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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 1.1 O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE ................................................... 4 1.2 A psicanálise ........................................................................................ 5 2 TEORIA PSICANALÍTICA ........................................................................... 7 2.1 Escola Psicanalítica: contribuições para o estudo do comportamento humana.....................................................................................................................7 3 INCONSCIENTE E PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PSICANÁLISE 10 3.1 Inconsciente e Sublimação ................................................................. 17 3.1.1 O que é o inconsciente? ............................................................... 18 3.1.2 Sublimação ................................................................................... 19 3.2 Constituição do sujeito e seu desenvolvimento .................................. 20 3.2.1 Melanie Klein ................................................................................ 22 3.2.2 Heiz Kohut .................................................................................... 23 3.2.3 Winnicott ....................................................................................... 24 3.2.4 Jacques Lacan ............................................................................. 25 4 RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE, SOCIEDADE E CULTURA ............... 27 5 TEORIA FREUDIANA DA CONSCIÊNCIA ............................................... 29 5.1 Freud e a consciência ........................................................................ 30 5.2 As tópicas do aparelho psíquico ......................................................... 32 5.3 Consciência dos processos do Eu ..................................................... 35 6 ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA EM PSICANÁLISE ........................................................................................................... 36 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 42 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1.1 O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE Todas as teorias científicas estão sempre relacionadas com a época. Na psicanálise não é diferente. Foi influenciada pelas condições de vida social, cultural, econômica e política de um momento histórico. Essa teoria científica, que surgiu em um período fértil da modernidade, revelou-se surpreendente. Segundo Hurding (1995), a psicanálise surgiu em uma época de conturbadas ideias do século XIX, em uma época em que a psicologia e a ciência empírica eram dominantes. Nasceu como uma nova solução para os dilemas anteriores sobre a natureza e a história da humanidade. Seu desenvolvimento ocorreu graças aos esforços de Sigmund Freud (1856- 1939), que buscou estudar a influência das estruturas internas do indivíduo em suas ações, suas relações com o mundo exterior e suas decisões. Finalmente: Freud queria entender como funcionava a vida mental. Freud, médico, nascido na cidade de Freiberg, localizada na Morávia, recebeu seu doutorado em medicina pela Universidade de Viena. Foi especialista em neurologia e responsável pelo surgimento da psicanálise. A psicanálise nasceu em Viena, no coração da Europa. Desde então, tornou-se uma das teorias mais importantes que sustentam a mentalidade das sociedades de hoje. A partir da análise da trajetória de Freud pode-se afirmar que sua perspicácia, determinação e insatisfação com as respostas da psiquiatria clássica foram fundamentais. Ele não encontrou explicações para distúrbios nervosos, fobias e neuroses nas teorias de sua época, o que acabou lhe dando as ferramentas necessárias para fazer descobertas que mudaram a maneira como as pessoas e seu mundo eram entendidos. As ideias de Freud foram influenciadas pela filosofia metafísica de Herbart, entrelaçadas com um período histórico moldado pelo darwinismo, particularmente a ideia de evolução e pelo método científico empírico. A contribuição de Freud para a ciência é tão grande quanto o pensamento de Karl Marx para a percepção dos processos históricos e sociais. Freud ousou colocar como problema científico as questões relacionadas à psique de seus labirintos sombrios e misteriosos, ou seja, fantasias, sonhos, esquecimento e interioridade 5 humana. Sua maneira sistemática de investigar analiticamente as questões em aberto o levou a criar uma abordagem revolucionária, a psicanálise. 1.2 A psicanálise Quando surgiu, a psicanálise era uma forma radicalmente nova de compreender o ser humano e interpretar o mundo que resulta de suas ações. Trouxe uma nova perspectiva sobre a realidade interior do homem. Por isso, é considerada pela literatura como uma abordagem revolucionária das questões da vida psíquica. O termo “psicanálise” refere-se a uma compreensão teórica, um método de pesquisa e uma prática profissional. Como teoria, a psicanálise caracteriza-se como um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre a estrutura, funcionamento e ações do ser mental (vida mental). Vale notar que essa busca pelo entendimento do funcionamento da vida psíquica levou Freud a escrever uma série de textos, livros e artigos, fruto do estudo meticuloso e cuidadoso de casos reais, muitos dos quais de sua autoria. Entre as obras de Freud, destacam-se: A Interpretação dos Sonhos; A Psicopatologia da Vida Cotidiana; O mal-estar na civilização; Reflexões para o tempo de guerra e morte, entre muitas outras. Como método de pesquisa científica, a psicanálise deve ser entendida como um processo metodológico, um modo de interpretação. De acordo com Bock et al. (2002, p. 70), ela “[...] busca o sentido oculto do que se manifesta por meio de atos e palavras ou de produções imaginárias como sonhos, delírios, associações livres [...]”. A rigidez de Freud sobre os passos da pesquisa científica forneceu um caminho seguro para investigar a natureza profunda de cada ser humano com a criação da psicanálise. Ele forneceu muitos insights para aqueles que tentam entender como o homem, tão tecnologicamente incrível, é ao mesmo tempo alimentado por forças que o levam a se comportar de forma inadequada e estranha. Como atividade profissional, a psicanálise consiste em uma forma de tratamento chamada análise. Quando aplicado por profissional capacitado (analista/psicanalista), busca levar o paciente ao autoconhecimento e, assim, eliminar os males psíquicos e suas manifestações somáticas. Para alguns estudiosos, a psicanálise também deve ser vista como uma importante ferramenta que amplia as 6 possibilidades de compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos que desafiama visão do homem como ser civilizado. Entre tais fenômenos, podemos considerar a violência crescente, as brigas mesquinhas, o hedonismo intensificado e o individualismo em suas várias formas. São elementos que levaram à extinção de milhares de pessoas frágeis na cadeia de ecossistemas. Antes de chegar ao método da psicanálise, Freud iniciou suas investigações psicológicas com o método da hipnose aprendido com Josef Breuer. Através da hipnose o paciente recordou eventos dolorosos esquecidos e experiências que causaram um comportamento compulsivo, às vezes angustiante e doloroso. A aplicação deste método resultou no desaparecimento dos sintomas da doença em pacientes. No entanto, reconhecendo que nem todos os pacientes eram fáceis de hipnotizar, Freud decidiu abandonar esse método, sem, no entanto, abandonar a sugestão como meio de lembrar. Ele continuou sua pesquisa e decidiu abandonar o método catártico, um passo crucial para chegar ao método que chamou de psicanálise. Freud abandonou a sugestão catártica e criou a técnica da concentração. Para ele, esse foi um recurso eficaz para facilitar a lembrança, e por meio de conversas formais. Esse processo deve inibir a resistência das memórias e levar à consciência de fatos esquecidos (bons e ruins). Em seguida, aprimorou esses recursos e deixou de lado a conversa dirigida em favor da liberdade de expressão do paciente (conversão livre) como caminho de rememoração e autoconhecimento. Ao fazê-lo, Freud estabeleceu a técnica que representa uma referência no tratamento analítico (BOCK et al., 2002). Embora tenha obtido bons resultados no tratamento de seus pacientes, Freud teve dificuldade de compreensão, fazendo com que as lembranças de eventos traumáticos fossem esquecidas ou neutralizadas. A partir desse levantamento ele fez a tremenda descoberta do principal fundamento da teoria psicanalítica: o inconsciente. 7 2 TEORIA PSICANALÍTICA Influenciado pelos avanços científicos e tendências modernas no campo filosófico, Sigmund Freud entabulou a Clínica de Psicanálise onde se pensava que a subjetividade e, consequentemente, o comportamento humano estão sujeitos a uma lógica diferente da razão cartesiana, mas, como Hegel descreveu, motivado pelo desejo. Em seus estudos e pesquisas empíricas, Freud descortinou a instância do inconsciente (Ics) como o lugar onde se organizam os pensamentos. O Ics torna-se, assim, objeto de pesquisa psicanalítica, que se desenvolve em muitas escolas que tratam de questões psicológicas relacionadas ao sujeito e à dinâmica consciente-inconsciente. A partir dessas concepções é possível estudar a constituição do sujeito como ser humano, as relações que ele estabelece com o meio ambiente e seu desenvolvimento, tornando-se uma das maiores escolas e correntes teórico-metodológicas nesse campo da Psicologia. 