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Confins Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia 37 | 2018 Número 37 Resenhas Uma nova edição do Atlas do Brasil, disparidades e dinâmicas Une nouvelle édition de l'Atlas do Brasil, disparités et dynamiques A new edition of Atlas do Brasil, disparities and dynamics EDUARDO PAULON GIRARDI https://doi.org/10.4000/confins.15921 Référence(s) : Théry, Hervé e de Mello-Théry, Neli Aparecida. Atlas do Brasil. Disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp. 3ª ed. 2018, 392p. Texte intégral Afficher l’image A terceira edição do Atlas do Brasil é uma leitura obrigatória para qualquer um que esteja dedicado em conhecer a fundo o Brasil. Escrito em uma linguagem clara e objetiva, trata-se de uma obra que deve ser utilizada por estudantes do ensino médio, universitários (professores, pesquisadores e alunos), políticos, jornalistas e outros que vislumbrem entender, escrever ou dizer algo sobre o Brasil. O Atlas do Brasil também é um material de referência capital para aqueles que querem produzir seus próprios mapas – a diversidade de representações é 1 http://journals.openedition.org/confins https://journals.openedition.org/confins/14911 https://doi.org/10.4000/confins.15921 https://journals.openedition.org/confins/15927 javascript:; https://journals.openedition.org/ As desigualdades sociais, aquelas que o mapa pode ressaltar, são o primeiro dos dois objetos principais deste livro. O segundo trata do dinamismo do país, que é bem evidente, já que há cinco séculos os portugueses e os brasileiros – depois da Independência – não param de deslocar fronteiras. (THÉRY; MELLO-THÉRY, 2018, p. 13). inspiradora para os amantes da Cartografia Geográfica. Sobre os objetivos do Altas, os autores escrevem: Compreender a dimensão territorial – especialmente as disparidades e dinâmicas – dos fenômenos é essencial para destruir mitos e visões simplificadoras sobre o Brasil, tão comuns nos dias de hoje, quando a maior parte da sociedade teve acesso a meios de comunicação em massa sem ter muito o que comunicar em diversidade e qualidade. Contra isso, é necessário que haja bases sólidas e críticas de informação e, neste quesito, o Atlas do Brasil desempenha um grande papel para explicar o país. 2 Escrito por um francês e uma brasileira, o atlas não permite nem o complexo de vira-latas e nem que Deus seja brasileiro. O diálogo entre a visão do estrangeiro e do nativo resulta em análises mais ponderadas – esclarece coisas quase incompreensíveis ao estrangeiro e abre os olhos do brasileiro para coisas que passam desapercebida, que tendemos a “naturalizar”. Essa é uma das principais contribuições para a ciência e para os pesquisadores quando são realizados projetos conjuntos entre países, tão incentivado pelas universidades, e muito bem representado no Altas do Brasil. Sobre os autores, ambos são Geógrafos, Hervé Théry é pesquisador emérito do CNRS-Creda e Neli Aparecida de Mello-Théry é professora da EACH-USP. 3 Os autores conhecem o Brasil como poucos e já realizaram trabalhos de campo para os mais diversos pontos do país, visitando os céus e os infernos que coexistem no território brasileiro, muito bem retratados no atlas. Por isso, as análises são baseadas também na experiência de campo dos autores, além da vasta diversidade de mapas produzida para o atlas. Trata-se de uma das mais importantes contribuições da Geografia para entender o Brasil. 4 A Cartografia do atlas, oriunda da forte e referencial tradição francesa na Cartografia Geográfica, traz um grande número de mapas inéditos sobre o Brasil, explicitando a questão central da Geografia desde sua gênese: a diferença entre os lugares. Continuando com tradição francesa, o Atlas é uma obra de Geografia Regional e utiliza também modelização gráfica, que é a proposta mais recente e influente na Geografia Regional francesa. 5 Com mais de 260 mapas (muitas figuras são pranchas com vários mapas), a obra de 390 páginas narra o Brasil através do texto e do mapa, duas linguagens intercomplementares no discurso geográfico. A abordagem cartográfica é uma das formas para analisar um problema, sendo a Geografia o seu berço para essa tarefa e a ciência na qual tem mais significado. O mapa é praticamente imprescindível para qualquer estudo geográfico. 