Prévia do material em texto
1. O QUE É TEOLOGIA Diversos são os conceitos e entendimentos sobre a “teologia”. É imprescindível o entendimento do termo para evitar equívocos sobre seu real significado. De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, é difícil encontrar uma boa e abrangente definição para a teologia, pois praticamente todas elas são, ou simples demais, ou tendem a dar mais importância a uma das fontes de uma teologia totalmente desenvolvida, excluindo outras.1 A teologia sofreu preconceito em todas as eras da história e por diversas ocasiões recebeu o tratamento de mitologia pagã. Orígenes foi o primeiro a empregá-lo no contexto cristão como “a sublimidade e a majestade da teologia”. A partir de Eusébio de Cesaréia, a palavra popularizou-se no cristianismo.2 A teologia não foi criada por si mesma, no sentido que a revelação e a fé tenham-na criado ou construído. As duas palavras gregas que formam o termo indicam o seu objetivo. “O termo teologia vem do grego theôs, "deus", e Iogos, "estudo", "discurso", "raciocínio". Assim, essa palavra indica o estudo das coisas relativas a Deus, à sua natureza, obras e relações com os homens, etc. Uma definição léxica diz: um corpo de doutrinas acerca de Deus, incluindo seus atributos e relações como homem; especialmente aquele corpo de doutrinas estabelecido por alguma igreja ou grupo religioso em particular". Essa é uma definição restrita. Mas esse vocábulo também é usado em um sentido mais geral: "O estudo da religião, que culmina em uma síntese ou filosofia da religião; além disso, uma pesquisa crítica da religião, especialmente da religião cristã".3 Charles Ryrie destaca que existem pelo menos três elementos incluídos no conceito geral de teologia: 1 PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.1910. 2 SOARES, Esequias et. al. Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: CPAD, 2011. p.51. 3 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.1. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.396. Deus e de todas as suas obras”. Para Hodge “teologia não é somente ‘a ciência de Deus’ nem mesmo ‘a ciência de Deus e do homem’, ela também dá conta das relações entre Deus e o universo”. Um bom conceito para a teologia deve considerá-la como o estudo das relações do Criador (Deus) com a criatura (homens). Conceituar a teologia simplesmente como o estudo de Deus seria muita presunção para o ser humano, uma vez que, Deus, transcende o entendimento humano. Em outras palavras, a mente humana é incapaz de estudar, ou conhecer a Deus na sua plenitude. Deus se revela ao homem, e este, é capaz de conhecê- lo. O conhecimento produz um relacionamento, que não necessariamente, permita um conhecimento pleno da “mente” de Deus. O relacionamento produzido por um relacionamento íntimo com Deus permite ao homem viver na plenitude daquilo que Deus projetou para ele. Deus é conhecido através das suas obras e das suas atividades. Por isso a teologia dá conta destas atividades na medida que elas acompanham o nosso conhecimento. Deus pode ser conhecido e é possível ao homem conhecer a Deus. Isso torna a teologia plenamente possível. De acordo com Strong existem ao menos três possibilidades para a teologia: [a] Deus é um ser real que se relaciona com o universo; [b] A mente humana é capaz de conhecer a Deus e perceber sua relação com o universo; e [c] Deus provê sua revelação (João 17.3: E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Efésios 1.17: Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação). Hordern destaca que a teologia é um tratado ou desenvolvimento bem ordenado do pensamento que se possa obter a respeito de Deus. De acordo com este autor “a palavra ‘Deus’ não pode ser definida de forma exaustiva, mas é normalmente empregada para representar o que quer que se creia como sendo o fato ‘último’, a fonte da qual tudo o mais teria provindo, o valor supremo ou a origem de todos os valores da existência. Deus vem a ser o ente admitido como sendo digno de constituir-se no alvo e no propósito da vida. A luz de tais exemplo, as relações entre a idade média, o renascimento e a reforma são controvertidas, e alguns acadêmicos entendem que os dois últimos períodos são uma continuação do primeiro, embora outros os vejam como períodos totalmente distintos um do outro. O que podemos afirmar é que a história da Teologia Cristã começa no século II, cerca de cem anos depois da morte e ressurreição de Cristo, com o início da confusão entre os cristãos no Império Romano, tanto dentro quanto fora da Igreja. Os desafios internos principais eram semelhantes a cacofonia de vozes que muitos cristãos em nossos dias chamariam de "seitas", ao passo que os desafios externos eram semelhantes as vozes que muitos hoje chamariam "céticos". É dessas vozes desafiadoras que surgiu a necessidade e os primórdios da ortodoxia - uma declaração definitiva daquilo que é teologicamente correto.12 EXPLORANDO O TEMA NA WEB Um bom texto sobre o conceito de teologia pode ser verificado em http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/teologia-o-que-e. QUESTÕES PROPOSTAS 1. A teologia é plenamente possível, ou seja, sua ação é prática. Justifique com suas palavras essa afirmação. 2. Qual a relação do texto de Jo 17.3 e Ef 1.17 com a construção de um conceito para a teologia? 3. Crie um conceito sobre a teologia com sua palavras. 12 OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 668. confiança é verdadeiro de fato, e, ainda que muitas vezes transcenda a nossa razão, não lhe é contrário. A credulidade, porém, alimenta-se de coisas imaginárias, e é cultivada pela simples imaginação. A fé difere da crença porque é uma confiança do coração e não apenas uma aquiescência intelectual. A fé é uma atitude, e deve ser um impulso. A fé cristã é uma completa confiança em Cristo, pela qual se realiza a união com o Seu Espírito, havendo a vontade de viver a vida que Ele aprovaria.14 Para Frisotti a teologia pode ser compreendida com sendo uma ciência em que a razão do crente, guiada pela fé teologal, se esforça para compreender melhor os mistérios revelados em si mesmos e em suas conseqüências para a existência humana.15 Sobre fé e teologia Frisotti destacou que: A fé é assentir a uma verdade enquanto digna de ser crida. O próprio da Teologia é analisá-la. O motivo formal da fé é a autoridade de Deus que se revela; o da Teologia é a percepção da razão da inteligibilidade do crido. A fé é sempre pressuposto absoluto da Teologia. De modo que a Teologia deve ser feita desde dentro e a partir da fé, e é assim algo mais que uma simples reflexão racional sobre os dados da revelação. Por isso afirma Agostinho: “intelligere ut credas, credere ut intelligas” (deves entender para crer e deves crer para entender). Anselmo de Canterbury entendia a Teologia como “fides quarens intellectum”; a fé que busca entender, não por curiosidade, mas por amor e veneração ao mistério. O crente não discute a fé, mas mantendo-la firme busca dar razões do por que da fé. Portanto, a Teologia é desenvolvimento da dimensão intelectual do ato de fé. É uma fé reflexiva, fé que pensa, compreende, pergunta e busca. Trata de elevar, dentro do possível credere ao nível do intelligere. O Teólogo se apóia no conhecimento de Deus pela fé, na razão humana e nas suas descobertas certas. Então, com tudo isto, o Teólogo tenta ordenar e interpretar os dados que são objeto de fé, de modo que se veja sua unidade tal como Deus o dispôs.16 Em seu estudo sobre a natureza da teologia,Frisotti, tem um olhar interessante sobre ela ao observar que ela possui objetivo positivo e especulativo. O texto abaixo é um resumo do pensamento de Frisotti. 14 BUCKLAND, A.R. “Fé”. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vida, 2007. 15 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_ teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015. 