2.1 Escola Psicanalítica: contribuições para o estudo do comportamento humano Para falar da escola psicanalítica é preciso voltar a um cenário anterior ao seu surgimento: o século XVII, que é visto como um período de profundas mudanças na história e no pensamento científico. Naquela época, as revelações epistemológicas e científicas produziram um afastamento da concepção aristotélica e religiosa da Idade Média para desconstruir o paradigma anterior. Entre os pensadores desse período, para a psicologia, vale destacar René Descartes, que emergiu no mundo filosófico e defendeu a antropomorfização da verdade sob o conhecido axioma: “Penso, logo existo, ou penso, portanto, sou”. Nos tempos antigos, o locus da verdade era o locus das ideias divinas e não do homem. A verdade humana era então uma réplica da verdade ou um simulacro, uma réplica malfeita dela, e como simulacro tinha de ser descartada ou suprimida. Para García-Roza (1993), Descartes foi ao mesmo tempo revolucionário e herdeiro do pensamento grego e medieval. Enquanto os críticos do estudo das ciências (Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Galileu Galilei, etc.) carreavam as ideias 8 de um mundo fechado ao universo infinito, Descartes se curvava ao estudo da subjetividade. Chalmers (1999) também chamou a atenção para as transformações científicas desse período com as pesquisas inovadoras de Galileu e Newton em oposição à antiga concepção aristotélica de ciência, ou seja, a lógica cada vez mais absorvia a experiência como fonte de conhecimento: a empiristas (indutivistas). Embora os pensadores indutivistas também sejam criticados por Chalmers (1999), que considera a ingenuidade de pensar a ciência como neutra em relação ao objeto observável, podemos dizer que esses indutivistas, como Freud, são os que mais se preocupam com os estudos à psique humana porque é impossível ao homem observar algo puramente objetivo. O campo filosófico associado ao estudo do conhecimento e da subjetividade humana começou a abrir seu universo para o desenvolvimento de diversas teorias críticas, incluindo as de Kant (1724-1804), Hume (1711-1776) e Hegel (1770-1831) que, segundo García-Roza (1993), seguem esse modo cartesiano de afirmar a verdade da razão como a maior característica do comportamento humano. A partir dessa visão cartesiana da subjetividade, o campo da psicologia foi definido e consolidado como ciência até meados do século XIX e início do século XX, período em que surgiram diversos movimentos e correntes de pensamento que examinaram e focaram os fatores psicológicos fundamentais (pensamento, inteligência, linguagem, percepção, motivação etc.) e sobre o comportamento humano, a partir do conhecimento e da subjetividade derivados das correntes filosóficas, herdeiras da hegemonia platônica da Antiguidade Clássica. No campo da psicologia como ciência, Wilhelm Wundt é considerado um pioneiro da psicologia experimental ao lado de Ernst Heinrich Weber e Gustav Theodor Fechner, em Wundt fundou seu laboratório no Instituto Experimental de Psicologia da Universidade de Leipzig em 1879, Alemanha, e atraiu estudantes de diferentes partes do mundo. Para Araújo (2009, p. 211): “A definição de psicologia de Wundt pode ser assim resumida: A psicologia é uma ciência empírica cujo objeto de estudo é interior ou experiência imediata”. Da escola de Wundt em diante, várias outras escolas de pensamento moldaram o tema da psicologia. Ainda no século 19 nos Estados Unidos, 9 graduados da Escola de Leipzig demonstraram os ensinamentos de Wundt através do estruturalismo de Titchener (1877-1927) e do funcionalismo de J. Dewey (1859- 1952), Angel (1869-1949) e H. A. Carr (1873-1954). No século XX as escolas de psicologia começaram a se definir de acordo com seu arcabouço teórico: Psicologia Comportamental: Watson (1878–1958); Psicologia da Gestalt com alguns dos seus precursores, como Wertheimer (1880–1943), Koffka (1886–1941) e Köhler (1887–1967); Behaviorismo: Skinner (1904–1990); Psicologia Cognitiva: Piaget (1896–1980); Psicanálise: Freud (1856–1939). Freud se dedicou ao estudo do Eu delimitado, não pela razão, mas pelo desejo, descobrindo, em virtude disso, o Ics. O princípio dos seus trabalhos para explicar a técnica psicanalítica, ocorreu pela força do neurologista francês Jean-Martin Charcot (1825–1893) sobre a hipnose (FREUD, 1996a) como sendo uma forma de acessar os conteúdos obscuros que fugiam das decisões conscientes de uma pessoa. Não conseguindo ver eficácia da hipnose em seu trabalho clínico, Freud começou a orientar sua clínica por meio da associação livre de ideias, em conjunto com o que os próprios pacientes lhe retornavam. No princípio, ele usava uma leve pressão sobre a fronte dos pacientes, como se aquilo pudesse induzi-los a falar o que lhes viesse à mente, porém, um deles sinalizou que aquele procedimento não era necessário e que bastava que o psicanalista deixasse que ele falasse livremente. E foi assim que Freud passou a sugerir que seus clientesfalassem o que lhes viesse à cabeça, sem censura, definindo-se, assim, o método psicanalítico pela livre associação de ideias. A psicanálise, como técnica construída por Sigmund Freud (1856-1939), contrariou o Eu único da razão e da verdade de Descartes introduzindo então a visão do Eu dividido obscurecendo a verdade. No entanto, Freud, não conseguiu se livrar do modo platônico de construção do conhecimento e da ciência (positivista). García- Roza (1993, p. 20) fez essa distinção da seguinte forma: “[...] A psicanálise provocou uma queda da razão e da consciência do lugar sagrado onde foram encontradas. Ao fazer da consciência um mero efeito superficial do inconsciente, Freud praticou uma inversão do cartesianismo [...]”. A psicanálise freudiana contribuiu muito para a compreensão do funcionamento mental e do comportamento humano e para o tratamento da dor, isto é, com o Ics, o 10 comportamento humano não pode ser explicado somente em termos de aspectos psicológicos racionais. A partir disso, formou-se todo um movimento que valoriza o afeto. Para Freud (1996b), o conflito psíquico é resultado do choque de forças instintivas (inconscientes) e repressivas (derivadas do Ego e do Superego), sendo os sintomas as representações simbólicas desse conflito. Ele revelou a instância do Ics e revelou a ideia da dissociação do Eu em sujeito consciente e inconsciente e os impulsos que movem os desejos do homem em impulsos de vida e morte (FREUD, 1996a) que funcionam sob diferentes lógicas. Freud argumentou que, além da associação livre, existe outra forma de acessar os conteúdos inconscientes expressos por meio das memórias: as reminiscências dos sonhos (FREUD, 1996c, 1996d). O médico chocou a comunidade científica ao defender a existência da sexualidade infantil e citar os traumas sofridos na infância pela instância do complexo de Édipo (FREUD, 1996e). Também revelou aspectos subjetivos como repressões, resistências e identificações como coadjuvantes formação do caráter, personalidade e comportamento humano e o fenômeno da transferência como eixo do tratamento psicanalítico (FREUD, 1996e). Para Garcia-Roza (1993), foi a produção do conceito de Ics que resultou em uma cisão da subjetividade, indicando, de tal forma, para uma constatação do sujeito sob duas realidades — um sujeito dividido —, pois, se a alma fosse passiva de cognição, não existiria erro. Salienta-se que o Ics freudiano não é o lugar das trevas, da irracionalidade, sua lógica é apenas diferente da lógica da consciência e é o desejo (e não a razão) que a anima. 3 INCONSCIENTE E PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PSICANÁLISE Sigmund Freud era médico e nasceu em uma família judia de ascendência austríaca. Sua descoberta e afirmação da lógica da Ics, movida pelo desejo, estabeleceu a própria técnica psicanalítica e foi institucionalizada como a escola da psicanálise. A teoria foi desenvolvida de acordo com sua aplicação prática, isto é empiricamente. Ela vai além do abandono de Freud da técnica da hipnose aprendida com o mestre Charcot, passa para a associação livre sugerida por um de seus pacientes e esclarece a técnica na troca de inúmeras correspondências com outros 11 pesquisadores de seu período (Breuer, Ferenczi, Fliess e outros). A base de criação da psicanálise é em 1896 com a definição do aparelho psíquico. Para Mezan (2008), Freud estava ligado a Charcot pela vinculação da histeria com o processo de hipnose e com Breuer pelo processo catártico e pela teoria dos estados hipnoides (FREUD, 1996a). A evolução clínica da Psicanálise o fez avançar, a ponto de acabar com a amizade com Breuer, como reconhece o próprio Freud (1996f). Segundo Baratto (2009), o Ics foi elaborado como um sistema de representações que obedece às leis do deslocamento e da compressão, e representa a instância real da produção do pensamento, que pode encontrar na palavra um meio de expressão (como registro do simbólico). A psicanálise teve um árduo caminho histórico para formulá-la. Para o autor, o objetivo de Freud era aliviar o sofrimento do paciente expresso por meio dos sintomas, tentando examinar o momento preciso em que o trauma associado foi notado. Freud tentou usar as técnicas de hipnose e catarse para descobrir a causa desencadeante dos sintomas. Inicialmente, foram abordados sintomas que não podiam ser localizados em lesões biológicas, como paralisia, tiques, cegueira e comportamentos repetitivos. Nessa jornada exploratória, Freud descobriu a presença de uma força poderosa que se opunha à tomada de consciência de certos aspectos inconscientes, que ele chamou de resistência. A