1,7kg • Animais zigodáctilos (4 dedos – sendo dois para frente e dois para trás) • Muda de penas no outono e inverno • Monogâmicos • Reprodução na primavera e verão • Filhotes nascem sem penas – os pais cuidam até 120 dias de vida • Não possuem vesícula biliar nem ceco Granívoros – sementes (porém as aves vão preferir as sementes mais palatáveis, e apesar de virem balanceadas, irão selecionar as que querem – sendo assim, não devem ser oferecidas como alimento base, mas sim como petisco) Frugívoros – frutas Nectarívoros – néctar de flores A ração vem em pó, ao misturar com água forma uma papa, e por conter muito açúcar deve ser trocada 2 vezes ao dia A base da alimentação para todos deve ser de ração extrusada (nutrópica e megazoo) Além disso, podemos oferecer verduras verde escuras, vegetais (chuchu, abobrinha, cenoura, abóbora etc) e frutas como complemento da dieta • Verduras e vegetais – todos os dias • Frutas – 2 a 3 vezes por semana (petisco) - maracujá, goiaba, melancia, banana, mamão etc - NUNCA dar abacate pois é tóxico - evitar uva e morango (a menos que sejam de criações orgânicas) ENRIQUECIMENTO: colocar pimentas e alecrim para a ave interagir, mudar a apresentação dos vegetais etc ORDEM PICIFORMES • Família: picidae e ramphastidae • Peso de 125 a 600g • Zigodáctilos • Não possuem inglúvio • Monogâmicos • Territorialistas – principalmente machos, podem brigar até a morte • Filhotes nascem sem penas Tucanos brigam com o bico, podendo ocorrer fraturas e até mesmo ser necessário implantes de bico - comem outras aves e ovos - invadem outros ninhos - possuem ceco vestigial e vesícula biliar Animais onívoros, alimentação a base de ração extrusada, e complementar com frutas, pequenos roedores, insetos • Alimentos cítricos NÃO são recomendados pois aumentam a disponibilidade de ferro no intestino, ocorrendo uma hemocromatose – acumulo de ferro nos tecidos; são animais predispostos ORDEM PASSERIFORMES • Peso de 15 a 100g • Aves canoras • Siringe bem desenvolvida • Territorialistas – brigam até a morte • Monogâmicos • Anisodáctilos (3 dedos para frente e 1 para trás) • Ceco vestigial e vesícula biliar Granívoros Insetívoros (tenébrios) Existem rações específicas Frutas e verduras como complemento, vegetais amargos como jiló Algumas rações são lançadas em determinada época do ano com funções e sabores específicos – edições limitadas FIXANDO O CONHECIMENTO 1. Explique o que são ossos pneumáticos, e a importância de sabermos quais são estes ossos durante um atendimento clínico. São ossos que tem passagem de ar, e comunicação com o sistema respiratório (sacos aéreos). Auxiliam na termorregulação do animal e também confere maior leveza. É importante saber quais são os ossos pneumáticos, porque não podemos, por exemplo, realizar aplicações; caso isso aconteça poderá ocasionar problemas respiratórios para a ave. 2. Cite os componentes do sistema respiratório das aves e explique onde ocorre a troca gasosa e armazenamento de ar durante a respiração. Narinas, traqueia, sacos aéreos, pulmão e Parabrônquios. A troca gasosa ocorre no pulmão, enquanto o armazenamento de ar ocorre nos sacos aéreos. 3. Cite os componentes do sistema digestório das aves e suas devidas funções. Língua, esôfago – passagem de alimento e lubrificação, inglúvio – armazenamento do alimento, proventrículo – digestão química, ventrículo – digestão mecânica, intestino delgado: duodeno – digestão enzimática com auxilio das enzimas secretadas pelo pâncreas, jejuno e íleo – absorção, ceco – digestão microbiana, cólon – absorção de água, reto e cloaca. 