16 Ibidem. fossem dados totalmente evidentes. Mas que é a busca do sentido preciso que se encerra na fé e a relação dos mistérios entre si. 2. Trabalho sistemático: a Teologia procura expor com rigor os preâmbulos da fé (mostrar que a fé, ainda que não seja evidente, não é absurda). Apresentar una síntese dos mistérios da fé (de modo que se mostre o melhor possível a unidade e a coerência da doutrina revelada). E relacionar seus dados e conclusões com o mundo da ciência e da cultura.17 EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre o objeto da teologia em http://www.webartigos.com/artigos/um-ensaio-sobre-o-objeto-de-estudo-da- teologia/54465/ QUESTÕES PROPOSTAS 1. Qual a diferença entre Teologia e Teodicéia? 2. Explique a diferença entre fé e credulidade. 3. Qual a diferença entre teologia positiva e teologia especulativa? 17 FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_ teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015. ao estudar a doutrina da expiação estudar-se-ia a maneira como determinado assunto foi tratado nas diversas seções da Bíblia — no livro de Atos, nas Epístolas, e no Apocalipse. Ou verificar-se-ia o que Cristo, Paulo, Pedro ou João disseram acerca do assunto. Ou descobrir-se-ia o que cada livro ou seção das Escrituras ensinou concernente às doutrinas de Deus, de Cristo, da expiação, da salvação e de outras. [5] A teologia sistemática. Neste ramo de estudo os ensinos bíblicos concernentes a Deus e ao homem são agrupados em tópicos, de acordo com um sistema definido; por exemplo, as Escrituras relacionadas à natureza e à obra de Cristo são classificadas sob o título: "Doutrina de Cristo".19 3.1 Teologia Exegética A teologia exegética busca o verdadeiro significado das Escrituras. Esse termo vem do grego, “ex” (fora) e “agein” (guiar), ou seja, “liderar” ou “explicar". Champlin destaca que a palavra portuguesa exegese é usada para indicar “narrativa”, “tradução” ou “interpretação”. Dentro do contexto teológico, a ênfase recai sobre a interpretação de modos formais de explicação que podem ser aplicados a algum texto, a fim de se compreender o seu sentido. Na linguagem técnica, a exegese aponta para a interpretação de alguma passagem literária específica, ao mesmo tempo em que os princípios gerais aplicados em tais interpretações são chamados hermenêutica.20 O contrário da exegese é a eisegese. Sobre a eisegese Champlin diz que este termo significa ler no texto aquilo que alguém quer encontrar ali, mas que, na realidade, não se encontra no mesmo, ou então significa distorcer um texto para adaptá-lo às próprias ideias do intérprete. Portanto, o quanto a exegese é séria, a eisegese não passa de uma burla. A maioria das pessoas que se envolve na exegese também pratica alguma eisegese.21 De acordo com Arantes a interpretação não é uma atividade tão complexa: “A maior parte da Escritura é, na verdade, de fácil entendimento. Ninguém precisa ser versado nos originais para compreender o seu propósito salvífico. Sua mensagem é basicamente simples. Todo aquele que dela se aproxima pode ser 19 Ibidem. p.10-11. 20 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.2. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.617. 21 Ibidem. revelado. O modo de produção, o sistema escravista, o comércio, as guerras, tudo isto pode ser adquirido com pesquisa e estudo. Mais uma vez temos a exortação do apóstolo que diz a Timóteo: “Até a minha chegada aplica-te à leitura, à exortação ao ensino. Não te faças negligentes para com o dom que há em ti...” (1Tm. 4:13, 14).24 A qualificação espiritual é, também, fundamental à interpretação bíblica, Intelecto e estudo são importantes, mas sem contato com o Espírito Santo que é o autor da Bíblia tudo é incompleto, afirma Terry. Portanto como ensina o Dr. Loyd Jones “é imprescindível que haja uma aproximação espiritual no texto. O pecado pode vendar nossos olhos a ponto de não enxergarmos com clareza a vontade de Deus revelada em um texto estudado mesmo com empenho. O maior objetivo do intérprete deve ser o de alcançar a verdade, preceito ou doutrina do texto estudado. Não podemos permitir que o texto fale o que queremos ouvir, mas lutar para ouvir o que o texto tem a nos dizer. O apóstolo Paulo nos exorta dizendo: “Por isso o pendor da carne é inimizado contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rm 8.7).25 3.2 Teologia Histórica A teologia histórica traça a história do desenvolvimento da interpretação doutrinária, e envolve o estudo da história da igreja. Segundo Matos, a teologia histórica também conhecida como história da teologia ou história da doutrina, tem estreita conexão com duas áreas muito importantes: a história da Igreja e a teologia cristã. Sobre isto Matos diz: Levanta-se então a seguinte pergunta: A teologia histórica é primordialmente história ou teologia? Qual das duas ênfases é predominante? Variam as posições dos autores sobre essa questão, mas não seria incorreto dizer que ela tem estreita e igual conexão com essas duas áreas correlatas. Inicialmente, é necessário considerar como a teologia histórica se encaixa nas subdivisões dos estudos históricos do cristianismo. A história da Igreja é a mais ampla das disciplinas que 24 Ibidem. 25 Ibidem. história da teologia documenta as respostas às grandes questões do pensamento cristão e ao mesmo tempo procura explicar os fatores que contribuíram para a elaboração dessas respostas.27 A história da teologia é uma ferramenta pedagógica tendo em vista que oferece informações sobre o desenvolvimento dos grandes temas teológicos, os pontos fortes e fracos das diferentes abordagens e os marcos mais notáveis do pensamento cristão, em termos de autores e documentos. É também uma ferramenta crítica, pois permite ver as falhas, as limitações e os condicionamentos de certas formulações doutrinárias, o que possibilita seu contínuo aperfeiçoamento.28 3.3 Teologia Dogmática Estuda as verdades fundamentais da fé de acordo com os credos e confissões de fé da igreja. Preocupa-se também em estabelecer declarações que darão norte para a igreja e sentido para uma prática religiosa. O pastor Esequias Soares conceitua o credo como sendo uma interpretação precisa e autorizada das Escrituras. São documentos que têm por objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo para facilitar as confissões públicas e defender das heresias o pensamento cristão.29 Mark Noll destacou que a construção de um credo, ou de uma declaração de fé, deve obedecer pelo menos três funções: [a] Servir de declarações autorizadas da fé cristã que entesouravam as novas ideias dos reformadores, sem abandonar formas que também pudessem fornecer instrução regular para os fiéis mais humildes; [b] Erguer um estandarte em redor do qual uma comunidade local podia cerrar fileiras, tornando claras as diferenças com os oponentes; e [c] Tornar possível uma reunificação da fé e da prática, visando a unidade e, ao mesmo tempo, estabelecer uma norma para disciplinar os desregrados. 27 McGRATH, Alister apud MATOS, Alderi Souza de. Fundamentosda Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p.17. 28 Ibidem. p.18. 29 SOARES, Esequias. Credos e Confissões de Fé – Breve guia histórico do cristianismo. Recife: Bereia, 2013. p.31. Traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia. Champlin destaca que a expressão teologia bíblica é usada de várias maneiras, a saber: [a] Uma atividade cuja finalidade é esclarecer os temas e as ideias da Bíblia sem os pressupostos que inevitavelmente dão um certo colorido às interpretações particulares. Em outras palavras, trata-se da tentativa de determinar o que a Bíblia realmente ensina, mesmo que os resultados sejam embaraçosos para o estudioso e sua denominação. Essa atividade, na verdade, embaraça a todas as denominações, cuja própria existência depende da distorção de certos ensinos da Bíblia. [b] A tentativa para articular a significação teológica da Bíblia como um todo. Isso é uma tarefa quase impossível, porque a Bíblia não é um livro homogêneo, conforme as pessoas gostam de acreditar. Não obstante, a tentativa resulta em pontos positivos, a despeito de seu inevitável fracasso. [c] A tentativa de construir um completo sistema teológico, mediante o uso da Bíblia como única fonte informativa. Isso tem sido tentado por muitos evangélicos fundamentalistas e conservadores. Também foi tentado por Karl Barth e sua neo-ortodoxia, ou pelos grupos protestantes que aprovam a rejeição das tradições eclesiásticas, dos pais da Igreja e dos concilias, como autoridade, conforme fez Lutero. [d] O pressuposto é que todos os autores da Bíblia concordam em seus pontos de vista fundamentais, e juntamente com exposições de ideias pretendem descobrir exatamente quais eram os pontos de vista daqueles autores sagrados.31 De acordo com Tenney “Teologia Bíblica é aquele exercício no qual se faz uma tentativa de se determinar as afirmações de fé da Bíblia de forma sistemática. Esta definição reconhece a Bíblia como um livro de fé, quer dizer, ela registra o significado redentor do encontro de Deus com o homem”.32 Este autor observa também que o termo “sistemática” de forma alguma sugere que as categorias da Teologia Sistemática devem dirigir este exercício. Ele afirma, que, pelo contrário, indica que a tarefa da Teologia Bíblica é expressar as afirmações de fé dos escritores bíblicos individual e coletivamente, de acordo com os 31 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.6. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.361-362. 32 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p.840. entrada do povo em Canaâ, o estabelecimento e a conduta dos reinos, o exílio, o retomo à Palestina, a vida de Cristo e o estabelecimento da igreja. Estes eventos não são ocorrências acidentais na história; são atos do Deus vivo, o qual possui um interesse redentor em seu povo. Assim, esta história é Die heilsgeschichte, "história da salvação”, e nela Deus mostra sua natureza redentora e a traz à existência e sustenta seu povo redimido. Von Hofinann. von Rad, G. E. Wright, O. Cullmann, J. Danielou, E. Rust e muitos outros teólogos do Antigo e do Novo Testamentos têm enfatizado a centralidade da história na fé judaica-cristã. Sendo isto verdade, para ser válida em sua metodologia, a Teologia Bíblica deve mostrar essa história da salvação, porque a revelação de Deus de si mesmo na história é um dos pontos fundamentais do pensamento bíblico. [c] Cristo, a chave das Escrituras. Para os cristãos, como Rust destaca, Cristo é o “Senhor das Escrituras, assim como é Senhor da história e da vida”. Sem o NT, o AT apresenta um quadro inacabado da redenção de Deus. É uma promessa sem cumprimento. Significativamente, a igreja primitiva não repudiou as antigas Escrituras, não somente porque o Mestre não repudiou, mas também porque o AT proporcionava a única base para o entendimento e a comprovação da sua existência na história sagrada de Israel. A chave para essa interpretação necessária era o advento de Cristo. Três eventos em especial, registrados na história de Lucas-Atos, intensificam este fato. (1) O caminho de Emaús (Lc 24.13-35). Concernente à conversa do Mestre, Lucas registra: “Começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). (2) A defesa de Estêvão (At 7). Obviamente, se Estêvão tivesse a chance de tenninar seu discurso, teria demonstrado o papel de Cristo na história. De fato, Cristo era não somente a chave, mas também o clímax redentor. (3) Filipe e o eunuco etíope (At 8.26-39). Surpreendentemente, o eunuco estava lendo Isaías 53. Quando admitiu que não compreendia o que estava lendo, “Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura anunciou-lhe a Jesus” (v. 35). Cristo é o cumprimento das promessas feitas ao povo de Israel e este fato governa o NT. É fácil afirmar que Cristo é a chave das Escrituras; entretanto, ao se comprovar isso, levanta-se a questão hermenêutica: como Cristo se relaciona ao AT? Devemos procurar figuras? Existe uma tipologia histórica que reconheça legitimamente a unicidade da fé dos santos do AT, mantendo ao mesmo tempo a equação promessa-cumprimen- to? A tarefa da Teologia Bíblica é muito exata neste ponto. [d] Confessional e Kerigmático. A Bíblia tem uma dimensão de testemunho. Não se trata apenas do registro de tantos eventos e fatos relacionados a um antigo povo, mas é também uma profunda declaração de sua fé num Deus que agiu em prol de sua salvação. Judeus e cristãos “confessam” aplicação à vida pessoal do teólogo e outros”.36 De acordo com Alln Myatt e Frank Ferreira, ao menos três aspectos são importantes na verificação do conceito da teologia sistemática: [a] A Teologia Sistemática deve dar uma exposição coerente: A tarefa da Teologia Sistemática é fazer um sistema. A Teologia Sistemática trata das doutrinas da Bíblia através do exame do que a Bíblia inteira diz sobre aquela doutrina e a comunicação de suas conclusões. Também, a Teologia Sistemática mostra como as doutrinas da Bíblia se relacionam logicamente. Então, a partir de dados da Bíblia uma cosmovisão é construída. Esta cosmovisão abrange todas as áreas da vida que são tocadas pela própria Bíblia. Neste sentido, Teologia Sistemática é uma teologia compreensiva. [b] Baseada nas Escrituras: A Teologia Sistemática tenta ser compreensiva mas não vai além do que está dito na Bíblia. A Teologia Sistemática tenta evitar a especulação, a não ser que o teólogo admita que ele está fazendo especulação. O teólogo precisa evitar a tentação de dar às suas próprias especulações a autoridade da Bíblia. [c] A Teologia Sistemática sempre tem um alvo prático: É preciso tratar com questões abstratas e complicadas, mas o teólogo deve sempre mostrar a diferença que as suas conclusões fazem na vida cotidiana. Uma vez alguém perguntou a Francis Schaefer o que ele faria se, de repente, surgisse evidência conclusiva que a fé cristã é falsa. Ele respondeu que ele ainda seria teólogo, porque é o melhor jogo que há. Muitas pessoas tratam a teologia como esta fosse um jogo, mas essa atitude é uma perversão do propósito de teologia. Teologia não é jogo. Ela existe para que possamos melhor conhecer, obedecer, e amor a Deus. Aquele que acha que pode ser um teólogo teórico, fazendo um “teologia pura” se engana. Quem não faz a teologia com as necessidades do povo nos bancos da igreja em mente não é teólogo de verdade. É um fato que quase todos os teólogos de maior influência através dos séculos eram pastores também.37 Basicamente a teologia sistemática divide-se da seguinte maneira: a) Teologia própria: O estudo de Deus – João 7.16,17: “Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele queme enviou. 36 HAMMETT, John apud MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.13. 37 MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.13-14. EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você encontra um bom texto sobre as definições de teologia e suas divisões em http://theologiaevida.blogspot.com.br/2012/03/definicoes-da-teologia.html QUESTÕES PROPOSTAS 1. De acordo com Charles Ryrie a teologia pode ser catalogada de diversas maneiras. Explique. 2. Como Myer Pearlman divide a teologia. 3. O que é teologia sistemática e como ela se divide? escreveu: "Entre todas estas seitas... a dos leonistas (leia-se Valdenses).. foi a que por mais tempo tem existido, porque alguns dizem que tem perdurado desde os tempos de Silvestre (Papa em 314-335 DC), outros, do tempo dos apóstolos". Marco Aurelio Rorenco, pároco de São Roque em Turin, em seu reconto e história dos mesmos, escreveu que os Valdenses são tão antigos que não se pode precisar o tempo de origem. Além disso, os próprios Valdenses se consideravam muito antigos e originavam a sua fé dos tempos apostólicos. Na verdade, embora seja impossível precisar o seu início, é provável que fossem em seu núcleo essencial um remanescente que se separou da cristandade oficial rejeitando a união da igreja e o estado, depois da ascensão de Constantino em 311 DC (por ex: os novacianos). Alguns deles puderam ter emigrado para os remotos e isolados vales alpinos, onde conservaram intactas por muitos séculos a sua fé e pureza evangélicas, alheios a todas as controvérsias e lutas posteriores. Embora mais adiante tivesse estreita comunhão com outros grupos de irmãos perseguidos. Os Valdenses reconheciam na Escritura a única autoridade final e definitiva para sua fé e práticas. Criam na justificação pela fé e rejeitavam as obras meritórias como fonte de salvação. Além da Escritura não sustentavam nenhum credo ou confissão de fé particular. Apesar