prática clínica mostrou que as emoções dolorosas tendem a permanecer associadas a uma memória. Usando a associação livre, ele identificou a liberação de certos sofrimentos psicológicos. Nesta primeira parte da teoria freudiana, podemos dizer que em estudos clínicos de pacientes histéricas, verificou-se que eles sofriam de lembranças das situações traumáticas para eles (principalmente na infância) e produziam sintomas. Para se livrar dos sintomas, os pacientes tiveram que recuperar essas memórias por meio da fala. García-Roza (1993) denota para o surgimento de uma primeira definição de organização do aparelho psíquico no Projeto para uma Psicologia Científica (FREUD, 1996i), onde o que se convencionou chamar de Ego tem uma função repressiva com o objetivo de inibir o investimento de energia instintiva da imagem de memória de um objeto satisfatório, evitando assim alucinações. Ainda intimamente relacionada às descargas elétricas neurais, essa força vê a oposição expressa entre o Ego (Cs) e o 12 reprimido (Ics). Ao enfatizar a memória como mais do que um evento, Freud articulou o conceito de mente, que está intimamente ligado à teoria do trauma, ou seja, reconheceu que o trauma nem sempre está ligado a um evento real, mas, sim, à experiência fantasmagórica que o paciente tem. Para Baratto (2009), Freud (1996c, 1996d), na interpretação dos sonhos, confirma que a estrutura do fantasma é comparável à estrutura do sonho, pois o fantasma e o sonho representam formas de realização inconsciente de desejos. Além disso, os mecanismos de deslocamento e condensação são fundamentais para o trabalho do Eu na deformação do desejo (como mecanismos de defesa) que tendem a obscurecê-lo para o sujeito. No que se refere aos mecanismos de defesa — pontos importantes na obra freudiana —, é importante salientar que eles são, sumariamente, formas de o sujeito consciente se proteger de algum conflito entre o Ego e o mundo externo ou entre o Ego e os desejos inconscientes. Tais mecanismos geralmente são indispensáveis para o sujeito quando este precisa enfrentar algo considerado, pelo seu Ego, como perigoso ou ameaçador. O sujeito acaba criando formas imaginárias para se proteger dessa situação, que geralmente se repete diante de novas situações que por algum motivo se assemelham ao primeiro evento que foi rotulado de traumático. No entanto, não se limitam tão somente aos fenômenos mencionados por Baratto (2009) e Maia (2009) em relação à formação do conteúdo dos sonhos, mas também a estes. Os mecanismos de defesa são definidos, abordados e trabalhados ao longo do desenvolvimento da psicanálise em textos como As neuropsicoses de defesa (FREUD, 1996b) e Inibições, Sintomas e Angústia (FREUD, 1996g). Sobre os mecanismos de deslocamento e compressão, Maia (2009) afirma que, para Freud, os sonhos não se reduzem a um conteúdo inconsciente, pois são, na verdade, formações do Ego. Já em 1905, com base nas contribuições do editor inglês James Strachey, Freud havia publicado duas de suas obras mais importantes sobre o conhecimento baseado na descoberta da Ics e na compreensão da sexualidade humana: A Interpretação dos Sonhos e os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (EDINGTON, 2012). Nesseperíodo, Freud definiu, além da formulação do Ics, alguns 13 aspectos importantes que caracterizam a psicanálise: a livre associação de ideias e a interpretação dos sonhos como acesso ao seu conteúdo, a vida psíquica sexual da criança e o medo da castração (Complexo de Édipo), resistência e supressão da realização da libido pelo sistema consciente e pôr fim a presença constante da dualidade das pulsões (autopreservação e sexualidade). Quanto ao complexo de Édipo, Moreira (2004) confirma que não se trata apenas de um caso de um complexo nuclear de neurose (uma das psicopatologias estudadas por Freud na psicanálise que inclui a histeria - fenômeno psíquico identificado em seus primeiros pacientes cujo tratamento constitui própria teoria psicanalítica), mas a partir de um ponto de virada na sexualidade humana. O complexo de Édipo estrutura e organiza como o sujeito se posiciona em sua vida e como esse sujeito diferencia o Eu e o outro, o mundo interior e o exterior, e os sexos. 'A Resolução do Complexo de Édipo' (FREUD, 1996h) é um texto fundamental que define essa estrutura complexa, que muito contribuiu para a teoria psicanalítica e é usada como referência por outras escolas de psicanálise. Testi (2012) observa que Freud (1996e), em busca das situações patogênicas que surgiam das repressões da sexualidade e quando surgiam os sintomas ao invés das fantasias reprimidas, examinou a história do sujeito até a infância. Segundo esse autor, Freud (1996e) deixou clara sua posição sobre a sexualidade infantil desde os Três Ensaios, embora se detendo apenas aos adultos. Testi (2012) lembra que Freud supervisionou a análise de Hans e sua própria filha realizada por seus pais, observando o comportamento das crianças. A partir de 1910, Freud fez uma clara distinção entre pulsões de autopreservação (um conjunto de necessidades associadas às funções vitais do corpo e reguladas pelo princípio de realidade) e pulsões sexuais (GARCIA-ROZA, 1993). Freud (1996i) afirmou ter constatado que a satisfação dessas necessidades é acompanhada por uma sensação de prazer. No entanto, essa luxúria está desvinculada do instinto, não mais tomando como objeto algo do mundo real, mas um fantasma do objeto, representando assim instintos sexuais em oposição aos de autopreservação. Em Freud (1996j), esse contraste entre pulsões é suavizado pelo contraste entre a libido do Ego (narcisista) e a libido objetal (libido investido em objetos externos). 14 É apenas no texto de 1914 que Freud vai definir mais claramente o Ego em oposição ao Ics e a ruptura com Jung, por persistir com a ideia da sexualização da libido (GARCIA-ROZA, 1993). Avançando em seus estudos sobre o embate de forças inconscientes e conscientes, Freud formulou uma nova organização psíquica, a qual alguns autores chamam de esquema topográfico do aparelho psíquico. Dessa forma, Freud (1996k) distinguiu três instâncias mentais: o Ics, o Pré-Cs e o Consciente (Cs). O trabalho da Psicanálise, nesse caso, seria o de tornar conscientes os conteúdos inconscientes. Baratto (2009) afirma que, no texto O Inconsciente, Freud (1996j) levanta a questão de como se dá a transposição, isto é, a passagem das ideias do sistema Ics para o sistema Cs. Essa questão é precisamente introduzida em função da concepção tópica de que o aparelho psíquico é constituído por três sistemas: Ics, Pré-Cs e Cs. Os estudiosos da Psicanálise chamam essa primeira configuração espacial do psiquismo humano de Primeira Tópica Freudiana. Segundo Baratto (2009), Freud argumentou que o trabalho clínico prova que a repressão não é revertida, nem seu efeito é revertido pela sugestão (FREUD, 1996l). O autor lembra que os psicanalistas devem estar cientes de que a divulgação do Ics ao paciente atendido na maioria das vezes leva a uma intervenção inofensiva e ao aumento da resistência. A psicanálise freudiana não pretende promover uma expansão da consciência, Freud chamou esse método de ambição terapêutica, uma emoção perigosa para o analista (selvagem). Freud também sugeriu, mas refutou, a ideia da possibilidade de que a transição das ideias inconscientes para a consciência ocorresse por meio do esforço de atenção. O Ics torna-se o Cs pela palavra, ou seja, pelas associações de ideias inconscientes, já que a repressão nega as ideias. Assim, mais tarde, Lacan apontou a distinção entre função e estrutura da linguagem para explicar o Ics (BARATTO, 2009). Quanto ao recalque, segundo García-Roza (1993), ele vem do Ego e tem como fonte as demandas éticas e culturais do indivíduo. Freud reconheceu que nem todos os sujeitos respondiam igualmente às demandas e experiências, e afirmou que um determinado indivíduo poderia estabelecer um grande ideal de vida em que seu Ego mede, e outro simplesmente não poderia ter uma referência tão alta, logo entendeu Freud que para que haja recalque, deve haver um ideal como condição. 15 No narcisismo, o verdadeiro Ego funde-se no novo Ego ideal, dotado de perfeições às quais não se pode renunciar (perfeição narcisista infantil). O homem então procura recuperá-lo através de uma forma de um ideal do Ego. Aqui temos dois conceitos importantes para a dinâmica psíquica: o Ego ideal (busca repressão) e o ideal do Ego (busca idealização). Na obra Luto e Melancolia, Freud (1996j), trata de forma mais precisa sobre o Narcisismo, e a identificação imaginária com o objeto, caracterizando como a libido no processo de luto deve passar pelo teste da realidade e o confronto com a perda do objeto para se esvaziar dos laços afetivos anteriormente associados a ele. Um processo semelhante, mas fundamentalmente diferente, ocorre na melancolia, um processo no qual o paciente identifica o objeto fantasia com o Ego e continua a enrista- lo através dessa identificação. Ainda de acordo com as ideias de García-Roza (1993) notamos que no texto "Além do Princípio do Prazer" (FREUD, 1996m) ele afirma que há grande parte do Ics no Ego, isto é, além de uma determinada parte do Ego estar ligada à consciência, há outra que é inconsciente, contudo, é somente em O Ego e o Id, de Freud (1996h) que é assinalada a emergência do surgimento de um novo sistema, conhecido como Segunda Tópica Freudiana: Ego, Id e Superego. Entretanto, essa nova tríade não substitui a anterior, pois: “[…] enquanto a primeira tópica voltava sua atenção para a economia libidinal, a segunda está voltada para o confronto da libido com o que lhe é externo: a