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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 ARTETERAPIA E SAÚDE MENTAL ........................................................... 4 2.1 Arteterapia ............................................................................................ 8 3 REFORMA PSIQUIÁTRICA ...................................................................... 10 3.1 Arte e Psiquiatria ................................................................................ 13 3.2 Saúde mental e políticas públicas ...................................................... 17 4 TANSTORNOS PSIQUICOS .................................................................... 19 4.1 Psicopatologia e psicossomáticas ...................................................... 21 5 ARTETERAPIA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA COMPLEMENTAR EM SAÚDE 24 6 O SINTOMA COMO FORMA DE EXPRESSÃO ....................................... 27 7 A ARTE COMO ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA ....................................... 28 7.1 A influência da arte como terapia: Métodos e práticas ....................... 32 7.2 A dança como aspecto terapêutico no tratamento da depressão ....... 35 7.3 Arteterapia e reabilitação .................................................................... 39 8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 42 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. 4 2 ARTETERAPIA E SAÚDE MENTAL Fonte: revistasaberesaude.com No Brasil a história da arteterapia teve sua origem na primeira metade do século XIX, intimamente ligada a psiquiatria e influenciada pelas tendências teóricas Junguianas e Psicanalíticas. Osório Cesar (1895-1979 apud SOARES M; 2017) e Nise da Silveira (1905-1999 apud SOARES M; 2017) foram os psiquiatras pioneiros no trabalho artístico com pacientes em centros e instituições de saúde mental. (Vasques, 2009 apud SOARES M; 2017). A arteterapia é um instrumento terapêutico que incorpora diferentes áreas e se firma como prática transdisciplinar, ela propõe a libertação do indivíduo por inteiro resgatando a integralidade do mesmo, por meio das transformações e do autoconhecimento. As técnicas da arteterapia são baseadas em recursos artísticos, utilizando pintura, desenho, relaxamento, dança, modelagem. (Coqueiro, 2010 apud SOARES M; 2017). De acordo com a visão de Jung, a arteterapia tem como objetivo apoiar e criar ferramenta adequada, para que a função psíquica desenvolva símbolos em diversas produções, e dessa maneira leva a acionar a comunicação entre o consciente e o inconsciente. (Aguiar e Macri, 2010 apud SOARES M; 2017). As expressões artísticas têm o poder de proporcionar a cura, no sentido de possibilitar a expressão de 5 sentimentos, sensações e percepções, libertar-se da rigidez e do aprisionamento oferecidos como doenças. (Ciornai, 2004 apud SOARES M; 2017). A arteterapia ajuda as pessoas a escolherem livremente entre os inúmeros materiais oferecidos, a escolher o material que mais lhes convém, a mesma faz com que o indivíduo mostre a si mesmo e ao mundo exterior seu verdadeiro estado psicológico. Isso esclarece a singularidade que serve como instrumento de transmissão e desbloqueio da consciência, instruções e informações, tanto para despertar e desencadear a criatividade do inconsciente, como também para despertar e desencadear a criatividade. (Cardoso e Munhoz, 2013 apud SOARES M; 2017). A expressão da emoção e da sensação através da arte é a própria expressão do inconsciente, pois ao produzir o indivíduo pode estabelecer uma linguagem com o meio. Através da produção artística poderá haver uma reinvenção do cotidiano e a aproximação do indivíduo doente ao mundo social. (Valladares, 2004 apud SOARES M; 2017). De modo geral, a arteterapia ensina o indivíduo a buscar o respeito por si próprio, o aumento da autoestima, autoconsciência, autoconhecimento, como parte de uma relação individual e social, aumento da alegria de se sentir bem e de ver as situações do dia a dia sob novas perspectivas. Com a arteterapia é possível obter um melhor acesso à dinâmica psicológica e à memória. (Cardoso e Munhoz, 2013 apud SOARES M; 2017). Para SOARES M; (2017) a arteterapia é uma forma de intervenção amplamente utilizada na assistência psiquiátrica no cuidado da saúde mental. As oficinas descrevem a relevância dessa abordagem no processo de tratamento, que visa aprimorar o tema de forma holística, buscar a sua reintegração, o alívio dos sintomas e também a promoção da autonomia durante todo o processo de tratamento. Em meados do século XX deu-se início uma crise do Paradigma da Ciência Moderna, no qual a mesma passou a ser questionada (FERREIRA, CALVOSO, GONZALES, 2002 apud PINANGÉ D; 2018). É nesse contexto de rupturas e mudanças que o campo da saúde mental passa por transformações e que se dá o surgimento da Psiquiatria. A loucura era assunto dos filósofos e a influência da religião em sua concepção era forte, visto que se entendia que a pessoa acometida pela loucura era alguém possuído por demônios. Ou seja, a loucura pertencia ao âmbito do sobrenatural (PAIN, 2009 apud PINANGÉ D; 2018). Conforme TERRA C; (2008) o conceito de loucura geralmente se refere a algo inadequado, diferente, como comportamento inaceitável e dificuldade de adaptação ao ambiente. Já em relação a obra artística, apesar de muitas vezes sem lógica e 6 também desviada das normas sociais, tende a ter seu lugar garantido na sociedade porque tem o destaque de arte, ela se legitimiza, enquanto os loucos tendem a ser excluídos da vida social. Podemos analisar e observar isso na história da arte, especialmente quando se trata de artistas como MOZART, ARTAUD e VAN GOGH, cujo comportamento foi julgado impróprio, portanto, foram desqualificados e julgados pela sua época. No entanto, suas obras são preservadas e eles têm o respeito que merecem, embora o reconhecimento tenha ocorrido séculos depois. Se a arte é a expressão humana da criação de sensações ou de estados de espírito de caráter estético carregados de vivência pessoal e profunda, como define a língua portuguesa, então ela está próxima da vivência da loucura, pois se relaciona com os sentimentos, emoções, vivência de caráter eminentemente pessoal, desprovida de uma lógica comum, de uma estética única, mas como representação de uma experiência singular. (MUNARI, 2004, p.73 apud TERRA C; 2008). Segundo Wahba (2005 apud TERRA C; 2008), o próprio desenvolvimento de criação aproxima o artista das linhas da loucura, e nesse sentido quando o sujeito cria, entra em contato com elementos de sombra no seu inconsciente e este momento pode correr o risco de ser atacado por complexos e arquétipos reprimidos e inconsciente. Se caso não consentir os elementos da sombraadaptando-os à sua realidade, o artista pode não conseguir executar o caminho de volta e, como consequência, acabar levando o sujeito à loucura. Como afirma Silveira (1992 apud TERRA C; 2008), as funções criadoras surgem devido à repressão de instintos, a emoções intensas que ameaçam arrebentar a estrutura do ego. O artista consegue integrá-las às normas de seu ego. Esta segunda etapa é mais difícil para o esquizofrênico. Embora também se esforce para restaurar o ego, ele se inclina para o não- convencional, para o insólito, o antinatural. (p. 91). Como caracteriza TERRA C; (2008) quando reconhece o poder mobilizador da arteterapia que está entrelaçada com a atividade criativa e artística, a mesma irá objetivar a conquistar este momento de contato profundo com os elementos do inconsciente e vai permitir o reconhecimento e a inserção deste conteúdo a partir do desenvolvimento do processo expressivo, levando ao sujeito ter uma vida plena e satisfatória, vivendo a vida conforme com quem ele realmente é, e não com o que a cultura da sociedade espera que ele seja. 7 Nas palavras de TERRA C; (2008) desde o início da história das instituições psiquiátricas, a arte tem sido utilizada por pacientes que sofrem por algum tipo de transtorno mental, embora tenha sido utilizada apenas como meio para acalmar e apaziguar os pacientes, a mesma também pode mantê-los atarefados como forma de ocupação. Em relação à utilização terapêutica da arte, isso aconteceu tempos mais tarde. Assim, o lugar do adoecimento mental na sociedade, a lógica biomédica do adoecimento mental e o tratamento das crises estão se transformando em uma complexidade de fatores e atores que fazem parte da experiência e da história do paciente. Dessa maneira, é essencial que faça um serviço de atenção psicossocial para que dê conta de tal complexidade. A partir desse tipo de serviço, os médicos criam outro tipo de relação e deixa de ser médico-doença e passa a voltar a atenção para uma rede de relações entre indivíduos (AMARANTE, 2007 apud PINANGÉ D; 2018). Segundo Valladares (2004 apud TERRA C; 2008), a Reforma Psiquiátrica é um processo contínuo de reflexões e transformações das maneiras de se lidar com a loucura, com a diferença e com o sofrimento mental, mudanças estas que ocorrem ao mesmo tempo nas áreas assistenciais, culturais e conceituais. Referem-se, sobretudo, às transformações nas relações que a sociedade, os sujeitos e as instituições estabelecem para a superação do estigma, da segregação e desqualificação do doente mental, tentando assim construir um novo “imaginário social”, diferentemente do que existiu ao longo dos anos, que enfocava a periculosidade, a irrecuperabilidade e a incompreensão da pessoa portadora de doença mental. (p.12). Com a autorização do Ministério da saúde criou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNIPIC) como