disso, conseguiram conservar quase intactas a sua fé e as suas práticas ao longo de vários séculos; o qual prova de passagem que o melhor remédio contra a heresia e o engano é a espiritualidade apoiada em uma profunda fidelidade e apego à Escritura.40 Neste período, diversos nomes se destacaram na defesa desses ideais de mudança que a igreja precisava experimentar. John Wycliffe, teólogo inglês, Jerônimo Savonarola e John Huss, foram responsáveis em divulgar à rejeição as diversas doutrinas católicas praticadas nesta época. Com o advento da Reforma Protestante no século XVI, Martinho Lutero e João Calvino despontaram como os grandes pensadores da teologia, dando à partir de então, as “coordenadas” para um novo tempo na interpretação das Sagradas Escrituras. O movimento da Reforma Protestante produziu cinco princípios fundamentais que se opunham aos ensinos da Igreja Católica Apostólica Romana. Estes princípios ficaram conhecidos como “solas”, ou seja, uma palavra latina que traduzida para o português significa “somente”. Estes princípios serviram de base, ou pilar, para a prática de uma vida religiosa cristã. Os cinco solas são: [a] Sola 40 Ibidem. A mensagem do batismo no Espírito Santo influenciou os Estados Unidos e deu origem a diversas denominações evangélicas pentecostais. Schellling destaca que um dos primeiros movimentos pentecostais, fruto do reavivamento norte- americano, teve destaque em Ricgard G. Sperling, pastor batista licenciado, que promoveu reuniões na Carolina do Norte, marcada por intensa glossolalia (falar em línguas estranhas). Mas foi Charles Fox Parham, “evangelista metodista dos movimentos de santidade”, quem realmente aprofundou a discussão em torno do batismo do Espirito Santo. “Convencido pelos seus próprios estudos de Atos dos Apóstolos e influenciado por Irwin Sandford, testemunhou Parham um reavivamento notável na escola Bethel, em Topeka, Kansas, em janeiro de 1901.43 Em 1905 Parham criou a escola bíblica de Houston no estado do Texas. Dentre seus alunos estava W.J. Seymour que era um pregador negro procedente de Holiness. Convencido de que a glossolalia sinalizava o batismo do Espirito Santo, Seymor passou a destacar esta experiência em suas pregações. Quando foi para Los Angeles, falou em uma igreja dos nazarenos, mas acabou proibido de continuar suas exposições, mas devido a insistência com que tratava a nova doutrina e o escândalos aos olhos dos protestantes conversadores. Seymour passou a realizar as reuniões em uma casa, no dia 06 de abril de 1906 oito pessoas entre elas um menino foram batizada com o Espírito Santo e falaram novas línguas. Seymour se se transferiu para um velho templo metodista na rua Azuza, onde por três anos sucederam reuniões dia e noite.44 O adepto do pentecostalismo crê no poder do Espírito Santo através da contemporaneidade dos dons espirituais. Os integrantes do movimento pentecostal crêem que o Espírito Santo continua a se manifestar nos dias de hoje, da mesma forma que em Pentecostes, descrita no Novo Testamento (Atos 2). Nessa passagem, o Espírito Santo manifestou-se aos apóstolos por meio de línguas de fogo e fez com que eles pudessem falar em outros idiomas para serem entendidos pela multidão heterogênea que os ouvia. Para eles, sobressaem os dons da glossolalia (o de falar línguas desconhecidas), da cura e da profecia.45 43 Ibidem. 44 Ibidem. 45 Disponível em http://www.portalbrasil.net/religiao_pentecostalismo.htm. Acesso: 23.12.2015. O Cessacionismo é a teoria de que muitos milagres, bem como dons espirituais, existiam em função da formação do cânon do Novo Testamento – quer dizer que houve um poderoso derramamento de milagres na vida de Jesus, e dos apóstolos, mas que cessou depois de encerrado o cânon do Novo Testamento. A ideia é que os milagres confirmaram a divindade de Cristo (fato este que está fora de dúvida) e, semelhantemente, confirmaram a origem divina da atuação e doutrina dos apóstolos (outro fato inabalável). Tudo isso concorreu para os registros em todos os livros do Novo Testamento serem reconhecidos como obra legítima e permanente de Deus, parte integrante das Escrituras Sagradas. E isso também é certo. Quando me converti a Cristo, a conversão envolveu a aceitação da inspiração plenária, inerrância e infalibilidade da Bíblia. Inclusive entendo que qualquer conceito da Bíblia que não a reconhece assim, está fora do arraial do cristianismo”. O teólogo pentecostal Stanley Horton destaca que a Teologia Pentecostal tem seu fundamento nas Sagradas Escrituras e historicamente mantém o pensamento teológico dos reformadores quanto às doutrinas cardeais da fé cristã. De acordo com ele o estabelecimento da teologia pentecostal impediu o avanço das ideias liberais, dando atenção especial à manifestação dos dons espirituais, ensino este que havia sido esquecido nas discussões e textos teológicos. Uma das provas que a teologia pentecostal considera os fundamentos da teologia reformada é verificada, por exemplo, na concordância existente entre ambas nos seguintes aspectos: [1] As Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e Novo Testamento, são inteiramente inspiradas por Deus, infalíveis na sua composição original e completamente dignas de confiança em quaisquer áreas que venham a se expressar, sendo também a autoridade final e suprema de fé e conduta; II Tm 3:14- 17. [2] Há um só Deus eterno, poderoso e perfeito, distinto em sua Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; Dt 6:4; Mt 28:19. [3] Jesus Cristo nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria, sendo verdadeiro Deus e verdadeiroHomem, e o único mediador entre Deus e o homem. Somente Ele foi perfeito em natureza, ensino e obediência; Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; 1 Tm 2.4. [4] O Espírito Santo é o regenerador e santificador dos remidos, o doador dos frutos e dons espirituais, o Consolador permanente e Mestre da Igreja. Ele habita nos redimidos, que devem buscar se encher de Sua presença; Hb 9:14; I Pe 1:15-16; Lc 3:16; At 1:5; I Co 12:1-12. [5] anos depois, juntava-se Lidman ao nascente avivamento, pontificando-se, a partir daí, não apenas como pregador e teólogo, mas ainda como editor da revista Evangelii Harold. Sven é um dos nomes mais respeitados da literatura sueca. Tivesse eu espaço, citaria outros teólogos que, desde o início do Avivamento Pentecostal, vêm fundamentando bíblica e teologicamente a nossa fé. Como esquecer, porém, Stanley Horton, Wayne Gruden, J. Rodman Williams e Gordon Fee? No Brasil, lembro o pastor Antonio Gilberto que, além de teólogo, abriu-nos um espaçoso caminho no árduo e incompreendido solo da Educação Cristã.48 O Pastor Antônio Gilberto destacou que a igreja da atualidade precisa mais e mais conhecer, buscar, receber e exercitar a provisão divina imensurável que há nos dons espirituais, para o seu contínuo avanço, edificação, consolidação e vitória contra as hostes infernais, e, ao mesmo tempo, glorificar muito mais a Cristo.49 Myer Pearlman destaca que a doutrina do Espírito Santo, a julgar pelo lugar que ocupa nas Escrituras, está em primeiro lugar entre as verdades redentoras. Diz ele: Com exceção das Epístolas 2 e 3 de João, todos os livros do Novo Testamento contêm referências à obra do Espírito; todos os Evangelhos começam com uma promessa do derramamento do Espírito Santo. No entanto, é reconhecida como a doutrina mais negligenciada. O formalismo e um medo indevido do fanatismo têm produzido uma reação contra a ênfase na obra do Espírito na experiência pessoal. Naturalmente, este fato resultou em decadência espiritual, pois não pode haver um Cristianismo vivo sem o Espírito. Somente ele pode fazer real o que a obra de Cristo possibilitou. Inácio, grande pastor da igreja primitiva, disse: A graça do Espírito põe a maquinaria da redenção em conexão vital com a alma. Parte do Espírito, a cruz permanece inerte, uma imensa máquina parada, e em volta dela permanecem imóveis as pedras do edifício. Somente quando se colocar a "corda" é que se poderá proceder à obra de elevar a vida do indivíduo, pela fé, e pelo amor, para alcançar o lugar preparado para ela na igreja de Deus.50 48 ANDRADE, Claudionor de. A excelência teológica dos Pentecostais. Disponível em http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/29/a-excelencia-teologica-dos- pentecostais.html. Acesso: 15.12.2015. 