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Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará SEDUC-PA Professor Classe I - Artes Edital Nº 01/2018 – SEAD, 19 de Março de 2018 MR105-2018 DADOS DA OBRA Título da obra: Secretaria de Estado de Educação do Estado do Pará - SEDUC-PA Cargo: Professor Classe I - Artes (Baseado no Edital Nº 01/2018 – Sead, 19 de Março de 2018) • Conhecimentos Específicos Gestão de Conteúdos Emanuela Amaral de Souza Autora Silvana Guimarães Diagramação/ Editoração Eletrônica Elaine Cristina Igor de Oliveira Camila Lopes Thais Regis Produção Editoral Suelen Domenica Pereira Julia Antoneli Capa Joel Ferreira dos Santos APRESENTAÇÃO CURSO ONLINE PARABÉNS! ESTE É O PASSAPORTE PARA SUA APROVAÇÃO. A Nova Concursos tem um único propósito: mudar a vida das pessoas. Vamos ajudar você a alcançar o tão desejado cargo público. Nossos livros são elaborados por professores que atuam na área de Concursos Públicos. Assim a matéria é organizada de forma que otimize o tempo do candidato. 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Ex: FV054-18 PASSO 3 Pronto! Você já pode acessar os conteúdos online. SUMÁRIO Conhecimentos Específicos A arte na Educação para todos – Leis de Diretrizes e Bases; Referencial Curricular Nacional para Educação Bási- ca. .......................................................................................................................................................................................................01 Fundamentos e tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil. ..........................................................................09 O Ensino da Arte, Conceito, Histórico, Metodologias, Propostas e Práticas. ................................................................15 A arte e o processo de construção da cidadania. .................................................................................................................31 As diversas linguagens artísticas: Estética - conceitos e contextos. ................................................................................35 Aspectos da cultura popular brasileira e as manifestações populares: formação histórica, multiculturalismo. ..44 A arte da pré-história: Arte brasileira, Arte Indígena, Arte Africana. ...............................................................................54 Os elementos da linguagem visual. Os meios visuais de arte. ..........................................................................................59 As correntes estilísticas. ...............................................................................................................................................................72 A Leitura de imagem, a cultura visual e a comunicação na arte. ......................................................................................79 As artes visuais no Brasil: do barroco colonial brasileiro aos dias atuais. ......................................................................92 As artes audiovisuais: TV, cinema, fotografia, multimídia – novos recursos/novas linguagens. ..............................98 A música no Brasil partindo do período colonial aos nossos dias. ..................................................................................99 O teatro no Brasil: história e movimentos. .......................................................................................................................... 112 A dança no Brasil: dramática e folclórica, popular e erudita. ......................................................................................... 118 Principais movimentos artísticos do século XX no Brasil. ................................................................................................ 127 Ensino e aprendizagem da Música na Escola. Avaliação da aprendizagem no ensino da música; ...................... 134 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a Disci- plina de Arte. ................................................................................................................................................................................ 161 Ética profissional. ........................................................................................................................................................................ 165 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A arte na Educação para todos – Leis de Diretrizes e Bases; Referencial Curricular Nacional para Educação Bási- ca. .......................................................................................................................................................................................................01 Fundamentos e tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil. ..........................................................................09 O Ensino da Arte, Conceito, Histórico, Metodologias, Propostas e Práticas. ................................................................15 A arte e o processo de construção da cidadania. .................................................................................................................31 As diversas linguagens artísticas: Estética - conceitos e contextos. ................................................................................35 Aspectos da cultura popular brasileira e as manifestações populares: formação histórica, multiculturalismo. ..44 A arte da pré-história: Arte brasileira, Arte Indígena, Arte Africana. ...............................................................................54 Os elementos da linguagem visual. Os meios visuais de arte. ..........................................................................................59 As correntes estilísticas. ...............................................................................................................................................................72 A Leitura de imagem, a cultura visual e a comunicação na arte. ......................................................................................79 As artes visuais no Brasil: do barroco colonial brasileiro aos dias atuais. ......................................................................92 As artes audiovisuais: TV, cinema, fotografia, multimídia – novos recursos/novas linguagens. ..............................98 A música no Brasil partindo do período colonial aos nossos dias. ..................................................................................99 O teatro no Brasil: história e movimentos. .......................................................................................................................... 112 A dança no Brasil: dramática e folclórica, popular e erudita. ......................................................................................... 118 Principais movimentos artísticos do século XX no Brasil. ................................................................................................ 127 Ensino e aprendizagem da Música na Escola. Avaliação da aprendizagem no ensino da música;...................... 134 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a Disci- plina de Arte. ................................................................................................................................................................................ 161 Ética profissional. ........................................................................................................................................................................ 