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Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório Apresentação As infecções do trato respiratório (ITR) podem ocorrer tanto no trato superior (ITRS) quanto no inferior (ITRI), sendo mais frequentes no ITRS. As bactérias são os agentes etiológicos mais significativos nesses tipos de infecções, podendo causar diversas patologias nas quais a inflamação de tecidos e de órgãos do sistema respiratório são comuns, tais como orofaringites, laringites e sinusites. A pneumonia é, provavelmente, a ITR de maior ocorrência no mundo, causada por diversos patógenos, principalmente por bactérias. O diagnóstico das ITR é realizado por meio de diversas técnicas, as quais têm peculiaridades inerentes ao patógeno que pretendem identificar, geralmente analisando fluidos corporais e coletando amostras das mucosas. Os tratamentos, assim como o diagnóstico, são sempre altamente específicos ao agente etiológico da infecção. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer as principais ITRS e ITRI, os agentes etiológicos e as formas de prevenção e de diagnóstico das infecções. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar as ITRS e ITRI.• Descrever as principais patologias microbianas do trato respiratório.• Reconhecer os métodos diagnósticos para as ITR.• Infográfico A pneumonia é uma infecção do trato respiratório inferior (ITR) ocasionada, principalmente, por bactérias, mas também pode ser por vírus, e que afeta, sobretudo, os pulmões e os alvéolos. É a maior responsável por mortes de crianças abaixo dos cinco anos, com mais de um milhão em todo o mundo. Pessoas acima de 60 anos também se mostram vulneráveis às complicações causadas pela doença. No Brasil, entre 2015 e 2017, 80% das mortes por pneumonia foram de idosos, correspondendo a cerca de 200 mil óbitos no período, segundo dados do Ministério de Saúde. No Infográfico a seguir, veja informações sobre os sintomas, os modos de prevenção e o tratamento da pneumonia. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/bfe46753-2364-4222-b6f6-1e938f3d79c8/e6ed9134-8b90-46c1-a5f2-2669a3680652.png Conteúdo do livro As infecções do sistema respiratório podem ocorrer no trato superior e no inferior. As mais frequentes são as infecções do trato respiratório superior (ITRS), porém as infecções do trato respiratório inferior (ITRI) são as responsáveis por maiores taxas de morbidade e mortalidade. Os principais agentes etiológicos dessas infecções são os vírus e as bactérias. No capítulo Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório, da obra Bacteriologia clínica, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, conheça um pouco mais esses tipos de patologias, seus agentes etiológicos e as técnicas de diagnóstico dessas infecções. Boa leitura. MICROBIOLOGIA CLÍNICA César Henrique Yokomizo Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Diferenciar as infecções de trato respiratório superior e inferior. � Descrever as principais patologias microbianas do trato respiratório. � Reconhecer os métodos diagnósticos para as infecções do trato respiratório. Introdução Neste capítulo, você vai estudar as principais infecções que ocorrem no trato respiratório. Vai ver a diferença entre o trato respiratório superior e o trato respiratório inferior, bem como os principais agentes etiológicos microbianos, em particular as bactérias, responsáveis pelas infecções. As principais manifestações clínicas e resultados laboratoriais também serão abordados, assim como os principais métodos diagnósticos e os tratamentos mais adequados para cada tipo infecção do trato respiratório. 1 Infecções do trato respiratório superior e inferior O trato respiratório pode ser dividido em duas regiões: a superior e a inferior. No trato respiratório superior, localizam-se a cavidade nasal, a faringe e a laringe, enquanto no trato respiratório inferior, localizam-se a traqueia, o brônquio principal e os pulmões. Visualize o trato respiratório na Figura 1. Figura 1. Trato respiratório superior e trato respiratório inferior. Fonte: Adaptada de Akryl (2010). Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu as doenças respiratórias como aquelas doenças ou infecções que ocorrem no trato res- piratório superior e inferior, causando obstrução da passagem de ar, tanto no nível nasal como no nível bronquiolar e/ou pulmonar. As infecções do trato respiratório superior (ITRS) são as enfermidades que afetam a humanidade com a maior frequência, variando desde infecções respiratórias agudas (IRA) (pneumonia, resfriado comum) até infecções mais graves (tuberculose). As infecções podem causar desde quadros leves até patologias agudas potencial- mente mortais, tendo grande variedade de agentes etiológicos, que vão desde bactérias, passando por vírus e, em alguns casos, fungos. A faringe (orofaringe e nasofaringe) é revestida por um epitélio escamoso estratificado, que abriga uma microbiota vasta e populosa que, em muitos casos, não produz quadros patológicos. A cultura em laboratório desses microrga- nismos é facilitada pela sua grande disponibilidade, mas também gera uma dificuldade na identificação e isolamento de microrganismos potencialmente patogênicos. A região dos seios paranasais que se comunica com a cavidade nasal é revestida por um epitélio que, diferentemente da faringe, em condições normais é estéril (BROOKS et al., 2014). Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório2 As ITRS ocorrem geralmente após ataques de patógenos que estimulam o mecanismo de defesa no hospedeiro, casos como o da rinite alérgica, alguma irritação desencadeada por produtos químicos, traumatismos variados e, em particular, infecções por vírus no trato respiratório. A infecções por vírus podem comprometer a função ciliar, estimular a produção de grandes volumes de secreções finas e edemaciamento das mucosas; em consequência disso, ocorre o bloqueio de canais estreitos de drenagem. As ITRS mais comuns são as seguintes: � Sinusite: as infecções dos seios paranasais são caracterizadas por congestão nasal, secreção nasal purulenta, respiração fétida, dor facial e febre na sua forma aguda, podendo evoluir para uma forma de sinusite crônica que perdura por mais tempo (semanas ou meses). � Otite: caracterizada pela inflamação do ouvido médio, interno ou externo, em decorrência de infecção. A otite média aguda é uma das infecções mais comuns na infância e, quando não tratada correta- mente, pode se tornar crônica. A otite média purulenta ocorre quando há migração de bactérias da nasofaringe para a orelha média (que, em condições normais, é estéril), e a otite externa ocorre geralmente como inflamação benigna comum, que ocorre favoravelmente em con- dições de umidade excessiva ou traumatismo do canal auditivo externo. � Faringite: caracterizada pela inflamação da parte posterior da gar- ganta, a faringe, em decorrência de infecção, geralmente bacteriana. Os sintomas da faringite são a inflamação da garganta, febre, corrimento nasal (coriza), tosse, dor de cabeça e rouquidão. O grupo de bactérias estreptococos do grupo A é o mais recorrente nos casos de faringite, embora representem apenas 5% dos casos, dado que ainda hoje não é completamente compreendido. � Epiglotite aguda (supraglotite): é a ITRS que se desenvolve com maior velocidade e letalidade, decorrente de infecção que gera a inflamação da epiglote e dos tecidos circundantes. Ocorre com mais frequência em crianças de 2 a 8 anos do sexo masculino. A vacinação contra Haemo- philus influenzae de tipo B tem sido fundamental para a diminuição no número de casos dessa enfermidade. 3Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratórioAs infecções do trato respiratórios inferior (ITRI), embora menos frequentes em relação às ITRS, causam quadros patológicos mais graves, como a pneumonia e a bronquite aguda. Essas infecções, na sua forma aguda, são as que apresentam a maior taxa de mortalidade. Os principais agentes etiológicos das ITRI são as bactérias, com destaque para Streptococcus hemolyticus, Neisseria meningitidis e Streptococcus pneumoniae. A virulên- cia dessas bactérias é potencializada quando infecções agudas causadas por vírus necrosam o epitélio, favorecendo a aderência das bactérias patogênicas e levando a um quadro de infecção mista, na qual vírus e bactérias são os agentes causadores simultâneos (SILVA FILHO et al., 2017). Segundo relatório da OMS de 2014, as infecções respiratórias agudas estão entre as doenças infecciosas que mais causam morte no mundo. Elas têm como público-alvo preferencial os muito jovens e os muito idosos. As infecções respiratórias, tanto de trato superior quanto inferior, têm alta taxa de contágio em função do grande potencial de propagação, que pode ocorrer por meio da liberação de gotículas contaminadas (espirro, bocejo ou fala), ou ainda pelo contato da mão com superfícies contendo os patógenos, que depois é levada às vias respiratórias, causando uma autoinoculação. As ITRI mais frequentes em todo o mundo são a pneumonia, a bronquite aguda e a tuberculose, que podem ser descritas da seguinte maneira: � Pneumonia: inflamação das vias aéreas, em especial, do parênquima pulmonar, dos brônquios, dos bronquíolos e, em alguns casos, da pleura. Existem a pneumonia comunitária (PAC) e a nosocomial, que são relativas ao local onde a doençao foi adquirida. A PAC é a pneumonia que acomete o indivíduo em ambiente externo ao hospitalar, ou ainda que se manifesta dentro das primeiras 48 horas da internação hospitalar. No mundo, a incidência de PAC é de 12/1.000 habitantes anualmente, sendo que a incidênica é maior em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde responde pela segunda maior causa de internação hospitalar. A faixa etária mais atingida está em idades extremas, como menores de 5 anos e maiores de 70 anos. Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório4 � Bronquite aguda: o sintoma predominante é a tosse secundária à inflamação, que é autolimitada de vias aéreas de grosso calibre (intratorácica), quando não há pneumonia. Mais frequente nos meses de inverno e outono, pode atingir cerca de 5% da população adulta anualmente. Os vírus influenza A e B, parainfluenza, vírus sincicial respiratório (VSR), coronavírus, adenovírus e rinovírus são os agentes etiológicos que respondem pela maioria dos casos, enquanto bactérias como Chlamydophila pneumoniae, Bordetella pertussis e Mycoplasma pneumoniae podem ser encontrados na minoria dos casos (LEVINSON, 2016). � Tuberculose: infecção prioritariamente dos pulmões, que pode acometer outros órgãos nos casos mais graves. O agente etiológico da tuberculose é a Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch). A forma extrapul- monar, na qual a tuberculose acomete outros órgãos além do pulmão, ocorre mais frequentemente em pacientes HIV positivos, devido ao comprometimento imunológico. O principal sintoma da tuberculose, quando está restrita aos pulmões, é a tosse na forma seca ou produtiva; por esse motivo, é recomendado que todo sintomático respiratório (paciente com tosse por três semanas ou mais) seja investigado para tuberculose. Os outros sintomas que podem estar presentes em casos de tuberculose são febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento e cansaço/fadiga. Exacerbações agudas da bronquite crônica A bronquite aguda pode evoluir para um quadro de bronquite crônica. Em determina- dos períodos do ano, em especial no inverno e no outono, podem ocorrer exacerbações dos sintomas respiratórios (2–3 vezes por ano), inclusive evoluindo para a necessidade de intervenção médica em alguns casos. As exacerbações mais frequentes são aumento da dispneia, aumento e/ou alteração do aspecto da expectoração, cansaço, aumento da tosse, sensação de pressão no peito e diminuição da capacidade de exercício físico. Febre pode ou não ocorrer. Nos casos mais graves, podem ocorrer ainda irritabilidade, confusão mental, sonolência, tremores, coma e convulsão. 5Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório 2 Principais patologias microbianas do trato respiratório As IRA representam uma das principais causas de mortalidade mundial, especialmente nas extremidades etárias, ou seja, muito jovens ou muito ido- sas, com estimativas de 3 a 5 milhões de ocorrências anuais. A mudança nas estações do ano, como o início do outono ou do inverno, e a consequente queda na temperatura podem tornar as pessoas mais vulneráveis às infecções respiratórias. Infecções do trato respiratório superior As ITRS podem ter diversos agentes etiológicos microbianos, com destaque para alguns vírus e também para diversas bactérias, que serão apresentados a seguir. Otite média aguda A otite média aguda geralmente ocorre em decorrência de uma complicação de dor de garganta, resfriado ou problemas respiratórios, com a infecção se espalhando para o ouvido médio. É uma doença que atinge principalmente crianças pequenas, com estimativas de que, aproximadamente, 75% das crianças apresentem um quadro de otite média aguda até os 3 anos de idade. O agente etiológico pode ser tanto um vírus quanto uma bactéria; representan- tes de cada grupo, são Staphylococcus aureus, S. pneumoniae, H. influenzae (bactérias) e o vírus sincicial respiratório (VSR). Nas crianças, a patofisiologia da doença tem relação com a tuba auditiva, que é uma pequena passagem de conexão da parte superior da garganta com o ouvido médio, cuja função é igualar a pressão de ar no ouvido médio quando ocorrem alterações na pressão atmosférica do ambiente. A infecção causa o bloqueio do tubo em decorrência do inchaço ou entupimento por mucosa decorrente de resfriado, impedindo a ventilação do ouvido médio e acumulando luido. O principal sintoma da otite média aguda é dor severa e, em casos sem tratamento, pode causar dano permanente à audição ou ainda a migração da bactéria para partes próximas da cabeça, como o cérebro, causando infecções no sistema nervoso central (SNC) (LEVINSON, 2016). Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório6 Faringite e amigdalite Nomes dados à inflamação da faringe e inflamação das amígdalas, respectiva- mente. O principal sintoma em ambas patologias é a dor de garganta. Devido à proximidade anatômica, é comum que a faringe e as amígdalas inflamem ao mesmo tempo, quadro que recebe o nome de faringoamigdalite. As diferenças entre essas duas infecções são as seguintes: no caso da amigdalite, ocorre uma dor maior ao engolir, febre e mal-estar generalizado. Já a faringite se apresenta mais branda, com dores leves, tosse com expec- toração, ausência de febre e possibilidade de disfonia. Os principais agentes etiológicos tanto da faringite quanto da amigdalite são vírus (parainfluenza, VSR, influenza A e B, adenovírus tipos 1, 2, 3 e 5, rinovírus) e as bacté- rias Streptococcus β-hemolítico do grupo A e Streptococcus pneumoniae. As faringites ou amigdalites bacterianas são processos mais graves do que as virais, uma vez que podem causar complicações como febre reumática e abscessos (LEVINSON, 2016). Laringite e laringotraqueobronquite (crupe) A etiologia da doença se dá por meio de infecção viral, que causa inchaço no revestimento das vias respiratórias, em especial da área abaixo da laringe, daí o nome laringite. A infecção é bastante relevante, uma vez que corres- ponde a 15% das ITRS na infância. Os principais agentes etiológicos são os vírus parainfluenza tipos 1 a 2, metapneumovírus, influenza, rinovírus, VSR, enterovírus e adenovírus, mas também pode ser causada pela bactéria M. pneumoniae. A infecção geralmente ocorre pela inspiração de gotículas suspensascon- tendo o vírus, podendo também ocorrer pelo contato do paciente com objetos que foram contaminados com as gotículas. Os sintomas são semelhantes aos de um resfriado comum, com quadro evoluindo para tosse e rouquidão, popularmente chamada de “tosse de cachorro”. Casos mais graves levam à insuficiência respiratória evidente e ao estridor inspiratório grave, que é o som da respiração quando o ar passa por uma via aérea de grosso calibre que está estreitada por alguma razão (LEVINSON, 2016). 7Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório Infecções oportunistas são infecções que ocorrem quando o sistema imunológico do paciente está fragilizado por algum agente infeccioso viral. Se quiser saber mais sobre esse tipo de infecção, há um artigo bastante conciso e explicativo sobre o assunto no portal AbcMed. Para encontrar o artigo é simples, basta pesquisar o seguinte em seu navegador da internet: “‘infecções oportunistas’ ‘abcmed’”. Difteria Causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae, que pode infectar dire- tamente o doente ou ser transmitida por um portador humano assintomático. A infecção causa inflamação, que pode atingir diversos sítios, como amígdalas, faringe, laringe, nariz e, em certos casos, pele e mucosas. Ocorre a formação de placas bacterianas e, dependendo do tamanho e local, onde essas placas bacterianas se consolidarem, o paciente pode sentir dificuldade de respirar. Sinusite aguda Inflamação dos seios paranasais que tem como principais agentes etiológicos as bactérias S. pneumoniae, H. influenzae e Moraxella catarrhalis. Os seios paranasais podem ser obstruídos em decorrência de uma infecção viral ou rinite alérgica, causando acúmulo de muco na cavidade do seio e, consequentemente, sua inflamação. Os sintomas e manifestações clínicas da sinusite incluem congestão nasal, secreção nasal purulenta, dor facial ou nos seios paranasais causada pela pressão do muco, febre e diminuição do olfato. Epiglotite Caracterizada pela inflamação da epiglote, é causada, principalmente, pela bactéria H. influenzae do tipo B, mas também por outros tipos da mesma bactéria e, em menos frequência, por S. pneumoniae, Streptococcus pyogenes e S. aureus. Os principais sintomas e manifestações clínicas da epiglotite são dor na garganta com rápida progressão, dor ao engolir (odinofagia) ou dificul- dade de deglutição (disfagia); nos casos mais graves pode ocorrer obstrução das vias aéreas e, por isso, crianças pequenas com epiglotite devem receber atenção especial (LEVINSON, 2016). Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório8 Resfriado comum Infecção viral que pode atingir nariz, seios nasais, garganta, traqueia, trompas de Eustáquio e laringe. A transmissão ocorre, principalmente, por meio de aerossóis expelidos em espirros, que carregam a partícula viral, também po- dendo ocorrer quando a pessoa toca alguma superfície contendo o vírus e, logo depois, carrega o mesmo até o trato respiratório. É causada, principalmente, por tipos de rinovírus (até 50% dos casos), mas também por tipos de corona- vírus, enterovírus, adenovírus e pelo vírus de Coxsackie (LEVINSON, 2016). No Quadro 1, você encontra um resumo das infecções do trato respiratório superior mais comuns, bem como os principais agentes etiológicos dessas infecções e os tratamentos mais indicados para cada caso. Fonte: Adaptado de Levinson (2016). Infecção Patógenos importantes Tratamento Otite média Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis Amoxicilina Sinusite aguda S. pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis Amoxicilina se os sintomas persistirem por mais de 10 dias Faringite Streptococcus pyogenes (estreptococo s do grupo A), vírus (p. ex., adenovírus) Penicilina ou amoxicilina em caso de diagnóstico de estreptococos do grupo A Resfriado comum Rinovírus, coronavírus e outros Suporte; a administração de zinco pode ser efetiva na redução da duração dos sintomas Crupe (larin- gotraqueo- bronquite) Vírus parainfluenza Suporte; corticosteroides e epinefrina em caso de sintomas brandos ou graves Laringite Vírus parainfluenza e rinovírus Suporte Epiglote H. influenzae tipo B Ceftriaxona Quadro 1. Infecções do trato respiratório superior 9Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório Infecções do trato respiratório inferior As ITRI são menos frequentes, porém podem ser consideradas mais letais e com maiores taxas de morbidade, sendo uma importante causa de morte tanto para crianças muito novas como para idosos em avançada faixa etária. Assim como as ITRS, as ITRI têm como principais agentes etiológicos, diversas espécies de vírus e de bactérias. As principais ITRI, seus sintomas e agentes etiológicos são descritos a seguir. Pneumonia Infecção dos tecidos pulmonares e dos alvéolos. Na pneumonia, os alvéolos se encontram cheios de secreções purulentas, impedindo a entrada e saída de gases e dificultando a respiração e a oxigenação dos tecidos. As bactérias mais comumente encontradas em quadros de pneumonia são S. pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis e S. aureus. Já em relação aos vírus, os mais comuns são tipos de parainfluenza, coronavírus, VRS, influenza e adenovírus. A pneumonia pode ser classificada de acordo com o local onde foi adquirida: em pneumonia comunitária (PAC), que acomete o indivíduo fora do ambiente hospitalar, ou em pneumonia adquirida em hospital (PAH), também chamada de pneumonia nosocomial, que é responsável por 15% do total de infecções adquiridas em hospital (SILVA FILHO et al., 2017). Bronquiolite Ocorre a inflamação dos bronquíolos, atinge frequentemente recém-nascidos e crianças pequenas (> 2 anos), sendo o VSR o agente etiológico mais comum. Também pode ser ocasionada pelos vírus influenza, parainfluenza e tipos de adenovírus, rinovírus, coronavírus e metapneumovírus humano. Os sintomas iniciais nas crianças são semelhantes aos apresentados em ITRS, com evolução para aumento no desconforto respiratório (SILVA FILHO et al., 2017). Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório10 A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma condição que ocorre no trato respiratório que se caracteriza pela diminuição progressiva da capacidade de respirar. Por causa da inflamação crônica e das tentativas do corpo para repará-la, ocorre o estreitamento das pequenas vias aéreas periféricas. A DPOC é causada, principalmente, pelo tabagismo, presente em aproximadamente 85% dos casos da doença. A DPOC tem dois componentes, o enfisema pulmonar e a bronquite crônica. Estima-se que 70% dos pacientes com DPOC leve a moderada permanecem sem diagnóstico. 3 Principais métodos diagnósticos para as infecções do trato respiratório Os métodos diagnósticos devem ser adequados a cada tipo de infecção, levando em conta também o diagnóstico diferencial. Acompanhe, a seguir, as principais técnicas utilizadas para a detecção de infecções do trato respiratório Sinusite aguda A sinusite pode ser confirmada pelo achado de opacidade, situação na qual os seios frontal ou maxilar são transiluminados, ou por meio de exames ra- diográficos, em que é possível observar opacificação sinusal, espessamento de mucosa ou níveis ar–líquido. A radiografia das vias sinoviais é altamente sensível (90%) e relativamente especifica (61%) para diagnóstico nos casos de sinusite aguda. A bacteriologia em casos de sinusite enfrenta dificuldades técnicas na obtenção de culturas válidas, portanto a técnica no diagnóstico da sinusite não está totalmente estabelecida. Nas punções sinusais, os patógenos mais frequentemente encontrados são H. influenzae, pneumococos, estreptococos e M. catarrhalis. O diagnóstico diferencial da sinusite deve considerar os processos não infecciosos, por exemplo, a rinite alérgica é a causa não infecciosa mais recorrente para os sintomas de infecção sinovial; além disso,pólipos, tumores, cistos e corpos estranhos também podem produzir sintomas típicos de sinusite (SILVA FILHO et al., 2017). 11Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório Otite média aguda A base clínica para o diagnóstico da otite consiste na ocorrência de uma membrana timpânica volumosa, em que há comprometimento da mobilidade e obscurecimento dos referenciais corporais. Todos esses sintomas, em adição a um histórico de aparecimento agudo da infecção, são fortes indícios para um diagnóstico de otite média aguda. Junto a tudo isso, o paciente pode apresentar otorreia e perfuração da membrana timpânica em alguns casos. Nos casos em que, além da otite, o paciente apresenta conjuntivite conco- mitante, pode-se considerar um forte indicativo de infecção por H. influenzae. Em casos de otite média purulenta, indica-se a aspiração da orelha média com agulha, para cultivo do fluido e identificação do patógeno, embora esse procedimento seja pouco utilizado, uma vez que a bacteriologia da otite média tem protocolos já bastante bem definidos, facilitando a monitoração do curso clínico da doença. No diagnóstico diferencial, a otite média serosa é o principal distúrbio a ser considerado, uma vez que sintomas como febre e dor não se manifestam em pacientes nessa condição (SILVA FILHO et al., 2017). Epiglotite Quando ocorre em adulto, a epiglotite é caracterizada como uma emergência médica. O diagnóstico é realizado clinicamente, por meio da observação da epiglote com relação a inchaço, edema e coloração (vermelho-cereja nas infla- mações). A radiografia com vista lateral do pescoço é indicada também como forma diagnóstica, com exceção de casos nos quais haja angústia respiratória. No caso de a radiografia não indicar edema da epiglote, é recomendável uma laringoscopia indireta. Em todos os casos, é necessário o monitoramento dos pacientes quanto aos sinais de obstrução respiratória. Para a realização do diagnóstico dife- rencial nas crianças, é importante e necessário que ocorra a distinção entre epiglotite e crupe. Ambos pode apresentar rouquidão e tosse, porém o crupe é decorrente de laringite viral, enquanto a epiglotite é causada por bactéria (SILVA FILHO et al., 2017). Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório12 Pneumonia e bronquite aguda O diagnóstico baseado na presença de sintomas, sendo os mais significativos tosse seca ou produtiva, febre, dispneia, taquicardia e estertores. Nos casos que necessitam de certeza diagnóstica, realiza-se radiografia de tórax, que repre- senta o exame complementar mais importante e informativo, pois auxilia no diagnóstico, na avaliação da gravidade e na detecção de possíveis complicações da doença. Em casos de bronquite aguda, a radiografia torácica é realizada para se excluir o diagnóstico de pneumonia (SILVA FILHO et al., 2017). Medidas de saturação periférica de oxigênio (SpO2) ou medidas dos gases arteriais são exames bastante informativos para mensurar a gravidade da pneumonia e, consequentemente, indicar a necessidade ou não de oxige- nioterapia. Pacientes em que a SpO2 é igual a 90%, sem DPOC, têm fortes indicativos de sofrerem de PAC grave; em se mantendo a mensuração dos valores nesses níveis (altos fluxos de O2, acima de 4 L/min), a sugestão é de que o paciente seja internado imediatamente em UTI. Os exames laboratoriais são variados e podem ser utilizados em diversas combinações, dependendo da suspeita e do quadro clinico. O hemograma, em geral, não é realizado em pacientes internados em ambulatorio, porém, em determinadas situações, a realização do hemograma poderá ajudar na determinação do ambiente de tratamento (ambulatório ou hospital). Valores de leucopenia < 4.000 céls./mm3 e plaquetopenia < 100.000 céls./mm3 são fortes indicadores de prognóstico desfavorável ao paciente. Os exames de identificação etiológica, nos casos de suspeita de pneumonia, são realizados por meio da coleta de amostras de escarro. Essas amostras devem ser utilizadas em exames de bacterioscopia, com o método de coloração de Gram (figura 3), e de cultura de escarro, em especial para pacientes inter- nados com suspeita de PAC, desde que consigam expectorar a quantidade de material purulento necessária à realização do exame e que não tenham passado por antibioticoterapia prévia (BROOKS et al., 2014). As informações obtidas pela cultura de escarro devem ser valorizadas apenas nos casos em que se observa correlação com o agente etiológico pre- dominante identificado na bacterioscopia pelo método de Gram. Alguns detalhes técnicos do exame são de que a área de maior purulência deve ser avaliada, devem ser coletadas amostras e então processadas em cultura, por exame direto, observando-se os critérios de que a amostra tenha < 10 células epiteliais e > 25 polimorfonucleares, quando exposta em campo de pequeno aumento (×100) no microscópio. 13Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório Hemoculturas são recomendadas apenas para pacientes com PAC grave e/ou que não responderam adequadamente aos tratamentos (BROOKS et al., 2014). As técnicas de swab nasofaríngeo (NF) e swab orofaríngeo (OF) também são bastante úteis nos diagnósticos de infecções do trato respiratório, uma vez que permitem a coleta de amostras diretamente de locais potencialmente infectados. Recomenda-se a utilização apenas de swabs de fibra sintética com haste de plástico, sendo vetado o uso de swab de alginato de cálcio ou com hastes de madeira, uma vez que eles podem conter substâncias capazes de inativar certos vírus, interferindo no resultado de exames de PCR (polymerase chain reaction). Após a coleta da amostra, é necessário colocar os swabs imediatamente em tubos estéreis. O aspirado traqueal (AT), realizado em pacientes já entubados, é um método de obtenção de secreção traqueal para cultura e diagnóstico micro- biológico dos casos de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). A técnica de AT é facilmente realizável à beira do leito; ela é simples, de baixo custo e pouco invasiva, e sua acurácia é aceitável. Por fim, para auxiliar o diagnóstico de infecções do trato respiratório, pode ser realizado o lavado broncoalveolar, que é um procedimento no qual são coletadas amostras das vias aéreas de pequenas dimensões e alvéolos, que não podem ser visualizados por meio do broncoscópio. Após a inserção do broncoscópio em uma via aérea de pequenas dimensões, é instilada uma solução salina por meio do aparelho; depois disso, o líquido é aspirado de volta ao broncoscópio, coletando células e bactérias. A amostra é então analisada no microscópio para identificação de patógenos, colaborando no diagnóstico de infecções do trato respiratório. O lavado pode também ser utilizado para métodos de crescimento em meio de cultura e para identificar o agente etio- lógico, oferecendo resultados mais confiáveis para diagnosticar as infecções (GREGORIO, 2013). AKRYL, L. Tratos respiratórios. [S. l.], 2010. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Infec%C3%A7%C3%A3o_do_trato_respirat%C3%B3rio_superior#/media/Ficheiro:Illu_ conducting_passages_pt.svg. Acesso em: 9 jun. 2020. Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório14 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. BROOKS, G. F. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick & Adelberg. 26. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. (Lange). GREGORIO, B. B. Citologia quantitativa e qualitativa de lavados broncoalveolares em pacientes com doenças pulmonares intersticiais difusas. 2013. Monografia (Aprimo- ramento Profissional em Citologia Oncótica)- Hospital do ServidorPúblico Estadual Francisco Morato de Oliveira, São Paulo, 2013. Disponível em: http://ses.sp.bvs.br/lildbi/ docsonline/get.php?id=3652. Acesso em: 9 jun. 2020. LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. (Lange). SILVA FILHO, E. B. da et al. Infecções respiratórias de importância clínica: uma revisão sistemática. Revista FIMCA, v. 4, n. 1, 2017. Leitura recomendada BRUNA, M. H. V. Pneumonia. In: DRAUZIO. [S. l., 2020?]. Disponível em: https://drauzio- varella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/pneumonia/. Acesso em: 9 jun. 2020. 15Diagnóstico laboratorial das infecções do trato respiratório Dica do professor A cultura de escarro é um exame auxiliar para o diagnóstico de infecções de trato respiratório superior (ITRS) e de trato inferior (ITRI), realizado geralmente depois da radiografia do tórax. Essa coleta de escarro deve ser realizada seguindo protocolos, para evitar a contaminação da amostra. Nesta Dica do Professor, saiba como é realizada corretamente a coleta do escarro para sua cultura e coloração de Gram. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/e65cb21dd377686c101c3d9d9f98952d Na prática A bactéria Streptococcus pneumoniae é o agente mais frequentemente associado à hospitalização de pacientes de todos os grupos etários. Estudos epidemiológicos apontam uma alt incidência do vírus influenza e de S. pneumoniae em adultos maiores de 65 anos, registrando taxas de até cinco vezes maior do que entre os mais jovens. O vírus influenza pode ser considerado um dos principais agentes etiológicos de infecção respiratória do ITRS ou ITRI. Embora a infecção viral, geralmente, apresente quadros leves, a pneumonia tem sido reconhecida como sua complicação maior. A pneumonia por vírus influenza pode ser classificada como primária, causada pelo próprio vírus, originando tipicamente uma pneumonia grave, podendo, no entanto, ocorrer infecção bacteriana secundária, sendo o agente mais frequentemente isolado o Streptococcus pneumoniae (30% das pneumonias por H1N1). Conheça, a seguir, um estudo realizado por um hospital em Portugal, durante um período de seis meses, em que foram acompanhados 80 pacientes suspeitos de pneumonia viral e bacteriana. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/af6b82ff-b01b-4fdf-924d-73ce08b9db90/88ea9772-270d-4381-a4f3-80501313b2be.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Infecções respiratórias de importância clínica: uma revisão sistemática Leia, no artigo a seguir, a revisão das principais infecções respiratórias de importância clínica e os respectivos agentes etiológicos, sintetizando informações, como tipos de infecções e agentes etiológicos mais recorrentes. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Infecções do trato respiratório superior e treinos de alta intensidade: uma revisão integrativa da literatura Leia, neste artigo, a revisão de literatura integrativa em que são discutidos os principais achados envolvendo o comportamento do sistema imunológico frente ao estímulo de treino intenso. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Carga de doença por infecções do trato respiratório inferior no Brasil, 1990 a 2015: estimativas do estudo Global Burden of Disease 2015 Neste artigo, leia o impacto das ITRI na carga de doença, segundo as métricas utilizadas no estudo Global Burden of Disease 2015 (GBD 2015) para o Brasil, entre os anos de 1990 e 2015. https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/33445/2/Infec%C3%A7%C3%B5es%20Respirat%C3%B3rias%20de%20import%C3%A2ncia%20cl%C3%ADnica%20uma%20revis%C3%A3o%20siatem%C3%A1tica.pdf http://186.225.220.186:7474/ojs/index.php/rcsfmit_zero/article/view/661/398 Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.scielo.br/pdf/rbepid/v20s1/1980-5497-rbepid-20-s1-00171.pdf Patologias da gestação Apresentação A gestação é um fenômeno fisiológico, cuja evolução se dá, na maior parte dos casos, sem intercorrências. No entanto, uma pequena parcela de gestantes apresenta maior probabilidade de ter uma evolução desfavorável durante o ciclo gravídico. Algumas patologias diagnosticadas durante a gestação ou previamente existentes indicam situações de risco para a gestante e o bebê. Desse modo, lidar em tempo hábil com essas situações resulta na estabilização ou na cura das morbidades, prevenindo os desfechos mais graves. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conferir como identificar precocemente os sinais e sintomas de complicações na gestação. Além disso, vai conferir como estabelecer uma conduta adequada durante a gestação, incluindo ações educativas em saúde. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os sinais e sintomas das principais patologias da gestação e seus métodos de tratamento. • Identificar a importância da educação em saúde e autocuidado da gestante em relação às patologias mais comuns. • Desenvolver o plano de cuidados de enfermagem nas intercorrências da gestação.• Infográfico O estabelecimento de um plano de cuidado à gestante atravessa diversas organizações até chegar à sociedade receptora desse cuidado. Inicialmente, foca-se na população mundial, porém depois, é preciso que cada país adeque e incorpore o plano à sua realidade, para que a meta de redução de mortalidade materna e infantil seja alcançada. Nessa proposta, o enfermeiro é a figura de referência. Neste Infográfico, confira o percurso da implementação do plano de cuidado à gestante de alto risco, considerando sua idealização, evolução e execução por meio da atuação do enfermeiro, profissional imprescindível para a promoção da saúde e a prevenção de agravos à gestante de alto risco. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/a4e4b3bc-c520-42c6-b121-95a5ab508a98/164ea45f-1495-472e-a1ba-a3c36c9d9194.jpg Conteúdo do livro A gestação é um fenômeno fisiológico cuja evolução se dá, na maior parte dos casos, sem intercorrências. Além disso, é um momento de grandes transformações para a mulher, para seu(sua) parceiro(a) e para toda a família. Contudo, em meio a tantas expectativas quanto ao nascimento, há riscos que precisam ser investigados, detectados e cuidados. No capítulo Patologias da gestação, você vai conhecer os sinais e sintomas das patologias da gestação, bem como os possíveis tratamentos e como posicionar diante de possíveis intercorrências. Além disso, vai conferir a importância da educação em saúde na promoção do autocuidado da gestante, a fim de possibilitar o seu protagonismo nessa fase da vida. Boa leitura. INTEGRALIDADE NO CUIDADO DE ENFERMAGEM DE OBSTETRÍCIA E NEONATOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer os sinais e sintomas das principais patologias da gestação e seus métodos de tratamento. > Identificar a importância da educação em saúde e autocuidado da gestante em relação às patologias mais comuns. > Desenvolver o plano de cuidados de enfermagem nas intercorrências da gestação. Introdução A gestação é uma experiência social, individual e única para a mulher, que envolve transformações psicológicas, fisiológicas, socioculturais e econômicas. Geral- mente, a gravidez não apresenta intercorrências e segue seu curso sem grandes intervenções. Todavia, há gestações de alto risco, com grande probabilidade de evolução desfavorável para a mulher, o bebê ou ambos. Neste capítulo, você vai conhecer as principais patologias que acometem às gestantes,seus sinais, sintomas e tratamentos. Com um plano de cuidados de enfermagem, é possível que os profissionais adotem a melhor conduta frente a possíveis intercorrências. Além disso, você vai ler sobre a importância da educação em saúde e do autocuidado da gestante. Patologias da gestação Gabriela Silva dos Santos Prado Sinais, sintomas e tratamento de patologias da gestação A assistência pré-natal é um importante componente da atenção à saúde das mulheres no período gravídico-puerperal. Dentre as recomendações que o Ministério da Saúde propõe para uma assistência pré-natal de excelência, estão a detecção precoce de patologias e situações de risco gestacional, as ações educativas e preventivas, sem intervenções desnecessárias e o atendimento ambulatorial básico de alto risco. Quando tais práticas são realizadas rotineiramente durante essa assistência, os desfechos perinatais são os melhores (VIELLAS et al., 2014). As principais patologias gestacionais são hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus gestacional, acidentes placentários, trabalho de parto prematuro, rotura prematura de membranas e alterações de líquido amniótico. Confira no Quadro 1 os sinais, sintomas e tratamentos das pato- logias da gestação. A gestante que recebe um pré-natal de qualidade, desenvolvido por uma equipe multiprofissional e com envolvimento da família, percebe uma reper- cussão positiva na promoção do seu bem-estar e do bebê. Em situações de intercorrências na gestação, a enfermagem deve iniciar o mais breve possível a identificação dos sinais e sintomas nas consultas do pré-natal e adotar condutas de cuidados que conduzam à melhor forma de enfrentamento e redução de internações precoces. O sulfato de magnésio é a droga de eleição no tratamento das doenças hipertensivas específicas da gestação. Trata-se de uma terapia anticonvulsivante indicada para prevenir convulsões recorrentes em mulheres com eclâmpsia, assim como o aparecimento de convulsões naquelas com pré-eclâmpsia (BRASIL, 2012a, 2012b). Patologias da gestação2 Q ua dr o 1. S in ai s e si nt om as d as p at ol og ia s m ai s fr eq ue nt es n a ge st aç ão Pa to lo gi a De fi ni çã o Si na is e s in to m as Tr at am en to H ip er te ns ão ar te ri al si st êm ic a (H AS ) Pr es sã o ar te ri al ig ua l o u m ai or q ue 14 0/ 90 m m H g, b as ea da n a m éd ia d e pe lo m en os d ua s m ed id as . A s sí nd ro m es hi pe rt en si va s po de m s er : p ré -e cl âm ps ia , pr é- ec lâ m ps ia le ve e p ré -e cl âm ps ia g ra ve . O co rr e ap ós 2 0 se m an as d e ge st aç ão e de sa pa re ce e m a té 12 s em an as p ós -p ar to . A su sp ei ta s e fo rt al ec e qu an do h á au m en to rá pi do de p es o, e de m a fa ci al e a um en to d a pr es sã o ac om pa nh ad o po r c ef al ei a, d is tú rb io s vi su ai s, do r a bd om in al , p la qu et op en ia e a um en to d e en zi m as h ep át ic as . A o co rr ên ci a de c on vu ls õe s em m ul he re s co m p ré -e cl âm ps ia c ar ac te ri za o qu ad ro d e ec lâ m ps ia . A co nd ut a de pe nd e da g ra vi da de e d a id ad e ge st ac io na l. Ge st an te s co m p ré -e cl âm ps ia le ve d ev em s er h os pi ta liz ad as p ar a av al ia çã o di ag nó st ic a in ic ia l e m an tid as c om d ie ta no rm os só di ca e re po us o re la ti vo . G es ta nt es co m d ia gn ós tic o de p ré -e cl âm ps ia g ra ve de ve m s er in te rn ad as , p as sa r p or e xa m es d e ro tin a e av al ia çã o da s co nd iç õe s m at er na s e fe ta is . Di ab et es m el lit us ge st ac io na l In to le râ nc ia a os c ar bo id ra to s. H á gr au s va ri ad os d e in te ns id ad e. D ia gn os tic ad a du ra nt e a ge st aç ão , p od en do o u nã o pe rs is tir a pó s o pa rt o. Du as g lic em ia s pl as m át ic as d e je ju m ≥ 1 26 m g/ dL c on fi rm am o d ia gn ós tic o de d ia be te s ge st ac io na l, se m n ec es si da de d e te st e de to le râ nc ia . 1) Re co m en da çõ es s ob re d ie ta . 2) In di ca çã o de a do ça nt es e a ti vi da de s fí si ca s. C on tr ol e gl ic êm ic o. In su lin ot er ap ia . 3) Co nt ro le o bs té tr ic o. 4) Av al ia çã o fe ta l. Ac id en te s pl ac en tá ri os : pl ac en ta pr év ia Pl ac en ta q ue s e im pl an ta to ta l o u pa rc ia lm en te n o se gm en to in fe ri or d o út er o. C la ss if i c ad a de a co rd o co m s ua po si çã o em re la çã o ao c ol o do ú te ro : ba ix a, m ar gi na l o u co m pl et a. a) Ba ix a: p ró xi m a ao c ol o do ú te ro , s em at in gi -l o. b) M ar gi na l: at in ge o o ri fí ci o in te rn o do c ol o do ú te ro , s em re co br i- lo . c) Co m pl et a ou c en tr o- to ta l: re co br e to ta lm en te o o ri fí ci o in te rn o do c ol o do út er o. Ac ha do u lt ra ss on og rá fi co fr eq ue nt e em ex am es re al iz ad os e nt re 1 6 e 20 s em an as d e ge st aç ão . 1) Ex am e fí si co . 2) Pr op ed êu tic a au xi lia r ( ul tr as so no gr af ia ab do m in al e e xa m e de e co do pp le r ob st ét ri co ). 3) Ex am es la bo ra to ri ai s. 4) N o pr é- na ta l, a ge st an te c om p la ce nt a pr év ia é e nc am in ha da a u m c en tr o de re fe rê nc ia . (C on tin ua ) Patologias da gestação 3 Pa to lo gi a De fi ni çã o Si na is e s in to m as Tr at am en to Ac id en te s pl ac en tá ri os : de sc ol am en to pr em at ur o de p la ce nt a (D PP ) Se pa ra çã o da p la ce nt a da p ar ed e ut er in a an te s do p ar to . P od e se r p ar ci al o u to ta l e é cl as si fi ca da e m tr ês g ra us , c on fo rm e ac ha do s cl ín ic os e la bo ra to ri ai s (c la ss i- fi ca çã o de S he r) . a) Gr au 1 : s an gr am en to g en it al d is cr et o se m hi pe rt on ia u te ri na s ig ni fi ca ti va . V it al id ad e fe ta l p re se rv ad a. S em re pe rc us sõ es he m od in âm ic as e c oa gu lo pa tia . G er al m en te di ag no st ic ad o no p ós -p ar to c om a id en ti fi ca çã o do c oá gu lo re tr op la ce nt ár io . b) G ra u 2: s an gr am en to g en it al m od er ad o e co nt ra çõ es te tâ ni ca s. P re se nç a de ta qu ic ar di a m at er na e a lt er aç õe s po st ur ai s da p re ss ão a rt er ia l. Al te ra çõ es in ic ia is da c oa gu la çã o co m q ue da d os n ív ei s de fi br in og ên io . B at im en to s ca rd ía co s fe ta is p re se nt es , m as c om s in ai s de co m pr om et im en to d e vi ta lid ad e. c) Gr au 3 : s an gr am en to g en it al im po rt an te co m h ip er to ni a ut er in a. H ip ot en sã o ar te ri al m at er na e ó bi to fe ta l. � Gr au 3 A: s em c oa gu lo pa tia in st al ad a. � Gr au 3 B: c om c oa gu lo pa tia in st al ad a. Ex am es f ís ic os e la bo ra to ri ai s au xi lia m n a cl as si fi ca çã o do g ra u do d es co la m en to . O es ta do d e co ag ul aç ão d a ge st ante p od e se r av al ia do ra pi da m en te p or m ei o do te st e do c oá gu lo . T am bé m d ev e se r m on ito ra do o es ta do h em od in âm ic o da g es ta nt e co m m an ut en çã o ad eq ua da d e re po si çã o vo lê m ic a e de s an gu e e de ri va do s, s e ne ce ss ár io . (C on tin ua çã o) (C on tin ua ) Patologias da gestação4 Pa to lo gi a De fi ni çã o Si na is e s in to m as Tr at am en to Tr ab al ho de p ar to pr em at ur o Gr av id ez p ré -t er m o. Id ad e ge st ac io na l en tr e 22 e 3 7 se m an as (1 54 e 2 59 d ia s) . O tr ab al ho d e pa rt o é ca ra ct er iz ad o pe la pr es en ça d e co nt ra çõ es fr eq ue nt es (u m a a ca da 5 −8 m in ut os ) a co m pa nh ad as d e m od i- fi ca çõ es c er vi ca is c om d ila ta çã o m ai or q ue 2 cm e /o u es va ec im en to m ai or q ue 5 0% . A m el ho r f or m a de tr an sp or te d e pr em at ur os ai nd a é no in te ri or d o út er o da m ãe . O us o de a ge nt es to co lít ic os o u in ib id or es da s co nt ra çõ es u te ri na s de ve s er in ic ia do as si m q ue s e id en ti fi ca r o d ia gn ós tic o de tr ab al ho d e pa rt o pr em at ur o, re sp ei ta da s as co nt ra in di ca çõ es p ar a se u us o. Ro tu ra pr em at ur a de m em br an as Ro tu ra p re m at ur a de m em br an as o vu la re s (R PM ), ou a m ni or re xe p re m at ur a, é a ro tu ra es po nt ân ea d a bo ls a de á gu a an te s de co m eç ar o tr ab al ho d e pa rt o. An te s do te rm o (a nt es d e 37 s em an as ), de no m in a- se ro tu ra p re m at ur a de m em br an as pr é- te rm o (R PM PT ). N o te rm o, d en om in a- se ro tu ra p re m at ur a de m em br an as n o te rm o (R PM T) . O lí qu id o fl ui nd o pe la v ul va p od e se r tr an sp ar en te e d e od or c ar ac te rí st ic o, s em in al ou a h ip oc lo ri to d e só di o, te r c or a m ar el ad a ou es ve rd ea da (m ec ôn io ) e s er p ur ul en to , s e há in fe cç ão o vu la r. A co nd ut a na R PM d ep en de d a id ad e ge st ac io na l. En tr e 22 e 2 4 se m an as : 1) Av al ia çã o de s in ai s de in fe cç ão e d e co m eç o do tr ab al ho d e pa rt o: fe br e, h em og ra m a du as v ez es p or s em an a, v er if ic ar p re se nç a de c on tr aç õe s ut er in as . 