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WILSON MIRANDA LIMA Governador do Estado do Amazonas MARIA JOSEPHA PENELLA PÊGAS CHAVES Secretária de Estado da Educação e Desporto HELLEN CRISTINA SILVA MATUTE Secretária Executiva Adjunta Pedagógica ROSALINA MORAES LOBO Secretária Executiva Adjunta de Gestão ARLETE FERREIRA MENDONÇA Secretária Executiva Adjunta da Capital ANA MARIA ARAÚJO DE FREITAS Secretária Executiva Adjunta do Interior ADRIANA MACIEL ANTONACCIO Diretora do Departamento de Políticas e Programas Educacionais KAROL REGINA SOARES BENFICA Gerente do Núcleo de Gestão Curricular SIRLEI ADRIANI DOS SANTOS BAIMA ELISIÁRIO Gerente do Ensino Regular LÚCIA REGINA DOS SANTOS ANDRADE Coordenadora do Ensino Médio Departamento de Políticas e Programas Educacionais Adriana Maciel Antonaccio Comitê de Implementação Novo Ensino Médio Hadaquel da Silva Alcântara Karol Regina Soares Benfica Lúcia Regina dos Santos Andrade Raimundo de Jesus Teixeira Barradas Sirlei Adriani dos Santos Baima Elisiário Colaboradores Técnico-Pedagógicos SEDUC Aline Santos de Almeida Kaellen Rodrigues Ferreira Ana Maria Pinho Cavalcante Campos Karol Regina Soares Benfica Andreza da Silva Dorzanio Karoline Góes dos Santos Anselmo Luís Correa da Silva Kátia Cilene Santos Menezes Antonio Jose Braga de Menezes Lucrécio Brito dos Santos Audres Marta Carvalho Gomes Manuel Arruda da Silva Barbara Maria Silva Correa Márcio Bentes Lima Bruna Barbosa de Freitas Maria Augusta da Silva Ximenes Christiane Alves Byron de Mello Maria do Socorro Gomes Ferreira Elizangela de Almeida Silva Maria do Socorro Serrão Brasil Elsilene Lavareda Nogueira Nancy Pinto da Vale Estrela Dinamar Vinente Santarém Rainalda Mota Serra Felipe Lopes de Lima Raphael Xavier Barbosa Hadaquel da Silva Alcântara Rosimeiry Ribeiro de Oliveira Hevanna Lima Arce Sabrina Araújo Janilce Negreiros Ferreira Sebastiana Maria Vinhoti de Oliveira Jaqueline de Oliveira Gonçalves Sheyla Regina Jafra Cordeiro Jéssica Marinho Martins Silva Simone de Souza Lima Josefa Fernandes da Silva Soraya de Oliveira Lima Josete da Silva Ohana Valcilene da Silva Vieira Jucimara Canto Gomes Wilmara Cruz Messa Redatores Especialistas Área de Linguagens e suas Tecnologias Coordenador: Sirlei Adriani dos S. Baima Elisiário Língua Portuguesa Kátia Regina Martins Paredes Marsiléia Brasil de Lima Ozeli Martins Sarmento Língua Inglesa Ademir Pinto Ribeiro Arte Bjarne Lima Furtado Simara Brasil de Couto Abrantes Educação Física Hemelly da Silva Areais Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias Coordenador: Dayson José Jardim Lima Biologia Aldaléia Carmo dos Santos Diana Sarmento Franco Física Risolda Maria Silva Farias Química Manoel Feitosa Jeffreys Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Coordenador: Josildo Severino de Oliveira Área de Matemática e suas Tecnologias Coordenador: Hellen Grace Melo Gomes Eriberto Barroso Façanha Filho Nilo da Silva Sena Filho Filosofia Francisco Sales Bastos Palheta Geografia Márcio Silveira Nascimento História Favianni da Silva Raphael Xavier Barbos Sociologia João Fábio Rodrigues Braga Diagramação Kleitson José Lima Tenório Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 5 TEXTO INTRODUTÓRIO .......................................................................................... 6 1. SUJEITOS DO ENSINO MÉDIO DA REDE ESTADUAL ..................................... 7 2. ORGANIZAÇÃO DA OFERTA ............................................................................ 11 2.1 Ensino Médio Regular ................................................................................. 12 2.2 Ensino Médio em Tempo Integral ............................................................... 13 2.3 Ensino por Mediação Tecnológica .............................................................. 14 2.4 Ensino Médio Noturno ................................................................................ 14 2.5 Modalidades do ensino médio ................................................................. 15 2.5.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO ........................................................................ 16 2.5.2 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA ........................................................ 17 2.5.3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Reflexões, perspectivas e Desafios .............................................................................................................. 18 2.5.4 EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO ................. 18 3. CURRÍCULO NO CONTEXTO DA REFORMA DO ENSINO MÉDIO ................. 19 3.1 Protagonismo Juvenil .............................................................................. 22 3.2 Formação Integral ..................................................................................... 26 3.3 Interdisciplinaridade ................................................................................. 29 3.3.1 Interdisciplinaridade – Concepções ......................................................... 30 3.3.2 Interdisciplinaridade: sua importância na construção do conhecimento .. 32 3.4 Temas Contemporâneos Transversais ................................................... 34 3.7 Equidade de Gênero e Raça ..................................................................... 37 3.5.1 Equidade de Gênero ................................................................................ 38 3.5.2 Equidade de Raça ................................................................................... 40 3.6 Equidade Urbano-rural ............................................................................. 42 4. FORMAÇÃO GERAL BÁSICA ........................................................................... 46 4.1 Do Ensino Fundamental ao Ensino Médio: a progressão da aprendizagem .................................................................................................. 46 4.2 Perfil de saída do estudante do Ensino Médio ....................................... 47 4.3 Área de Linguagens e suas Tecnologias ................................................ 48 4.3.1 Caracterização da área ............................................................................ 48 4.3.2 Direitos de Aprendizagem ........................................................................ 49 4.3.3 Articulação no Ensino Fundamental e Ensino Médio (infográficos) ......... 50 4.3.4 Componentes da Área ............................................................................. 51 4.3.5 Organizador Curricular ............................................................................. 57 4.4 Área de Matemática e suas Tecnologias .............................................. 271 4.4.1 Caracterização da área (concepções da rede) ...................................... 273 4.4.2 Direitos de Aprendizagem ...................................................................... 274 4.4.3 Articulação no Ensino Fundamental e Ensino Médio ............................. 277 4.4.5 Organizador Curricular ........................................................................... 280 4.4.5 Organizador Curricular da Área de Matemática e suas Tecnologias ..... 281 4.5 Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias .............................. 303 4.5.1 Caracterização da área (concepções da rede) ...................................... 303 4.5.2 Direitos de Aprendizagem ...................................................................... 303 4.5.3 Articulação no Ensino Fundamental e Ensino Médio (infográficos) ....... 305 4.5.4 Componentes da Área ........................................................................... 307 4.5.5 Organizador Curricular da Área de Ciências daNatureza e suas Tecnologias ...................................................................................................... 309 4.6 Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas .................................. 326 4.6.1 Caracterização da área .......................................................................... 326 4.6.2 Direitos de Aprendizagem ...................................................................... 327 4.6.3 Articulação entre o Ensino Fundamental e o Ensino Médio ................... 329 4.6.4 Componentes da Área ........................................................................... 330 4.6.5 Organização Curricular .......................................................................... 332 4.6.5 Organizador Curricular da Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas .......................................................................................................................... 333 5. ITINERÁRIOS FORMATIVOS........................................................................... 373 5.1 Eixos Estruturantes ................................................................................ 375 5.2 Oferta e Organização dos itinerários formativos ................................. 389 5.2.1.1 Projeto de vida .................................................................................... 395 5.2.1.2 Projetos Integradores .......................................................................... 395 5.2.1.3 Cultura Digital - CD ............................................................................. 396 5.2.1.4 Educação Financeira, Fiscal e Empreendedora- EFFE ...................... 397 5.2.1.5 Interculturalidade e Diversidade Amazônica – IDA ............................. 398 5.2.1.6 Educação Ambiental e Sustentabilidade no Amazonas- EASA .......... 