165 1 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A ARTE NA EDUCAÇÃO PARA TODOS – LEIS DE DIRETRIZES E BASES; REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA EDUCAÇÃO BÁSICA. A arte na educação foi considerada, em passado re- cente, como atividade de lazer e recreação na escola. Um bom exemplo que ilustra essa concepção merece ser lem- brado. Em 1972, quando Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, considerada a grande pioneira da arte-educação, solicitou à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior) uma bolsa para a realização de seu mes- trado no exterior e teve sua solicitação negada. A resposta foi negativa, pelo não reconhecimento da arte-educação como área de pesquisa. Felizmente, os conceitos mudaram e hoje a pioneira é bolsista de produtividade em pesquisa, nível 1A, do Conse- lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). As ideias e pensamentos de Ana Barbosa foram fundamentais para a conceituação e importância das artes na educação. Em 1991, ela dizia: “Como a matemática, a história e as ciências, a arte tem domínio, uma linguagem e uma história. Se constitui num campo de estudos espe- cíficos e não apenas em meia atividade. A arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos mo- dos como se aprende arte na educação infantil, no ensino fundamental e médio e no ensino superior. Talvez seja ne- cessário para vencer o preconceito sacrificarmos a própria expressão arte-educação que serviu para identificar uma posição e vanguarda do ensino da arte contra o oficialismo da educação artística dos anos 1970 e 1980. Eliminemos a designação arte-educação e passemos a falar diretamente de ensino da arte e aprendizagem da arte sem eufemismos, ensino que tem de ser conceitualmente revisto na escola fundamental, nas universidades, nas escolas profissionali- zantes, nos museus, nos centros culturais e a ser previsto nos projetos de politécnica que se anunciam”. A arte é um importante trabalho educativo, pois pro- cura, através das tendências individuais, amadurecer a for- mação do gosto, estimular a inteligência e contribuir para a formação da personalidade do indivíduo, sem ter como preocupação única e mais importante a formação de artis- tas. No seu trabalho criador, o indivíduo utiliza e aperfeiçoa processos que desenvolvem a percepção, a imaginação, a observação e o raciocínio. No processo de criação, ele pesquisa a própria emoção, liberta-se da tensão, ajusta-se, organiza pensamentos, sentimentos, sensações e forma hábitos de trabalho. Sendo a escola o primeiro espaço formal onde se dá o desenvolvimento de cidadãos, nada melhor que por aí se dê o contato sistematizado com o universo artístico e suas diferentes linguagens: arte cênica, cinema, desenho, escultura, pintura, literatura, teatro, dança, música, etc. No entanto, a contemplação e a criatividade nas artes devem transcender o ambiente escolar. Além da expansão dos es- paços culturais é importante que, em cada um deles, haja de forma permanente um espaço reservado para as crian- ças provido de material visual, ferramentas de interativida- de, oficinas de pintura, artesanato, música, etc. A arte tem sido, tradicionalmente, uma parte importante nos progra- mas da primeira infância. Friedrich Froebel, o pai do jardim de infância, foi o pri- meiro educador a enfatizar o brinquedo e a atividade lúdica. Ele disseminou o conceito de que as crianças deveriam criar as próprias expressões artísticas e apreciar a arte criada por outros. No Distrito Federal existe um campo fértil para expe- riências pedagógicas que poderiam estimular os benéficos estímulos das artes no desenvolvimento das crianças. A par- ceria virtuosa que está se estabelecendo entre a Secretaria da Criança do GDF (Governo do Distrito Federal) e o Instituto de Artes da Universidade de Brasília (IDA/UnB) certamente será um instrumento importante no desenvolvimento integral de nossas crianças, que perpassam também pelo seu desenvol- vimento cultural. É preciso apreciar, entender e estimular a criatividade das crianças, ilustrada pela célebre frase de Pablo Picasso: “Precisei de toda uma existência para aprender a de- senhar como as crianças”.1 A arte e a legislação atual O ensino de Artes é componente curricular obrigatório desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e seu en- sino esta garantido na Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, determinando no artigo 26, § 2º: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desen- volvimento cultural dos alunos”. No artigo 26-A, a Lei torna obrigatório no ensino fun- damental e médio o ensino sobre História e Cultura Afro- -Brasileira (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003) e será obrigatório em todo o currículo incluindo em especial a disciplina de Artes. No artigo 36, em relação ao ensino médio é destacada a compreensão das artes, o processo histórico da formação da sociedade e da cultura. Em 2008, foi publicada uma nova ementa sobre o ensi- no de Música no currículo escolar, decretada e sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O artigo 26 passa então a vigorar acrescido do § 6º, que regulamenta a música como conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular. A referida alteração entrou em vigor na data de sua pu- blicação, e exigiu que os sistemas de ensino se adaptassem no período de três anos letivos. A LDB promoveu avanços no sentido do reconheci- mento e obrigatoriedade do ensino de Artes nas escolas, no entanto, há flexibilidade no sentido de não exigir que sejam trabalhadas todas as modalidades artísticas, o que de fato acontece, tendo o educando, na maioria das vezes, acesso a uma somente. 1 Fonte: www.abc.org.br - Por Isaac Roitman 2 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Altasi (2009) comenta sobre as alterações que ocor- reram na Legislação, mencionando o quanto é perceptí- vel a atenção que foi dada a essa área com a publicação e sanção de Decretos, Ementas e Leis, e ainda ressalta a necessidade da reflexão sobre o que é o ensino de música, o que é o ensino das artes plásticas, do teatro e da dança na Educação Básica e como desenvolver essas linguagens artísticas. Para auxiliar o professor na efetivação do ensino de Artes nas escolas, conforme as exigências da Lei, há uma sistematização metodológica fundamentada no Referencial Curricular para a Educação Infantil e nos Pa- râmetros Curriculares Nacionais que compõem a Área de Linguagens, Códigos, e suas tecnologias. Nesses documentos, o ensino da Arte é tratado como conhecimento histórico e cultural, constituindo-se de diversas linguagens, como: as Artes Visuais (linguagem que tem a imagem fixa ou em movimento como obje- to); o Teatro (cujo objeto é a ação dramática); a Música (constituída da composição sonora – articulação entre som e silêncio) e a Dança (com o gesto e o movimento corporal como objetos). (ACERVOS COMPLEMENTARES: AS ÁREAS DO CONHECIMENTO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL, 2009, p.48). Os Parâmetros Currículares Nacionais de Arte são meios de consulta que podem nortear o trabalho do professor, servindo como um suporte para a reflexão, que pode possibilitar mudanças qualitativas na ação do professor em sala de aula. Kehrwald (2008), analisa a constituição dos PCNs e os considera como um avanço na dimensão do ensino da disciplina, poisa partir do momento em que ele in- corpora os três eixos norteadores, como produzir, apre- ciar e contextualizar, o documento aponta perspectivas de trabalho e de compreensão da arte para além de atividades descoladas do contexto dos estudantes e meramente tarefeiras. É certo que todo cidadão cultu- ralmente produz ou convive com manifestações artísti- cas inseridas em seu meio, e, no entanto nem sempre tais obras são apreciadas, valorizadas ou caracterizadas como arte, mesmo fazendo parte de sua identidade. Esses três eixos norteadores fundamentam meto- dologicamente tanto o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil quanto os Parâmetros Curricu- lares Nacionais e, atualmente, está sendo questionado o fato dessa concepção considerada contemporânea já estar fazendo parte de documentos oficiais. Refletindo sobre a arte Com a finalidade de garantir uma aula consistente e prazerosa, além do conhecimento metodológico, é necessário sensibilidade por parte do educador sobre o que vem a ser Arte e consciência sobre a importân- cia do ensino no desenvolvimento pessoal e social do aluno. Atualmente mudou-se a ideia de que a criatividade é importante somente no campo da Arte, pois muitas vezes é no momento das aulas de Arte que o aluno terá a única oportunidade de desenvolvê-la primeiramente. “Desenvolver o pensamento criativo passou a ser uma meta prioritária na preparação para o futuro, visto que os conhecimentos adquiridos hoje podem não valer nada amanhã.” (CUNHA, 2010, p.91) Mas, afinal, será que todos tem