mais um processo de implementação do SUS. A PNIPIC colabora com a questão do princípio da integralidade e tem como objetivo de relacionar e intensificar ações e serviços do SUS, bem como amplificar, em espaços públicos, a acessibilidade aos serviços que até o momento vem se restringindo ao âmbito privado (BRASIL, 2006 apud PINANGÉ D; 2018). A respeito do uso de recursos artísticos, estes passam a ser utilizados nos Serviços de Saúde Mental, ancorados nas diretrizes propostas pela lei nº 10.216/2001, que trata dos direitos de pessoas acometidas por sofrimento mental e os tipos de assistência a elas prestadas (BRASIL, 2001 apud PINANGÉ D; 2018). Pereira e Firmino (2010 apud PINANGÉ D; 2018) sinalizam a potência das oficinas e da utilização de arte como terapia, situando-os enquanto dispositivos que podem vir a somar ao acompanhamento medicamentoso e 8 possibilitar ruptura com práticas de cuidados tradicionais, na medida em que tais oficinas buscam promover e acolher o sujeito em sua integralidade, considerando aspectos psíquicos e sociais. É considerável ressaltar, aqui, que os (a) autores (a) que citaram a respeito do que estão chamando de arte como terapia: concerne a arte como recurso que possibilita ao sujeito estabelecer a reflexão e a construção de sentidos. Lopes (2012 apud PINANGÉ D; 2018) realiza trabalhos relevantes sobre o papel da arte no cuidado e apoio a pessoas com sofrimento mental. A tarefa de situar historicamente e epistemologicamente a Arteterapia traz consigo a necessidade de se voltar para a história da Arte, bem como a sua relação com a loucura durante os tempos. A arte aparece, na história da humanidade, há cerca de 25 mil anos, na pré-história, onde já se tem registros de pinturas nas paredes das cavernas (BARREIRA, BRASIL, 2012). É importante ressaltar que as expressões artísticas, durante todo o tempo e história da humanidade, denunciam o contexto social, político e ideológico de cada época e cultura (OSTROWER, 1977 apud PINANGÉ D; 2018). O Código de Ética do (a) profissional Psicologia afirma que essa área de conhecimento não pode ser vista como imutável, necessitando estar sempre em reflexão, aprimoramento e diálogo com diversas áreas de conhecimento, a fim de olhar o sujeito em sua integralidade. Assim, a aproximação e diálogo entre a Arteterapia e a Psicologia aponta para um terreno fecundo (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005 apud PINANGÉ D; 2018). 2.1 Arteterapia Arteterapia é uma área de atuação profissional que utiliza recursos artísticos com finalidade terapêutica de forma predominantemente não verbal. A Associação Brasileira de Arteterapia define essa prática como sendo “um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente-profissional. Sua essência é a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde” (Silva, Carvalho & Lima, 2013 apud BONATTI G; et al., 2014). A aplicação da arteterapia pode ser feita em diferentes contextos como na avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação voltados para a saúde assim como instrumento pedagógico na educação e como meio para o desenvolvimento (inter) pessoal (Sei, 2011 apud BONATTI G; et al., 2014). Partindo das considerações acerca 9 da arteterapia, vemos que a mesma pode ser um recurso de suma importância no contexto da saúde para auxiliar no trabalho com as demandas subjetivas dos usuários. O recurso da arte aplicado à psicopatologia originou-se quando Carl Jung passou a trabalhar com o fazer artístico, em forma de atividade criativa e integradora da personalidade: "Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida" (Jung, 1920 apud GIAGIO D; 2010). Sendo assim a Arteterapia visa a promoção da qualidade de vida através de recursos vindos das artes, utilizando-se da atividade artística como instrumento de intervenção profissional para a promoção da saúde e a qualidade de vida. As linguagens utilizadas são em geral plástica, sonora, literária, dramática e corporal tendo como base técnicas expressivas: desenho, pintura, modelagem, música, poesia, dramatização e dança (Reis, 2014 apud GIAGIO D; 2010). A arte é uma área do conhecimento que abrange diferentes linguagens e práticas, como as artes visuais, a literatura, a música, a dança, o cinema, o teatro, entre outros. Se apresenta como uma forma diferenciada de constituição do sujeito. “Seu domínio é o do não racional, do indizível, da sensibilidade: domínio sem fronteiras nítidas, muito diferente do mundo da ciência, da lógica da teoria” (COLI, 2004, p. 109 apud ROCHA F; 2016). Ainda para este autor (2004 apud ROCHA F; 2016), a arte transforma, desperta emoções e reações culturalmente ricas. Além disso, é uma questão que sempre será envolta de dúvidas, questionamentos e discussões e é nesse sentido que a arteterapia se desenvolve, pois, é despida de preconceitos e normas. Segundo Maciel eCarneiro (2012 apud ROCHA F; 2016), o termo terapia, do grego thaerapia, no sentido original, é o ato de render culto ou servir à Deus. Na contemporaneidade, terapia significa tratamento, cura, restabelecimento da qualidade de vida. A arteterapia está profundamente ligada à História da Arte, à Psicanalise e à Psiquiatria. Mesmo assim, não se pode restringi-la a estas áreas, uma vez que está conectada a diversos campos do conhecimento. Ela nasce, então, na tentativa de acessar conteúdos inconscientes por meio da expressão artística para, então, colaborar no processo de cura do paciente. Para Paín (2009, p. 21 apud ROCHA F; 2016), “a utilização da arte com fins terapêuticos só pode ser concebida no momento em que a clínica psicoterapêutica mudou fundamentalmente”. Essa transformação se deu na medida em que a sociedade modificou a visão a respeito da doença mental. Caterina (2005 apud 10 ROCHA F; 2016) postula que há relatos da união entre arte e saúde nos trabalhos do psiquiatra alemão Reil, discípulo de Pinel. Este desenvolveu, no início do século XIX, estágios que pretendiam a cura psiquiátrica. Dentre eles, estava a realização de atividades artísticas, por meio de estímulos físicos, intelectuais e sensoriais que estimulavam a expressão do mundo interno de cada paciente. Esta prática terapêutica propicia mudanças psíquicas como a expansão da consciência, reconciliação de conflitos emocionais, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal (SOUZA, s/d). Por ser uma modalidade que permite liberdade de escolha de métodos e materiais, pode ser realizada por crianças, adultos e idosos. A Arteterapia, enfim, promove, preserva e recupera a saúde dos pacientes. Possibilita a transformação do ser humano, desenvolvendo-o em uma dimensão holística. Além disso, reaproxima esses indivíduos da sua própria essência, com base em um maior autoconhecimento, fazendo com que adquira um encantamento por si mesmo e pelo mundo novamente (GELAIN, 2013 apud ROCHA F; 2016). De acordo com GIAGIO D; (2010) Partindo do princípio de que muitas vezes não é possível falar de conflitos pessoais, a Arteterapia oferece recursos artísticos para que todos esses processos sejam concebidos e analisados, para que obtenham uma melhor compreensão de si e possam ser trabalhados em prol da liberação emocional. Podemos dizer que através da arteterapia, o indivíduo consegue ampliar o seu conhecimento em relação a si e aos outros, pode também aumentar a autoestima, e aprende a lidar melhor com os sintomas, o estresse e as experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais. 3 REFORMA PSIQUIÁTRICA A Reforma Psiquiátrica é um processo de rupturas discursivas que refletem na forma de pensar e praticar o cuidado nos territórios e serviços de saúde. Falar de sua história não é tarefa fácil, pois esta é constituída a partir de várias narrativas e diversas dimensões que esbarram no campo da ética e da epistemologia, se aproximando e distanciando de acordo com os moldes do solo em que germina (BAGNOLI, 2016 apud MACÊDO D; et al., 2020). 11 Segundo Goulart e Durães (2010 apud BARROSO S; 2011), a garantia dos direitos das pessoas com transtornos mentais passa pelo constante estudo crítico do processo de reforma psiquiátrica, seus êxitos e fracassos, pois a reforma psiquiátrica ainda é um processo em construção. Visando contribuir para o contínuo repensar, retoma-se nesse trabalho fatos selecionados desde a década de 1970, considerando sua relevância histórica como agentes antecedentes para a alteração da política pública para o atendimento psiquiátrico no país. De origem política, social e econômica, a mencionada Reforma foi influenciada pela ideologia de profissionais de saúde mental para reformular a atenção prestada aos pacientes com transtornos mentais em todas as esferas do governo, garantindo a integralidade de suas ações (BRASIL, 2005; GONÇALVES; SENA, 2001. 