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Nathália Muniz Medicina Veterinária UFRB Introdução – Funções da pele • Maior órgão do corpo • Barreira de proteção contra a perda de fluido, agentes infecciosos, químicos e injúria física • Regulação de temperatura por cobertura pilosa e sudorese • Produção de vitamina D • Atua como órgão sensitivo • Função imunológica: ceratnócitos, Langerhans, linfócitos • Indicador de saúde, estado da pele auxilia no diagnóstico e evolução terapêutica Estrutura da pele Epiderme • Camada basal – células progenitoras, melanócitos • Camada espinhosa – desmossomos • Camada granulosa – substância formadora da proteína dos pelos • Camada córnea – camada mais exterior Derme • A derme é composta de fibras, substância básica amorfa e células, além de conter os anexos epidérmicos, músculo eretor do pelo, vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. • Oferece arcabouço nutricional para as glândulas e folículos pilosos. • A matriz do tecido conjuntivo dérmico compreende principalmente as fibras colágenas, elásticas e reticulares. • Glândulas sebáceas e sudoríparas. Hipoderme • A mais profunda e espessa camada da pele. • Principais funções: reserva de energia, coxim de proteção, termogênese, manutenção da forma externa, reserva e metabolismo de esteroides. Diagnóstico dermatológico Abordagem clínica sistemática - Ficha clínica dermatológica - História clínica completa - Exame dermatológico minucioso Exames complementares Coerência x baseado nos sinais clínicos - Exame parasitológico - Tricograma - Citológico - Micológico - Bacteriológico - Histopatológico Exame histopatológico O clínico deve descrever com precisão o local da lesão e ter cuidado com as amostras. Indicações: - Neoplasias - Ulcerações persistentes - Dermatose não responsiva - Lesões vesiculares, bolhosas A biópsia pode ser feita de duas formas: Punch → biópsia incisional Bisturi → biópsia excisional. Tira-se toda a borda lesão, com a utilização de sedativos. Exame parasitológico - Simples e de baixo custo - É indicado quando há suspeita de dermatopatias parasitárias (sarnas) Raspado cutâneo → um problema deste método de diagnóstico é a dor que o animal sente, pois deve-se raspar até sangrar. Raspar pelo menos 3 locais de forma correta. Patologia tegumentar Coleta com swab → cotonete livre de antifúngicos e antibacterianos. Pode não ser tão sensível a depender da qualidade da amostra e é muito usado em orelhas para diagnóstico principalmente de malassezia. - Evitar utilizar cotonete - Evitar transportar a amostra Exame citológico - Simples e de baixo custo - Avalia o tipo celular: inflamatório ou neoplásico - Observação de microrganismos: bactérias, protozoários, fungos (leveduras ou hifas). - Diagnóstico de Malassezia → achar mais que 3 campos, menos que isso é habitante natural. - Pode ser feita impressão direta no tecido, auxílio de swab e punção aspirativa em casos de neoplasias. Vocabulário dermatopatológico Hiperplasia (acantose): a hiperplasia epidérmica representa o aumento da espessura da epiderme devido ao maior número de células. Leva-se em consideração apenas a porção não queratinizada da epiderme. Embora o termo acantose seja usado como sinônimo, ele significa aumento da espessura do estrato espinhoso. Hiperqueratose: refere-se ao aumento da espessura do estrato córneo da epiderme. Essa alteração pode ser subdividida em hiperqueratose ortoqueratótica (anuclear) e paraqueratótica (nuclear). Espongiose (edema): refere-se ao edema intercelular (entre os queratinócitos). Recebe esse nome devido ao aspecto de esponja que a epiderme adquire. Representa a presença de um processo exsudativo comum a vários quadros inflamatórios agudos ou subagudos. O ceratinócito apresenta-se vacularizado, vacúolo irregular. Acantólise: é o fenômeno resultante da separação da camada espinhosa da epiderme. Ocorre nas doenças autoimunes vesicopustulares, como as do complexo pênfigo (imunomediada) e algumas neoplasias. O tratamento principal se dá por corticoide. Hiperpigmentação: hiperpigmentação, ou hipermelanose, refere-se à quantidade excessiva de melanina existente na epiderme e, com frequência, nos melanófagos dérmicos. Ocorre comumente em lesões crônicas. Gatos possuem lentigo na cavidade oral, o que é comum. Hipopigmentação: refere-se à quantidade diminuída de melanina na epiderme. Pode estar associada a processos idiopáticos, congênitos ou adquiridos na melanização, efeitos tóxicos de substâncias químicas sobre os melanócitos, distúrbios pós-inflamatórios e hormonais e doenças imunomediadas. Crosta: chama-se crosta a massa ressecada formada pela combinação variada de queratina, soro, restos celulares, microrganismos e restos de medicamentos. A presença de crosta indica que houve um processo exsudativo anterior e pode ter importância diagnóstica; portanto, deve ser sempre rigorosamente pesquisada. Pústulas: referem-se às coleções intra ou subepidérmica de fluido (pus) e células inflamatórias. Mácula: vasculossanguíneas (eritemas ou púrpuras) ou pigmentares/discrômicas (hiperpigmentação, hipopigmentação, acromia...) Pápula: Decorre de infiltração da derme por células inflamatórias, edema ou hipertrofia da epiderme. Deve-se descrever o local e tamanho. Vesícula/bolha: São elevações intra ou subepidérmicas preenchidas por fluido claro. Colarete epidérmico: Remanescente de vesículas, bolhas ou pústulas após ruptura. Liquenificação: Espessamento e endurecimento da pele, caracterizado por um excesso de demarcações cutâneas superficiais. Processos inflamatórios crônicos ou regiões de traumatismos repetidos. Erosão: Perda superficial da epiderme. Úlcera: Perda circunscrita da epiderme e derme, podendo atingir a hipoderme e tecidos subjacentes. Escoriação: Erosão ou ulceração geralmente decorrente de trauma autoinduzido (por prurido). Alopecia: Perda de pelo parcial ou completa. Pode ser uma lesão primária ou secundária ao trauma/inflamação. Se for simétrica e bilateral pode ser doença endócrina. Dermatopatias alérgicas Atopia Epidemiologia Predisposição etária: 1-3 anos (70% dos casos). - Média 1 ano e meio - Variação 2 meses a 8 anos - Raramente antes dos 6 meses. Predisposição racial: Lhasa Apso, Shih-Tzu, Labrador, Golden, Shar-Pei, Bichon Frisé, Boxer, Bull Terrier, Chihuahua, Tibetan Terrier, Yorkshire Terrier, Cocker Spaniel, Springer Spaniel e West Highland White Terrier. Predisposição sexual: não há um consenso na literatura sobre prevalência em fêmeas. Principais alérgenos: poeira doméstica, mofo, ácaro e pólen. Sazonalidade: pode ou não ocorrer. 80% dos cães são afetados na primavera; 20% dos cães são afetados no inverno. Principais achados epidemiológicos • Ocorrer a 1ª crise entre 1-3 anos de idade. • Afetar cães de pequeno porte, principalmente Poodle, Lhasa, Shih-Tzu, Bichon Frisé, York, Cocker Spaniel e Westie. • Ser sazonal. • O prurido ser responsivo ao corticoide. Principais achados macroscópicos • Lesões cutâneas pruriginosas • Lesões cutâneas eritematosas (aguda), lesões cutâneas hiperpigmentadas e liquenificadas (crônica) ou ambas (crônica com agudização) • Lesões cutâneas na face e nas patas (membros torácicos) • Ocorrência concomitante de otite crônica por Malassezia sp. • Lesões complicadas por piodermite superficial a profunda • Ocorrência concomitante de conjuntivite • Pode haver alopecia, escoriações Outras características - Lambedura excessiva - Pododermatite, hipotricose, alopecia, hiperpigmentação, dermatite úmida aguda - Ocasionalmente pode desenvolver pústula - Sem presença de eosinófilos Patogenia O complexo