2) Av al ia çã o do e st ad o fe ta l: bi om et ri a fe ta l a ca da 1 5 di as , p er ce pç ão d e m ov im en to s fe ta is p el a m ãe , a us cu lt a de b at im en to s ca rd io fe ta is d ua s ve ze s po r s em an a. 3) Re po us o es tr ito n o le ito . 4) Ev it ar c oi to v ag in al . 5) Se m to có lis e. 6) Se m c or tic ot er ap ia . En tr e 24 e 3 3 se m an as : 1) Re po us o no le ito c om p er m is sã o pa ra u so do b an he ir o. 2) Cu rv a té rm ic a de 4 e m 4 h or as (e xc et o du ra nt e so no n ot ur no d a ge st an te ). 3) O bs er va r p re se nç a de c on tr aç õe s ut er in as . 4) Ev it ar to qu es v ag in ai s fr eq ue nt es e m ge st an te s co m R PM e m tr ab al ho d e pa rt o. (C on tin ua çã o) (C on tin ua ) Patologias da gestação 5 Pa to lo gi a De fi ni çã o Si na is e s in to m as Tr at am en to Al te ra çõ es de lí qu id o am ni ót ic o: ol ig oi dr âm ni o Re du çã o pa to ló gi ca d o vo lu m e de lí qu id o am ni ót ic o (L A) . I nc id e de 0 ,5 a 5 % d as ge st aç õe s. De fi ci ên ci a na q ua nt id ad e de L A. O v ol um e no rm al d o LA v ar ia d e ac or do c om o te m po d e ge st aç ão , r ed uz in do -s e fi si ol og ic am en te n as úl tim as s em an as . A hi dr at aç ão m at er na te m m os tr ad o su a ef ic ác ia e m a um en ta r o v ol um e do líq ui do a m ni ót ic o re si du al , d es de q ue n ão ha ja c on tr ai nd ic aç ão p ar a um a so br ec ar ga ci rc ul at ór ia . R ec om en da -s e um a po rt e to ta l d e 3 a 4 lit ro s de lí qu id os p or d ia , pr ef er en te m en te v ia o ra l. Al te ra çõ es de lí qu id o am ni ót ic o: po lid râ m ni o Au m en to e xc es si vo d o vo lu m e do lí qu id o am ni ót ic o (s up er io r a 2 .0 00 m L) e m ge st aç õe s ac im a de 3 0 se m an as . In ci dê nc ia v ar ia s eg un do o p ro ce di m en to ut ili za do p ar a di ag nó st ic o (c lín ic o ou ul tr as so no gr áf i c o) , v ar ia nd o en tr e 0, 5 e 1, 5% . Sã o re co m en da da s in te rn aç ão c om re po us o no le ito e te nt at iv as d e re du zi r a di st en sã o ut er in a po r m ei o de a m ni oc en te se de sc om pr es si va , c or tic os te ro id es o u av al ia çã o pe ri ód ic a da v it al id ad e fe ta l. Fo nt e: A da pt ad o de B ra si l ( 20 12 a, 2 01 2b ). (C on tin ua çã o) Patologias da gestação6 Educação em saúde e autocuidado da gestante O risco gravídico tem sua classificação baseada em condições clínico-obs- tétricas e aspectos psicoemocionais, com o propósito de compreender o risco potencial, o que requer adaptações físicas e psicológicas e atenção especializada. Todas as gestantes devem ser assistidas nas consultas de enfermagem obstétrica intercaladas com as consultas médicas. No cuidar, o enfermeiro tem capacidade para identificar fatores que interferem no processo educativo e buscar, de forma conjunta, contornar esses desafios (ALVES et al., 2019). A educação em saúde é participativa e feita por meio do diálogo. Serve para que as pessoas tomem suas decisões relacionadas à saúde de forma ativa e consciente, com autonomia. O Ministério da Saúde estabelece que: A Educação em Saúde é inerente a todas as práticas desenvolvidas no âmbito do Sistema Único de Saúde. Como prática transversal proporciona a articulação entre todos os níveis de gestão do sistema, representando dispositivo essencial tanto para formulação da política de saúde de forma compartilhada, como às ações que acontecem na relação direta dos serviços com os usuários (BRASIL, 2007, p. 4). A educação em saúde é um campo de práticas e de conhecimento do setor saúde que tem se ocupado mais diretamente com a criação de vínculos entre a ação assistencial, o pensar e o fazer cotidiano da população (BRASIL, 2007). Por ser transversal, a prática educativa em saúde articula a promoção da saúde da mulher gestante com os programas disponíveis no serviço de saúde, considerado porta de entrada do SUS, com aqueles que compõem o plano de cuidado, incluindo centros especializados, quando recomendado. Na atenção pré-natal e puerperal, as ações de promoção e prevenção da saúde são constituídas por: [...] um conjunto de saberes e práticas orientados para a prevenção de doenças e promoção da saúde, destaca-se a asseguração da evolução normal da gravidez, preparação da mãe para o parto, o período puerperal e lactação, como também, identificação de possíveis situações de risco que podem vir a acontecer nesse período (FONSECA et al., 2020, p. 2-3). A prática educativa em saúde desenvolvidapela enfermagem na atenção primária pode refletir positivamente na vivência da gestação. Deve desmentir os mitos, esclarecer dúvidas e promover a saúde. Isso porque, ainda hoje, perpetuam-se tabus e mitos, por exemplo, sobre o puerpério, como que a Patologias da gestação 7 mulher não pode lavar a cabeça. De acordo com Souza, Bassler e Taveira (2019), quando a mãe é bem orientada em relação à gestação e ao puerpério, evitam-se não só problemas durante a gestação, mas também a morte pre- matura do bebê. Por isso, a prática de educação em saúde deve considerar as dúvidas, necessidades, emoções e preocupações da gestante, mostrando a importância do cuidado e incentivado o autocuidado. Além disso, deve-se utilizar uma linguagem acessível, facilitando o aprendizado tanto da gestante quanto dos familiares. Embora as gestantes sejam o foco principal do processo de apren- dizagem, não podemos deixar de fora os companheiros e familiares (BRASIL, 2012a). É importante que pessoas de sua confiança estejam presentes e conscientizadas sobre tudo que envolve a gravidez, já que elas fazem parte do processo e estão com a gestante na gravidez e no puerpério. Os cuidados e as orientações compartilhadas com a gestante sobre a preparação para o parto tornam-se mais eficazes quando articulados a uma tecnologia educativa, como álbuns seriados, vídeos educativos, oficina de artes, exercícios e, até mesmo, o oferecimento de lanches saudáveis como forma de orientar sobre a alimentação adequada, promovendo bem-estar. Outra estratégia possível é a promoção de grupos, porque ajudam à gestante a se adaptar às mudanças que vêm com a gestação, “[…] potencializando conhecimentos e conscientizando quanto à maternidade e paternidade res- ponsáveis, além de estimular o protagonismo e o empoderamento dos pais através de um processo de ensino-aprendizagem coletivo dentro do grupo” (SILVA et al., 2020, p. 3761). Quando a educação em saúde tem como público as gestantes de alto risco, as informações sobre sinais de alerta são importantes e devem ser mencionadas durante todo o pré-natal. Quando efetivamente orientadas, elas podem identificar os sinais de risco com prontidão e, assim, buscar os serviços de referência com mais agilidade. Por isso, o profissional que acompanha o pré-natal de alto risco deve incentivá-las e orientá-las para o cuidado próprio (LOURENÇO et al., 2020). Cuidados de enfermagem à gestante Os cuidados à mulher durante a gestação englobam o pré-natal, o parto e o puerpério, evitando riscos na saúde da mãe e do bebê. Deve-se respeitar a Patologias da gestação8 privacidade da mulher e promover a segurança no nascimento. Em decorrên- cia da diversidade de patologias que afetam as gestantes de alto risco, é na sistematização da assistência de enfermagem que os profissionais ancoram suas práticas de acolhimento e apoio à gestante observando, controlando e reduzindo agravos na saúde (NASCIMENTO et al., 2018). Uma das etapas mais importantes é o julgamento clínico das respostas das pacientes grávidas. Durante as consultas de enfermagem, são expressos os desconfortos de ordem física, que possibilitam a elaboração dos diagnós- ticos (AMORIM et al., 2017). A cada consulta, fica preconizada a avaliação dos riscos clínicos e obstétricos, além da garantia de atendimento e de acesso à unidade de referência ambulatorial e hospitalar. A assistência à gestante de alto risco requer capacitação, habilidade e efetividade dos profissionais no manejo de situações emergenciais ou po- tencialmente complicadoras durante o ciclo gravídico puerperal. Como vimos no Quadro 1, as patologias podem incluir hipertensão arterial sistêmica (HAS) na gestação, diabetes mellitus gestacional, acidentes placentários, trabalho de parto prematuro, rotura prematura de membranas e alterações de líquido amniótico. A seguir, vamos conferir alguns cuidados importantes a serem to- mados pela enfermagem nos casos em que as gestantes apresentam alto risco. A Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou recentemente um po- sicionamento para gravidez e planejamento familiar na mulher portadora de cardiopatia. O documento orienta que os enfermeiros a intensificarem o controle de fatores