exigência de renúncia imposta pela cultura” (GARCIA-ROZA, 1993, p. 206). Em outras palavras, o que suprime a libido são as regras de uma sociedade. Só se pode falar do ideal do ego quando o outro é introduzido. García-Roza (1993) também aponta que Freud admitiu que o Ego é aquela parte do Id que foi modificada pela proximidade e influência do mundo exterior (FREUD, 1996n), confrontando o princípio do prazer e a realidade. Mas e o Superego? Ainda segundo o autor, o Ego não enfrenta apenas o Id, pois uma parte dele se diferencia e se constitui como entidade autônoma e produz o Superego no psiquismo, que tem a função de agente crítico. Este é o herdeiro do complexo de Édipo e é construído com uma tripla função: introspecção, consciência moral e ideal de Ego. As crises para o sujeito são explicadas pela economia e dinâmica psíquica no que se refere às negociações do Ego com as demandas instintivas do Id, as 16 idealizações e repressões do Superego e da realidade. Uma frase que causou polêmica no fim da XXXI Conferência (FREUD, 1996n) foi: Wo es war, sol ich werden. Pode ser entendida de diversas maneiras, mas sobretudo como: onde isto (Id) estava, então Eu devo ser (estar) — uma análise mais aprofunda foi realizada posteriormente por Jacques Lacan (GARCIA-ROZA, 1993). Complementarmente às questões do Ics são desenvolvidas, por diversos precursores de Freud, algumasconceituações acerca do Narcisismo, da dissociação do Ego, das fases erógenas infantis, do fortalecimento do Ego, da educação, entre outras características de comportamento e desenvolvimento humano. Podemos destacar aqueles que se mantiveram atrelados à Escola Freudiana: Karl Abraham (estudos dos estágios pré-genitais do desenvolvimento e sobre o Narcisismo); Sandor Ferenczi (fundamentos da teoria das relações objetais e a teoria do trauma da sedução real infantil); Wilhelm Reich (crítica de que uma análise deve ir além da remoção dos sintomas, visando a mudanças na armadura resistencial); Anna Freud (enalteceu e aprofundou as funções do Ego e foi pioneira da Psicanálise com crianças) e Bion. Além de outras escolas oriundas da Psicanálise freudiana, como a kleiniana, winnicotiana, do Ego, do self e a Escola Lacaniana, entre outras, destacaremos algumas dessas escolas a seguir, considerando suas contribuições à subjetividade e ao desenvolvimento humano (GARCIA-ROZA, 1993). Por fim, podemos conceituar Id, Ego e Superego, que, como já vimos, foram desenvolvidos por Freud entre 1920 e 1923 como uma segunda teoria para aperfeiçoar sua descoberta ao afirmar que o aparelho psíquico consiste nesses três componentes específicos, senão vejamos: Id: Para Freud, o Id deve ser entendido como um reservatório de energias psíquicas, como o lugar de onde emanam os impulsos de vida (eros) e morte (thanatus). O Id é o componente arcaico e inconsciente das energias mentais (psique) que alimentam o comportamento humano. Do Id vêm os impulsos cegos e impessoais dedicados à gratificação pessoal. Este componente não 17 consegue perceber os limites de suas ações. É o mais inconsciente dos três componentes. Está nos mais profundos do aparelho psíquico; Ego: Este componente exerce controle sobre a experiência consciente e regula as ações entre a pessoa e o ambiente. Ocupa a posição de centros de referência para toda atividade psíquica e qualidades egocêntricas. Além disso, sempre se esforça para a autopreservação do organismo. Através do Ego, as pessoas aprendem tudo sobre a realidade externa e orientam seu comportamento para evitar estados dolorosos, medos e punições. Quanto às suas funções básicas, o Ego é responsável por memórias, sentimentos, pensamentos, repressão, etc. Superego: para Freud, o Superego é o representante de uma natureza superior do "Ego". Ele trabalha com o objetivo de evitar penalidades e infrações. Também é responsável por promover as ideias moralmente aceitas. Também de acordo com a teoria freudiana, o Ego surge com o complexo de Édipo, da internalização de proibições, limites e autoridades. Como funções básicas podemos considerar a geração de culpa, o sentimento de inferioridade, virtude, a equação mágica de desejo e ação, e a necessidade inconsciente de punição. Na concepção da psicanálise, esses três sistemas não são vazios. Ao contrário, são habitadas por conteúdos decorrentes de experiências pessoais e particulares que as pessoas descrevem sequencialmente como seres sociais. Por isso, na teoria psicanalítica, para compreender um indivíduo é preciso resgatar seu passado, os conteúdos de suas experiências passadas (BOCK et al., 2002). 3.1 Inconsciente e Sublimação Como vimos, Freud deixou seus pacientes para falar e conduzir sessões analíticas, e descobriu que alguns se sentiam estranhamente embaraçados e retraídos quando certos conteúdos, pensamentos ou imagens lembradas surgiam. Ele percebeu que havia uma força tentando parar tais atos e pensamentos. Com base nessas evidências, foi estabelecida a presença de dois elementos envolvidos na origem do esquecimento. Ele chamou o primeiro elemento de resistência (poder psíquico impedindo a revelação, a consciência de um pensamento). 18 A segunda foi a repressão. Esse poder funciona no sentido de fazer desaparecer a consciência de uma lembrança, a lembrança de algo insuportável e doloroso que pode estar na origem do sintoma do paciente. Com base nessas considerações, Freud descobriu a existência do inconsciente como parte do aparelho psíquico. De acordo com a teoria psicanalítica, existe um recipiente intrapsíquico no qual residem todas as memórias. Freud chamou esse lugar de inconsciente. Em sua tentativa de compreender o esquecimento, os erros percebidos nas sessões de análise, a percepção freudiana levou à conclusão de que o inconsciente humano o orienta em suas decisões e sentimentos e tem sua própria lógica e leis de funcionamento. 3.1.1 O que é o inconsciente? Após estudos em seu livro A Interpretação dos Sonhos, Freud apresentou sua primeira ideia da estrutura e funcionamento do aparelho psíquico, a personalidade. Para ele existem três entidades psíquicas que compõem o aparelho psíquico, senão vejamos: inconsciente, pré-consciente e consciente. A seguir, você pode conhecer cada uma delas: Consciente: nessa localidade residem os conteúdos conscientes, as ideias e os pensamentos mais presentes. Esse é uma doutrina do instrumento psíquico em que as informações do universo exterior e interno são recebidas, pensadas e percebidas; Pré-consciente: neste caso, são os conteúdos que são acessíveis à consciência, mas podem ou não ser incluídos, e isso sem um esforço muito grande por parte do indivíduo. Esta parte do sistema psíquico é um ponto intermediário entre estados de consciência e o estado de inconsciência; Inconsciente: contém o conteúdo da memória, boas e más lembranças, ou seja, fatos ou lembranças de episódios inconscientes. Freud definiu o inconsciente como o sistema no qual se agrupam os conteúdos não presentes na mente consciente. Existem os conteúdos reprimidos que são impedidos de entrar na consciência. Este ocorre devido ao efeito de censura dos mecanismos internos de defesa. Freud enfatiza que o inconsciente é 19 uma parte do sistema psíquico que se rege por suas próprias leis de funcionamento e não se limita à noção de tempo. No inconsciente não há ideia de passado e presente. 3.1.2 Sublimação Como você já viu, existe uma força interior no inconsciente humano que conspira para que os desejos sejam realizados sem culpa ou desconforto. Essa força busca a paz de consciência. Freud chamou isso de mecanismo de defesa. Como o nome sugere, esse mecanismo tenta mitigar o conflito negando ou distorcendo a realidade. É um instinto que mantém o contentamento interior. Na concepção psicanalítica, esses mecanismos, na maioria dos casos em que atuam, tentam defender o autoconceito da pessoa e podem, assim, impedir o desenvolvimento saudável da personalidade. Um dos mecanismos de defesa mais bem estudados por Freud é a sublimação. Este é um poderoso instinto/impulso que permite que impulsos indesejados sejam convertidos em algo menos prejudicial. Esse instinto permite que conteúdos que não podem ser expressos diretamente pela pessoa por serem violentos ou repulsivos se manifestem na vida da sociedade por meio de atividades intelectuais, artísticas, religiosas, atos que beneficiam a organização social em vez de prejudicá-la. Disso pode-se deduzir que talvez a arte de Leonardo da Vinci e a música de Beethoven sejam o resultado da sublimação de seus desejos desapontados ou emoções tempestuosas. Como você pode ver, a sublimação pode ser vista como uma importante ferramenta de apaziguamento e manutenção da ordem social. Sem eles, a convivência social poderia se tornar muito perigosa e difícil. Contudo, para Jorge (2008, 153): As indicações freudianas sobre a sublimação são pontuais e não chegam a constituir uma ‘teoria coerente’, o que não impede que o termo sublimação seja usado com grande frequência pelos psicanalistas, ainda que muitas vezes distorcendo alguns dos achados mais fundamentais de Freud e transformando-o no estandarte de uma teoria que tem por objetivoa normativização da sexualidade. A teoria freudiana, no entanto, não autoriza esse reducionismo psicologizante e o conceito de sublimação requer ser apreciado em sua sutil complexidade. 