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Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB Tópicos a serem abordados: - Revisão de eletrofisiologia cardíaca. - Arritmias Fármacos antiarrítmicos: - Classe I: bloqueadores de canais de Na. - Classe II: antagonistas de receptores beta- adrenérgicos. - Classe III: bloqueadores de canais de K. - Classe IV: bloqueadores de canais de cálcio. Caso clínico: - Mulher, 63 anos, hipertensa. Apresentou palpitações irregulares e procurou o serviço de saúde. Após consulta, foi solicitado eletrocardiograma no qual se constatou fibrilação atrial, com frequência cardíaca de 140 bpm e alterações sobre a repolarização v e n t r i c u l a r , s e m c o m p l i c a ç õ e s hemodinâmicas. No intuito de restabelecer o controle da resposta ventricular, foi iniciado a farmacoterapia com Propanolol 50mg/dia combinado Verapamil 80 mg/dia. Eletrofisiologia cardíaca: - A f r e q u ê n c i a d o s batimentos cardíacas e o ritmo do coração são controlados pelo “marco- passo”, conhecido como nodo sino-atrial (NSA), l o c a l i z a d o n a p a r t e superior do átrio direito do coração (desembocadura da veia cava superior no átrio direito). • O coração tem uma propriedade que se chama automatismo: não depende do SNC para bater. Ele possui as células do marca passo, que são células especiais que produzem o potencial de ação. • Esses potenciais de ação são conduzidos p r i m e i ro p a ra o A E e A D, s e p t o interventricular, e conduz por todo ventrículo. • Se o ritmo do coração é alterado, é considerado uma arritmia. • Na célula do marca passo, o potencial de ação é instável. - As células que conduzem o ritmo do coração são células especiais, diferentes das células que contraem o coração (músculo cardíaco): • Nodo Sinoatrial (SA). • Vias interdodais. • Nodo Atrioventricular (AV). Feixe de His, sistema HisPurkinje e ventrículos. Potencial de resposta lenta: - O potencial das células do marca-passo se torna gradualmente menos negativo, até alcançar o limiar e deflagrar o potencial de ação. 47 Anti Arrítmicos Beth - DATA: 26/04 Consideramos um potencial instável (- 60), entra muito mais sódio qdo que sai potássio, o que deixa o PA mais positivo (- 40), que é o limiar para deflagrar o PA. - PA instável: vai de -60 para -40 para conseguir deflagrar o impulso elétrico. • Fase 4: potencial de membrana instável de -60 para -40). • F a s e 0 : d e s p o l a r i z a ç ã o l e n t a , deflagração do PA (de -40 para +20), por entra cálcio na célula. • Fase 3: repolarização da célula(volta a ser negativa) pela perda de potássio. Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB - Para contrairmos primeiro os átrios e depois os ventrículos, demos que as células do coração funcionam como um sincício f u n c i o n a l = q u a n d o o m a rc a p a s s o despolariza esses células, deflagra o impulso para todas as células. Potencial de resposta rápida: - O potencial das células contráteis é estável (é mais negativo, em torno de -90), ou seja, ele não muda, ele precisa de um estímulo para deflagrar o PA, que vem lá do marca passo (portanto, o PA do marcapasso é instável pois ele próprio induz sua despolarização). • O potencial de ação das células contráteis te, um platô. - ECG representa a eletrofisiologia cardíaca que reflete na contração e relaxamento do coração. • Onda P se refere a excitação e contração dos átrios, principalmente ao direito que possui o NSA. Alterações nesta onda refle t e m a l t e ra ç õ e s n o N S A q u e representam grande parte das arritmias. • Onda complexo QRS reflete a contração dos ventrículos, e a onda T reflete a repolarização dos átrios. - A l t e r a ç õ e s n o E C G r e p r e s e n t a m anormalidades nos batimento cardíacos, má condução de impulso, causando arritmias… Disparos do marca passo: - Em uma situação de normalidade, o que regula nossos batimentos cardíacos é o SNA simpático e parassimpático. FREQUÊNCIA CARDÍACA: - Aumentada = taquicardia (ativação simpática = libera adrenalina = no NSA, nó AV e nos ventrículos). 