4. Explique como deve ser feita a contenção física da ave e a importância de conhecer a fisiologia respiratória neste processo. A contenção deve ser feita na cabeça, e membros (asas e pés). É importante sempre manter a musculatura peitoral livre, pois é responsável pelo controle da respiração, uma vez que esses animais não possuem diafragma. Vias de administração • GAVAGEM Sondar o animal a partir da cavidade oral até o inglúvio – posição bem lateralizada para conseguir entrar no esôfago, sempre da direita para a esquerda (da perspectiva do veterinário) Acoplar a sonda à seringa e então administrar o alimento - VANTAGEM: evita falsa via Existem vários tamanhos de sonda: VIAS SUBCUTÂNEAS PARA FLUIDOTERAPIA • Interior de asa • Prega inguinal e dorso Soluções de Ringer Lactato 50mL/kg - muito fluído em um local só atrapalha a absorção - fluídos aquecidos são recomendados para animais muito debilitados - passar somente um algodão com álcool no local da aplicação, não jatos de álcool, pois isso atrapalha a termorregulação das aves - Geralmente usamos agulhas 20x5,5 Aplicação em prega inguinal Aplicação em interior e asa e região dorsal • MUSCULATURA PEITORAL Área em que não é necessário arrancar as penas, basta abri-las que teremos uma área própria para aplicação. - Método mais seguro: dividir a musculatura em 3 pedaços. No primeiro terço, se a ave se mexer, podemos atingir o inglúvio. No terço final, se algo der errado, podemos atingir as alças intestinais. Por isso, o local mais seguro é no terço médio. • Com uma angulação de 45º, sem introduzir a agulha toda, fazemos a aplicação. Evitando, assim que a agulha atinja o osso do esterno. • Em animais muito grandes e com musculatura bem desenvolvida podemos entrar com a agulha em um ângulo de 90º • INTRAÓSSEA - Pode ser feita em ulna ou tibiotarso – ossos medulares - Ocorre mais em casos de emergência, quando precisamos estabilizar o animal rapidamente, para depois pegarmos outra via de acesso menos dolorosa Coleta de sangue • Veia ulnar ou braquial na asa (pele extremamente fina, sendo possível ver a vascularização) • Veia jugular – bem calibrosa Coletar 1% do peso vivo do animal (exemplo: calopsitas de 80g coletamos 0,8mL de amostra) Veia ulnar Em aves, usamos o tubo com EDTA como via de regra para coletas de hemograma (tubo roxo) – atentar-se ao tamanho do tubo • Algumas espécies como corvos, avestruz etc usamos heparina, mas não são regra CELULARIDADE Algumas células são diferentes das células dos mamíferos, por isso a análise precisa ser feita de forma manual – não há máquinas que avaliam • Hemácias nucleadas • Heterófilos – mesma função dos neutrófilos • Trombócitos – plaquetas Aves não apresentam icterícia, pois não há a conversão de biliverdina em bilirrubina. Sendo assim, o plasma amarelado pode significar dietas ricas em betacaroteno Anamnese • Nome, espécie e sexo (alguns tutores não sabem) • Exposição a doenças infecciosas • Exposição a toxinas – inseticidas, produtos de limpeza, plantas, fumaça de cigarro, medicamentos, ingestão de metais, gás liberado pelas panelas de teflon (pode levar a hemorragia pulmonar e óbito), tintas de gaiola etc • Ambiente onde vive • Práticas de manejo – limpeza do recinto (nãopodemos usar cloro) • Dieta – conferir se o animal realmente come ração ou se é um mix de sementes vendido como se fosse ração (comum na clínica); perguntar sobre petiscos, frutas, legumes, quantidade e quantas vezes ao dia é oferecido • Estado reprodutivo – se já fez postura de ovos, se já entrou em maturidade sexual, se há alterações hormonais • Contactantes – se houve quarentena • Enfermidades anteriores EXAME FÍSICO A DISTÂNCIA • Postura do animal • Estado de alerta – animais no fundo da gaiola, apáticos, com penas eriçadas, olhos fechados, geralmente é urgência • Equilíbrio – aves que se apoiam com o bico nas grades podem estar com dificuldades • Sinais respiratórios – bico aberto, ou bico fechado com penas eriçadas e meneio de cauda (cauda balançando) – indicam esforço respiratório; secreções nas narinas • Penas arrepiadas • Fezes e urina • Poleiros • Comedouros • Higiene do recinto Animais que ficam com poleiros muito próximo às grades da gaiola podem ter fratura de penas EXAME FÍSICO • Estado nutricional – escore corporal (palpação da musculatura peitoral: palpar a quilha preenchida pela musculatura) Escore 1 – caquético (popularmente chamado de “peito seco” – SINAL CLÍNICO de alguma doença Escore 2 – magro Escore 3 – ideal Escore 4 – sobrepeso Escore 5 – obeso • Hidratação – prega palpebral (normal é 1s) • Temperatura – medica na cloaca, mas não utilizamos em todas as espécies (ideal 41-43ºC) • Empenamento – verificar se o animal todo está recoberto com penas alinhadas (pode haver alterações dermatológicas ou sinais de arrancamento de pena) - APTERIA – equivalente a alopecia em mamíferos, significa ausência de penas - verificar presença de ácaros nas pelas, piolhos, vírus, penas distróficas (característico de vírus) • Examinar cavidades (oral, cloaca, ouvido, narinas, coana) – não é normal haver sujidades na cloaca - conduto auditivo é interno - narinas localizadas na base do bico • Examinar membros – palpação para conferir se não há fraturas ou luxação • Exame de bico – hiper crescimento pode indicar alterações hepáticas ou hipovitaminose A, vírus ou sarnas • Pesagem do animal EXAMES COMPLEMENTARES • Exames radiográficos – com ou sem contraste (sulfato de bário) • US – poucas pessoas fazem • Perfil hematológico e bioquímico • Exame de Gram (triagem, candidíase) - Gram positivas são geralmente benéficas, compondo 90% das bactérias encontradas em situações fisiológicas – coradas em ROXO - Gram negativas – são patogênicas em sua maioria (Salmonela, Escherichia coli) – coradas em ROSA • Cultura bacteriana e antibiograma • Exames de biologia molecular (clamidiose, poliomavírus, circovírus, bornavírus) – PCR • Necrópsia e histopatológico Principais enfermidades Bornavírus Doença da dilatação proventricular (PDD) É um vírus de RNA fita simples da família Bornaviridae TRANSMISSÃO - oro-fecal - vertical - pode haver portador subclínico ou saudável - qualquer idade está suscetível, porém mais comum em adultos SINAIS CLÍNICOS Animal com penas escurecidas e oleosas Alterações neurológicas: head tilt, convulsões, encefalomielite, ganglioneurite dos nervos do plexo Sinais de sistema nervoso central: ataxia, alteração em propriocepção e tremores Alterações gastrointestinais: disfagia, dilatação proventricular, dificuldade na passagem de alimento, presença de alimentos não digeridos nas fezes Não existe cura nem antivirais específicos, apenas tratamento dos sintomas. O animal pode ficar portador do vírus a vida toda, e ao voltar a manifestar sinais clínicos, podem voltar a transmitir. NECROPSIA • Macroscópico: - emaciação, caquexia, dilatação do proventrículo, alimentos não digeridos no TGI, erosões e ulcerações com ou sem hemorragia na mucosa proventricular. • Microscópico: - Infiltrado de linfócitos e plasmócitos em nervos do trato gastrointestinal (ganglioneurite linfoplasmocitária), cérebro, medula espinhal e adjacente aos vasos do proventrículo DIAGNÓSTICO • Histórico e sinais clínicos • RX simples ou contrastado – apresentará dilatação de proventrículo – diferenciar de corpo estranho e megabacteriose - OBS: o contrastado gera muito estresse no animal devido às sucessivas contenções • Achados macro e micro de necrópsia • Detecção de RNA com PCR ou anticorpos (ELISA) – não é muito utilizado no Brasil, apenas em projetos de pesquisa) TRATAMENTO Sintomático • Antibióticos para infecções secundárias • Metoclopramida para estimular a motilidade • Fluidoterapia e gavagem (suporte nutricional) • Anti-inflamatórios: Celecoxibe (AINE seletivo de cox2 e pode ser utilizado por até 4 meses), sulfato de amantadina; meloxicam é ineficaz nesse caso • Antivirais: Interferon alfa e ribavirina • Gabapentina: pode ser utilizada para quadros neurológicos, demorando em média 15 dias para começar a fazer efeito – e em crises convulsivas podemos utilizar também Diazepam (no consultório) para estabilizar o animal Circovírus Doença do bico e das penas de psitacídeos É uma doença endémica em aves na Austrália, e mais comum em cacatuas ETIOLOGIA O Circovírus é um vírus não envelopado de DNA, da família Circoviridae - Afeta órgãos linfoides facilitando infecções secundárias e imunossupressão TRANSMISSÃO Suscetíveis: aves silvestres e exóticas (papagaio ecletus, ring neck, calopsita, cacatua etc) O vírus é eliminado pelo pó das penas e pelas fezes Via oro-fecal, aerógena e vertical Período de incubação: 21 dias a anos SINAIS CLÍNICOS Hiperaguda, aguda, crônica ou portador assintomático • Hiperaguda: neonatos apresentam pneumonia, enterite, sepse e óbito • Aguda: jovens em fase de muda desenvolvem apatia, alterações no desenvolvimento das penas, diarreia e óbito • Crônica: adultos apresentam distrofia de penas, sangramento, perda de pigmentação, alongamento de bico, necrose de palato e ulceração da