modificáveis em gestantes com hipertensão arterial, visando a diminuir os riscos futuros. Além disso, deve-se orientar a paciente para manter uma dieta saudável, rica em nutrientes, proteínas, fibras e cereais (AVILA et al., 2020). As gestantes com diabetes mellitus necessitam de um cuidado colaborativo. A abordagem de equipe é indispensável, envolvendo os familiares e amigos próximos, porque equilibrar a gestação com o diabetes pode causar estresse, aumentando ainda mais o risco de complicações. Além disso, as refeições precisam ser planejadas, já que o controle glicêmico afeta emocionalmente. Por isso, os profissionais de saúde devem estar conscientes das possíveis complicações e monitorá-las (WATTS, 2011). Já os acidentes placentários, como vimos, podem ocorrer como placenta prévia ou deslocamento prematuro da placenta. No caso de placenta prévia, o Ministério da Saúde preconiza os seguintes cuidados (BRASIL, 2012b, p. 55): 1. monitoramento dos sinais vitais; 2. palpação abdominal; Patologias da gestação 9 3. medição da altura uterina; 4. ausculta dos batimentos cardíacos fetais; 5. exame especular cuidadoso; 6. não realizar toque vaginal até se conhecer a localização exata da placenta. Nos casos de descolamento prematuro de placenta, o exame físico deve ser detalhado e atencioso. O primeiro passo deve ser a aferição de sinais vitais com medidas iniciais das manobras de ressuscitação, em caso de suspeita desse tipo específico de intercorrência. Além disso, devem ser feitos exames obstétricos com medição de altura uterina, batimento cardíaco fetal, monitoramento fetal e palpação abdominal (BRASIL, 2012b). Para prevenir o trabalho de parto prematuro, os cuidados envolvem iden- tificar e tratar infecções genitais e do trato urinário. É importante, também, que a enfermagem promova a adaptação laboral da grávida de risco e o aconselhamento sobre a morbidade e mortalidade associadas à idade ges- tacional, além da eficácia limitada do tratamento (BRASIL, 2012b). Os mecanismos em casos de rotura prematura de membranas são múlti- plos e, por isso, muitas vezes não é possível preveni-la. Uma das estratégias importantes é conhecer a história de rompimento de membranas em gestações anteriores (RAMOS, 2018). Cientificamente, não há consenso quanto à escolha entre as condutas expectante, conservadora ou ativa. O que fica proposta é a individualização do caso a partir de sua clínica, idade gestacional e fatores de risco associados para a tomada de decisão, visando a reduzir os riscos para a mãe e o bebê (CRUZ et al., 2018). Por sua vez, as alterações de líquido amniótico, como vimos na primeira seção deste capítulo, podem se apresentar como oligoidrâmnio e polidrâmnio. Na presença do polidrâmnio, sugere-se a realização de teste de tolerância à glicose oral para afastar diabetes, pesquisa de anticorpos irregulares para afastar a isoimunização e sorologias para toxoplasmose, sífilis e parvovírus B19. Em oligoidrâmnios isolados, a hidratação oral materna apresenta mais efetividade do que a hidratação venosa, e as soluções hipotônicas são superio- res às isotônicas. Confira a seguir outras observações e ações indispensáveis nos casos de alterações de líquido amniótico (GARRIDO et al., 2019, p. 50). � Na evidência de alteração do líquido amniótico, é necessário afastar as malfor- mações digestivas, cardíacas e neurológicas no polidrâmnio e a nefrourológica e neurológica no oligoidrâmnio. � No manejo do polidrâmnio idiopático, a conduta baseia-se em se evitar o des- conforto materno e afastar a possibilidade de parto prematuro. Patologias da gestação10 � No manejo do oligoidrâmnio idiopático ou a termo, não é necessário o térmi- no da gestação e o uso de prostaglandinas para indução doparto não está contraindicado. Para padronizar o processo de cuidado às gestantes de alto risco, o Ministério da Saúde publicou o Manual Técnico para Gestação de Alto Risco, chamando a atenção da equipe assistencial ao diagnóstico e ao tratamento das intercorrências, contribuindo para uma atuação coesa e eficiente. Diante das patologias apresentadas na gestação, a equipe de enfermagem deve favorecer o bem-estar da mãe, do bebê e da família que aguarda o nascimento de um novo integrante. Lembre-se de que a educação em saúde é extremamente importante, porque, por meio dela, prepara-se a gestante para o pós-parto, contribuindo para que a sua gravidez seja segura, autônoma e acompanhada pelos profissionais da saúde. Referências ALVES, F. L. C. et al. Grupo de gestantes de alto-risco como estratégia de educação em saúde. Rev Gaúcha Enferm, v. 40, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/ STgFwJs6TLfstfsjxxG3PQN/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 29 jul. 2021. AMORIM, T. V. et al. Perspectivas do cuidado de enfermagem na gestação de alto risco: revisão integrativa. Enfermería Global, n. 46, 2017. Disponível em: https://scielo.isciii. es/pdf/eg/v16n46/pt_1695-6141-eg-16-46-00500.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. AVILA, W. S. et al. Posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia para gravidez e planejamento familiar na mulher portadora de cardiopatia – 2020. Arq Bras Cardiol, v. 114, n. 5, p. 849-942, 2020. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/ portugues/2020/v11405/pdf/11405021.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012a. (Cadernos de Atenção Básica, n. 32). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_aten- cao_basica_32_prenatal.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Gestação de alto risco: manual técnico. 5. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012b. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tec- nico_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Caderno de educação popular e saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2007. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ca- derno_educacao_popular_saude_p1.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. CRUZ, C. N. R. et al. Rotura prematura de membrana: abordagem clínica. Femina, v. 46, n. 1, p. 48-53, 2018. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/02/1050100/ femina-2018-461-48-53.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. Patologias da gestação 11 FONSECA, M. J. F. et al. Educação em saúde como ferramenta para o cuidado às ges- tantes e puérperas: revisão de literatura. Braz J of Develop, v. 6, n. 10, p. 76885-76896, 2020. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/ view/18047/14591. Acesso em: 29 jul. 2021. GARRIDO, A. G. et al. Avaliação ecográfica do líquido amniótico: técnicas e valores de referência. Femina, v. 47, n. 1, p. 46-51, 2019. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/ biblioref/2019/12/1046489/femina-2019-471-46-51.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. LOURENÇO, J. C. et al. Orientações sobre parto no pré-natal de alto risco nos serviços de saúde. Rev Enferm UFSM, v. 10, p. 1-21, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufsm. br/reufsm/article/view/41357. Acesso em: 29 jul. 2021. NASCIMENTO, T. F. H. et al. Assistência de enfermagem à gestante de alto risco sob a visão do profissional. Rev Pre Infec e Saúde, v. 4, 2018. RAMOS, M. G. Manejo actual de la rotura prematura de membranas en embarazos pretérmino. Rev Peru Ginecol Obstet, v. 64, n. 3, p. 405-413, 2018. Disponível em: http:// www.scielo.org.pe/pdf/rgo/v64n3/a14v64n3.pdf. Acesso em: 29 jul. 2021. SILVA, M. E. P. et al. Rodas de conversa com gestantes como estratégias para promoção à saúde no período pré-natal. Nursing, v. 23, n. 262, p. 3760-3765, 2020. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1100749. Acesso em: 29 jul. 2021. SOUZA, E. V. A.; BASSLER, T. C.; TAVEIRA, A. G. Educação em saúde no empoderamento da gestante. Rev Enferm UFPE On Line, v. 13, n. 5, p. 1527-1531, 2019. Disponível em: https:// pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1024786. Acesso em: 29 jul. 2021. VIELLAS, E. F. et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saúde Pública, v. 30, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/CGMbDPr4FL5qYQCpPKSVQpC/?lang= pt. Acesso em: 29 jul. 2021. WATTS, N. Gestação de alto risco. In: ORSHAN, S. A. Enfermagem na saúde das mulheres, das mães e dos recém-nascidos: o cuidado ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed, 2011. cap. 13. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Patologias da gestação12 Dica do professor A gestante de risco habitual ou de alto risco necessita de amparo e cuidados de enfermagem que priorizem a prevenção de complicações no parto. No entanto, a pandemia da Covid-19 apresenta- se como mais um fator de risco para quem vivencia a experiência da gestação. A transmissão vertical da Covid-19 tem sido investigada por pesquisadores em todo o mundo, porém os resultados ainda são escassos. Até o momento, os registros de recém-nascidos (RN) infectados não esclarecem se o momento da transmissão se deu via transplacentária ou pós-natal. Desse modo, alguns cuidados devem ser adotados de forma preventiva. Nesta Dica do Professor, confira os cuidados a serem tomados com a gestante que convive com o cenário da pandemia da Covid-19, bem como as recomendações para a promoção da saúde e como o profissional pode dar continuidade ao acompanhamento gestacional. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/8a55d147b47452f6a560d9dea167bb5f Na prática A gestação é um momento singular na vida da mulher. Contudo, quando ela tem histórico de perda do feto somado ao imenso desejo de parir, a expectativa aumenta, o que pode favorecer o desenvolvimento de fatores de risco para a gravidez, tais como ansiedade, compulsão alimentar, ganho de peso e, por fim, diabetes melito gestacional. Neste Na Prática, confira um estudo de caso sobre o rastreamento do diabetes melito gestacional na perspectiva do cuidado integral. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/bec4c257-7c25-442e-89de-3708513bb9de/5c2c2f7f-f81b-4ba8-94c6-ab0c9803ef6c.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja a seguir as sugestões do professor: Como realizar o exame clínico obstétrico na consulta de enfermagem? No vídeo a seguir, acompanhe as orientações da Profa . Dra. Fernanda Penido Matozinhos e da Profa. Dra. Erica Dumont Pena, ambas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobre o exame clínico obstétrico realizado pela enfermagem. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Saberes e experiências de gestantes sobre autocuidado puerperal e cuidado do/a recém-nascido/a mediante práticas educativas Acesse o artigo a seguir para entender como as gestantes se apropriam das ações educativas realizadas no pré-natal. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Cuidado Integral à Saúde da Mulher Leia o livro a seguir para conferirconteúdos importantes sobre os cuidados de forma integral que a enfermagem deve proporcionar à gestante. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.youtube.com/embed/9SnVrUddVSk http://www.revenf.bvs.br/pdf/rbaen/v35/1984-0446-rbaen-35-e41929.pdf?v=1605979678 Doenças genéticas Apresentação Nesta unidade de aprendizagem, iremos estudar algumas doenças genéticas e suas causas. As doenças genéticas têm em comum a alteração do DNA celular, embora ocorram variações em suas características fenotípicas. Estudaremos, por exemplo, o grupo de distúrbios causados por mutações nos genes do colágeno e o grupo de distúrbios que depende do fenótipo e do gênero dos pais. As doenças genéticas têm uma variação: as doenças complexas. Estas doenças são desencadeadas por fatores de predisposição genética associados com fatores ambientais. Entre elas estão a artrite reumatoide, a doença de Alzheimer, o diabetes e a esquizofrenia. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a causa primária das doenças genéticas.• Definir doenças genéticas complexas a partir do princípio da predisposição genética e da influência do ambiente no organismo. • Analisar a etiologia das patologias genéticas: fenilcetonúria e fibrose cística.• Infográfico O infográfico mostra o que será estudado nesta unidade de aprendizagem, incluindo algumas patologias causadas por alterações genéticas. Conteúdo do livro Embora os fenótipos das doenças genéticas sejam diversos, suas etiologias não o são. A causa primária de qualquer doença genética é uma alteração na sequência ou no conteúdo celular do DNA, que, por fim, modifica a expressão genética. Muitas doenças genéticas são causadas por uma alteração na sequência de DNA, o que modifica a síntese de um produto genético isolado. No entanto, algumas doenças genéticas são provocadas por (1) rearranjos cromossomais que resultam em deleção ou duplicação de um grupo de genes rigorosamente ligados ou (2) anormalidades durante a mitose ou meiose que resultam em um número de cromossomos anormal por célula. Na maioria das doenças genéticas, cada célula em um indivíduo afetado carrega o gene ou genes mutados em consequência de sua herança através de um óvulo ou espermatozoide (gameta) mutante. Acompanhe um trecho da obra Fisiopatologia da Doença: uma introdução à medicina clínica, de Stephen J. McPhee; Willian F. Ganong. Este livro serve de base teórica para essa unidade de aprendizagem. Inicie a leitura a partir do tópico Fisiopatologia de doenças genéticas selecionadas. Fisiopatologia da Doença A ponte ideal entre as ciências básicas e a prática clínica Com os porquês dos tratamentos Com inúmeras ferramentas para auto-avaliação Indispensável para os exames de qualificação profissional e concursos Uma Introdução à Medicina Clínica Stephen J. McPhee William F. Ganong quinta edição Nota A medicina é uma ciência em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhecimento, são necessárias modifi cações no tratamento e na farmacoterapia. Os autores e editores desta obra consultaram as fontes consideradas confi áveis, num esforço para fornecer informações completas e, geralmente, de acordo com os padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, em vista da possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências médicas, nem os autores, editores nem qualquer outra pessoa envolvida na preparação ou publicação deste trabalho garantem que as informações aqui contidas sejam, em todos os aspectos, exatas ou completas. Os leitores devem confi rmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os lei- tores são aconselhados a conferir a bula de qualquer medicamento que pretendam administrar, para se certifi car de que a informação contida neste livro está correta e de que não houve alterações na dose recomendada nem nas contra-indicações para o seu uso. Esta recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos novos ou raramente usados. Fisiopatologia da Doença Uma Introdução à Medicina Clínica quinta edição ISBN: 978-85-7726-010-2 A reprodução total ou parcial deste volume por quaisquer formas ou meios, sem o consentimento escrito da editora, é ilegal e confi gura apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais dos autores. Todos os direitos desta primeira edição em português estão reservados. Copyright © 2007 by McGraw-Hill Interamericana Editores, S.A. de C.V. Prol. Paseo de la Reforma 1015 Torre A Piso 17 Col. Desarrollo Santa Fe, Delegación Álvaro Obregón México 01376, D.F., México Copyright © 2007 by McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda. Rua da Assembléia, 10 / 2319 20011-000 Centro Rio de Janeiro RJ Tradução da quinta edição em inglês de Pathophysiology of Disease An Introduction to Clinical Medicine ISBN: 0-07-144159-X Copyright © 2006, 2003 Th e McGraw-Hill Companies, Inc. Copyright © 1997, 1995 Appleton & Lange Diretor geral Revisão de redação Adilson Pereira Luciano Monteiro, Mário Élber Cunha Supervisora de produção Revisões tipográfi cas Guacira Simonelli Ademar dos Santos, Carla Romanelli, Graça Rozentul, Jussara Luz da Hora, Solange Cunha Editoração eletrônica e capa Assistente editorial Estúdio Castellani Carolina Leocadio Este livro foi impresso em Adobe Garamond em corpo 10,5. A editora desta versão em português foi Sandra Barreto de Carvalho. M172f McPhee, Stephen J. Fisiopatologia da doença [recurso eletrônico] : uma introdução à Medicina Clínica / Stephen J. McPhee, William F. Ganong. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2011. (Um livro médico Lange) Editado também como livro impresso em 2007. ISBN 978-85-63308-99-3 1. Medicina. 2. Clínica médica. 3. Patologia. 4. Doenças. 5. Fisiologia patológica. I. Ganong, William F. II. Título. III. Série. CDU 616-092.18 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 8 / CAPÍTULO 2 ■ FISIOPATOLOGIA DE DOENÇAS GENÉTICAS SELECIONADAS OSTEOGÊNESE IMPERFEITA A osteogênese imperfeita é uma condição herdada de manei- ra mendeliana, que ilustra muitos princípios da genética huma- na. É um grupo heterogêneo e pleiotrópico de distúrbios carac- terizados por uma tendência no sentido da fragilidade do osso. Os avanços na última década demonstram que quase todos os casos são causados por uma mutação dos genes COL1A1 ou COL1A2, que codifi cam as subunidades do colágeno do tipo 1, proα1(I) e proα2(I), respectivamente. Mais de 100 alelos mu- tantes diferentes foram descritos para a osteogênese imperfeita; as relações entre diferentes alterações na seqüência do DNA e o tipo de doença (correlações genótipo-fenótipo) ilustram diver- sos princípios fi siopatológicos na genética humana. Manifestações clínicas As características clínicas e genéticas da osteogênese imper- feita são resumidas no Quadro 2.3, nos quais o momento e a gravidade das fraturas, achados radiológicos, presença de mani- festações clínicas adicionais e história familiar são usados para discriminar entre quatro subtipos distintos. Todas as formas de osteogênese imperfeita caracterizam-se por suscetibilidade aumentada às fraturas (“ossos quebradiços”), mas existe consi- derável heterogenicidade fenotípica, mesmo em subtipos indivi- duais. Os indivíduos com osteogênese imperfeita do tipo I ou do tipo IV apresentam-se no início da infância com uma ou algu- mas fraturas dos ossos longos em resposta ao trauma mínimo ou à ausência de trauma; as radiografi as revelam discreta osteopenia, pouca ou nenhuma deformidade óssea e, com freqüência, evi- dência de fraturas subclínicas anteriores. No entanto, a maioria dos indivíduos com osteogênese imperfeita do tipo I ou do tipo IV não exibe fraturas in utero. As osteogêneses imperfeitas dos ti- pos I e IV são diferenciadas pela gravidade (menos no tipo I que no tipo IV) e pela coloração da esclera, que indica a espessura desse tecido
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