20 Ainda para o autor, “os primórdios do processo de sublimação interessam a Freud na medida em que permitem a produção de diferentes associações que de outra forma não seriam observadas. Assim, haveria uma estreita ligação entre a sublimação e o chamado saber ou pulsão de pesquisa, cuja atividade ocorre entre 3 e 5 anos. Essa ânsia estaria ligada, por um lado, à ânsia de dominação, da qual seria uma forma sublimada, e por outro, à escopofilia”. Com isso em mente, lembre-se de que o termo teoria vem do grego theoria, significando o ato de ver, observar e investigar (JORGE, 2008, p. 153). A supressão pela formação reativa é uma subespécie de sublimação. Ela se inicia no período de latência e continua por toda a vida constituindo o que se chama de caráter: “O que descrevemos como o ‘caráter’ de uma pessoa é construído em grande parte com o material de excitações sexuais e se compõe de pulsões que foram fixadas desde a infância, de construções alcançadas por meio da sublimação e de outras construções, empregadas para eficazmente conter os impulsos perversos que foram reconhecidos como inutilizáveis” (JORGE, 2008, p. 153). 3.2 Constituição do sujeito e seu desenvolvimento Para destacarmos as especificações das fases de desenvolvimento infantil em Freud, vale ressaltar que desde o início de seus trabalhos, no Projeto (FREUD, 1996i), ele analisa o vínculo mãe-bebê com uma experiência de satisfação erógena. A experiência de satisfação vai ser importante no processo dinâmico psíquico de prazer- desprazer. Para Testi (2012), a experiência de satisfação em Freud se caracteriza pelo encontro entre o bebê e a pessoa que permite as descargas das tensões internas (geralmente a mãe), promovendo, assim, o apaziguamento dessas tensões, que é reconhecida como uma vivência de satisfação, produzindo a primeira sensação de prazer, além da saciação de uma pura necessidade. Assim, para a autora, quando a mãe está cuidando do filho, ela também está despertando no filho a pulsão sexual ou libido. Garcia-Roza (1993) lembra a distinção freudiana entre Narcisismo primário e secundário. O narcisismo é uma categoria criada por Freud para representar um 21 investimento libidinal no Ego. O narcisismo primário descreve um estado precoce em que a criança investe toda a libido em si mesma (autoerotismo), ao passo que o secundário descreve o retorno da libido ao Ego depois da retirada dos investimentos objetais (libido do objeto). O narcisismo primário é entendido aqui, enquanto realidade psíquica, como o mito primário do regresso ao seio materno, sendo o autoerotismo uma fase anterior e preparatória ao narcisismo. Uma das formas de lidar com o narcisismo infantil é o recalque (função normalizante). Freud defendia tanto o menino quanto a menina como sendo o primeiro objeto original de amor da mãe, mas insistia na ideia de que o abandono da mãe, como objeto de amor, é uma condição necessária para a entrada da menina no Édipo (MOREIRA, 2004). Freud caracterizou as fases de desenvolvimento infantil a partir das pulsões sexuais em quatro fazes: oral, anal, genital e fálica. Para Testi (2012), a sexualidade infantil na teoria freudiana não se caracteriza por uma fase cronológica de desenvolvimento, mas por fases de organização psíquica frente ao objeto. Na constituição psíquica do sujeito, Freud classificou duas etapas de organização pré-genital: a oral e a sádico-anal, pois estando a satisfação a serviço da autopreservação, é natural que ocorra em referência à nutrição. Situada entre a organização pré-genital e a organização sexual adulta, é definida uma organização sexual infantil ou fálica (sob a primazia do falo). O amadurecimento da criança pode levar à resolução (dissolução) de seu Complexo de Édipo. Devemos destacar, ainda, algumas contribuições à constituição do sujeito e ao seu desenvolvimento segundo outras Escolas de Psicanálise pós-freudiana. Além de Anna Freud, que deu continuidade à Escola de seu pai, mas tomando rumos próprios, Jung, que fundou sua própria terapia, Abraham, Bion, entre outros, podemos também destacar as contribuições de Melaine Klein. Segundo Ribeiro e Caropreso (2018), entre 1920 e 1945, a Psicanálise infantil se restringia ao circuito europeu, tendo Anna Freud, Melaine Klein, Margaret Mahler, Donald Winnicott, Spitz, Ferencsi e Abraham como seus principais estudiosos. Com os determinantes da Segunda Guerra, alguns desses psicanalistas precisaram se mudar para os Estados Unidos. 22 3.2.1 Melanie Klein Melanie Klein partiu de alguns conceitos de Freud, como fantasia, mundo interior, complexo de Édipo, etc., mas também elaborou outros conceitos originais como posição e Ego primitivo (de nascimento) para mobilizar mecanismos de defesas arcaicas (dissociações, identificação projetiva, identificação introjetiva, negação onipotente, idealização e difamação) contra os medos primitivos decorrentes da pulsão de morte inata, mantendo o conceito freudiano do complexo de Édipo, mas identificando-o nos primeiros dias de vida da criança (NEVES, 2007). Melaine Klein fundou a Escola dos Teóricos das Relações Objetais. Examinava os estágios iniciais do desenvolvimento infantil, criando a técnica do brincar como forma de expressão do Ics. Avaliando o primeiro trimestre do desenvolvimento infantil, Klein identificou o medo da aniquilação (causado pelo trauma do nascimento e identificação de objetos parciais como o seio da mãe), um medo persecutório que evoca suas primeiras defesas (posição esquizo-paranóide quando criança). Com base nesse conceito, Melaine Klein descreveu o desenvolvimento psicológico do indivíduo humano. O período marcado pela escola kleiniana valorizou aspectos do desenvolvimento emocional primitivo, relações objetais parciais, mecanismos primitivos de defesa e, apesar da valorização da transferência pela teoria freudiana, o caráter contratransferencial do analista começou a ganhar visibilidade. Essa escola foi desenvolvida na obra de diversos autores, inclusive no Brasil, como Isaacs, Segal, Rosenfeld, Meltzer, Bion e Aberastury (ABRÃO, 2008). Ribeiro e Caropreso (2018) resumem a fase da separação-individuação de 4 ou 5 meses de vida do bebê e até 30 a 36 meses. Observações diárias no Centro Infantil Maestro (MAHLER, 1971) descreveram certos comportamentos comuns aos bebês, como o uso de objetos inanimados relacionados à mãe para atuar como substitutos (objetos de transição) para ela durante sua ausência. Da mesma maneira: Outro fato observado é que houve significativa modificação cinestésica das crianças normais quando em contato com o corpo humano e pouca alteração quando manuseando objetos inanimados. Entretanto, nas crianças psicóticas, o quadro inverso foi notado. Uma terceira observação foi a ocorrência, entre irmãos, de diferentes reações diante de estranhos, mostrando que, apesar de terem o mesmo objeto materno, a aquisição da expectativa confiante e da desconfiança básica dependem da maneira com que foram cuidados (RIBEIRO; CAROPRESO, 2018, p. 905). 23 3.2.2 Heiz Kohut Outra importante escola fundada nos EUA foi a psicologia do self. Foi estabelecida por Heiz Kohut, um médico austríaco que, como Mahler e outros, estava fugindo do caos dos nazistas. Kohut inicialmente se considerava um profundo estudioso dos conceitos freudianos, mas em Chicago se distanciou desses conceitos fundamentais da psicanálise tradicional. Para Kohut, os conceitos psicanalíticos assumiram posições muito ortodoxas (as escolas de Anna Freud, Melanie Klein e a psicologia do Ego). Ele explicou que os fenômenos psicológicos só podem ser apreendidos através da introspecção e da empatia.Enquanto estudava patologias narcísicas, sofreu fortes críticas negativas, mas seus ensinamentos foram ampliados. Segundo Sarkis (2016), os estudos de Kohut sobre patologias narcísicas apresentados em obras e publicados em seus livros têm recebido críticas negativas. Colegas e alunos se reuniram e o ajudaram a fundar o Grupo de Estudos de Psicologia do Ego. Heiz Kohut formulou o conceito do self-objeto respondendo empaticamente às necessidades psicológicas, ou seja, o indivíduo que passa a ter uma experiência associada a funções que um bebê ainda não pode desempenhar sozinho porque possui apenas um núcleo de self desenvolvido por meio da conexão consigo mesmo (SARKIS, 2016). Mais especificamente, para o bebê, o adulto que cuida dele é uma parte dele mesmo. O Ego-objeto idealizado garante segurança, apoio e um sentimento de pertencimento a um contexto humano, mas quando esse Ego-objeto falha, ele vem conduzindo a uma internalização idealizada do ego apegado, levando a patologias do Ego narcisista. Kohut defendeu a existência de um Eu completo (não defeituoso) com habilidades plenas, criativas e produtivas em oposição ao Eu narcisista (defeituoso). A cura do Ego narcísico ocorre através das experiências emocionais do paciente em reativação e análise de transferência, durante o processo analítico as emoções inconscientes são revividas e processadas na mente consciente. Posteriormente, Kohut modificou alguns conceitos como o narcisismo, que foi conceituado como uma estrutura da mente, algo típico das relações humanas, com capacidade de transformações evolutivas. Através do conceito de raiva narcísica, ele criticou a agressão destrutiva que responde à ameaça de fragmentação do Eu. Além disso, Kohut utilizou metáforas para distinguir o homem culpado (a relação do homem 24 com suas pulsões) do homem trágico (em busca de sentido existencial), enfatizando seu distanciamento da psicanálise freudiana, e afirmando que o homem corre riscos pela ameaça de fragmentação do self. 3.2.3 Winnicott A Escola de Donald Woods Winnicott (1896–1971) também se tornou bastante importante, tendo em vista que o pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista nascido na Grã-Bretanha atuou clinicamente e escreveu para revistas destinadas ao público em geral. Nelas, ele discutia os problemas das crianças e das suas famílias. Sua extensa obra