49). A práxis da reforma psiquiátrica, dessa forma, passou a fazer parte do cotidiano de um número considerável de profissionais de saúde mental e familiares de pessoas com transtornos mentais (GONÇALVES; SENA, 2001 apud PEREIRA E; 2017). No entanto, já nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil passou por uma grande transformação na assistência psiquiátrica, resultante da organização do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, o qual tinha na sua proposta principal substituir os hospitais psiquiátricos, tidos como segregadores e iatrogênicos, por serviços mais estruturados em promover a ressocialização dos usuários (SANTOS, OLIVEIRA, YAMAMOTO, 2009 apud PEREIRA E; 2017). Estes princípios nortearam a Reforma Psiquiátrica Brasileira, propondo ir além das mudanças técnicas até a desconstrução do conceito da loucura dentro da própria sociedade, por meio de um processo chamado “desinstitucionalização” (TENÓRIO, 2002 apud PEREIRA E; 2017). Nos anos 90, a Reforma Psiquiátrica Brasileira passa a ser finalmente encampada pelo Ministério da Saúde e os hospitais psiquiátricos passam a ser substituídos pelos centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência, Residências Terapêuticas e ambulatórios). Nesse contexto, embora regulamentado pela portaria 224/1992, os ambulatórios passam a existir segundo dois modelos, o tradicional e o da Reforma; o primeiro dispondo essencialmente de cuidados curativos, o segundo oferecendo atendimentos individual e em grupo, visitas em domicílio e atividades terapêuticas psicossociais, sempre acompanhados por equipe multiprofissional (SANTOS, OLIVEIRA, YAMAMOTO, 2009 apud PEREIRA E; 2017). 12 A partir daí, pretendeu-se estimular a visão da pessoa com transtorno mental como alguém detentor de direitos, estabelecendo uma nova forma de relação fundamentada na possibilidade de “autonomia e liberdade, a fim de se estipular relações de solidariedade, confiança e acolhimento” conforme SANTOS, Oliveira, e Yamamoto, (2009 apud PEREIRA E; 2017). Em 2002, o Ministério da Saúde definiu e regulamentou os serviços oferecidos pelos Centros de Atenção Psicossocial. Em 2005, a Portaria Interministerial 353/2005 instituiu o Grupo de Trabalho de Saúde Mental e Economia Solidária, com objetivo de “[...] construir um efetivo lugar social para os portadores de transtornos mentais, por intermédio de ações que ampliem sua autonomia e melhora das condições concretas de vida”. (BRASIL, 2005 apud GONÇALVES E; et al., 2018). Em 2011, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria n° 3.088/2011 instituiu e regulamentou a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), definindo no seu Art. 1º por sua finalidade “[...] a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). ” (BRASIL, 2011 apud GONÇALVES E; et al., 2018). A Rede de Atenção Psicossocial é constituída pela Atenção Básica em Saúde, pela Atenção de Urgência e Emergência, Atenção Residencial de Caráter Transitório, em Comunidades Terapêuticas ou em Unidades de Acolhimento, Atenção Hospitalar, oferecida por meio de leitos em Hospitais Gerais; Residências Terapêuticas e, por fim, promoção da Reabilitação Psicossocial. (BRASIL, 2011 apud GONÇALVES E; et al., 2018). Apesar de mais atual que a Reforma Sanitária a Reforma psiquiátrica brasileira tem uma história própria, num contexto de mudanças pelas superações da violência asilar. Consiste em um processo político complexo, que acontece em diversos territórios, nos governos federais, estaduais e municipais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e da sua família, nas universidades, nos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, entre outros (BRASIL, 2005 apud ESPINDOLA A; et al., 2018). 13 Envolvida como conjunto de transformações de práticas, valoresculturais e sociais, saberes. No cotidiano das instituições, das relações interpessoal e nos serviços é que a reforma psiquiátrica progride, marcado por crises, conflitos, tensões e desafios (BRASIL, 2005 apud ESPINDOLA A; et al., 2018). A desinstitucionalização coloca em evidência, a nosso ver, a articulação entre as práticas institucionais e as não-institucionais, ou as ações coletivas que devem ser esclarecidas, mas sem perder à vista de que e a quem se pode atribuir o empreendimento de autoconstrução ou reinvenção societária. Entendemos que os processos de mudança mobilizam esforços de participação, por longos períodos de tempo, não sendo, simplesmente, tributário ou resultante de tensões ou contradições estruturais e conjunturais, genericamente, entendidas como forças instituintes (VASCONCELOS, 2000 apud MARTINES R; et al., 2007). A reforma psiquiátrica foi construída com a sociedade incluída no debate, diferente das recentes políticas verticais que estão surgindo. O Brasil tem uma das políticas de saúde mental mais respeitadas no mundo. A criação do CAPS, enquanto serviço comunitário, deveria ser valorizado e ampliado cada vez mais, no entanto, temos um retrocesso em curso (CAVALCANTI, 2019 apud BARBOSA A; 2019). Trazer à luz o cenário atual é relevante na manutenção da luta pela reforma psiquiátrica e da democracia. A sociedade deve se mobilizar em defesa do SUS, pois defender o SUS é defender a vida. A partir da conscientização, a resistência pode partir dos vários setores e atores, formando um grande movimento com o propósito de combater aos retrocessos que atualmente se impõem em nosso país (DELGADO, 2019 apud BARBOSA A; 2019). 3.1 Arte e Psiquiatria De acordo com ARÊAS D; (2011) este tópico esclarece algumas questões sobre a relação entre arte e psiquiatria. Desde o final do século XIX, a ciência enquanto psiquiátrica tem buscado um tratamento mais humano para pessoas com transtornos mentais. Desde muito antigamente a arte teve um papel importante na saúde, a expressão simbólica presente na arte foi, como sugere Machioldi (2007 apud ROMAN J; 2013), uma importante parte dos antigos rituais de cura realizados por civilizações 14 como egípcia, suméria, maia e chinesa, e consequentemente a arte foi vista enquanto atividade terapêutica, pois a humanidade acreditava que ela poderia ser mágica, efetuar mudanças ou transformar as pessoas e as circunstâncias. O grande problema para psiquiatria enquadrada nos modelos das ciências naturais era, e ainda hoje é, a questão da determinação das causas das doenças mentais. As neuroses, em particular a histeria, e a demência precoce, hoje reclassificada e nomeada de esquizofrenia, desafiavam o modelo cientifico. É nesse contexto, como cientistas típicos do século XIX, preocupados com a determinação das causas das doenças mentais, que se inserem primeiramente Freud e depois Jung. (REVISTA MENTE E CÉREBRO, v.2, p.18 apud ARÊAS D; 2011). Para ARÊAS D; (2011) cabe destacar que a experiência psicanalítica inaugurada por Sigmund Freud no final do século XIX, levantou a questão do inconsciente e marcou o encontro da loucura com a linguagem. De acordo com Freud a psicanálise tem sua a intervenção terapêutica voltada para a associação livre, onde o terapeuta não direciona a questão a ser trabalhada, ou seja, essa intervenção deixa que o próprio paciente coloque seu inconsciente em analise e traga seus conteúdos. Dessa maneira, os conteúdos inconscientes que são manifestados pelo sujeito no “ setting” clínico se configuram e são estruturado durante o processo terapêutico. Conforme ARÊAS D; (2011) a tentativa de renovação da Arte e da cultura ocidental foi marcada no início do século XX na Europa. Em busca de uma nova maneira de criar, artistas. Os pensadores da época tentaram fugir dos esquemas e moldes acadêmicos e passaram a se interessar pela produção de pessoas consideradas “doentes mentais” ou marginalizadas em relação sociedade. O Brasil estava passando por um período de turbulência e revitalização da arte, ele tentou se libertar dos moldes europeus e tentou destacar os traços característicos de sua própria cultura. Como caracteriza ARÊAS D; (2011) o meio artístico europeu e o brasileiro passaram a valorizar o simples e o primitivo, e isso aconteceu através do questionamento dos parâmetros e regras que eram impostos pela sociedade e pela tradição cultural, bem como tudo aquilo que fugisse dos moldes acadêmicos. A partir dessa questão os médicos pensavam que havia uma possibilidade de detectar sintomas de degeneração através da análise da criatividade de produção plástica dos alienados, eram próximos da subversão estética que era buscada pelas vanguardas artísticas e distantes da tradição plástica europeia. 15 A sistemática reconstrução histórica desse processo de mudança estética, essa inesperada disposição na transformação de percepção e influência, para Mcgregor (1992 apud ROMAN J; 2013) é necessária pelo fato de que nesses atos de reavaliação está a evidência de que essa mudança de concepção da natureza e função do processo criativo e seus produtos, os quais tiveram um pronunciado efeito na forma e conteúdo das imagens visuais, nasceu nesse novo contexto. Para os interessados, esses objetos e imagens grosseiras contêm uma intensidade surpreendente e um latente senso de trabalhar mudanças no meio. Para os artistas da virada desse século, essas novas imagens parecem ter satisfeito uma profunda necessidade de contato, e o cultivo delas, uma radical e diferente estética. Para ARÊAS D; (2011) foi neste momento que surgiu a arte contemporânea, que não pretende agradar ou despertar as sensações agradáveis que acompanham a beleza, porque muitas vezes são imagens confusas, desordenadas, em decorrência da passagem de pura emoção na tela ou em qualquer outro meio. Vemos isso nas obras de movimentos de vanguarda, como o surrealismo, que se interessaram pela maneira de pensar das pessoas com transtornos mentais, o que deu origem a obras que coincidiam com o que procuravam, ou seja, uma arte que era a produto de um processo criativo, no qual os conteúdos do inconsciente emergiram. É neste período que se realizam grandes reflexões sobre o que é Arte e é neste ajustamento sobre o sentido e a intenção da Arte que Arteterappia se beneficia. A contribuição do doente mental para esse novo campo de estudo e resposta estética, embora óbvia, merece ser enfatizada. As raras imagens cujo poder tornou atrativa e visualmente fascinante, estavam sendo criadas por pessoas reais e sensíveis. Conforme Mcgregor (1992 apud ROMAN J; 2013) essas imagens são a expressão de seus conflitos mentais, insights, confusão e dor; e, como na maioria das artes, elas representam um acidental, contudo profundo presente da humanidade. (...) a atividade que realiza em nome da arte não é, em absoluto, arte. Na arteterapia, a arte é concebida como uma metáfora, ou melhor, algo que se assemelha à arte, indicada por sua dupla condição: por um lado, aquele que frequenta o ateliê não se compromete com um aprendizado sistemático das regras do oficio, nem com a criação de ideias plásticas cuja coerência estética seja completa e socialmente reconhecida; por outro lado a arteterapia demanda da arte um serviço útil. Este serviço terapêutico constitui a própria definição de arte, projetando simultaneamente sobre o paciente a tensão contraditória inerente à possibilidade de cura. A atividade artística transforma- se assim em representação dramática da intenção criativa do sujeito. É nessa duplicidade que encontramos a eficácia terapêutica dessa modalidade clínica. (PAIN, 2009, p.12 apud ARÊAS D; 2011). 