399 5.2.1.7 Estudos Orientados - EO .................................................................... 399 5.2.2 Unidades Curriculares de Aprofundamento ........................................... 401 5.2.3 Unidades Curriculares Eletivas .............................................................. 403 5.2.4 Unidades Curriculares Eletivas Orientadas ............................................ 407 5.3 Recomendação para a elaboração dos Itinerários Formativos .......... 409 5.4 Especificidades do Itinerário Formativo da Formação Técnica e Profissional ................................................................................................... 415 6 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E APROVEITAMENTO DE ESTUDOS ............................................................................................................... 418 6.1Critérios da Avaliação da FGB e dos IFs ............................................... 418 6.1.1 Promoção ............................................................................................... 421 6.2 Regulamento do Aproveitamento de estudos e reconhecimento de competências da FGB e dos IFs .................................................................. 422 6.3 Certificação ............................................................................................. 423 7. ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS ............................................................... 424 7.1 Metodologias Ativas ............................................................................... 426 7.2 Inovação dos Ambientes de Aprendizagem ......................................... 431 7.3 Sugestões de Inovações Pedagógicas ................................................. 434 8. ORIENTAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ........................................................................................................ 437 9. ORIENTAÇÕES PARA A FORMAÇÃO ........................................................... 440 10. MATRIZES CURRICULARES ......................................................................... 446 10.1 Ensino Médio - Jornada Parcial – Diurna ............................................ 446 10.2 Ensino Médio - Jornada Parcial – Noturno ......................................... 448 10.3 Ensino Médio - Jornada Integral .......................................................... 450 10.4 Ensino Médio - Jornada Integral Bilíngue ........................................... 453 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 455 5 APRESENTAÇÃO É com grande satisfação e alegria que, em nome do Governo do Estado do Amazonas e da Secretaria de Estado da Educação e Desporto (SEDUC), apresento a Proposta Curricular e Pedagógica do Ensino Médio. Este documento é o resultado do esforço coletivo do time, constituído por técnicos da Secretaria Executiva da Secretaria Pedagógica e por professores da SEDUC, que não mediu esforços e se dedicou em pesquisas e estudos acerca da Reforma do Ensino Médio e do Currículo, induzida pela Lei nº 13.415/2017, pela homologação da Base Nacional Comum Curricular e pelo Referencial Curricular Amazonense do Ensino Médio. O objetivo desta publicação é entregar às escolas, aos professores, aos estudantes e aos demais profissionais da rede estadual um currículo capaz de oportunizar não só as aprendizagens essenciais para o enfrentamento dos desafios contemporâneos, mas também de contribuir para a formação de cidadãos que possam ser capazes de participar de maneira consciente, ética e responsável da sociedade, fortalecendo a democracia. Acredito que, ao educar para a democracia, é necessário garantir o acesso qualificado ao conhecimento, ao pensamento crítico e à cidadania plena. Tudo isso, faz parte da formação para a vida que a escola deve garantir a todos os seus estudantes, sem distinção. Essa é a nossa missão! Destaco, por fim, que esta Proposta surge como um rico material para apoiar a implementação da Reforma do Ensino Médio e Currículo e a formação de professores. Certamente, servirá, ainda, de inspiração para projetos educacionais inovadores e de auxílio aos profissionais da educação em suas tarefas diárias de educar jovens e adultos com as habilidades necessárias para o século 21. Boas aprendizagens a todos e todas! Maria Josepha Penella Pêgas Chaves Secretária de Estado da Educação e Desporto 6 TEXTO INTRODUTÓRIO A presente Proposta Curricular da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (SEDUC) tem por objetivo nortear e fundamentar as práticas pedagógicas dos professores do Ensino Médio da Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Amazonas, tendo como base a homologação da Base Nacional Comum Curricular/BNCC do Ensino Médio e aprovação do Referencial Curricular Amazonense/RCA do Ensino Médio e se propõe a contribuir para construção de uma escola democrática, que garanta o acesso e a permanência dos estudantes, a qualidade de ensino e, consequentemente, a socialização do conhecimento científico. O Novo Ensino Médio (NEM) traz desafios para todas as escolas de ensino do país e no nosso estado não é diferente. Essa proposta curricular e pedagógica nos conduz a elementos que irão auxiliar na compreensão dos desafios que serão encontrados pelos educadores e educadoras e procurará mostrar todas as possibilidades para a implementação de mudanças qualitativas dentro do processo de organização pedagógica. A Proposta Curricular e Pedagógica do Novo Ensino Médio apresenta, portanto, a todos os profissionais da Educação em seu texto introdutório todas as peculiaridades acerca do currículo, contextualizando o ensino médio no Estado do Amazonas perpassando pela Formação Básica, suas Áreas do conhecimento e organizadores curriculares. Em seguida são apresentados os Itinerários Formativos com seus eixos estruturantes e os focos pedagógicos; e, por fim, as Modalidades e Especificidades do Ensino Médio com todas as orientaçõespara a Implementação do Currículo com suas concepções e orientações para a elaboração do Projeto Político Pedagógico de cada unidade de ensino. Espera-se que as orientações contidas neste documento tragam contribuições capazes de auxiliar as escolas nos desafios associados à operacionalização do currículo escolar e, ainda, possam contribuir na garantia de um ensino de qualidade a todos os estudantes de ensino médio no Amazonas. 7 1. SUJEITOS DO ENSINO MÉDIO DA REDE ESTADUAL As experiências socioculturais construídas pela humanidade são testemunhas de que entre os vários mecanismos usados pelas sociedades para a manutenção de sua ordem a educação se destaca como o principal meio, essencialmente porque consegue relacionar as visões das diferentes gerações que a constituem. Todavia, essa tendência de construir mecanismos de socialização em que as ações adultas se estabelecem em torno de uma preocupação com os jovens, se dá, “basicamente, por três razões: em primeiro lugar, porque eles quebram as regras vigentes; em segundo, porque para o bem ou para o mal, eles serão o futuro do mundo; em terceiro, porque eles também refletem os valores da sociedade” (MINAYO, 2011, p. 18). Neste sentido, admite-se que a juventude se trata de uma questão central pelo fato de que esta como etapa constituinte da vida é a que exige uma maior expectativa social, principalmente, por ser marcada por um movimento de definição e de inserção social. De acordo com Souza e Paiva (2012, p. 353) “[...] a juventude é uma categoria social que tem conquistado espaço na agenda pública e nas discussões científicas”. Uma vez que o tema também ganhou destaque nos critérios de reformulação do Ensino Médio, é importante compreendê-lo em suas múltiplas dimensões. Nesse entendimento, concordam as autoras quando afirmam que “[...] a juventude não se trata de um conceito que está dado, mas sim de vários conceitos, que são fruto de uma histórica representação específica dessa população” (idem). Mais adiante complementam que “[...] não existe uma concepção social única que caracterize e delimite o grupo geracional no qual os jovens estão inseridos, visto que se trata de uma categoria em permanente construção social e histórica” (idem). Dessa forma, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC do ensino médio fundamentada nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio – DCNEM reafirma “a necessidade de não caracterizar o público dessa etapa – constituído predominantemente por adolescentes e jovens – como um grupo homogêneo, nem conceber a “juventude” como mero rito de passagem da infância à maturidade” (BRASIL, 2018, p. 462). Outrossim, é preciso ter presente que a juventude deve ser entendida como "condição sócio-histórico-cultural de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões [...]” (Parecer CNE/CEB nº 5, 2011, p. 12- 13), e que as juventudes têm “[...] especificidades próprias que não estão restritas às 8 dimensões biológicas e etárias, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes” (idem). Por sua vez, a Proposta Curricular do Ensino Médio do Estado do Amazonas entende que as juventudes, tal como propõem a BNCC e as DCNEM têm suas peculiaridades e por isso estabelece um norte para que seus anseios possam ser alcançados. A BNCC é taxativa quando afirma que o Ensino Médio representa uma realidade educacional que tem demonstrado ser um óbice à realização do direito à educação no país. As intensas transformações que atualmente o mundo vem experimentando, principalmente no plano das novas tecnologias da comunicação e da informação, têm