Buscar

HISTÓRIA-E-EPISTEMOLOGIA-DA-PSICANÁLISE-1 (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 46 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2 
 
SUMÁRIO 
1  INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
1.1  O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE ................................................... 4 
1.2  A psicanálise ........................................................................................ 5 
2  TEORIA PSICANALÍTICA ........................................................................... 7 
2.1  Escola Psicanalítica: contribuições para o estudo do comportamento 
humana.....................................................................................................................7 
3  INCONSCIENTE E PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PSICANÁLISE 10 
3.1  Inconsciente e Sublimação ................................................................. 17 
3.1.1  O que é o inconsciente? ............................................................... 18 
3.1.2  Sublimação ................................................................................... 19 
3.2  Constituição do sujeito e seu desenvolvimento .................................. 20 
3.2.1  Melanie Klein ................................................................................ 22 
3.2.2  Heiz Kohut .................................................................................... 23 
3.2.3  Winnicott ....................................................................................... 24 
3.2.4  Jacques Lacan ............................................................................. 25 
4  RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE, SOCIEDADE E CULTURA ............... 27 
5  TEORIA FREUDIANA DA CONSCIÊNCIA ............................................... 29 
5.1  Freud e a consciência ........................................................................ 30 
5.2  As tópicas do aparelho psíquico ......................................................... 32 
5.3  Consciência dos processos do Eu ..................................................... 35 
6  ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA EM 
PSICANÁLISE ........................................................................................................... 36 
7  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 42 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1.1 O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE 
Todas as teorias científicas estão sempre relacionadas com a época. Na 
psicanálise não é diferente. Foi influenciada pelas condições de vida social, cultural, 
econômica e política de um momento histórico. Essa teoria científica, que surgiu em 
um período fértil da modernidade, revelou-se surpreendente. Segundo Hurding 
(1995), a psicanálise surgiu em uma época de conturbadas ideias do século XIX, em 
uma época em que a psicologia e a ciência empírica eram dominantes. Nasceu como 
uma nova solução para os dilemas anteriores sobre a natureza e a história da 
humanidade. 
Seu desenvolvimento ocorreu graças aos esforços de Sigmund Freud (1856-
1939), que buscou estudar a influência das estruturas internas do indivíduo em suas 
ações, suas relações com o mundo exterior e suas decisões. Finalmente: Freud queria 
entender como funcionava a vida mental. 
 Freud, médico, nascido na cidade de Freiberg, localizada na Morávia, recebeu 
seu doutorado em medicina pela Universidade de Viena. Foi especialista em 
neurologia e responsável pelo surgimento da psicanálise. A psicanálise nasceu em 
Viena, no coração da Europa. Desde então, tornou-se uma das teorias mais 
importantes que sustentam a mentalidade das sociedades de hoje. 
A partir da análise da trajetória de Freud pode-se afirmar que sua perspicácia, 
determinação e insatisfação com as respostas da psiquiatria clássica foram 
fundamentais. Ele não encontrou explicações para distúrbios nervosos, fobias e 
neuroses nas teorias de sua época, o que acabou lhe dando as ferramentas 
necessárias para fazer descobertas que mudaram a maneira como as pessoas e seu 
mundo eram entendidos. 
 As ideias de Freud foram influenciadas pela filosofia metafísica de Herbart, 
entrelaçadas com um período histórico moldado pelo darwinismo, particularmente a 
ideia de evolução e pelo método científico empírico. 
 A contribuição de Freud para a ciência é tão grande quanto o pensamento de 
Karl Marx para a percepção dos processos históricos e sociais. Freud ousou colocar 
como problema científico as questões relacionadas à psique de seus labirintos 
sombrios e misteriosos, ou seja, fantasias, sonhos, esquecimento e interioridade 
 
5 
 
humana. Sua maneira sistemática de investigar analiticamente as questões em aberto 
o levou a criar uma abordagem revolucionária, a psicanálise. 
1.2 A psicanálise 
Quando surgiu, a psicanálise era uma forma radicalmente nova de 
compreender o ser humano e interpretar o mundo que resulta de suas ações. Trouxe 
uma nova perspectiva sobre a realidade interior do homem. Por isso, é considerada 
pela literatura como uma abordagem revolucionária das questões da vida psíquica. 
O termo “psicanálise” refere-se a uma compreensão teórica, um método de 
pesquisa e uma prática profissional. Como teoria, a psicanálise caracteriza-se como 
um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre a estrutura, funcionamento e 
ações do ser mental (vida mental). Vale notar que essa busca pelo entendimento do 
funcionamento da vida psíquica levou Freud a escrever uma série de textos, livros e 
artigos, fruto do estudo meticuloso e cuidadoso de casos reais, muitos dos quais de 
sua autoria. Entre as obras de Freud, destacam-se: A Interpretação dos Sonhos; A 
Psicopatologia da Vida Cotidiana; O mal-estar na civilização; Reflexões para o tempo 
de guerra e morte, entre muitas outras. 
Como método de pesquisa científica, a psicanálise deve ser entendida como 
um processo metodológico, um modo de interpretação. De acordo com Bock et al. 
(2002, p. 70), ela “[...] busca o sentido oculto do que se manifesta por meio de atos e 
palavras ou de produções imaginárias como sonhos, delírios, associações livres [...]”. 
A rigidez de Freud sobre os passos da pesquisa científica forneceu um caminho 
seguro para investigar a natureza profunda de cada ser humano com a criação da 
psicanálise. Ele forneceu muitos insights para aqueles que tentam entender como o 
homem, tão tecnologicamente incrível, é ao mesmo tempo alimentado por forças que 
o levam a se comportar de forma inadequada e estranha. 
 Como atividade profissional, a psicanálise consiste em uma forma de 
tratamento chamada análise. Quando aplicado por profissional capacitado 
(analista/psicanalista), busca levar o paciente ao autoconhecimento e, assim, eliminar 
os males psíquicos e suas manifestações somáticas. Para alguns estudiosos, a 
psicanálise também deve ser vista como uma importante ferramenta que amplia as 
 
6 
 
possibilidades de compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos que 
desafiama visão do homem como ser civilizado. Entre tais fenômenos, podemos 
considerar a violência crescente, as brigas mesquinhas, o hedonismo intensificado e 
o individualismo em suas várias formas. São elementos que levaram à extinção de 
milhares de pessoas frágeis na cadeia de ecossistemas. 
Antes de chegar ao método da psicanálise, Freud iniciou suas investigações 
psicológicas com o método da hipnose aprendido com Josef Breuer. Através da 
hipnose o paciente recordou eventos dolorosos esquecidos e experiências que 
causaram um comportamento compulsivo, às vezes angustiante e doloroso. A 
aplicação deste método resultou no desaparecimento dos sintomas da doença em 
pacientes. No entanto, reconhecendo que nem todos os pacientes eram fáceis de 
hipnotizar, Freud decidiu abandonar esse método, sem, no entanto, abandonar a 
sugestão como meio de lembrar. Ele continuou sua pesquisa e decidiu abandonar o 
método catártico, um passo crucial para chegar ao método que chamou de 
psicanálise. 
Freud abandonou a sugestão catártica e criou a técnica da concentração. Para 
ele, esse foi um recurso eficaz para facilitar a lembrança, e por meio de conversas 
formais. Esse processo deve inibir a resistência das memórias e levar à consciência 
de fatos esquecidos (bons e ruins). Em seguida, aprimorou esses recursos e deixou 
de lado a conversa dirigida em favor da liberdade de expressão do paciente 
(conversão livre) como caminho de rememoração e autoconhecimento. Ao fazê-lo, 
Freud estabeleceu a técnica que representa uma referência no tratamento analítico 
(BOCK et al., 2002). 
Embora tenha obtido bons resultados no tratamento de seus pacientes, Freud 
teve dificuldade de compreensão, fazendo com que as lembranças de eventos 
traumáticos fossem esquecidas ou neutralizadas. A partir desse levantamento ele fez 
a tremenda descoberta do principal fundamento da teoria psicanalítica: o inconsciente. 
 
 
7 
 
2 TEORIA PSICANALÍTICA 
Influenciado pelos avanços científicos e tendências modernas no campo 
filosófico, Sigmund Freud entabulou a Clínica de Psicanálise onde se pensava que a 
subjetividade e, consequentemente, o comportamento humano estão sujeitos a uma 
lógica diferente da razão cartesiana, mas, como Hegel descreveu, motivado pelo 
desejo. Em seus estudos e pesquisas empíricas, Freud descortinou a instância do 
inconsciente (Ics) como o lugar onde se organizam os pensamentos. 
O Ics torna-se, assim, objeto de pesquisa psicanalítica, que se desenvolve em 
muitas escolas que tratam de questões psicológicas relacionadas ao sujeito e à 
dinâmica consciente-inconsciente. A partir dessas concepções é possível estudar a 
constituição do sujeito como ser humano, as relações que ele estabelece com o meio 
ambiente e seu desenvolvimento, tornando-se uma das maiores escolas e correntes 
teórico-metodológicas nesse campo da Psicologia. 
2.1 Escola Psicanalítica: contribuições para o estudo do comportamento 
humano 
Para falar da escola psicanalítica é preciso voltar a um cenário anterior ao seu 
surgimento: o século XVII, que é visto como um período de profundas mudanças na 
história e no pensamento científico. Naquela época, as revelações epistemológicas e 
científicas produziram um afastamento da concepção aristotélica e religiosa da Idade 
Média para desconstruir o paradigma anterior. 
Entre os pensadores desse período, para a psicologia, vale destacar René 
Descartes, que emergiu no mundo filosófico e defendeu a antropomorfização da 
verdade sob o conhecido axioma: “Penso, logo existo, ou penso, portanto, sou”. Nos 
tempos antigos, o locus da verdade era o locus das ideias divinas e não do homem. 
A verdade humana era então uma réplica da verdade ou um simulacro, uma réplica 
malfeita dela, e como simulacro tinha de ser descartada ou suprimida. 
Para García-Roza (1993), Descartes foi ao mesmo tempo revolucionário e 
herdeiro do pensamento grego e medieval. Enquanto os críticos do estudo das 
ciências (Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Galileu Galilei, etc.) carreavam as ideias 
 