48 - Fase 4: potencial de membrana estável (-90). - Fase 0: despolarização rápida (de -90 para +20) por entrada de sódio na célula pelos canais rápidos, deflagrando o PA. - Fase 1: repolarização por saída de potássio. - Fase 2: abre canal de cálcio também, que entra na célula (entra cálcio e saí potássio) = PA não caí, formando um platô. - Fase 3: saí mais potássio, repolarizando mesmo a célula e voltando para o PA de membrana. Se usarmos um medicamento que bloqueia canais de cálcio, não existirá a fase de platô, diminui ritmo de contração… ou um anti arrítmico que bloqueia canais de potássio, não vai conseguir repolarizar para ocorrer uma nova deflagração da PA (s/ contração). Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB - Diminuída = bradicardia (at ivação parassimpática = libera acetilcolina). - Como é regulada a frequência de disparos das células do marca passo? • Como o Sistema Nervoso Autônomo (Simpático e Parassimpatico) inervam os átrios, a NA e ACh liberada por estes neurônios despolarizam e repolarizam as células do NSA, aumentando e diminuindo a excitação do NSA fisiologicamente durante o susto, por exemplo. Mecanismo das arritmias: - Atividade elétrica irregular. - Vias anormais elétricas. Conceito de arritmias: - São alterações na formação e/ou propagação da excitação que resultam em sequência alterada da excitação atrial, ventricular ou da transmissão átrio-ventricular (Arnold M. Katz,1996). - R e s u l t a n d o e m b r a d i c a r d i a s o u taquicardias = batimentos arrítmicos. - ARRITMIAS: • Arritmias supraventriculares: - Nodo SA. - Nodo AV. • Arritmias ventriculares: - Sistema His-Purkinje. - Ventrículos. - Qual o tipo de arritmia do paciente do caso clínico? Fibrilação atrial, com frequência cardíaca de 140 bpm (taquicardia) e alterações sobre a repolarização ventricular. Fibrilação atrial (FA): - É a a arritmia cardíaca mais frequente, com um risco de 20% em pacientes > de 80 anos de idade. - A fibrilação atrial aumenta 3 a 5 vezes o risco de AVC, 3 vezes o risco de insuficiência cardíaca, 2 vezes o risco de demência e aumenta o risco de mortalidade. - O tratamento farmacológico oferece algumas vantagens sobre a cardioversão, entre elas a não necessidade de anestesia geral ou sedação contínua, um risco menor de recorrência da fibrilação atrial e obviamente redução do estresse psicológico no paciente. - De maneira geral, o tratamento da fibrilação atrial é baseado na decisão de se tentar ou não restaurar o ritmo sinusal ou tratar a fibrilação atrial controlando- se a frequência ventricular. Anti arrítmicos: - Os antiarrítmicos são substâncias capazes de prevenir ou reverter arritmias cardíacas. - Tais medicamentos atuam diretamente nas células cardíacas, interferindo com a a ç ã o d o s n e u ro t ra n s m i s s o re s o u 49 TIPOS DE ARRITMIAS Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB modificando suas propriedades elétricas de m o d o a c o r r i g i r a l t e r a ç õ e s d e Automatismo e Condutibilidade. - Podem ser administrados por VO ou VI (rápida/ de emergência). - . 50 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB Classe 1: bloq dos canais de sódio - Exemplos: • Classe Ia: Quinidina, Procainamida (Pronestyl®), Disopiramida (Norpace®). • Classe Ib : Lidocaína (Xylocaine®), Mex i le t ina (Mex i t i l®) e Fen i to ína (Hidantal®). • Classe Ic : Flecainida (Tambocor®), Encainida e Propafenona (Ritmonorm®). - Mecanismo de ação: bloqueiam os canais de sódio, diminuindo portanto, o potencial de ação que gera a despolarização na Fase 0 (despolarização rápida = entra sódio nos ventrículos), e diminuindo a condução do impulso nervoso pelo coração. • Se impedimos a despolarização, inibidos o PA e diminui a condução do impulso nervoso pelo coração. • Coraçãovai contrair menos e o ritmo cardíaco vai