16 Segundo ARÊAS D; (2011) em relação ao que foi contextualizado sobre a reflexão dos artistas e médicos no cenário social da Arte e loucura, pode-se dizer que é nesse momento que a Arteterapia começaseu trabalho dando início ao contexto psiquiátrico. Nesse sentido pergunta-se, que lugar a Arte tem na psiquiatria? Na instituição psiquiátrica, ela apresenta-se como um lugar “a parte”, com um enquadramento e uma disciplina contratual. O sujeito vem ao ateliê porque quer passar o tempo, para se divertir, ou porque gosta de pintar. A questão não é essa, pois todas essas motivações são pertinentes e sujeitas a contradições. É através da própria atividade que o sujeito pode descobrir possibilidades das quais nunca suspeitaria. O essencial é que, louco ou não, ele descubra o papel do artista a quem é tudo permitido, dentro das restrições materiais e da relação com os outros participantes. O poder do arteterapeuta lhe é conferido não somente pela instituição, mas também pelos pacientes quando sentem necessidade de ser orientados. Essa delegação de poder é uma astúcia da doença que visa manter alguns sintomas e deixar o sujeito em estado de dependência. É justamente mediante a utilização da arte que a utopia antipsiquiátrica encontra um terreno onde atuar e modificar o olhar dos outros sobre o sujeito. (PAIN, 2009, p.31 apud ARÊAS D; 2011). Osório Cesar e Nise da Silveira, de acordo com Calacchio (2007 apud ROMAN J; 2013), ao introduzirem a possibilidade de construção de um novo modo de olhar e lidar com o sofrimento mental, não mais como déficit ou desvio, e sim, como expressão e reconhecimento do direito à diversidade e à diferença, se tornaram nos dias de hoje, ícones da reforma psiquiátrica brasileira. Valladares (2004 apud ROMAN J; 2013) aponta que com a perspectiva da reinserção e reabilitação psicossocial presentes na atualidade, as práticas artísticas em saúde mental possuem finalidades e propósitos bem definidos, como a reintegração do indivíduo na sociedade, onde são geradas ações inclusivas que proporcionam heterogeneidade, além de fazer com que usuário mantenha contato e comunicação com o mundo real. Como aponta ARÊAS D; (2011) é nessa perspectiva que a nova política de Saúde Mental implementa o CAPS, na qual é uma instituição aberta ideal para dar aos pacientes a oportunidade desse encontro com a Arte, promovendo a ressocialização do sujeito e o desenvolvimento de sua autonomia como cidadão. O indivíduo com maior desenvolvimento de sua personalidade. A Arteterapia, aplicada à psiquiatria e de acordo com os novos paradigmas de atenção em Saúde Mental, é um processo terapêutico predominantemente não-verbal, por meio das artes plásticas acolhe o ser humano com toda complexidade, dinamicidade, objetivando a reinserção e inclusão social do doente mental. (VALLADARES, 2008, p.98 apud ARÊAS D; 2011). 17 De acordo ARÊAS D; (2011) a Arte tem como objetivo permitir ao sujeito expressar seu potencial como pessoa, dando-lhe o direito de interagir e conviver com a sociedade. A única maneira de quebrar o estigma é mostrar que as pessoas com sofrimento psicológico ou problemas mais severos de saúde mental ainda são pessoas produtivas e ativa, e a arte desempenha um excelente papel nesse processo. 3.2 Saúde mental e políticas públicas Conforme FERNANDES A; (2017) o processo histórico da saúde mental apresenta grandes desafios políticos e sociais, o seu progresso foi acompanhado por mudanças em destinadas a assegurar os direitos de cidadãos com problemas de saúde mental. A atenção torna-se um desafio para o governo, pois tem que redimensionar novas propostas com modelos mais eficazes, introduzindo novos recursos metodológicos e técnicos. Para FERNANDES A; (2017) a partir do modelo assistencial dos hospitais psiquiátricos da década de 1960, houve a necessidade de mudança no modelo de atenção à saúde mental. De acordo com os movimentos de trabalhadores em saúde mental (MTSM), passaram a denunciar as violências nos ditos manicômios onde as modificações passaram a ser exigidas. E isso se deu através da formação de sindicalistas, membros de associações, integrante do movimento sanitário e por pessoas com internações psiquiátricas. A política de saúde mental no Brasil evoluiu de um modelo "hospitalocêntrico" para um modelo de assistência comunitária em direção a um acompanhamento psicossocial (Pacheco, 2005 apud PONTES S; et al., 2014). A ideia de uma rede de atenção à saúde mental, acompanhada da reabilitação psicossocial, é um dos pilares da nova política de saúde mental brasileira. Desse modo, reuniremos os principais atos legais que orientam esse processo. De acordo com FERNANDES A; (2017) os cuidados à saúde mental ocorriam através da divisão nacional de saúde mental, por meio desta a função exercida era de planejamento de campanhas e manutenções em hospitais públicos psiquiátricos. Contudo, a criação da Coordenação Geral de Saúde Mental (CGSM), juntamente com o departamento de Atenção Básica (DAB), do Ministério da Saúde (MS), naquele momento eram cientes que havia uma necessidade da implantação de ações de 18 saúde mental na atenção básica, decidiram efetivar o Plano Nacional de Incorporação de Ações de Saúde Mental no âmbito da Atenção Básica, dentro do conjunto de ações que compõem o cuidado integral à saúde, com ações de impacto no sistema público no que se refere as políticas de saúde mental, que surgiram a partir do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a legislação, a Rede de Atenção Psicossocial nesse modelo tem como diretrizes: a defesa dos direitos humanos, garantindo a autonomia, a liberdade e o exercício da cidadania; a promoção da equidade; a garantia do acesso e da qualidade dos serviços; a ênfase nos serviços de base territorial e comunitária, diversificando as estratégias de cuidado com controle social dos usuários e de seus familiares; as organizações de serviços em rede e de ações intersetoriais; e desenvolvimento da lógica do cuidado centrado nas necessidades das pessoas com transtornos mentais. (BRASIL, 2011 apud TAURO D; et al., 2018). A Reforma Psiquiátrica, como vem sendo proposta, configurou-se então como um processo político e social complexo, composto de diversos atores e instituições, é um movimento que incide nos diversos setores da sociedade, como governos federal, estadual e municipal, universidades, serviços de saúde, conselhos profissionais, movimentos sociais. Sobretudo, esse movimento deve ser compreendido como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, e que só pode avançar no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais. Segundo Brasil (2005, p.45 apud FARIA E; et al., 2016) “um dos principais desafios para o processo de consolidação da reforma psiquiátrica brasileira é a formação de recursos humanos capazes de superar o paradigma da tutela do louco e da loucura. ” Brasil (2005) ainda alerta que o processo da reforma psiquiátrica exige cada vez mais da formação técnica e teórica dos trabalhadores, muitas vezes desmotivados por baixas remunerações ou contratos precários de trabalho. Schranke Olschowsky (2008 apud FARIA E; et al., 2016) afirmam que é prudente a inserção dos familiares das pessoas com transtornos mentais no dia a dia da rede de atenção à saúde mental e na sua militância, na luta por uma sociedade sem manicômios, nos movimentos sociais. Para eles, são essas medidas que estão conseguindo garantir os direitos, provocando mudanças nas políticas públicas e na 19 cultura de exclusão do louco na sociedade. Assim, o grande desafio da Reforma Psiquiátrica é construir um novo lugar social para os loucos. Diante desse quadro Hirdes (2009 apud FARIA E; et al., 2016) afirma sobre a necessidade de formação de profissionais devidamente capacitados, em todos os níveis, desde a graduação até a especialização. Brasil (2005, p.4 apud FARIA E; 2016) afirma que o “Ministério da Saúde convoca os grandes centros brasileiros de alto nível acadêmico para que tomem também para si a tarefade produzir análises sobre os novos serviços e novo modelo de atenção. ”, ou seja, construir espaços de reflexões, bem como de novas propostas a serem implementadas. (BRASIL, 2005, p. 47 apud FARIA E; 2016). 