8 
 
de um mundo fechado ao universo infinito, Descartes se curvava ao estudo da 
subjetividade. 
Chalmers (1999) também chamou a atenção para as transformações científicas 
desse período com as pesquisas inovadoras de Galileu e Newton em oposição à 
antiga concepção aristotélica de ciência, ou seja, a lógica cada vez mais absorvia a 
experiência como fonte de conhecimento: a empiristas (indutivistas). Embora os 
pensadores indutivistas também sejam criticados por Chalmers (1999), que considera 
a ingenuidade de pensar a ciência como neutra em relação ao objeto observável, 
podemos dizer que esses indutivistas, como Freud, são os que mais se preocupam 
com os estudos à psique humana porque é impossível ao homem observar algo 
puramente objetivo. 
O campo filosófico associado ao estudo do conhecimento e da subjetividade 
humana começou a abrir seu universo para o desenvolvimento de diversas teorias 
críticas, incluindo as de Kant (1724-1804), Hume (1711-1776) e Hegel (1770-1831) 
que, segundo García-Roza (1993), seguem esse modo cartesiano de afirmar a 
verdade da razão como a maior característica do comportamento humano. 
A partir dessa visão cartesiana da subjetividade, o campo da psicologia foi 
definido e consolidado como ciência até meados do século XIX e início do século XX, 
período em que surgiram diversos movimentos e correntes de pensamento que 
examinaram e focaram os fatores psicológicos fundamentais (pensamento, 
inteligência, linguagem, percepção, motivação etc.) e sobre o comportamento 
humano, a partir do conhecimento e da subjetividade derivados das correntes 
filosóficas, herdeiras da hegemonia platônica da Antiguidade Clássica. 
No campo da psicologia como ciência, Wilhelm Wundt é considerado um 
pioneiro da psicologia experimental ao lado de Ernst Heinrich Weber e Gustav 
Theodor Fechner, em Wundt fundou seu laboratório no Instituto Experimental de 
Psicologia da Universidade de Leipzig em 1879, Alemanha, e atraiu estudantes de 
diferentes partes do mundo. 
Para Araújo (2009, p. 211): “A definição de psicologia de Wundt pode ser assim 
resumida: A psicologia é uma ciência empírica cujo objeto de estudo é interior ou 
experiência imediata”. Da escola de Wundt em diante, várias outras escolas de 
pensamento moldaram o tema da psicologia. Ainda no século 19 nos Estados Unidos, 
 
9 
 
graduados da Escola de Leipzig demonstraram os ensinamentos de Wundt através 
do estruturalismo de Titchener (1877-1927) e do funcionalismo de J. Dewey (1859-
1952), Angel (1869-1949) e H. A. Carr (1873-1954). 
 No século XX as escolas de psicologia começaram a se definir de acordo com 
seu arcabouço teórico: Psicologia Comportamental: Watson (1878–1958); Psicologia 
da Gestalt com alguns dos seus precursores, como Wertheimer (1880–1943), Koffka 
(1886–1941) e Köhler (1887–1967); Behaviorismo: Skinner (1904–1990); Psicologia 
Cognitiva: Piaget (1896–1980); Psicanálise: Freud (1856–1939). 
Freud se dedicou ao estudo do Eu delimitado, não pela razão, mas pelo desejo, 
descobrindo, em virtude disso, o Ics. O princípio dos seus trabalhos para explicar a 
técnica psicanalítica, ocorreu pela força do neurologista francês Jean-Martin Charcot 
(1825–1893) sobre a hipnose (FREUD, 1996a) como sendo uma forma de acessar os 
conteúdos obscuros que fugiam das decisões conscientes de uma pessoa. Não 
conseguindo ver eficácia da hipnose em seu trabalho clínico, Freud começou a 
orientar sua clínica por meio da associação livre de ideias, em conjunto com o que os 
próprios pacientes lhe retornavam. 
No princípio, ele usava uma leve pressão sobre a fronte dos pacientes, como 
se aquilo pudesse induzi-los a falar o que lhes viesse à mente, porém, um deles 
sinalizou que aquele procedimento não era necessário e que bastava que o 
psicanalista deixasse que ele falasse livremente. E foi assim que Freud passou a 
sugerir que seus clientesfalassem o que lhes viesse à cabeça, sem censura, 
definindo-se, assim, o método psicanalítico pela livre associação de ideias. 
A psicanálise, como técnica construída por Sigmund Freud (1856-1939), 
contrariou o Eu único da razão e da verdade de Descartes introduzindo então a visão 
do Eu dividido obscurecendo a verdade. No entanto, Freud, não conseguiu se livrar 
do modo platônico de construção do conhecimento e da ciência (positivista). García-
Roza (1993, p. 20) fez essa distinção da seguinte forma: “[...] A psicanálise provocou 
uma queda da razão e da consciência do lugar sagrado onde foram encontradas. Ao 
fazer da consciência um mero efeito superficial do inconsciente, Freud praticou uma 
inversão do cartesianismo [...]”. 
A psicanálise freudiana contribuiu muito para a compreensão do funcionamento 
mental e do comportamento humano e para o tratamento da dor, isto é, com o Ics, o 
 
10 
 
comportamento humano não pode ser explicado somente em termos de aspectos 
psicológicos racionais. A partir disso, formou-se todo um movimento que valoriza o 
afeto. Para Freud (1996b), o conflito psíquico é resultado do choque de forças 
instintivas (inconscientes) e repressivas (derivadas do Ego e do Superego), sendo os 
sintomas as representações simbólicas desse conflito. Ele revelou a instância do Ics 
e revelou a ideia da dissociação do Eu em sujeito consciente e inconsciente e os 
impulsos que movem os desejos do homem em impulsos de vida e morte (FREUD, 
1996a) que funcionam sob diferentes lógicas. 
Freud argumentou que, além da associação livre, existe outra forma de acessar 
os conteúdos inconscientes expressos por meio das memórias: as reminiscências dos 
sonhos (FREUD, 1996c, 1996d). O médico chocou a comunidade científica ao 
defender a existência da sexualidade infantil e citar os traumas sofridos na infância 
pela instância do complexo de Édipo (FREUD, 1996e). Também revelou aspectos 
subjetivos como repressões, resistências e identificações como coadjuvantes 
formação do caráter, personalidade e comportamento humano e o fenômeno da 
transferência como eixo do tratamento psicanalítico (FREUD, 1996e). 
Para Garcia-Roza (1993), foi a produção do conceito de Ics que resultou em 
uma cisão da subjetividade, indicando, de tal forma, para uma constatação do sujeito 
sob duas realidades — um sujeito dividido —, pois, se a alma fosse passiva de 
cognição, não existiria erro. Salienta-se que o Ics freudiano não é o lugar das trevas, 
da irracionalidade, sua lógica é apenas diferente da lógica da consciência e é o desejo 
(e não a razão) que a anima. 
3 INCONSCIENTE E PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PSICANÁLISE 
Sigmund Freud era médico e nasceu em uma família judia de ascendência 
austríaca. Sua descoberta e afirmação da lógica da Ics, movida pelo desejo, 
estabeleceu a própria técnica psicanalítica e foi institucionalizada como a escola da 
psicanálise. A teoria foi desenvolvida de acordo com sua aplicação prática, isto é 
empiricamente. Ela vai além do abandono de Freud da técnica da hipnose aprendida 
com o mestre Charcot, passa para a associação livre sugerida por um de seus 
pacientes e esclarece a técnica na troca de inúmeras correspondências com outros 
 
11 
 
pesquisadores de seu período (Breuer, Ferenczi, Fliess e outros). A base de criação 
da psicanálise é em 1896 com a definição do aparelho psíquico. 
Para Mezan (2008), Freud estava ligado a Charcot pela vinculação da histeria 
com o processo de hipnose e com Breuer pelo processo catártico e pela teoria dos 
estados hipnoides (FREUD, 1996a). A evolução clínica da Psicanálise o fez avançar, 
a ponto de acabar com a amizade com Breuer, como reconhece o próprio Freud 
(1996f). 
Segundo Baratto (2009), o Ics foi elaborado como um sistema de 
representações que obedece às leis do deslocamento e da compressão, e representa 
a instância real da produção do pensamento, que pode encontrar na palavra um meio 
de expressão (como registro do simbólico). A psicanálise teve um árduo caminho 
histórico para formulá-la. Para o autor, o objetivo de Freud era aliviar o sofrimento do 
paciente expresso por meio dos sintomas, tentando examinar o momento preciso em 
que o trauma associado foi notado. Freud tentou usar as técnicas de hipnose e catarse 
para descobrir a causa desencadeante dos sintomas. Inicialmente, foram abordados 
sintomas que não podiam ser localizados em lesões biológicas, como paralisia, tiques, 
cegueira e comportamentos repetitivos. Nessa jornada exploratória, Freud descobriu 
a presença de uma força poderosa que se opunha à tomada de consciência de certos 
aspectos inconscientes, que ele chamou de resistência. 
A prática clínica mostrou que as emoções dolorosas tendem a permanecer 
associadas a uma memória. Usando a associação livre, ele identificou a liberação de 
certos sofrimentos psicológicos. Nesta primeira parte da teoria freudiana, podemos 
dizer que em estudos clínicos de pacientes histéricas, verificou-se que eles sofriam 
de lembranças das situações traumáticas para eles (principalmente na infância) e 
produziam sintomas. Para se livrar dos sintomas, os pacientes tiveram que recuperar 
essas memórias por meio da fala. 
García-Roza (1993) denota para o surgimento de uma primeira definição de 
organização do aparelho psíquico no Projeto para uma Psicologia Científica (FREUD, 
1996i), onde o que se convencionou chamar de Ego tem uma função repressiva com 
o objetivo de inibir o investimento de energia instintiva da imagem de memória de um 
objeto satisfatório, evitando assim alucinações. Ainda intimamente relacionada às 
descargas elétricas neurais, essa força vê a oposição expressa entre o Ego (Cs) e o 
 
