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Amputação de dígito A amputação de dígito consiste na remoção cirúrgica do dedo do animal. A cirurgia visa aliviar a dor e recuperar a sanidade e a produtividade do animal, além de impossibilitar a infecção ascendente do membro. Tal procedimento é indicado em casos de inflamação grave no pé, onde o casco encontra-se amolecido, não responsivo a antibióticos. Pode haver complicações por osteomielite da articulação interfalangiana distal, com formação de abscesso e, tenossinovite ou artrite infecciosa das articulações interfalangeanas proximais ou distais. É indicado, também, em fraturas falangeanas graves e em deslocamento de articulações falangeanas. Ademais, é imprescindível ressaltar que a amputação de dígito é contraindicada quando acomete ambos os dígitos do mesmo membro e em casos de infecção da articulação do boleto, além de, geralmente, o abate ocorrer mais cedo e o animal apresentar menor valor de mercado. Anestesia e preparação cirúrgica O animal é posicionado em decúbito lateral usando cordas e restrição química ou ele é preso em uma mesa cirúrgica com a pata afetada no lugar mais alto. Pode-se fazer a realização do procedimento com o animal em pé, mas não é aconselhado. Deve-se fazer a tricotomia ampla da região metacárpica até a região metatársica, na direção distal. Outrossim, é preconizada a preparação cirúrgica do local antes que seja administrada a anestesia local. É feita uma desobstrução na pata e no espaço interdigital para remover todo o material fecal e debris. Faz-se o uso de uma escova e uma faca para casco. O método mais utilizado para dessensibilização é a anestesia local intravenosa, mas pode ser realizado o bloqueio dos nervos regionais ou o bloqueio anular. Caso não tenha sido utilizado o analgésico intravenoso, utiliza-se um torniquete (tubo de borracha). Para que o procedimento cirúrgico seja realizado com maior segurança, faz-se a limpeza do casco e proximidades previamente. Feito isso, já com o animal no local e na posição em que será realizada a amputação do dígito, o membro deve ser coberto por campos estéreis de modo em que apenas o pé fique exposto. Para que o cirurgião possa manusear a pata durante a cirurgia sem promover risco ao animal, pode-se colocar uma luva estéril sobre a mesma. Instrumental Especial O procedimento em questão exige uma serra de arame obstétrica ou uma serra de arame de Gigli. Técnica Cirúrgica São realizadas incisões de pele ao longo da superfície abaxial ou axial da faixa coronária e, em seguida, verticalmente na direção cranial e caudal. A pele e os tecidos subcutâneos são incisados até os ossos. A incisão é feita primeiramente na superfície axial com o intuito de não cobrir o campo cirúrgico com sangue. A pele é dissecada livre do polegar subjacente, na tentativa de conservar o máximo possível do retalho de pele. A amputação pode ser ocorrer de duas formas: através da amputação alta (ou superior) ou da amputação baixa (inferior). A inferior é realizada apenas quando a articulação interfalangiana e a terceira falange são afetadas. Esta amputação é dirigida pela segunda falange. O procedimento da amputação superior, utilizada quando tem-se o envolvimento da articulação interfalangiana distal, da terceira falange, da articulação da ranilha e da segunda falange, é realizada através de articulação do terço medial e distal da primeira falange. Uma serra obstétrica é posicionada na incisão no espaço interdigital. Faz-se necessário um assistente para que seja feita a serragem. A amputação tem início com a serra de arame em direção paralela ao eixo longo do membro até que o arame esteja na extremidade distal da primeira falange. Após, a serra será direcionada perpendicularmente ao eixo da primeira falange para que o arame se sustente sobre o osso. Logo, o posicionamento do arame é voltado para que se disponha em um ângulo de 45 graus do eixo longo da primeira falange. O movimento da serra não pode ser de forma acelerada, uma vez que pode ocorrer necrose térmica dos tecidos, incluindo o osso, resultando em descamação excessiva durante o período de cicatrização. Devem ser tomadas precauções para evitar que invada as articulações do boleto. Uma vez que o dedo é removido, o excesso de tecido adiposo e todo o tecido necrótico, em particular ao redor dos tendões e bainhas dos tendões, são dissecados e liberados da ferida. Se a artéria digital puder ser localizada, ela deverá ser ligada. O máximo do retalho cutâneo deve ser suturado, mas quando o sítio cirúrgico está edemaciado por infecção e há necrose de pele na área, isso não é viável. De modo geral, é aceito que a infecção será resolvida de maneira mais acelerada se o segmento de pele não for completamente suturado, o que concede uma melhor drenagem ventral. Conduta Pós-Operatória A substituição da bandagem deve ser realizada de 2 a 3 dias após o procedimento cirúrgico. O membro permanece enfaixado até que tenha ocorrido a cicatrização. O período em que o membro ficará enfaixado depende de cada indivíduo e do tamanho que o retalho de pele foi fechado sobre o ferimento. Há casos de amputação digital que precisam de apenas 10 a 14 dias para cicatrizar, porém, outros exigem diversas semanas para que ocorra a cicatrização por segunda intenção. Nos primeiros estágios de cicatrização, o animal deve ficar em ambientes secos, com disposição de comida e água de fácil acesso para impedir a utilização abundante do dedo remanescente. Contra Indicações da amputação de dedo A amputação do dígito não é aconselhada em casos onde há sepse da articulação do boleto e em situações que ocorrem acometimento de ambos os dedos do mesmo pé em touros ou vacas pesadas (estes animais geralmente fraturam a pata remanescente). Considerações finais A retirada do dedo lateral da frente tem um prognóstico melhor quando comparada com a remoção do dedo medial, uma vez que a remoção do dedo medial muitas vezes gera uma quebra das estruturas de sustentação. A mesma técnica básica de amputação do dígito é aplicável para os suínos e pequenos ruminantes. Outrossim, como complicações pode haver queda na produção de leite nos primeiros dois meses, tendinite ascendente, desenvolvimento de doenças no dedo remanescente e, prognóstico ruim em bovinos acima de 680 Kg. Referências bibliográficas TURNER, Simon; MCILWRAITH, Wayne. Técnicas cirúrgicas em animais de grande porte. Editora Roca, 1985. DANTAS, Jackson B. G.; DADA, Júlia M. V.; PEREIRA, Éverton A.; TOLENTINO, Mikael L. D. L.; GONÇALVES, Larissa M. F.; SANTOS, José F. N.; SOUZA, Denise C.; JÚNIOR, Antônio A. N M.; NETO, Antônio, F. S. L.; FILHO, Manoel L. S. Digit amputation in bovine to field: case report. Brazilian Journal of Animal and Environmental Research. Curitiba, março de 2020. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/ojs/index.php/BJAER/article/view/8916/7629 https://www.indicalivros.com/autores?q=C.%20Wayne%20Mcilwraith https://www.indicalivros.com/autores?q=C.%20Wayne%20Mcilwraith https://www.brazilianjournals.com/ojs/index.php/BJAER/article/view/8916/7629
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