a mesma concepção sobre a Arte? Zagonel (2008) diz que a tarefa de tentar definir a arte gera discussões intermináveis, motivo este de não haver uma definição abrangente ou precisa o suficiente. Tal pa- lavra costuma ser usada com diferentes significados: a arte de executar bem alguma tarefa, a arte de preparar algo ou de dominar alguma técnica, ou pode ser usada corriqueiramente e popularmente para definir quando a criança está inventando algo diferente: “Essa criança esta fazendo arte”. Segundo a autora, a arte é estruturada a partir de có- digos particulares e sua compreensão vem do hábito das pessoas em apreciá-la e dos conhecimentos adquiridos sobre ela, e as pessoas não familiarizadas com a arte têm uma propensão à cegueira ou à surdez estética. No contexto escolar, a Arte é definida como uma for- ma de promover o desenvolvimento cultural dos alunos. É certo que todo cidadão culturalmente produz ou convive com manifestações artísticas inseridas em seu meio, e, no entanto nem sempre tais obras são apreciadas, valorizadas ou caracterizadas como arte, mesmo fazendo parte de sua identidade. Tal insegurança e a falta de expe- riência teórico-prática refletem na postura dos mesmos, o que acarreta em aulas que não ultrapassam os cadernos, e pouco motivadoras. Vygotsky explicitava sobre o assunto, conforme men- ciona Japiassu em artigo: A representação cotidiana e habitual da criativida- de não enquadra suficientemente o seu sentido científico. Quase sempre, a criatividade é concebida como propriedade privada de uns poucos eleitos (gênios, talentosos, artistas, inventores e cientistas). (VYGOTSKY apud JAPIASSU) A falta dessa leitura artística presente no cotidiano se deve principalmente à falta de um estímulo ou despertar artístico. Nesse aspecto, a função da escola é primordial, que por meio do conhecimento, da análise, da apreciação e do fazer arte, promove essa alfabetização estética, que possi- bilitará a leitura dos alunos a diferentes códigos culturais. Ana Mae Barbosa (2003) menciona que é por meio da Arte que a pessoa desenvolve a percepção e a imagina- ção, aprende a realidade do meio ambiente, desenvolve a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a rea- lidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade, que foi analisada. De acordo com os PCNs de Artes, a área de Arte tem uma função importante a cumprir. Ela situa o fazer artísti- co como fato e necessidade de humanizar o homem his- tórico, brasileiro, que conhece suas características tanto particulares, tal como se mostram na criação de uma arte brasileira, quanto universais, tal como se revelam no ponto de encontro entre o fazer artístico dos alunos e o fazer dos artistas de todos os tempos, que sempre inauguram formas de tornar presente o inexplicável. 3 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Diante das diversas definições e conceitos existentes, todas acordam basicamente que todo cidadão que desenvolve sua sensibilidade artística e estética lida melhor com suas emoções e expressões, é autoconfiante e cada vez mais prepa- rado para fazer parte de uma sociedade que necessita de pessoas críticas, inovadoras e criativas. Professor: o ensinar x aprender arte Atualmente, muitos professores sentem-se inseguros ao planejar suas aulas de Artes, dentre os motivos estão: resquí- cios de uma formação escolar tradicionalista; as lacunas no aprendizado de Artes durante o curso de graduação e a falta de especialização. Tal insegurança e a falta de experiência teórico-prática refletem na postura dos mesmos, o que acarreta em aulas que não ultrapassam os cadernos, e pouco motivadoras. O professor que atua de maneira tradicional acredita que a cópia e a repetição são as únicas formas de fixar um mo- delo estabelecido e acaba se limitando a avaliar se o aluno atingiu o máximo possível do modelo original. Alguns se acostumaram com um meio mais fácil de lecionar, fazendo uso de materiais pedagógicos compostos por desenhos e atividades prontas, prática comum nas formações em magistério até há pouco tempo atrás. Encarar um modo diferente do aprendido para trabalhar gera um pouco de insegurança, principalmente por exigir um pouco mais de reflexão do professor sobre a prática pedagógica. A falta de definições para trabalhar as diferentes modalidades artísticas também está presente na queixa de muitos profissionais da área, que acabam explorando mais o campo das artes visuais e deixando de lado as modalidades: teatro, música e dança. Nesse contexto, o teatro, a música e a dança, muitas vezes acabam sendo trabalhados de forma repetida e exaustiva com o único objetivo da criança se apresentar em datas festivas. Sobre o assunto Lins (2009) conclui que: Hoje é grande a preocupação dos professores de Arte em fazer a integração das quatro áreas artísticas. De modo que, não se deve colocar os conteúdos no currículo de forma isolada e esperar que o aluno possa integrá-los na sua cabeça. Há grandes dificuldades em estabelecer uma relação mais aprofundada entre as linguagens artísticas, mas mesmo assim, o professor pode compreender os elementos básicos de cada área da Arte e a partir de seu conhecimento e experiência, propor- cionar aos alunos o contato com outras linguagens, que não a de sua formação. Os alunos em suas vidas entram em contato com estas artes e tem suas preferências. Além dessa problemática, há também a visão equivocada de irrelevância do referido ensino dentre as demais discipli- nas que compõem o currículo escolar, disciplina esta não exigida em vestibulares e processos seletivos. Os PCNs orientam para que a Arte faça parte de todas as disciplinas, reconhecendo sua importância como qualquer outra matéria, pois ela traz grandes benefícios aos alunos, por exemplo, a compreensão em outras áreas do conhecimento humano. A solução para a problemática dos professores de Artes está no próprio profissional e sua postura. Primeiramente, ele deve romper a falsa ideia de que sua formação acaba quando termina a faculdade. A formação do educador ocorre em suas experiências diárias e por meio de incessantes pesquisas, refletindo, cons- truindo e reconstruindo sua prática, buscando suporte pedagógico necessário para sua atuação profissional. No contexto da educação escolar, a disciplina Arte compõe o currículo compartilhado com as demais disciplinas num projeto de envolvimentoindividual e coletivo. O professor de Arte, junto com os demais docentes e através de um trabalho formativo e informativo, tem a possibilidade de contribuir para a preparação de indivíduos que percebam melhor omundo em que vivem, saibam compreendê-lo e nele possam atuar. (FERRAZ, 2001, p.24) Os PCNs de Arte não dão fórmulas prontas, mas fornecem subsídios importantes em suas orientações didáticas. Cabe ao professor desenvolver reflexão pedagógica específica para o ensino das diferentes modalidades artísticas. Essa busca de aperfeiçoamento é essencial para garantir o direito dos alunos de experimentar tais modalidades de forma coerente e democrática. Atualmente, a internet é uma ótima ferramenta para troca de informações e experiências entre educadores e para que professores e alunos superem a falta de acesso a obras artísticas. Um bom exemplo de recurso tecnológico é o “Google Art Project” que disponibiliza o acesso às obras de arte e museus mais visitados do mundo em que tanto os alunos podem utilizar o site e ter a sensação de andar pelos corredores de um museu apreciando com detalhes e alta qualidade de zoom obras renomadas, quanto os professores podem aprofundar seus conhecimentos artísticos, pois nesse site há vídeos explicativos que contam o significado e a história de cada peça. 4 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Figura 1: Google art´s O referido site serve apenas como um exemplo, pois existem diversos outros meios que servem de suporte metodoló- gico para explorar a arte, mas para isso o professor deve buscar sempre pesquisar e manter-se atualizado. De acordo com os PCNs Artes (1997 p.72), a prática de aula é resultante da combinação de papéis que o professor pode desempenhar antes, durante e depois de cada aula: Antes da aula, o professor desempenha os papéis de: pesquisador de fontes de informação, materiais e