12 
 
reprimido (Ics). Ao enfatizar a memória como mais do que um evento, Freud articulou 
o conceito de mente, que está intimamente ligado à teoria do trauma, ou seja, 
reconheceu que o trauma nem sempre está ligado a um evento real, mas, sim, à 
experiência fantasmagórica que o paciente tem. 
Para Baratto (2009), Freud (1996c, 1996d), na interpretação dos sonhos, 
confirma que a estrutura do fantasma é comparável à estrutura do sonho, pois o 
fantasma e o sonho representam formas de realização inconsciente de desejos. Além 
disso, os mecanismos de deslocamento e condensação são fundamentais para o 
trabalho do Eu na deformação do desejo (como mecanismos de defesa) que tendem 
a obscurecê-lo para o sujeito. 
No que se refere aos mecanismos de defesa — pontos importantes na obra 
freudiana —, é importante salientar que eles são, sumariamente, formas de o sujeito 
consciente se proteger de algum conflito entre o Ego e o mundo externo ou entre o 
Ego e os desejos inconscientes. Tais mecanismos geralmente são indispensáveis 
para o sujeito quando este precisa enfrentar algo considerado, pelo seu Ego, como 
perigoso ou ameaçador. 
O sujeito acaba criando formas imaginárias para se proteger dessa situação, 
que geralmente se repete diante de novas situações que por algum motivo se 
assemelham ao primeiro evento que foi rotulado de traumático. No entanto, não se 
limitam tão somente aos fenômenos mencionados por Baratto (2009) e Maia (2009) 
em relação à formação do conteúdo dos sonhos, mas também a estes. Os 
mecanismos de defesa são definidos, abordados e trabalhados ao longo do 
desenvolvimento da psicanálise em textos como As neuropsicoses de defesa 
(FREUD, 1996b) e Inibições, Sintomas e Angústia (FREUD, 1996g). Sobre os 
mecanismos de deslocamento e compressão, Maia (2009) afirma que, para Freud, os 
sonhos não se reduzem a um conteúdo inconsciente, pois são, na verdade, formações 
do Ego. 
Já em 1905, com base nas contribuições do editor inglês James Strachey, 
Freud havia publicado duas de suas obras mais importantes sobre o conhecimento 
baseado na descoberta da Ics e na compreensão da sexualidade humana: A 
Interpretação dos Sonhos e os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade 
(EDINGTON, 2012). Nesseperíodo, Freud definiu, além da formulação do Ics, alguns 
 
13 
 
aspectos importantes que caracterizam a psicanálise: a livre associação de ideias e a 
interpretação dos sonhos como acesso ao seu conteúdo, a vida psíquica sexual da 
criança e o medo da castração (Complexo de Édipo), resistência e supressão da 
realização da libido pelo sistema consciente e pôr fim a presença constante da 
dualidade das pulsões (autopreservação e sexualidade). 
Quanto ao complexo de Édipo, Moreira (2004) confirma que não se trata 
apenas de um caso de um complexo nuclear de neurose (uma das psicopatologias 
estudadas por Freud na psicanálise que inclui a histeria - fenômeno psíquico 
identificado em seus primeiros pacientes cujo tratamento constitui própria teoria 
psicanalítica), mas a partir de um ponto de virada na sexualidade humana. 
O complexo de Édipo estrutura e organiza como o sujeito se posiciona em sua 
vida e como esse sujeito diferencia o Eu e o outro, o mundo interior e o exterior, e os 
sexos. 'A Resolução do Complexo de Édipo' (FREUD, 1996h) é um texto fundamental 
que define essa estrutura complexa, que muito contribuiu para a teoria psicanalítica e 
é usada como referência por outras escolas de psicanálise. 
Testi (2012) observa que Freud (1996e), em busca das situações patogênicas 
que surgiam das repressões da sexualidade e quando surgiam os sintomas ao invés 
das fantasias reprimidas, examinou a história do sujeito até a infância. Segundo esse 
autor, Freud (1996e) deixou clara sua posição sobre a sexualidade infantil desde os 
Três Ensaios, embora se detendo apenas aos adultos. Testi (2012) lembra que Freud 
supervisionou a análise de Hans e sua própria filha realizada por seus pais, 
observando o comportamento das crianças. 
A partir de 1910, Freud fez uma clara distinção entre pulsões de 
autopreservação (um conjunto de necessidades associadas às funções vitais do corpo 
e reguladas pelo princípio de realidade) e pulsões sexuais (GARCIA-ROZA, 1993). 
Freud (1996i) afirmou ter constatado que a satisfação dessas necessidades é 
acompanhada por uma sensação de prazer. No entanto, essa luxúria está 
desvinculada do instinto, não mais tomando como objeto algo do mundo real, mas um 
fantasma do objeto, representando assim instintos sexuais em oposição aos de 
autopreservação. Em Freud (1996j), esse contraste entre pulsões é suavizado pelo 
contraste entre a libido do Ego (narcisista) e a libido objetal (libido investido em objetos 
externos). 
 
14 
 
É apenas no texto de 1914 que Freud vai definir mais claramente o Ego em 
oposição ao Ics e a ruptura com Jung, por persistir com a ideia da sexualização da 
libido (GARCIA-ROZA, 1993). Avançando em seus estudos sobre o embate de forças 
inconscientes e conscientes, Freud formulou uma nova organização psíquica, a qual 
alguns autores chamam de esquema topográfico do aparelho psíquico. Dessa forma, 
Freud (1996k) distinguiu três instâncias mentais: o Ics, o Pré-Cs e o Consciente (Cs). 
O trabalho da Psicanálise, nesse caso, seria o de tornar conscientes os 
conteúdos inconscientes. Baratto (2009) afirma que, no texto O Inconsciente, Freud 
(1996j) levanta a questão de como se dá a transposição, isto é, a passagem das ideias 
do sistema Ics para o sistema Cs. Essa questão é precisamente introduzida em função 
da concepção tópica de que o aparelho psíquico é constituído por três sistemas: Ics, 
Pré-Cs e Cs. Os estudiosos da Psicanálise chamam essa primeira configuração 
espacial do psiquismo humano de Primeira Tópica Freudiana. 
Segundo Baratto (2009), Freud argumentou que o trabalho clínico prova que a 
repressão não é revertida, nem seu efeito é revertido pela sugestão (FREUD, 1996l). 
O autor lembra que os psicanalistas devem estar cientes de que a divulgação do Ics 
ao paciente atendido na maioria das vezes leva a uma intervenção inofensiva e ao 
aumento da resistência. 
A psicanálise freudiana não pretende promover uma expansão da consciência, 
Freud chamou esse método de ambição terapêutica, uma emoção perigosa para o 
analista (selvagem). Freud também sugeriu, mas refutou, a ideia da possibilidade de 
que a transição das ideias inconscientes para a consciência ocorresse por meio do 
esforço de atenção. O Ics torna-se o Cs pela palavra, ou seja, pelas associações de 
ideias inconscientes, já que a repressão nega as ideias. Assim, mais tarde, Lacan 
apontou a distinção entre função e estrutura da linguagem para explicar o Ics 
(BARATTO, 2009). 
Quanto ao recalque, segundo García-Roza (1993), ele vem do Ego e tem como 
fonte as demandas éticas e culturais do indivíduo. Freud reconheceu que nem todos 
os sujeitos respondiam igualmente às demandas e experiências, e afirmou que um 
determinado indivíduo poderia estabelecer um grande ideal de vida em que seu Ego 
mede, e outro simplesmente não poderia ter uma referência tão alta, logo entendeu 
Freud que para que haja recalque, deve haver um ideal como condição. 
 
15 
 
No narcisismo, o verdadeiro Ego funde-se no novo Ego ideal, dotado de 
perfeições às quais não se pode renunciar (perfeição narcisista infantil). O homem 
então procura recuperá-lo através de uma forma de um ideal do Ego. Aqui temos dois 
conceitos importantes para a dinâmica psíquica: o Ego ideal (busca repressão) e o 
ideal do Ego (busca idealização). 
Na obra Luto e Melancolia, Freud (1996j), trata de forma mais precisa sobre o 
Narcisismo, e a identificação imaginária com o objeto, caracterizando como a libido 
no processo de luto deve passar pelo teste da realidade e o confronto com a perda do 
objeto para se esvaziar dos laços afetivos anteriormente associados a ele. Um 
processo semelhante, mas fundamentalmente diferente, ocorre na melancolia, um 
processo no qual o paciente identifica o objeto fantasia com o Ego e continua a enrista-
lo através dessa identificação. 
Ainda de acordo com as ideias de García-Roza (1993) notamos que no texto 
"Além do Princípio do Prazer" (FREUD, 1996m) ele afirma que há grande parte do Ics 
no Ego, isto é, além de uma determinada parte do Ego estar ligada à consciência, há 
outra que é inconsciente, contudo, é somente em O Ego e o Id, de Freud (1996h) que 
é assinalada a emergência do surgimento de um novo sistema, conhecido como 
Segunda Tópica Freudiana: Ego, Id e Superego. Entretanto, essa nova tríade não 
substitui a anterior, pois: “[…] enquanto a primeira tópica voltava sua atenção para a 
economia libidinal, a segunda está voltada para o confronto da libido com o que lhe é 
externo: a exigência de renúncia imposta pela cultura” (GARCIA-ROZA, 1993, p. 206). 
Em outras palavras, o que suprime a libido são as regras de uma sociedade. Só se 
pode falar do ideal do ego quando o outro é introduzido. 
García-Roza (1993) também aponta que Freud admitiu que o Ego é aquela 
parte do Id que foi modificada pela proximidade e influência do mundo exterior 
(FREUD, 1996n), confrontando o princípio do prazer e a realidade. Mas e o Superego? 
Ainda segundo o autor, o Ego não enfrenta apenas o Id, pois uma parte dele se 
diferencia e se constitui como entidade autônoma e produz o Superego no psiquismo, 
que tem a função de agente crítico. Este é o herdeiro do complexo de Édipo e é 
construído com uma tripla função: introspecção, consciência moral e ideal de Ego. 
As crises para o sujeito são explicadas pela economia e dinâmica psíquica no 
que se refere às negociações do Ego com as demandas instintivas do Id, as 
 