6 Mapa e texto são, portanto, indissociáveis. Apoiando-se mutuamente, pois um revela configurações territoriais invisíveis na tabela estatística, ao passo que o outro promove a relação dessas configurações com os processos que lhe deram origem. Os processos sociais, seus atores e suas lógicas não aparecem no mapa, mesmo quando o determinam, mas geralmente têm um dimensão espacial que o mapa revela, uma vez que o controle do território frequentemente é um dos objetivos e uma das dimensões essenciais das relações sociais. (p.17) 7 Além dos mapas, a linguagem (carto)gráfica é utilizada no Atlas com os modelos (figura 01) que representam as estruturas elementares do território. Segundo os autores, essas estruturas não sofreram alterações desde a segunda edição: “nada é mais resiliente do que as estruturas fundamentais do território” (THÉRY; MELLO-THÉRY, 2018, p.14). Para a terceira edição foram identificadas duas novas estruturas elementares, que resultaram nos modelos do “filé” e das 8 FIGURA 01 – Estruturas fundamentais e sua combinação [no Atlas do Brasil – fig. 00-01 – p. 15] FIGURA 02 – Modelos complementares [no Atlas do Brasil – fig. 00-02 – p. 16] redes (figura 02). Em resumo, as estruturas elementares, representadas por modelos gráficos, são estruturas tão fortes e marcantes da organização territorial brasileira que podem ser encontradas e ajudar a explicar boa parte dos fenômenos analisados. Por isso, abaixo de todos os mapas do Atlas, os autores destacam quais modelos estão “ativos”, ou seja, aqueles que ajudam a explicar/entender, pelo menos em parte, o fenômeno mapeado. O Atlas do Brasil está dividido em dez capítulos: 1 – O Brasil e o mundo; 2 – Gênese e malhas do território; 3 – O meio ambiente e sua gestão; 4 – Dinâmicas populacionais; 5 – Dinâmicas do mundo rural; 6 – Dinâmicas industriais e 9 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-1-small580.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-2-small580.png Afirmar que o Brasil é um país emergente e é hoje uma significativa potência econômica, política e diplomática é apenas enunciar um fato evidente. [...]. De fato, tendo um lugar significativo na exportação de commodities (minérios, açúcar, café e soja), o Brasil tem ainda uma posição de destaque no ramo dos bens manufaturados, e seu parque industrial, o mais completo do hemisfério Sul, atingiu nível suficiente para competir com os maiores do planeta. [...]. Esse papel de potência emergente deve-se, em parte, a sua dimensão, pois o Brasil é, literalmente, um dos maiores países do mundo. Antes de entrar no detalhe de sua organização interna, é preciso avaliar primeiro o seu “peso” territorial, demográfico e econômico na escala mundial. [...]. (p. 19). [...] Classificações por grandes massas servem apenas para evidenciar ordem de grandeza. Se forem ponderadas, como no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), por indicadores de desenvolvimento social (saúde, educação etc.), o Brasil aparece em uma classificação menos favorável: 75a posição. Posição esta distante de outros grandes países, que aparecem entre os primeiros colocados no IDH: o Canadá, que, em um país com um território pouco maior e com 36 milhões de habitantes, produz perto de 90% do seu PIB, e a Austrália, que produz 70% do seu produto nacional bruto (PNB) com 11% de sua população. Em contrapartida, o Brasil situa-se acima da China e da Índia, que nesse quesito chegam apenas às posições 90a e 130a, respectivamente. (pp. 20-21). FIGURA 03 – Posições do Brasil no mundo terciárias; 7 – Dinâmicas urbanas; 8 – Redes; 9 – Disparidades e desigualdades; 10 – Ordenamentos do território;11 – O futuro já começou. O capítulo 1 – O Brasil e o mundo contextualiza o país no mundo e o compara com outros países a partir de diversos indicadores. Alguns desses indicadores - como superfície territorial, população e PIB - podem ser erroneamente considerados “banais” e são ignorados várias vezes em análises apressadas. Contudo, essas informações e sua contextualização relativa são basilares para entender o tamanho dos problemas, desafios e vantagens. Isso está muito bem ilustrado nos os mapas do início do capítulo [no Atlas – fig. 01-02 e 01-03, pp.21- 22], que, por exemplo, podem fazer o leitor a refletir sobre o fato de que construir e conservar rodovias que cruzam o Brasil equivale a fazê-lo em uma distância entre Lisboa e Vorkuta, no centro/norte da Rússia, ou então entre a Grécia e o extremo norte da Noruega. Daí surge um bom recado: deve-se tomar muito cuidado ao comparar o Brasil com outros países. Esse cuidado está claro na figura 03, que sintetiza vários elementos na comparação do Brasil com outros países com extensão parecida, e com a Europa. Outros temas analisados no capítulo 1 são energia, comércio internacional, redes de ligações com outros países, relações diplomáticas, fronteiras, universidades e o futebol... 10 [no Atlas do Brasil – fig. 01-04 – p .23] Dessa longa sucessão de ciclos, o Brasil saiu profundamente marcado em sua estrutura regional e seu estilo de desenvolvimento. Vestígios de ciclos são ainda bem visíveis no arquipélago brasileiro, pois o deslocamento do centro de gravidade deixou atrás dele três tipos de regiões: aquelas que são apenas ruínas de ciclos anteriores; algumas que puderam sobreviver a seu fim; e, por último, outras que acumulam atividades dinâmicas, recursos e poder. Os desequilíbrios regionais, tão evidentes no Brasil, são, em grande parte, produtos dessa história contrastada. (pp. 57-58). O capítulo 2 – Gênese e malhas do território examina a formação do território brasileiro desde o Tratado de Tordesilhas até a atualidade. A história desse processo é contada por meio de mapas que representam os ciclos econômicos, e o leitor consegue visualizar o território correspondente a cada um deles [no Atlas – fig. 02-01, 02-02, 02-03, 02-04, 02-05]. 