diminuir. • R e c o m e n d a d o n o t ra t a m e n t o d e taquiarritmias. PROPAFENONA: - A eficácia e a segurança da Propafenona foram ava l iadas em ensa io c l ín i co randomizado, multicêntrico e controlado com placebo, realizado em pacientes com quadro agudo de fibrilação atrial (Capucci et al., 1999). - A Propafenona no tempo de 3 h foi superior ao placebo em relação à conversão para ritmo sinusal. Classe 2: antagonista dos receptores beta adrenérgicos (beta bloq) - Exemplos: • Propanolol (Inderal®). • Metoprolol (Seloken®, Lopressor®). • Nadolol (Corgard®). • Carvedilol (Coreg®). - Mecanismo de ação : bloqueiam os receptores beta adrenérgicos, reduzindo a taquicardia influenciadas pelo sistema s i m p á t i c o , g e r a n d o r e d u ç ã o n a despolarização espontânea e aumentam o período da repolarização. • Receptor beta 1 no coração que faz a contração do miocárdio. - Efeitos adversos: • Piora de broncoespasmo nos pacientes com asma. • Bradicardia. • Fadiga. 51 - Ic é forte: bloqueia muito os canais de Na+. - Ia é um bloqueio moderado. - Ib é um bloqueio leve. Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB - Vários ensaios clínicos randomizados demonstraram que em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, o uso de betabloqueadores está associado com redução de hospitalização por descompensação da insuficiência cardíaca, de mortalidade cardiovascular e mortalidade por qualquer causa (Kotecha et al.). Classe 3: bloq dos canais de potássio - Exemplos: • Amiodarona (Cordarone®). • Sotalol (Betapace AF®). - Mecanismo de ação: são bloqueadores dos canais de potássio, que aumentam a d u ra ç ã o d o p o t e n c i a l d e a ç ã o e consequentemente aumentam o tempo que músculo cardíaco fica refratário a uma est imulação prematura atrasando a repolarização. • Age na fase 3 de repolarização (impedindo a abertura de canais de potássio). • Canais de potássio agem na repolarização (aumenta o PA pois a célula não rebolaria rapidamente). • Se aumenta o tempo de repolarização (músculo fica mais tempo contraído), u s a m o s e s s a c l a s s e p a r a a s bradiarritmias. AMIODARONA: - A a b s o r ç ã o d a a m i o d a r o n a a p ó s administração oral e lenta e altamente variável. - A biodisponibi l idade absoluta e de aproximadamente 50%, entretanto pode variar entre 35 e 65%. O Tmax ocorre entre 3 e 7 h após dose única, mas o início da ação o c o r r e a p ó s 2 a 3 d i a s o u m a i s frequentemente 2 a 3 semanas, mesmo com doses de ataque. - A a l i m e n t a ç ã o a u m e n t a a biodisponibilidade da amiodarona, tanto em relação a taxa como a extensão. • O Cmax e a área sob a curva (ASC) aumentam 2,3 (1,7 a 3,6) e 3,8 (2,7 a 4,4) vezes, respectivamente, quando a amiodarona e ingerida com alimentos. - A amiodarona apresenta enorme volume de distribuição (60 L/kg) em virtude da extensa distribuição em vários tecidos, principalmente tecido adiposo, fígado, pulmões e baço. - A ligação às proteínas plasmáticas e de 96%. - É metabolizada em desetilamiodarona (farmacologicamente ativa) pelos CIP3A4 e CIP2C8, sendo eliminada primariamente por metabolismo hepático e excreção biliar. SOTALOL (Betapace AF®): - A biodisponibilidade absoluta do sotalol após administração oral em voluntários sadios e de 90 a 100%, com Tmax entre 2,5 e 4 h. - O sotalol não se liga as proteínas plasmáticas, o volume de distribuição é estimado em 1,6 a 2,4 L/kg e o fármaco não e metabolizado. - É eliminado por filtração glomerular e em menor proporção por secreção tubular; 75% da dose e eliminada na urina na forma de fármaco inalterado e 10% nas fezes. A meia- vida de eliminação do sotalol e de 12,7 a 1,6 horas. 