mecanismo da patogênese da dermatite atópicaenvolve diminuição da barreira epidérmica (possivelmente ligada à alteração do perfil lipídico da epiderme), participação das células dendríticas apresentadoras de antígenos, queratinócitos (que liberam grande quantidade de citocinas), resposta da fase tardia da desgranulação de mastócitos, influência genética e determinantes ambientais. A IgE também está envolvida na patogênese. Histologia O exame histopatológico revela dermatite crônica hiperplásica perivascular superficial com diferentes intensidades. Dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP) Epidemiologia Predisposição etária: - Média de 3-5 anos - Raramente antes dos 6 meses Predisposição racial: Chow-Chow, Labrador, Fox Terrier, Pequinês, Brittany Spaniel, Setter Irlandês, Airedale Terrier, Lhasa Apso, Golden Retriever, SRD, Pastor Alemão. Predisposição sexual: não há Principais achados epidemiológicos • Ocorrer a 1ª crise entre 3-5 anos de idade. • Afetar cães de qualquer porte, incluindo cães SRD. • Ocorrer variação nas lesões de acordo com o uso de anti-pulgas ou com a época do ano. • O prurido ser responsivo ao corticoide. Principais achados macroscópicos • Lesões cutâneas pruriginosas. • Lesões cutâneas eritematosas (aguda) ou lesões cutâneas hiperpigmentadas e liquenificadas (crônica) ou ambas (crônica com agudização). • Lesões cutâneas iniciadas na região lombossacral, podendo se estender para membros posteriores, base da cauda e abdômen ventral. • Lesões complicadas por piodermite superficial a profunda. • Lesões complicadas por miíase cutâneo- traumática (“bicheira”). • Pápulas crostosas Outras características - A lesão comumente possui um aspecto triangular “triângulo da Flórida” Patogenia A patogênese da DAP envolve os mecanismos da hipersensibilidade tipos I e IV direcionados aos componentes antigênicos presentes na saliva da pulga. Histologia O exame histopatológico das lesões papulocrostosas revela dermatite hiperplásica, ulcerada ou não, perivascular a intersticial superficial a profunda. Alergia alimentar (AA) Epidemiologia Predisposição etária: - Menos de 1 ano de idade (33%-50%) Predisposição racial: não há. Predisposição sexual: não há. Sazonalidade: não há. Principais achados epidemiológicos • Ocorrer a 1ª crise antes de 1 ano de idade. • Afetar cães de qualquer porte, incluindo cães SRD. • Ocorrer variação nas lesões de acordo com a alimentação. • O prurido não ser responsivo ao corticoide. Principais achados macroscópicos • Lesões cutâneas pruriginosas. • Lesões cutâneas eritematosas (aguda) ou lesões cutâneas hiperpigmentadas e liquenificadas (crônica) ou ambas (crônica com agudização). • Lesões cutâneas mais frequentemente disseminadas. • Lesões complicadas por piodermite superficial a profunda. Outras características - Os fatores predisponentes para a HA são quebra da barreira mucosa (p. ex., aumento da permeabilidade da mucosa intestinal e inflamação da mucosa) e imunorregulação deficiente (p. ex., deficiência na produção de IgA). - As reações adversas a alimentos podem causar sintomas cutâneos, gastrintestinais, respiratórios, neurológicos ou hematológicos. Diagnóstico histológico das dermatopatias alérgicas Padrão alérgico (atopia) - Dermatite perivascular linfoplasmocitária moderada - Aumento de mastócitos - Dilatação dos vasos linfáticos - Acantose regular moderada com espongiose - Não há predominância de eosinófilos Padrão alérgico (DAPP) - Hiperemia e edema superficial acentuados. Resumindo, as diferenças são: - Na atopia, o predomínio inflamatório é de linfócitos, plasmócitos e macrófagos, já na DAPP e na AA a eosinofilia tecidual pode ocorrer. - Na atopia, quando a biópsia foi feita dos pés, pode haver eosinófilos. - Na atopia, ocasionalmente, podem ocorrer pústulas