11 No século XIX os mapas que sintetizam a situação das províncias, população das principais cidades e a população de pessoas escravizadas [no Atlas – fig. 02-06 e 02-07 – pp. 55-56]. Os autores criam modelos gráficos específicos para a gênese do território, indicando os principais processos e seus eixos e sentidos na formação territorial brasileira [no Atlas – fig. 02-08 – p.59]. Já no século XX são tratados os temas da evolução da população, divisão estadual e a integração do território, que vai do “arquipélago ao continente” (figura 04). Dentre os demais temas explorados no capítulo 2 estão a criação dos municípios, tamanho e nomes dos municípios e distância das capitais estaduais. 12 FIGURA 04 – Do arquipélago ao continente (anos 1890, 1940, 1990)13 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-3-small580.png [no Atlas do Brasil – fig. 02-10 – p. 61]. Por que um capítulo sobre o meio ambiente em um atlas que se esforça por integrar, tanto quanto possível, fatos da sociedade e da natureza? Anteriormente, teria sido normal consagrar um capítulo à parte do meio natural, distinguindo relevo, geologia, hidrografia, clima e vegetação, considerando-o, na melhor das hipóteses, um conjunto de recursos oferecidos à valorização econômica. A abordagem mudou, porque o tema dos recursos naturais e de sua gestão foi considerado e tem sido objeto de múltiplos debates. A problemática global do meio ambiente tomou progressiva importância ao longo do século XX, em virtude da exploração frequentemente excessiva dos recursos disponíveis, da evidente degradação de alguns deles, da poluição causada pelos desperdícios e pelo consumo crescente induzido pelos modelos das sociedades industrializadas. (p. 75). [...] Para medir os progressos feitos e os que permanecem por fazer, é necessário considerar a imensidão do país, o peso de suas estruturas, a diversidade de seus ecossistemas, entre outras características. Apenas com a observação desses O meio ambiente e sua gestão é o título do capítulo 3, que aborda os elementos naturais a partir da perspectiva ambiental: uso, degradação, conservação e gestão. Os aspectos básicos de hipsometria, geologia, climas, temperaturas, precipitações, secas no Nordeste, vegetação com atividade agropecuária e biomas são analisados ao lado das fontes de energia (hidráulica, gás, petróleo, carvão, madeira e novas energias), recursos minerais, antropização e queimadas. Sobre a gestão dos recursos são trabalhadas políticas públicas como a agenda 21, os diversos órgãos de gestão do meio ambiente nos municípios e as ações prioritárias para a conservação da biodiversidade. O mapa da figura 05 sintetiza os limites e ameaças ao meio ambiente, enfatizando as principais estruturas do tema no Brasil. 14 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-4-small580.png aspectos, os poderes públicos e a sociedade podem abordar a valorização dos recursos naturais (água, energia, minérios) e a ponderação dos problemas ambientais. (p. 76). FIGURA 05 – Limites e ameaças [no Atlas do Brasil – fig. 03-22 – p. 109] O capítulo 4 trata das Dinâmicas populacionais e explora diversos temas como evolução, urbanização, densidade demográfica, migrações, taxa de masculinidade, cor da pele, indígenas, religiões e deficiência. As dinâmicas populacionais são um tema que geralmente não recebe muita atenção por parecer demasiadamente “tradicional”. Entretanto, considerar a população e suas características é imprescindível em uma análise geográfica, já que é um dos principais elementos estruturantes das densidades do território. O capítulo mostra um Brasil em contínuo processo de urbanização e com profundas diferenças regionais. A faixa costeira de cerca de 500 quilômetros de largura que vai desde o nordeste do Pará até o Rio Grande do Sul concentra grande maioria da população brasileira (o modelo litoral/interior). Aí, ainda é concentrada nas capitais e regiões metropolitanas. 15 Um conjunto muito interessante de mapas é o das principais cores de pele (figura 06). Quando analisado junto com os mapas da figura 10 evidenciam a concentração da população de cor de pele branca nas regiões também mais ricas do país (sul de Minas Gerais, São Paulo e nos estados do Sul), enquanto a população de cor de pele preta e parda predomina nas regiões mais pobres, destacadamente no Norte e Nordeste. Ou seja, desigualdade social entre brancos e negros do Brasil, amplamente estudada e comprovada, tem sua dimensão territorial. Eis o tipo de análise geográfica que o Atlas encaminha: é necessário 16 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-5-small580.png Não deixa de ser verdade que há fortes disparidades e que algumas delas podem constituir ameaças para o amanhã: os comportamentos demográficos variam entre regiões e entre cidade e campo; a distribuição da população é especialmente muito