foi dedicada à construção da teoria dos processos maturacionais (um caminho a ser percorrido partindo da dependência absoluta e da dependência relativa à independência relativa) que, além de constituir uma teoria da saúde, com descrição das tarefas impostas desde o início da vida pelo próprio amadurecimento, configura também o horizonte teórico necessário para a compreensão da natureza e a etiologia dos distúrbios psíquicos. Winnicott exerceu a psiquiatria infantil com base na Psicanálise modelada por ele mesmo em três pontos: A teoria da sexualidade no entendimento das patologias maturacionais e das práticas clínicas; A valorização do fator ambiental; A substituição do Complexo de Édipo pela resolução dos conflitos no colo da mãe e nos ciclos que vão se ampliando conforme o amadurecimento. Metodologicamente, seu trabalho diferiu de Freud e de outros em sua decisão de estudar a criança e sua mãe como uma entidade psíquica. Isso lhe permitiu observar a sucessão de mães e bebês e obter conhecimento sobre a constelação mãe-bebê, em vez de dois seres puramente diferentes. Portanto, não há como descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois o ambiente é primeiro a mãe (ambiente encorajador: boa mãe), só aos poucos ele se torna algo externo e separado do bebê. Naffah Neto (2005) argumenta que muito antes de o bebê constituir seu Eu unificado e coerente, Winnicott define um modo particular de estar no mundo ao fundir a herança biológica e articulando-a com seu ambiente. Apesar do surgimento de um 25 self fragmentado (gesto espontâneo, criativo), há um eixo central, um núcleo, a partir do qual amadurece e produz experiência, fator primordial no desenvolvimento da análise winnicottiana. A psicopatia é caracterizada por uma perturbação ou falha no ambiente. A teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura pré- existente, mas algo constituído a partir da elaboração imaginativa do corpo e de suas funções - o que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração se dá na oportunidade materna de exercer funções primordiais como posse (permitindo a integração no tempo e no espaço), manipulação (permitindo que a psique se aloje no corpo) e apresentação de objetos (permitindo o contato com a realidade). O psique-soma primitivo se move ao longo de uma linha de desenvolvimento enquanto a continuidade de sua existência não for quebrada. Isso requer um ambiente suficientemente bom no qual as necessidades do bebê sejam atendidas. Um ambiente ruim parece uma invasão à qual o psicossoma (o bebê) tem que responder. Essa reação interrompe a continuidade da existência do bebê. A doença surge então como resultado de perturbações na relação mãe-filho, pois estas provocam perturbações no desenvolvimento do indivíduo. Tais distúrbios criam uma sensação de ausência de limites corporais, despersonalização iminente, medos inimagináveis, ameaças de desintegração e despedaçamento e de cair para sempre e falta de coesão psicossomática. 3.2.4 Jacques Lacan A última Escola de Psicanálise que abordaremos aqui é a da Escola Francesa inaugurada por Jacques Lacan. Lacan se tornou um autor polêmico, muito discutido e admirado, de modo que seus seguidores o consideram um psicanalista brilhante, e o maior depois de Freud, enquanto seus críticos o acusam de deturpar/desvirtuar a Psicanálise, afirmando que a teoria lacaniana é um retrocesso à Psicanálise. Lacan debruça-se sobre a teoria freudiana para apoiar suas diversas críticas à Psicologia do Ego e as escolas desenvolvidas nos EUA. Segundo Garcia-Roza (1993), Lacan lê Freud e se propõe a analisar a enigmática frase do final da XXXI Conferência: Wo es war, sol ich werden (FREUD, 1996n). O autor considera que, para Freud, o sujeito não é o sujeito da verdade, que 26 o Eu desconhece os desejos do sujeito (deslocamento do sujeito cartesiano já mencionado aqui). Então, “[…] dizem Freud e Lacan é que esse sujeito, até então absoluto, é atropelado por outro sujeito que ele desconhece e que lhe impõe uma fala que é vivida pelo sujeito consciente como estranha, lacunar e sem sentido” (GARCIA- ROZA, 1993, p. 210). No discurso do sujeito (na cadeia significante), o que é lacunar é o lugar do Outro para Lacan, e é nele que o sujeito aparece. Lacan fazia distinção desse Outro (com O maiúsculo) como sendo o lugar do Ics e da ordem simbólica, ao passo que o outro (com letra minúscula) é o semelhante, ou seja, um outro sujeito. Para Lacan, é esse Outro que agita (GARCIA-ROZA, 1993). O Outro é a própria ordem simbólica que é constituída pela linguagem e composta de elementos significantes formadores do Ics. Já o Ego é a imagem que o sujeito tem de si mesmo, manifestando-se como defesa e por isso tem a função fundamental de desconhecimento. Em sua origem, o Ego (moi) é anterior ao Eu (je). O Eu, para Lacan, é o da realidade falada, da comunicação, aquele que faz referência a um tu. Lacan determinou a origem do Ego como anterior à linguagem. Ele formulou a teoria do Estádio do Espelho como formador da função do Eu, designando um momento da história do sujeito entre os 6 e 18 meses de vida, quando a criança se torna capaz de formar sua unidade corporal por identificar a imagem do outro (reflexo, espelho) (GARCIA-ROZA, 1993). O sujeito é produzido na passagem do imaginário ao simbólico, ou seja, por meio da linguagem. Nesse momento, Lacan concebeu a constituição e o desenvolvimento do sujeito a partir de uma ordemtríplice: a ordem Simbólica, a ordem Imaginária, e a ordem do Real. Essa última representa a realidade barrada, impossível de ser definida, já que não é possível de ser definida por escapar da compreensão do sujeito. São considerados discípulos de Lacan os psicanalistas Jaques Allain-Miller, Fraçoise Dolto, Maud Mannoni, Moustapha Safouan, entre outros, que ajudaram a disseminar no mundo a Escola Psicanalítica francesa. Podemos apontar uma questão para a reflexão: partindo do que conhecemos até aqui quanto à revelação do Ics e a constituição do Eu, perpassando por diversos 27 conceitos que contribuem para o entendimento do campo da Psicologia e para o desenvolvimento do ser humano, ao comparar a ideia e a dinâmica da sexualidade infantil presente em todas essas linhas de pesquisa, podemos afirmar que o ser humano sofre enquanto ainda retém conteúdos infantis na forma de agir no mundo externo? Talvez aqueles que conseguem melhor se adaptar às exigências do nosso ambiente interno e externo sejam sujeitos um pouco mais amadurecidos e livres de suas energias libidinais infantilizadas. 4 RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE, SOCIEDADE E CULTURA A psicanálise é uma teoria social que surgiu entre o final do século XIX e início do século XX. Assim, buscou-se oferecer respostas aos problemas enfrentados por pessoas que vivenciam conflitos psicológicos, exacerbados por circunstâncias históricas, sociais, políticas, econômicas e culturais emergentes. A todo momento Freud tentou compreender seu mundo compreendendo o ser humano em sua parte mais íntima, o inconsciente. Ele sabia o quanto a realidade, constrangimentos e exigências cotidianas influenciam a vida interior dos sujeitos e sua racionalidade. Com esse caminho, a psicanálise apontou para a necessidade de construir espaços em que a liberdade e a individualidade fossem levadas a sério. A busca pela liberdade e emancipação do homem leva à afirmação do potencial humano. A proposição freudiana de um ser humano mais autônomo e livre - ou pelo menos mais consciente da existência dos vínculos sufocantes dos complexos morais - permite a emergência de uma organização social menos repressiva. Para a psicanálise é mais fácil para a pessoa autoconfiante lidar com o sofrimento e as ausências. Confirmando essa visão, Bock et al. (2002, p. 80) reitera que a finalidade da psicanálise como trabalho de investigação do autoconhecimento é “[...] criar mecanismos de superação dificuldades, conflitos e submissão a uma produção mais autônoma, criativa e humana de cada indivíduo, grupo, instituição […]”. A influência e a importância dos conceitos de Freud na organização das sociedades contemporâneas e na cultura que molda a vida em todo o Ocidente não podem ser negadas. A grande contribuição para a ciência, arte, literatura e cultura em geral está na descoberta do inconsciente. Disso nasce uma nova compreensão do ser 28 humano, diferente daquela anteriormente postulada pela filosofia moderna, com sua acentuada ênfase na possibilidade de plena autonomia humana com base na razão. O homem moderno tem sido descrito como uma máquina, sem emoção, frio. Os postulados freudianos minam essa visão ao afirmar que o homem não é tão proprietário de seus caminhos. A psicanálise demonstra a existência de outro "Eu" no homem que o controla inconscientemente e demonstra que pessoas precisam ter uma visão mais verdadeira de si mesmas. No entendimento de Mendes (2006), quando Freud deu ao inconsciente um status de “alteridade radical”, por ter suas próprias leis e lógica e não ser dependente da razão cartesiana, ele foi ao mesmo tempo caracterizado pela genialidade. Tempo que o apresentou como um bom construtor da cultura emergente. A descoberta do inconsciente e sua descrição impactaram diretamente algumas premissas da religião e da organização da sociedade, e demonstraram o poder do conteúdo imaginário e da criação de ilusões. A pessoa concebida pela psicanálise precisa estar em um relacionamento saudável para se manter produtiva e ativa. Sua racionalidade depende de condições externas que afetam sua realidade interior e suas disposições mais queridas. Daí a importância do outro, da interdependência, de uma experiência mais livre, menos repressiva, mais criativa. Outro elemento importante é a contribuição da psicanálise para o estudo da neurociência e para a própria educação, bem como para as artes, como aponta Mendes (2006, documento online): A influência claramente assumida dos seus conceitos por movimentos artísticos como o surrealismo nas artes plásticas e no cinema, com nomes como Salvador Dalí, André Breton, Luís Buñuel, entre outros, com seu arrojo crítico ativo e desconstrução das convenções, desconcertou o próprio Freud, ele mesmo um burguês comportado, herdeiro da época vitoriana em sua vida pessoal. Outro legado da psicanálise que mostra suas raízes na cultura contemporânea é a ênfase na subjetividade, bem como a noção de que as diferenças são importantes para a organização das sociedades. A psicanálise faz parte dos grandes movimentos que iluminaram e possibilitaram a existência do cenário atual, mais abertos às minorias étnicas, à liberdade da mulher e seu consequente empoderamento, à abertura e aceitação da sexualidade feminina ativa e à diversidade sexual. 