4 TANSTORNOS PSIQUICOS Fonte: citocenter.com.br Os transtornos mentais são entendidos como alterações psicológicas e comportamentais em que ocorrem em estados significativos que se caracterizam por mudanças na forma de pensar sobre o humor e as emoções ou por comportamentos relacionados ao estresse pessoal e / ou funcionamento prejudicado, explica – se os transtornos por causas biológicas e sociais, onde é necessário um atendimento com a assistência adequada e humanizada com o objetivo de ressocializar o paciente com transtorno mental junto com a família, onde as pesquisas mostram que a grade maioria 20 dos pacientes demonstram seus sintomas durante a infância (BRASIL, 2001 apud QUEIROZ T; 2016). Rodriguez et al. (2012 apud QUEIROZ T; 2016) apontam que os transtornos mentais são reconhecidos como doenças crônicas de alta prevalência em todo mundo e contribuem para a morbidade precoce, podendo levar a incapacidade e a mortalidade. Estima-se que 25% da população geral sofrerá de um ou mais transtornos mentais ao longo da vida, os mesmos são descritos e caracterizados por sintomas e sinais que são específicos para cada transtorno existente, acarretando em consideráveis impactos e prejuízos na funcionalidade e diminuição da qualidade de vida do sujeito, juntamente com a família. Menezes (1996 apud QUEIROZ T; 2016) afirma que estudos mostram que milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de algum tipo de transtorno mental e esse número tem aumentado gradativamente, apresentando uma alta prevalência na população. De acordo com essa afirmação, os transtornos mentais foram reconhecidos como um grave problema de saúde pública com custos econômicos, sociais e humanos na década de 1990. Estudos mostram que cinco entre dez doenças diagnosticadas estavam relacionadas à depressão, transtorno bipolar, uso de álcool, esquizofrenia e transtorno obsessivo-compulsivo (FORTES, 2010; SANTOS; SIQUEIRA, 2010 apud QUEIROZ T; 2016). Murray e Lopez (1998 apud QUEIROZ T; 2016), afirma que a compreensão de que os transtornos mentais configuram um problema de saúde pública é um tanto recente, ocorrendo a partir de pesquisas e estudo publicados, sobretudo realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), assim também como pelos pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard. Rosa (2005 apud QUEIROZ T; 2016), diz que durante a fase inicial dos transtornos psíquicos apresentado pelos indivíduos, a família tem um papel, sobretudo fundamental na construção da nova trajetória de vida que será enfrentada pelo familiar dentre elas, ajudar na dificuldade para lidarem com situações de crises que irá enfrentar, com o pessimismo de que não consegue ver uma saída para o problema enfrentado e sua expectativa frustrada de cura, assim como o aceitamento da doença. Waidman (2001 apud QUEIROZ T; 2016) ressalta em relação ao acompanhamento da família que é de grande importância, para que a família entenda sobre o transtorno que está acometendo o seu familiar, é muito importante que as famílias conheçam os sinais e sintomas que serão desencadeados, dessa forma são 21 orientados sobre o tratamento medicamentoso e auxilio psicossocial, as famílias vão recebendo as orientações conforme a evolução da doença, contudo para que a família entenda esse longo processo em que seu familiar se encontra é necessário que a mesma faça a terapia familiar para que consiga melhorar a relação entre ambos, evitando recaídas e sobrecarga. 4.1 Psicopatologia e psicossomáticas Compreende – se a psicopatologia a um termo que se refere ao estudo dos estados mentais patológicos quanto as experiências a manifestações de comportamentos que podem resultar em um estado mental ou psicológico anormal. Esse termo é de procedência grega; psykhé e tem seu significado relacionado ao espírito e na patologia, que são os estudos das doenças e sintomas. Isso seria totalmente uma patologia de espírito (TEIXEIRA, 2011 apud CARVALHO F; 2011). De acordo Giovanetti, (20022011 apud CARVALHO F; 2011), é possível identificar três tipos de situações relacionado a problemas psicopatológicos, como por exemplo, perda da unidade psicológica, perda do sentido da vida e transformação da intimidade. Segundo Menezes (20052011 apud CARVALHO F; 2011), através das formas em que acontece o sofrimento psíquico podem ser consideradas como psicopatologias da atualidade, e tem o sentindo nas expressões dos modos de subjetivação que são reconhecidos pela sociedade contemporânea, conforme os autores abaixo citados: Há um estilo de sociedade em pauta que gera condições e possibilidades para produção de determinadas psicopatologias como típicas de sua época. Isso não quer dizer, necessariamente, que são psicopatologias inéditas, mas são novas formas de padecimento expressas por meio do pânico, da bulimia, da anorexia, das disposições depressivas, das toxicomanias, das psicossomatizações, dentre outras, que ganham espaço progressivo na cena social atual (GIOVANETTI, 2002, p.32 apud CARVALHO F; 2011 apud CARVALHO F; 2011). "... psicopatologia da pós-modernidade se caracteriza por certas modalidades privilegiadas de funcionamento psicopatológico, nas quais é sempre o fracasso do indivíduo em realizar a glorificação do eu e a estetização da existência que está em pauta. Esta é justamente a questão da atualidade. (...) quando se encontra deprimido e panicado, o sujeito não consegue exercer o fascínio de estetização de sua existência, sendo considerado, pois, um fracassado segundo os valores axiais dessa visão de mundo." (BIRMAN, 2001, p.168-9 apud CARVALHO F; 2011). 22 De acordo com RIBEIRO M; (2000) a psicopatologia aborda uma serie de conhecimentos que são referentes ao adoecimento mental do indivíduo, que se esforça por ser sistemático, elucidativo e desmistificante. O mesmo não inclui critérios como valores e nem aceita dogmas ou verdades a priori, tendo em vista que a psicopatologia rejeita o fato de orientar- se a partir de julgamentos morais. Porém, através dela é possível identificar e compreender os diversos elementos da doença mental. Pra RIBEIRO M; (2000) a psicopatogia é dona de um domínio em que se estende-se a “ A tudo que se possa apreender em relação a diferentes tipos de conceitos de significados constantes e com a possibilidade de comunicação”, estamos falando em uma ciência que é considerada autônoma, sem prolongamentos da neurologia ou na psicologia. Já o Psicossomático provém do grego, psyque: alma e somatikos: do corpo, corporal. Segundo dicionário de filosofia (RUSS, 1994, p.237 apud PEREZ M; 2008) 1-Substantivo: medicina que estuda a alma e o corpo, o psiquismo e a física na sua unidade indissolúvel e enquanto se condicionam uma ao outro. 2-Adjetivo: qualifica os fenômenos em que a unidade do psiquismo e do corpo de manifestam. Diferente da hipocondria que consiste numa fixação na ideia de doenças e da simulação, quando de fato o paciente finge estar doente, o termo psicossomático se aplica apenas para designar doenças que apresentam sintomas reais no corpo físico, mas cuja origem está no psiquismo. De acordo com Barbosa, Duarte e Santos (2012 apud DIAS P; et al., 2016), a psicossomática busca um entendimento da relação mente-corpo e dos processos de adoecimento sendo que o processo de somatização consiste na manifestação de conflitos e angústias por meio de sintomas físicos, ou seja, para eles o termo psicossomático é entendido como toda perturbação física resultante de um conteúdo psicológico. Os autores completam afirmando que toda doença humana é psicossomática pois incide em um ser constituído de soma e psique, inseparáveis anatômicae funcionalmente. Para Mello-Filho et. al. (2010 apud DIAS P; et al., 2016) a psicossomática possibilita a compreensão do complexo jogo de causa e efeito presente na evolução das enfermidades de modo muito mais rico e completo. Ainda para eles, a psicossomática, em síntese, é uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e 23 sobre as práticas de saúde, é um campo de pesquisas sobre estes fatos e, ao mesmo tempo, uma prática de uma Medicina integral. A compreensão da relação mente-corpo, até então, era baseada numa visão dualista, tanto em relação ao princípio como em relação à função desses dois aspectos. O funcionamento de ambos era considerado quase que independente um do outro e a interação ocorreria numa via dupla de forma psicossomática ou somato- psíquica. A compreensão da interação mente e corpo ganha novas perspectivas a partir da Psicanálise, quando ambas as dimensões são pensadas de forma conjunta e dinâmica, possibilitando a criação de um campo de saber denominado Psicossomática (VALENTE e RODRIGUES, 2010 apud CRUZ M; 2011). A psicossomática categoriza fenômenos psicossomáticos ou somatopsíquicos, apontando para a gênese do transtorno ora no corpo, ora na psique e estabelece as relações de causa e efeito entre as duas instâncias, ditas como dicotômicas. Essa relação de causa e efeito, na prática, requer a atuação de dois profissionais: o médico, cabendo o tratamento do somático e o psicólogo, respondendo pelo tratamento dos efeitos psicológicos decorrentes da doença, como a depressão, a ansiedade, o medo dos tratamentos, o medo da morte. Assim, a compreensão das enfermidades passa a ser tomada em uma dualidade soma e psique (MATTAR et. al., 2016 apud DIAS P; et al., 2016). 24 5 ARTETERAPIA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA COMPLEMENTAR EM SAÚDE Fonte: clinicadearteterapia.com.br A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC, é uma política pública que se estabeleceu a partir de demandas sociais recorrentes manifestadas nas diversas Conferências Nacionais de Saúde, e das diretrizes da Organização Mundial Saúde - OMS. (BRASIL, 2006 apud AMADO D; et al., 2020). As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde - PICS, como são conhecidas no Brasil, fazem parte das práticas denominadas pela OMS de Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas - MTCI. As MTCI se referem a um amplo conjunto de práticas de cuidado em saúde que podem variar de país a país e das práticas instituídas no sistema convencional de saúde. As Medicinas Tradicionais, de alguns países, são adotados por outros como Medicinas Complementares ou Integrativas, como exemplo da Medicina Tradicional Chinesa ou o Ayurveda, que são amplamente utilizadas fora de seus países de origem. (WHO, 2019 apud AMADO D; et al., 2020). Nesta perspectiva, a PNPIC é transversal em suas ações no SUS e está presente em todos os níveis de atenção, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS), e com grande potencial de atuação nas Redes de Atenção à Saúde (RAS). 