contrastada. Sobretudo, a sociedade brasileira é compartimentada entre grupos favorecidos e desfavorecidos, o que faz dela uma das mais desiguais do mundo. Aqui são privilegiadas as mudanças, no tempo e no espaço, que essa população conheceu, vem como a análise das dinâmicas demográficas e dos fatores que as estruturam a cada período da formação social brasileira. Tais fatores são demográficos (natalidade, mortalidade), de qualidade de vida (resposta à demanda social), de migrações. Destaca-se um aspecto específico – e controvertido – da composição da população: a distinção entre as diferentes cores de pele reconhecidas pelas estatísticas oficiais, para relacioná-las com a distribuição, extremamente desigual, renda. [...] A população brasileira está desigualmente distribuída pelo território. Ainda existe uma nítida oposição entre as regiões litorâneas e interioranas, refletindoos efeitos do processo de colonização e de povoamento do território. As primeiras são densamente povoadas; as segundas têm ocupação rarefeita. Até mesmo as zonas de concentração são irregulares: aparecem grandes vazios em estados densamente povoados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, paraíba e Rio Grande do Norte. Apenas São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe e Alagoas têm seus territórios ocupados de forma relativamente equilibrada. (p. 117). FIGURA 06 – Principais cores de pele que sociedade e território sejam compreendidos em conjunto; trata-se, portanto, da análise do espaço geográfico. [no Atlas do Brasil – fig. 04-19 – p.140] O Brasil é um grande país agrícola, um dos primeiros produtores e exportados mundiais de uma vasta gama de produtos, como café, açúcar, soja, carne bovina, suco de laranja etc.; entretanto, o setor primário pesa cada vez menos em sua economia. A atividade rural, que engloba agricultura, pecuária e extrativismo, não tem mais a importância de outrora, mesmo ocupando a maior parte do território. O crescimento espetacular da indústria e dos serviços e o consequente inchaço O campo brasileiro é analisado no capítulo 5 – Dinâmicas do mundo rural, enfatizando a contradição entre um Brasil grande potência agrícola e a manutenção de uma estrutura agrária concentrada e intensa violência no campo. Explorar as estruturas presentes no campo brasileiro é elementar para entender o país, já que grande parte dos arranjos territoriais foram moldados inicialmente pela exploração agropecuária, que mesmo na atualidade permanece como importante atividade no deslocamento das fronteiras do país. O campo brasileiro é ainda mais desigual do que a cidade, sendo a falta de uma reforma agrária ampla um dos formuladores das desigualdades sociais resistentes, seja no campo ou na cidade. São explorados no capítulo: a participação da agropecuária no PIB, aptidão agrícola, usos da terra, as diversas produções no campo, a estrutura fundiária, estabelecimentos familiares e não familiares, trabalho escravo e violência contra pessoa no campo. 17 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-6-small580.png das cidades promoveram o esquecimento do que foi a principal base econômica do país e o modo de vida da maioria dos seus habitantes. Negligenciar o mundo rural seria um grave erro para quem quer conhecer e compreender o Brasil atual, porque foi o pilar do seu crescimento: os capitais que edificaram a indústria de São Paulo vieram do café, e os trabalhadores das fábricas chegaram direto das plantações ou dos campos nordestinos. [...]. [...] A potência e a flexibilidade do setor agropecuário não devem, no entanto, mascarar as tensões e as profundas desigualdades que ocorrem e dividem o mundo rural, porque elas também explicam em parte, o forte processo de mudanças e, muito provavelmente, vão continuar alterando a fisionomia das paisagens no futuro próximo. (p. 153). FIGURA 07 – Estabelecimentos agrícolas muito grandes e muito pequenos [no Atlas do Brasil – fig. 05-18 – p. 175] https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-7-small580.png O Brasil é hoje um grande país industrial e terciário, o primeiro do hemisfério sul e um dos primeiros do mundo para um conjunto de ramos industriais, como cimento, aço, automóveis, aeronáutica etc. Alguns de seus grupos econômicos (Vale, JBS, Embraer) alcançam classificações privilegiadas na escala mundial. (p. 190). [...] A concentração nas regiões Sudeste e Sul é tamanha que se torna necessário enfrentar o mais rápido possível, sob risco de bloqueio, certa reorganização. De fato, a hiperconcentração e as desigualdades geradas pelo sistema terminam por resultar em “deseconomias”, ou seja, em bloqueios. Parece que se assiste a um início de mudança, porque os inconvenientes da concentração começam a pesar mais que as vantagens. (p. 203). FIGURA 08 – Setores do valor adicionado No capítulo 6, onde são analisadas as Dinâmicas industriais e terciárias, fica mais evidente a desigualdade regional da economia brasileira. O primeiro conjunto de mapas é enfático quanto a concentração no centro-sul do país. Outro elemento revelador do conjunto de mapas é a participação da agropecuária no PIB. Mesmo sendo o Brasil uma potência agrícola com fortes investimentos do Estado no setor, a contribuição da agropecuária só tem grande destaque quando analisado o saldo da balança comercial, pois, em relação ao PIB interno do país, sua representatividade é muito pequena. O maior peso relativo da agropecuária no PIB está na região Sul e no cerrado. Como afirmam os autores “o Brasil é hoje um grande país industrial e terciário” (p.190). 