16 
 
idealizações e repressões do Superego e da realidade. Uma frase que causou 
polêmica no fim da XXXI Conferência (FREUD, 1996n) foi: Wo es war, sol ich werden. 
Pode ser entendida de diversas maneiras, mas sobretudo como: onde isto (Id) estava, 
então Eu devo ser (estar) — uma análise mais aprofunda foi realizada posteriormente 
por Jacques Lacan (GARCIA-ROZA, 1993). 
Complementarmente às questões do Ics são desenvolvidas, por diversos 
precursores de Freud, algumasconceituações acerca do Narcisismo, da dissociação 
do Ego, das fases erógenas infantis, do fortalecimento do Ego, da educação, entre 
outras características de comportamento e desenvolvimento humano. 
Podemos destacar aqueles que se mantiveram atrelados à Escola Freudiana: 
 Karl Abraham (estudos dos estágios pré-genitais do desenvolvimento e 
sobre o Narcisismo); 
 Sandor Ferenczi (fundamentos da teoria das relações objetais e a teoria 
do trauma da sedução real infantil); 
 Wilhelm Reich (crítica de que uma análise deve ir além da remoção dos 
sintomas, visando a mudanças na armadura resistencial); 
 Anna Freud (enalteceu e aprofundou as funções do Ego e foi pioneira da 
Psicanálise com crianças) e Bion. 
Além de outras escolas oriundas da Psicanálise freudiana, como a kleiniana, 
winnicotiana, do Ego, do self e a Escola Lacaniana, entre outras, destacaremos 
algumas dessas escolas a seguir, considerando suas contribuições à subjetividade e 
ao desenvolvimento humano (GARCIA-ROZA, 1993). 
Por fim, podemos conceituar Id, Ego e Superego, que, como já vimos, foram 
desenvolvidos por Freud entre 1920 e 1923 como uma segunda teoria para 
aperfeiçoar sua descoberta ao afirmar que o aparelho psíquico consiste nesses três 
componentes específicos, senão vejamos: 
 Id: Para Freud, o Id deve ser entendido como um reservatório de energias 
psíquicas, como o lugar de onde emanam os impulsos de vida (eros) e morte 
(thanatus). O Id é o componente arcaico e inconsciente das energias mentais 
(psique) que alimentam o comportamento humano. Do Id vêm os impulsos 
cegos e impessoais dedicados à gratificação pessoal. Este componente não 
 
17 
 
consegue perceber os limites de suas ações. É o mais inconsciente dos três 
componentes. Está nos mais profundos do aparelho psíquico; 
 Ego: Este componente exerce controle sobre a experiência consciente e regula 
as ações entre a pessoa e o ambiente. Ocupa a posição de centros de 
referência para toda atividade psíquica e qualidades egocêntricas. Além disso, 
sempre se esforça para a autopreservação do organismo. Através do Ego, as 
pessoas aprendem tudo sobre a realidade externa e orientam seu 
comportamento para evitar estados dolorosos, medos e punições. Quanto às 
suas funções básicas, o Ego é responsável por memórias, sentimentos, 
pensamentos, repressão, etc. 
 Superego: para Freud, o Superego é o representante de uma natureza superior 
do "Ego". Ele trabalha com o objetivo de evitar penalidades e infrações. 
Também é responsável por promover as ideias moralmente aceitas. Também 
de acordo com a teoria freudiana, o Ego surge com o complexo de Édipo, da 
internalização de proibições, limites e autoridades. Como funções básicas 
podemos considerar a geração de culpa, o sentimento de inferioridade, virtude, 
a equação mágica de desejo e ação, e a necessidade inconsciente de punição. 
Na concepção da psicanálise, esses três sistemas não são vazios. Ao contrário, 
são habitadas por conteúdos decorrentes de experiências pessoais e particulares que 
as pessoas descrevem sequencialmente como seres sociais. Por isso, na teoria 
psicanalítica, para compreender um indivíduo é preciso resgatar seu passado, os 
conteúdos de suas experiências passadas (BOCK et al., 2002). 
3.1 Inconsciente e Sublimação 
Como vimos, Freud deixou seus pacientes para falar e conduzir sessões 
analíticas, e descobriu que alguns se sentiam estranhamente embaraçados e 
retraídos quando certos conteúdos, pensamentos ou imagens lembradas surgiam. Ele 
percebeu que havia uma força tentando parar tais atos e pensamentos. 
 Com base nessas evidências, foi estabelecida a presença de dois elementos 
envolvidos na origem do esquecimento. Ele chamou o primeiro elemento de 
resistência (poder psíquico impedindo a revelação, a consciência de um pensamento). 
 
18 
 
A segunda foi a repressão. Esse poder funciona no sentido de fazer desaparecer a 
consciência de uma lembrança, a lembrança de algo insuportável e doloroso que pode 
estar na origem do sintoma do paciente. Com base nessas considerações, Freud 
descobriu a existência do inconsciente como parte do aparelho psíquico. 
 De acordo com a teoria psicanalítica, existe um recipiente intrapsíquico no qual 
residem todas as memórias. Freud chamou esse lugar de inconsciente. Em sua 
tentativa de compreender o esquecimento, os erros percebidos nas sessões de 
análise, a percepção freudiana levou à conclusão de que o inconsciente humano o 
orienta em suas decisões e sentimentos e tem sua própria lógica e leis de 
funcionamento. 
 
3.1.1 O que é o inconsciente? 
 
Após estudos em seu livro A Interpretação dos Sonhos, Freud apresentou sua 
primeira ideia da estrutura e funcionamento do aparelho psíquico, a personalidade. 
Para ele existem três entidades psíquicas que compõem o aparelho psíquico, senão 
vejamos: inconsciente, pré-consciente e consciente. A seguir, você pode conhecer 
cada uma delas: 
 Consciente: nessa localidade residem os conteúdos conscientes, as ideias 
e os pensamentos mais presentes. Esse é uma doutrina do instrumento 
psíquico em que as informações do universo exterior e interno são 
recebidas, pensadas e percebidas; 
 Pré-consciente: neste caso, são os conteúdos que são acessíveis à 
consciência, mas podem ou não ser incluídos, e isso sem um esforço muito 
grande por parte do indivíduo. Esta parte do sistema psíquico é um ponto 
intermediário entre estados de consciência e o estado de inconsciência; 
 Inconsciente: contém o conteúdo da memória, boas e más lembranças, ou 
seja, fatos ou lembranças de episódios inconscientes. Freud definiu o 
inconsciente como o sistema no qual se agrupam os conteúdos não 
presentes na mente consciente. Existem os conteúdos reprimidos que são 
impedidos de entrar na consciência. Este ocorre devido ao efeito de censura 
dos mecanismos internos de defesa. Freud enfatiza que o inconsciente é 
 
19 
 
uma parte do sistema psíquico que se rege por suas próprias leis de 
funcionamento e não se limita à noção de tempo. No inconsciente não há 
ideia de passado e presente. 
 
3.1.2 Sublimação 
 
Como você já viu, existe uma força interior no inconsciente humano que 
conspira para que os desejos sejam realizados sem culpa ou desconforto. Essa força 
busca a paz de consciência. Freud chamou isso de mecanismo de defesa. Como o 
nome sugere, esse mecanismo tenta mitigar o conflito negando ou distorcendo a 
realidade. É um instinto que mantém o contentamento interior. Na concepção 
psicanalítica, esses mecanismos, na maioria dos casos em que atuam, tentam 
defender o autoconceito da pessoa e podem, assim, impedir o desenvolvimento 
saudável da personalidade. 
Um dos mecanismos de defesa mais bem estudados por Freud é a sublimação. 
Este é um poderoso instinto/impulso que permite que impulsos indesejados sejam 
convertidos em algo menos prejudicial. Esse instinto permite que conteúdos que não 
podem ser expressos diretamente pela pessoa por serem violentos ou repulsivos se 
manifestem na vida da sociedade por meio de atividades intelectuais, artísticas, 
religiosas, atos que beneficiam a organização social em vez de prejudicá-la. Disso 
pode-se deduzir que talvez a arte de Leonardo da Vinci e a música de Beethoven 
sejam o resultado da sublimação de seus desejos desapontados ou emoções 
tempestuosas. 
Como você pode ver, a sublimação pode ser vista como uma importante 
ferramenta de apaziguamento e manutenção da ordem social. Sem eles, a 
convivência social poderia se tornar muito perigosa e difícil. 
Contudo, para Jorge (2008, 153): 
 As indicações freudianas sobre a sublimação são pontuais e não chegam a 
constituir uma ‘teoria coerente’, o que não impede que o termo sublimação 
seja usado com grande frequência pelos psicanalistas, ainda que muitas 
vezes distorcendo alguns dos achados mais fundamentais de Freud e 
transformando-o no estandarte de uma teoria que tem por objetivoa 
normativização da sexualidade. A teoria freudiana, no entanto, não autoriza 
esse reducionismo psicologizante e o conceito de sublimação requer ser 
apreciado em sua sutil complexidade. 
 