49 GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p.195. 50 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004. p.225. 5. A NECESSIDADE DE “FAZER” TEOLOGIA Santos observa que “é comum ouvirmos que a teologia mata a religião ou que a Igreja não precisa de teologia e, sim, de vida. Ele admite que há muita coisa por aí levando o nome de “teologia” que não passa de especulação humana, por não se basear em pressupostos de uma hermenêutica bíblica. E até a ‘boa teologia’, quando se torna um fim em si mesma, pode não ter qualquer uso prático e reduzir-se a mero academicismo”.51 Sobre esta realidade este autor diz: Como podemos conhecer a Deus sem estudar a revelação que Ele faz de Si mesmo? Como saber quem Ele é e o que Ele tem feito e faz, quem somos nós em relação a Ele, o que Ele requer de nós,etc., se não investigarmos o que Ele deixou revelado para nosso conhecimento? Pois esse é o trabalho da Teologia. Esse trabalho parte de três pressupostos: O primeiro é o de que Deus existe; o segundo, de que Ele pode ser conhecido, embora não de modo exaustivo e completo; e o terceiro, de que Ele tem Se revelado tanto por meio de Suas obras (criação e providência - Revelação Geral - Sl19.1,2; At 14.17), como, principalmente, nas Santas Escrituras (Revelação Especial - Hb1.1,2; 1 Pd 1.20,21). É porque Deus Se revelou que podemos conhece-Lo. Nosso conhecimento de Deus não é intuitivo, nem natural, mas comunicado por Ele mesmo através dos meios que soberanamente escolheu. “Fazer teologia”, portanto, não é inventar teorias a respeito de Deus e de Suas obras, nem mesmo “descobrir” a Deus, mas conhecer e compreender a revelação que Ele próprio deu de Si. Por isso, qualquer estudo de Deus que não tiver a Sua revelação como base, meio e princípio regulador não é “teologia”, devidamente entendida.52 Hordern também preocupou-se em defender a teologia. Disse ele: Com frequência, alguém diz assim: “Por que preocupar-se com assuntos de teologia? Os teólogos passam o tempo inutilmente discutindo questões sem qualquer importância ...” Passemos a um exame dessa maneira de pensar. Por que será que os problemas citados são considerados sem importância? É claro 51 SANTOS, João Alves dos. A igreja precisa de teologia? Disponível em http://www.soluschristus.com.br/2010/06/igreja-precisa-de-teologia.html. Acesso: 23.12.2015. 52 Ibidem. firmeza e ousadia. [5] Para dar cumprimento às ordens ou sugestões das Escrituras que encorajam o exame das Escrituras (Jo 5.39); que ordenam a pregação “a tempo e fora de tempo” (2Tm 4.2); que afirmam que o bispo “seja apto para ensinar” (1Tm 3.2); que ordenam o bom manejo da “palavra da verdade” (2Tm 2.15). A teologia é necessária, pois enseja o exame, a pregação, o ensino, a eficiência do conhecimento da Palavra.54 A teologia deve ser “feita” por todos. É um equívoco pensar que a teologia deve ser feita apenas por pessoas que aspiram o ministério formal de uma determinada denominação religiosa, ou por um grupo selecionado de pessoas. De acordo com Solano Portela, “estudar (fazer) teologia não é uma área segregada à academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que Ele criou. Mas é tarefa de todas as pessoas”.55 Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e compartilhar seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Em Mt 22.29 Jesus adveritu os homens sobre a necessidade de conhecer as Escrituras: “Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”. Em Mc 12.24 Jesus chama à atenção sobre o cuidado do conhecimento das Sagradas Escrituras: “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” Vincent Cheung afirma que uma das maiores razões para se estudar teologia é o valor intrínseco do conhecimento sobre Deus. Cada outra categoria de conhecimento é um meio para um fim, mas o conhecimento de Deus é um fim digno em si mesmo. E, visto que Deus Se revelou através da Escritura, conhecer a 54 CAMPOS, Geraldo Magela. Teologia em Perguntas e Respostas. Disponível em http://pt.scribd.com/doc/139935737/Teologia-em-Perguntas-e-Respostas-Geraldo-Magela-Campos- pdf#scribd. Acesso: 28.12.2015. 55 PORTELA, Solano. Disponível em http://www.teologiaevida.com.br/2012/08/porque-devo- estudar-teologia.html. Acesso: 29.12.2015. 5.17; lJo 3.9). Os cristãos participam de Cristo (Hb 3.14) e do Espírito Santo (6.4). A verdadeira comunhão resulta em um amor mútuo (Jo 13.34). Uma “salvação comum” (Jd 3) e uma “fé comum” (Tt 1.4) caracterizamos verdadeiros cristãos. A tradução significativa “fazer participante” toca a essência do espírito cristão (G1 6.6). Aquele que é ensinado na Palavra é advertido a “comunicar”. Comunhão existe quando há “associação”. Essa era a força essencial dos cristãos primitivos. Embora um movimento minoritário, eles compartilhavam a força de pertencer um ao outro e a Deus.58 [b] Kerigma - Refere-se à proclamação do evangelho a todos os homens em todas as partes do mundo. Trata da missão principal da igreja, expressa em Mc 16.15 que nos diz: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. A teologia, por exemplo, por intermédio da hermenêutica, da exegese e da própria homilética, fornecem ferramentas para os membros da igreja compartilharem com eficiência as verdades do evangelho. No grego, essa palavra significa “a coisa pregada”, o que alude ao evangelho de Cristo. Está em foco a proclamação do evangelho. A palavra aparece por oito vezes no Novo Testamento, duas delas acerca da pregação de Jonas (Mt 12.41 e Lc 11.32). As outras seis ocorrências envolvem a proclamação do evangelho (Rm 16.25; 1Co 1.21; 2.4; 15:14; 2Tm 4.17 e Tt 1.3), onde são enfatizadas a morte e a ressurreição de Cristo, com todas as suas implicações teológicas.59 [c] Diakonia – É o comportamento generoso em relação ao próximo. Edelberto Behs, tratando da necessidade da compreensão ampla do termo “diaconial” observou que “os efeitos da globalização econômica, que erodiu a base da vida em muitas comunidades, e a necessidade de prestar contas da fé cristã frente ao secularismo e ao neoliberalismo, trazem novos desafios às igrejas”.60 Fazer teologia é colocar em prática o conteúdo de nossa fé. Behs afirmou também que: 58 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 3. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p.838-839. 59 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.3. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.699. 60 BEHS, Edelberto. Ação diaconal é uma exigência num mundo excludente, globalizado e violento. Disponível em http://www.ieclb.org.br/noticia.php?id=7877. Acesso: 17.11.2014. profeta (Is 8.16,20). [7] Em Apocalipse 1.2,9; 12.17 et al., o uso de marturia é o do evangelho. Em 12.17a palavra é usada para o Evangelho no sentido de um testemunho de Cristo. [8] Toda a revelação de Deus ao homem é, às vezes, mencionad quando “testemunhos” é usado (SI 119.22) contendo vários exemplos.62 EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre a importância do estudo da teologia em http://esdrascabral.blogspot.com.br/2012/06/necessidade-do-estudo-teologico.html QUESTÕES PROPOSTAS 1. Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e compartilhar seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Explique com suas palavras a relação dos textos de Mt 22.29 e Mc 12.24 com esta afirmação. 2. Quais as razões, segundo Gerlado Campos, para se “fazer teologia”? 3. Como a teologia pode ser desenvolvida no contexto das funções essenciais da igreja? 