afetado fortemente as juventudes e suas expectativas de formação, especialmente as juventudes amazônicas. Neste sentido, o Ensino Médio no Brasil constituía um fator de desestímulo aos jovens que não encontravam uma escola acolhedora, portanto, preocupada com as suas aspirações de formação, sendo apenas um espaço aos quais deveriam se adaptar e submeter. Com isso, “para além da necessidade de universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendo às suas demandas e aspirações presentes e futuras” (BRASIL, 2018, p. 461). Nenhuma etapa da Educação Básica tem ocupado mais a preocupação e expectativa das juventudes brasileiras do que a etapa do Ensino Médio. Dados do Questionário de Escuta do estudante do Novo Ensino Médio realizado pela Secretaria de Estado da Educação e Desporto - SEDUC no ano de 2020 apresentam quadro situacional sobre as expectativas e demandas dos estudantes do Amazonas. Foram entrevistados 53.805 estudantes do Ensino Médio em 304 escolas, sendo 10.747 respondentes dos municípios do interior do estado e 43.058 da capital. Os dados forneceram subsídios relevantes para a construção de um panorama acerca das principais demandas e interesses das juventudes amazônicas frente às exigências de formação trazidas pela contemporaneidade, bem como, das próprias expectativas dos sistemas de ensino em relação ao Novo Ensino Médio. Tais dados apresentam uma fotografia que expressa os principais anseios 9 juvenis e que institui um modelo instrumental de caracterização de quem são os sujeitos do Ensino Médio no âmbito do Amazonas. O questionário revelou que 65,03 % dos estudantes sentem que a escola ainda é uma instituição que se preocupa com sua aprendizagem. Essa confiança atribuída à escola pelo estudante amazonense é vista como um fator significativo pelo poder público estadual para tornar esta instituição ainda mais acolhedora, criando as condições necessárias à promoção da inclusão social, possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao mundo do trabalho. O Novo Ensino Médio propõe a consolidação e o aprofundamento da aprendizagem iniciada no Ensino Fundamental de modo que os estudantes desenvolvam habilidades e competências que se concretizem em atitudes e valores. É de interesse também desta nova proposta a condução pelo aluno de seu protagonismo articulado à construção do Projeto de Vida no sentido de que este possa continuar aprendendo e participar ativamente do mundo do trabalho. Neste sentido, vale destacar que, entre as opções de interesse pessoal do estudante amazonense em relação ao motivo que o leva a cursar o Ensino Médio, a preparação para o ensino superior (43,7 % dos respondentes) e o desejo de ingressar no mercado de trabalho (19,47%) correspondeu à maioria dos motivos para o ingresso no Ensino Médio. Em relação a que tipos de iniciativas gostariam os estudantes que a escola proporcionasse, o resultado apontou que a maioria dos respondentes (36,40%) optou por realizações de atividades fora da escola (projetos, oficinas, aulas diferenciadas e outros). A resposta sugere a necessidade de maior estreitamento entre escola e sociedade com a oportunidade de imersão dos discentes em processos de aprendizagem que envolvam outros espaços difusores de informação e conhecimento. É importante destacar que se adita a esta primeira pretensão, outras igualmente consideradas relevantes pelos estudantes. Assim, 32,40 % dos estudantes questionados sugeriram a inclusão de componente curricular para aprofundamento de estudos e 32,26 % suscitaram a necessidade de desenvolver atividades e oficinas culturais na escola, envolvendo Cinema, Música, Dança, Teatro, Festivais entre outros. Em relação ao interesse dos estudantes pela Área de Conhecimento, respectivamente ocupam o centro de aspirações destes as Áreas de Linguagens e 10 suas Tecnologias 37,62%; Ciências da Natureza e suas Tecnologias 24,72%; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 19,81% e; Matemática e suas Tecnologias 17,84%. Com relação se gostariam de realizar algum tipo de Formação Técnicadurante o Ensino Médio, 88,62% dos entrevistados afirmaram que sim e, a respeito dos eixos tecnológicos pretendidos, Ambiente e Saúde seguidos de Gestão e Negócio; Informação e Comunicação; Turismo, Hospitalidade e Lazer; Produção Cultural e Design foram as alternativas mais focadas pelos estudantes. As informações apresentadas pelo Questionário de Escuta sintetizam, portanto, as tendências e expectativas das juventudes amazônicas em relação às quais as ofertas desta etapa da Educação Básica pelo estado deverão ser pautadas. É importante mencionar que o referido documento representa um valioso instrumento a ser considerado durante o monitoramento e avaliação tanto dos processos de ensino-aprendizagem quanto das ações das políticas educacionais do estado do Amazonas. A realidade social do estado do Amazonas é complexa. Trata-se de uma região de abrangência continental entrecortada por rios1 e atravessada por múltiplos condicionantes conhecidos como fator amazônico, que consiste no conjunto de características geográficas e de ordem econômica, política, social, cultural e ambiental que afeta diretamente a reprodução social da existência amazônica. Com efeito, isto a torna merecedora de atenção diversificada em função desta especificidade. Assim, tais fatores impõem noções de espaço/tempo diferenciadas, necessidade de interpretação adequada acerca das formas de trabalho e de ocupação territorial (ribeirinhos, indígenas, seringalistas, quilombolas, garimpeiros, entre outros) e o desafio de instituir uma rede de serviços de comunicação acessível a todos indistintamente (CRUS, 2013). No mesmo sentido, a garantia do acesso e de condições infraestruturais de permanência dos estudantes a um processo formativo que responda às suas demandas e aspirações deve, diferenciadamente ser pensada. Convém ter presente, que todos esses fatores estão imbricados em situações fornecedoras de dados que podem impedir, mas também fortalecer a gestão e o empenho dos sistemas de ensino na busca de uma educação equitativa e que atenda 1 Os rios do estado do Amazonas, por exemplo, se configuram como rotas/estradas que operam ligações entre diferentes municípios que se estabelecem em zonas territoriais distantes entre si, impondo aos sujeitos das localidades formas específicas de lidar com o tempo, com o espaço e com o deslocamento (canoas, barcos, lanchas e outros), diferentemente do que acontece em outras regiões do Brasil, cujas ligações e previsibilidades temporais são realizadas por meios menos dispendiosos 11 aos interesses de formação das juventudes amazônicas em relação às exigências do mundo contemporâneo. Nesse sentido, os fatores apontados servem ainda como parâmetro para a tomada de decisões estratégicas visando ao avanço da educação, em especial do novo Ensino Médio. Assim, o estado do Amazonas por meio da Secretaria de Estado da Educação e Desporto/SEDUC traz para o centro de sua política educacional, a proposta curricular e pedagógica orientada para as juventudes matriculados na Rede Estadual de Ensino do Amazonas no intuito de garantir a consolidação, aprofundamento e ampliação dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental. 2. ORGANIZAÇÃO DA OFERTA Factualmente, o ensino médio brasileiro foi conhecido por muito tempo como uma etapa da escolaridade com funções propedêuticas e de conclusão de estudos. Porém, o ensino médio não se restringe somente às concepções por vezes limitadas de significado e por isso, mostra-se primordial por muitas razões, principalmente, devido ao fato de que este é o momento na vida de um estudante, onde ele pode aprender, explorar e até mesmo se envolver em uma variedade de assuntos e atividades, antes de entrar no mundo de trabalho ou dar prosseguimento à sua trajetória acadêmica. Neste capítulo, observamos alguns aspectos do ensino médio e como é caracterizada sua oferta. Na contemporaneidade, na etapa do ensino médio, os alunos têm a oportunidade de experienciar atividades por meio dos componentes e determinar suas preferências. Adicionalmente, o ensino médio prepara os estudantes em áreas muito além do currículo da sala de aula, já que esta etapa implica na formação dos estudantes para a pesquisa, escuta, colaboração, liderança, criatividade e inovação, esforço e trabalho consistente e prolongado em atividades extras, aulas além de debates de temas importantes. É de extrema relevância, destacar que a universalização do ensino médio é garantida pela Constituição Federal de 1988, o que iniciou diversos debates de como atingir a toda esta camada estudantil, bem como assegurar que as transformações advindas deste processo pudessem atender às reais necessidades do alunado brasileiro, como a seguir: 12 Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: II - progressiva universalização do ensino médio gratuito (BRASIL, 1988). A oferta diferenciada para os diversos perfis de estudantes, busca não somente o atendimento dos mesmos, mas paralelamente, a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos inerentes à preparação básica para a cidadania e o trabalho, tomado este como princípio educativo, para continuar aprendendo, de modo que o estudante possa enfrentar novas condições profissionais e aperfeiçoamento posteriores. Sob os aspectos de sua oferta, o ensino médio apresenta a seguinte configuração: Ensino Médio Regular, que também pode ser caracterizado como ensino propedêutico, seguindo a educação comum, com os níveis de ensino e faixas etárias estabelecidas; Ensino Médio em Tempo Integral, que é o modelo do Ensino Médio que busca formar o estudante por uma proposta pedagógica multidimensional, com jornada de carga horária ampliada, objetivando o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais; Ensino por Mediação Tecnológica é o formato onde o conhecimento é ofertado, por meio de ambientes digitais e interativos de aprendizagem, os quais buscam romper com as distâncias espaço-temporais e priorizam a disseminação de informações e tarefas que promovam a interiorização de conceitos construídos, compondo assim, a prática educativa da modalidade a distância; Ensino Médio Noturno, que na contemporaneidade forma os estudantes por meio do ensino propedêutico para o público de jovens que já iniciaram seus primeiros passos no mercado de trabalho. 