29 Da análise do curso histórico da cultura decorre que a psicanálise, que transcende as fronteiras entre o normal e o patológico, tornou-se uma psicologia geral. Invadiu todo o campo da história humana: arte, religião, filosofia, antropologia etc. Em suma, o vínculo da psicanálise com a realidade contemporânea é tal que é impossível imaginar um mundo sem jargões e conceitos freudianos. Não há como ler e compreender o homem e suas manifestações culturais e religiosas sem considerar as afirmações de Freud sobre o inconsciente. Como você viu, o inconsciente cria os desejos e impulsos que orientam as decisões e os sentimentos humanos. Nele o sujeito se encontra e se revela completamente. 5 TEORIA FREUDIANA DA CONSCIÊNCIA Os processos psicológicos permeiam a relação de nossa psique com o que nos cerca. Por exemplo, eles integram nossas lições aprendidas (como quando aprendemos a falar, ler e andar), nossas experiências (como quando ouvimos uma música favorita) e a maneira como nos comportamos (como quando reagimos a situações de medo) e nos relacionamos com as pessoas. Observe como a consciência, assim como outros processos (como emoção, pensamento, linguagem, sensação e percepção) estão presentes em todos os exemplos citados. Estar consciente significa estar ciente de seus processos e da relação que você está estabelecendo com o mundo exterior. Se não conseguimos trabalhar e entender nossos medos e traumas, é porque na dinâmica psíquica não conseguimos alcançar as informações que estão armazenadas em nosso subconsciente por algum motivo (como quando temos medo de um determinado animal, mas não entendemos a origem desse sentimento). Etimologicamente, o significado de consciência vem de conscientia, que representa aquilo/algo compartilhado com alguém. A consciência, portanto, diz respeito à capacidade de nos conhecermos em relação ao ambiente e ao outro. Este tema tem sido abordado especificamente em diversas áreas do conhecimento, como filosofia, neurociência, biologia, medicina, psiquiatria e psicologia. No campo da pesquisa psicanalítica desde o final do século XIX, destacam-se as contribuições de Freud para a compreensão da consciência, particularmente o 30 conceito de inconsciente a partir da consciência. Para ele, a consciência pertence aos conteúdos acessíveis ao sujeito. Consiste em perceber tudo ao nosso redor: sentimentos, pensamentos e percepções. O inconsciente, por outro lado, pode ser entendido como um registro de experiências e memórias traumáticas, assim como desejos reprimidose que podem se manifestar como sintomas. A ansiedade e o medo são exemplos da influência do inconsciente em nossas vidas. 5.1 Freud e a consciência Segundo estudos freudianos, a consciência é um grande "mistério" para a ciência. Freud (2011b) abordou a consciência a partir da perspectiva do consciente, argumentando que ela funciona como o órgão dos sentidos dos processos de pensamento e percepção do mundo exterior. Portanto, esse órgão desempenha um papel importante na discussão da função do inconsciente, pois pode se manifestar por meio da mente consciente. A dinâmica do funcionamento consciente/inconsciente de Freud é discutida detalhadamente neste tópico, usando as observações clínicas de Freud como ponto de partida para a discussão. Serão objetos de discussão também a dinâmica do aparelho psíquico e as contribuições de Charcot para o desenvolvimento do conceito de histeria. Pode-se retraçar parte do percurso cronológico freudiano sobre a construção do irreflexivo a partir da obra Estudos sobre a histeria (1980/1893-1895). Entre os anos de 1888 e 1893, o médico austríaco Sigmund Freud, usufruindo dos achados de Charcot acerca dos aspectos traumáticos da histeria, afirmava, com a sua teoria da sedução, que o trauma vivido pelo paciente histérico era de cunho sexual. Nesse sentido, os sintomas histéricos poderiam resultar de abuso sofrido durante a infância do sujeito (charme real). Mais tarde, o inventor renunciou à teoria da sedução e começou a rebater sobre trauma, que ocorre na dinâmica psíquica. Ou seja, as experiências negativas vividas na infância seriam recalcadas no irreflexivo e não se teria acolhimento a elas por uma fala consciente. Assim, Freud afirmava que o advento dos sintomas histéricos estaria inteiramente pautado às situações prévias vividas pelo sujeito. Trata-se de um relacionamento não tão modesto de apreender, imperfeição que serviu de alicerce para explicações entre causas e efeitos das crises 31 histéricas, contribuindo teoricamente para as discussões sobre a função do irreflexivo e as sintomatologias (FREUD, 1996). Entre 1893 e 1899 Freud desenvolveu o método da hipnose para promover a catarse. O objetivo era aliviar os sintomas no momento em que se formavam, pois, o médico observava a dificuldade de seus pacientes em associar o sintoma a algo relacionado a si mesmo. Assim surgiu o conceito de resistência, um obstáculo entre o conteúdo reprimido no inconsciente até a chegada da consciência. O autor também descobriu que as emoções desencadeadas por eventos traumáticos estavam intimamente ligadas às memórias. Segundo Sampaio Primo (2015), Freud teve um intercâmbio intelectual com Breuer sobre casos clínicos, o que foi importante para influenciar a construção da histeria nas obras de Freud. Por muito tempo o psicanalista utilizou a hipnose como método de estudo da histeria, mas finalmente a abandonou quando percebeu que o aspecto principal dos sintomas histéricos são as reminiscências, ou seja, memórias reprimidas por serem traumáticas. As atuações de Charcot, as trocas intelectuais com Breuer e a prática clínica permitiram a Freud seguir seu caminho pessoal de pesquisa. O médico então abandonou a hipnose e a teoria do trauma, concluindo que os histéricos sofriam de flashbacks. Nesse contexto, a consciência surgiu como um aspecto de extrema relevância para o desenvolvimento da obra de Freud (2011b), pois é a partir deste que se configuram as discussões sobre o papel do aparelho e as dimensões do inconsciente. Segundo Freud (2011b), o ser consciente do sujeito é um estado relativo. Ou seja, memórias, pensamentos e emoções podem escapar rapidamente da nossa consciência, mas também podem reaparecer sob condições que os encorajam, como em conversas, lembranças ou visitas a determinados lugares. No entanto, para compreender plenamente o conceito de consciência, é necessário reconhecer as diferenças entre o consciente e o inconsciente. A teoria psicanalítica sugere que o inconsciente armazena experiências psíquicas como traumas, emoções e memórias que podem se tornar conscientes como ideias, embora essa não seja uma dinâmica tão fácil de apreender (FREUD, 2011b). Para Freud, o inconsciente existe apenas do ponto de vista consciente. A consciência, portanto, para o médico é a percepção do mundo exterior, a percepção 32 dos estados afetivos de prazer-dor e faz parte dos processos dinâmicos do sujeito (GOMES, 2003). Não obstante, em O Inconsciente, Freud (2010) reconhece a complexidade dos processos perceptivos. Para ele existem dois mundos: o interno, que está relacionado a todos os conteúdos inconscientes e; o externo, representado pela nossa percepção de mundo e pelos nossos valores e experiências. Na obra Negação, o autor aponta que aquilo que se percebe não necessariamente precisa estar integrado ao Ego e que a grande questão é se os conteúdos do Ego, que estão presentes como representação, podem atingir a percepção da realidade. (FREUD, 2014). Apesar de sua complexidade, a questão do conteúdo interno e externo é fundamental para a compreensão da esfera psíquica. Embora existam representações, segundo Coelho Junior (1999), elas decorrem de percepções de mundo. Dessa forma, a representação garante a realidade, ou pelo menos sua representação. Com essas considerações podemos perceber que Freud desenvolveu conceitos importantes como consciente e inconsciente que são essenciais para entender como a dinâmica psíquica é gerada e como lidar com conteúdos reprimidos no inconsciente. Também foram discutidas as relações freudianas entre o consciente e o inconsciente, subsidiando a construção do autor da topografia do aparelho psíquico idealizado. 