62 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p.899-900. fato de elas revelarem Deus ao mundo, sua natureza trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo), seu plano de salvação para a humanidade e sua vontade. As Escrituras, conforme as temos, são suficientes para tal finalidade”.64 A Bíblia é a mais rica fonte de informações sobre Cristo, em especial, quando trata de sua messianidade. Outras fontes sobre Cristo, tendem enfatizar seu aspecto histórico, pouco ou nada falando sobre seu poder divino de perdoar pecados. Paulo Anglada destaca que o reconhecimento das Sagradas Escrituras como autoridade suprema é tanto inferencial como direta: Base Inferencial - É inferencial, porque decorre do ensino bíblico a respeito da inspiração divina das Escrituras. Visto que as Escrituras não são produto da mera inquirição espiritual dos seus autores (cf. 2Pe 1.20), mas da ação sobrenatural do Espírito Santo (cf. 2Tm 3.16 e 2Pe 1.21), infere-se que são autoritativas. Na linguagem da Confissão de Fé, a autoridade das Escrituras procede da sua autoria divina: "porque é a Palavra de Deus." Isto não significa que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e a personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não escreveram mecanicamente. As Escrituras não foram psicografadas, ou melhor, "pneumografadas." Os diversos livros que compõem o cânon revelam claramente as características culturais, intelectuais, estilísticas e circunstanciais dos diversos autores. Paulo não escreve como João ou Pedro. Lucas fez uso de pesquisas para escrever o seu Evangelho e o livro de Atos. Cada autor escreveu na sua própria língua: hebraico, aramaico e grego. Os autores bíblicos, embora secundários, não foram instrumentos passivos nas mãos de Deus. A superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as suas características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência humana também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram de tal modo dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo que tudo o que foi registrado por eles nas Escrituras constitui-se em revelação infalível, inerrante e autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos revelados foram registrados, mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores.4 O fato é que, por procederem de Deus, as Escrituras reivindicam atributos divinos: são perfeitas, fiéis, retas, puras, duram para sempre, verdadeiras, justas (Sl 19.7-9) e santas (2 Tm 3.15). 64 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da- teologia.html. Acesso: 29.12.2015. níveis, conforme se vê na epístola aos Hebreus. Assim sendo, as tradições começam nas próprias Escrituras. [2] Terminado o período do Novo Testamento, surgiram as declarações dos chamados pais da Igreja, bem como o desenvolvimento dos mais antigos credos. Esses credos serviram para limitar e sistematizar as Escrituras. Na verdade, esses credos foram teologias sistemáticas incipientes, sobre as quais as denominações cristãs atualmente repousam. [3] Os concílios eclesiásticos manipularam esses credos e lhes fizeram adições, apresentando interpretações das Escrituras, de onde se originaram tradições. [4] Regras de fé, interpretações bíblicas, raciocínios e apareceram nos escritos dos pais da Igreja. Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Orígenes e Novaciano referira-se às suas regras de fé, que faziam parte de credos existentes ou não. [5] O sincretismo. A medida que o cristianismo foi sendo difundido por diferentes áreas geográficas e culturas, foram sendo incorporados elementos de crenças e práticas locais, e isso também veio a constituir um elemento nas tradições emergentes, geralmente de natureza negativa. [6] As tradições católicas romanas são o supremo exemplo do entronizamento das tradições, às vezes prejudicando as Sagradas Escrituras, pois a essas tradições também se confere ali a aura de autoridade. É verdade que boa parte dessas tradições católicas romanas tem um fundo bíblico; mas outra boa parte não passa de sincretismo. [7] A Reforma Protestante presumivelmente fez a Igreja cristã retornar às "Escrituras somente". Mas, na verdade, grande parte das tradições ocidentais teve continuidade nos vários grupos protestantes que surgiram em cena. Mas então novas tradições foram criadas, mediante credos rígidos, que eram interpretações específicas das Escrituras. Todos esses credos deixam de lado certos ensinos bíblicos, além de torceremoutros ensinos bíblicos. [8] Desenvolvimento doutrinário. Muitos teólogos modernos insistem na tese que a doutrina deve evoluir, a fim de que a verdade possa ser obtida em qualquer sentido ou grau significativo. Assim, as tradições sempre haveriam de emergir, somente para serem substituídas por outras, mais evoluídas. [9] A revolta contra a ortodoxia: as tradições liberais. Começando no século XVIII, mas florescendo nos séculos XIX e XX, os eruditos liberais e os críticos desenvolveram uma tradição toda própria que produziu efeitos que minimizaram a fé nas tradições mais antigas, e rejeitaram de forma total o autoritarismo e seus diversos conceitos de infalibilidade, sem importar-se das próprias Escrituras. [10] Os credos modernos. Esses credos funcionam de quatro maneiras diversas: a. Declarações. Coisas que figuram claramente nas Escrituras são meramente declaradas e descritas. b. Interpretações. Coisas que não são necessariamente claras, e, em certos casos, coisas que são repelentes para certas mentes, recebem interpretações apropriadas de indivíduos ou denominações que mandamentos dizem respeito às circunstâncias específicas de um indivíduo, não sendo temas que possuem caráter moral ou teológico, não são aplicáveis aos nossos dias. [...] 2.3 Certos princípios ou mandamentos dizem respeito a contextos culturais que se parecem com os nossos nos quais apenas o princípio deve ser aplicado. [...] Certos princípios ou mandamentos dizem respeito a contextos culturais totalmente diferentes, mas cujos princípios se aplicam. Quando Moisés esteve na presença de Deus, ele tirou seus sapatos, pois era terra santa. Será que devemos hoje em dia tirar nossos sapatos ao vir para o templo? Aqui, o princípio de reverência e temor a Deus devem ainda nos dirigir.69 [d] Razão - O teólogo não pode evitar o uso da razão em seu labor teológico. Por exemplo, somente o fato de ler as Sagradas Escrituras, interpretá- las, já envolve o uso da razão, seja para ser alfabetizado, ou conhecer os idiomas originais das Escrituras, utilizar os meios básicos de interpretação de um texto, etc.70 De acordo com Paul Tillich, teólogo alemão, a razão é uma condição necessária para a fé, eliminando assim a ideia de uma irracionalidade no exercício da fé. Para Tillich “somente um ser dotado de razão pode ser possuído por algo incondicional e distinguir preocupações últimas das provisórias [...] Assim a razão é uma condição necessária para a fé, e fé é o ato em que a razão irrompe extaticamente para além de si [...] entre a natureza verdadeira da fé e a natureza verdadeira da razão não há contradição”71. Champlin observa que a razão entra perfeitamente em harmonia com a fé religiosa, além de servir para expressá-la. “A razão exibe logicamente aquilo que a religião sente e põe em prática. A razão é compatível com a fé religiosa, tendo a função de expressá-la e defendê-la. Mas a fé cristã, com base na revelação bíblica transcende à razão, conferindo-nos algumas doutrinas que são inatingíveis para a razão”.72 69 MILHORANZA, Alexandre. As diferenças culturais na interpretação da Bíblia. Disponível em http://www.milhoranza.com/2009/09/08/hermeneutica-diferencas-culturais/#axzz3vlmaGdmu. Acesso: 30.12.2015. 70 Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da- teologia.html. Acesso: 29.12.2015. 71 TILLICH, Paul apud Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008. p.442-444. 72 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.5. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.558-559. 