2.1 Ensino Médio Regular No Ensino Médio Regular, destinado aos estudantes que tenham concluído o ensino fundamental, apresenta-se nos dias de hoje na maioria das escolas com componentes voltados ao modelo propedêutico de ensino. Esta etapa de ensino é 13 regulamentada com base na lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases). É dividida em três fases, que são as séries escolares. Durante sua jornada de aprendizado, o aluno de ensino médio regular tem um aprendizado contínuo e abrange uma gama de assuntos diversos: linguagens, matemática, ciências da natureza e humanas. Estes são chamados conhecimentos “de base”, pois são indispensáveis para a formação de cada sujeito, já que embasam todos os demais conhecimentos. 2.2 Ensino Médio em Tempo Integral No Amazonas em 2002 a Secretaria de Estado da Educação implantou, inicialmente, a Educação em Tempo Integral em duas escolas de Ensino Médio, expandindo a jornada escolar dos estudantes. Nesse modelo é proposto componentes curriculares do currículo básico e da parte diversificada, compostos por aulas que buscam ampliar e consolidar os conhecimentos de Língua Portuguesa, Matemática e de outras áreas de conhecimento, além de garantir uma educação integral, cujo objetivo é o pleno desenvolvimento dos jovens estudantes. Educação Integral x Educação em Tempo Integral O Conceito de Educação Integral não é o mesmo da Educação em Tempo Integral. Educação Integral é aquela em que os indivíduos se envolvem e compartilham saberes,dentro ou fora da escola, ou seja, ela promove o desenvolvimento integral do estudante, por meio dos aspectos intelectual, afetivo, social e físico. Por sua vez, a Educação em Tempo Integral seria a ampliação da Jornada escolar dos estudantes, com reorganização dos componentes curriculares, como explicam os autores Castanha & de Oliveira (2017): Educação Integral: remete a formação integral do indivíduo, considerando o desenvolvimento dos múltiplos aspectos vinculados ao conhecimento, a saber, cognitivo, afetivo, físico, artístico, espiritual, cultural, entre outros, reconhecendo o indivíduo como um ser total e não fragmentado [...]. Educação em Tempo Integral refere-se à ampliação da jornada ou do número de horas na escola, com possível reestruturação curricular, reorganização do espaço físico e possível aumento no quadro de professores e funcionários [...]. (CASTANHA; OLIVEIRA, 2017, p. 7). 14 2.3 Ensino por Mediação Tecnológica O Ensino Médio Presencial com Mediação Tecnológica (EMPMT) surgiu como possibilidade de acesso ao Ensino Médio, para os estudantes que vivem em pequenos núcleos urbanos, assentamentos agrícolas, municípios de difícil acesso, zonas rurais, áreas de grupos indígenas e bairros periféricos à zona urbana. Entre outros fatores, as características geográficas configuraram-se como um entrave para o acesso a este nível de ensino. Dada a sua capacidade de atender áreas longínquas, esta modalidade de ensino possui potencial para universalizar o acesso dos jovens amazonenses ao Ensino Médio, o que imbui essa iniciativa de uma função também social, já que contribui para evitar o êxodo dos estudantes de suas bases produtivas locais. Desta forma, teve influência na dinâmica da mobilidade social desses municípios, pois hoje este ensino, que teve inicialmente como meta a universalização do Ensino Médio, amplia seu raio de atuação fixando o homem do campo, já que esse estudante não precisa mais sair de sua comunidade para ter acesso a uma educação de qualidade. 2.4 Ensino Médio Noturno O Ensino Médio noturno tem sido ofertado a uma parte da população mais humilde que, por motivos diversos, não podem ou não puderam frequentar a sala de aula no período diurno, pois é quase sempre considerado nos meios educacionais como um problema, uma fonte de insatisfação que necessita ser sanada. Parece que é realmente um problema sem saída, pois com muita frequência é oferecido àqueles que dispõem de menos recursos. Não se deve esquecer que o período noturno faz parte da história da escolarização e que apesar de ter se constituído a partir de disposições governamentais, estas disposições vieram atender a reivindicações populares (CARVALHO, 1998): "Alternativas para o trabalho pedagógico voltado ao ensino noturno". Geralmente constituído por jovens e adultos, a partir dos 17 anos, na maioria, já inserido no mercado de trabalho sem a devida qualificação com jornada de oito ou mais horas diárias de trabalho, visa oferecer a esse público a possibilidade de retornar ao ciclo normal da escolaridade. 15 Porém, há de se destacar que esse processo educacional exige uma forte determinação e uma boa dose de motivação, perseverança, concentração e superação, essenciais para que esses estudantes possam dar continuidade nos estudos e também superar a repetência e a evasão escolar. 2.5 Modalidades do ensino médio A LDBEN, ao destacar as diretrizes e bases da educação nacional, configura o Ensino Médio como etapa integradora e a última etapa da Educação Básica, oferecido como ensino regular com duração de três anos no mínimo, na faixa etária que compreende entre 15 a 17 anos. Para atender a demanda que requer e garantir o direito e acesso ao ensino de qualidade a todos, a LDBEN determina os tipos de modalidade de ensino que visam atender às necessidades educacionais dos níveis de ensino, levando em consideração a característica da população como a de campo, os indígenas, e aquelas com deficiências que segundo Ramal, a escola possui uma importante função social, assim sendo: Requer que os professores, além de estimularem o conhecimento mútuo e o respeito de uns pelos outros, adotem estratégias que garantam que todos aprendam igualmente e possam alcançar sucesso na escola e no mercado de trabalho. (RAMAL, 2019 p.74) As escolas da rede estadual devem oferecer condições que possibilitem preparar o estudante para o exercício da cidadania, para prosseguimento de estudo assim como para o trabalho. Afirma Carneiro: A educação é um bem público e, mais do que isto, um direito humano fundamental. Em decorrência, aos estados cabe respeitar, promover, proteger, avaliar e ajustar, permanentemente, políticas que assegurem a igualdade de oportunidades no acesso e na permanência, com êxito, na escola, de todos os seus cidadãos. (CARNEIRO, 2012, p. 274) As modalidades de ensino são ofertadas como uma alternativa e estão presentes em nossas escolas, propondo educar os estudantes de acordo com que a sociedade espera da educação visando atender às peculiaridades de cada público, assim sendo apresentamos as modalidades de ensino: Educação do Campo, 16 Educação Escolar Indígena, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial na perspectiva da inclusão, essas modalidades são ofertadas em nossa rede de ensino a fim de garantir o acesso à educação gratuita e de qualidade a todos os cidadãos. Sendo assim, as modalidades de ensino proporcionam aos cidadãos oportunidades de estudo para quem por algum motivo deixou de frequentar a escola ou quem precisou ser incluído na sociedade recebendo o direito à educação. 2.5.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO A Educação do Campo está amparada pela LDBEN, em seu Artigo 28 onde é ofertada à população rural, visando promover as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural. No qual estabelece as diretrizes essenciais para sua organização pedagógica: a) conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; b) organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas e, c) adequação à natureza do trabalho na zona rural. A Educação do Campo refere-se ao atendimento da população do campo como pescadores, ribeirinhos, caboclos e outros que vivem da produção da existência do trabalho rural, podendo ser ofertado em escolas da rede estadual situadas em área rural como também situadas em área urbana desde que atenda população rural. As escolas que ofertam essa modalidade devem garantir que os estudantes sejam capazes de articular situações específicas à sua realidade. Na rede estadual do Amazonas, conta-se com 52 escolas estaduais, distribuídas em 27 municípios, faz-se necessário contar com um currículo que esteja correlacionado às características peculiares do estado, o qual deverá orbitar em torno das sazonalidades e especificidades, quer sejam aquelas ligadas às tradições culturais, do modo de vida, relação com o meio, como também dos conhecimentos e relações com os rios, plantio, colheita, utilização dos recursos da floresta para sobrevivência na sua comunidade. Assim pensar em políticas públicas educacionais diferenciadas, que visem proporcionar um ambiente escolar integrado à comunidade, que dialogue com os espaços de sustentabilidade e produção, apontando para uma educação significativa, 17 com desenvolvimento de habilidades para alcançar as competências para vida cotidiana, em pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. 