18 No mesmo capítulo o PIB é analisado de diferentes formas: per capita, com mapas de anamorfose; em elevação 3D, no qual é relativizado por km2; sua evolução, a concentração territorial e a concentração por setores da economia. O número de pessoas assalariadas e o salário médio é outro indicador tomado na análise e, mais uma vez, demonstra a forte desigualdade de renda entre a população do Norte e Nordeste, com rendimentos mais baixos, e do Centro-Oeste, Sul e Sudeste, com rendimentos mais altos. O mapa de fabricações seleciona os elementos mais de ponta da indústria, deixando claro o forte peso do estado de São Paulo, seguido bem de longe por Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o Amazonas, especificamente Manaus. O mapa de informação e comunicação, finanças atividades científicas e técnicas demonstra configuração muito semelhante àquela do mapa de fabricações, mas com perda do peso de Manaus e aumento do peso relativo das capitais do Nordeste e de Brasília. Outros temas analisados no capítulo 6 são: setor automotivo, agências bancarias, depósitos bancários, comércio atacadista e varejista e turismo. 19 [no Atlas do Brasil – fig. 06-01 – p. 192] Para valorizar as principais dinâmicas urbanas atuais, privilegia-se deliberadamente, neste capítulo, certo número de fatores, de maneira a salientar as mudanças em curso. Essas transformações caracterizam-se simultaneamente por extraordinário crescimento quantitativo de cidades e municípios, pela estruturação das redes onde se inscrevem e por uma redistribuição espacial que atinge regiões até antão à margem da economia nacional, mal integradas ao processo de crescimento global do país. [...] A integração de regiões mais periféricas foi efetuada, principalmente, pela ação dos poderes públicos e em função dos interesses do centro-sul. As ações decorrentes dessas políticas serviram de alicerce à implantação e à consolidação de setores produtivos urbanos, com base nos quais a modernização rural era empreendida. Um dos aspectos mais significativos dessa transformação foi a mobilidade espacial, característica de um “país novo”. A urbanização, fortemente estimulada por esse sonho de mobilidade social e espacial foi, portanto, uma das principais vertentes da modernização do país. A formação de novos municípios esteve entre as principais características de incorporação das novas fronteiras agrícolas, onde foram particularmente intensas [...]. O resultado desse processo é a formação de um sistema de cidades, parcialmente macrocéfalo, com uma metrópole dominando todo o espaço [...]. Essas cidades são a fonte de dinâmicas urbanas e metropolitanas, marcadas por inovações tecnológicas, por serem nós de redes técnicas, pelas quais se inserem nos circuitos globais de produção e se articulam com o mundo. Além de O capítulo 7 – Dinâmica urbanas tem destacada relevância para entender as disparidades e dinâmicas do território, já que o Brasil é um país altamente urbanizado. Cito trechos introdutórios do capítulo que são enfáticos: 20 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-8-small580.png reestruturarem o espaço, concentram mais da metade do produto interno bruto (PIB) do país. (p. 222). FIGURA 08 – Área de influência teórica das metrópoles [no Atlas doBrasil – fig. 07-07 – p.232] Em um país tão vasto e diverso como o Brasil, que tem como um de seus principais problemas a integração de todo o território nacional, o papel das redes de transportes – de pessoas, mercadorias, energia e informação – e evidentemente fundamental. Desse ponto de vista, o Brasil é desfavorecido por seu tamanho e pela falta de boa infraestrutura. O custo logístico brasileiro é estimado em 12,8% do produto interno bruto (PIB), ao passo que nos Estados Unidos fica em torno de 8,2% e na Europa, em 9%, segundo dados da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Ao mesmo tempo, o país é favorecido por não ter obstáculos físicos insuperáveis, como outros países continentais, que poderiam impedir o desenvolvimento de suas redes. Não há grandes cordilheiras a cruzar, desertos com solo permanentemente congelado (permafrost), vulcões, inundações ou furacões que destruam periodicamente as vias de comunicação. Assim, os engenheiros O mapa da figura 08 é a imagem do sistema de cidades parcialmente macrocéfalo dominado pelas metrópoles. O capítulo continua com o mapeamento/análise do crescimento das capitais, regiões metropolitanas e regiões integradas de desenvolvimento, hierarquia urbana, centralidades, equipamentos culturais, tempo de transporte, domicílios adequados e inadequados, aglomerados subnormais, finanças municipais, despesas dos municípios, taxas municipais, eficiência dos municípios, plano diretor e funcionários municipais. 