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Gil Marcos – Psicologia – Políticas Públicas e Sociais no Brasil O campo social das políticas públicas e suas dimensões subjetivas Políticas sociais como espaço de formação de direitos Capitalismo: A. Classe social; B. Acumulação do capital; C. Estado mantendo ideologias; D. Liberalismo (definição do mercado, do lugar dos indivíduos e instituições, como o Estado). No meio disso temos as políticas públicas e sociais que se dão por meio da relação entre o Estado. Políticas sociais como espaço de formação de direitos origem • Não existe um período específico de surgimento das primeiras iniciativas de política sociais; • Como processo social se gestam na confluência dos movimentos de ascensão do capitalismo com a Revolução Industrial, das lutas de classes e do desenvolvimento da intervenção estatal. História das políticas sociais • No pré-capitalismo, não havia privilégio do mercado. As sociedades assumiram responsabilidades sociais, para manter a ordem e punir a vagabundagem. Portanto, uma abordagem caritativa e filantrópica, que são identificadas como protoformas de políticas sociais. Leis inglesas: • Lei dos pobres elisabetanas, que se sucederam entre 1531 e 1601; • Lei de Domicílio (Settlement Act), de 1662; • Lei Revisora das Leis dos Pobres, ou Nova Lei dos Pobres (Poor Law Amendment Act), de 1834. Estabeleciam um “código coercitivo do trabalho” e seu caráter era punitivo e repressivo e não protetor. Critérios restritivos e poucos conseguiam receber os benefícios. Ex.: marcar os mendigos com ferro em brasa para localizar os reincidentes. O liberalismo • Liberalismo: ideias de Adam Smith e David Ricardo; • Em meados dos sécs. XIX até a terceira década do séc. XX temos o predomínio dos liberalismos. • O funcionamento livre e ilimitado do mercado assegura o bem-estar. • Bem-estar: Depende de cada um (teoria do crescimento constante) • Liberalismo: ideias de Adam Smith e David Ricardo; Ideias centrais: A. Ética do trabalho (atividade edificante); B. Sociedade fundada no mérito de cada um em potenciar suas capacidades naturais; Gil Marcos – Psicologia – Políticas Públicas e Sociais no Brasil C. Lei do mercado: os salários não devem ser regulamentados, sob pena de interferir no processo natural do trabalho. Deve ser equilibrado pela oferta e procura no âmbito do mercado. D. individualismo: indivíduo como sujeito de direitos. E. O bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo; F. Liberdade e competitividade: o indivíduo tem autonomia para decidir o que é melhor para si. G. Estado mínimo: propriedade privada e o livre mercado; H. Políticas sociais estimulam o ócio e o desperdício, sendo um risco para o mercado competitivo. Origem da política social • Liberalismo feroz = “mão invisível do Estado” = aprofundamento da questão social; • Século XX: predomínio do ESTADO SOCIAL, principalmente pelas demandas da classe trabalhadora, transformando as reivindicações em leis (melhorias tímidas e parciais nas suas condições de vida); • Não houve ruptura radical entre Estado Liberal e Estado Social • O Estado abrandou seus princípios liberais e incorporou orientações social- democratas num novo contexto socioeconômico e de luta de classes. A grande crise do capitalismo • Enfraquecimento dos argumentos liberais. Motivos? o Crescimento do movimento operário (ocupando espaços públicos); o Monopolização do capital: reconhecer os limites do mercado se deixado à mercê dos seus supostos movimentos naturais (crise de 1929-1932/ Grande Depressão); A crise: recessão econômica nos Estados Unidos. Ocorreu devido a uma superprodução das indústrias norte-americanas, que antes exportava para Europa, mas esta, já se reestruturando dos efeitos devastadores da Primeira Guerra, não necessitava mais dos alimentos e produtos industrializados dos americanos. Temos: produção cresce, consumo diminui, a bolsa de valores quebra, as indústrias entram em falência, imperando a miséria e o desemprego. Origem da política social • Alemanha: introdução das políticas sociais orientadas pela lógica do seguro social (reconhecimento público de que a incapacidade para trabalhar devia-se a contingências – idade avançada, enfermidades, desemprego – que deviam ser protegidas) Welfare States • Nos anos que sucederam a crise, tomam força as IDEIAS KEYNESIANAS de um Estado interventor na vida econômica, com o objetivo de criar um regime de pleno emprego; • As políticas sociais começam a ganhar densidade e espaço como direito no âmbito do Estado; • Keynes: "O Estado torna-se produtor e regulador”. Gil Marcos – Psicologia – Políticas Públicas e Sociais no Brasil • Medidas: Política Salarial e controle de preços; pleno emprego (Promoção de Serviços Públicos e Privados); Maior Igualdade Social (serviços públicos as políticas sociais) • O Estado do Bem-Estar Social reside na proteção oferecida pelo governo na forma de padrões mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação e educação, assegurados a todos os cidadãos como um direito político, não como caridade. Esse modelo estatal seria a institucionalização dos direitos sociais. Neoliberalismo • Os neoliberais atribuem a crise ao poder excessivo dos sindicatos, com sua pressão sobre os salários e os gastos sociais do Estado, o que estimula a destruição