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DESCRIÇÃO Princípios, fundamentações e poderes da administração pública. Governança pública: fundamentos e distinção entre governança e governo. Controle e responsabilidade da administração pública. PROPÓSITO Compreender os conceitos fundamentais relacionados à estrutura da administração pública com base na Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988 e em suas emendas, assim como os principais pontos inerentes à dinâmica dela e o controle dos seus atos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir os fundamentos e os princípios da administração pública MÓDULO 2 Identificar a estrutura da administração pública no Brasil INTRODUÇÃO Neste tema, trataremos dos principais tópicos do estudo da administração pública. Fortemente interdisciplinar, esse estudo dialoga com os conhecimentos das áreas de Administração, Ciência Política e Direito. Apresentaremos a estrutura da administração pública, assim como os seus princípios descritos da Constituição Federal. Atualmente, as definições de governo e de governança ganharam novas dimensões; por isso, elas também são merecedoras de uma abordagem aprofundada. Em seguida, discutiremos o sistema do controle dos atos administrativos. É necessário observar que muitos dos pontos apresentados estão estruturados na Constituição Federal ou na legislação brasileira. Lembre-se ainda de que a administração pública e seus membros devem operar sempre na obediência dos princípios e das responsabilidades previstas em lei. MÓDULO 1 Definir os fundamentos e os princípios da administração pública OS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: A RELAÇÃO ENTRE ESTADO, GOVERNO E SOCIEDADE Para começarmos a discussão sobre a administração pública, precisamos, antes disso, fazer um exercício de reflexão acerca da nossa própria história. Num passado distante, vivíamos em pequenos grupos que sobreviviam à base da caça de animais e da coleta de frutas. Esse contexto do ser humano da pré-história ficou conhecido como “o estado de natureza”. Essa expressão deriva de ideias iluministas do século XVII presentes na obra de Thomas Hobbes. Esse estado remete à ideia de ausência de sociedade; nela, a violência é generalizada e existe um clima de todos contra todos. Ao longo do tempo, os seres humanos passaram a dominar técnicas de agricultura e já não precisavam se deslocar constantemente em busca de comida. Como consequência dessa maior disponibilidade de alimentos, foi possível haver a formação de comunidades com um número cada vez maior de pessoas. É nesse ponto da história que começam a surgir os primeiros dilemas que fazem parte da construção do que conhecemos como a administração pública. Podemos imaginar o seguinte exemplo para tal dilema: uma casa em que antes viviam três pessoas passa a ser habitada por 30. Qual seria a probabilidade de surgirem problemas de convivência? Resposta: provavelmente, ela seria muito grande. Isso não quer dizer que não haja soluções para evitar conflitos, como, por exemplo, a definição de regras, a organização de um orçamento doméstico ou a distribuição de tarefas coletivas entre os moradores. A administração pública lida com esse tipo de problemas da convivência humana. Mas ela o faz numa escala muito maior: num município, no estado ou num país. COMENTÁRIO O Brasil, por exemplo, tem mais de 200 milhões de habitantes. A administração pública, portanto, é uma autoridade que surge como resultado do esforço de organizar a vida em sociedade e disciplinar as relações entre as pessoas. MAS AINDA RESTA UMA DÚVIDA: COMO PODEMOS DEFINIR A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA? De forma resumida, ela, pontua Hood (2009), configura o desenho e a operação de projetos, serviços e organizações públicas. Em outras palavras, a administração pública lida tanto com a gestão de organizações governamentais quanto com a elaboração, o acompanhamento e a avaliação de políticas públicas. Podemos dizer também que ela trata da gestão da vontade geral. SAIBA MAIS O conceito de vontade geral remete à ideia da vontade de todas as pessoas, dos interesses de um povo como um todo. Ele tem origem no livro clássico O contrato social, escrito pelo filósofo Jean Jacques Rousseau. A teoria política por trás desse conceito estabelece que todos os cidadãos são iguais em direitos e que suas vozes devem ser ouvidas na gestão dos assuntos públicos. Os governantes eleitos, desse modo, precisam tomar decisões construídas sempre a partir da vontade geral, favorecendo, portanto, o “bem comum”. Nessa transição do “estado de natureza” para a organização do comportamento coletivo em sociedade, segundo a teoria política clássica, surge um acordo entre os indivíduos: o contrato social. Esse acordo é a base para a criação das instituições políticas de uma nação, o fim do estágio de todos contra todos e a pactuação das relações sociais. Esse momento é conhecido como a formação do Estado Nacional, do Estado-Nação ou simplesmente do Estado. CONCEITO DE ESTADO O conceito de Estado varia conforme o ponto de vista levado em consideração. Fonte: Shutterstock.com Pelo olhar do direito, o Estado enquanto instituição é uma organização política que tem como objetivo organizar e estruturar a sociedade. No entanto, isso acontece de forma mais intervencionista na maioria dos casos, havendo um emprego do poder de coerção (repressão, força e advertência) para fazer valer suas medidas organizacionais de caráter permanente. Fonte: Shutterstock.com