técnicas; apreciador de arte, escolhendo artistas a serem estudados; criador na preparação e na organização da aula e seu espaço; estudioso da arte, desenvolvendo seu conhecimento artístico; e um profissional que trabalha junto com a equipe escolar. Durante a aula: incentivador da produção individual ou grupal; estimulador de um olhar crítico; propiciador de um clima que tenha curiosidade, constante desafio perceptivo; qualidade lúdica e alegria; inventor de formas de apreciação da arte; acolhedor de materiais, ideias e sugestões trazidos pelo aluno; formulador de destino para os trabalhos dos alunos; descobridor de propostas de trabalho para desenvolver o processo de criação, reflexão e apreciação de obras de arte; re- conhecedor do ritmo pessoal dos alunos; e analisar os trabalhos junto com os alunos. E depois da aula ele assume os respectivos papéis: articulador das aulas, uma em relação com as outras; avaliador de cada aula particular; e imaginador do que está por acontecer na continuidade do trabalho com base no conjunto de dados adquiridos na experiência das aulas anteriores. A motivação do educador é o eixo norteador para superar os desafios deste ensino, é a motivação e o compromisso com a educação que servirão de alicerce para que este profissional desempenhe significativamente tantos papéis em sua atuação, assim, ele poderá romper os mitos que cercam o ensino de Artes. Segundo reportagem de Santomauro á revista Nova Escola, existem três mitos pedagógicos no ensino de Arte. O primeiro mito é sobre “reprodução e releitura”. De acordo com a autora, mostrar uma obra de arte, discutir suas ca- racterísticas e pedir ao aluno que faça o mesmo De acordo com a autora, qualidade não é quantidade, pois um trabalho que garanta uma aprendizagem significativa para os alunos não depende da riqueza de material, mas do conteúdo, estratégia e propostas que ofereçam oportunidades de participação. desenho no caderno não é propor releitura, e sim reprodução ou cópia. Na releitura o aluno, partindo de uma obra, cria uma nova, transformando e interpretando. O segundo mito que ronda o ensino de Arte é o descrito: “Sem material, não dá”. De acordo com a autora, qualidade não é quantidade, pois um trabalho que garanta uma aprendizagem significativa para os alunos não depende da riqueza de material, mas do conteúdo, estratégia e propostas que ofereçam oportunidades de participação. O último mito é que “a Arte estimula a criatividade”. Na verdade, a arte desenvolve a criatividade e outras habilidades, se os conteúdos são aprendidos. O educador deve encarar as aulas de Arte como um desafio e não como um problema, ele deve romper mitos e para- digmas, assim podendo superar os obstáculos provenientes do ensino. Pensando dessa maneira, se faltar recursos materiais, o educador irá pesquisar alternativas de promover a arte com reciclagem ou outros materiais diferentes, e caso faltar espaço físico dentro da escola, é possível explorar locais alternativos no entorno da escola ou promover visitas a espaços disponíveis, como uma brinquedoteca, por exemplo. A visão de um todo e não particionado sobre a Arte no contexto escolar, perpassando todas as disciplinas e o compar- tilhamento de ideias entre os demais professores devem fazer parte da rotina do fazer pedagógico. Assim, para romper essa concepção e fazer a diferença, é primordial que haja motivação e inovação por parte do edu- cador, e que se estabeleça uma relação de entrega e responsabilidade ao campo estudado com comprometimento em re- lação à Educação. É necessário que esse profissional tenha a consciência da sua responsabilidade social e da transformação que suas aulas poderão fazer na vida de cada educando. 5 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Acredito positivamente que a Arte está cada vez mais extrapolando a disciplina em si e também o ambiente es- colar e isso se deve ao fato de existir boas referências so- bre o ensino contemporaneamente. Aos poucos, as novas concepções sobre a Arte estão demostrando que a arte vai além de ser apenas leitura e representação, e compete a nós educadores buscarmos isso. “Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. ( FREIRE, 1996, p.52 )2 LEI Nº 13.278, DE 2 DE MAIO DE 2016. Altera o § 6o do art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que fixa as diretrizes e bases da educação nacional, referente ao ensino da arte. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o O § 6o do art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de de- zembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 26. ……………………………………………………….. ………………………………………………………………………… • 6oAs artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2odeste artigo. …………………………………………………………………….” (NR) Art. 2o O prazo para que os sistemas de ensino im- plantem as mudanças decorrentes desta Lei, incluída a ne- cessária e adequada formação dos respectivos professores em número suficiente para atuar na educação básica, é de cinco anos. Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- cação. Brasília, 2 de maio de 2016; 195o da Independência e 128o da República. DILMA ROUSSEFF Aloizio Mercadante João Luiz Silva Ferreira Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o ensino de Arte Desde sua publicação e distribuição às escolas, os Pa- râmetros Curriculares Nacionais, constituem um referen- cial de qualidade para a educação para o ensino básico em todo Brasil. Segundo o PCN (BRASIL, 1997, p. 13), sua função é orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a pro- dução pedagógica atual. 2 Fonte: www.fals.com.br – Por Júlia Maria de Jesus Cunha Até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve estruturado nos termosprevistos pela Lei Federal n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Segundo (BRASIL, 1997, p. 13): Essa lei, ao definir as diretrizes e bases da educação nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto para o en- sino fundamental (primeiro grau, com oito anos de escola- ridade obrigatória) quanto para o ensino médio (segundo grau, não obrigatório), proporcionar aos educandos a for- mação necessária ao desenvolvimento de suas potenciali- dades como elemento de autorrealização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Na- cionais, Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendiza- gem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas e tem suas especificidades. (BRASIL 1977, p.19). Tal proposta é considerada uma vitoria diante das lutas em igualar no mesmo patamar as disciplinas, contudo não esquecendo de trazer a tona os questionamentos quanto ao tempo e espaço para aplicação da disciplina. Os conteúdos do Ensino de Arte no Ensino funda- mental No Ensino Fundamental o aluno poderá desenvolver sua competência estética e artística nas diversas modalidades da área de Arte (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), tan- to para produzir trabalhos pessoais e grupais quanto para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar, valorizar e julgar os bens artísticos de distintos povos e culturas produ- zidos ao longo da história e na contemporaneidade. Tais modalidades visam organizar sistematicamente os conteúdos de arte estabelecendo critérios, como intuito de promover a “formação artística e estética do aluno e a sua participação na sociedade” (BRASIL, 1997, p.49) Para a elaboração dos conteúdos é importante que consi- derar a diversidade de saberes adquiridos pelo aluno na infor- malidade, atentando para a contextualização do mesmo, bem como da comunidade da qual a escola faz parte e também in- troduzir os conteúdo “das diversas culturas e épocas a partir de critérios de seleção adequados à participação do estudante na sociedade como cidadão informado.” (BRASIL, 1997, p.49) O objetivo dos conteúdos é atender os níveis de aprendizagens do aluno no domínio do conhecimento artístico e estético, ou no processo de criação, pelo fazer, seja no contato com obras de arte com outras manifesta- ções presentes nas culturas ou na natureza. “O estudo, a análise e a apreciação da arte podem contribuir tanto para o processo pessoal de criação dos alunos como também para sua experiência estética e conhecimento do signifi- cado que ela desempenha nas culturas humanas.” (BRA- SIL, 1997, p.49). Essa articulação dos conteúdos dentro do processo de ensino e aprendizagem vem efetivar os eixos que norteiam esse processo com o tripé produzir, apre- ciar e contextualizar, de suma importância na compreensão das atividades, movendo o aluno no desenvolvimento do pensamento individual e coletivo. “Isso traz consciência do desenvolvimento de seu papel de estudante em arte e do valor e continuidade permanente dessas atitudes ao longo de sua vida.” (BRASIL, 1997, p.50). 