21 O capítulo 8 – Redes também é de suma importância para entender o Brasil, pois como os próprios autores salientaram – as redes formam uma estrutura elementar do território. 22 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-9-small580.png brasileiros não enfrentam preocupações semelhantes aos seus colegas norte- americanos, russos ou chineses. (p. 259). No entanto, a situação atual apresenta particularidades que, da perspectiva técnica e da economia dos transportes, são surpreendentes. Uma delas é a predominância absoluta de estradas. Cerca de 60% das cargas concentram-se no modal rodoviário, contra 25% que são transportados em ferrovias, 13% por navegação de cabotagem e 2% por vias aéreas e dutovias. Essa situação decorre de escolhas feitas no fim dos anos de 1950, quando dezoito das 22 companhias privadas de estradas de ferro foram nacionalizadas, em 1957, e o Estado iniciou uma “racionalização” que se traduziu em fechamento de linhas. Tudo foi feito para favorecer o desenvolvimento da indústria automotiva, sendo a construção de Brasília (DF) o ponto de partida para as grandes obras rodoviárias (p. 259). FIGURA 09 – Redes de transportes [no Atlas do Brasil – fig. 08-02 – p. 261] No capítulo foram exploradas as redes de transportes de mercadorias e pessoas e as redes de informações, tão importantes quanto. No capítulo 2 os autores já demonstraram que foi apenas na década de 1990 que houve a consolidação de uma integração nacional, permitindo que o país passasse do “arquipélago ao continente” (figura 04). A densidade das redes segue o mesmo padrão territorial da concentração das atividades econômicas e da população - na faixa costeira de cerca de 500 quilômetros e o centro-sul. Eis o tema em que o tamanho do território tem seu custo: o restante do território, embora com baixa produção econômica, precisa ser integrado com a expansão das redes, mesmo que menos densas. Adiciona-se a isso a opção pelo modal rodoviário em detrimento do ferroviário, que seria muito mais adequado para países continentais como o Brasil. 23 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-10-small580.png O Brasil é, claramente, um país de contrastes, para retomar uma expressão bastante gasta, mas que era nova quando Roger Bastide a escolheu para título de seu livro, em 1957. As diferenças são extremamente nítidas e as relações de subordinação tão fortes que se chegou a dizer que o Brasil, ao lado da União Soviética, era dos raros países do mundo a possuir colônias dentro de suas fronteiras. A União Soviética não existe mais desde 1991. Talvez a analogia seja exagerada, mas é verdade que as diferenças de desenvolvimento dentro do país são extremamente fortes, bem maiores que na Europa, na América do Norte ou em qualquer outro lugar da América Latina. [...] Para entender essas disparidades, a primeira chave é, evidentemente, o peso da história. [...] [...] O principal contraste que apareceu opõe um centro e uma periferia, o núcleo desenvolvido e o restante do país. Ora, as relações entre o centro e a periferia tendem, no mundo inteiro, a perpetuar-se e agravar-se, porque o centro beneficia- se da maior parte dos investimentos, porque é onde há melhor rentabilidade, graças a melhor qualidade da infraestrutura, qualificação da mão de obra, concentração de fornecedores e de clientes. Desenvolvendo-se mais rapidamente, reclama e obtém mais atenção dos poderes públicos, atrai os elementos mais dinâmicos das outras regiões, seus capitais e seus recursos de qualquer tipo. Instaura-se, então, uma série de mecanismos autoalimentados, sempre em benefício do centro, nesse caso, da região Sudeste, e em detrimento das outras regiões. As consequências geográficas desses mecanismos econômicos são muito importantes. As disparidades de índice de desenvolvimento mantêm-se, com efeitos significativos sobre a demografia, as formas das atividades rurais e urbanas. Assiste-se ainda a uma integração nacional em benefício do centro que, em vem de provocar uma diminuição dos desequilíbrios, reforça-os. (pp. 301- 302). Sobre as redes de transportes são mapeados: a rede multimodal da América do Sul, hidrovias, movimentos dos portos, ferrovias, rodovias, passageiros de ônibus, frotas, tráfego aéreo, custo de passagens. As demais redes abordadas foram energia, informação e telecomunicações. 24 O capítulo 9 – Disparidades e desigualdades aborda uma das principais características do Brasil e que, não por acaso, faz parte do subtítulo do atlas. Como quase todos os mapas mostraram até agora, o território brasileiro tem disparidades marcantes. A sociedade brasileira também é profundamente desigual. O que o Atlas do Brasil deixa muito claro com o exaustivo mapeamento é que as diferenças territoriais e sociais guardam estreita relação, formando assim um espaço geográfico marcadamente injusto. 