25 (BRASIL, 2006 apud AMADO D; et al., 2020). Dados do ano de 2018, mostram que as PICS estiveram presentes em 16.007 serviços de saúde do SUS, sendo 14.508 (90%) da Atenção Primária à Saúde (APS), distribuídos em 4.159 municípios (74%) – APS e média e alta complexidade – e em todas das capitais (100%). Foram ofertados 989.704 atendimentos individuais, 81.518 atividades coletivas com 665.853 participantes e 357.155 procedimentos em PICS. Já parciais para o ano de 2019, as PICS estiveram presentes em 17.335 serviços de saúde do SUS, sendo 15.601 (90%) da Atenção Primária à Saúde (APS), distribuídos em 4.296 municípios (77%) – APS e média e alta complexidade – e em todas das capitais (100%).Foram ofertados 693.650 atendimentos individuais, 104.531 atividades coletivas com 942.970 participantes e 628.239 procedimentos em PICS. (Fonte: SISAB/DATASUS para o ano de 2018 e parciais para o ano de 2019 apud AMADO D; et al., 2020). A Arteterapia é conceituada pelo Ministério da Saúde como uma atividade milenar, como um procedimento terapêutico que funciona como um recurso que busca interligar os universos interno e externo de um indivíduo, por meio da sua simbologia, [...]uma arte livre, conectada a um processo terapêutico, transformando-se numa técnica especial, não meramente artística, [...]uma forma de usar a arte como meio de comunicação entre o profissional e um paciente, [...] um processo terapêutico individual ou de grupo buscando uma produção artística a favor da saúde (BRASIL, 2006 apud GODOY J; et al., 2018). A arteterapia é definida por Espindola e Dittrich (2015, p. 20 apud NÓBREGA A; et al., 2014) como uma prática de terapia que tem como foco principal as expressões artísticas, nas suas diversas linguagens (pictória, musical, cênica, etc.) fundamentadas pelas várias áreas do conhecimento humano, como a filosofia, a arte, a psicologia, a pedagogia, a medicina, entre outras. Considerando a arte como uma forma de expressão da subjetividade, a mesma pode ser adaptada a diferentes objetivos, inclusive na psicologia, abrangendo uma diversidade de temas como gênero, sexualidade, transtornos mentais, traumas e/ou conflitos emocionais, estejam os participantes em grupo ou de forma individual (REIS, 2014 apud NÓBREGA A; et al., 2014). Desta maneira, a arteterapia também permite ser compreendida como uma área de conhecimento interdisciplinar, atuando em diversos campos como a clínica, a escola, o social e o comunitário (REIS, 2014 apud NÓBREGA A; et al., 2014). 26 Segundo Araújo et al (2012 apud NÓBREGA A; et al., 2014), a arte como forma de cuidado, aliado ao processo de desinstitucionalização, aproxima o desenvolvimento criativo do sujeito, promovendo a saúde deste e reforçando as relações sociais da comunidade. De acordo com Soares et al. (2009, p. 54 apud NÓBREGA A; et al., 2014), a arteterapia é o uso da arte como instrumento terapêutico. Consiste na criação de material sem preocupação estética, mas para expressar sentimentos, desejos e temores, além de ser ótimo recurso para desenvolver a espontaneidade e a criatividade. O processo arteterapêutico será acompanhado e orientado por um (a) arteterapeuta que fará a reflexão sobre a simbologia materializada na expressão artística. Essa leitura reflexiva e crítica, dentro de uma maiêutica socrática ou de uma hermenêutica fenomenológica, terá como ponto de partida a leitura pessoal e individual do criador da expressão, para depois ser relacionada aos conteúdos simbólicos coletivos encontrados nas diversas culturas. (ESPÍNDOLA, DITTRICH 2015, p. 21 apud NÓBREGA A; et al., 2014). Infere ainda a referida entidade que, cabe aos arteterapeutas criarem, conservarem, ativarem e ampliarem espaços de autonomia criativa, liberdade de expressão, estimulando, assim, alternativas socialmente inovadoras e contributivas ao desenvolvimento sustentável de comunidades (UBAAT, 2017, p. 11 apud NÓBREGA A; et al., 2014). Afirmam Espindola e Dittrich (2015) que: A prática arteterapêutica é um instrumento eficaz de educação em saúde, pois desencadeia a reflexão crítica e a criatividade para o sentido de viver no mundo – importante no processo de saúde integral, materializando nas expressões artísticas sentimentos e emoções, os quais compreendidos e “ressignificados” poderão resultar em maior qualidade de vida e bem-estar a quem participa. (ESPINDOLA e DITTRICH, 2015, p. 21- 22 apud NÓBREGA A; et al., 2014). As oficinas de arteterapia desenvolvidas nos CAPS podem ser consideradas como um importante instrumento para conduzir e centralizar as reflexões e projeções do sujeito em sofrimento mental à produção de algo útil para si e para a coletividade. Com isso, através da arteterapia nos CAPS, pode ser possível a concretização da inclusão social desses usuários, sendo esse um dos objetivos da Política Nacional de SaúdeMental (FARIAS et. al, 2016 apud SANTOS L; et al., 2017). A arteterpia nos CAPS vem a ser um dispositivo terapêutico apto a proporcionar, além da saúde mental, um local de convivência, fortalecimento de vínculos e integração de usuários com a sociedade e família (CAMARGO et. al, 2011 apud NÓBREGA A; et al., 2014). Portanto, a arteterapia, consiste em um instrumento 27 capaz de canalizar, positivamente, as variáveis do adoecimento psíquico em si, assim como os conflitos individuais e com familiares (COQUEIRO; VIEIRA; FREITAS, 2010 apud NÓBREGA A; et al., 2014). O Ministério da Saúde ao incluir a Arteterapia oficialmente nas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde no SUS, possibilitou a inserção da mesma nos programas de referência: Saúde da Família, Rede Cegonha, Saúde da Criança, Saúde dos Adolescentes e Programa de Saúde Escolar (PSE), Saúde da Mulher, Saúde do Homem, Saúde e Atenção Integral ao Idoso, Rede de Atenção Psicossocial, Âmbito Hospitalar, Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalho, passando assim a ter diretrizes para formação, implantação e pesquisa dentro da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC. (UBAAT, 2017, p.5-10 apud NÓBREGA A; et al., 2014). 6 O SINTOMA COMO FORMA DE EXPRESSÃO Na busca de elaborar uma definição sobre o sintoma, vê-se necessário visualizá-lo em primeiro momento através da visão clássica da medicina, como um indício de que algo está acontecendo a saúde do paciente. Sobre esta ótica teremos o sintoma como a sinalização de um problema a saúde da pessoa, sendo que este refere-se à percepção pessoal do indivíduo sobre o que está sentindo, desta forma, descreve uma percepção subjetiva (MARCOS; OLIVEIRA JUNIOR, 2013 apud BUENO A; et al., 2019). Dentro da psicologia, o sintoma pode ser entendido como uma forma de expressão de um conflito psíquico, como percepção subjetiva pode ocorrer variações nas formas em que será apresentado (SILVA; RUDGE, 2017 apud BUENO A; et al., 2019). É através dos sintomas que o sujeito consegue em muitas vezes se expressar, desta forma o analista deverá manter sua atenção e criar um espaço de escuta onde será permitido ao paciente a elaboração e entendimento sobre esta expressão sintomática. Como forma de expressão o sintoma, apesar do sofrimento causado ao paciente, trata-se de um processo de defesa, onde sua estrutura psicológica busca uma forma mais saudável de sustentação deste conflito. O terapeuta, neste sentido, terá o sintoma como se fosse uma mensagem a ser decifrada, desta forma, a partir 28 do relato do seu paciente, buscará uma significação para o que se apresenta dentro do setting (SILVA; LOPES; CANELLO, 2012 apud BUENO A; et al., 2019). Para o entendimento desta expressão sintomática o analista tem em seu auxílio todo conhecimento teórico adquirido durante a sua formação, assim como a sua base teórica que lhe proporciona a utilização de diversas técnicas. A arteterapia, como um dos instrumentos que o terapeuta tem em seu auxílio, permite o acesso aos materiais inconscientes que causam sofrimento ao paciente, proporcionando uma diminuição dos sintomas apresentados. 7 A ARTE COMO ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA Fonte: vlpo.cl.com De acordo com Cedraz e Dimenstein (2004 apud PESSOA I; 2016), vários autores são a favor da arte como estratégia terapêutica produtiva e defendem essa ideia. Rocha (1997 apud PESSOA I; 2016), diz que a arte apresenta um cenário de uma possível fonte de revigoração. Para BARROS M; et al., (2016) arte e psicoterapia constituem conhecimentos que se vinculam na medida em que abordam discursos e saberes sobre as pessoas e a experiência de existência. Dada a autenticidade da arte como manifestação libertadora, que é uma ação combinada entre conhecimento e sentimento, utilizando sensibilidade, imaginação e técnica, as mesmas mostram a realidade social e cultural, observada e sentida com sensibilidade. Como descrito por BARROS M; et al., (2016) quando a arte é utilizada no processo psicoterapêutico como ferramenta de intervenção para promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas em sofrimento psíquico, existe uma correlação que decorre de vários elementos, um dos quais é a criatividade. 