6 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A partir dessa estrutura as escolas têm a liberdade de elaborar seus próprios currículos, desde que articulados com conteúdos da área, de outras áreas e dos Temas Trans- versais, segundo as diretrizes preestabelecidas, atentando para o seu próprio contexto educacional. “Os três eixos estão articulados na prática, ao mesmo tempo que mantêm seus espaços próprios. Os conteúdos poderão ser trabalhados em qualquer ordem, conforme decisão do professor, em conformidade com o desenho curricular de sua equipe e segundo critérios de seleção e ordenação adequados a cada ciclo.” (BRASIL, 1997, p.49). O ensino e aprendizagem de Arte não é mera propo- sição de atividades sem fundamentos, ao aluno bem como a instituição de ensino deve se fazer entender que a dis- ciplina tem objetivos específicos e os conteúdos “sempre se ligam a determinado espaço cultural, tempo histórico e a condições particulares que envolvem aspectos sociais, ambientais, econômicos, culturais, etários.” (BRASIL, 1997, p.49). O professor é o mediador entre as partes: instituição/ aluno – disseminação do conhecimento. Os três eixos norteadores produzir, apreciar e contex- tualizar, são definidos nesta articulação individualizados, porém interligados no contexto. O produzir refere-se ao fazer artístico, o produzir. São as experiências que o aluno tem na prática nas atividades propostas (como expressão, construção, representação), observando a temática a que está relacionada. É o processo de criação que se realiza por intermédio de experimenta- ções (técnicas, materiais, substratos) e também do uso das diversidades de linguagens artísticas. Apreciar é a percepção, decodificação, interpretação, fruição de arte e do universo a ela relacionado. A ação de apreciar refere-se a analise da produção artística individual e do outro, interpretando segundo seus conhecimentos preconcebidos, “a produção histórico-social em sua diver- sidade, a identificação de qualidades estéticas e significa- dos artísticos no cotidiano, nas mídias, na indústria cultural, nas práticas populares, no meio ambiente.” (BRASIL, 1997, p.50) Contextualizar é situar o conhecimento do próprio trabalho artístico, do outro e da arte no contexto social, histórico e cultural. A seleção dos conteúdos é baseada em critérios que visam despertar a curiosidade estimulando o conhecimen- to da própria cultura, e a descoberta da cultura do outro em diferentes épocas. Segundo os PCN’s (BRASIL, 1997, p.51): (...) acredita-se que para a seleção e a organização dos conteúdos gerais de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança por ciclo é preciso considerar os seguintes critérios: • conteúdos que favoreçam a compreensão da arte como cultura, do artista como ser social e dos alunos como produtores e apreciadores; • conteúdos que valorizem as manifestações artísticas de povos e culturas de diferentes épocas e locais, incluindo a contemporaneidade e a arte brasileira; • conteúdos que possibilitem que os três eixos da aprendizagem possam ser realizados com grau crescente de elaboração e aprofundamento. Assim, de forma abrangente os conteúdos gerais do ensino de Arte segundo os PCN’s, (BRASIL, 1997, p.52) são: • a arte como expressão e comunicação dos indiví- duos; • elementos básicos das linguagens artísticas, modos de articulação formal, técnicas, materiais e procedimen- tos na criação em arte; • produtores de arte: vidas, épocas e produtos em conexões; • diversidade das formas de arte e concepções esté- ticas da cultura regional, nacional e internacional: produ- ções e suas histórias; • a arte na sociedade, considerando os artistas, os pensadores da arte, outros profissionais, as produções e suas formas de documentação, preservação e divulgação em diferentes culturas e momentos históricos. Além dos conteúdos específicos envolvendo a arte em termos gerais as diretrizes atentam para a multipli- cidade de informações visuais ao redor do aluno, ins- tigando-o ao conhecimento, amplitude da visão e po- sicionamento critico, uma educação para “saber ver e perceber, distinguindo sentimentos, sensações, ideias e qualidades contidas nas formas e nos ambientes.” (BRA- SIL, 1997, p.64). Nos conteúdos também estão inclusos modalidades resultantes do avanço tecnológico, visuais como: fotografia, moda, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance, holografia, desenho industrial, arte em computador. O objetivo é contextua- lizar o aluno facilitando a comunicação e a expressão, integrando-o socialmente. “No mundo contemporâneo as linguagens visuais ampliam-se, fazendo novas com- binações e criam novas modalidades. A multimídia, a performance, o videoclipe e o museu virtual são alguns exemplos em que a imagem integra-se ao texto, som e espaço.”(BRASIL, 1997, p.64). A proposta educacional visa a transformação das informações, dos conhecimen- tos impulsionando o desenvolvimento do aluno. “(...) a meta desse ensino é desenvolver nos jovens a disposição de apreciar a excelência nas artes em função da expe- riência maior que a arte é capaz de proporcionar” (BAR- BOSA, 2008, p. 99). No contexto educacional é de suma importância considerar a relação empiria e o aprender, considerar que as experiências do cotidiano do aluno podem facili- tar o aprendizado e que esse universo cultural pode ser trazido para dentro da sala de aula contribuindo para a formação do mesmo como cidadão participativo. “A es- cola deve incorporar o universo jovem, trabalhando seus valores estéticos, escolhas artísticas e padrões visuais.” (BRASIL, 1997, p.64) Os conteúdos são específicos por área e estão or- ganizados de maneira que possam ser trabalhados ao longo do ensino fundamental e seguem os critérios para seleção e ordenação propostos nos PCN’s. Os conteúdos gerais têm por objetivo direcionar os conteúdos especí- ficos por área em cada serie. Aqui estão selecionados al- guns dos conteúdos específicos por área, para que possa ser entendido a abrangência dos mesmos. 7 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Conteúdos de Artes Visuais Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, as dire- trizes para os conteúdos de arte são estabelecidos quanto à produção, à apreciação e contextualização. Quanto à produção: • A produção artística visual por meio do desenho, pin- tura, colagem, gravura, construção, escultura, instalação, fotografia, cinema, vídeo, meios eletroeletrônicos, design, artes gráficas e outros. • Observação, análise, utilização dos elementos da lin- guagem visual e suas articulações nas imagens produzidas. • Representação e comunicação das formas visuais, concretizando as próprias intenções e aprimorando o do- mínio dessas ações. • Conhecimento e utilização dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e técnicas nos trabalhos pes- soais, explorando e pesquisando suas qualidades expressi- vas e construtivas. Quanto à apreciação: • Percepção e análise de formas visuais presentes nos próprios trabalhos, nos dos colegas. • Observação da presença e transformação dos ele- mentos básicos da linguagem visual, em suas articulações nas imagens produzidas, apresentadas em diferentes cul- turas e épocas. • Identificação, observação e análise das diferentes téc- nicas e procedimentos artísticos. • Percepção e análise de produções visuais (originais e reproduções) e conhecimento sobre diversas concepções estéticas presentes nas culturas. Quanto à como produção cultural e histórica • Observação, pesquisa e conhecimento de diferentes obras de artes visuais, produtores e movimentos artísticos de diversas culturas e em diferentes tempos da história. • Compreensão sobre o valor das artes visuais na vida dos