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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE GEOLOGIA DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA REGIONAL E GEOTECTÔNICA GEOTECTÔNICA ROTEIRO DE ESTUDOS Prof. Claudio Valeriano GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 2 1996 INTRODUÇÃO Esta apostila foi concebida como material auxiliar para o acompanhamento da disciplina de Geotectônica, do curso de Graduação da Faculdade de Geologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Fruto de compilação bibliográfica, foi baseada majoritariamente nos livros textos “Plate Tectonics and Crustal Evolution” (Condie, 1989) e “Geological Structures and Moving Plates” (Park, 1988), além de outras fontes diversas. Não pretende ser um compêndio de Geotectônica, de escopo vastíssimo, porém um mero roteiro de estudos. É centrado nas características geológicas dos ambientes geotectônicos. No seu trabalho cotidiano, o geólogo de qualquer campo de atuação, reconhecendo a ambientação geotectônica da área em que trabalha, terá melhores condições para identificar e desenvolver modelos de trabalho em termos de estilo estrutural e de faciologia sedimentar, metamórfica, magmática e metalogenética. A familiarização com as características geológicas dos ambientes geotectônicos abre caminho para previsões sobre seu comportamento e economia de esforços na aquisição de dados adicionais. CONTEÚDO 1- Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 2- Forma, estrutura e composição internas da Terra 3- Tectônica de placas 4- Margens de placas divergentes 5- Margens de placas convergentes 6- Margens de placas transformantes 7- Tectônica intraplaca GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 3 1- MÉTODOS DIRETOS E INDIRETOS DE INVESTIGAÇÃO DA TERRA MÉTODOS BÁSICOS DE INVESTIGAÇÃO: Investigação direta: a) Geologia de campo b) Perfurações c) Minas subterrâneas d) Batiscafos Investigação indireta a) Sísmicos b) Magnéticos c) Gravimétricos d) Elétricos e) Geotérmicos f) Estudos de alta pressão g) Geoquímicos h) Isotópicos i) Outros Métodos a) Métodos sísmicos: São baseados em sismos naturais (terremotos e sismos detectáveis por instrumentos) ou produzidos (explosões). Consistem na medição do tempo de viagem de ondas sísmicas, entre o local da explosão (ou hipocentro no caso dos sismos naturais) e os sensores colocados em linha. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 4 Tipos básicos de ondas sísmicas de um sismo , em relação ao seu epicentro e hipocentro (Condie, 1989, pg.2). Refração sísmica: É utilizada em terra e no mar; Reflexões por incidência vertical são úteis na distinção entre descontinuidades abruptas e gradacionais. Reflexão sísmica: Fornece informações relativamente mais rasas em relação à refração sísmica; É aplicada principalmente em áreas oceânicas e, mais recentemente, nos continentes; Nos oceanos: fontes acústicas emitidas por navios e coletadas de volta por geofones => estratigrafia e estruturas de margens continentais e de bacias oceânicas; perfis de reflexão sísmica. Em terra, são utilizados caminhões vibratórios como fonte de emissão de ondas. terremoto ou explosão => ondas elásticas: -ondas de corpo: p (primárias): são compressivas e propagam-se em sólidos e líquidos s (secundárias): são cisalhantes e propagam-se apenas em meio sólido -ondas de superfície: Rayleigh (plano vertical) Love (perpendiculares à direção de propagação) GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 5 Exemplo de seção de reflexão sísmica, já interpretada, mostrando falhas reversas e dobras associadas na crista de Barbados, região do Caribe (Park, 1988, pg. 128). b) Métodos magnéticos: são aplicados para a caracterização de anomalias magnéticas dos corpos rochosos em sua configuração atual, e também no estudo do magnetismo remanescente de rochas antigas (paleomagnetismo). -O campo magnético terrestre pode ser descrito pelas seguintes atributos: -90% do campo magnético terrestre caracteriza-se por um dipolo em ângulo de 11,5 com o eixo de rotação do planeta, com deriva para Oeste de 0,18 /ano. -O campo magnético é medido através de fluxômetros ou por magnetômetros de protons, e em um determinado local mostra variações ao longo do tempo, que podem ser: de curto prazo (horas a anos) - causadas por interações com a atmosfera; ou seculares (séculos ou mais) - causadas por movimentos de fluidos no núcleo externo. -Para aplicação na geologia, são comumente empregadas seções ou mapas de anomalias magnéticas, representando valores de campo magnético discrepantes em relação à média regional. As anomalias magnéticas podem refletir a presença de rochas com susceptibilidades magnéticas contrastantes (ex. granitos e basaltos) e ainda variações na crosta inferior e no manto superior. direção: declinação: ângulo entre o Norte magnético e o Norte geográfico inclinação: caimento em relação à horizontal força ou magnitude: varia entre 70 tesla, no polo Sul e 30 tesla, no equador. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 6 Exemplo de mapa de anomalias magnéticas no Escudo Canadense,, mostrando altos magnéticos representando faixas vulcânicas máficas e baixos magnéticos representados por gnaisses e granitos(Morley et al., 1967, in Condie, 1989, pg 105). -Em estudos de paleomagnetismo, são empregadas amostras orientadas de idades conhecidas,a fim de reconstituir a orientaçào do campo magnético à época de sua formação. São dados importantes na reconstituição da configuração das massas continentais e oceânicas ao longo do tempo geológico. c) Métodos gravimétricos: consistem no estudo da distribuição de massa no interior terrestre, expressa pela densidade das rochas constituintes. -a aceleração gravitacional terrestre é de 980 gal (1 gal=1 cm/s2), em média, e é medida através de gravímetros, tanto em terra como no mar. Os gravímetros podem ser transportados em superfície ou em aviões. Satélites artificiais são também utilizados para cálculos gravimétricos. -a força de atração gravitacional entre dois corpos (por exemplo, a Terra e um objeto qualquer) é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles, e é proporcional às respectivas massas. Logo, regiões com rochas mais densas acarretam valores de gravidade maiores. Por outro lado, para comparar valores medidos em pontos com altitudes diferentes, há que fazer correções altimétricas. Para isto, utilizam-se sólidos de referência que se aproximam da forma real do planeta. Em graus de fidelidade crescente, podem ser alistados os seguintes sólidos: esfera (altitude constante) esferóide (altitude em função da latitude. Raio equatorial = 6.378 Km; raio polar = 6.357 Km) geóide (aproximadamente correspondente ao nível do mar), melhor determinado calculando-se os desvios de órbita de satélites artificiais. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 7 As correções dos dados gravimétricos são de dois tipos principais: correção free air: levam em conta a elevação em relação ao geóide correção Bouguer: subtração, do valor free-air, da atração entre o corpo rochoso e a estação gravimétrica, mais a correção de relevo. No mar, introduz-se uma correção correspondente à substituição da massa de água por rocha. Exemplo de perfil gravimétrico no braçoleste do rifte do Leste Africano (Kenia), junto com o modelo interpretativo de distribuições de densidades (Darracott et al., 1973, in: Park, 1988, pg. 89.) d) Métodos elétricos: utilizam dados de eletrorresistividade e eletrocondutividade dos corpos rochosos. São utilizados quatro principais métodos: sondagem direta de corrente (queda de voltagem entre dois eletrodos) sondagem magnetotelúrica (variações elétricas e magnéticas) sondagem eletromagnéticaa (idem, em campo artificial, induzido) sondagem profunda geomagnética (variações eletromagnéticas induzidas por tempestades magnéticas) GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 8 e) Métodos geotérmicos: consistem na observação espacial e temporal do fluxo térmico proveniente do interior terrestre. Duas grandezas são importantes: gradiente térmico = dT/dx condutividade térmica K O fluxo térmico (q= -K dT/dx) é expresso pelas seguintes unidades: cal/cm2s mW/m2 HFU (heat flow unit) = 1cal/cm2s = 0,0239 mW/m2 O fluxo térmico normal é de 1,5 HFU. f) Estudos de alta pressão: envolvem a simulação, em laboratório, de condições de pressão e temperatura do interior da crosta e até do manto. Os equipamentos, até 1972, realizavam ensaios de 300 Kbar (cerca de 1000 Km de profundidade); mais recentemente, existem laboratórios que aplicam pressões de até 1,7 Mbar, a 3500 C, simulando o manto inferior e núcleo. Procuram-se simular as seguintes propriedades: equilíbrio de fases minerais velocidade de propagação de ondas sísmicas (Vp, Vs) através das rochas e minerais propriedades elétricas e térmicas propriedades reológicas g) Estudos geoquímicos: a composição química das rochas é estudada em seus elementos maiores e traços, dando informações sobre o ambiente geotectônico de formação das rochas ígneas e sedimentares, assim como a fonte primária das rochas, crustal ou mantélica. São utilizados principalmente espectrômetros de fluorescência de raios-X e ICP (“inductive coupled plasma spectrometer”). h) Estudos isotópicos: lado a lado com os estudos geoquimicos, os espectrômetros de massa fornecem razões isotópicas, com as quais podem-se calcular as idades de formação e metamorfismo das rochas, através dos métodos K-Ar, Rb-Sr, U-Pb, Sm-Nd, Pb-Pb, dentre outros. Isótopos de Pb, Sr e Nd, principalmente, também são utilizados como valiosos indicadores petrogenéticos sobre as fontes primárias das rochas e seus diferenciados magmáticos. i) Outros métodos: com o avanço tecnológico, muitos outros métodos com aplicaçào à geotectônica estão em desenvolvimento, tais como estudos de viscosidade do manto, tomografia sísmica do manto, sondagem oceânica profunda, sensoriamento remoto e muitos outros. Entretanto, talvez o método mais importante, e um dos menos valorizados ainda é a geologia de campo, sem a qual os métodos brevemente descritos acima perdem muito de seu potencial interpretativo. Igualmente importantes são os estudos geológicos convencionais, como estratigrafia, tectônica, vulcanologia, petrologia experimental, sedimentologia e paleontologia. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 9 GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 10 2- FORMA, ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO INTERNAS DA TERRA FORMA: Esfera Esferóide Geóide: forma de pera invertida, continentes salientes raio equatorial: 6.378,160 km raio polar: 6.36,775 km diferença = 1/298 . ESTRUTURA: A subdivisão interna do planeta pode ser baseada em dois critérios: sísmico-composicional e mecânico: a) Critério sísmico-composicional: núcleo, manto e crosta; Crosta: (a ser detalhada a seguir): dualidade composicional marcante: crosta oceânica e crosta continental Manto: fonte de magma basáltico por fusão parcial Composição ultramáfica predominante (>70% minerais de Fe-Mg). 90% FeO-MgO-SiO2 10% CaO-Al2O3-Na2O PIROLITO: (3:1 peridotito:basalto): rocha hipotética que reflete a composição global do manto Máficas de composição basáltica subordinadas Recentemente, estudos petrológicos (geoquímicos e isotópicos) têm indicado que o manto é mais heterogêneo do que se supunha, com dois tipos composicionais principais: SEGMENTO PROFUNDIDADE (Km) DESCONTINUIDADE Crosta 0-33 Mohorovicic Manto: Superior 33-400 Zona de transição 400-1000 Inferior 1000-2900 Gutenberg Núcleo Externo 2900-4980 Zona de transição 4980-5120 Interno 5120-6370 GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 11 manto empobrecido (por extrações basálticas): mais frequente na porção superior manto enriquecido (ou mais propriamente não empobrecido): teores mais altos em elementos incompatíveis (elementos litófilos de raio iônico grande). Núcleo: Metálico, rico em Fe, Ni, V, Co Não propaga ondas s na porção externa (comportamento líquido, com temperaturas em torno de 3000 C) Núcleo interno: Vs baixas, temperaturas próximas da de fusão ou com fusão incipiente. b) Critério mecânico: litosfera, astenosfera, mesosfera, núcleo. SEGMENTO PROFUNDIDADE (Km) DESCONTINUIDADE Litosfera 50-150 Low velocity zone (LVZ) Astenosfera 150-400 Zona de transição Mesosfera 400-2900 Gutenberg Núcleo 2900-6370 GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 12 Diagrama mostrando variações de Vp e Vs, da superfície ao centro da Terra, e estrutura inferida. Litosfera = crosta + porção rígida do manto superior Comportamento relativamente frágil, dividida em placas litosféricas,cuja deformação está concentrada nas bordas. Low velocity zone (LVZ): Alta atenuação sísmica Baixa Vp (7.8 Km/s) Alta condutividade elétrica possível zona de geração de magmas basálticos. Quando a LVZ é rasa => alto fluxo térmico (riftes ativos e cadeias meso- oceânicas) Astenosfera: Comportamento relativamente plástico Apresenta importantes correntes de convecção controladas por heterogeneidades de conteúdo de calor => anomalias térmicas no manto - Hot spots. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 13 Variação da velocidade de ondas p e s, densidade e temperatura, em função da profundidade na Terra (fonte: Condie, 1989, pg 14) A CROSTA TERRESTRE: CARACTERÍSTICAS CROSTA OCEÂNICA: a) Acessibilidade: direta: dragagem furos profundos observação submarina (batiscafos) indireta: sensoriamento remoto ofiolitos b) Nascimento: -riftes intracontinentais => cadeias meso-oceânicas estágios: embrionário (ex. rifte do leste africano) GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 14 infantil ou protoceânico (ex. Mar Vermelho) maturo crescente (ex. Atlântico) maturo decrescente (ex. Pacífico) reliquiar (ex. Mediterrâneo) vestigial (ex. ofiolitos) c) Morte: subducção e continentalização (ofiolitos) d) Estruturação: -camada sedimentar (0-7 Km): material planctônico + argila Vp = 1,5 a 3,4 Km/s -embasamento (~ 4 Km): basaltos toleíticos estruturas almofadadas e diques Vp = 5 Km/s -camada oceânica (4 a 6 Km): anfibolitos, rochas gabróides + diques de peridotito serpentinizado Vp = 6,5 a 7,2 Km/s -descontinuidade de Mohorovicic - manto superior: peridotito + dunito Vp > 8 Km/s e) Idades: 0 a 100 Ma f) Metamorfismo: hidratação, serpentinizaçãofácies zeólita e xisto verde (ex. Troodos, Chipre) g) Composição: comparação continental x oceânica Continente Oceano SiO2 60-63 48,8 TiO2 0,6 1,4 Fe tot < > MgO < > CaO > < Na2O > < K2O > < Traços Rb 85-95 4 Sr 340 170 Ba 670-1150 65 U 3-1,8 0,2 Th 100 0,5 Ni 20-50 100 GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 15 h) Características físicas principais -densidade: 2,9-3,0 g/cm3 -espessura: m’x. 15 Km -anomalia Bouguer + -gradiente térmico: 30 C/km (teórico), cresce rapidamente com a prof. -paleomagnetismo: padrão zebrado -Vp: camada 1: 1,5-3,4 Km/s camada 2: 5 Km/s camada 3: 6,5-7,2 Km/s -fluxo térmico: 8-10 HFU (cadeias meso-oceânicas) a 1,2 HFU (fossas) i) Tipos prováveis de relação com o manto: 2 modelos: limite químico: basalto/peridotito mudança de fase: serpentinito/peridotito basalto/eclogito j) Extensão atual: 306 x 106 Km2 59% área 21% volume k) Principais tipo crustais: -bacias oceânicas (41%): relativamente estáveis -cristas meso-oceânicas (10%): 80.000 km lineares largura 1000 a 2000 km -bacias marginais retro-arco (4%): ex. Aleutas, Filipinas, Fidji, Tasman, Nova Caledônia possuem detritos continentais espessos, com contribuição vulcânica do arco e assoalho oceânico fluxo térmico alto (ativas) fluxo térmico baixo (inativas) -fossas oceânicas (3%): relativamente mal conhecidas anomalias Bouguer negativas -ilhas vulcânicas (<1%): produzidas por hot spots, com basaltos alcalinos, rochas nefelínicas, traquitos -arcos de ilhas: alguns autores consideram-nos como crosta oceânica, porém são muito diferenciados. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 16 Distribuição em área e volume dos principais tipos crustais (Condie, 1989, pg. 76) CROSTA CONTINENTAL a) Acessibilidade: direta observação em superfície furos de sondagem minas indireta sensoriamento remoto sísmica b) Nascimento: acresção vertical e lateral -arcos magmáticos: arcos de ilhas arcos cordilheiranos -espessamento continental por acresção de material no interior dos crátons (ex. traps vulcano-sedimentares, granitos anorogênicos) Taxas de crescimento: 7,6 x 109 Km3/ 3,8 Ga média 2 Km3/ano Crescimento em função declínio do fluxo térmico: Arqueano 70-80% Proterozóico 20% Fanerozóico <10% c) Principais ciclos tectono-magmáticos GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 17 d) Morte da crosta continental -subducção B: depende da espessura da crosta continental e da força da placa em subducção: até 10 km de espessura, a força descendente é capaz de arrastarqualquer cobertura. -subducção A: causada por microcolisões devido a cunhas clásticas, platôs basálticos, etc., sobre a crosta oceânica em subducção. -descasalamento ou delaminação: descolamento da crosta inferior, do manto. Provoca entrada de material astenosférico no espaço aberto. Pode também ocorrer no Moho, ou ainda na interface cobertura sedimentar/embasamento cristalino. O processo também acarreta contaminaçào no manto superior. e) Principais tipos crustais continentais: -Escudos (6%) -Plataformas (17%) -Orógenos paleozóicos (8%) -Orógenos meso-cenozóicos (6%) -Arcos magmáticos (<3%) -Riftes continentais (<1%) -Mares interiores (< 1%) Total: ~49 % da área total do planeta Ma Evento Obs 80 Andino-Alpino-Himalaiano 280 Hercínico PANGEA 3 480 Caledoniano-Apalachiano 680-500 Brasiliano-Panafricano- Cadomiano 1300-1100 Sunsas Quebra do supercontinente 1700-1300 Eventos intraplaca 1800-2200 Transamazônico-Eburneano- Huroniano PANGEA 2 (RODINIA) 2500-2700 Jequié PANGEA 1 2900 Canada 3200-3400 Brasil (Guriense) 4550-3800 Sem registro GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 18 Seções sísmicas de vários tipos crustais. Velocidades de ondas p em Km/s (Condie, 1989, pg.82). GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 19 3- TECTÔNICA DE PLACAS: FUNDAMENTOS A porção externa do planeta é constituída por um mosaico dinâmico de placas litosféricas relativamente rígidas que se movem umas em relação às outras. Em algumas zonas são consumidas, em outras são criadas e, em alguns limites, ocorre apenas translação lateral. Esta movimentação, geração e consumo de placas é responsável por todos os fenômenos geológicos globais (tectonismo, vulcanismo, formação de bacias sedimemetares, terremotos) observados na superficie da crosta terrestre. A revolução nas geociências. Desde sua proposição na década de 60 e incorporação de importantes adendos no início dos anos 70, a Teoria da tectônica de placas (ou Tectônica Global) representa uma revolução nas geociências, na medida em que integra novos dados das até então desconhecidas áreas oceânicas, ao enorme acervo de dados geológicos da área continental, e com dados geofísicos do interior do planeta. No início, enfrentou forte resistência, gerando uma das maiores polêmicas científicas do século XX, com duas vertentes de pensamento: fixistas x mobilistas. Nos anos 70 e 80, foi praticamente aceita para o Fanerozóico, persistindo importantes debates sobre sua atuação em tempos mais remotos. Surgiram então novos modelos não atualísticos, fruto desta resistência, e do avanço no conhecimento dos processos petrológicos e tectônicos na crosta inferior e litosfera abiaxo das áreas continentais. No final dos anos 80 e anos 90, estes novos conceitos foram incorporados à teoria, gerando versões não atualísticas, ou atualísticas mais modernas (muda a intensidade, não os processos) aplicáveis não só ao Precambriano, como também a períodos de relativa calma tectônica, como o Paleozóico de vários continentes. A litosfera e as placas litosféricas Litosfera: segmento rochoso externo do planeta, de comportamento relativamente mais frágil, se comparaddo ao segmento inferior mais dúctil (astenosfera). As placas litosféricas possuem espessura variando entre 150( áreas oceânicas) a 300 Km (nas áreas continentais). Engloba, portanto, toda a crosta e importante segmento do manto superior. Seu limite com a astenosfera é caracterizado por uma zona de comportamento mecânico transional, a “low velocity zone” (LVZ), interpretada como sítio de geração basáltica no manto. Evidência geofísicas, GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 20 como queda na velocidade de ondas sísmicas, alta atenuação sísmica e experimentos petrogenéticos de geração de magmas corroboram com esta hipótese. O limite litosfera x astenosfera é portanto um limite termo-mecânico. A partir da isoterma de 1333 C, o comportamanento mecânico do manto varia de rúptil para dúctil. *** anomalias térmicas causam uma variação na espessura das placas litosféricas*** AS PRINCIPAIS PLACAS: A seis principais placas litosféricas e seus limites, com vetores de velocidade aproximada relativa à placa Antártica e polos de rotação para seis pares de placas (Vine & Hess, 1970, in Park, 1988, pg. 55). Dependendo da escala em consideração, deve ser considerada a existência de placas menores (p. ex., Arábica, Cocos, Nazca, Caribe, Filipinas e Scotia) e uma infinidade de microplacas litosféricas. A maior parte da sismicidadeocorre nos limites de placas, evidência do deslocamento relativo GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 21 Distribuição mundial de sismos, entre 1961 e 1969, mostrando o contraste entre a alta sismicidade das margens de placas e o seu interior quase assísmico (Condie, 1989, pg. 141). Observando a figura acima, notam-se áreas de atividade sísmica especialmente intensa no interior das placas. Procure pesquisar que áreas são estas e o que nelas ocorre. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 22 ESPALHAMENTO DO FUNDO OCEÂNICO: GERAÇÃO DE LITOSFERA Nas dorsais meso-oceânicas, a crosta oceânica juvenil é gerada a partir da fusão parcial do manto. À medida em que resfria, vai se afastando simetricamente de seu sítio de geração, enquanto novo material é adicionado. O padrão de idades da crosta oceânica aumenta na medida em nos afastamos das dorsais em direção às margens continentais. Diversos estágios de geração de oceanos esção preservados em nosso planeta, desde oceanos restritos (Mar vermelho, onde praticamente está se formando hoje a crosta oceânica) até vastas áreas oceânicas, como por exemplo na placa pacífica. Desta forma fica claro que a crosta oceânica é gerada a partir da ruptura, separação e stamento de massas continentais. ***As dorsais meso-oceânicas representam limites divergentes entre placas e são sítios de geração de crosta oceânica juvenil e de litosfera oceânica*** PRINCIPAIS EVIDÊNCIAS DA MOVIMENTAÇÃO DAS PLACAS LITOSFÉRICAS a) Evidências magnéticas Anomalias magnéticas lineares: geram o chamado padrão zebrado do assoalho oceânico, definido por faixas com polaridade normal alternadas com faixas de polaridade reversa, deslocadas transversalmente em zonas de fratura. O padrão zebrado é interpretado como produto de dois processos concomitantes, porém de causas independentes: -injeção e extrusão aproximadamente contínua de basaltos ao longo do eixo das dorsais oceânicas, à medida em que as placas adjacentes se afastam; -eventos de súbita inversão da polaridade do campo magnético terrestre, fenômeno de causas ainda especulativas, relacionadas a processos no núcleo. O levantamento sistemático das inversões nos últimos 180 Ma. levou à elaboração da escala paleomagnética do tempo geológico. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 23 Posição atual dos continentes Gondwânicos, com a distribuição simplificada das dorsais oceânicas, padrão de anomalias magnéticas e falhas transformantes (Park, 1988, pg. 62). Trajetória aparente de deriva polar, calculada a partir da determinação da orientação do campo paleomagnético terrestre em amostras datadas, através da medição de seu magnetismo remanescente. A trajetória inferida para uma placa é sempre aparente, pois em princípio tanto a placa como o polo magnético são passíveis de deriva ao longo do tempo geológico. Entretanto, a comparação das trajetórias de duas placas pode levar à inferência de que sofreram deslocamentos relativos. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 24 Trajetórias aparentes de deriva polar para várias situações tectônicas (Condie, 1989, pg. 139) GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 25 b) ajuste geométrico do contorno das margens continentais opostas c) continuidade de províncias geológico-paleontológicas em massas continentais atualmente separadas por grandes distâncias após fragmentação continental GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 26 d) idade da costa oceânica e dos sedimentos sobrejacentes é progressivamente mais antiga (0 a 200 Ma) à medida em que se afastam das dorsais. e) Traços de hot spots e seu uso como referenciais fixos: anomalias térmicas no manto geram pontos de extrusão magmática em superfície (hot spots). Com o movimento da placa litosférica, estes pontos deixam um rastro de centros eruptivos alinhados na direção domovimento, cujas idades aumentam gradativamente (exemplo: cadeia de ilhas e montes submarinos do Havaí) Mapa da cadeia do Havaí, com as dades domagmatismo, indicando importante mudança na direção de movimentação da placa do Pacífico ao redor de 40 ma. (Molnar & Stock, 1987, in: Condie, 1989, pg. 159). ZONAS DE SUBDUCÇÃO: CONSUMO DE LITOSFERA OCEÂNICA Uma vez que o diâmetro terrestre permanece inalterado (inclusive com bases astronômicas), o material acrescionado nas dorsais deve ser consumido na mesma proporção. Os sítios de consumo da litosfera oceânica são as fossas abissais, por baixo das quais a litosfera é subductada e mergulha em direção ao manto astenosférico. As então denominadas zonas de subducção consomem a litosfera oceânica, reciclando-a no manto. Como resultado, parte da litosfera oceânica, o manto astenosférico sobrejacente e a litosfera estacionária podem sofrer fusão parcial. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 27 Esta diversidade de componentes dá origem ao magma andesítico, que aflora na placa cavalgante gerando arcos magmáticos. Estes arcos com intensa atividade vulcânica e plutônica (quando dissecados), podem ser implantados tanto na litosfera oceânica (arcos de ilhas), como na litosfera continental (arcos cordilheiranos). ***As zonas de subducção são portanto limites convergentes entre placas, e sítio de consumo de litosfera oceânica e de criação de litosfera continental por acresção de magmas siálicos à superfície.*** EVIDÊNCIAS: a) Sismos com hipocentros profundos: a distribuição dos sismos ao longo de uma fossa abissal define uma região planar, denominada de zona de Benioff, interpretada como sendo representativa do limite superior da placa em subducção. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 28 Exemplos de zonas de Benioff peri-Pacíficas (Condie, 1989, pg. 147). b) vulcanismo intermediário; c) metamorfismo de alta P/T nas rochas subductadas; d) metamorfismo de baixa P/T na região do arco magmático FALHAS TRANSFORMANTES: LIMITES CONSERVATIVOS ENTRE PLACAS LITOSFÉRICAS Quando visualizamos o arranjo das placas e sua geometria em 3 dimensões, na superfície terrestre, fica claro que devem existir limites onde não ocorre nem consumo nem geração de litosfera, mas simplesmente translação horizontal entre as placas. Este tipo de limite é denominado conservativo e é caracterizado por falhas com movimentação principal direcional (strike slip faults ou transcorrentes). Inicialmente descrita nas áreas oceânicas, as falhas transformantes são um tipo especial de falhas strike-slip, onde a movimentação realtiva entre blocos está GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 29 restrita ao seu segmento central, Elas conectam centros de espalhamento (dorsais), e/ou zonas de consumo (zonas de subducção) e/ou outras falhas transformantes. O magmatismo nete tipo de limite é mais restrito, e muitas vezes com tendência alcalina, indicando que o manto astenosférico não empobrecido deve ter contribuído para sua geração Evidências: -deslocamento das anomalias magnéticas lineares -sismicidade rasa e restrita ao segmento entre as dorsais -magmatismo: servem de conduto para ascenção de basaltos alcalinos -feições topográficas lineares perturbando a suave topografia do fundo oceânico, em forma desulcos, cristas ou degraus. CICLO DE WILSON: ABERTURA E FECHAMENTO DE OCEANOS O ciclo de Wilson pode ser descrito em seus estágios típicos, desde a fragmentação continental,culminando com a colisão de massas continentais. Entretanto, o ciclo pode ser abortado em quaisquer de seus estágios: Rifte intracontinental (ex. rifte do leste africano): caracterizado pela implantação de um regime tectônico tracional em domínio continental; Estágio protoceânico (ex. Mar Vermelho): início de geração de crosta oceânica; Estágio oceano maturo crescente (ex. Atlântico): caracterizado por bacia oceânica com dorsal oceânica e bordejada por margens passivas dos dois lados; Estágio oceano maturo decrescente (ex. Pacífico): implantação de zona de subdução em um ou nos dois lados da bacia oceânica; Estágio de fechamento ou colisional (ex. Cadeia Alpino-himalaiana): consumo total da litosfera oceânica, colocando os domínios continentais em contato compressivo. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 30 Sequência idealizada de eventos em um ciclo de Wilson (Condie, 1989, pg. 195) COLISÃO CONTINENTAL: ENCONTRO DE MASSAS CONTINENTAIS E FORMAÇÃO DE FAIXAS OROGÊNICAS Características: -ocorrência de xistos azuis e ofiolitos na zona de sutura -magmatismo sin-colisional refusão crustal -sismicidade no interior das massa continentais -estruturas indicativas de intenso encurtamento crustal: dobramento intenso e falhas de empurrão de escala crustal, nappes. -colagem de terrenos geologicamente distintos GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 31 4- MARGENS DE PLACAS DIVERGENTES Ambientes tectônicos distensivos são caracterizados por regimes de stress distensivo, onde os vetores 2 e 3 localizam-se no plano horizontal, e 1 (= gravidade) na vertical. As falhas normais são as estruturas mais características do ambiente extensional, resultando em estiramento crustal e na implantação de bacias sedimentares. As margens de placas divergentes são caracterizadas pela existência de uma dorsal oceânica, a partir da qual as placas adjacentes se afastam mutuamente, e onde é produzida litosfera oceânica juvenil. No contexto do ciclo de Wilson, isto é, em uma visão evolutiva, este tipo de margem de placa tem sua origem a partir da fragmentação continental (rifteamento), evoluindo até a formação de um oceano aberto (p. ex. Oceano Atlântico), ou pela fragmentação de uma placa oceânica, com a implantação de uma nova dorsal oceânica no seu interior. Da fragmentação continental até a formação de assoalho oceânico vasto, as caracterísitcas geológicas dos vários estágios variam muito ao longo de sua evolução: GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 32 ESTÁGIOS DA FRAGMENTAÇÃO CONTINENTAL À FORMAÇÃO DE OCEANO ABERTO Estágios na ruptura e fragmentação de um continente e desenvolvimento de uma nova dorsal oceânica (Dewey & Bird, 1970b, in: Condie, 1989, pg. 189). a) Estágio de arco ou domo pré-rifte: inicia-se geralmente pela implantação de uma anomalia térmica na astenosfera, provocando alto fluxo térmico acompanhado de forte soerguimento na litosfera e consequentemente altas taxas de erosão. O magmatismo é tipicamente peralcalino, colocado através de enxames de diques e uma superestrutura vulcânica que raramente se preserva devido à erosão. Em termos de registro geológico, este estágio se apresenta através de uma forte discordância erosiva (provocando um hiato estratigráfico), abaixo da qual ocorre o complexo de diques. b) Estágio de rifte: inicia-se a fragmentação da litosfera, que começa a sofrer estiramento e forte adelgaçamento. Na crosta superior, implanta se um complexo escalonado de falhas normais, definindo alternância de grabens e horsts subparalelos, ou em arranjos de junção tríplice (com ângulos tendendo a 120 graus), definindo uma ou várias bacias do tipo rifte, cada qual com seus subcompartimentos. Neste estágio, o magmatismo é tipicamente bimodal (quanto ao teor de SiO2): -diques e derrames de basaltos toleíticos, -diques e depósitos piroclásticos de riodacitos e riolitos de afinidade alcalina. A sedimentação clástica, com a implantação de leques aluviais nas bordas dos grabens, gradando para sistemas lagunares e fluviais nas áreas mais abatidas. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 33 Exemplos: sistema de Rifte do Leste Africano (em desenvolvimento); sistema Recôncavo-Tucano-jatobá (Cretáceo-Terciário). c) Estágio de golfo protoceânico: devido ao extremo adelgaçamento da litosfera continental e volumosa intrusão/extrusão basáltica, inicia-se a formação de crosta oceânica sobre o eixo de espalhamento, separando as duas áreas continentais, e definindo duas novas placas litosféricas. O magmatismo basáltico toleítico passa a ser preponderante ou exclusivo e forma-se uma bacia confinada, sujeita a invasões contínuas ou intermitentes do mar, gerando depósitos evaporíticos típicos desta fase. Dependendo do sistema de drenagem local, podem se desenvolver complexos deltáicos. Como as margens continentais estão ainda muito próximas, pode haver interdigitação dos sedimentos provenientes de ambas as áreas continentais. Exemplo: Mar Vermelho d) Estágio de oceano aberto: caracteriza-se por um largo domínio de litosfera oceânica entre as duas margens continentais outrora em contato. Uma característica importante deste estágio é que a margem continental (região da crosta de transição entre continental e oceânica), afastada da anomalia térmica da astenosfera, entra em subsidência com o resfriamento (subsidência térmica)e com o peso do prisma sedimentar, denominado miogeoclíneo. Esta acumulação de sedimentos à margem continental dá origem à chamada plataforma continental, domínio de crosta continental submersa com lâmina d’água relativamente pouco profunda. Dependendo da constituição sedimentar e da estruturação, tipos diferentes de plataformas continentais podem ser formados, como nos exemplos abaixo: GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 34 Tipos de plataformas com diferentes estruturas e sedimentação (Mohriak, W. U., 1993, Tectônica de Bacias Sedimentares. PETROBRÁS-DEPEX, pg. 39) FEICÕES ESTRUTURAIS DOS RIFTES CONTINENTAIS Mecanismos de estiramento Quanto aos mecanismos de estiramento da crosta continental no processo de rifteamento, duas classes de modelos básicos são propostas: GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 35 a) modelos com pure shear: a extensão distribui-se por toda a litosfera, gerando bacias ou riftes simétricos. Dois subtipos são considerados: um que considera a deformação homogênea (não ilustrado aqui), e outro que considera a diferença de comportamento reológico entre a crosta superior, rúptil, e a crosta inferior, dúctil (MacKenzie, 1978). Neste último modelo, ilustrado na figura acima (A), processos rúpteis de falhamento se concentram na crosta superior, ao passo que a crosta inferior se deforma de maneira dúctil. Ao longo da transição rúptil- dúctil, forma-se uma zona de descolamento. Cada vez mais são reconhecidos exemplos de deformação distensiva em níveis crustais profundos (fácies anfibolito e granulito), sob o regime dúctil, inclusive com milonitos associados. b, c) modelos com simple shear: forma-se uma zona de cisalhamento de escala litosférica, com movimentação normal, e falhas menores sintéticas e antitéticas associadas. Este mecanismo gera baciascom geometria assimétrica, do tipo hemi-gráben e forte basculamento de blocos em direção à falha mestra. -Modelo de Wernicke (1981 e 1985): O afinamento da crosta não corresponde ao do manto, gerando alta assimetria. Magmas astenosféricos GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 36 ascendem pela zona de cisalhamento, podendo chegar à superfície ou se implantar na crosta ou no limite crosta/manto (underplating). -Modelos de descolamento (Lister et al., 1986): a falha dominante tende a se horizontalizar ao longo das duas descontinuidades (transição rúptil- dúctil da crosta e na descontinuidade de Mohorovicic). Gera geometrias contrastantes: na placa inferior, a estruturação é muito complexa, com falhas lístricas (falhas com superfície curva de convavidade para cima), enquanto que na margem superior a estruturação é muito mais simples, com poucas falhas de geometria planar predominante e estreita plataforma continental. Zonas de transferência Nos riftes continentais, a zona axial de ditensão crustal não se prolonga linearmente por longas distâncias, sofrendo bifurcações e sendo deslocada transversalmente pelas chamadas zonas de transferência. Estas zonas acomodam segmentos de rifte com características diferentes, tais como: variação na taxa de abertura ao longo do rifte, ou também quando ocorre mudança no sentido de mergulho da falha principal. Outras zonas de transferência fazem a ligação de segmentos de rifte escalonados (“rift jump”). AS DORSAIS OCEÂNICAS As dorsais oceânicas, também chamadas de cristas ou cadeias (meso)-oceânicas, constituem no seu conjunto a feição tectônica mais expressiva do planeta, formando uma rede que se estende por cerca de 80.000 km, em todas as bacias oceânicas, com ramificações que adentram os continentes