25 Os mapas da figura 10 e 11 são a imagem territorial da concentração descrita na citação acima e dispensam comentários, a não ser para reforçar que a teoria de que o centro mantém a periferia – muito comum em análises rasas e no senso comum – não tem sustentação, como bem explica a citação e os mapas das duas figuras. São mapas simples, mas extremamente eficientes. Em cartografia, às vezes o simples é o melhor caminho. A questão é utilizar as técnicas corretas e selecionar, dentre os vários indicadores, aquele mais representativo para a questão em tela. 26 Ainda sobre os mapas da figura 10, a mesma concentração no centro-sul em oposição ao Norte e Nordeste será marcante na maior parte dos mapas do capítulo, que inclui também os seguintes temas: renda per capita e analfabetismo, rendimento médio, equipamentos nos domicílios, esperança de vida e mortalidade infantil, fecundidade e envelhecimento, número de médicos, Sistema Único de Saúde, Índice de Oportunidade da Educação Brasileira, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, homicídios e eleições municipais. 27 FIGURA 10 – Três níveis de renda [no Atlas do Brasil – fig. 09-01 – p. 303] FIGURA 11 – Investimentos do BNDES por setores (2013) https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-11-small580.png [no Atlas do Brasil – fig. 10-11 – p. 344] As dinâmicas demográficas – urbanas, rurais, agrícolas, industriais e terciárias – e as dinâmicas de fluxos e redes, observadas em capítulos precedentes, obviamente têm efeitos múltiplos e cruzados sobre o território e são consideradas, ou deveriam ser, no ordenamento do território. Em todocaso, são portadoras de visões e propostas, explícitas ou implícitas, para o arranjo do território e suas finalidades e necessidades que os distintos atores têm, como o Estado, as autarquias locais, as empresas, os cidadãos. Assim, o ordenamento emerge de como essas dinâmicas, espontâneas ou direcionadas, transformam-se nas formas de uso do território. (p. 326). O último capítulo (10) trata dos Ordenamentos do território e “tem como primeiro objetivo cruzar os mapas temáticos que resumem as dinâmicas de forma a produzir matrizes de conflitos e de compatibilidades” (p. 326). 28 No capítulo é apresentada a estrutura administrativa do território brasileiro e são analisados programas de gestão, o que inclui: subdivisões de planejamento e de governo, hierarquia administrativa, evolução das grandes regiões, novos estados e territórios propostos, programas de integração nacional e do Exército, regiões de planificação, fluxos de gestão, transferências dos estados para os municípios, transferências federais, receitas dos municípios, investimentos do BNDES (figura 11), investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento, territórios rurais e da cidadania, Programa de Aquisição de Alimentos, Bolsa Família, Programa Minha Casa, Minha Vida, Programa Mais Médicos, ensino superior, territórios legalmente protegidos, terras e populações indígenas, assentamentos rurais, ocupações de terra e motores do desenvolvimento. 29 O capítulo final (11) tem como título “O futuro já começou” e nele os autores elencam as importantes transformações e avanços conseguidos pelo Brasil desde meados da década de 1950, que justificariam a perda de validade da expressão “o Brasil é o país do futuro”. Ao mesmo tempo, reafirmam os problemas e desafios 30 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-12-small580.png Table des illustrations Titre FIGURA 01 – Estruturas fundamentais e sua combinação Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 00-01 – p. 15] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 1.png Fichier image/png, 143k Titre FIGURA 02 – Modelos complementares Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 00-02 – p. 16] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 2.png Fichier image/png, 177k Titre FIGURA 03 – Posições do Brasil no mundo Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 01-04 – p .23] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 3.png Fichier image/png, 230k Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 02-10 – p. 61]. URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 4.png Fichier image/png, 254k Titre FIGURA 05 – Limites e ameaças Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 03-22 – p. 109] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 5.png Fichier image/png, 272k Titre FIGURA 06 – Principais cores de pele Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 04-19 – p.140] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 6.png Fichier image/png, 404k Titre FIGURA 07 – Estabelecimentos agrícolas muito grandes e muito pequenos Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 05-18 – p. 175] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 7.png Fichier image/png, 279k Titre FIGURA 08 – Setores do valor adicionado Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 