5.2 As tópicas do aparelho psíquico A psicanálise freudiana foi de grande importância para os conceitos de primeira e segunda tópicas. O primeiro modelo foi chamado de teoria topográfica e trabalhos sobre a dinâmica do aparelho psíquico (inconsciente, pré-consciente e consciente). O segundo modelo é o estrutural, que fundamenta as discussões sobre o Id, o Ego e o Superego, instâncias da dinâmica psíquica. Um dos principais aspectos da psicanálise é definir a diferença entre o consciente e o inconsciente, pois sem essa distinção é difícil compreender a dinâmica patológica e o aparelho psíquico. Segundo a teoria freudiana, o primeiro tema sobre a estrutura do aparelho psíquico o divide em consciente, pré-consciente e inconsciente. Freud diz dessas ideias (2011a, p. 326): 33 Ao que é latente, tão só descritivamente inconsciente, e não no sentido dinâmico, chamamos de pré-consciente; o termo inconsciente limitamos ao reprimido dinamicamente inconsciente, de modo que possuímos agora três termos, consciente (cs), pré-consciente (pcs) e inconsciente (ics), cujo sentido não é mais puramente descritivo. O pcs, supomos, está muito mais próximo ao cs do que o ics, e, como qualificamos o ics de psíquico, tampouco hesitaremos em qualificar o pcs latente de psíquico. Na esfera da psicanálise, desse modo, o entendimento da teoria freudiana da consciência envolve discriminações entre consciente, pré-consciente e inconsciente. O aparelho psíquico tem diferentes formas de manifestar seu conteúdo. Os conteúdos manifestos não são conscientes, são reprimidos no inconsciente porque são impróprios (como conteúdos sexuais ou violadores de leis socialmente regulamentadas). O conteúdo latente, por outro lado, se manifesta através dos sonhos e é interpretado de acordo com a análise e atinge o nível consciente. O sonho é apresentado como o conteúdo latente do inconsciente, cujo caminho é o pré-consciente em uma investida de acessar o que não está claro para a mente consciente (FREUD, 2011b). Por meio dessa organização psíquica, o sujeito é capaz de elaborar, editar e tornar conscientes seus processos internos, aliviando assim seusofrimento psíquico. O pré-consciente é a barreira ou uma das áreas da psique. Faz parte do inconsciente, mas a mente consciente pode acessar o conteúdo do gerenciamento de análise. O consciente é o contato com o mundo exterior e total compreensão dele, captando percepções de emoções e pensamentos (FREUD, 2011b). No inconsciente, a repressão é o estado do que não é consciente, mas pode se tornar através do gerenciamento analítico. A repressão é o mecanismo do inconsciente que mantém as memórias reservadas. Em suma, existem dois tipos de inconsciente: o latente e o reprimido. O primeiro é um conteúdo que pode se tornar consciente; o segundo é o reprimido, incapaz de tomar consciência dele. No sentido dinâmico, existe apenas o consciente e o inconsciente juntos. Reforçando o que foi discutido acima: um depende do outro para existir. Por exemplo, se o paciente muda de nome na análise ou diz algo que signifique algo diferente, ele, através do ato falho, pode ter acessado, mesmo que superficialmente, o seu inconsciente (FREUD, 2011b). Todavia, na segunda tópica a própria teoria aponta para a organização de entidades responsáveis pelos processos da dinâmica psíquica: o Ego, o Id e o 34 Superego. O Ego está ligado à consciência e controla as emoções do mundo exterior. O Ego não é sobre a consciência, mas sobre uma barreira na psique que é o caminho entre o Id e o Superego. Segundo Rosenfield (2021), o Id, o Eu-ego e o Superego complicam a instância do Superego, cuja função é tanto consciente quanto inconsciente. Nesta fase de maturidade Freud distingue diferentes funções do inconsciente. O Ego traz alguns entendimentos sobre o consciente e contém aspectos inconscientes. O medo é um mecanismo que mantém o consciente e o inconsciente conectados. Assim, para Freud (2011b), o Superego é herdeiro do complexo de Édipo. Desempenha um papel importante na independência da criança, na ruptura simbólica com os pais, mostrando que o sujeito tem mais autonomia e visão das coisas e do mundo (FREUD, 2011b). Consoante a obra freudiana Ego e Id, de 1923, o Superego vai contra as escolhas objetais inconscientes ocorridas no complexo de édipo, no qual as meninas trocam o objeto de afeiçoamento maternal pelo paterno e os meninos permanecem ligados à forma materna, rivalizando o afeiçoamento da genitora com o progenitor. O encargo do Superego é instaurar a lei que castra e frustra o indivíduo da realização da fantasia erótica, levando-o a formar outras escolhas objetais (quanto os primeiros amores, amigos e demais relações sociais). Isso fica totalmente explícito quando se discute a fantasia que a menina tem com o pai e o menino com a mãe. A castração age como interventor para a não realização da fantasia, de forma que a criança se frustra e busca outros objetos para o investimento libidinal. Na segunda tópica de Freud, o inconsciente não é mais tratado como um lugar, mas caracterizado como uma das estruturas do psiquismo. Nesse sentido, o Id só pode se tornar consciente se tiver um representante, como no caso do conteúdo onírico. Parte do ego e do Superego podem ser conscientes, mas suas formas originais são inconscientes. O Id, por outro lado, só pode se tornar consciente quando se torna uma representação — suas formas originais são permanentemente inconscientes. 35 5.3 Consciência dos processos do Eu Na obra As pulsões e seus destinos (FREUD, 2013), Freud aborda o problema do retorno instintivo do Eu. O autor faz uso dos problemas das neuroses de transferência e das vias instintivas da dinâmica psíquica. Primeiro é necessário reconhecer que o Eu pode ser literalmente inconsciente. Tem uma especificidade que leva a ser consciente ou inconsciente, daí a ambiguidade. De qualquer forma, nosso conhecimento está ligado à consciência e, como mencionado acima, só podemos conhecer o inconsciente tornando-o consciente (FREUD, 2011b). Assim, para compreender o inconsciente, é preciso torná-lo consciente, transformar o que era apenas percepção em percepções externas. Imediatamente, o Ego não é apenas uma parte modificada do Id que aparece para o mundo exterior como um representante da psique. Existe uma terminologia que pode abordar isso: o "ideal do Ego" ou "Superego". O grande desafio é que essa parte do Eu tenha um contato mais distante com a consciência. Assim, pode-se observar que o Ego desempenha um papel importante na construção do caráter, pois na fase primitiva do sujeito o investimento objetal e a identificação com o objeto de gratificação são indistinguíveis uma da outra. Supõe-se mais tarde que esses desejos primitivos vêm do Id, que sente a necessidade de impulsos eróticos. O papel do Eu nisso? Afaste ou reprima esses desejos (FREUD, 2011b). Se um tal objeto sexual deve ou tem de ser abandonado (no caso dos bebês, a mama é o objeto de desejo), não é raro sobrevir uma alteração do Eu. Ocorre uma regressão ao mecanismo da fase oral, e o Eu facilita o abandono do objeto. De todo modo, o processo é muito frequente, sobretudo nas primeiras fases do desenvolvimento. O caráter do Eu se forma a partir do abandono dos objetos primários, tarefa importante para essa constituição. Nesse sentido, ocorre uma gradação da capacidade de resistência. Mas até que ponto as influências da história de vida do sujeito têm impacto nas escolhas eróticas de objeto? Por exemplo, muitas mulheres nas suas relações amorosas, elegem perfis que se assemelhem ao pai e repetem a relação que tem com a mãe. É claro perceber os traços de caráter do sujeito, os vestígios dos seus investimentos objetais (FREUD, 2011c). 36 Nesse sentido, o Eu pode ser entendido como uma forma de repertório verbal que indica o comportamento do sujeito, influenciado pelo social e por questões que levam o indivíduo a compreender quem é. Os estudos de caso são de grande relevância para as discussões sobre a aplicabilidade e aplicação teórica da psicanálise em um determinado contexto clínico, convidando-nos a refletir sobre a construção do tema à luz da experiência, trauma e história de vida. Neste capítulo você viu que a teoria freudiana da consciência inclui vários aspectos, como o estudo do aparelho psíquico que demarca o consciente, o pré- consciente e o inconsciente. O autor esclareceu que para uma consciência deve haver um inconsciente, que por sua vez atua como reservatório de emoções, pensamentos e memórias. Os grandes psicanalistas como Lacan, Adler, Bettelheim, Jung, Pichon- Rivière e Erikson baseiam suas discussões nos escritos de Freud. Não é um argumento fácil de entender, mas é fascinante para psicanalistas e entusiastas do assunto. As diversas constatações de Freud sobre o consciente e o inconsciente serviram de base para a compreensão do trauma, da elaboração do conteúdo manifesto e latente da variedade de sofrimentos psicológicos que o sujeito experimenta ao longo da vida. De fato, a teoria da consciência tem sido de imensa importância para construções conceituais de diferentes perspectivas. Os escritos de Freud contribuíram e continuam contribuindo diretamente para a prática psicanalítica e para o trabalho de pesquisadores e entusiastas do inconsciente. 6 ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA EM PSICANÁLISE A psicanálise surgiu no século XIX, em um período histórico de construção científica em que o modelo dominante era o da ciência moderna. Seu nascimento ocorreu no século XVII e Descartes pode ser considerado um marco da nova ciência, pois representou um ponto de partida na discussão sobre a valorização de um sujeito racional e a sede da experiência cognitiva. Segundo Figueiredo (1995, p. 16) "o domínio tipicamente moderno das tradições teóricas e epistemológicas, no qual surgem e flutuam questões de fundamentos e métodos, reflete uma nova posição do homem [...]". Voltando à 37 proposta original da ciência
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