Nos Estados modernos e democráticos, sua formação está vinculada a um Estado que se funda com uma Constituição. O texto constitucional é a lei máxima de um país; por isso, uma Constituição possui um caráter fundamental para todas as demais normas que formam o ordenamento jurídico (emendas constitucionais, leis, decretos, resoluções do senado e outras afins). Para que um Estado Constitucional exista, são necessários três elementos: Um povo a ser protegido pelo Estado; Um território, que é o espaço físico no qual o Estado exerce sua soberania (inclui o solo, o subsolo, as águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo definido e defendido); Soberania (nos seus dois aspectos). Fonte: Autor/Shutterstock Sob o aspecto interno, um Estado soberano é aquele que exerce poder político soberanamente em seu território. O termo “supremo” é dito no sentido de não se reconhecer outro poder juridicamente superior nem igual a ele dentro de um mesmo território. Já no âmbito internacional, a situação muda consideravelmente, porque não existe soberania nem Estado global. Cada país (Estado-Nação) deve receber tratamento igualitário diante de seus pares na comunidade internacional. A partir dessa ideia de igualdade entre Estados soberanos, surge, por exemplo, a imunidade diplomática garantida a embaixadas estrangeiras e seus funcionários. DISCRICIONARIEDADE É a liberdade de ação de um agente público dentro dos limites permitidos pela lei. Esse conceito será aprofundado no módulo 2 CONCEITO DE GOVERNO 1 O governo pode ser considerado um pilar transitório do Estado, ou seja, uma instituição temporária, embora ela seja essencial para administrar, controlar e tomar as melhores decisões. Trata-se do conjunto de órgãos que conduzem a política de um Estado, definindo suas diretrizes. Não se confunde com a administração pública em sentido estrito, pois ela tem a função de realizar concretamente as diretrizes traçadas pelo governo. Portanto, enquanto o governo age com ampla discricionariedade, a administração pública atua de modo subordinado. O governo é principalmente identificado pelo grupo político que está no comando de um Estado com três funções: executiva, legislativa e judiciária. Dentro da função executiva, ele se ocupa em gerir os interesses sociais e econômicos da sociedade e estabelece níveis maiores ou menores de intervenção. Por conta disso, também não pode ser confundido com o Poder Executivo, já que tal poder é composto pelo próprio governo, responsável pela direção política do Estado, epela administração pública, que funciona como um conjunto técnico e burocrático que auxilia o governo e faz funcionar a máquina pública. 2 3 javascript:void(0) Os governos são estruturados segundo o sistema e a forma adotados. Um sistema de governo é o modo como os poderes Executivo e Legislativo se relacionam. PLEBISCITO DE 1993 No plebiscito de 1993, os brasileiros foram consultados sobre qual deveria ser o sistema de governo no país: presidencialismo ou parlamentarismo. Além disso, foi decidido qual seria a forma de governo no país: monarquia ou república. TIPOS DE SISTEMAS DE GOVERNO Os tipos de governo são: Fonte: Shutterstock.com Presidencialista: O chefe de Estado também é chefe de governo e, portanto, da própria administração pública. Trata-se do sistema adotado no Brasil pela Constituição de 1988 e confirmado pelo plebiscito de 1993. O presidente é escolhido pelo voto (direto ou indireto) para um mandato predeterminado com duração fixa (em geral, de quatro ou cinco anos), havendo a possibilidade de reeleição em alguns países. Exemplos: Brasil e EUA. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Shutterstock.com Parlamentarista: A chefia de governo fica a cargo de um gabinete de ministros nomeados pelo Parlamento e liderados pelo primeiro-ministro, o qual, por sua vez, é indicado pelo partido ou pela coalização (conjunto de partidos) com o maior número de representantes na casa parlamentar. Ele pode ser removido pelo Parlamento a qualquer momento caso perca o apoio da maioria de seus membros (deputados). Exemplos: Reino Unido e Canadá. Fonte: Shutterstock.com Semipresidencialista: javascript:void(0) javascript:void(0) Também chamado de sistema híbrido, é aquele em que o presidente e o primeiro-ministro compartilham o Poder Executivo (chefia de Estado e de governo) e exercem em conjunto a liderança da administração pública. Exemplos: Portugal e França. AS FORMAS DE GOVERNO Uma forma de governo é o modelo institucional (regras) pelas quais o Estado exerce seu poder sobre a sociedade. Existem duas formas principais: República: regime em que o chefe de Estado é eleito. Sua permanência no cargo não é vitalícia (para a vida toda). Toda forma de poder de representação depende da vontade daqueles considerados eleitores. Exemplos: Brasil e Alemanha. Monarquia: o chefe de Estado é escolhido geralmente pelo critério hereditário (familiar). Sua permanência no cargo é vitalícia: o afastamento só pode ocorrer por morte ou abdicação (similar a uma renúncia). A monarquia pode ser absoluta, em que a chefia do governo também está nas mãos do monarca, ou parlamentarista, ficando essa chefia a cargo do primeiro-ministro. Exemplos: Reino Unido e Suécia. ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A administração pública presta serviços e exerce as demais atividades nas quais seja titular direta (como, por exemplo, União, estados, municípios e ministérios) ou indiretamente (autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas). No âmbito da organização dos serviços públicos, ela pode prestar os serviços de duas formas: EXECUÇÃO CENTRALIZADA EXECUÇÃO DESCENTRALIZADA EXECUÇÃO CENTRALIZADA O ente político titular de determinada atividade administrativa a executa diretamente por meio de seus órgãos e agentes. Trata-se da administração direta. Na execução centralizada, o Estado atua diretamente por meio dos seus órgãos, havendo apenas uma pessoa jurídica envolvida. No âmbito da centralização, o Estado distribui a prestação de serviços entre os seus órgãos e agentes (fenômeno conhecido como desconcentração). EXECUÇÃO DESCENTRALIZADA O Estado atua indiretamente, pois o faz por meio de outras pessoas jurídicas. É a Administração indireta. A descentralização pressupõe pessoas jurídicas diversas daquela que originariamente tem ou teria titulação sobre certa atividade, mas, por lei, recebe a atribuição para o desempenho das atividades em causa. Pode-se afirmar que a descentralização seja a transferência da execução da atividade para outros entes administrativos. Ela pode ocorrer para entes criados pelo próprio poder público (autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e consócios públicos) ou oriundos da iniciativa privada (concessionárias, permissionárias, parceiros público-privados etc.). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA Fonte: autor/shutterstock Nesta esfera, acomoda-se a prestação de serviços públicos diretamente ligados ao Estado e aos órgãos referentes ao poder central, quer seja ele federal, estadual ou municipal. A administração direta possui autonomia, uma vez que seus orçamentos são subordinados às esferas das quais fazem parte. A Presidência da República, os ministérios do governo federal e as secretarias dos estados compõem esse tipo de atuação. Pelo princípio da simetria e pelo que dispõe o artigo 37 da CRFB, aplica-se tal lógica a estados (governador e secretários) e municípios (prefeito e secretários). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA Fonte: Shutterstock.com Considera-se uma administração indireta o Estado que transmite a realização de determinadas funções para outras pessoas jurídicas que possuem autonomia administrativa e financeira – e não política. A administração aqui é descentralizada e está ligada à criação de entidades administrativas com personalidade jurídica. Algumas categorias têm personalidade jurídica própria: as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as fundações públicas. Exemplos: Banco do Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e o Banco Central. O Decreto-Lei nº 200/67 estabelece a seguinte organização: I - Autarquia - O serviço autônomo foi criado por lei com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios para executar atividades típicas da administração pública que requeiram, para seu melhor funcionamento, uma gestão II - Empresa pública - A entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criado por lei para a exploração de atividade econômica que o governo seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência administrativa, podendo administrativa e financeira descentralizada; revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito; III - Sociedade de economia mista - A entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou à entidade da administração indireta; IV - Fundação pública - A entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes. � Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal GOVERNANÇA PÚBLICA A governança pública no Brasil passou a ter um regramento legal a partir do Decreto nº 9.203, de 22 de novembro de 2017. Ele define a governança pública como um: “Conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade”. ATENÇÃO A importância desse conceito reside no fato de esse decreto passar a servir como um “manual” indicativo de um conjunto inicial de referências de boas práticas e da delimitação de objetivos que assegurem uma gestão da coisa pública alinhada aos interesses da coletividade. Nesse sentido, o foco da política está no papel do Poder Executivo, com a criação de um ambiente institucional mais favorávelà implementação dos interesses da sociedade. Efetivamente orientando a implementação da política de governança, esse conceito mais objetivo permite a fixação de duas premissas importantes: PREMISSA 1 A política é voltada para as instituições públicas federais e suas ações; PREMISSA 2 Cada órgão e cada entidade já possui um modelo próprio de governança pública. Fonte: BRASIL, 2018. Na estrutura da administração pública, são exemplos disso os órgãos da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, assim como os comitês internos de governança, conforme dispõe o Decreto nº 9.203. Apesar da vinculação da política ao âmbito da administração federal, o decreto compreendido como um guia pode ser útil aos demais órgãos dos diversos poderes e aos entes federativos menores (estados- membros e municípios). Como mecanismos do exercício da governança pública, podem ser citados: ETAPA 01 ETAPA 02 ETAPA 03 LIDERANÇA Entende-se por liderança o conjunto de práticas de natureza humana ou comportamental exercido nos principais cargos das organizações a fim de assegurar a existência das condições mínimas para o javascript:void(0) javascript:void(0) exercício da boa governança. ESTRATÉGIA No contexto da governança pública, a estratégia será a definição de diretrizes, objetivos, planos e ações, além de critérios de priorização e de alinhamento entre as organizações e as partes