06-01 – p. 192] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 8.png Fichier image/png, 566k que permanecem, indicando que o país do futuro construído/possível não seja exatamente o que o uso da expressão faz sonhar, embora os “trunfos para o amanhã” ainda contribuam para manter vivo o sonho de um futuro melhor. Ao final da leitura do Atlas do Brasil, mesmo os geógrafos terão um novo ou então aprimorado olhar para o país. Não tenho dúvidas de que a obra deve estar entre os clássicos que contribuíram para o entendimento desse país continental, multicultural e com desigualdades socioterritoriais abismais. Trata-se de uma grande contribuição para a própria Geografia, pois deixa claro a sua importância para toda a sociedade. 31 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-1.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-2.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-3.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-4.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-5.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-6.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-7.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-8.png Titre FIGURA 08 – Área de influência teórica das metrópoles Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 07-07 – p.232] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 9.png Fichier image/png, 211k Titre FIGURA 09 – Redes de transportes Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 08-02 – p. 261] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 10.png Fichier image/png, 212k Titre FIGURA 10 – Três níveis de renda Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 09-01 – p. 303] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 11.png Fichier image/png, 325k Titre FIGURA 11 – Investimentos do BNDES por setores (2013) Crédits [no Atlas do Brasil – fig. 10-11 – p. 344] URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img- 12.png Fichier image/png, 431k Pour citer cet article Référence électronique Eduardo Paulon Girardi, « Uma nova edição do Atlas do Brasil, disparidades e dinâmicas », Confins [En ligne], 37 | 2018, mis en ligne le 06 octobre 2018, consulté le 14 janvier 2023. URL : http://journals.openedition.org/confins/15921 ; DOI : https://doi.org/10.4000/confins.15921 Auteur Eduardo Paulon Girardi Unesp – Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, Departamento de Geografia, eduardo.girardi@unesp.br Articles du même auteur Le Brésil, puissance agricole : dynamiques récentes, projections, contradictions et fragilités (2006-2029) [Texte intégral] Brasil potência agrícola: dinâmicas recentes, projeções, contradições e fragilidades (2006- 2029) Brazil, the agricultural powerhouse: recent dynamics, projections, contradictions and fragilities (2006-2029) Paru dans Confins, Traductions Brasil potência agrícola: dinâmicas recentes, projeções, contradições e fragilidades (2006- 2029) [Texte intégral] Le Brésil, puissance agricole : dynamiques récentes, projections, contradictions et fragilités (2006-2029) Brazil, the agricultural powerhouse: recent dynamics, projections, contradictions and fragilities (2006-2029) Paru dans Confins, 54 | 2022 A “expansão do agronegócio no Brasil”: um dossiê composto por olhares diversos [Texte intégral] « L’expansion de l'agro-industrie au Brésil»: un dossier composé de différentes perspectives The “expansion of agribusiness in Brazil”: a dossier composed of different perspectives Paru dans Confins, 45 | 2020 O Brasil em face aos conflitos e violências agrárias [Texte intégral] Le Brésil face aux conflits et violences agraires Brazil facing agrarian conflicts and violence Paru dans Confins, 501 | 2019 https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-9.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-10.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-11.png https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/15921/img-12.png https://journals.openedition.org/confins/5632 mailto:eduardo.girardi@unesp.br https://journals.openedition.org/confins/47090 https://journals.openedition.org/confins/45435 https://journals.openedition.org/confins/44608 https://journals.openedition.org/confins/44102 https://journals.openedition.org/confins/27871 https://journals.openedition.org/confins/27776 https://journals.openedition.org/confins/21168 https://journals.openedition.org/confins/20932 https://journals.openedition.org/confins/19517 Agronegócio sucroenergéticoe desenvolvimento no Brasil [Texte intégral] Agribusiness sucro-énergétique et developpement au Brésil Sugar-energy agribusiness and development in Brazil Paru dans Confins, 40 | 2019 Mato Grosso: expressão aguda da questão agrária brasileira [Texte intégral] Mato Grosso: expression aiguë de la question agraire brésilienne Mato Grosso: acute expression of the brazilian agrarian question Paru dans Confins, 27 | 2016 Tous les textes... 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