2.5.2 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA Educação Escolar Indígena é reconhecida como modalidade de ensino a partir do Artigo 78 da LDBEN com oferta de educação escolar bilíngue (Língua indígena e Língua Portuguesa) e intercultural aos povos indígenas. E dispõem os seguintesobjetivos: I – proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências; e II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedade indígenas e não-índias. (BRASIL,1996) Como se refere o nome, a Educação Escolar Indígena, é oferecida em escolas localizadas em áreas indígenas onde requer uma educação própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade que é atendida. Assim sendo, é importante que o material didático seja condizente a cada etnia em respeito a sua história e tradição garantindo uma escola indígena diferenciada com direito ao acesso a uma escola pública de qualidade atendendo a população indígena. Em 13 de agosto de 2014 o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena do Amazonas (CEEI/AM), aprova as Matrizes2 Curriculares Interculturais de Referência para as Escolas Indígenas no Amazonas: Ensino Fundamental e Ensino Médio, com início de implantação no ano de 2015. A Rede Estadual de ensino, atende à demanda de 163 municípios (DEPLAN/GEPES/SEDUC-AM) com turmas de Ensino Médio regular em escolas estaduais indígenas e salas anexas, a saber em 28 Escolas Estaduais Indígenas 2 Resolução CEEI-AM n. 02/2014. Autoriza as Matrizes Curriculares de Referência para o Ensino Fundamental e Médio das Escolas Indígenas do Estado do Amazonas. 3 Número de Matrículas da Educação Indígena/Rede Estadual 2020. Gerência de Pesquisa e Estatística (GEPES). Pertencente ao Departamento de Planejamento e Gestão Financeira da Secretaria de Educação e Desporto (SEDUC/AM). 18 2.5.3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Reflexões, perspectivas e Desafios A Educação de Jovens e Adultos, conhecida como EJA, conforme disposição na LDBEN em seu Artigo 37 “A educação de jovens e adultos é destinada àqueles que não tiveram direito ao acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida” (BRASIL, 1996). A EJA ofertada ao Ensino médio é um tipo de modalidade que atende um público específico de maior de dezoito anos e é oferecido nas escolas da rede estadual de ensino trazendo uma concepção de inclusão social considerando seus interesses, condições de vida e trabalho. Possibilitando aos estudantes a oportunidade de reentrada no sistema educacional para a conclusão com êxito de sua escolaridade, além de despertar no desenvolvimento de competências e habilidades que lhes permitam inserções no mundo do trabalho, na vida social e para a construção de sua cidadania como também sendo capazes de ingressar no ensino superior. O trabalho com a EJA requer o enfrentamento de múltiplos desafios, dentre eles, os altos índices de evasão escolar e de analfabetismo. Embora muitos esforços tenham sido empreendidos para combater este último, o IBGE/INEP (2020) registrou, em números absolutos, que no Brasil a taxa de analfabetos representa 11,5 milhões de pessoas que não escrevem e nem leem. No Amazonas, esta taxa é de 5,4% de pessoas com 15 anos ou mais de idade. Agregado a este contexto, tem-se o elevado índice de evasão ou abandono motivado por fatores como: vulnerabilidade, trabalho, gravidez precoce e outros. Por isso é necessário garantir a oferta da EJA para o Ensino Médio a todos que dela necessitam, oportunizando uma educação de qualidade, apoiada em valores como justiça, responsabilidade, democracia, liberdade e igualdade, bem como, os ideais da solidariedade humana. 2.5.4 EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO A Educação Especial vem atender ao Artigo 58 da LDBEN, sendo ofertado aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação onde sua caracterização é vista nos artigos 59 e 60 como 19 outras legislações que foram necessárias para o processo de inclusão viesse acontecer. De acordo com a LDBEN, essa modalidade é ofertada de forma inclusiva e oferecida na rede regular de ensino com apoio específico quando necessário. Considerando a inclusão do aluno ao ambiente escolar e ao convívio social, nesse sentido é primordial que a escola assuma este compromisso com seus atores educacionais traçando objetivos que resultem em condições que possibilitem aprendizagem oportunizando o desenvolvimento dos estudantes. O atendimento da educação especial na perspectiva da inclusão no ensino médio é desafiador, sobretudo considerando-se as intensas desigualdades sócio- históricas de acesso e de atendimento aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação e transtornos funcionais específicos na escola pública. Cury (2008) explica que a educação escolar dialoga com as múltiplas dimensões da vida sociocultural e que nelas são expressas as desigualdades sócio- históricas e assinala para o cuidado em propostas de inclusão que sejam seletivas, o que intitula como "inclusão excludente”. Diante do exposto, aponta-se a importância e a necessidade de se promover políticas educacionais visando o fortalecimento de ações efetivas de inclusão na escola para estudantes do ensino médio com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação e transtornos funcionais. Assegurando-se assim, não somente o acesso, mas a permanência à uma educação de qualidade socialmente referenciada para todos. 3. CURRÍCULO NO CONTEXTO DA REFORMA DO ENSINO MÉDIO Neste capítulo, a abordagem conceitual acerca do currículo será delineada na perspectiva do conhecimento. Considerando o contexto da contemporaneidade, significa dizer que é acompanhar as transformações desafiadoras, pelas quais o ser humano está passando e considerar olhares para a heterogeneidade, para a formação de professor e para as singularidades de cada ser. Um currículo nessa perspectiva, precisa comprometer-se com as diferenças culturais e com a formação de cidadãos protagonistas, no intuito de oportunizar 20 caminhos para a compreensão do mundo, das realidades e da própria vida. Nesse sentido, faz-se necessário retomar alguns pontos dos documentos legais e do RCA- EM, que preconizam a necessidade da consolidação dos conhecimentos nessa etapa, para entender o compromisso que se tem a partir desta proposta. De acordo com a LDB 9394/1996, o currículo há de ser flexível e democrático. Em seu Art. 35, que trata das finalidades é possível abstrair que será necessário retomar conhecimentos trabalhados na formação geral, ou seja, na parte disciplinar da etapa anterior, uma vez que os conhecimentos serão fundamentais para a vida de todos os estudantes, que no ensino médio, serão conduzidos por caminhos, que possibilitem o aprofundamento de conhecimentos das áreas, em um processo interdisciplinar. E ainda, em seu art. 35, inciso IV, necessário se faz oportunizar aos estudantes a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos de processos produtivos e do ensino dos componentes curriculares, em que a relação entre teoria e prática sejam o caminho, para a compreensão dos conhecimentos, que perpassam os componentes. Para atender a essa etapa de ensino, percebeu-se que uma nova organização curricular seria fundamental, uma vez que mudanças haviam de acontecer. Surge então, a Lei 13.415/2017, que tem por finalidade possibilitar essa flexibilização, que traz uma carga maior e que, consequentemente, oportuniza que se pense em um ensino mais atrativo. São as partes indissociáveis: FGB e IFs. Na FGB, a organização do currículo aponta para as áreas do conhecimento, no entanto, não exclui os componentes curriculares, pelo contrário, desse modo, busca fortalecer as relações entre eles e contextualizar, para possíveisintervenções frente às realidades. Isto viabiliza um trabalho integrado por parte dos professores e oportuniza um ensino dialógico necessário nessa etapa de ensino. Quanto aos IFs, a organização do currículo aponta para a valorização de saberes, de vivências, de apropriação de conhecimentos, de escolhas. O que significa dizer, que corresponde à formação de aprofundamento, que tem um espaço para inserir a realidade de cada rede de ensino e que conduz para uma abordagem diferente da que é adotada nas áreas de conhecimento na FGB. Foram desenhadas para direcionarem a construção do conhecimento de modo específico, em 21 conformidade com as necessidades e especificidades da comunidade, da qual os estudantes fazem parte. Nessa nova organização, estabelecida como BNCC, foram determinadas aprendizagens essenciais, para todos os estudantes do país, baseadas no que se almeja desses jovens ao final da educação básica. Aprendizagens, que assegurassem os direitos, conforme o que se estabelece no Plano Nacional de Educação - PNE/2014. Também, diretrizes foram atualizadas, por meio da Resolução CNE/CEB Nº 3/2018 e conforme parágrafo único, para serem aplicadas a todas as formas e modalidades dessa etapa de ensino, podendo ser complementadas, por meio de diretrizes próprias, à medida que se fizerem necessárias. Ainda nessa Resolução, em seu art. 5º, foram estabelecidos os princípios específicos, a saber: formação integral do estudante; projeto de vida; pesquisa como prática pedagógica para inovação; respeito aos direitos humanos; compreensão da diversidade e realidade dos sujeitos; sustentabilidade ambiental; diversificação da oferta, tudo isto, possibilitando múltiplas trajetórias e a indissociabilidade entre educação e prática social e entre teoria e prática. Diante desse