20 
 
Ainda para o autor, “os primórdios do processo de sublimação interessam a 
Freud na medida em que permitem a produção de diferentes associações que de outra 
forma não seriam observadas. Assim, haveria uma estreita ligação entre a sublimação 
e o chamado saber ou pulsão de pesquisa, cuja atividade ocorre entre 3 e 5 anos. 
Essa ânsia estaria ligada, por um lado, à ânsia de dominação, da qual seria uma forma 
sublimada, e por outro, à escopofilia”. Com isso em mente, lembre-se de que o termo 
teoria vem do grego theoria, significando o ato de ver, observar e investigar (JORGE, 
2008, p. 153). 
A supressão pela formação reativa é uma subespécie de sublimação. Ela se 
inicia no período de latência e continua por toda a vida constituindo o que se chama 
de caráter: 
“O que descrevemos como o ‘caráter’ de uma pessoa é construído em grande 
parte com o material de excitações sexuais e se compõe de pulsões que 
foram fixadas desde a infância, de construções alcançadas por meio da 
sublimação e de outras construções, empregadas para eficazmente conter os 
impulsos perversos que foram reconhecidos como inutilizáveis” (JORGE, 
2008, p. 153). 
3.2 Constituição do sujeito e seu desenvolvimento 
Para destacarmos as especificações das fases de desenvolvimento infantil em 
Freud, vale ressaltar que desde o início de seus trabalhos, no Projeto (FREUD, 1996i), 
ele analisa o vínculo mãe-bebê com uma experiência de satisfação erógena. A 
experiência de satisfação vai ser importante no processo dinâmico psíquico de prazer-
desprazer. 
Para Testi (2012), a experiência de satisfação em Freud se caracteriza pelo 
encontro entre o bebê e a pessoa que permite as descargas das tensões internas 
(geralmente a mãe), promovendo, assim, o apaziguamento dessas tensões, que é 
reconhecida como uma vivência de satisfação, produzindo a primeira sensação de 
prazer, além da saciação de uma pura necessidade. Assim, para a autora, quando a 
mãe está cuidando do filho, ela também está despertando no filho a pulsão sexual ou 
libido. 
Garcia-Roza (1993) lembra a distinção freudiana entre Narcisismo primário e 
secundário. O narcisismo é uma categoria criada por Freud para representar um 
 
21 
 
investimento libidinal no Ego. O narcisismo primário descreve um estado precoce em 
que a criança investe toda a libido em si mesma (autoerotismo), ao passo que o 
secundário descreve o retorno da libido ao Ego depois da retirada dos investimentos 
objetais (libido do objeto). O narcisismo primário é entendido aqui, enquanto realidade 
psíquica, como o mito primário do regresso ao seio materno, sendo o autoerotismo 
uma fase anterior e preparatória ao narcisismo. Uma das formas de lidar com o 
narcisismo infantil é o recalque (função normalizante). 
Freud defendia tanto o menino quanto a menina como sendo o primeiro objeto 
original de amor da mãe, mas insistia na ideia de que o abandono da mãe, como 
objeto de amor, é uma condição necessária para a entrada da menina no Édipo 
(MOREIRA, 2004). Freud caracterizou as fases de desenvolvimento infantil a partir 
das pulsões sexuais em quatro fazes: oral, anal, genital e fálica. 
Para Testi (2012), a sexualidade infantil na teoria freudiana não se caracteriza 
por uma fase cronológica de desenvolvimento, mas por fases de organização psíquica 
frente ao objeto. Na constituição psíquica do sujeito, Freud classificou duas etapas de 
organização pré-genital: a oral e a sádico-anal, pois estando a satisfação a serviço da 
autopreservação, é natural que ocorra em referência à nutrição. Situada entre a 
organização pré-genital e a organização sexual adulta, é definida uma organização 
sexual infantil ou fálica (sob a primazia do falo). O amadurecimento da criança pode 
levar à resolução (dissolução) de seu Complexo de Édipo. 
Devemos destacar, ainda, algumas contribuições à constituição do sujeito e ao 
seu desenvolvimento segundo outras Escolas de Psicanálise pós-freudiana. Além de 
Anna Freud, que deu continuidade à Escola de seu pai, mas tomando rumos próprios, 
Jung, que fundou sua própria terapia, Abraham, Bion, entre outros, podemos também 
destacar as contribuições de Melaine Klein. Segundo Ribeiro e Caropreso (2018), 
entre 1920 e 1945, a Psicanálise infantil se restringia ao circuito europeu, tendo Anna 
Freud, Melaine Klein, Margaret Mahler, Donald Winnicott, Spitz, Ferencsi e Abraham 
como seus principais estudiosos. Com os determinantes da Segunda Guerra, alguns 
desses psicanalistas precisaram se mudar para os Estados Unidos. 
 
 
 
 
22 
 
3.2.1 Melanie Klein 
 
Melanie Klein partiu de alguns conceitos de Freud, como fantasia, mundo 
interior, complexo de Édipo, etc., mas também elaborou outros conceitos originais 
como posição e Ego primitivo (de nascimento) para mobilizar mecanismos de defesas 
arcaicas (dissociações, identificação projetiva, identificação introjetiva, negação 
onipotente, idealização e difamação) contra os medos primitivos decorrentes da 
pulsão de morte inata, mantendo o conceito freudiano do complexo de Édipo, mas 
identificando-o nos primeiros dias de vida da criança (NEVES, 2007). 
Melaine Klein fundou a Escola dos Teóricos das Relações Objetais. Examinava 
os estágios iniciais do desenvolvimento infantil, criando a técnica do brincar como 
forma de expressão do Ics. Avaliando o primeiro trimestre do desenvolvimento infantil, 
Klein identificou o medo da aniquilação (causado pelo trauma do nascimento e 
identificação de objetos parciais como o seio da mãe), um medo persecutório que 
evoca suas primeiras defesas (posição esquizo-paranóide quando criança). 
Com base nesse conceito, Melaine Klein descreveu o desenvolvimento 
psicológico do indivíduo humano. O período marcado pela escola kleiniana valorizou 
aspectos do desenvolvimento emocional primitivo, relações objetais parciais, 
mecanismos primitivos de defesa e, apesar da valorização da transferência pela teoria 
freudiana, o caráter contratransferencial do analista começou a ganhar visibilidade. 
Essa escola foi desenvolvida na obra de diversos autores, inclusive no Brasil, como 
Isaacs, Segal, Rosenfeld, Meltzer, Bion e Aberastury (ABRÃO, 2008). 
Ribeiro e Caropreso (2018) resumem a fase da separação-individuação de 4 
ou 5 meses de vida do bebê e até 30 a 36 meses. Observações diárias no Centro 
Infantil Maestro (MAHLER, 1971) descreveram certos comportamentos comuns aos 
bebês, como o uso de objetos inanimados relacionados à mãe para atuar como 
substitutos (objetos de transição) para ela durante sua ausência. Da mesma maneira: 
Outro fato observado é que houve significativa modificação cinestésica das 
crianças normais quando em contato com o corpo humano e pouca alteração 
quando manuseando objetos inanimados. Entretanto, nas crianças 
psicóticas, o quadro inverso foi notado. Uma terceira observação foi a 
ocorrência, entre irmãos, de diferentes reações diante de estranhos, 
mostrando que, apesar de terem o mesmo objeto materno, a aquisição da 
expectativa confiante e da desconfiança básica dependem da maneira com 
que foram cuidados (RIBEIRO; CAROPRESO, 2018, p. 905). 
 
23 
 
3.2.2 Heiz Kohut 
 
Outra importante escola fundada nos EUA foi a psicologia do self. Foi 
estabelecida por Heiz Kohut, um médico austríaco que, como Mahler e outros, estava 
fugindo do caos dos nazistas. Kohut inicialmente se considerava um profundo 
estudioso dos conceitos freudianos, mas em Chicago se distanciou desses conceitos 
fundamentais da psicanálise tradicional. Para Kohut, os conceitos psicanalíticos 
assumiram posições muito ortodoxas (as escolas de Anna Freud, Melanie Klein e a 
psicologia do Ego). Ele explicou que os fenômenos psicológicos só podem ser 
apreendidos através da introspecção e da empatia.Enquanto estudava patologias 
narcísicas, sofreu fortes críticas negativas, mas seus ensinamentos foram ampliados. 
Segundo Sarkis (2016), os estudos de Kohut sobre patologias narcísicas 
apresentados em obras e publicados em seus livros têm recebido críticas negativas. 
Colegas e alunos se reuniram e o ajudaram a fundar o Grupo de Estudos de Psicologia 
do Ego. Heiz Kohut formulou o conceito do self-objeto respondendo empaticamente 
às necessidades psicológicas, ou seja, o indivíduo que passa a ter uma experiência 
associada a funções que um bebê ainda não pode desempenhar sozinho porque 
possui apenas um núcleo de self desenvolvido por meio da conexão consigo mesmo 
(SARKIS, 2016). Mais especificamente, para o bebê, o adulto que cuida dele é uma 
parte dele mesmo. 
O Ego-objeto idealizado garante segurança, apoio e um sentimento de 
pertencimento a um contexto humano, mas quando esse Ego-objeto falha, ele vem 
conduzindo a uma internalização idealizada do ego apegado, levando a patologias do 
Ego narcisista. Kohut defendeu a existência de um Eu completo (não defeituoso) com 
habilidades plenas, criativas e produtivas em oposição ao Eu narcisista (defeituoso). 
A cura do Ego narcísico ocorre através das experiências emocionais do 
paciente em reativação e análise de transferência, durante o processo analítico as 
emoções inconscientes são revividas e processadas na mente consciente. 
Posteriormente, Kohut modificou alguns conceitos como o narcisismo, que foi 
conceituado como uma estrutura da mente, algo típico das relações humanas, com 
capacidade de transformações evolutivas. Através do conceito de raiva narcísica, ele 
criticou a agressão destrutiva que responde à ameaça de fragmentação do Eu. Além 
disso, Kohut utilizou metáforas para distinguir o homem culpado (a relação do homem 
 
24 
 
com suas pulsões) do homem trágico (em busca de sentido existencial), enfatizando 
seu distanciamento da psicanálise freudiana, e afirmando que o homem corre riscos 
pela ameaça de fragmentação do self. 
 