indivíduos e suas possíveis articulações com a ética que permeia as relações de trabalho na sociedade contem- porânea. • Reflexão sobre a ação social que os produtores de arte concretizam em diferentes épocas e culturas, situando conexões entre vida, obra e contexto. • Conhecimento e investigação sobre a arte do entorno próximo e distante a partir das obras, fontes vivas, textos e outras formas de registro. Conteúdos de Dança As articulações do corpo humano simplesmente pela necessidade de movimentar-se, o movimento faz parte do corpo. O movimento é a expressão do corpo. O corpo fala através da dança. Há movimentos inatos e natos e conse- quentemente objetivos nos movimentos apreendidos. “Se por um lado a música estimula os movimentos, a dança, por outro, pode também restringi-los, pois a sociedade já tem modelos de danças que se “encaixam” a certos estilos de música.” (BRASIL, 1997, p. 73). A dança no âmbito es- colar não está restrita somente as apresentações e festas comemorativas, nem tampouco limitada a ritmos estereoti- pados. “(...) sempre se aprende, formal e/ou informalmente, como, por que e quando se movimentar e transformar esse movimento em dança.” (BRASIL, 1997, p. 70). E ainda: Propomos que o professor que trabalhe com a Dan- ça em localidades diferentes das pesquisadas sempre ouça atentamente o que seus alunos têm a dizer sobre seus cor- pos, sobre o que dançam e/ou gostariam de dançar; que observe atentamente as escolhas de movimento e como eles são articulados em suas criações de dança, para que possa escolher conteúdos e procedimentos não somente adequados, mas também problematizadores das realida- des em que esses corpo/danças estão inseridos. (idem, p.72) A dança tem contribuição importante para o desen- volvimento dos alunos, não se trata simplesmente de mo- vimento, o corpo não é mero instrumento da dança. “O corpo é conhecimento, emoção, comunicação, expressão. Ou seja, o corpo somos nós e nós somos o nosso corpo. Portanto, o corpo é a nossa dança e a dança é o nosso corpo.” (idem, p.72). O aluno é o inovador, se atentar para a importância das inúmeras possibilidades de movimentos proporcionados pela dança, fator diferencial nas atividades de danças no contexto educacional. Os objetivos gerais da Dança para o ensino funda- mental esta interligada mais diretamente às experiências dos movimentos corporais dos alunos que a vivência social, possibilitando ao aluno capacidade de construir uma rela- ção de cooperação, aperfeiçoar a capacidade de discrimi- nação verbal, visual e cinestésica, situar e compreender as relações entre corpo, dança e sociedade, buscando orga- nizar, registrar e documentar informações sobre dança em contato com artistas, fontes documentais relacionando-os a suas próprias experiências pessoais como criadores, in- térpretes e apreciadores de dança. Os conteúdos específicos da Dança estão agrupados em três aspectos principais utilizados observando as ne- cessidades dos alunos e o contexto sociopolítico e cultural em que se encontram: dançar, apreciar e dançar e as di- mensões sociopolíticas e culturais da dança. Quanto a dançar: • Desenvolvimento das habilidades corporais adqui- ridas nos ciclos anteriores, iniciando trabalho de memo- rização e reprodução de sequências de movimentos quer criadas pelos alunos, pelo professor quer pela tradição da dança. • Relacionamento das habilidades corporais adquiridas com as necessidades contidas nos processos da dança tra- balhados em sala de aula. • Reconhecimento das transformações ocorridas no corpo quanto à forma, sensações, percepções, relacionan- do-as às danças que cria e interpreta e às emoções, com- portamentos, relacionamentos em grupo e em sociedade. Quanto a apreciar e dançar: • Aperfeiçoamento e compreensão dos elementos do movimento: partes do corpo, dinâmicas do movimento, uso do espaço e das ações. 8 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes • Experimentação e diferenciação entre repertório, im- provisação, composição coreográfica e apreciação, aten- tando para as diferentes sensações e percepções indivi- duais e coletivas que ocorrem nos quatro processos. • Experimentação, investigação e utilização de diferen- tes estímulos para improvisação e para composição co- reográfica (notícias de jornal, poesia, quadros, esculturas, histórias, elementos de movimento, sons e silêncio, objetos cênicos). Quanto às dimensões histórico-sociais e culturais da dança e seus aspectos estéticos: • Conhecimento dos dançarinos/coreógrafos e grupos de dança brasileiros e estrangeiros que contribuíram para a história da dança nacional, reconhecendo e contextuali- zando épocas e regiões. • Reflexão sobre os principais aspectos de escolha de movimento, estímulos coreográficos, gênero e estilo dos coreógrafos estudados às danças que criam em sala de aula, contextualizando as diferentes opções. • Análise, registro e documentação dos próprios traba- lhos de dança e dos utilizados por diferentes dançarinos e coreógrafos. Conteúdosde Música No decorrer da historia tornam-se perceptíveis as transformações nos estilos e gostos musicais. Na escola como proporcionar aos alunos uma educação musical en- volvendo-os no contexto atual, valendo-se das experiên- cias trazidas do cotidiano individual? Segundo os PCN’s (BRASIL, 1997, p 79) essa relação pode ser realizada “Esta- belecendo relações com grupos musicais da localidade e da região, procurando participar em eventos musicais da cultura popular, shows, concertos, festivais, apresentações musicais diversas, a escola pode oferecer possibilidades de desenvolvimento estético e musical por meio de aprecia- ções artísticas.” O conhecimento musical do professor é essencial no processo ensino e aprendizagem. “A consciência estética de jovens e adultos é elabo- rada no cotidiano, nas suas vivências, daí a necessidade de propiciar, no contexto escolar, oportunidades de criação e apreciação musicais significativas.” (BRASIL, 1997, p 80). A escola ao proporcionar nos conteúdos de arte a musica busca auxiliar o jovem a desenvolver capacidades, habilidades e competências em música envolvendo-o no aprender a sentir, expressar e pensar a realidade sonora ao seu redor. Assim os conteúdos de música estão elencados em três aspectos: expressão e comunicação em Música (im- provisação, composição e interpretação); apreciação signi- ficativa em Música (escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical) e compreensão da Música como produto cultural e histórico. Quanto à Expressão e comunicação em Música: im- provisação, composição e interpretação: • Improvisações, composições e interpretações utili- zando um ou mais sistemas musicais, desenvolvendo a per- cepção auditiva, a imaginação, a sensibilidade e memória musicais e a dimensão estética e artística. • Percepção e utilização dos elementos da linguagem musical (som, duração, timbre, textura, dinâmica, forma etc.). • Experimentação, improvisação e composição a partir de propostas da própria linguagem musical de propos- tas referentes a paisagens sonoras de distintos espaços geográficos, épocas; de propostas relativas à percepção visual, tátil; de propostas relativas a ideias e sentimentos próprios e ao meio sociocultural, como as festas popula- res. • Audição, experimentação, escolha e exploração de sons de inúmeras procedências, vocais e/ou instrumen- tais, de timbres diversos, ruídos, produzidos por materiais e equipamentos diversos, empregando-os de modo indi- vidual e/ou coletivo em criações e interpretações. • Construção de instrumentos musicais convencionais (dos mais simples) e não-convencionais a partir da pes- quisa de diversos meios, materiais, e de conhecimentos elementares de ciências físicas e biológicas aplicadas à música. Quanto à apreciação significativa em Música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical: • Manifestações pessoais de ideias e sentimentos su- geridos pela escuta musical, levando em conta o imaginá- rio em momentos de fruição. • Percepção, identificação, comparação, análise de músicas e experiências musicais diversas, quanto aos elementos da linguagem musical: estilo, forma, motivo, andamento, textura, timbre, dinâmica, em momentos de apreciação musical, utilizando