contexto, pode-se afirmar que o currículo nesta proposta parte do direito de aprender e nesse caminho, propõe que se reflita acerca do que é importante ensinar, por que ensinar e em que momento ensinar, considerando a escola, enquanto provedora, para as conexões com a sociedade e com a sua própria cultura, contemplando os princípios específicos já apontados, para chegar ao patamar da construção do conhecimento. Partindo do RCA-EM, documento construído para reafirmar o compromisso voltado para a formação integral do estudante, destaca-se o que esse aponta, enquanto finalidade: [...] continuar desenvolvendo o aprendizado dos estudantes, por meio das mesmas vertentes usadas no currículo do ensino fundamental, mesmo que inclua uma gama mais ampla e complexa de conceitos e contextos, para o aprofundamento das habilidades consideradas focais no percurso da Educação Básica e que estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento integral dos estudantes e, por meio disso, possam realizar seus Projetos de Vida. (AMAZONAS, 2021, p.27). Espera-se que o RCA-EM, esta Proposta e o Projeto Político Pedagógico que cada escola (re)elabora, indiquem os percursos para que as aulas sejam pensadas e planejadas, no intuito de que sejam concretizadas, mediante trabalhos em grupos, 22 sejam formados por aproximação, por diferenças, por problemas; que sejam oportunidades de vivências as quais conduzam à autonomia e mais ainda, que o trabalho a ser desenvolvido, pedagogicamente, seja o reflexo da escola e de todos os partícipes, que nela convivem, promovendo a diferença. No centro de tudo isto, conforme Brasil 2018b, descrito no RCA-EM, 2021, múltiplas juventudes devem ser acolhidas em suas diferentes manifestações e condições. Juventudes que representam as realidades do Amazonas e que precisam ter o acesso garantido nessa etapa de ensino, respeitadas em suas singularidades culturais e contextuais, que perpassam as do urbano, do campo, do indígena e as do ribeirinho. Esta proposta adota a educação, que assegure a isonomia e a igualdade, valorizando todos os sujeitos, respeitando as diversas dimensões na formação humana, que prime pela inclusão e pelo acesso, que valorize as diversidades, que reconheça as juventudes, como protagonistas na construção do conhecimento, e que pense em reduzir as desigualdades existentes, considerando a igualdade de oportunidades, ou seja, tratando os desiguais de maneira desigual. Inclusive, que oportunize tratamento diferenciado entre os partícipes: meninos e meninas, sendo urgente a mudança de determinados hábitos na sociedade, considerando o exercício do respeito nas relações interpessoais, como uma prática diária. Não há mais espaço para produzir lacunas entre os sujeitos, mas sim, há necessidade de romper com as desigualdades que ainda, propagam sofrimento e opressão. Desse modo a escola deve compreender esses princípios e viabilizar possibilidades, para a construção de uma sociedade mais ética, humana, justa, inclusiva, democrática e participativa. E é pensando desse modo que se considerou, nesta proposta, a inserção de alguns princípios norteadores desta proposta: Protagonismo Juvenil, Formação Integral, Interdisciplinaridade, Temas Contemporâneos Transversais, Equidade de Gênero e Raça e Equidade Urbano- Rural. 3.1 Protagonismo Juvenil Entende-se o Protagonismo como a participação do jovem como um ator principal em ações que não dizem respeito somente à sua vida individual, familiar e/ou 23 afetiva, mas a problemas ligados ao bem comum, na sua escola, na sua comunidade ou na sociedade onde ele está inserido. Pode ser compreendido também como a atuação dos jovens de forma criativa, construtiva e solidária, diante das pessoas adultas na resolução de situações no seu cotidiano, ser o protagonista na busca de soluções, por meio de ações educativas, com iniciativa, liberdade e compromisso (Costa, 1996, p.47). Segundo Costa (1996), em sua obra Protagonismo Juvenil – adolescência, educação e participação democrática, o protagonismo juvenil vem reforçar o compromisso das escolas com a formação integral dos seus estudantes, promovendo o engajamento com os conteúdos e a prática em sala de aula, com isso, estimula o desenvolvimento da autonomia, da capacidade de tomar decisões e da responsabilidade. Para isso, a escola deve adequar espaços para o desenvolvimento de ações, onde os alunos possam vivenciar situações problemas do seu cotidiano e posicionar-se em busca soluções, modificando assim a realidade do ambiente onde vive, afinal: O protagonismo juvenil parte do pressuposto de que o que os adolescentes pensam, dizem e fazem pode transcender os limites do seu entorno pessoal e familiar e influir no curso dos acontecimentos da vida comunitária e social mais ampla. Em outras palavras, o protagonismo juvenil é uma forma de reconhecer que a participação dos adolescentes pode gerar mudanças decisivas na realidade social, ambiental, cultural e política onde estão inseridos. Nesse sentido, participar para o adolescente é envolver-se em processo de discussão, decisão, desenho e execução de ações, visando, através do seu envolvimento na solução de problemas reais, desenvolver o seu potencial criativo e a sua força transformadora. Assim, o protagonismo juvenil, tanto como um direito, é um dever dos adolescentes (COSTA, 1996, p. 65). A BNCC (2018) define competências gerais e específicas que os alunos devem desenvolver em cada fase da educação básica, propondo que os estudantes sejam protagonistas no processo de ensino e aprendizagem e que possam utilizar os seus conhecimentos para agir e participar em sociedade (BNCC, 2018). O protagonismo juvenil relaciona-se com a construção do projeto de vida dos estudantes, está diretamente relacionado aos seus anseios, interesses e aspirações, desta forma a formação integral do educando deve permear todas as dimensões: física, cognitiva, afetiva, social, cultural e emocional, inclusive as decisões na sua formação acadêmica ou para o mundo do trabalho, bem como ao estilode vida dos estudantes, com escolhas saudáveis, sustentáveis e éticas, conceitos utilizados na Resolução nº 03 (2018) que traz especificidades no seu Art. 6º, inciso I, que define: 24 Formação integral: é o desenvolvimento intencional dos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais dos estudantes por meio de processos educativos significativos que promovam a autonomia, o comportamento cidadã e o protagonismo na construção do seu projeto de vida (Resolução n. 03, 2018, p. 2). Neste contexto, a adolescência é marcada por várias mudanças e desafios que colaboram para aprimorar, consolidar a sua identidade, é uma etapa que faz parte do processo de construção de sujeitos que constituem o presente e o futuro de uma sociedade, também é vista como um período complicado, onde os estudantes passam por conflitos de autoestima e da formação de personalidade, querem ser percebidos e reconhecidos com todas as suas diversidades, sem preconceitos ou exclusões, lembrando que muitos jovens também acreditam na construção de um mundo melhor, mais justo e igualitário, com certeza os jovens serão capazes de realizar grandes mudanças na humanidade, porém vivem num paradoxo em dar continuidade aos seus estudos ou se qualificar para o mundo do trabalho e contribuir para o sustento da sua família, considerando seus direitos e deveres como determina do Artigo 205 da Constituição Federal, que indica: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 205). Assim, deve-se garantir que a formação dos jovens nas escolas seja efetiva e de qualidade, dialogando com os contextos, interesses, necessidades e anseios dos estudantes, ao mesmo tempo, preparando os para lidar, com autonomia, com os desafios de sua existência e contribuindo para que construam e implementem projetos de vida significativos. Desta forma, uma escola possibilita ao jovem vivenciar sua cidadania, transformando-o em um participante ativo da sua própria história, de forma solidária e democrática, deve ser capaz de acolher seus docentes e discentes num contexto educacional colaborativo, com diálogos e saberes, compartilhando experiências relevantes e sistemáticas na construção dos conhecimentos e de princípios de moral, de valores e de cidadania. Além disso, a BNCC (2018) propõe uma transformação na educação, onde as escolas precisam mudar e incorporar ainda mais a contextualização, a interdisciplinaridade, a participação colaborativa e ativa dos estudantes, promover debates e discussões, estimulando a exposição de diferentes pontos de vista, sempre 25 incentivando os alunos a não só trazerem para a sala de aula os problemas reais do seu cotidiano, mas também levarem para a sua comunidade o seu conhecimento teórico e assim propor soluções para o meio em que eles vivem, desta forma, podendo desenvolver habilidades ligadas à liderança, como a autonomia, o respeito, a empatia, a responsabilidade e a capacidade de tomar decisões. Desta forma, os professores tornam-se orientadores para os alunos durante toda a educação básica, sempre considerando a vivência e a sua realidade dos educandos, dentro e fora da escola. O professor é o elo entre o estudante e o conhecimento, um mentor que dará suporte e encorajamento para que os estudantes possam administrar o seu aprendizado por meio das suas escolhas, promovendo o fortalecimento dos espaços de protagonismo dentro e fora do ambiente escolar para o desenvolvimento das suas habilidades e competências, por meio de práticas pedagógicas com foco na solução de problemas reais e oportunizando o exercício da cidadania. Esses