3.2.3 Winnicott 
 
A Escola de Donald Woods Winnicott (1896–1971) também se tornou bastante 
importante, tendo em vista que o pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista nascido na 
Grã-Bretanha atuou clinicamente e escreveu para revistas destinadas ao público em 
geral. Nelas, ele discutia os problemas das crianças e das suas famílias. 
Sua extensa obra foi dedicada à construção da teoria dos processos 
maturacionais (um caminho a ser percorrido partindo da dependência absoluta e da 
dependência relativa à independência relativa) que, além de constituir uma teoria da 
saúde, com descrição das tarefas impostas desde o início da vida pelo próprio 
amadurecimento, configura também o horizonte teórico necessário para a 
compreensão da natureza e a etiologia dos distúrbios psíquicos. 
 Winnicott exerceu a psiquiatria infantil com base na Psicanálise modelada por 
ele mesmo em três pontos: 
 A teoria da sexualidade no entendimento das patologias maturacionais e das 
práticas clínicas; 
 A valorização do fator ambiental; 
 A substituição do Complexo de Édipo pela resolução dos conflitos no colo da 
mãe e nos ciclos que vão se ampliando conforme o amadurecimento. 
Metodologicamente, seu trabalho diferiu de Freud e de outros em sua decisão 
de estudar a criança e sua mãe como uma entidade psíquica. Isso lhe permitiu 
observar a sucessão de mães e bebês e obter conhecimento sobre a constelação 
mãe-bebê, em vez de dois seres puramente diferentes. Portanto, não há como 
descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois o ambiente é primeiro a mãe (ambiente 
encorajador: boa mãe), só aos poucos ele se torna algo externo e separado do bebê. 
Naffah Neto (2005) argumenta que muito antes de o bebê constituir seu Eu 
unificado e coerente, Winnicott define um modo particular de estar no mundo ao fundir 
a herança biológica e articulando-a com seu ambiente. Apesar do surgimento de um 
 
25 
 
self fragmentado (gesto espontâneo, criativo), há um eixo central, um núcleo, a partir 
do qual amadurece e produz experiência, fator primordial no desenvolvimento da 
análise winnicottiana. 
A psicopatia é caracterizada por uma perturbação ou falha no ambiente. A 
teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura pré-
existente, mas algo constituído a partir da elaboração imaginativa do corpo e de suas 
funções - o que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração se dá na 
oportunidade materna de exercer funções primordiais como posse (permitindo a 
integração no tempo e no espaço), manipulação (permitindo que a psique se aloje no 
corpo) e apresentação de objetos (permitindo o contato com a realidade). 
O psique-soma primitivo se move ao longo de uma linha de desenvolvimento 
enquanto a continuidade de sua existência não for quebrada. Isso requer um ambiente 
suficientemente bom no qual as necessidades do bebê sejam atendidas. Um ambiente 
ruim parece uma invasão à qual o psicossoma (o bebê) tem que responder. Essa 
reação interrompe a continuidade da existência do bebê. A doença surge então como 
resultado de perturbações na relação mãe-filho, pois estas provocam perturbações no 
desenvolvimento do indivíduo. Tais distúrbios criam uma sensação de ausência de 
limites corporais, despersonalização iminente, medos inimagináveis, ameaças de 
desintegração e despedaçamento e de cair para sempre e falta de coesão 
psicossomática. 
 
3.2.4 Jacques Lacan 
 
A última Escola de Psicanálise que abordaremos aqui é a da Escola Francesa 
inaugurada por Jacques Lacan. Lacan se tornou um autor polêmico, muito discutido e 
admirado, de modo que seus seguidores o consideram um psicanalista brilhante, e o 
maior depois de Freud, enquanto seus críticos o acusam de deturpar/desvirtuar a 
Psicanálise, afirmando que a teoria lacaniana é um retrocesso à Psicanálise. Lacan 
debruça-se sobre a teoria freudiana para apoiar suas diversas críticas à Psicologia do 
Ego e as escolas desenvolvidas nos EUA. 
Segundo Garcia-Roza (1993), Lacan lê Freud e se propõe a analisar a 
enigmática frase do final da XXXI Conferência: Wo es war, sol ich werden (FREUD, 
1996n). O autor considera que, para Freud, o sujeito não é o sujeito da verdade, que 
 
26 
 
o Eu desconhece os desejos do sujeito (deslocamento do sujeito cartesiano já 
mencionado aqui). Então, “[…] dizem Freud e Lacan é que esse sujeito, até então 
absoluto, é atropelado por outro sujeito que ele desconhece e que lhe impõe uma fala 
que é vivida pelo sujeito consciente como estranha, lacunar e sem sentido” (GARCIA-
ROZA, 1993, p. 210). 
No discurso do sujeito (na cadeia significante), o que é lacunar é o lugar do 
Outro para Lacan, e é nele que o sujeito aparece. Lacan fazia distinção desse Outro 
(com O maiúsculo) como sendo o lugar do Ics e da ordem simbólica, ao passo que o 
outro (com letra minúscula) é o semelhante, ou seja, um outro sujeito. Para Lacan, é 
esse Outro que agita (GARCIA-ROZA, 1993). 
O Outro é a própria ordem simbólica que é constituída pela linguagem e 
composta de elementos significantes formadores do Ics. Já o Ego é a imagem que o 
sujeito tem de si mesmo, manifestando-se como defesa e por isso tem a função 
fundamental de desconhecimento. Em sua origem, o Ego (moi) é anterior ao Eu (je). 
O Eu, para Lacan, é o da realidade falada, da comunicação, aquele que faz referência 
a um tu. 
Lacan determinou a origem do Ego como anterior à linguagem. Ele formulou a 
teoria do Estádio do Espelho como formador da função do Eu, designando um 
momento da história do sujeito entre os 6 e 18 meses de vida, quando a criança se 
torna capaz de formar sua unidade corporal por identificar a imagem do outro (reflexo, 
espelho) (GARCIA-ROZA, 1993). 
O sujeito é produzido na passagem do imaginário ao simbólico, ou seja, por 
meio da linguagem. Nesse momento, Lacan concebeu a constituição e o 
desenvolvimento do sujeito a partir de uma ordemtríplice: a ordem Simbólica, a ordem 
Imaginária, e a ordem do Real. Essa última representa a realidade barrada, impossível 
de ser definida, já que não é possível de ser definida por escapar da compreensão do 
sujeito. 
São considerados discípulos de Lacan os psicanalistas Jaques Allain-Miller, 
Fraçoise Dolto, Maud Mannoni, Moustapha Safouan, entre outros, que ajudaram a 
disseminar no mundo a Escola Psicanalítica francesa. 
Podemos apontar uma questão para a reflexão: partindo do que conhecemos 
até aqui quanto à revelação do Ics e a constituição do Eu, perpassando por diversos 
 
27 
 
conceitos que contribuem para o entendimento do campo da Psicologia e para o 
desenvolvimento do ser humano, ao comparar a ideia e a dinâmica da sexualidade 
infantil presente em todas essas linhas de pesquisa, podemos afirmar que o ser 
humano sofre enquanto ainda retém conteúdos infantis na forma de agir no mundo 
externo? Talvez aqueles que conseguem melhor se adaptar às exigências do nosso 
ambiente interno e externo sejam sujeitos um pouco mais amadurecidos e livres de 
suas energias libidinais infantilizadas. 
4 RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE, SOCIEDADE E CULTURA 
A psicanálise é uma teoria social que surgiu entre o final do século XIX e início 
do século XX. Assim, buscou-se oferecer respostas aos problemas enfrentados por 
pessoas que vivenciam conflitos psicológicos, exacerbados por circunstâncias 
históricas, sociais, políticas, econômicas e culturais emergentes. A todo momento 
Freud tentou compreender seu mundo compreendendo o ser humano em sua parte 
mais íntima, o inconsciente. Ele sabia o quanto a realidade, constrangimentos e 
exigências cotidianas influenciam a vida interior dos sujeitos e sua racionalidade. 
 Com esse caminho, a psicanálise apontou para a necessidade de construir 
espaços em que a liberdade e a individualidade fossem levadas a sério. A busca pela 
liberdade e emancipação do homem leva à afirmação do potencial humano. A 
proposição freudiana de um ser humano mais autônomo e livre - ou pelo menos mais 
consciente da existência dos vínculos sufocantes dos complexos morais - permite a 
emergência de uma organização social menos repressiva. 
Para a psicanálise é mais fácil para a pessoa autoconfiante lidar com o 
sofrimento e as ausências. Confirmando essa visão, Bock et al. (2002, p. 80) reitera 
que a finalidade da psicanálise como trabalho de investigação do autoconhecimento 
é “[...] criar mecanismos de superação dificuldades, conflitos e submissão a uma 
produção mais autônoma, criativa e humana de cada indivíduo, grupo, instituição […]”. 
A influência e a importância dos conceitos de Freud na organização das 
sociedades contemporâneas e na cultura que molda a vida em todo o Ocidente não 
podem ser negadas. A grande contribuição para a ciência, arte, literatura e cultura em 
geral está na descoberta do inconsciente. Disso nasce uma nova compreensão do ser 
 
28 
 
humano, diferente daquela anteriormente postulada pela filosofia moderna, com sua 
acentuada ênfase na possibilidade de plena autonomia humana com base na razão. 
O homem moderno tem sido descrito como uma máquina, sem emoção, frio. 
Os postulados freudianos minam essa visão ao afirmar que o homem não é tão 
proprietário de seus caminhos. A psicanálise demonstra a existência de outro "Eu" no 
homem que o controla inconscientemente e demonstra que pessoas precisam ter uma 
visão mais verdadeira de si mesmas. No entendimento de Mendes (2006), quando 
Freud deu ao inconsciente um status de “alteridade radical”, por ter suas próprias leis 
e lógica e não ser dependente da razão cartesiana, ele foi ao mesmo tempo 
caracterizado pela genialidade. Tempo que o apresentou como um bom construtor da 
cultura emergente. 
A descoberta do inconsciente e sua descrição impactaram diretamente 
algumas premissas da religião e da organização da sociedade, e demonstraram o 
poder do conteúdo imaginário e da criação de ilusões. A pessoa concebida pela 
psicanálise precisa estar em um relacionamento saudável para se manter produtiva e 
ativa. Sua racionalidade depende de condições externas que afetam sua realidade 
interior e suas disposições mais queridas. Daí a importância do outro, da 
interdependência, de uma experiência mais livre, menos repressiva, mais criativa. 
 Outro elemento importante é a contribuição da psicanálise para o estudo da 
neurociência e para a própria educação, bem como para as artes, como aponta 
Mendes (2006, documento online): 
A influência claramente assumida dos seus conceitos por movimentos 
artísticos como o surrealismo nas artes plásticas e no cinema, com nomes 
como Salvador Dalí, André Breton, Luís Buñuel, entre outros, com seu arrojo 
crítico ativo e desconstrução das convenções, desconcertou o próprio Freud, 
ele mesmo um burguês comportado, herdeiro da época vitoriana em sua vida 
pessoal. 
Outro legado da psicanálise que mostra suas raízes na cultura contemporânea 
é a ênfase na subjetividade, bem como a noção de que as diferenças são importantes 
para a organização das sociedades. A psicanálise faz parte dos grandes movimentos 
que iluminaram e possibilitaram a existência do cenário atual, mais abertos às 
minorias étnicas, à liberdade da mulher e seu consequente empoderamento, à 
abertura e aceitação da sexualidade feminina ativa e à diversidade sexual. 
 