em processo de rifteamento. As dorsais são o sítio de geração de litosfera oceânica, cumprindo o papel de principal via de escape do calor interno da Terra. Sua origem e distribuição espacial é controlada a correntes convectivas ascendentes na astenosfera que, ao chegar à base da litosfera, passam a ter movimento divergente. Esta associação íntima com anomalia térmica astenosférica se expressa em todas as características geológicas das dorsais: -sua expressão topográfica, com largura de1000 a 2000 km e altura de 2-3 km, resultado do processo de domeamento térmico; -alto fluxo térmico no eixo, diminuindo simetricamente com a distância GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 37 -a tectônica divergente, caracterizada por falhas normais, com um pronunciado graben central de cerca de 100 km de largura; -profuso magmatismo básico de afinidade toleiítica de baixo K, com ocorrência de uma câmara magmática sob o gráben central; Seção esquemática de um gráben central, com uma câmara magmática subjacente, na qual ocorre diferenciação magmática e formação de cumulados. A formação da crosta se dá principalmente pela acrescão repetida de diques. Extrusões de basaltos almofadados ontribuem para o espessamento crustal (Ballard & Van Andel, 1977, in: Park, 1988, pg 77) -alta concentração de sismos rasos; -anomalia gravimétrica (Bouguer) baixa, indicando material mantélico pouco denso próximo à superfície; -Velocidades de ondas p anomalamente baixas no manto, e alta atenuação sísmica, devido à ocorrência de material quente; Modelo de densidades (g/cm3) da crosta e manto superior sob a dorsal meso-atlântica, e padrão gravimétrico correspondente (Talwani et al., 1965, in: Park, 1988, pg. 74). Anomalias magnéticas e a formação do padrão zebrado À medida em que as placas litosféricas se afastam, material basáltico que preenche o espaço adquire magnetização remanescente correspondente à época de sua cristalização. Desta forma, as repetidas inversões do campo magnético terrestre, ao longo do tempo geológico, ficam registradas no assoalho oceânico formado na forma de faixas alternadas de anomalias magnéticas (normais e invertidas em relação à polaridade atual), subparalelas e dispostas simetricamente em relação ao eixo da dorsal. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 38 A comparação do padrão (zebrado) de anomalias magnéticas do assoalho oceânico com a escala padrão de reversões magnéticas permite inferir a idade da crosta oceânica. Dividindo-se a distância de uma determinada faixa de anomalia magnética ao eixo da dorsal, pela sua idade, obrtém-se a taxa média de espalhamento oceânico, comumente expressa em cm/ano. Esquema do espalhamento do fundo oceânico e formação do padrão zebrado de anomalias magnéticas, aplicado à crista de Juan de Fuca, ao largo da costa oeste dos EUA (Vine, 1968, in: Wyllie, 1971, pg. 319). Zonas de fratura e falhas transformantes Nas dorsais oceânicas e nas planícies abissais adjacentes, um grande número de zonas de fratura intercepta e desloca a zona axial de espalhamento e as anomalias magnéticas associadas. Estas zonas de fratura têm expressão fisiográfica na forma de sulcos, degraus ou cristas. A sismicidade ao longo da zona de fratura é quase exclusivamente concentrada na porção entre os segmentos da dorsal deslocada, que é denominada de falha transformante (Wilson, 1965). Seu movimento horizontal não se enquadra num simples caso de GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 39 deslocamento transcorrente da dorsal, como pode parecer à primeira vista. O movimento relativo entre os blocos adjacentes à falha não é ditado pelo aparente deslocamento do eixo da dorsal, e sim pelo movimento de afastamento das placas. Para fora das dorsais, em princípio, não há movimento horizontal relativo entre os dois blocos adjacentes, desde que a taxa de espalhamento seja igual nos dois segmentos de dorsal adjacentes à falha transformante. Comparação do movimento das falhas transformantes e transcorrentes (Wyllie, 1971, pg. 316). O traçado escalonado das dorsais parece ser uma feição herdada do início da fragmentação continental, com influência da distribuição das anomalias térmicas (“hot-spots”) e da estruturação do embasamento cristalino”. Segundo este raciocínio, as dorsais oceânicas já se formam escalonadas desde o princípio, como exemplificado na ilustração abaixo. Estágios iniciais de abertura de uma bacia oceânica, mostrando ainfluência possível de “hot-spots (Dewey & Burke, 1974, in: Park, 1988, pg. 84). METAMORFISMO EM AMBIENTES DIVERGENTES GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 40 a) ambiente intraoceânico: metamorfismo de fundo oceânico (alta T baixa P), com formação de paragêneses hidratadas: serpentinização de rochas ultramáficas, cloritização de rochas básicas são processos típicos. b) ambiente intracontinental: -nível crustal raso: metamorfismo de soterramento na base do pacote sedimentar em bacias profundas, com transição da diagênse para o metamorfismo (anquizona). Pode ocorrer também metamorfismo de contato restrito ao longo de diques e sills (p. ex.: silicificação de arenitos, formação de talco em calcários dolomíticos). -nível crustal profundo: granulitos de baixa pressão. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 41 5- MARGENS DE PLACAS CONVERGENTES O regime de stress característico para ambientes convergentes é o compressivo, onde os vetores 1 e 2 encontram-se no plano horizontal, e 3 na vertical. Como resultado são geradas principalmentedobras e empurrões resultando em encurtamento crustal Margens de placas convergentes são caracterizadas por zonas de subducção, onde placas litosféricas oceânicas mergulham por baixo de placas também oceânicas (subducção intraoceânica) ou continentais, produzindo áreas com elevada sismicidade rasa e profunda. Esta interação, em profundidade, provoca fusão parcial em ambas as placas. Os magmas produzidos, ao ascender, alojam-se nas porções superiores da placa cavalgante, formando arcos magmáticos. Quando a subducção envolve duas placas oceânicas, formam-se os arcos de ilhas (ou arcos intraoceânicos). Quando a subducção se dá sob uma placa continental, formam-se os arcos cordilheiranos. Quando o processo de consumo da litosfera oceânica em subducção se completa, causando o fechamento da bacia oceânica, as massas siálicas adjacentes (continentes e/ou arcos de ilhas) entram em colisão. Com a progressiva estabilização tectônica da área (cratonização), as massas colididas se tornam amalgamadas em uma única placa litosférica, contribuindo para o crescimento continental. Na ilustração abaixo, são exemplificados vários casos de zonas de subducção atuais. Procure identificar, em um mapa com os limites entre as placas, cada uma delas. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 42 Seções esquemáticas exemplificando casos atuais de zonas de subducção (Dewey & Bird, 1970). COMPARTIMENTAÇÃO TECTÔNICA DE MARGENS CONVERGENTES a) Subducção intraoceânica: fossas abissais: constituem calhas alongadas e profundas (5000 a 8000 m) que marcam o local de deflexão da placa em subducção. São caracterizadas por fluxo térmico anomalamente baixo e preenchimento por sedimentos turbidíticos provenientes do arco. Dependendo da distância da fossa ao arco, material piroclásticas na forma de fluxos subaquáticos e/ou transportados pelo vento podem contribuir para a sedimentação. A partir da fossa, o traçado da placa em subducção pode ser determinado sismicamente através dos hipocentros que são rasos próximo à fossa, aumentando de profundidade em direção ao arco magmático. Exemplos desta zona sísmica, chamada de zona de Benioff, GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 43 mostram a diversidade de ângulos de mergulho da zona de subducção e largura do espaço arco-fossa: Seções verticais de distribuição de hipocentros (sismos entre 1954 e 1969) abaixo de sistemas arco- fossa. T= fossa; V= arco vulcânico recente. Note a relação entre o mergulho da zona de Benioff e a distância arco-fossa (Condie, 1989, pg. 147). prisma acrecionário: forma-se adjacente à fossa, pelo processo de “raspagem”, pela placa superior, de fragmentos da crosta oceânica (basaltos oceânicos e sedimentos pelágicos) em subducção e de sedimentos da fossa (turbiditos e material piroclástico do arco redepositado). A mistura tectônica destas rochas dá origem às melanges ofiolíticas. A construção do prisma se dá pela imbricação de escamas tectônicas em nível raso, onde as fatias de empurrão de idades mais jovens são colocadas na base do pacote, próximo da fossa. À medida em que o material é arrastado para níveis mais profundos ao longo da zona de benioff, entra no campo dúctil e é deformado por dobramento apertado e complexo, concomitantemente ao metamorfismo. O prisma acrecionário é caracterizado por fácies metamórficas de alta P/T (série de fácies prehnita-pumpeleíta, xisto azul, epidoto-anfibolito, eclogito). O anfibólio sódico associado a plagioclásio albítico são típicos. Outros minerais indicativos de gradientes de alta P são a lawsonita e jadeíta. Zonas metamórficas transicionais para fácies xisto verde e anfibolito ocorrem quando o material é arrancado da zona de subducção e volta para segmentos crustais superiores. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 44 Estruturas e processos em um prisma acrescionário idealizado: a) zona de acresção frontal por empurrões imbricados; b) zona de descolamento basal; c) estruturas de duplex; d) formação de melanges; e) falhas individuais cortando todo o prisma; f) material dúctil deformado, e verticalizado; g) espalhamento gravitacional; h) diápiro de sedimento, com escape de fluidos e água; i) transição dúctil-rúptil; j) embasamento definindo o limite do prisma acrescionário (Moore et al., 1985, in: Park, 1988, pg. 120). Bacia ante-arco: posicionada na placa superior, entre o arco e a fossa, constitui o sítio de sedimentação de material derivado do arco. Dependendo da morfologia da bacia, podem se suceder os ambientes ambientes fluvial, deltaico, plataformal (com influência de ondas e marés) e talude marinho profundo. Arco de ilhas: arcos magmáticos (de ilhas ou cordilheiranos) em margens convergentes são o ambiente tectônico propício à formação de magmas de composição intermediária a ácida, de afinidade cálcio-alcalina. Menores proporções de magmas básicos podem ocorrer no início da etapa convergente. Esta diversidade magmática é resultante da complexidade de ambientes e rochas fontes envolvidas em processos de fusão parcial em margens convergentes. Apesar de existirem inúmeros modelos relativos ao sítios, fonte e profundidade de geração magmática neste ambientes, é consenso que tanto o manto astenoférico sob a placa subductada, como a litosfera (incluindo sedimentos e principalmente fluidos na ZS) e astenosfera da placa subductada, além de contaminação crustal durante sua ascensão contribuem para geração e diversidade magmática em ambientes convergentes. Os arcos de ilhas, quando ainda imaturos, são submarinos, com predominância de toleítos de arco, na forma de basaltos almofadados e/ou hialoclastitos. Com a sua evolução, tornam-se subaéreos, formando cordilheiras alongadas. A sua erosão propicia o afloramento da infraestrurura plutônica. De uma forma geral, existe um zonemento espaço-temporal entre séries magmáticas nos ambientes compressivos: séries toleítica, cálcio-alcalina, (cálcio- alcalina de alto K), alcalina. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 45 Causa: combinação entre a fonte dos magmas e profundidade de fusão parcial. Magmas basálticos (manto astenosférico sobre a placa subductada, mistura de MORB e OIB), com aporte de fluidos e/ou porções fundida da crosta oceânica subductada podem contribuir com LILE, Sr radiogênico, U, LREE (Subduction zone component) caracterísicos de basaltos destes ambientes. Magmas mais ácidos: origem mais complexa, provavelmente por fracionamennto de plagioclásio,olivina, clinopiroxênio, ,ortopiroxênio, magnetita e anfibólio dos magmas basálticos, em diferentes níveis crustais, além de contaminação crustal (mais importante em arcos cordilheranos). Outra possibilidade seria que o manto metassomatizado por muitos fluidos resultantes de transformações metamórficas da litosfera oceânica subductada (fácies anfibolito, granulito, eclogito) seriam gerados por fusão parcial magmas mais ácidos. A estrutura térmica dos arcos magmáticos em geral, com alto fluxo térmico, resulta em zonas metamórficas de baixa P/T (série de fácies típica: xisto verde, anfibolito e granulito), sendo a andaluzita e a cordierita minerais diagnósticos. Sedimentos vulcanoclásticos (tufos, ignimbritos, lava etc.) com depósitos de piedmont e movimentos de massa, interestratificados a derrames vulcânicos podem se acumular em depressões dentro do arco (bacias intra-arco). bacia de retro-arco: a placa em subducção, interferindo na geometria da convecção astenosférica, pode originar regimes distensivos atrás do arco, pela ascenção de correntes quentes. Estasbacias geralmente têm assoalho oceânico em expansão, com dorsal ativa, podendo também conter fragmentos remanescentes do arco desmembrado pelo estiramento. As bacias retro-arco têm representantes típicos na região do oeste do Pacífico, entre o continente asiático e os arcos de ilha. Neste ambiente, sedimentos e depósitos piroclásticos provenientes do arco, e sedimentos terrígenos provenientes do continente podem se interdigitar, dependendo da largura da bacia. b) Subducção oceânica sob litosfera continental: GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 46 Os ambientes ante-arco (fossa, prisma acrescionário e bacia ante-arco) são semelhantes aos da subducção intraoceânica. As maiores diferenças residem nos ambientes arco e retro-arco. Arcos cordilheiranos: A complexidade magmática nos arcos cordilheiranos aumenta em relação à dos arcos de ilhas. O manto litosférico sob a crosta continental é naturalmente mais espesso (140/ 70-80 km), fértil e enriquecido em LILE. Além disso, a maior espessura da crosta continental possibilita efetiva contaminação. Bacias de antepaís (foreland basins): O empilhamento de escamas de empurrão no arco condiciona, pelo seu peso, a formação de uma flexura da litosfera. Esta depressão recebe sedimentos oriundos da erosão da frente alóctone, sendo eventualmente envolvidas no cavalgamento em suas porções proximais. Predominam ambientes fluvial e lacustre, com importante acumulação de leques aluviais. COLISÃO CONTINENTAL O consumo total da placa oceânica em subducção coloca em colisão as massas siálicas adjacentes, sejam continentes ou arcos de ilhas. Este processo causa importantes deformações, com espessamento crustal através de falhas de empurrão e dobramento, acompanhados de metamorfismo regional e magmatismo por refusão crustal, dando origem aos orógenos colisionais. Tipicamente, neste ambiente, todos os subambientes originalmente formados são cavalgados e interdigitados tectonicamente. Abaixo, dois exemplos de eventos colisionais: Colisão arco de ilhas-continente: com a colisão, instala-se uma nova zona de subducção em sentido contrário. Como resulatado, observa-se que o arco de ilhas é incorporado à margem contintental GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 47 (Dewey & Bird, 1970a) Colisão continente-continente (Ex. Alpes, Himalaias): (Dewey & Bird, 1970a) Nas áreas colisionais, a fusão parcial da litosfera continental espessada e aquecida gera magmas principalmente graníticos e granodioríticos, produtos da fusão crustal. Contribuições mantélicas e misturas magmáticas são comuns. Na transição para ambiente extensionais, devido ao relaxamento térmico, magmatismo bimodal é típico. Por vezes, magmas mantélicos mais profundos (ex. lamprórfiros) podem ocorrer. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 48 As estruturas típicas são falhas ou zonas de cisalhamento inversas variando para empurrões e nappes (deslocamento maior que 100 Km), com progressivo aumento no encurtamento crustal. Os esforços compressivos associados à colisão se transmitem às regiões continentais adjacentes, formando cinturões de cavalgamento e bacias interiores no antepaís, além de platôs elevados (ex. Platô do Tibet, com cotas acima de 5000 m). Grandes estruturas transcorrentes e falhas normais podem se formar a grandes distâncias da sutura colisional. Tais feições podem ser observadas em dois orógenos colisionais, que ainda se encontram em convergência atualmente: o cinturão alpino-himalaiano: Mapa tectônico simplificado do orógeno Alpino-himalaiano, com seções estruturais (dewey et al., 1986, in: Condie, 1989, pg. 197). GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 49 6- MARGENS DE PLACAS TRANSFORMANTES A tectônica transcorrente caracteriza-se por um campo de stress com os vetores 1 e 3 na horizontal, e 2 na vertical. O estilo de deformação principal é por cisalhamento simples (simple shear), embora possam ocorrer componentes de encurtamento ou distensão pelo mecanismo de cisalhamento puro (pure shear). A tectônica transcorrente é característica para limites conservativos entre placas, ou seja, ao longo das falhas transformantes, onde predomina a movimentação lateral (stike slip), e não existe consumo nem criação de litosfera com crosta oceânica. O regime de deformação transcorrente também ocorre associado a subducção oblíqua (transpressão) e espalhamento oblíquo (transtensão). Além das inúmeras falhas transformantes que conectam segmentos de dorsais oceânicas (figura a, abaixo), cumprindo o papel de margem de placa conservativa, existem cinco outros tipos de falhas transformantes que conectam cristas e/ou arcos vulcânicos: Os seis tipos possíveis de falhas transformantes (dextrógiras): a) crista-crista; b) crista-arco côncavo; c) crista- arco convexo; d) arco côncavo-arco côncavo; e) arco côncavo-arco convexo; f) arco convexo-arco convexo (Wilson, 1973, in: Windley, 1984, pg. 238). Em áreas emersas, alguns exemplos bem estudados de zonas transformantes podem ser citados, todos envolvendo grande complexidade estrutural: GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 50 -Falha Alpina (Nova Zelândia), conectando duas zonas de subducção; Origem da falha transformante (fossa- fossa), na Nova Zelândia (McKenzie & Morgan, 1969, in: Condie, 1989, pg. 144). -Falha de Santo André (no limite NE da placa Pacífica) Com a subducção quase total da paleo-placa de Farallon (1), a crista que a separa da placa do Pacífico colide com a placa americana (2), dividindo a placa de Farallon em duas, originando a falha de Santo André (Park, 1988, pg. 59). GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 51 -zona transcorrente de Anatolia (Turquia) -Owen Fracture conectando as placas arábica e indiana, zona de fratura dos Açores, conectando a dorsal meso-atlântica e a zona de subducção mediterrânea, -zona de fratura de Scotia,entre a zona de subducção chilena e o arco de scotia. Nas área continentais também são descritas importantes zonas transcorrentes, como por exemplo na Ásia, devido ao avanço diferencial da placa indiana contra a euro-asiática. Entretanto, não é tão claro se estas zonas de cisalhamento separam placas, ou seja, continuam em profundidade até a base da litosfera, ou se termimam em zonas de descolamento (detachment zones) no interior da litosfera. Tal como apontado por Reading (1980) e por diversos outros autores, o regime transcorrente também origina um tipo especial de faixa orogênica, com intensa atividade tectônica e sismicidade, importantes movimentos verticais com formação de bacias com rápida subsidência e alta taxa de sedimentação, e com reduzidos efeitos metamórficos e magmáticos, quando comparada com margens convergentes. CONVERGÊNCIA OBLÍQUA: TERRENOS SUSPEITOS E BLOCOS EXÓTICOS Na transpressão ou convergência oblíqua, podem ser originados terrenos exóticos que, ao colidirem à margem ativa, são incorporados ao continente, deslocando-se lateralmente por meio de falhas transcorrentes. Exemplos de terrenos exóticos incluem platôs oceânicos, terrenos acrescionários, margens continentais e arcos de ilhas, entre outros. Estes terrenos são, em princípio, referidos como terrenos suspeitos. Para sua definição, e classificação de blocos ou terrenos exóticos, énecessário provar que o deslocamento é da ordem de dezenas ou centenas de Km, não existindo identidade litológica ou paleontológica e, se possível, determinando-se seu deslocamento por métodos paleomagnéticos. Exemplos: Costa oeste Norte Americana: a faixa cordilheira norte-americana é composta em cerca de 70% de terrenos suspeitos, de provável origem alóctone durante o Cretáceo e Terciário, tendo sido identificados mais de 50. Seus limites são descontinuidades estruturais e/ou estratigráficas que nãopodem ser explicadas com base em distribuição normal de fácies ou de estilo estrutural. GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 52 Região entre as ilhas Novas Hébridas e Nova Guiné: resultantes da convergência oblíqua entre as placas pacífica e indo-australiana (Silver & Smith, 1983), ocorre colagem lateral de terrenos suspeitos, que viajaram por longas distâncias até sua posição atual. Padrão em mapa dos terrenos deslocados à margem das placas indo-australiana (esquerda) e americana (direita), causados por convergência oblíqua de placas (Silver & Smith, 1983, in Park, 1988, pg. 173). DIVERGÊNCIA OBLÍQUA: BACIAS DE PULL-APART Limites de placas podem apresentar zonas transformantes com importante componente tracional, sendo caracterizadas como zonas de transtensão. Neste cenário, formam-se as chamadas bacias de pull-apart, originadas pelo abatimento de seu assoalho pelo afastamento de suas bordas. Estas bacias apresentam formas romboédricas, sendo chamadas de rombográbens. Exemplo: GEOTECTÔNICA - ROTEIRO DE ESTUDOS - Métodos diretos e indiretos de investigação da Terra 53 -lineamento do mar Mar Morto: considerando-se que a placa da Arábia se afasta da Africana (Mar Vermelho) e vai de encontro à placa Euroasiática na faixa dobrada de Zagros, seu limite ocidental se dá pela movimentação lateral levógira em relação à microplaca do Sinai. MAGMATISMO O magmatismo e metamorfismo são subordinados em zonas transcorrentes puras. O magmatismo, entretanto, pode ocorrer associado a transpressão em zonas colisionais (p. ex. granitóides sin-D3 da Faixa Ribeira) e ao longo de zonas de transtensão (ex. magmatismo alcalino Meso-cenozóico do sudeste brasileiro).
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