princípios estão claros no parágrafo 2º do artigo 7º das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, que afirmam: O currículo deve contemplar tratamento metodológico que evidencie a contextualização, a diversificação e a transdisciplinaridade ou outras formas de interação e articulação entre diferentes campos de saberes específicos, contemplando vivências práticas e vinculando a educação escolar ao mundo do trabalho e à prática social e possibilitando o aproveitamento de estudos e o reconhecimento de saberes adquiridos nas experiências pessoais, sociais e do trabalho (DCNS, Art. 7º § 2ª). Desta forma, fica evidente que a interdisciplinaridade considera a educação integrada do conhecimento, reconhecendo as suas individualidades e a relevância de um olhar atento às relações, conexões, interações e implicações entre os diversos campos dos saberes específicos. Podemos considerar que neste modelo curricular o protagonismo juvenil, enquanto um princípio, a compreender que os jovens muitas vezes estão desmotivados a tomar decisões e ter atitudes, quando não são estimulados. Devemos orientar e incentivar ações educativas por parte dos estudantes, com um olhar de soluções e não como um problema. Permitir-se mudar a forma de ver a juventude e passar a fazer com eles, e não para eles, discutir responsabilidades e a importância de regras nas escolas, onde todos (jovens e adultos) possam criar condições necessárias para que as ações ocorram, de forma intencional e organizada no ambiente escolar com o envolvimento de todos. 26 3.2 Formação Integral A formação integral relaciona-se ao desenvolvimento pleno dos indivíduos contemplando suas potencialidades e defendendo a progressão dos sujeitos para além de sua dimensão intelectual, considerando o aperfeiçoamento de aspectos físico, social, emocional e cultural dos indivíduos. O Artigo 205 da Constituição Federal de 1988 assegura o direito à educação “visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. E, ao encontro da Constituição, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) apresenta em seu Artigo 2º que a educação “tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando”. A partir de 2017, com a aprovação e implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) etapa da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, e de 2018 - com a aprovação da BNCC etapa do Ensino Médio - completando o conjunto constituído pela BNCC, a multidimensionalidade e singularidade do indivíduo colocou o estudante como centro do processo pedagógico. Dessa forma, a BNCC surge como documento de caráter normativo que orientará a (re) formulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares do país. A partir disso, pressupõe-se a construção de currículos mais pertinentes à formação integral dos estudantes, “rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva” (BNCC, 2017, p. 14). A BNCC firma a integralidade da educação como centro da proposta formativa, a partir de habilidades e competências que devem ser desenvolvidas nas múltiplas dimensões do sujeito: intelectual, social, emocional, física, ética e cultural. Sendo assim, todo percurso formativo do estudante pela Educação Básica deve ser pautado em seu desenvolvimento multidimensional. Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2018, p. 8). Vivenciamos uma sociedade que tem necessidade de sujeitos preparados para o exercício da cidadania e ao mesmo tempo qualificados para o mercado de trabalho. Essa é uma demanda social que a cada dia ganha mais força em virtude das 27 mudanças sociais e educacionais emergentes. Como exemplo dessas mudanças, podemos contemplar o surgimento do fenômeno da globalização neoliberale a ascensão de diversos recursos tecnológicos e digitais; o que tem ocasionado transformações nos mais vastos âmbitos sociais. Destarte, novas descobertas e aprimoramentos se tornaram cada vez mais rápidos e questionáveis, da mesma forma que o acesso à informação passou a acontecer quase que de forma instantânea. As necessidades surgem a todo o tempo conforme as transformações acontecem - sejam elas no âmbito tecnológico, social, político e educacional - e esses acontecimentos vão se articulando para atender às demandas emergentes. A sociedade da atualidade apresenta outras exigências e configura-se de maneira diversa se comparada àquela posta no século XX, basicamente, isso quer dizer que novas habilidades e saberes são demandados aos estudantes. Traçamos esse comparativo com o século passado, principalmente com as últimas décadas, pois há uma série de fatos históricos e inaugurações que marcaram época e são responsáveis por ainda impactar nossos dias. A concepção de formação integral permeia as teorias filosóficas e educacionais há muito mais tempo. Ao traçar uma linha do tempo sobre as principais teorias acerca dessa concepção, encontramos aspectos da formação integral séculos antes de Cristo. O filósofo grego Aristóteles já registrava o pensamento de formação integral em: De resto, dizemos até que a felicidade é uma atividade da alma. Assim sendo, é evidente que o perito em política deve saber como é com as coisas respeitantes a alma, do mesmo modo que o terapeuta dos olhos não trata exclusivamente deles, mas trata também de todo o corpo. A fortiori, o perito na criação de uma melhor cidadania, por ser perito num saber mais precioso e melhor do que a medicina, terá também de cuidar não apenas de um aspecto doente da alma, mas de tudo o que lhe disser respeito. Os médicos mais sofisticados lidam muito cuidadosamente com o conhecimento do corpo no seu todo, tal como o perito na produção da boa cidadania terá de ter em vista a alma humana no seu todo, por causa das situações políticas e na medida em que dizem respeito aos seus objetos de investigação. (ARISTÓTELES, 2009, 1102a5, p. 37). Vale citar também o suíço Jean Piaget, que desenvolveu uma das teorias da aprendizagem mais estudadas no campo da educação, o Construtivismo. A teoria ressalta que a construção do conhecimento deve levar em consideração aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Na contemporaneidade brasileira, pode-se contar com as perspectivas de distintos educadores como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, por exemplo, que 28 deixaram legados e contribuições fundamentais para a construção de práticas pedagógicas que consideram o desenvolvimento global dos alunos. E em se tratando das contribuições pedagógicas para a concepção da formação integral contemporânea, não podemos deixar de citar Paulo Freire, conhecido mundialmente por seu método pedagógico de alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. A pedagogia freiriana enfatiza a importância da “integralidade do saber”, para Freire (1967, p.96), o processo educacional deve ser marcado pela credibilidade no educando e seu potencial de desenvolvimento crítico. E a construção da criticidade ocorre ao tornar possível a discussão dos problemas sociais. Para além da formação integral do ser humano, Paulo Freire destaca ser o diálogo peça essencial da educação. E, ao tratar desse caráter dialógico da educação, coloca-se em voga a importância de considerar a bagagem cultural, intelectual, social e psicológica trazida pelos estudantes. Nesse sentido, a educação deve ser um encontro de falas que gera vida comum, convivência, harmonia na alteridade, entendimento entre seres diversos. Dentro deste contexto, Soares e Pedroso (2013) são assertivos ao argumentar sobre a relevância de considerar a bagagem cultural trazida pelos jovens e adultos ao espaço escolar e ao processo de ensino e aprendizagem: [...] não se pode desconsiderar que esses alunos jovens e adultos possuem uma grande bagagem de conhecimentos, construída ao longo de suas histórias de vida. Eles trazem consigo saberes, crenças e valores já constituídos, e é a partir do reconhecimento do valor de suas experiências de vida e de suas visões de mundo que cada aluno jovem ou adulto pode apropriar-se das aprendizagens escolares de modo crítico [...]. (SOARES; PEDROSO, 2013, p. 252). Cabe destacar que a singularidade do Ensino Médio em relação aos outros segmentos constitui uma dinâmica própria do público que ele atende. Quando nos referimos aos estudantes do Ensino Médio, não nos reportamos a qualquer sujeito vivenciando a etapa de vida adolescente e jovem, e sim a um público particular e com características específicas, indivíduos que possuem certas peculiaridades socioculturais; sujeitos que serão ou já estão inseridos no mundo do trabalho; sobretudo, sujeitos que se encontram em uma etapa de vida diferente da etapa da infância. Desta feita, a formação integral deve compreender que o desenvolvimento dos estudantes vai muito além do aumento do tempo escolar e, ainda, da transmissão de 29 conteúdos. Isso significa que a aprendizagem não deve acontecer apenas em sala de aula, mas também em espaços e situações fora dela. Para isso, é preciso que a escola ofereça diferentes experiências que possibilitem aos estudantes trabalhar diversas habilidades. Dito isto, o Currículo Referência não deve se limitar à organização rígida de conteúdos a serem ensinados e aprendidos, mas deve propor o pensamento questionador de como e quais são as competências e habilidades que, traduzidas em direitos de aprendizagem, contribuirão para a formação integral dos estudantes. É de suma importância que as capacidades sejam conduzidas a um repertório que envolve a cultura, empatia, responsabilidade, cultura digital e projeto de vida. Ou seja, desenvolver um currículo integral, interdisciplinar e interdimensional, em que a centralidade das aprendizagens seja o estudante. 