mucosa oral • Imunossupressão: possibilita infecções secundárias O animal infectado apresentará penas distróficas, podendo haver hemorragia, e penas de outras colorações crescendo em lugares incomuns; hiperqueratose do bico (se torna mais poroso) NECRÓPSIA Necrose de Bursa e timo Necrose e hiperplasia de células epiteliais na camada epitelial intermediária e basal DIAGNÓSTICO • PCR das penas, fezes (coletar amostra de 3 dias seguidos) e swab de cloaca • Histopatológico: corpúsculo de inclusão intranuclear basofílico – biópsia de pele • DIFERENCIAL: bicamento de penas, deficiência nutricional, alterações endócrinas, reações medicamentosas, infecções bacterianas fúngicas TRATAMENTO Não há tratamento específico, apenas para os sintomas e prevenção das infecções secundárias. • Recomendado: eutanásia Por ser uma doença extremamente contagiosa, deve- se alertar o proprietário que possui mais de uma ave a isolar o animal infectado, e evitar contato com outros animais enquanto estiver na clínica veterinária Clamidiose Etiologia: Chlamydophila psittaci Ocorre principalmente em calopsitas, mas todas as aves silvestres e exóticas estão suscetíveis Sorovares: A – F TRANSMISSÃO: contato direto com fezes, secreções e aerossóis Fatores estressantes associados ao manejo inadequado – como má nutrição e excesso populacional – são predisponentes SINAIS CLÍNICOS Prostração Anorexia Desidratação Secreção ocular, nasal ou conjuntival Conjuntivite, blefarite Dispneia Poliúria Biliverdinúria – hepatomegalia Diarreia Aerossaculite e pneumonia • Mais comuns são os sinais respiratórios Porta de entrada: pulmão – macrófagos carreiam o vírus para os outros órgãos HepatomegaliaATENÇÃO: Clamidiose é uma zoonose – sendo idosos e crianças mais propensos a infecção – e os sintomas humanos são de gripe forte DIAGNÓSTICO • PCR em amostras (swab) de cloaca ou coana, ou de órgãos mais acometidos: fígado, baço, sacos aéreos; e sorologia • Notificar a ocorrência às autoridades sanitárias e testar as aves suspeitas ou que tiveram contato TRATAMENTO Doxiciclina (10 – 20 mg/kg VO BID, durante 45 dias) Tratar e isolar os animais positivos e suspeitos Limpeza e desinfecção do ambiente Megabacteriose É uma doença fúngica: Macrohabdus ornithogaster Transmissão por contato direto (fezes) SINAIS CLÍNICOS Regurgitação e polifagia Perda de peso Alimentos não digeridos nas fezes Diarreia Dilatação proventricular e ventricular DIAGNÓSTICO Sinais clínicos e achados radiográficos Exame de coloração de Gram TRATAMENTO Anfotericina B (100 mg/kg VO, BID por 7 dias) Nistatina (20 a 30 dias) ou Fluconazol Probióticos Controle com exames de gram Doenças não infecciosas Hipovitaminose A ETIOLOGIA: quantidade de vitamina A insuficiente na alimentação ou alterações de absorção (parasitas intestinais) SINAIS CLÍNICOS Ressecamento e irritação da conjuntiva ocular e da córnea – opacidade e infecção Infecções em epitélio de trato respiratório, pele e patas DIAGNÓSTICO Histórico alimentar, sinais clínicos e dosagem de vitamina A TRATAMENTO Suplementação com vitamina A parenteral Tratar as infecções secundárias Correção de dieta (cenoura, manga, melão, melancia, espinafre, couve) Lipidose hepática Etiologia: ingestão de mais triglicerídeos que o metabolismo suporta – acumulo – lipidose Causada pela alimentação inadequada (semente de girassol), falta de exercício e idade da ave SINAIS CLÍNICOS Anorexia, letargia, fraqueza, diarreia, penas com alteração de cor, poliuria e polidipsia, dispneia, uratos amarelados ou esverdeados, aumento de volume abdominal, ascite, coagulopatias, anormalidades em bico e unhas Consequências da obesidade: lipidose hepática, aterosclerose (placas de gordura na parede das artérias), imunossupressão, aumento da incidência de diabete melitos, neoplasias e riscos inerentes à anestesia DIAGNÓSTICO Exame radiográfico – hepatomegalia Ultrassonografia – ascite Biópsia ou citologia guiada por US Tomografia e ressonância Bioquímica sérica: Hemograma: Anemia TRATAMENTO Implementar dietas com baixo teor de gordura Vitaminas antioxidantes Anemia – vitamina B e ferro Silimarina – protege a integridade da função hepática
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