7. O TEÓLOGO O tradicional Guia do Estudante conceitua o Teólogo como sendo o “indivíduo que se dedica ao estudo das religiões e sua influência sobre a sociedade. Ele pesquisa a história, os fenômenos e as tradições religiosas, interpreta textos sagrados, doutrinas e dogmas religiosos. Associa essas informações com outras ciências humanas e sociais, como antropologia e sociologia, e identifica as relações entre a religião e diferentes culturas e grupos sociais. Pode trabalhar como pesquisador ou assessor de grupos religiosos. Como licenciado, leciona religião e ética em escolas de ensinos fundamental e médio e também em ONGs, centros culturais e religiosos”.74 Quem produz teologia é o teólogo. Erickson destaca que o teólogo é o operador da teologia, ou seja, aquele que busca entender as bases doutrinais de uma religião, normalmente a religião a que pertence. Ele afirma também que o teólogo profissional é uma pessoa com instrução avançada e que geralmente atua como professor e escritor.75 Este conceito não exclui a possibilidade de a teologia ser examinada por leigos, ou seja, qualquer pessoa que busque o conhecimento de Deus está operando, ou fazendo, teologia. Rm 1.19-20 descreve a possibilidade de Deus ser conhecido pelo homem, quando afirma: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis”. Este texto não fala em conhecimento pleno de Deus, mas de um conhecimento que permite ao homem relacionar-se com Deus. Isto permite que um ser finito como o homem possa conhecer (em partes) a infinitude de Deus. De acordo com Vincent Cheung o conhecimento de Deus é também possível somente 74 Guia do Estudante da Editora Abril. Disponível em http://guiadoestudante.abril.com/profissoes/ ciencias-humanas-sociais/teologia-687903.shtml. Acesso: 29.12.2015. 75 ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p.162. deu seu único Filho por uma só razão: para que ninguém fosse condenado, mas tivesse, pela fé em Jesus, plena e eterna salvação!77 Quando falamos na operação propriamente dita da teologia, o Guia do Estudante informa que a área de atuação do teólogo pode ser verificada em várias frentes, entre elas: [a] Consultoria – Assessorar pessoas e organizações públicas ou privadas que utilizem a religião no desenvolvimento de seu trabalho; [b] Ensino - Dar aulas em escolas de ensinos fundamental e médio sobre religião e ética; [c] ONGs - Orientar grupos religiosos e atender a instituições que realizam trabalhos sociais voltados para a religião; [d] Pesquisa - Estudar o fenômeno religioso e sua relação com a atividade humana; e [e] Sacerdócio – Atuar no ministério formal da igreja. EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre a importância do teólogo em http://www.ftsa.edu.br/site/index.php/publicacoes-da-ftsa/artigos-da-ftsa/119- artigos-da-ftsa/241-dia-do-teologo QUESTÕES PROPOSTAS 1. Explique com suas palavras o que você entende por teólogo. 2. Qual o campo de atuação do teólogo? 3. Qual o limite do conhecimento de Deus que o teólogo pode ter? 77 O teólogo a serviço de Deus e não da teologia. Disponível em http://www.ultimato.com.br/revista/ artigos/338/o-teologo-a-servico-de-deus-e-nao-da-teologia. Acesso: 29.12.2015. propriamente, como ao conteúdo do que é ensinado (Rm 6.17;1Tm 6.3-4; 2Tim 4:3-4; Tito 1.2,9, etc.). Podemos dizer, de modo mais completo agora, que Teologia é o conjunto de verdades extraídas dos ensinos bíblicos a respeito de Deus e de Sua obra, e que são apresentadas de modo sistemático, na forma de um corpo de doutrinas. A essa forma ordenada de doutrinas, dá-se inclusive, o nome de ‘Teologia Sistemática’. O adjetivo aqui, não altera o conceito de teologia”.80 Alguns aspectos interessantes contribuem para o entendimento da aplicação do termo “doutrina” em sua aplicação bíblica. Deusimar Barbosa, emManancial das Doutrinas bíblicas, observa alguns destes aspectos: [1] A palavra doutrina vem do hebraico “legach” que significa “ensino, instrução”. É traduzida por ensino em outras versões bíblicas (TB, NTLH,NVI). [2] Do grego é “didaché” significa” ensinamento”, aquilo que é ensinado. (Mt 7.28; Tt 1.9; Ap 2.14,15,24), o ato de ensino, instrução (Mc. 4-2; Rm. 16-17). “Didaskalia” significa “aquilo que é ensinado”, “doutrina, ensino, instrução”(Mt 15.9; Mc 7.7; Ef 4.14; Cl 2.22; 1Tm 1.10; 4.1,6; 6.1,3; Tt 1.9; 2.1,10; Rm 12.7; 15.4; 1Tm 4.13,16; 5.17; 2Tm 3.10,16; Tt 2.7). O termo didaché é usado apenas duas vezes nas epistolas pastorais (2Tm 4.2; Tt 1.9), enquanto o termo didaskalia é empregado 15 vezes. Os dois termos são usados nos sentidos ativos e passivos, ou seja, o ato de ensinar e o que é ensinado. A voz passiva é predominante em didaché, e a voz ativa, em didaskalia. O primeiro coloca em relevo a autoridade, o ultimo, o ato. A parte do apostolo Paulo, os outros escritores só usam o termo didaché, exceto em Mt 15.9 e Mc 7.7, que usa didaskalia. [3] Do latim é “doctrina”, do verbo “docio”, que significa “ensinar, instruir, educar”. Portanto a palavra doutrina é o “conjunto coerente de idéias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas”. Ressalto que doutrina do latim doctrina, significa “ensino, instrução dada ou recebida, arte, ciência, doutrina, teoria, método.” [4] Quando falamos de doutrina bíblica estamos falando do ensino das Sagradas Escrituras. A Bíblia Sagrada é a palavra de Deus e, portanto, o ensino das Sagradas Letras, nada mais é que o puro ensino da Bíblia, o ensino da palavra de Deus, o ensino de Deus ao homem, acerca da salvação do homem, de Jesus Cristo, o Senhor e Salvador, do Espírito Santo, o consolador, da Criação dos céus e da terra, do pecado, da origem, queda, restauração e destino final do homem, missão e destino da Igreja e do porvir. Portanto, doutrina é o ensino que Deus concede ao homem a partir da sua poderosíssima palavra da 80 SANTOS, João Alves dos. A igreja precisa de teologia? Disponível em http://www.soluschristus.com.br/2010/06/igreja-precisa-de-teologia.html. Acesso: 23.12.2015. de tal maneira que é possível ser teólogo sem ser verdadeiramente religioso, e por outro lado a pessoa pode ser verdadeiramente religiosa sem possuir um conhecimento sistemático doutrinário”.82 EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre a importância da doutrina em http://palavradenovavida.blogspot.com.br/2013/01/a-importancia-da-doutrina- biblica-na.html QUESTÕES PROPOSTAS 1. Qual a diferença entre doutrina e religião? 2. Qual a conexão entre religião e teologia? 3. O que você entende como sendo doutrina? 82 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004. p.5. religiosa num Deus único e imutável, buscando rotular seus adeptos de “fundamentalistas” no sentido negativo de sua interpretação. A fé diz respeito à “palavra bíblica que se refere tanto à crença intelectual quanto à confiança ou ao compromisso em um relacionamento”84. Num sentido amplo é uma ação de demonstração de confiança sobretudo na figura de uma outra pessoa. Para Grenz, “os autores bíblicos geralmente não fazem distinção entre fé como crença e fé como confiança, mas tendem a considerar que a verdadeira fé consiste tanto no que se crê (e.g., que Deus existe, que Jesus é o Filho de Deus) quanto no compromisso para com uma pessoa digna de confiança e capaz de salvar (i.e., confiança na pessoa de Cristo como meio de salvação)”85. Assim, cosmovisão imprime no indivíduo uma fé, que no caso religioso, manifesta- se na confiança em Deus. Numa análise bíblica clássica, o termo “fé” tem origem na palavra hebraica heemim, no grego pisteuô e no latim fidem. O texto bíblico de Hebreus 11.1 define a “fé” como sendo o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. Andrade destaca que a “fé” é “a confiança que depositamos em todas as providências de Deus. É a crença de que Ele está no comando de tudo, e que é capaz de manter as leis que estabeleceu. É a convicção de que a sua Palavra é a Verdade. Enfim, é a tranquilidade que depositamos no plano de salvação por Deus estabelecido, e executado por seu Filho, no Calvário”86. Vine, na observação etimológica’ do termo “fé, destaca que: Fé pistis, primariamente, “persuasão firme", trata-se de convicção fundamentada no ouvir (cognato de peithõ, “persuadir”), e sempre é usado no Novo Testamento acerca da “fé em Deus ou em Jesus, ou às coisas espirituais”. A palavra é usada com referência: (a) à confiança (Rm 3.25 ; 1Co 2.5; 15.14.17; 2Co 1.24; Gl 3.23; Fp 1.25: 2.17: 1Ts 3.2; 2Ts 1.3; 3.2); (b) à fidedignidade, fidelidade, lealdade (Mt 23.23: Rm 3.3: Gl 5.22; Tt 2.10); (c) por metonímia, ao que é crido. O conteúdo da crença, a "fé" (At 6.7: 14.22: Gl 1.23; 3.25; Gl 6.10; Fp 1.27; 1Ts 3.10: Jd 3.20 [e 84 GRENZ, Stanley J. et al. Dicionário de Teologia. São Paulo: Vida, 1999. p.57. 85 Ibidem. 