3.3 Interdisciplinaridade A educação para o século XXI necessita romper com modelos tradicionais para o ensino, pois nesse mundo globalizado, repleto de desafios e problemas cada vez mais complexos, todos que fazem parte da educação, são conduzidos a enfrentar mudanças e a colocar em prática o que se vem discutindo, desde a década de 70, a interdisciplinaridade. Essa se torna um eixo de fundamental relevância para a educação nesse novo olhar, que propõe o diálogo entre os componentes curriculares das áreas de conhecimento ao longo da etapa do ensino médio. Movimento de adoção do trabalho coletivo e para a redução do ensino fragmentado, que não consegue responder aos anseios das diversas realidades que se apresentam. A interdisciplinaridade vem para contribuir com o pensar e o agir global, permitindo a interconexão, que consequentemente, colaborará com o pensar e o agir local. Para isso, o pensar e agir terão que passar por uma considerável transformação, em que a postura de quem lida com a educação inclua, permanentemente, o ato de refletir, de analisar, de avaliar as próprias práticas, para encontrar possíveis respostas, que se adequem às necessidades de aprendizagem de todos os envolvidos. 30 Diante disso, faz-se necessário trazer para esta proposta uma breve retomada às concepções, que oportunizam uma reflexão, quanto ao que se compreende acerca da interdisciplinaridade. 3.3.1 Interdisciplinaridade – Concepções Dentre algumas leituras advindas de teóricos, acerca do que se compreende de interdisciplinaridade, pode-se afirmar que é muito mais do que uma ligação/interligação de conteúdos dos componentes. É sem dúvida, um compromisso com o conhecimento global e para entender melhor a proposta do ato interdisciplinar, destaca-se a compreensão abordada por dois autores brasileiros e pelos documentos oficiais que subsidiam o tema em questão. Em se tratandodos autores, a interdisciplinaridade diverge, tanto no aspecto epistemológico, quanto no aspecto metodológico, e isto decorre, a partir de duas concepções do ato interdisciplinar: a partir do professor e entre professores. O primeiro, porque é possível ser interdisciplinar a sós, buscando recursos nas várias ciências, áreas de conhecimento, sem necessariamente, encontrar-se em grupos e, o segundo, porque é possível buscar a unidade das ciências, das áreas de conhecimento, melhorando a comunicação e a integração entre os profissionais, em grupos. A principal referência no Brasil, quanto à interdisciplinaridade, é o autor Japiassu, 1976, que traz a concepção de que é um processo de interatividade mútua, ou seja, as disciplinas participam do processo, devendo influenciar e ser influenciadas umas pelas outras, tendo a unidade do conhecimento restabelecido, religado pelas relações disciplinares, que evoluem para uma linguagem comum, sem desconsiderar o terreno das especificidades. A segunda, é a da autora Fazenda, 2010, que tem o entendimento de interdisciplinaridade, enquanto uma atitude, que considera a maneira de ser e de fazer relacionada a uma maneira de enxergar e lidar com o conhecimento. Atitude de quê? Atitude de busca de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera frente aos atos não consumados; atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo, com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo; atitude de humildade frente à limitação do próprio ser; atitude de perplexidade frente a possibilidade de 31 desvendar novos saberes; atitude de desafio, desafio frente ao novo, desafio em redimensionar o velho; atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas; atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível; atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida (FAZENDA, 2010, p.170). Compreende-se que a interdisciplinaridade, à luz do que é investigado pela autora, corresponde a um modo de vida, que inicia em sala de aula, contudo a extrapola, que se fundamenta em conhecimentos e no autoconhecimento, por meio de diálogo, de reflexão e de ação e ainda, que é uma atitude de sentimentos diversos, em espaços permeados pelo respeito mútuo. Em relação aos documentos oficiais, destaca-se o PCNEM, 1999, em defesa da interdisciplinaridade, pois apresenta preocupação com o estudante, o qual deve ser capaz de construir um pensamento estruturado. Para isso, defende o que se apresenta. A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição de disciplinas e ao mesmo tempo, evitar a diluição delas em generalidades. De fato, será principalmente na possibilidade de relacionar as disciplinas em atividades, ou projetos de estudo, pesquisa e ação, que a interdisciplinaridade poderá ser uma prática pedagógica e didática adequada aos objetivos do Ensino Médio. O conceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo o conhecimento, que pode ser de questionamento, confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos. [...] A interdisciplinaridade também está envolvida quando os sujeitos que conhecem, ensinam e aprendem sentem necessidade de procedimentos que, numa única visão disciplinar, podem parecer heterodoxos, mas fazem sentido quando chamados a dar conta de temas complexos. (Brasil, 1999, p. 132). Assim, contextualizar o que se aprende por meio de conteúdos é construir conexões entre o que se aprende na escola com o cotidiano. Esta concepção defendida pelos PCNEM, 1999, permite aferir que é preciso romper com as barreiras, caminhando para uma visão interdisciplinar. Essa visão não é abordada claramente, na BNCC, 2017, porém, nesse documento, a abordagem voltada para os fundamentos pedagógicos, em “o compromisso com a educação integral”, é possível afirmar a necessidade de um trabalho, que pense na articulação de conhecimentos, os quais propiciem compreender a complexidade, rompendo com visões reducionistas, que se volte para o desenvolvimento pleno, nas singularidades e nas diversidades. 32 E na abordagem do RCA-EM, 2021, a interdisciplinaridade é apresentada nas áreas, em maior destaque, na área de Linguagens e fortalecida no componente Língua Portuguesa. Em linguagens, os profissionais propõem uma “atitude de ousadia e de busca frente ao conhecimento, considerando aspectos da cultura do lugar, onde se formam estudantes e professores”. E reforça esse encaminhamento, para o ensino médio. Na construção deste Referencial, optou-se pelas relações interdisciplinares e/ou transdisciplinares, que abordam as linguagens e suas manifestações na formação de sujeitos, livres, socialmente conscientes, criativos, propensos a aprender e a ressignificar conhecimentos adquiridos, pensar e ver o mundo de outras perspectivas. (AMAZONAS, 2021, p. 57). E ainda, nesse referencial, na parte que trata das concepções didático- pedagógicas, há uma referência ao gestor educacional que tem a missão, conjuntamente, com os profissionais de trabalhar, por meio do regime interdisciplinar, para guiar os estudantes nas trilhas da aprendizagem, no intuito de que aprendam e desenvolvam competências, e assim, continuem aprendendo. Diante do que fora expresso e considerando o mundo contemporâneo, é possível afirmar que a interdisciplinaridade corresponde a uma reconstrução, do pensar e agir, em uma relação teórico-prática, considerando o diálogo, enquanto caminho de possibilidade, para as diversas cooperações de diversos conhecimentos. 3.3.2 Interdisciplinaridade: sua importância na construção do conhecimento Em se tratando do conhecimento que se constrói, a partir dos conteúdos que se aprende no espaço escolar, um processo educativo na perspectiva da interdisciplinaridade, propõe que a relação teoria e prática fortaleçam uma formação mais crítica e criativa, permitindo a unidade na diversidade dos conhecimentos. Nessa condição, o que se estabelece é a comunicação entre os componentes e a interdisciplinaridade surge como o caminho para o entendimento entre eles, viabilizando a construção de saberes. Servindo enquanto principal complemento no conhecimento que proporciona o diálogo. Essa construção de saberes dá-se, em um ambiente de aprendizagem, em especial, na escola, em sala de aula, e ainda, ultrapassando muros, porque as 33 relações que são estabelecidas entre professores, estudantes e objetos de estudo, vão construindo o contexto, que os aproxima da realidade, colaborando para um sentido mais consistente. Na proposição da BNCC, expressa no RCA-EM, 2021, a atenção na importância do desenvolvimento integral, expõe o seguinte cenário “[...] a superação da fragmentação radicalmente, disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplicação na vida real, à importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu Projeto de Vida” (BRASIL, 2018, p. 15). Espaço legítimo para esse desenvolvimento, que precisa acompanhar as transformações pelas quais o conhecimento passa, é a escola que diante das mudanças em todos os segmentos da sociedade, terá a oportunidade de esforçar-se, para adotar e apoiar as exigências interdisciplinares. Não há outro mais importante ambiente, que tenha nas mãos a possibilidade de constituir-se, enquanto vivência e de servir, enquanto instrumento essencial, para o desenvolvimento do sujeito cidadão, criativo e autônomo. Diante desse cenário, em que professores e estudantes são conduzidos para vivenciar mudanças significativas serão necessárias em suas práticas, uma vez que juntos, criarão as possibilidades, que contribuirão, para a formação de todos, e em especial, dos estudantes,
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