29 A criatividade manifesta nas produções artísticas traz características simbólicas, as quais viabiliza meios de pesquisas apropriados à integração dos aspectos qualitativo e valorativo presente na atuação humana (URRUTIGARAY, 2008). Um simples rabisco ou, mesmo, um ponto formado por um pingo de tinta, pode ser a origem de todo um trabalho (URRUTIGARAY, 2008 apud MATOS M; et al., 2008). A Arteterapia é uma ferramenta utilizada em saúde mental com o fim de facilitar a produção de imagens, a autonomia criativa, o desenvolvimento da comunicação, a valorização da subjetividade, a liberdade de expressão e a função catártica (VALLADARES, 2008 apud MATOS M; et al., 2008). Arteterapia é um processo terapêutico decorrente da utilização de várias modalidades expressivas artísticas, que expressam e representam níveis profundos e inconscientes da psique, permitindo o confronto, no espaço interno, destas informações, e posterior transformação e expansão da consciência (PHILIPPINI, 2005 apud MATOS M; et al., 2008). Conforme Varella (1997 apud PESSOA I; 2016) a arte ainda pode ser uma mediação com o meio onde se opera as grandes transformações de si e do mundo. Já Assis (2004 apud PESSOA I; 2016) tem a visão de que a arte está instaurada como forma de dar vazão à loucura, o mesmo acredita que a atividade artística pode retirar o indivíduo do lugar de desconhecido ou desacreditado social que o louco normalmente ocupa. A arte, como ferramenta de transformação e modificação do mundo (FRANCISQUETTI, 2004 apud FRANCISCO R; 2019), pode ser um dispositivo interessante somado à cidade na produção de saúde, pois, aliada à cidade, a arte mobiliza uma rede de múltiplos atores (a música, a literatura, o cinema, o desenho, a pintura, a escrita) e amplia as nossas conexões com elementos inusitados, causando estranhamentos, reflexões, problematizações e, por conseguinte, transformações individuais e coletivas. Com uma possibilidade de adentrar em contextos históricos, como também fazer parte deles, a arte é responsável pela construção cultural da sociedade, pela crítica a determinados modelos sócio-políticos, pelo desenvolvimento de outros modos de existência. 30 Por essa perspectiva, a arte vincula o sujeito à criação a si mesmo e do mundo. Ela expressa a reinvenção e produz a novidade, isto é, a arte é em si mesmo clínica, terapêutica. Saviani (2004 apud FRANCISCO R; 2019) atribui à arte um status de criação inventiva, onde “toda a capacidade de ser é acionada no ato de criar”, de modo que o poder criador transborda a própria criação, o homem, a natureza e afeta toda a vida em sua dimensão multifacetada. “Arte é linguagem; é um meio de expressão e comunicação” uma “techne”, isto é, uma interface entre a capacidade de construir um objeto com habilidade, astúcia, artimanha e artifício, como pensavam os gregos, e a agressividade criadora e aventureira que media a vida e a morte das coisas, o nascer o renascer, a metamorfose (FERNANDES, 2015). Frayze- Pereira (2005 apud FRANCISCO R; 2019), a partir dos estudos de Pareyson, conclui que a arte é um fazer inventivo, específico, na qual a ação do fazer (o executar) é indissociável da invenção. Rauter (1997, p. 109 apud PESSOA I; 2016), coloca que de acordo com as mutações das clínicas no campo da subjetividade, a mesma deve-se aproximar- se da arte, talvez deva mesmo tornar – se arte. Pode-se dizer que a arte tem sido usada para fins terapêuticos há séculos. Na literatura, há relatos sobre o trabalho desenvolvido pelo psiquiatra alemão Johann Christian Reil sobre a interação entre arte e saúde. Segundo Sei (2010apud PESSOA I; 2016), Reil foi contemporâneo de Pinel, que no início do século XIX criou um protocolo terapêutico com o objetivo de uma cura psiquiátrica. Este protocolo consistiu em três fases que procuraram estimular o interesse de um indivíduo pelo mundo exterior e criar uma ligação mais forte entre ele e o ambiente que o rodeia. Florance Cane é uma importante educadora da educação artística (1983 apud PESSOA I; 2016), a mesma tem uma visão de que o arteterapeuta norteia a crença de que todo o indivíduo enquanto ser humano nasce com o poder criativo. E a sua maior estratégia de ensino em relação a Arte era instaurada nas seguintes funções: movimento, sentimento e pensamento e o processo de cura era por meio da catarse do desenvolvimento artístico que é acompanhado de um profissional que reconheça os sentidos do que é expressado e que ajude o indivíduo a se reconhecer (CANE, 1983 apud SEI, 2010 apud PESSOA I; 2016). 31 É por meio das oficinas terapêuticas que o indivíduo com transtorno mental vive, expressa o que existe no seu íntimo, expõe suas mazelas cotidianas, como o próprio estigma relacionado à doença mental, na qual a sociedade acaba por minimizá-lo. Por isso, o espaço da oficina é onde os usuários narram suas histórias, suas vidas, interagindo entre eles (MACIEL; LIMA, 2012 apud FERREIRA G; 2013). Nesse sentido, percebe-se que as atividades artísticas elucidam o processo construtivo e a produção do novo, por meio da criação, exposição de acontecimentos, experiências, ações, elementos, reinventando o ser humano e o mundo. Assim, as oficinas passam a ser entendidas como um instrumento de enriquecimento e desenvolvimento dos indivíduos em sofrimento psíquico, pois instigam a expressão, a descoberta e ampliam as possibilidades singulares e de acesso aos benefícios culturais (MENDONÇA, 2005 apud FERREIRA G; 2013). Por conseguinte, Meneses et al. (2010 apud FERREIRA G; 2013) enfatiza que as oficinas terapêuticas não visam à produção de obras de arte, não desejam formar artistas, também não procuram ocupar o tempo dos participantes. Estas atividades pretendem explorar os potenciais de criação, inspiração e expressão dos indivíduos com transtornos mentais, cada oficina é exclusiva e transforma modelos culturais em atividades singulares. As Oficinas Terapêuticas de Arteterapia utilizam como tratamento, variadas formas de expressão, como pintura, música, modelagem, fantoches, contos e os adornos se fazem presentes como instrumentos terapêuticos. Esta prática cultiva o resgate dos sentimentos, emoções e sensações através das práticas de expressão, em busca de um ressignificado para aquilo que estava escondido no indivíduo por muito tempo (PUFFAL; WOSIACK; BECKER, 2010 apud AZEVEDO E; et al., 2014). A arteterapia é uma prática terapêutica que trabalha com a transdisciplinaridade de vários saberes, como a educação, a saúde e a arte, buscando resgatar a dimensão integral do homem, neste processo de autoconhecimento e transformação pessoal. Através da arteterapia, o indivíduo pode buscar autonomia criativa, o desenvolvimento da comunicação, a valorização da subjetividade, a liberdade de expressão, o reconciliar de problemas emocionais, dentre outros aspectos positivos (PHILLIPPINI, 2004; VALADARES; CARVALHO, 2005 apud AZEVEDO E; et al., 2014). 32 É sabido que o desenvolvimento de oficinas focadas na arteterapia vem a cada dia ganhando espaço considerável no setor saúde, principalmente, se tratando do campo da saúde mental, levando em consideração a necessidade de minimizar os efeitos negativos produzidos pela doença mental (COQUEIRO; VIEIRA; FREITAS, 2010 apud AZEVEDO E; et al., 2014). Por fim, o que se pretende, por meio do espaço das oficinas terapêuticas, é a livre circulação de expressões, de afetos, de criações artísticas. Ao mesmo tempo, é importante que estas atividades ocorram nos diferentes territórios, objetivando a transformação da visão da sociedade relacionada a pessoas com transtornos mentais e à promoção da desinstitucionalização. Portanto, ao consentir experimentações nos campos da arte e da cidadania, abrem-se possibilidades para a expansão de sensações e emoção por outros universos, bem como a produção e expressão de novas subjetividades. (PÁDUA; MORAIS, 2010 apud FERREIRA G; 2013). 7.1 A influência da arte como terapia: Métodos e práticas São inúmeras as possibilidades que o ser humano tem diante si para exercitar sua expressão criativa. A mente tem sido privilegiada ao longo do tempo, mas todos sabemos que podemos trabalhar com as mãos, com o corpo, com a voz. São atividades equilibradoras, especialmente para os indivíduos que se encontram imersos em uma sociedade tão mental e, ao mesmo tempo, tão superficial. [...] é muito importante destacar que a Arteterapia não é a simples utilização de técnicas expressivas no ambiente terapêutico; ela é um processo do qual as imagens são o guia e em que as técnicas são facilitadoras do surgimento dos símbolos pessoais. (CHRISTO e Silva, 2006, p.12 apud MASCHIO A; 2012). 