dos níveis de lucro das empresas e a inflação; ou seja, a crise é um resultado do Keynesianismo e do Welfare State. • A fórmula neoliberal para sair da crise pode ser resumida em algumas proposições básicas: 1) Um Estado forte para romper o poder dos sindicatos e controlar a moeda; 2) Um Estado parco para os gastos sociais e regulamentações econômicas; 3) A busca da estabilidade monetária como meta suprema; 4) Uma forte disciplina orçamentária, diga-se, contenção dos gastos sociais; 5) Uma reforma fiscal, diminuindo os impostos sobre os rendimentos mais altos; 6) O desmonte dos direitos sociais, implicando na quebra da vinculação entre política social e esses direitos, que compunham o pacto político do período anterior. • Política social: residual que soluciona apenas o que não pode ser enfrentado pela via do mercado, da comunidade e da família; • O carro-chefe dessa proposição é a renda mínima, combinada à solidariedade por meio das organizações na sociedade civil. • E no Brasil? • Capitalismo se desenvolveu de forma diferente dos países do capitalismo central, ainda que mantendo suas características essenciais; • Colonização, Império e República: continuaram a subordinação e dependência ao mercado mundial. ➔ Uma sociedade e uma economia que se organizam para fora e vivem ao sabor das flutuações de interesse e mercados longínquos. • O Estado brasileiro nasceu sob o signo de forte ambiguidade entre um liberalismo formal com fundamento e o patrimonialismo como prática no sentido da garantia dos privilégios das classes dominantes. • As políticas sociais no Brasil, reflexo das conjunturas político-econômicas mundiais e de condicionantes da nossa formação social COLONIALISTA, ESCRAVISTA E CLIENTELISTA, produziu relações baseadas no interesse privado, no autoritarismo e na obediência e lealdade dos assistidos. Tais relações, por sua vez, condicionam a forma como se concebe e pratica a política social no país. • A escravidão, que negava a condição de ser humano ao escravo e o considerava como posse do seu senhor, a propriedade privada, que operava na lógica do Gil Marcos – Psicologia – Políticas Públicas e Sociais no Brasil “sistema de justiça interno” (COUTO, 2004), ajudam a compreender a constituição dos direitos civis, políticos e sociais, estes sempre baseados na ideologia do favor, da relação de dependência pessoal, impossibilitando o indivíduo de exercer sua liberdade e cidadania. Neoliberalismo no Brasil • Na AméricaLatina: final dos anos 80, mediada pelas características políticas e econômicas da região: o forte autoritarismo político e a pobreza; • No Brasil: chegada tardia do neoliberalismo, o que tem relação com a força do processo de redemocratização e questões político-econômicas internas (seguridade social na Constituição de 1988). Behring, 2003 Dimensões subjetivas • Aspectos subjetivos que são constituídos no processo social, e ao mesmo tempo constitui os fenômenos sociais. • Dimensão subjetiva: individualismo, defesa da liberdade, noção de público como espaço de convivência democrática das individualidades. • O indivíduo deve fazer uso da nova condição de estar livremente no mercado, para trabalhar e consumir. • A medida do BEM-ESTAR encontra-se nas preferências do indivíduo; sua felicidade teria base no consumo, de acordo com seus desejos, garantia a liberdade de escolha. • O critério para a avaliação do bem-estar é subjetivo, o indivíduo é considerado o melhor juiz para o seu bem-estar. • Mesmo quando se fala em bem-estar global, a referência são os indivíduos. • Capitalismo: Dupla condição ao indivíduo a) considerado um ser com desejos; b) um ser disciplinado para o trabalho - o Estado disciplina tal condição. • Desse período disciplinar temos as Ciências Humanas produzindo a NOÇÃO DE NORMALIDADE que servirão de referência para as políticas sociais. Ex.: educação treina os indivíduos, no trabalho o indivíduo certo para o lugar certo, consumo legitimado pela propaganda. • Direitos sociais em nível subjetivo: direito a ter direito, atendimento às necessidades do cidadão. • Na política social CONTRADIÇÃO “quanto mais se pensa o atendimento de necessidades como conserto de rota, como reparo a um desenvolvimento social distorcido, mais marcante será o caráter assistencialista. • Privatização das políticas sociais (direito e consumo). • No mundo das relações sociais fragilizadas dos vínculos (família, vizinhos, comunidade, instituições) pode produzir rupturas que conduzem ao isolamento social e à solidão (Wanderley, 1999). Fases Paugam (1999): a) Fragilidade: os indivíduos sentem-se humilhados por estarem desempregados, sentem-se deslocados “os outros notem seu fracasso”; rejeição a rede de assistência pois isso significa renúncia do status social; isolamento. Gil Marcos – Psicologia – Políticas Públicas e Sociais no Brasil b) Dependência: justificam a assistência recebida, embora essa situação gere insatisfação. c) Ruptura dos vínculos: sem esperanças de sair da situação, entram na dessocialização, onde os vínculos sociais são rompidos. Como tratar a dimensão subjetiva • Mediações: ideologias, subjetividade social. • Historicidade para compreender os fenômenos. • Empoderamento da participação popular sobre aspectos que envolvem a vida das pessoas.
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