de eosinófilos. - Nos casos crônicos de DAPP pode não haver eosinófilos. - Na AA pode ocorrer exacerbação na quantidade de mastócitos. Dermatopatias bacterianas As principais são: - Foliculite superficial (12,7%) - Foliculite profunda/furunculose (4,6%) - Furunculose interdigital (2,0%) *traumático - Impetigo (0,8%) Foliculite ou furunculose É uma enfermidade muito frequente em cães, cuja principal característica são pápulas ou pústulas centradas em um folículo piloso. Principais achados epidemiológicos • Secundária a Doença coexistente • Dermatites alérgicas, hipotireoidismo, demodicose, uso prolongado de corticoides, FIV, FELV. Principais achados macroscópicos • Pouco exsudato purulento • Pápulas eritematosas, pústulas que podem se romper, escamas, crostas, alopecia, colaretes epidérmicos, etc. • Regiões de pele glabra – inguinal e axilar e regiões interdigitais são mais acometidas, porém, não existe um padrão de distribuição de lesões que seja característico. O padrão de distribuição lesional dependerá e seguirá o padrão da doença primária. Achados histológicos • Foliculite supurativa acentuada com dilatação e ruptura folicular e furunculose. • Inflamação folicular neutrofílica, perifoliculite crônica, furunculose e dermatite nodular/difusa piogranulomatosa. Dermatopatias parasitárias As principais são: - Sarna demodécica (10,5%) - Sarna sarcóptica (3,8%) - Miíase (3,6%) - Miíase cutâneo-traumática (2,4%) - Miíase furunculosa (1,2%) Sarna demodécica Sinônimos: - Demodicose - Demodiciose - Sarna vermelha - Sarna negra - Sarna folicular A sarna demodécica trata-se de uma doença parasitária inflamatória, não contagiosa, causada pela proliferação supranumérica de ácaros Demodex spp. dentro dos folículos pilosos e glândulas sebáceas. Como os ácaros Demodex spp. são encontrados em pequeno número na pele normalmente, os animais que adoecem têm algum tipo e grau de imunossupressão e/ou são geneticamente predispostos. Outros fatores predisponentes são estresse, doenças debilitantes, câncer, doenças degenerativas, má nutrição, estro e parto. Padrão macroscópico da Demodicose • Hipotricose ou alopecia com ou sem descamação • Hipotricose ou alopecia com liquenificação e hiperpigmentação • Hipotricose ou alopecia com eritema • Hipotricose ou alopecia com eritema e liquenificação • Pápulas e pústulas • Lesões podais (pododemodicose): alopecia, edema e eritema difusos com pústulas hemorrágicas multifocais. Há também onicogrifose. Classificações Quanto à faixa etária e ocorrência da primeira crise: • Sarna demodécica juvenil - Filhotes (cães até um ano de idade) • Sarna demodécica juvenil persistente (não tratada) - Adultos jovens (cães entre 1-4 anos de idade) • Sarna demodécica adulta - Adultos maduros (cães com ≥ 4 anos) Quanto à distribuição das lesões • Localizada: Face e membros torácicos • Generalizada/disseminada: ≥ 5 lesões localizadas - Lesão única, mas focalmente extensa - Lesão que afeta toda uma região - Pododemodicose que afeta pelo menos dois pés/mãos Os animais jovens são acometidos com maior frequência e ocorre regressão espontânea na maioria dos casos. O prurido é pouco comum. É comum o desenvolvimento de linfoadenomegalia, foliculite e furunculose bacteriana secundária, que podem avançar para um quadro celulítico. Nesse ponto, os animais geralmente apresentam-se sistemicamente doentes. Sarna sarcóptica A sarna sarcóptica (escabiose) é uma causa comum de dermatite pruriginosa principalmente em cães e gatos. É uma zoonose, ou seja, pode acometer também humanos. Padrões das lesões macroscópicas • Hipotricose ou alopecia com eritema • Pápulas e pústulas • Crostas • Hipotricose ou alopecia com liquenificação e hiperpigmentação Acometem principalmente locais de face, pavilhão auricular, região da