86 ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. Rio de Janeiro: CPAD, 1999. p.156. viver a vida que Ele aprovaria. Não é uma aceitação cega e desarrazoada, mas um sentimento baseado nos fatos da Sua vida, da Sua obra, do Seu Poder e da Sua Palavra. A revelação é necessariamente uma antecipação da fé. A fé é descrita como "uma simples mas profunda confiança Naquele que de tal modo falou e viveu na luz, que instintivamente os Seus verdadeiros adoradores obedecem à Sua vontade, estando mesmo às escuras". A mais simples definição de fé é uma confiança que nasce do coração.90 Na análise de Buckland é possível verificar que a fé não se trata de uma atitude irracional, pelo contrário, ela é fruto de uma revelação que permite ao indivíduo experimentar um relacionamento com o seu Deus. Geralmente, a liquidez do mundo atual, que não encaixa-se de forma equilibrada em valores e princípios, julga ser esta confiança uma experiência ilusória, sem comprovação crível, atribuindo à ela um conceito de limitação frente à uma infinidade de caminhos. Esta visão que despreza a experiência da fé, pouco tem contribuído para a formação de um indivíduo saudável e relevante para o mundo em que vive. Esses termos descrevem a relação que existe entre o homem e Deus. A fidelidade é resultado da confiança depositada no próprio Deus, e esta relação é pouco compreendida pelo homem que não vive esta experiência. Tenney destaca que a fé e a fidelidade “são, em alguns aspectos, correlativos, pois a fé do homem é aquilo que responde a e é sustentada pela fidelidade de Deus. Em outros aspectos pode ser um desenvolvimento de pensamento, pois a fé por parte do homem deveria levá-lo à fidelidade”91. Novamente, a ideia de fé pode mover-se da atitude subjetiva de confiança para “a fé” — a qual Deus revelou objetivamente através de ação. palavra e sinais a fim de que fosse crido. Intimamente associado aos dois substantivos encontra-se o adjetivo ''fiel" e o verbo “ter fé em”, “confiar”, "acreditar”. Em algumas partes da Bíblia, o verbo é mais proeminente que o substantivo. Como sempre, nas Escrituras, a iniciativa divina é enfatizada ou admitida, e o fato de que o Deus vivo está desejoso de entrar em um relacionamento com os homens e tem mostrado a 90 Ibidem. 91 TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Vol. 2. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 776-777. O termo ‘fundamentalismo’ é visto, de forma geral, como “a atitude de um grupo de pessoas dentro de uma religião ou de um movimento político que dizem basear-se num conjunto próprio de diretrizes tradicionais(fundamentos), defendendo-as de forma absoluta”94. Neste aspecto é importante definir a intensidade e influência em que a defesa é exercida. Lieth destaca que “um fundamento radical e totalitário, por exemplo, terá consequências correspondentes”95. Ser considerado fundamentalista na atualidade significa ser um indivíduo intransigente, exclusivista e incapaz de viver na plenitude da vida com a sociedade, em contraste com a história antiga, que considerava o fundamentalista alguém digno de louvor pela bravura da defesa de seus ideais. Todas as formas de conservadorismo passaram a ser caracterizadas de fundamentalismo, afirma Lieth: “A pessoa que defende sua posição com entusiasmo e veemência é ‘fundamentalista’. A conjuntura, na qual, o tema fundamentalismo aparece, está ligada aos contornos nada precisos do conceito e da questão fundamentalismo. Quanto mais imprecisos são os contornos, tanto mais facilmente se pode caracterizar algo ou alguém de fundamentalismo ou de fundamentalista”96. Do ponto de vista histórico, o conceito de “fundamentalismo” teve sua origem no mundo ocidental cristão, sobretudo para manifestar oposição aos valores defendidos pelo liberalismo no século XIX: Grupos de cristãos protestantes conservadores deram a si mesmos tal designação no início do século XX, nos Estados Unidos da América do Norte. Entre 1909 e 1915, foi publicada nos Estados Unidos uma série de textos, com edição superior a três milhões de exemplares, com o título The Fundamentals – a Testimonium to the Truth (Os Fundamentais – um testemunho em favor da Verdade). Do título dessa série saiu o nome de um movimento, formado no último terço do século XIX por grupos de cristãos conservadores evangelicais. Temos, aqui, o nascimento do fundamentalismo protestante que determinará os Estados Unidos da América do 94 LIETH, Thomas e LIETH, Norbert. O que é realmente o fundamentalismo. Disponível em http://www.chamada.com.br/mensagens/fundamentalismo.html. Acesso: 17.02.2014. 95 Ibidem. 96 Ibidem. dominado por poderes malignos em atitude permanente de conspiração que pensam em termos simplistas e de acordo com esquemas invariáveis, e que frente a seus problemas se sentem atraídos pelas respostas autoritárias e moralizantes. Quando as mudanças culturais alcançam certo grau crítico, esses indivíduos tendem a se reunir em movimentos radicais dentro de suas respectivas religiões.100 Embora seja um movimento marcado por uma defesa extrema de ideais, o movimento fundamentalista contribui de muitas formas para o desenvolvimento do pensamento e discussão da teologia. Champlin observa que “além de alertar as pessoas sobre inúmeros erros que haviam entrado na cena religiosa, o movimento fundamentalista tem-se mostrado radicalmente anticomunista, exibindo a incompatibilidade básica entre aquele sistema político e os ideais e crenças cristãos”.101 O fundamentalismo contribui também para a evangelização e para o zelo da fidelidade à Palavra de Deus. Em linhas gerais, o fundamentalismo é uma ação, que em sua essência, se contrapõe aos valores antibíblicos e anticristãos, que se levantam em todos os períodos da história. EXPLORANDO O TEMA NA WEB Você pode ler um bom texto sobre a importância da doutrina em http://solascriptura-tt.org/SeparacaoEclesiastFundament/PorQueSouFundamenta lista-LAFerraz.htm QUESTÕES PROPOSTAS 1. O que significa ser fundamentalista? 2. Qual a contribuição do fundamentalismo? 3. O termo “fundamentalismo” é visto de forma deturpada, por que? 100 Ibidem. 101 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.5. 11.ed. São Paulo: Hagnos, 2013. p.829. FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em www.itsimonton.tripod.com/apostila_ teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015. GALINDO, Florencio. O fenômeno das seitas fundamentalistas. Petrópolis: Vozes, 1995. GEISLER, N. Teologia Sistemática: Introdução à teologia. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. Guia do Estudante da Editora Abril. Disponível em http://guiadoestudante.abril.com/profissoes/ ciencias-humanas-sociais/teologia-687903.shtml. Acesso: 29.12.2015. GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. GRENZ, Stanley J. et al. Dicionário de Teologia. São Paulo: Vida, 1999. HAMMETT, John apud MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2004. LIETH, Thomas e LIETH, Norbert. O que é realmente o fundamentalismo. Disponível em http://www.chamada.com.br/mensagens/fundamentalismo.html. Acesso: 17.02.2014. MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. McGRATH, Alister apud MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. MEDRADO, Eudaldo Freitas. Introdução à Teologia. Disponível em http://www.famedrado.kit.net/ Canal%2004/01.htm. Acesso: 19.11.2015. Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Melhoramentos: 2009. MILHORANZA, Alexandre. As diferenças culturais na interpretação da Bíblia. Disponível em http://www.milhoranza.com/2009/09/08/hermeneutica-diferencas-culturais/#axzz3vlmaGdmu. Acesso: 30.12.2015. MYATT, Allan e FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. OLIVEIRA, Edson Douglas de. Dicionário Teológico: Dogmática. Disponível em http://comunidadewesleyana.blogspot.com.br/2009/10/dicionario-teologico_8820.html. Acesso: 27.12.2015. OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Editora Vida, 2001. PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004. PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. PORTELA, Solano. Disponível em http://www.teologiaevida.com.br/2012/08/porque-devo-estudar- teologia.html. Acesso: 29.12.2015. RAHNER, apud RAUSCH, T. P. Introdução à Teologia. São Paulo: Paulus, 2004.