interessadas, para que os serviços e os produtos de responsabilidade da organização alcancem o resultado pretendido. CONTROLE Por fim, o controle compreende os processos estruturados para mitigar os possíveis riscos com vistas ao alcance dos objetivos institucionais que garantam a execução eficiente e eficaz das atividades da organização, havendo uma preservação da legalidade e da economicidade no dispêndio de recursos públicos. Fonte: BRASIL, 2017. Com frequência, as instituições públicas realizam medidas voltadas ao aprimoramento de sua governança. Desse modo, aprimorar a governança é, em outros termos, melhorar a instituição para melhor atender ao interesse público, criando um ambiente institucional capaz de gerar e entregar resultados eficientes. Um modelo de governança também envolve: Fixação de formas de acompanhamento de resultados. Busca de soluções para a melhoria do desempenho das organizações. Instrumentos utilizados na promoção do processo decisório baseado em evidências. O acompanhamento dos resultados, por ser um processo de revisão de procedimentos de um ciclo de ações, engloba as ações de avaliação de política pública e reformulação de objetivos e diretrizes, assim como de reestruturação organizacional e reorganização de procedimentos de atendimento. Isso é feito em cada ato praticado com o objetivo de melhorar a organização pública e torná-la mais capaz de atingir sua missão institucional. (Fonte: BRASIL, 2017.) ATENÇÃO Uma política de governança serve para que a administração pública construa os patamares mínimos de governança, visando às soluções para a melhoria do desempenho das ações, bem como a fixação dos processos de acompanhamento de resultados e de instrumentos de promoção do processo decisório baseado em evidências. OS PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA PÚBLICA O artigo 3º do Decreto nº 9.203, de 2017, apresenta os princípios de governança cuja função primordial é a de servir como um elemento de conexão entre a legislação e a atuação dos agentes públicos. São eles: Princípios de governança Capacidade de resposta Integridade Confiabilidade Melhoria regulatória Prestação de contas e responsabilidade Transparência � Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal DISTINÇÃO ENTRE GOVERNANÇA E GOVERNO GOVERNANÇA 1 Pode-se dizer que um conceito amplo de governança seja um conjunto de regras, estratégias e ferramentas de controle que contribui diretamente para o bom andamento de uma gestão. Nessa direção, a governança é expressa em leis e/ou normas ou regulamentos que definem as políticas de atuação aceitas pelas organizações (públicas ou privadas). A origem da expressão que nos é mais próxima vem do francês governance . Como explica Diniz (1995), ela surge de reflexões conduzidas principalmente pelo Banco Mundial (1992 apud DINIZ, 1995), “tendo em vista aprofundar o conhecimento das condições que garantem um Estado eficiente”. 2 3 Ainda segundo Diniz (1995), “tal preocupação deslocou o foco da atenção das implicações estritamente econômicas da ação estatal para uma visão mais abrangente, envolvendo as dimensões sociais e políticas da gestão pública”. A capacidade governativa não seria avaliada apenas pelos resultados das políticas governamentais, e sim pela maneira que o governo exerce o seu poder. Em seu documento Governance and development , o Banco Mundial (1992 apud DINIZ, 1995, p. 400) estabelece a definição geral de governança como “o exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo”. 4 5 Diniz (1995, p. 400) é ainda mais preciso ao falar de governança: ela, na verdade, configura a “maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país, visando ao desenvolvimento”. A governança ainda implica “a capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e cumprir funções”. Como destaca Rosenau (2000, p. 15), “governança não é o mesmo que governo”. GOVERNO SUGERE ATIVIDADES SUSTENTADAS POR UMA AUTORIDADE FORMAL, PELO PODER DE POLÍCIA, QUE GARANTE A IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS DEVIDAMENTE INSTITUÍDAS, ENQUANTO GOVERNANÇA REFERE-SE A ATIVIDADES APOIADAS EM OBJETIVOS COMUNS, QUE PODEM OU NÃO DERIVAR DE RESPONSABILIDADES LEGAIS E FORMALMENTE PRESCRITAS, E NÃO DEPENDEM NECESSARIAMENTE, DO PODER DE POLÍCIA PARA QUE SEJAM ACEITAS E VENÇAM RESISTÊNCIAS. ROSENAU, 2000. GOVERNO Como discutimos anteriormente, pode-se apontar o governo como o terceiro elemento que, ao lado do território e do povo, forma um Estado. Ele representa a delegação da soberania nacional, ou seja, é a própria soberania posta em ação, sendo um atributo indispensável da personalidade abstrata do Estado. Sob o ângulo da Constituição e das leis, um governo constitui o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública. OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL Conheceremos os cinco princípios norteadores da administração pública. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTÁ CORRETO AFIRMAR QUE A DEFINIÇÃO DE GOVERNO É: A) A execução permanente das funções administrativas de um Estado. B) A relação de poder de um rei ou de uma rainha perante seus súditos. C) O pacto social que organiza as relações humanas da vida em sociedade. D) O sistema em que o presidente e o primeiro-ministro compartilham o Poder Executivo. E) O conjunto de órgãos que conduzem, de forma temporária, a política de um Estado. 2. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA COMPREENDE AS SEGUINTES CATEGORIAS DE ENTIDADES DOTADAS DE PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA: A) Fundações públicas e autarquias e fundações privadas. B) A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. C) A União, as sociedades de economia mista, as autarquias e as fundações privadas. D) As autarquias, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as fundações públicas. E) Estados, municípios e sociedades de economia mista. GABARITO 1. Está correto afirmar que a definição de governo é: A alternativa "E " está correta. Muitas vezes, identificamos o governo como o grupo político no comando de um Estado. O Estado tem caráter permanente, englobando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O governo, dentro da função executiva, faz a gestão temporária dos interesses sociais e econômicos de uma sociedade. 2. A administração pública indireta compreende as seguintes categorias de entidades dotadas de personalidade jurídica própria: A alternativa "D " está correta. Dentro do que se entende por administração pública indireta, existem algumas categoriascom personalidade jurídica própria: autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mistas e fundações públicas. MÓDULO 2 Identificar a estrutura da administração pública no Brasil CONSIDERAÇÕES INICIAIS E CONCEITO O Estado disciplina as relações sociais, provendo segurança aos indivíduos, preservando a ordem pública e praticando atividades que tragam benefícios à sociedade. Esses objetivos são atingidos por meio de prerrogativas peculiares conferidas aos agentes administrativos, sem as quais tais finalidades jamais seriam atingidas. Essas prerrogativas constituem os poderes administrativos a serem analisados neste módulo. Fonte: Autor/Shutterstock O poder administrativo representa uma prerrogativa especial do direito público outorgada aos agentes do Estado. Tendo em vista que as funções que consolidam os poderes administrativos são cometidas aos agentes por lei, devem eles exercê-las dentro dos limites fixados. Por isso, os citados poderes serão utilizados de forma normal. Fonte: Autor/Shutterstock Os poderes administrativos têm sua atuação voltada para os interesses da coletividade, sendo irrenunciáveis e devendo ser obrigatoriamente exercidos pelo titular. Vale dizer que não são apenas poderes, mas também deveres. Eles configuram um poder-dever, sendo um poder, portanto, com aspecto dúplice. Sobre o assunto, ensina Hely Lopes Meirelles (1996): “Se, para o particular, o poder de agir é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar desde que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da comunidade”. Pode-se afirmar que os poderes da administração são de natureza instrumental, isto é, surgem amparados pela lei para que o Estado possa fazer valer o interesse público da coletividade. Numa conduta contrária, quando o administrador se utiliza de um desses poderes em desconformidade com a lei, caracteriza-se o que chamado abuso de poder. Trata-se de uma conduta ilegítima do administrador quando ele atua fora dos objetivos expressa ou implicitamente traçados na lei. Por essa razão, o uso do poder deve ser feito com muito cuidado e nos exatos limites que a lei traça sob pena de se tornar ilegítimo e, em última instância, inconstitucional, indo de encontro à sua finalidade, que é justamente o interesse público. O abuso de poder anteriormente descrito pode configurar excesso e/ou desvio de poder. autor/shutterstock Após essas considerações iniciais, é possível dizer que, num primeiro momento, não é errado afirmar que, juntos, os poderes administrativos formam o conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para permitir que o Estado alcance seus fins. autor/shutterstock Outra forma de se argumentar pode atestar que as prerrogativas concedidas à administração pública pelos poderes administrativos gerariam a premissa de que todo poder corresponde a um dever. Dessa maneira, sob pena de omissão ilícita, a administração não só pode como também deve atuar em nome do interesse público. Nesse sentido, a doutrina costuma conceituar os poderes da administração como poderes-deveres instrumentais. Eles não constituem poderes em si, sendo, na verdade, instrumentos pelos quais o Estado busca o interesse público. Só existem, portanto, enquanto instrumento na busca do interesse público. Baseando-se nas atividades exercidas pelo Estado de forma concreta e imediata, Alexandre de Moraes (2008) ensina que, para a consecução dos interesses coletivos, a administração pública precisa sobrepor a vontade da lei à particular dos administrados. Desse modo, ela deve privilegiar o interesse público em detrimento do individual. CONTROLE E RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTROLE ADMINISTRATIVO O controle dos atos administrativos do Estado pode ser exercido sob três óticas distintas: controle administrativo interno, controle administrativo externo (também denominado controle político) e controle social. De acordo com Meirelles (1996), controle é a faculdade de vigilância, orientação e correção que um poder, órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional de outro. De uma forma ampla, pode-se afirmar que os meios de controle dos atos da administração pública são instrumentos previstos pelo ordenamento jurídico para que tanto a própria administração como os demais poderes e a sociedade civil possam exercer a fiscalização, a orientação e a revisão das atividades administrativas dos órgãos, entidades e agentes públicos. Cabe sempre lembrar que, em todos os poderes, há o exercício de atos de natureza administrativa. Fonte: Autor/Shutterstock MODALIDADES DE CONTROLE ADMINISTRATIVO Listaremos a seguir as modalidades de controle administrativo: CONTROLE INTERNO Em uma abordagem ampla, ela visa a assegurar a legalidade, a legitimidade e a economicidade das atividades administrativas desenvolvidas por todos os poderes. Trata-se, em suma, da fiscalização que incide sobre as atividades desenvolvidas pela administração pública. Assim, pelo princípio da legalidade, a lei sempre fundamentará a atividade da administração pública no resguardo do interesse público. 