articulaçãoumerorradioulnar, tarsometatarsiana e região do tronco lateroventral. O prurido geralmente é intenso e pode associar-- se a infecções bacterianas secundárias e à dermatite úmida aguda. Dermatopatias fúngicas Dermatite por Malassezia A Malassezia pachydermatis, é uma levedura saprófita, lipofílica, não micelial, que tem forma de amendoim. Essa espécie é encontrada normalmente no canal auditivo, saco anal, pele interdigital, lábio, ânus, vagina e, em menor número, no tronco de cães. Alguns fatores predisponentes são produção excessiva de sebo ou cerume, umidade excessiva, quebra da barreira epitelial, alterações do microclima cutâneo e diminuição das defesas imunológicas. O crescimento de Staphylococcus spp. pode resultar em efeito sinérgico com a Malassezia sp. Doenças tidas como facilitadoras para o desenvolvimento da malassezíase incluem enfermidade cutânea seborreica, doenças alérgicas (p. ex., atopia e alergia alimentar), enfermidades endócrinas, piodermites, dermatites intertriginosas, assim como a administração crônica de antibióticos e glicocorticoides. Sinais clínicos - Eritema - Prurido - Liquenificação - Alopecia - Hiperpigmentação As áreas mais acometidas são: região ventral do pescoço, axilas, face, interdigital, dobras cutâneas. Nos felinos, a enfermidade é bem menos frequente, mas citam-se otite externa ceruminosa, acne felina recorrente, quadros seborreicos generalizados e eritrodermia. A malassezíase felina pode se associar à infecção pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV), ao diabetes mellitus, ao timoma e à alopecia paraneoplásica. As lesões podem localizar-se na região ventral, meato acústico, patas e mento. Esporotricose A esporotricose é uma micose subcutânea cujo agente etiológico é o fungo dimórfico, saprofítico, que habita o solo e vegetais em decomposição, conhecido como Sporothrix schenckii. Esse fungo é capaz de causar doença no homem e em várias espécies de animais, sendo no gato a de maior importância em saúde pública. Transmissão • A infecção se estabelece por meio de feridas traumáticas contaminadas com o elemento fúngico. • Na espécie felina, as arranhaduras e mordeduras também são descritas como forma de contágio. • Em humanos – jardinagem e contato com animais infectados. Padrão das lesões macroscópicas • Nódulos firmes, alopécicos fistulam e ulceram com secreção serossanguinolenta • Linfadenopatia • Envolvimento visceral Regiões de maior acometimento: face e membros. Três formas clínicas são descritas para a esporotricose: cutânea, cutânea linfática e disseminada; combinações dessas formas podem coexistir em um animal. Nos gatos, a forma mais comum é a cutânea linfática. Nos casos graves, observam-se apatia, febre, anorexia e perda de peso. Dermatofitose A dermatofitose é a infecção fúngica superficial causada por fungos que infectam e se nutrem da porção queratinizada da epiderme e de anexos cutâneos. Os gêneros Microsporum e Tricophyton são os mais importantes. O principal agente etiológico da dermatofitose felina e canina é o Microsporum canis. A enfermidade parece ocorrer com maior frequência nos locais com temperatura e umidade elevadas. Certamente, a doença assume maior importância em animais jovens, especialmente os mal nutridos e parasitados. No entanto, animais idosos imunossuprimidos podem desenvolver uma forma grave da doença. Transmissão • Contato direto com pelos e escamas de cães e gatos • Fômites • Ambientes contaminados Obs: resolver a questão ambiental é um dos tratamentos. Padrão das lesões macroscópicas • Foco alopécico circular com borda eitematosa crostosa • Pápulas e pústulas • Geralmente, o prurido é mínimo ou ausente, podendo, em poucos casos, ser intenso. Regiões de maior acometimento: abdômen ventral, face, membros torácicos. A inflamação cutânea