29 
 
 Da análise do curso histórico da cultura decorre que a psicanálise, que 
transcende as fronteiras entre o normal e o patológico, tornou-se uma psicologia geral. 
Invadiu todo o campo da história humana: arte, religião, filosofia, antropologia etc. Em 
suma, o vínculo da psicanálise com a realidade contemporânea é tal que é impossível 
imaginar um mundo sem jargões e conceitos freudianos. Não há como ler e 
compreender o homem e suas manifestações culturais e religiosas sem considerar as 
afirmações de Freud sobre o inconsciente. Como você viu, o inconsciente cria os 
desejos e impulsos que orientam as decisões e os sentimentos humanos. Nele o 
sujeito se encontra e se revela completamente. 
5 TEORIA FREUDIANA DA CONSCIÊNCIA 
Os processos psicológicos permeiam a relação de nossa psique com o que nos 
cerca. Por exemplo, eles integram nossas lições aprendidas (como quando 
aprendemos a falar, ler e andar), nossas experiências (como quando ouvimos uma 
música favorita) e a maneira como nos comportamos (como quando reagimos a 
situações de medo) e nos relacionamos com as pessoas. 
Observe como a consciência, assim como outros processos (como emoção, 
pensamento, linguagem, sensação e percepção) estão presentes em todos os 
exemplos citados. Estar consciente significa estar ciente de seus processos e da 
relação que você está estabelecendo com o mundo exterior. Se não conseguimos 
trabalhar e entender nossos medos e traumas, é porque na dinâmica psíquica não 
conseguimos alcançar as informações que estão armazenadas em nosso 
subconsciente por algum motivo (como quando temos medo de um determinado 
animal, mas não entendemos a origem desse sentimento). 
Etimologicamente, o significado de consciência vem de conscientia, que 
representa aquilo/algo compartilhado com alguém. A consciência, portanto, diz 
respeito à capacidade de nos conhecermos em relação ao ambiente e ao outro. Este 
tema tem sido abordado especificamente em diversas áreas do conhecimento, como 
filosofia, neurociência, biologia, medicina, psiquiatria e psicologia. 
No campo da pesquisa psicanalítica desde o final do século XIX, destacam-se 
as contribuições de Freud para a compreensão da consciência, particularmente o 
 
30 
 
conceito de inconsciente a partir da consciência. Para ele, a consciência pertence aos 
conteúdos acessíveis ao sujeito. Consiste em perceber tudo ao nosso redor: 
sentimentos, pensamentos e percepções. O inconsciente, por outro lado, pode ser 
entendido como um registro de experiências e memórias traumáticas, assim como 
desejos reprimidose que podem se manifestar como sintomas. A ansiedade e o medo 
são exemplos da influência do inconsciente em nossas vidas. 
5.1 Freud e a consciência 
Segundo estudos freudianos, a consciência é um grande "mistério" para a 
ciência. Freud (2011b) abordou a consciência a partir da perspectiva do consciente, 
argumentando que ela funciona como o órgão dos sentidos dos processos de 
pensamento e percepção do mundo exterior. Portanto, esse órgão desempenha um 
papel importante na discussão da função do inconsciente, pois pode se manifestar por 
meio da mente consciente. A dinâmica do funcionamento consciente/inconsciente de 
Freud é discutida detalhadamente neste tópico, usando as observações clínicas de 
Freud como ponto de partida para a discussão. Serão objetos de discussão também 
a dinâmica do aparelho psíquico e as contribuições de Charcot para o 
desenvolvimento do conceito de histeria. 
Pode-se retraçar parte do percurso cronológico freudiano sobre a construção 
do irreflexivo a partir da obra Estudos sobre a histeria (1980/1893-1895). Entre os 
anos de 1888 e 1893, o médico austríaco Sigmund Freud, usufruindo dos achados de 
Charcot acerca dos aspectos traumáticos da histeria, afirmava, com a sua teoria da 
sedução, que o trauma vivido pelo paciente histérico era de cunho sexual. 
Nesse sentido, os sintomas histéricos poderiam resultar de abuso sofrido 
durante a infância do sujeito (charme real). Mais tarde, o inventor renunciou à teoria 
da sedução e começou a rebater sobre trauma, que ocorre na dinâmica psíquica. Ou 
seja, as experiências negativas vividas na infância seriam recalcadas no irreflexivo e 
não se teria acolhimento a elas por uma fala consciente. Assim, Freud afirmava que o 
advento dos sintomas histéricos estaria inteiramente pautado às situações prévias 
vividas pelo sujeito. Trata-se de um relacionamento não tão modesto de apreender, 
imperfeição que serviu de alicerce para explicações entre causas e efeitos das crises 
 
31 
 
histéricas, contribuindo teoricamente para as discussões sobre a função do irreflexivo 
e as sintomatologias (FREUD, 1996). 
Entre 1893 e 1899 Freud desenvolveu o método da hipnose para promover a 
catarse. O objetivo era aliviar os sintomas no momento em que se formavam, pois, o 
médico observava a dificuldade de seus pacientes em associar o sintoma a algo 
relacionado a si mesmo. Assim surgiu o conceito de resistência, um obstáculo entre o 
conteúdo reprimido no inconsciente até a chegada da consciência. O autor também 
descobriu que as emoções desencadeadas por eventos traumáticos estavam 
intimamente ligadas às memórias. 
 Segundo Sampaio Primo (2015), Freud teve um intercâmbio intelectual com 
Breuer sobre casos clínicos, o que foi importante para influenciar a construção da 
histeria nas obras de Freud. Por muito tempo o psicanalista utilizou a hipnose como 
método de estudo da histeria, mas finalmente a abandonou quando percebeu que o 
aspecto principal dos sintomas histéricos são as reminiscências, ou seja, memórias 
reprimidas por serem traumáticas. As atuações de Charcot, as trocas intelectuais com 
Breuer e a prática clínica permitiram a Freud seguir seu caminho pessoal de pesquisa. 
O médico então abandonou a hipnose e a teoria do trauma, concluindo que os 
histéricos sofriam de flashbacks. 
Nesse contexto, a consciência surgiu como um aspecto de extrema relevância 
para o desenvolvimento da obra de Freud (2011b), pois é a partir deste que se 
configuram as discussões sobre o papel do aparelho e as dimensões do inconsciente. 
Segundo Freud (2011b), o ser consciente do sujeito é um estado relativo. Ou seja, 
memórias, pensamentos e emoções podem escapar rapidamente da nossa 
consciência, mas também podem reaparecer sob condições que os encorajam, como 
em conversas, lembranças ou visitas a determinados lugares. 
 No entanto, para compreender plenamente o conceito de consciência, é 
necessário reconhecer as diferenças entre o consciente e o inconsciente. A teoria 
psicanalítica sugere que o inconsciente armazena experiências psíquicas como 
traumas, emoções e memórias que podem se tornar conscientes como ideias, embora 
essa não seja uma dinâmica tão fácil de apreender (FREUD, 2011b). 
Para Freud, o inconsciente existe apenas do ponto de vista consciente. A 
consciência, portanto, para o médico é a percepção do mundo exterior, a percepção 
 
32 
 
dos estados afetivos de prazer-dor e faz parte dos processos dinâmicos do sujeito 
(GOMES, 2003). Não obstante, em O Inconsciente, Freud (2010) reconhece a 
complexidade dos processos perceptivos. Para ele existem dois mundos: o interno, 
que está relacionado a todos os conteúdos inconscientes e; o externo, representado 
pela nossa percepção de mundo e pelos nossos valores e experiências. 
Na obra Negação, o autor aponta que aquilo que se percebe não 
necessariamente precisa estar integrado ao Ego e que a grande questão é se os 
conteúdos do Ego, que estão presentes como representação, podem atingir a 
percepção da realidade. (FREUD, 2014). Apesar de sua complexidade, a questão do 
conteúdo interno e externo é fundamental para a compreensão da esfera psíquica. 
Embora existam representações, segundo Coelho Junior (1999), elas decorrem de 
percepções de mundo. Dessa forma, a representação garante a realidade, ou pelo 
menos sua representação. 
Com essas considerações podemos perceber que Freud desenvolveu 
conceitos importantes como consciente e inconsciente que são essenciais para 
entender como a dinâmica psíquica é gerada e como lidar com conteúdos reprimidos 
no inconsciente. Também foram discutidas as relações freudianas entre o consciente 
e o inconsciente, subsidiando a construção do autor da topografia do aparelho 
psíquico idealizado. 
5.2 As tópicas do aparelho psíquico 
A psicanálise freudiana foi de grande importância para os conceitos de primeira 
e segunda tópicas. O primeiro modelo foi chamado de teoria topográfica e trabalhos 
sobre a dinâmica do aparelho psíquico (inconsciente, pré-consciente e consciente). O 
segundo modelo é o estrutural, que fundamenta as discussões sobre o Id, o Ego e o 
Superego, instâncias da dinâmica psíquica. Um dos principais aspectos da psicanálise 
é definir a diferença entre o consciente e o inconsciente, pois sem essa distinção é 
difícil compreender a dinâmica patológica e o aparelho psíquico. 
 Segundo a teoria freudiana, o primeiro tema sobre a estrutura do aparelho 
psíquico o divide em consciente, pré-consciente e inconsciente. Freud diz dessas 
ideias (2011a, p. 326): 
 