52 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB - Por causa do alto clearance renal, a dose deve ser ajustada em pacientes com insuficiência renal moderada e o uso do sotalol e contraindicado em pacientes com clearance de creatinina < 40 mL/hora. Classe 4: bloq dos canais de cálcio - Exemplos: • Verapamil (Vasoton®). • Diltiazem (Cardizen®). - Mecanismo de ação: bloqueio dos canais de Ca++ voltagem dependentes. Se não entra cálcio nas células do NSA, diminui velocidade de condução do NSA para o NA. • Se não entra Ca++ nas células do ventrículos, diminui força, batimento e frequência cardíaca. - Age na fase 2 (impedindo o platô formado pelos canais de cálcio). - Qual o tratamento utilizado no caso clínico e quais as classes farmacológicas que eles pertencem? • Propanolol: beta bloqueador. • Verapamil: bloqueador dos cabanis de cálcio. - Poderíamos prescrever também para esse paciente a amiodarona e bloqueadores dos canais de sódio. Principais medicamentos e posologia em pacientes com FA: - Recomendações: - Antes do início de drogas AA, as potenciais causas reversíveis devem ser descartadas e medidas não farmacológicas instituídas. - Propafenona, sotalol e amiodarona são drogas que podem ser utilizadas para evitar a recorrência da FA. - Betabloqueadores e bloqueadores de canais de cálcio (diltiazem e verapamil) são utilizados para o controle da resposta ventricular. - D i g o x i n a p o d e s e r a s s o c i a d a a betabloqueadores ou bloqueadores do canal de cálcio para melhor controle da resposta ventricular. - Amiodarona pode ser utilizada no controle da resposta ventricular em uso de anticoagulantes. - Uso de digoxina, verapamil, diltiazen ou betabloqueadores na presença de pré- excitação ventricular e FA. 53 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB - Propafenona para controle do ritmo em pacientes com disfunção do ventrículo esquerdo. Eventos adversos mais comuns: - Propafenona: depressão moderada da contratilidade miocárdica, gosto metálico, visão borrada, náuseas, constipação e tontura. - B e t a b l o q u e a d o r e s : b r a d i c a r d i a , broncoespasmos, erupção cutânea, fadiga, depressão mental, pesadelos. - A m i o d a ro n a : p n e u m o n i t e ( 1 - 2 3 % ) , neuropatia periférica, tremor, insônia e ataxia, fotossensibilidade (90%), hipo e hipertireoidismo (1-14%), depósitos na córnea com repercussões visuais (3-13%), i n s ufic i e n c i a c a rd í a c a , b ra d i c a rd i a , i n t o l e r â n c i a d i g e s t i v a , h e p a t i t e medicamentosa, coloração azulada da pele, exacerbação da asma brônquica, alterações no metabolismo de glicídios e triglicerídeos, epididimite, disfunção renal. - Satalol : torsades de pointes (2,4%), bradicardia, fadiga, astenia, dispneia, tontura (2-4%). - Caso clínico: - Paciente do sexo feminino, 76 anos, trazida por familiares à emergência da Santa Casa de Santos devido quadro de dispnéia de início súbito associada a parestesia de membros inferiores. Relatavam que a mesma havia feito uso de bebida alcoólica no dia anterior. Negava dor torácica e/ou palpitações. Negava febre e queixas respiratórias prévias. Antecedentes: Arritmia cardíaca – uso de AAS e amiodarona. Negava HAS e/ou diabetes. História social: Negava etilismo e/ou tabagismo. Ao exame, paciente e n c o n t r a v a - s e a c o r d a d a , c o n f u s a , taquipnêica, acianótica, corada, hidratada, afebril, anictérica e acianótica. • PA = 100/60 mmHg FC = 140 bpm. • FR = 24 irpm. • Tax = 36o C. • SpO2= 88% (AA). 54 Farmacologia ATD2 Catarina Alipio XXIIB - Hipótese Diagnóstica: Fibrilação Atrial Paroxística + Congestão Pulmonar. - Conduta: • In i c ia l moni tor i zação na Sa la de Emergência. • Oferta suplementar de O2 as custas de máscara com reservatório. • A c e s s o v e n o s o . A d m i n i s t r a d o Amiodarona 300mg IV, Propafenona 150mg IV e Sotalol 160 mg VO. 1) Quais as classes antiarritímicas pertencem os medicamentos utilizados no tratamento e qual o mecanismo de ação de cada um? 2) Completea tabela abaixo: 55 Anti arrítmico Exemplos Mec de Ação Efeitos adversos Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4
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