é fruto da ação de várias toxinas produzidas pelo fungo, que, por sua vez, induz à dermatite de contato. Nessa reação, participam tanto as toxinas fúngicas quimiotáticas como as citocinas produzidas pelos queratinócitos e células inflamatórias. Pitiose equina A pitiose equina, também conhecida como “ferida brava”, “mal dos pântanos”, é uma enfermidade granulomatosa subcutânea de evolução crônica que acomete principalmente os equinos, embora os bovinos e os cães também possam ser acometidos. Em bovinos é limitante e em equinos é considerada mais grave, tendo em vista que possuem menor imunidade. Tem como agente etiológico o Pythium insidiosum, que não é um fungo verdadeiro. - O Pythium vive em regiões aquáticas - Os primeiros casos foram descritos no Pantanal - Pode ocorrer também em regiões secas devido aos açudes - Os animais infectam-se frequentando ou bebendo nos alagados de água estagnada Não existe predisposição racial, sexual ou etária para o desenvolvimento da doença nos equinos. A existência de lesão cutânea prévia parece ser um pré-requisito para a infecção. Padrões macroscópicos das lesões Nos equinos, a pitiose caracteriza-se, clinicamente, por lesão única, que pode alcançar grandes dimensões. - Lesão edematosa no início - Evolui para grande massa ulcerada de aspecto granulomatoso - Secreção hemorrágica ou piossanguinolenta - Muito frequente extrusão de tecido necrótico amarelado, que se assemelha a pequenos corais (kunkers) → piogranuloma eosinofílico - As lesões ocorrem comumente no abdômen ventral, local em maior contato com a água, mas também pode ocorrer em outros locais como membros e boca. - O prurido é geralmente importante e os animais esfregam-se contra objetos fixos Achados microscópicos Dermatite nodular a difusa piogranulomatosa a granulomatosa, com numerosos eosinófilos. Os granulomas envolvem focos centrais de material necrótico, granular e eosinofílico. Obs: A mortalidade nos casos não tratados aproxima-se de 100%. O diagnóstico também pode ser feito por meio de imuno-histoquímica. Protozoários Leishmaniose A leishmaniose visceral (LV) é uma enfermidade infectocontagiosa dos seres humanos e animais que é causada por protozoário do gênero Leishmania spp. e que cursa com caráter cutâneo e visceral (cães são reservatórios). Aparentemente, não há predileção racial e sexual, sendo raro o acometimento de animais com menos de 6 meses de idade. Animais infectados pela leishmania possuem quadros de imunossupressão, doenças concomitantes ou fazem uso de drogas imunossupressoras. Os vetores são insetos que não se reproduzem na água (flebotomíneos do gênero Lutzomyia e Phlebotomus). Padrões macroscópicos das lesões • O quadro dermatológico consiste, na maioria dos casos em dermatite esfoliativa não pruriginosa • Alopecia e distúrbio de queratinização simétrica • Despigmentação de plano nasal • Nódulos e ulceração cutânea e mucocutânea • Hiperqueratose nasodigital • Onicogrifose (nem sempre ocorre) • Os locais mais frequentes são: região cefálica (focinho, periorbital e pinas), pavilhões auriculares e progride caudalmente. Achados microscópicos O padrão predominante é a perifoliculite granulomatosa. As formas amastigotas são visualizadas dentro de macrófagos ou no espaço extracelular em quantidade variável. Sinais clínicos Linfoadenomegalia, dermatose, caquexia, apatia, febre, queratoconjuntivite, blefarite, uveíte, anorexia, diarreia, vômito, melena, epistaxe, pneumonia, hepato e esplenomegalia, poliúria, polidipsia, icterícia e claudicação. Neoplasias cutâneas As neoplasias da pele são muito variáveis quanto à sua histogênese, uma vez que, potencialmente, todos os diversos componentes tissulares da pele podem dar origem a diferentes processos neoplásicos. - São muito frequentes as neoplasias