1 Nesse contexto, em um primeiro momento, os atos administrativos estão sujeitos a um controle interno exercido pela própria administração pública. Ela exerce neste caso o poder-dever de vigilância, orientação e correção dos próprios atos, fazendo isso diretamente ou por meio de órgãos especializados na hierarquia e na estrutura pública. Um controle administrativo eficiente possibilita a verificação da legitimidade dos atos e da conduta funcional dos agentes públicos. Com isso, o controle interno decorre do poder de autotutela que permite à administração pública rever os próprios atos quando eles são ilegais, inoportunos ou inconvenientes, tendo como pontos fulcrais os princípios da legalidade e a supremacia do interesse público, da eficiência e da economicidade. A administração pública deve anular seus atos ilegais, podendo revogá-los se eles forem inconvenientes ou inoportunos. Neste caso, não se trata de ilegalidade, e sim de mérito administrativo. Vale dizer que a continuidade do ato administrativo deixa de ser interessante por não mais ser conveniente e/ou oportuno. 2 3 Em outras palavras, o controle interno é exercido pelo próprio Poder Executivo na fiscalização de seus atos administrativos, enquanto o externo é executado pelos poderes Legislativo e Judiciário ou pela sociedade. Tanto o controle externo quanto o interno podem ser exercidos por iniciativa própria ou mediante uma provocação. CONTROLE EXTERNO Ele é exercido por um poder sobre os atos administrativos de outro. Muitos doutrinadores também o chamam de controle político. Ele tem por base a necessidade de equilíbrio entre os poderes da república. Esse controle possui uma base firmada no sistema de freios e contrapesos, inibindo, assim, o crescimento de qualquer um deles em detrimento de outro. O controle de um poder sobre o outro, conforme estabelece a Constituição, funciona na prática da seguinte maneira: 1 Poder Executivo controla o Legislativo - poder de veto; Poder Legislativo controla o Executivo - rejeição ao veto; 2 3 Poder Judiciário controla os demais - controle de legalidade e constitucionalidade dos atos e leis; Poder Executivo controla o Judiciário - nomeação dos ministros; 4 5 Poder Legislativo controla os demais - controle financeiro e orçamentário. RESUMINDO Esse controle externo também é político, pois é exercido pelo Poder Legislativo e auxiliado pelo Tribunal de Contas com o objetivo de verificar a probidade da administração, a guarda e o legal emprego do dinheiro público, assim como o cumprimento da lei. Nesse controle, visualiza-se a prerrogativa atribuída ao Poder Legislativo de fiscalizar a administração pública sob critérios políticos e financeiros. Por conta disso, o controle legislativo é exercido pelos órgãos legislativos em todos os níveis da federação (Congresso Nacional,Assembleias Legislativas e Câmara de Vereadores) ou por comissões parlamentares sobre determinados atos do Executivo na dupla linha legalidade e conveniência pública, caracterizando, desse modo, um controle eminentemente político. MODALIDADES DE FISCALIZAÇÃO ORÇAMENTÁRIA Compreenderemos neste vídeo as quatro modalidades de fiscalização orçamentária e financeira de maneira detalhada. Fonte: Shutterstock.com MOMENTO DA ATUAÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS Toda a atuação dos Tribunais de Contas deve ser a posteriori, não tendo apoio constitucional qualquer controle prévio sobre atos ou contratos da administração direta ou indireta nem sobre a conduta dos particulares que estejam na gestão ou na administração de bens ou valores públicos. As exceções são as inspeções in loco, as quais, aliás, podem ser realizadas a qualquer tempo. Em razão disso, a doutrina estipula que as atividades dos Tribunais de Contas do Brasil são expressas fundamentalmente em funções técnicas opinativas, verificadoras, de assessoramento e jurisdicionais administrativas. Elas são desempenhadas simetricamente tanto pelo TCU como pelos Tribunais de Contas dos estados-membros e municípios que os tiverem. CONTROLE POPULAR Ele é exercido pelo povo. De início, esse controle pode ser identificado em alguns artigos da Constituição Federal. Ao longo dos anos, outros mecanismos foram criados por lei com o propósito de fortalecer a participação e o controle sobre atos administrativos. No âmbito do controle das contas, a participação social se faz com base no parágrafo segundo do artigo 74: § 2º QUALQUER CIDADÃO, PARTIDO POLÍTICO, ASSOCIAÇÃO OU SINDICATO É PARTE LEGÍTIMA PARA, NA FORMA DA LEI, DENUNCIAR IRREGULARIDADES OU ILEGALIDADES PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. BRASIL, 1988. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA A responsabilidade civil do Estado é primeiramente uma obrigação extracontratual dele em indenizar os danos patrimoniais ou morais que seus agentes, atuando em seu nome, causem a particulares. Com a evolução dos atos do Estado, em especial na seara econômica, evidenciou-se a insuficiência do conceito de culpa como fundamento do direito à reparação. Para suprir essa lacuna, foi desenvolvido o conceito de risco. Surge então a teoria do risco-proveito ou risco-benefício. Com ela, o cidadão se beneficia com o exercício de determinada atividade advinda do aparato administrativo. Esse aparato deve suportar os danos dela decorrentes independentemente de o agente público ter agido com culpa ou dolo. Extrai-se daí a ideia de responsabilidade objetiva, não sendo necessário provar dolo ou culpa. A responsabilidade objetiva, portanto, tem como base o risco administrativo. Esse risco ainda é o principal fundamento da responsabilidade estatal. Por isso, o nexo de causalidade e o dano são suficientes à configuração da responsabilidade do Estado. MODALIDADES DO PODER ADMINISTRATIVO As modalidades de poder inerentes à administração pública as seguintes: poder vinculado, discricionário, regulamentar, hierárquico, disciplinar e de polícia. Veremos cada uma dessas modalidades de forma aprofundada. PODER VINCULADO É o poder que tem a administração pública de praticar certos atos "sem qualquer margem de liberdade". A lei prescreve com detalhes se, quando e como ela deve agir, determinando os elementos e os requisitos necessários. Exemplo: a prática de ato (portaria) de aposentadoria de servidor público. PODER DISCRICIONÁRIO A administração pública pratica determinados atos administrativos com certa liberalidade. A fonte da discricionariedade é sempre a lei. Quando o administrador público pratica um ato administrativo discricionário, ele o faz em razão de uma escolha possível com base na conveniência, na oportunidade e no conteúdo. Trata-se do mérito administrativo. A discricionariedade, assim, é a liberdade de escolha dentro de limites permitidos em lei, não devendo ser confundido com arbitrariedade, que é a ação contrária ou excedente da lei. A natureza jurídica da discricionariedade é o poder-dever da administração pública, enquanto o mérito é o resultado desse exercício regular da discricionariedade. Como bem sintetiza Flavia Martins André da Silva (2006): MÉRITO É COMPOSTO DE DOIS ELEMENTOS: O MOTIVO (OPORTUNIDADE), QUE É O PRESSUPOSTO DE FATO OU DE DIREITO, QUE POSSIBILITA OU DETERMINA O ATO ADMINISTRATIVO; E O OBJETO (CONVENIÊNCIA), QUE É A ALTERAÇÃO JURÍDICA QUE SE PRETENDE INTRODUZIR NAS SITUAÇÕES E RELAÇÕES SUJEITA À ATIVIDADE ADMINISTRATIVA DO ESTADO. A OPORTUNIDADE E A CONVENIÊNCIA TÊM A FUNÇÃO DE INTEGRAR OS ELEMENTOS MOTIVOS E OBJETIVO DENTRO DOS LIMITES DO MÉRITO. Silva, 2006. PODER REGULAMENTAR OU NORMATIVO A administração pública pode expedir atos normativos oriundos do Poder Executivo. Este tipo de poder também é chamado de poder normativo. São atos normativos os regulamentos, as instruções, as portarias, as resoluções, os regimentos etc. Eles dependem de lei anterior para serem editados. Logo, o poder normativo é derivado de uma lei, do ato normativo originário, visando sempre a completar ou a regulamentar uma lei, e o faz por meio de decreto ou de regulamento. PODER HIERÁRQUICO A hierarquia existe no âmbito das atividades administrativas e compreende a prerrogativa de certas faculdades implícitas ao superior hierárquico dos órgãos e das repartições públicas que moldam a estrutura do serviço público. As prerrogativas podem ter a seguinte natureza: dirigir, coordenar, orientar, controlar, ordenar e corrigir as atividades administrativas dos agentes no seu âmbito interno. Dar ordens e fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar atribuições ou rever atos dos inferiores também está presente no contexto do poder hierárquico. Segundo Meirelles (1996), “poder hierárquico é o de que dispõe o Executivo para distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores de seu quadro de pessoal”. PODER DISCIPLINAR É o poder atribuído à administração pública para aplicar sanções administrativas aos seus agentes pela prática de infrações de caráter funcional. Ele abrange somente as sanções administrativas previstas em lei. As de natureza civil e criminal – as quais, a depender do caso, também são aplicadas – estão fora no espectro do poder regulamentar. De certa forma, este tipo de poder está relacionado ao hierárquico, pois as atribuições do poder regulamentar estão conectadas à autoridade dos superiores hierárquicos da estrutura interna da administração pública. É importante salientar que, na aplicação de uma sanção administrativa correta, sempre devem estar assegurados o contraditório e a ampla defesa, além de expressamente se indicar a quantificação da sanção. O poder disciplinar abrange somente sanções administrativas, como, por exemplo, advertência, multa, suspensão e demissão. PODER DE POLÍCIA É o poder que a administração tem de restringir tanto o exercício de liberdades individuais quanto o uso, o gozo e a disposição da propriedade privada, sempre na busca da supremacia do interesse público sobre o privado aplicado no caso concreto. Em suma, trata-se da restrição do exercício de garantias privadas na busca do interesse coletivo, havendo uma adequação do exercício da liberdade e da propriedade ao bem comum. No ordenamento jurídico brasileiro, o conceito legal do poder de polícia está consagrado no artigo 78 do Código Tributário Nacional. Devemos frisar que, em qualquer conceito adotado, há o fato de se estar diante de limitações aos direitos individuais, tendo ínsita a ideia de que a predominância do interesse público sobre o privado é o fundamento de tal poder e a própria finalidade dele. Por ser de tamanha importância à dinâmica dos atos da administração pública, o estudo do poder de polícia merece atenção em certos pontos. Eles serão destacados a seguir. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PODER DE POLÍCIA Fonte: Shutterstock.com AutoexecutoriedadeConfere à administração o poder de executar os seus atos imediata e independentemente de manifestação judicial ou de autorização de qualquer outro poder quando atendidos os pressupostos legais do ato. Frequentemente, os interesses defendidos não poderiam, para haver uma eficaz proteção, depender das demoras resultantes de um processo judicial sob pena de perecimento dos valores sociais resguardados por meio das medidas de polícia. Fonte: Shutterstock.com Coercibilidade Sendo uma decorrência natural da autoexecutoriedade, as medidas adotadas pela administração podem ser impostas coativamente aos cidadãos, ou seja, sua observância é obrigatória para o particular, permitindo até que a administração se utilize de força em caso de resistência. javascript:void(0) javascript:void(0) VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O CONTROLE EXTERNO FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA É REALIZADO PELO SEGUINTE ÓRGÃO: A) Poder Legislativo B) Poder Executivo C) Receita Federal D) Poder Judiciário E) Banco Central 2. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATIVO? A) Moralidade e descentralização B) Coercibilidade e publicidade C) Autoexecutoriedade e coercibilidade D) Eficiência e moralidade E) Capacidade de resposta e transparência GABARITO 1. O controle externo financeiro e orçamentário da administração pública é realizado pelo seguinte órgão: A alternativa "A " está correta. O controle externo dos gastos da administração pública é de responsabilidade do Poder Legislativo, o qual, por sua vez, é auxiliado pelo Tribunal de Contas. Órgão independente, esse tribunal foi instituído constitucionalmente com a finalidade de auxiliar o Poder Legislativo na fiscalização das contas do Executivo. 2. Quais são as principais características do poder de polícia administrativo? A alternativa "C " está correta. Pela autoexecutoriedade e coercibilidade, a Administração poderá executar os atos imediata e independentemente de manifestação judicial e de autorização de qualquer outro poder quando forem atendidos os pressupostos legais do ato. Pela autoexecutoriedade, as medidas adotadas pela administração podem ser impostas coativamente ao administrado, ou seja, sua observância é obrigatória para o particular, permitindo inclusive que ela se utilize de força em caso de resistência. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste tema, apontamos a vinculação sempre presente entre a Constituição Federal, as leis e a Administração Pública, bem como entre o governo e a eficiência na governança. Procuramos evidenciar ainda que a boa administração pública está fortemente ligada aos ideais modernos de governança, exigindo dos gestores públicos a vinculação dos seus atos ao teor da lei. Os agentes públicos devem ser sempre vigilantes em relação à avaliação dos resultados, dos custos e da eficiência das políticas públicas implementadas. Por fim, devemos frisar que, no caso do Brasil, por se tratar de uma federação, os conceitos analisados neste tema, bem como os ensinamentos de governança, também são aplicados, sob o formato da Constituição, aos entes federados menores (estados e municípios). CONQUISTAS VOCÊ ATINGIU OS SEGUINTES OBJETIVOS: Conheceu os fundamentos e os princípios da administração pública Identificou a estrutura da administração pública no Brasil AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. BRASIL. Decreto nº 9.203, de 22 de novembro de 2017. Dispõe sobre a política de governança da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. BRASIL. Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. BRASIL. Guia da política de governança pública. Brasília: Governo Federal, 2018. CARVALHO, M. Manual de Direito Administrativo. Salvador: Juspodivm, 2019. DINIZ, E. Governabilidade, democracia e reforma do Estado: os desafios da construção de uma nova ordem no brasil dos anos 90. In: Dados. v. 38. n. 3. Rio de Janeiro, 1995. p. 385-415. HOOD, C. Public management: the word, the movement, the science. In: FERLIE, E.; LYNN JR., L. E.; POLLITT, C. (Org.) The Oxford handbook of public management. Oxford: Oxford University Press, 2009. MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. MELLO, C. A. B. de. Curso de Direito Administrativo. 17. ed. Rio de Janeiro: Método, 2004. MORAES, A. Direito Constitucional. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ROSENAU, J. N. Governança, ordem e transformação na política mundial. In: ROSENAU, J. N.; CZEMPIEL, E.-O. Governança sem governo: ordem e transformação na política mundial. Brasília: UNB; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000. p. 11-46. SILVA, F. M. A. da. Poder discricionário da administração pública. In: DireitoNet. Publicado em: 8 jun. 2006. EXPLORE+ Conhecer a estrutura da administração pública é um desafio aos gestores públicos. Muitos órgãos do governo disponibilizam material de fácil entendimento para esse objetivo. Recomenda-se conhecer o material do TCU sobre o tema: BRASIL. Dez passos para boa governança. Brasília: Tribunal de Contas da União, 2014. CONTEUDISTA Claudia Tannus Gurgel do Amaral CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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