33 
 
Ao que é latente, tão só descritivamente inconsciente, e não no sentido 
dinâmico, chamamos de pré-consciente; o termo inconsciente limitamos ao 
reprimido dinamicamente inconsciente, de modo que possuímos agora três 
termos, consciente (cs), pré-consciente (pcs) e inconsciente (ics), cujo 
sentido não é mais puramente descritivo. O pcs, supomos, está muito mais 
próximo ao cs do que o ics, e, como qualificamos o ics de psíquico, tampouco 
hesitaremos em qualificar o pcs latente de psíquico. 
Na esfera da psicanálise, desse modo, o entendimento da teoria freudiana da 
consciência envolve discriminações entre consciente, pré-consciente e inconsciente. 
O aparelho psíquico tem diferentes formas de manifestar seu conteúdo. Os 
conteúdos manifestos não são conscientes, são reprimidos no inconsciente porque 
são impróprios (como conteúdos sexuais ou violadores de leis socialmente 
regulamentadas). O conteúdo latente, por outro lado, se manifesta através dos sonhos 
e é interpretado de acordo com a análise e atinge o nível consciente. 
O sonho é apresentado como o conteúdo latente do inconsciente, cujo caminho 
é o pré-consciente em uma investida de acessar o que não está claro para a mente 
consciente (FREUD, 2011b). Por meio dessa organização psíquica, o sujeito é capaz 
de elaborar, editar e tornar conscientes seus processos internos, aliviando assim seusofrimento psíquico. 
O pré-consciente é a barreira ou uma das áreas da psique. Faz parte do 
inconsciente, mas a mente consciente pode acessar o conteúdo do gerenciamento de 
análise. O consciente é o contato com o mundo exterior e total compreensão dele, 
captando percepções de emoções e pensamentos (FREUD, 2011b). No inconsciente, 
a repressão é o estado do que não é consciente, mas pode se tornar através do 
gerenciamento analítico. A repressão é o mecanismo do inconsciente que mantém as 
memórias reservadas. 
Em suma, existem dois tipos de inconsciente: o latente e o reprimido. O primeiro 
é um conteúdo que pode se tornar consciente; o segundo é o reprimido, incapaz de 
tomar consciência dele. No sentido dinâmico, existe apenas o consciente e o 
inconsciente juntos. Reforçando o que foi discutido acima: um depende do outro para 
existir. Por exemplo, se o paciente muda de nome na análise ou diz algo que signifique 
algo diferente, ele, através do ato falho, pode ter acessado, mesmo que 
superficialmente, o seu inconsciente (FREUD, 2011b). 
Todavia, na segunda tópica a própria teoria aponta para a organização de 
entidades responsáveis pelos processos da dinâmica psíquica: o Ego, o Id e o 
 
34 
 
Superego. O Ego está ligado à consciência e controla as emoções do mundo exterior. 
O Ego não é sobre a consciência, mas sobre uma barreira na psique que é o caminho 
entre o Id e o Superego. Segundo Rosenfield (2021), o Id, o Eu-ego e o Superego 
complicam a instância do Superego, cuja função é tanto consciente quanto 
inconsciente. Nesta fase de maturidade Freud distingue diferentes funções do 
inconsciente. 
O Ego traz alguns entendimentos sobre o consciente e contém aspectos 
inconscientes. O medo é um mecanismo que mantém o consciente e o inconsciente 
conectados. Assim, para Freud (2011b), o Superego é herdeiro do complexo de Édipo. 
Desempenha um papel importante na independência da criança, na ruptura simbólica 
com os pais, mostrando que o sujeito tem mais autonomia e visão das coisas e do 
mundo (FREUD, 2011b). 
Consoante a obra freudiana Ego e Id, de 1923, o Superego vai contra as 
escolhas objetais inconscientes ocorridas no complexo de édipo, no qual as meninas 
trocam o objeto de afeiçoamento maternal pelo paterno e os meninos permanecem 
ligados à forma materna, rivalizando o afeiçoamento da genitora com o progenitor. 
O encargo do Superego é instaurar a lei que castra e frustra o indivíduo da 
realização da fantasia erótica, levando-o a formar outras escolhas objetais (quanto os 
primeiros amores, amigos e demais relações sociais). Isso fica totalmente explícito 
quando se discute a fantasia que a menina tem com o pai e o menino com a mãe. A 
castração age como interventor para a não realização da fantasia, de forma que a 
criança se frustra e busca outros objetos para o investimento libidinal. 
Na segunda tópica de Freud, o inconsciente não é mais tratado como um lugar, 
mas caracterizado como uma das estruturas do psiquismo. Nesse sentido, o Id só 
pode se tornar consciente se tiver um representante, como no caso do conteúdo 
onírico. Parte do ego e do Superego podem ser conscientes, mas suas formas 
originais são inconscientes. O Id, por outro lado, só pode se tornar consciente quando 
se torna uma representação — suas formas originais são permanentemente 
inconscientes. 
 
35 
 
5.3 Consciência dos processos do Eu 
Na obra As pulsões e seus destinos (FREUD, 2013), Freud aborda o problema 
do retorno instintivo do Eu. O autor faz uso dos problemas das neuroses de 
transferência e das vias instintivas da dinâmica psíquica. 
 Primeiro é necessário reconhecer que o Eu pode ser literalmente inconsciente. 
Tem uma especificidade que leva a ser consciente ou inconsciente, daí a 
ambiguidade. De qualquer forma, nosso conhecimento está ligado à consciência e, 
como mencionado acima, só podemos conhecer o inconsciente tornando-o consciente 
(FREUD, 2011b). Assim, para compreender o inconsciente, é preciso torná-lo 
consciente, transformar o que era apenas percepção em percepções externas. 
Imediatamente, o Ego não é apenas uma parte modificada do Id que aparece 
para o mundo exterior como um representante da psique. Existe uma terminologia que 
pode abordar isso: o "ideal do Ego" ou "Superego". O grande desafio é que essa parte 
do Eu tenha um contato mais distante com a consciência. Assim, pode-se observar 
que o Ego desempenha um papel importante na construção do caráter, pois na fase 
primitiva do sujeito o investimento objetal e a identificação com o objeto de gratificação 
são indistinguíveis uma da outra. Supõe-se mais tarde que esses desejos primitivos 
vêm do Id, que sente a necessidade de impulsos eróticos. O papel do Eu nisso? Afaste 
ou reprima esses desejos (FREUD, 2011b). 
Se um tal objeto sexual deve ou tem de ser abandonado (no caso dos bebês, 
a mama é o objeto de desejo), não é raro sobrevir uma alteração do Eu. Ocorre uma 
regressão ao mecanismo da fase oral, e o Eu facilita o abandono do objeto. De todo 
modo, o processo é muito frequente, sobretudo nas primeiras fases do 
desenvolvimento. O caráter do Eu se forma a partir do abandono dos objetos 
primários, tarefa importante para essa constituição. 
Nesse sentido, ocorre uma gradação da capacidade de resistência. Mas até 
que ponto as influências da história de vida do sujeito têm impacto nas escolhas 
eróticas de objeto? Por exemplo, muitas mulheres nas suas relações amorosas, 
elegem perfis que se assemelhem ao pai e repetem a relação que tem com a mãe. É 
claro perceber os traços de caráter do sujeito, os vestígios dos seus investimentos 
objetais (FREUD, 2011c). 
 
36 
 
Nesse sentido, o Eu pode ser entendido como uma forma de repertório verbal 
que indica o comportamento do sujeito, influenciado pelo social e por questões que 
levam o indivíduo a compreender quem é. Os estudos de caso são de grande 
relevância para as discussões sobre a aplicabilidade e aplicação teórica da 
psicanálise em um determinado contexto clínico, convidando-nos a refletir sobre a 
construção do tema à luz da experiência, trauma e história de vida. 
 Neste capítulo você viu que a teoria freudiana da consciência inclui vários 
aspectos, como o estudo do aparelho psíquico que demarca o consciente, o pré-
consciente e o inconsciente. O autor esclareceu que para uma consciência deve haver 
um inconsciente, que por sua vez atua como reservatório de emoções, pensamentos 
e memórias. Os grandes psicanalistas como Lacan, Adler, Bettelheim, Jung, Pichon-
Rivière e Erikson baseiam suas discussões nos escritos de Freud. Não é um 
argumento fácil de entender, mas é fascinante para psicanalistas e entusiastas do 
assunto. 
As diversas constatações de Freud sobre o consciente e o inconsciente 
serviram de base para a compreensão do trauma, da elaboração do conteúdo 
manifesto e latente da variedade de sofrimentos psicológicos que o sujeito 
experimenta ao longo da vida. De fato, a teoria da consciência tem sido de imensa 
importância para construções conceituais de diferentes perspectivas. Os escritos de 
Freud contribuíram e continuam contribuindo diretamente para a prática psicanalítica 
e para o trabalho de pesquisadores e entusiastas do inconsciente. 
6 ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA EM PSICANÁLISE 
A psicanálise surgiu no século XIX, em um período histórico de construção 
científica em que o modelo dominante era o da ciência moderna. Seu nascimento 
ocorreu no século XVII e Descartes pode ser considerado um marco da nova ciência, 
pois representou um ponto de partida na discussão sobre a valorização de um sujeito 
racional e a sede da experiência cognitiva. 
Segundo Figueiredo (1995, p. 16) "o domínio tipicamente moderno das 
tradições teóricas e epistemológicas, no qual surgem e flutuam questões de 
fundamentos e métodos, reflete uma nova posição do homem [...]". Voltando à 
 
37 
 
proposta original da ciência

Continue navegando