cutâneas de origemepitelial, que têm origem não somente na epiderme, mas também nos anexos cutâneos. - As neoplasias mesenquimais, melanocíticas e de células redondas são também muito comuns nos animais domésticos. - De acordo com um estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães, os mais comuns são: Mastocitoma, carcinoma de células escamosas, adenoma perianal, lipoma, tricoblastoma, carcinoma perianal, papiloma, cistos foliculares, hemangioma, hemangiossarcoma, melanoma, adenoma sebáceo, histiocitoma. Neoplasmas cutâneos epiteliais Carcinoma de Células Escamosas (CCE) Também conhecido como carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermoide (CEC), é um tumor epidermal com diferenciação escamosa. O carcinoma de células escamosas é muito comum em felinos, bovinos, equinos e cães, sendo menos frequente em pequenos ruminantes e suínos. Fator predisponente: o principal é a exposição prolongada à luz solar (raios UV - dímeros da piramidina) bem como áreas despigmentadas da pele ou com ausência ou escassez de pelos. Epidemiologia: Atinge animais adultos a idosos. Macroscopia: as lesões tendem a ser placas ulceradas e com infecção secundária, resultando em acúmulo de exsudato purulento na superfície. Histologia: as células neoplásicas se dispõem em ilhas ou cordões ligados à superfície epidermal. Na maioria dos casos, bem diferenciados, é observada a formação de “pérolas córneas”. Sinais clínicos: O CEC é a neoplasia digital mais comum no cão. O quadro inicia-se com dor, aumento de volume e claudicação e pode ser tratado inicialmente como um processo inflamatório infeccioso, devido à descarga de material purulento. Crescimento endofítico (penetrante) ou exofítivo. Regiões de maior acometimento: • Equino – glande • Gato – orelha e plano nasal • Bovinos – pálpebra, glande e vúlva Tratamento: eletroquimioterapia para citoredução. Papiloma São neoplasias benignas da epiderme, com aspecto macroscópico de crescimento exofítico, semelhante à couveflor. Esse tipo de neoplasia frequentemente é causado por um vírus. É uma doença bastante infecciosa. Bovinos: • Geralmente causada pelo vírus da papilomatose bovina (VPB). • Acomete bovinos leiteiros principalmente até os 2 anos de idade. • A ocorrência está ligada ao estado imune do animal. Imunidade baixa e sistema de criação em confinamento aumentam a incidência. • A transmissão se dá por contato direto entre animais ou contato indireto por meio de cordas, bebedouros, cercas e também carrapatos e moscas. • As lesões ocorrem mais na cabeça, ao redor dos olhos e no pescoço, nas tetas e outras regiões podem ser afetadas. Cães: • O papiloma cutâneo ocorre geralmente em cães de meia-idade a idosos. • É notado principalmente na cabeça, pálpebras e patas. • Trata-se de lesões, em geral, pedunculadas ou com aspecto de couve- flor, bem circunscritas, hiperceratóticas e de pequeno tamanho. • Notam-se várias máculas, pápulas e placas fortemente enegrecidas. Neoplasmas cutâneos mesenquimais Mastocitoma Proliferação neoplásica de mastócitos que ocorre em todas as espécies de animais domésticos. Sua manifestação mais comum é a cutânea. Macroscopia: As lesões podem ser macias a firmes, papulosas a nodulares, sésseis a pedunculosas, bem ou mal circunscritas, alopécicas ou não. Nódulos únicos ou múltiplos, macios e elevados, sempre aderidos a pele, de cor branco homogêneo. Regiões de maior acometimento: escroto, prepúcio e dedo. Sinais clínicos: Hiperemia, dor, úlcera gástrica, vômito. Diagnóstico: citologia aspirativa • 10% dos casos são de grau I – crescimento lento, não ulcerado (morrem por metástase ou recidiva) • 45% grau II • 85% grau III (crescimento rápido, atinge derme profunda e subcutâneo, ulcerado). • 50% dos mastocitomas caninos recidivam. Expectativa de vida: grau I (51 semanas) > grau II (28 semanas) > grau III (18 semanas). Fibrossarcoma São neoplasias malignas dos fibroblastos que produzem tecido conjuntivo colagenoso, mas não osso ou cartilagem. Macroscopia: Nos cães, os fibrossarcomas são geralmente solitários, irregulares e nodulares, firmes e mal circunscritos, e acometem mais comumente os membros. São branco- acinzentados, preenchem parte da cavidade medular e substituem os ossos porosos e corticais. Microscopia: as células neoplásicas são fusiformes e dispostas em feixes. As células exibem núcleos que variam de volumosos e homogêneos até intensamente pleomórficos e hipercromáticos. A matriz não mineraliza nem circunscreve as células em lacunas. • Fibrossarcomas centrais: originam-se do tecido fibroso na cavidade medular. Estes crescem mais lentamente, menor formação de osso reativo, maior tempo para metastatizar e produz massa tecidual menor que os osteossarcomas. • Fibrossarcomas periosteais: originam-se do tecido conjuntivo periosteal. Sarcoide equino Trata-se de uma neoplasia que ocorre em equinos, devido à infecção com papilomavírus bovino. São os tumores de pele mais comuns nos equinos, responsáveis por mais de 30% dos tumores e ocorrem em qualquer raça, sexo ou idade. Os equinos adultos jovens com três a seis anos de idade geralmente são os mais afetados. Macroscopia: são reconhecidos quatro tipos de sarcoide: verrucoso, fibroblástico, misto e achatado. Embora o sarcoide possa ocorrer em qualquer local do corpo, é mais frequente na cabeça, nos membros e nas porções ventrais do tórax e do abdome. Microscopia: há intensa proliferação fibroblástica na epiderme, com pequena quantidade de matriz extracelular colagênica e hiperplasia da epiderme. Histiocitoma cutâneo É um tumor em histiócitos (macrófagos) de crescimento lento. Regride e desaparece, mas não responde bem a quimioterapia. Macroscopia: lesões solitárias, firmes, mal circunscritas, invasivas (aos ossos e músculos), com variação na forma e tamanho. Ocorre comumente em locais de face e tronco em cães de meia idade (2 a 5 anos). Microscopia: Embora esse tumor seja classificado em diferentes tipos histológicos, a característica comum é uma proliferação fibroblástica com células histiocíticas, frequentemente multinucleadas. Hemangiossarcoma Hemangiossarcomas podem ocorrer como neoplasias cutâneas ou podem se desenvolver em locais internos, como o átrio ou o baço. A literatura, bem como a experiência desses autores, diz que os hemangiomas e os hemangiossarcomas ocorrem com maior frequência no abdome ventral glabro dos cães de pele e pelagem claras e são devidos ao dano actínico crônico (radiação ultra-violeta). Nos cães, os hemangiossarcomas induzidos pelo sol podem ser múltiplos, de coloração eritematovinhosa, e podem ulcerar, sangrando com facilidade por ação do trauma, o que resulta, por vezes, em importantes quadros anêmicos. Neoplasmas melanocíticos Melanoma Melanomas são tumores malignos, metastáticos e bastante comuns. No que se refere às neoplasias cutâneas malignas, o melanoma é relativamente comum nos equinos, principalmente nos cavalos tordilhos e idosos. Macroscopia: As lesões apresentam circunscrição, aspecto (placa, nódulo, tumor, verrucoso, hiperceratótico) e pigmentação (cinza, marrom, preto, eritematoso) variados. Quanto mais claro, mais grave (melanoma amelanocítico). Regiões de maior acometimento: As lesões se localizam, principalmente, na região perianal e face ventral da base da cauda e, com menor frequência, nos lábios, base da orelha e região periorbital. Patogênese: A patogênese inclui, provavelmente, um distúrbio no metabolismo da melanina que leva à formação de novos melanoblastos, que, com o tempo, sofrem transformação maligna.
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