33 Fonte: idtech.org.br A Arteterapia pode ser compreendida enquanto qualquer tratamento psicoterapêutico que utilize como mediação a expressão artística (dança, teatro, música, contação de histórias, etc.) ou as representações plásticas (pintura, desenho, gravura, modelagem, máscaras, marionetes, entre outras). A expressão artística caracteriza-se pela objetivação da representação visual do domínio figurativo a partir da transformação da matéria. Assim, por meio da interação das histórias contadas, existirão diferentes códigos de significação nos quais as produções individuais podem encontrar seu sentido. Por isso a abordagem artística supõe uma atitude estética e levanta hipóteses sobre a função da existência, isto é, sobre a comunicação simbólica na vida humana (BARBOSA; SANTOS; LEITÃO, 2007 apud GOMES E; et al., 2014). Nesse sentido, essa ação artística desenvolve um mecanismo de comunicação e de muita aproximação, capaz de, durante a sua execução, abrir para o paciente o espaço necessário para verbalizar seus sentimentos, anseios, medos e frustrações, talvez nunca antes relatados à equipe de saúde. Essa experiência divertida, mágica e encantadora pode estabelecer uma comunicação diferenciada com o paciente, já que, em muitas situações, a argumentação lógica, racional e técnica pode não ser a melhor 34 forma de comunicação durante a estadia do paciente no hospital (LIMA et al., 2009 apud GOMES E; et al., 2014). A arte é um instrumento que impulsiona o homem a experimentar e definir seus pensamentos, sentimentos e condutas, os quais em momentos transitórios de inspiração, transpassam os limites da expressão verbal consciente precisando de um meio de expressão menos cognitivo, mais vivencial, ou seja, mais primário. O artista, como um técnico de seus meios de expressão, torna estético o produto de seus pensamentos e sentimentos. Essa experiência transcendental, seja na forma de explosão de atividade criativa ou na forma de perspectiva de beleza, é sentida como uma intensa experiência emocional, cujo efeito muda o mundo da pessoa que a experimenta. Nesse sentido, dessa expressão emocional, a arte foi estudada e investigada como uma modalidade terapêutica, utilizando os conceitos de comunicação e criatividade (Panhofer, 2005, p. s/n apud OLIVARES A; et al, 2017). Ainda, neste sentido, vale compreender, enquanto terapia, um mecanismo auxiliar no tratamento de doenças e dependências. Assim, “Define-se tratamento como o conjunto de meios (terapias) empregados visando a debelar uma doença ou proporcionar ao doente cuidados paliativos”. (REZENDE, 2010, p. 14 apud VICIOLI A; et al., 2016) Segundo Fortunato (2005, p.17 apud MASCHIO A; 2012) o uso da arte como terapia ajuda a reconciliar conflitos emocionais, além de auxiliar na auto percepçãoe no desenvolvimento do indivíduo. De forma que os recursos mais utilizados acerca são Artes Plásticas: Pintura, Desenho, Modelagem; Artes corporais: Dança e Teatro; Música: com instrumentos musicais, voz/ canto ou audição musical, entre outros. Em consonância, Fabietti (2004, p.17 apud MASCHIO A; 2012) aborda que a Arte é um processo de reconstrução da vida, seja através do desenho, da pintura, da escultura e de tantos outros. Christo e Silva (2006, p.14 apud MASCHIO A; 2012) abordam que a arteterapia pode e deve usar uma variada gama de ferramentas artísticas, como papéis, tintas, lápis de cor, tesoura, tecidos, fios, madeira, plásticos, argila, massa, entre outros. Também pode utilizar técnicas como desenhos, pinturas, colagem e modelagem etc. A autora ressalta a importância de o profissional desta área ter uma vivência diversificada em sua expressão plástica, mesmo que seja para o seu próprio processo. Visto que para se aplicar determinada técnica, deve considerar que o suporte possa propiciar a concretização de símbolos, os quais surgiram em sonhos, na imaginação ativa do indivíduo ou a partir de contos ou mitos. 35 Evidencia-se que determinadas técnicas de atividades artísticas têm a possibilidade de influenciar o indivíduo de formas diferentes. Christo e Silva (2006, p.17 apud MASCHIO A; 2012) especificam que cada uma dessas atividades tem sua própria característica de benefício. Sendo assim, os autores apresentam em seu livro exemplos de atividades artísticas, as quais podem ser aplicadas em ateliês terapêuticos, destacando as técnicas de desenho, pintura e colagem. Por fim, analisando as informações sobre a arteterapia, é evidente apontar que a abordagem é de suma importância para toda sociedade, influenciando o contexto da vida de todo indivíduo, podendo, assim, acrescentar mais expressividade às pessoas com transtornos mentais e consequentemente um maior equilíbrio emocional, explorando sua autoestima e valores diante da sociedade. Portanto, pode ser considerada lúdica, versátil, promotora da criatividade e do desenvolvimento da personalidade, além de integradora e extremamente reveladora (PITTON, 2005, p.04 apud MASCHIO A; 2012). De acordo com Philippini (2004 apud VICIOLI A; et al., 2016) a arteterapia consiste em um dispositivo terapêutico que reúne conhecimentos de diversas áreas, constituindo como uma prática trans disciplinar, propondo resgatar o homem em sua totalidade por meio de métodos de autoconhecimento e transformação. 7.2 A dança como aspecto terapêutico no tratamento da depressão Depressão, dor e angústia referem-se a estados mentais que parecem tão familiares a ponto de muitas pessoas questionarem se seria legítimo dizer que compõem quadros psicopatológicos. Pois a depressão, assim como a dor e angústia, denota o estado afetivo particular, que priva o sujeito justamente das qualidades e figuras singulares que o animam” (DELOUYA, 2008, p.46 apud PEREIRA M; 2009). A depressão, considerada uma condição exclusivamente humana, é um transtorno do humor, clinicamente caracterizado por sintomas básicos que comprometem, rebaixam o humor vital do indivíduo, prejudicando – lhes as funções afetivas, cognitivas e intelectuais. Os distúrbios depressivos são contemporaneamente percebidos como decorrentes dos sofrimentos humanos e das desordens psíquicas, sendo capazes de afetar qualquer idade, gênero, classe cultural e social. O número de pessoas com melancolia5 ou depressão vem crescendo nos últimos anos: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente no Brasil, em 2015, havia 11.548.577 casos, o 36 quarto país no mundo em número de doentes (OMS, 2017, p. 18 apud SANTOS F; et al., 2020) Analisar as depressões como uma das expressões do sintoma social contemporâneo significa supor que os depressivos constituam, em seu silêncio e em seu recolhimento, um grupo tão ruidoso quanto foram as histéricas no século XIX. A depressão é a expressão de mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-àporter, da saúde, do exibicionismo e, como já se tornou chavão, do consumo generalizado (KEHL, 2009, p. 22 apud SANTOS F; et al., 2020). A arte ao longo dos anos trouxe uma série de contribuições para a sociedade, e na atualidade, mostrou a sua capacidade de reconstruir a concepção social, direcionada a imagem do indivíduo em sofrimento mental (AMARANTE, 2012 apud CAETANO I; 2019). Em um dos ramos da arte educação se encontra a dança. A expressão do corpo foi a primeira forma de arte. Reconhecida como uma arte de execução, a dança é caracterizada pela habilidade de se utilizar o movimento de forma simbólica, gerando, assim, significados, e desenvolvendo a capacidade intelectual do homem (FREIRE, 2001 apud VASCONCELOS C; et al., 2019). O corpo não é algo que esta dissociado da mente, trata-se de uma unidade que está estruturada e organizada de forma singular, constituindo assim uma forma integral, não sendo possível uma separação de corpo e alma (FERNANDES, 2015 apud CAETANO I; 2019). Através da terapia, as artes deram voz, ao que dela participou como expressão e comunicação, num processo de interação social, emocional e cognitiva (GOODILL, 2010 apud CAETANO I; 2019). Fonte: portalsplishsplash.com 37 A dança enquanto arte tem o potencial de trabalhar a capacidade de criação, imaginação, sensação e percepção, integrando o conhecimento corporal ao intelectual (MARQUES, 2010 apud CAETANO I; 2019). Sendo o movimento, algo presente em todas as nossas atividades, à medida que se conhece os conteúdos corporais que compõe esses movimentos (força, estrutura e dinâmicas: leve, pesado, forte, suave, rápido, lento, grande, pequeno e outros) pode-se redimensionar atitudes, reconhecer necessidades, explorar novas percepções e transformar a qualidade da própria vida, fornecendo novos níveis de sensibilidade e consciência para o cotidiano. A dança surge então como manifestação artística, na qual o homem apropria- se neste contexto como terapia, através da forma com que as pessoas dançam, na utilização da coordenação motora, do espaço, sua forma de caminhar e tensões musculares, é capaz de comunicar conflitos internos (WOLBERG, 1988 apud CAETANO I; 2019). Esta constitui-se num tipo de prática que é desenvolvida em clínicas, hospitais, centros de correção ou escolas, e utilizada em grupos ou em sessões terapêuticas individuais (LIMA; NETO 2011 apud CAETANO I; 2019). Os benefícios da prática de atividades físicas para a saúde são amplamente conhecidos, com dados gerais de pesquisas que indicam efeitos físicos como redução da pressão sanguínea, elevação da capacidade cardiovascular, perda de peso e prevenção de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, obesidade, osteoporose etc. (MIKKELSEN et al., 2017 apud FREITAS F; 2019). A relação entre exercícios físicos e bem-estar psicológico também tem sido assumida em muitas pesquisas, que apontam sua prática regular como um fator preventivo em saúde psicológica e também com potenciais terapêuticos sobre estados de humor, autoestima e sintomas de ansiedade e depressão (ROT et al., 2009; MIKKELSEN et al., 2017 apud FREITAS F; 2019). Danças de improvisação, com frequência, mostram gestos e movimentos de partes especiais do corpo. Características como as hesitações ou a forma agressiva nos movimentos e sequências de expressões corporais têm um significado para o dançarino. Neste contexto, a dança pode ocasionar, não somente uma forma segura de soltar a emoção, mas também, traz à tona atitudes e conflitos pessoais (WOLBERG, 1988; FUX, 1983 apud CAETANO I; 2019). Uma teórica de bastante relevância para a pesquisa em dança como terapia e a pioneira na relação entre dança e terapia é Maria Fux (1988 apud CAETANO I; 2019). Ela desenvolveu um método intitulado como dançaterapia, no qual
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