vocabulário musical ade- quado. • Audição, comparação, apreciação e discussão de obras que apresentam concepções estéticas musicais di- ferenciadas, em dois ou mais sistemas, tais como: modal, tonal, serial e outros, bem como as de procedimento alea- tório. • Apreciação de músicas do próprio meio sociocul- tural, nacionais e internacionais, que fazem parte do co- nhecimento musical construído pela humanidade no de- correr dos tempos e nos diferentes espaços geográficos, estabelecendo inter-relações com as outras modalidades artísticas e com as demais áreas do conhecimento. Quanto à compreensão da Música como produto cul- tural e histórico: • Identificação da transformação dos sistemas musi- cais, ao longo da história e em diferentes grupos e etnias, e sua relação com a história da humanidade. • Conhecimento de algumas transformações pelas quais passaram as grafias musicais ao longo da história e respectivas modificações pelas quais passou a linguagem musical. • Identificação e caracterização de obras e estilos mu- sicais de distintas culturas, relacionando-os com as épo- cas em que foram compostas. • Pesquisa, reflexões e discussões sobre a origem, transformações e características de diferentes estilos da música brasileira. 9 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Conteúdos de Teatro O teatro busca, através das apresentações, dramatiza- ções e construções de cenas, promover oportunidades para os alunos, vivenciando fatos, possam observar e confron- tar diferentes culturas em diferentes momentos históricos, operando com um modo coletivo de produção de arte. “Ao buscar soluções criativas e imaginativas na construção de cenas, os alunos afinam a percepção sobre eles mesmos e sobre situações do cotidiano.” (BRASIL, 1997, p 88). Os con- teúdos do teatro estão agrupados em três aspectos: teatro como comunicação e produção coletiva, como apreciação e como produto histórico-cultural. Quanto ao teatro como comunicação e produção co- letiva: • Participação em improvisações, buscando ocupar es- paços diversificados, considerando-se o trabalho de cria- ção de papéis sociais e gêneros (masculino e feminino) e da ação dramática. • Reconhecimento e utilização das capacidades de ex- pressar e criar significados no plano sensório-corporal na atividade teatral. • Identificação e aprofundamento dos elementos es- senciais para a construção de uma cena teatral. • Exercício constante da observação do universo cir- cundante, do mundo físico e da cultura. • Experimentação, pesquisa e criação com os elemen- tos e recursos da linguagem teatral. Quanto ao Teatro como apreciação: • Reconhecimento e identificação da interdependência dos diversos elementos que envolvem a produção de uma cena. • Reconhecimento da relação teatral atuantes e público (palcoplatéia) como base nas atividades dos jogos teatrais e da organização das cenas. • Observação e análise da necessidade de reformula- ção constante dos produtos das cenas em função do cará- ter inacabado da cena teatral. • Exercício constante de observação e análise diante das propostas e cenas de colegas, por meio de formula- ções verbais e escritas. Quanto ao Teatro como produto histórico-cultural: • Compreensão do teatro como atividade que favorece a identificação com outras realidades socioculturais. • Compreensão e pesquisa dos diferentes momentos da história do teatro, dos autores de teatro (dramaturgos), dos estilos, dos encenadores, cenógrafos. • Interação e reconhecimento da diversidade cultural presentes no teatro de diferentes culturas. • Compreensão e distinção das diferentes formas de construção das narrativas e estilos: tragédia, drama, comé- dia, farsa, melodrama, circo, teatro épico. 3 3 Fonte: www.arcos.org.br – Texto adaptado de Francinely P Dinelly FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO DE ARTE NO BRASIL. Observa-se que o ensino de arte, desde a década de 1970, tomando de empréstimo uma expressão utiliza- da por Azevedo (1997), vem se constituindo como uma “questão socialmente problematizada”; uma temática que tem sido tratada, até certo ponto, com abundância pela literatura educacional brasileira, sob variados ângulos e critérios e que conta, inclusive, com um amplo movimento de discussão e reflexão institucionalizada sobre o campo denominado “Arte/Educação”. Dessa forma, a Arte/Educação é epistemologia da arte. É a ciência do ensino de arte (BARBOSA, 1998b, 2002b; RIZZI, 2002; SAUNDERS, 2004). Nesse sentido, a Arte/Edu- cação tem se caracterizado como um campo amplo de conhecimento que, durante a sua trajetória histórica e só- cio-epistemológica, vem agregando diferentes estudos, os quais são frutos de pesquisas científicasna área da arte e seu ensino, pesquisas artísticas e da produção de conheci- mento/saberes, através da prática de ensino experimental de arte, na educação escolar e não-escolar. Assim, a Arte/Educação, como campo de conhecimen- to empírico-conceitual, tornou-se aberto a diferentes en- foques e vêm agregando em seu corpus uma diversificada linha de atuação, estudo e pesquisa, tais, como: a forma- ção do professor para o ensino de arte; a história do en- sino de arte no Brasil; Dança/Educação; Educação Musical; o ensino da arte na educação escolar; o ensino da arte na educação não-escolar; o ensino das artes visuais; o ensi- no inclusivo de arte; os fundamentos da Arte/Educação; os processos de aprendizagem da arte; Teatro/Educação; entre outros. Apesar dos diferentes olhares desse campo de conhe- cimento, o enfoque desta pesquisa está relacionado ao campo do ensino da arte na educação escolar. Sobre o ensino da arte na educação escolar, diferen- tes estudos vêm sendo realizados para diagnosticar essa prática educativa (SILVA, 2004; ALMEIDA, 2001; BARBOSA, 2002b, 2002d). A partir desses estudos e de uma simples observação analítica sobre a prática de ensino da arte na escola vamos encontrar a presença de diferentes trata- mentos conceituais, didáticos e metodológicos, tais, como: (1) produção de desenho, pintura e atividades artísti- cas livres; (2) realização de dramatizações didáticas; (3) cantar músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto; (4) assistir a apresentações artísticas; (5) realização de jogos teatrais e jogos dramáticos; (6) ensino do desenho, do desenho geométrico, dos elementos da linguagem visual e a aplicação desses con- teúdos a objetos; (7) pintura de desenhos e figuras mimeografadas; 10 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes (8) preparação de apresentações artísticas e objeto para comemoração de datas comemorativas e festivas; (9) leitura e releitura de obras de grandes artistas; (10) pesquisa sobre a vida e obra de artistas famosos; entre outros. A nossa compreensão é a de que por trás de cada atividade dessa existe, respectivamente, uma concepção de ensino de arte, que teve sua origem ao longo da traje- tória histórica da Arte/Educação no Brasil; pois, essas são práticas que historicamente vêm se afirmando e se crista- lizando na educação escolar. Segundo Barbosa (2005), nos últimos anos a neces- sidade de compreendermos a área de Arte/Educação em relação com a cultura que nos cerca tem gerado mui- tos estudos importantes. Dentre esses estudos, Barbosa (2005) vai citar os trabalhos de Räsänem (1998), Agirre (2000) e Eisner (2002). De forma geral, esses teóricos bus- caram estabelecer quais as concepções de ensino de arte estão presentes nas práticas pedagógicas na contempo- raneidade. No entanto, o diagnóstico realizados por esses pesquisadores estão relacionados aos seus contextos so- ciais e históricos imediatos, neste caso, estamos nos re- ferindo ao ensino de arte desenvolvido respectivamente na Finlândia, Espanha e Estados Unidos da América. No entanto, como este fenômeno tem se caracterizado na realidade educacional brasileira? Entendendo que todo e qualquer processo situa-se historicamente no contexto em que está inserido política e culturalmente e que não são fenômenos que se consti- tuíram a priori, mas que vêm emergindo das diversas con- cepções de educação e sociedade presentes em deter- minada realidade, buscamos através desta pesquisa com- preender quais as tendências e concepções de ensino de arte estão presentes na realidade educacional brasileira. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória na literatura brasileira especializada sobre Arte/Educa- ção. Do levantamento realizado, apenas os estudos so- bre a história e os fundamentos da Arte/Educação foram selecionados para fazer parte do rolde documentos que seriam analisados. Os estudos selecionados foram os de Azevedo (2000; 2003; 2005), os de Barbosa (1984; 1975; 1998a; 2002a; 2002b; 2002c; 2002d; 2005), o de Efland (2005), o do INEPE (1980), o de Jogodzinski (2005), os de Richter (2002; 2003), o de Rizzi (2002) e o de Varela (1986). Utilizamos, como procedimento para a análise dos es- tudos, as técnicas da análise de conteúdo, sistematizadas por Bardin (1977). Diante da especificidade do nosso ob- jeto de investigação e da compreensão de que a análise de conteúdo não é um instrumento, mas, um conjunto de técnicas de análise das comunicações, adotamos para tratamento e análise dos dados desta pesquisa os proce- dimentos da análise temática. Desta forma, A nossa análise foi operacionalizada a partir de quatro operações básicas: (1) a pré-análise; (2) a exploração do material; (3) o tratamento dos resultados obtidos; (4) e a interpretação dos resultados, a partir da inferência. Na próxima seção, apresentaremos os dados encon- trados a partir da realização do percurso metodológico que acabamos de explicitar. Esses resultados são frutos tanto da análise dos conteúdos manifestos, como da aná- lise dos conteúdos latentes, encontrados nas unidades de contexto, conforme poderá ser verificado, a seguir. O Ensino de Arte na Educação Escolar: as Diferentes Tendências e Concepções de Ensino Conforme explicitado na seção anterior, a partir dos diferentes estudos na área dos fundamentos e da história da Arte/Educação, foi possível caracterizar as tendências e as concepções de ensino de arte presentes na trajetória histórica da educação brasileira. Dessa forma, os resultados apontaram que o ensino de arte no Brasil possui três grandes tendências concei- tuais, que, didaticamente, classificamos em: (1) Ensino de Arte Pré-Modernista; (2) Ensino de Arte Modernista; e (3) Ensino de Arte Pós-Modernista ou Pós-Moderno. Assim, percebe-se que o Modernismo, através da uti- lização de prefixos gregolatinos (pré e/ou pós), nomeia as outras tendências da Arte/Educação no Brasil. A nos- sa compreensão é a de que o Modernismo, tanto na Arte como na Arte/Educação, é considerado a grande ruptura no modo de conceber a arte e o seu ensino, que tradicio- nalmente era centralizada no ensino da técnica. “Na reali- dade, nossa primeira grande renovação metodológica no campo da Arte-Educação se deve ao movimento de Arte Moderna de 1922” (BARBOSA, 1975, p. 44). Dentro dessas tendências, vamos encontrar, diferentes concepções de ensino da arte. Na Tendência Pré-Moder- nista, encontraremos a concepção de Ensino da Arte como Técnica; já na Tendência Modernista, vamos encontra a concepção de Ensino da Arte como Expressão e também como Atividade; e finalmente na Tendência Pós- Moder- nista, a concepção de ensino da Arte como Conhecimento. No entanto, quais os princípios e finalidades do ensino da arte nessas concepções? Quais os seus contextos sócio- -históricos? Quais as matrizes teóricas que as fundamen- tam? Quais os princípios metodológicos? Para responder a essas questões iremos, a seguir, caracterizar todas essas concepções de ensino de arte, que acabamos de explicitar. O Ensino de Arte como técnica A idéia de ensino de arte como técnica está ligada à origem do ensino de arte no Brasil. Com a presença dos Jesuítas, em 1549, iniciou-se o ensino de arte na Educação Brasileira através de processos informais, caracterizados pelo ensino da arte em oficinas de artesões. O objetivo era catequizar os povos da terra nova, utilizando-se, como um dos instrumentos, o ensino de técnicas artísticas. Na educação formal, o ensino de arte tem a sua gê- nese marcada pela criação da Academia Imperial de Belas Artes, em 1816, com a chega da Missão Artística Francesa, formada por grandes nomes da arte da Europa. 11 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Todos os membros da Missão Francesa possuíam uma orientação neoclássica, que marcou o seu modo de ensinar arte. No ensino, nessa orientação predominava basicamen- te o exercício formal da produção de figuras, do desenho do modelo vivo, do retrato, dacópia de estamparias, obe- decendo a um conjunto de regras rígidas. No texto legal, o ensino da arte nos moldes neoclássico era caracterizado como acessório; um instrumento de modernização de ou- tros setores, e não como uma atividade com importância em si mesmo. Com a abolição do trabalho escravo (1888) e com a Proclamação da República (1889), os liberais e positivistas provocaram grandes reformas nas diferentes esferas da sociedade, com a pretensão de consolidar o novo regime político do Brasil, através de uma mudança radical nas ins- tituições. Nessa direção, a educação brasileira teve que acom- panhar esse novo momento político, pois os liberais e os positivistas encaravam a educação como um campo estra- tégico para a efetivação dessas mudanças. Dessa forma, o ensino de arte passou a desempenhar um importante papel, através do ensino do desenho como linguagem da técnica e da ciência, sendo “valorizadas como meio de redenção econômica do país e da classe obreira, que engrossara suas fileiras com os recém-libertos” (BAR- BOSA, 2002c, p. 30). A corrente liberal teve em Rui Barbosa o seu grande re- presentante, o qual propôs, através de suas reformas edu- cacionais, a implantação do ensino de Desenho no currícu- lo escolar, com o objetivo primordial de preparar o povo para o trabalho. Tomando como base os princípios filosóficos de Augus- to Comte, os positivistas brasileiros acreditavam que a arte possuía importância na medida em que contribuía para o estudo da ciência. Acreditavam que a arte era um poderoso veículo para o desenvolvimento do raciocínio e da raciona- lização da emoção, desde que ensinada através do método positivo, que subordinava a imaginação à observação. Conforme apresentado neste breve histórico, aproxi- madamente, quatro séculos do ensino de arte no Brasil fo- ram baseados, exclusivamente, na concepção de arte como técnica. No entanto, essa concepção de ensino não ficou restrita apenas a esse período histórico, pois, ainda hoje encontramos nas práticas escolares essa concepção de en- sino de arte, que vem se manifestando através do ensino do desenho, do ensino do desenho geométrico, do ensino dos elementos da linguagem visual, descontextualizada da obra de arte; na produção de artefatos, utilizando-se de elementos artísticos para a sua composição; na pintura de desenhos e figuras mimeografadas. Observa-se, então, que a orientação de ensino de arte como técnica parte basicamente de dois princípios: (1) a efetivação do processo de aprendizagem da arte através do ensino de técnicas artísticas, para uma formação me- ramente propedêutica, que visa, como por exemplo, à preparação para a vida no trabalho; (2) e na utilização da arte como ferramenta didático-pedagógica para o ensino das disciplinas mais importantes do currículo escolar, tais, como Matemática e Língua Portuguesa. Nessa concepção, o ensino de arte na educação esco- lar não possui um fim em si mesmo, mas, serve como meio para se alcançar objetivos que não estão relacionados com o ensino de arte propriamente dito. Contrapondo-se à Tendência Pré-Modernista do Ensi- no de Arte, que foi caracterizada pela concepção de ensino de arte como técnica, a partir de 1914, começou a despon- tar a Tendência Modernista, através da influência da pe- dagogia experimental, conforme apresentaremos a seguir. O Ensino de Arte como expressão A concepção de ensino de arte como o desenvolvi- mento da expressão e da criatividade tem as suas bases conceituais e metodológicas ligadas ao Movimento Escoli- nhas de Arte (MEA). Apesar de o MEA ter se constituído na prática em um movimento de ensino de arte extra-escolar, ele exerceu grande influência sobre o ensino de arte na escola. Essa influência se deve ao fato de o MEA ter se constituído como o primeiro importante movimento que possibilitou o processo de transformação filosófica e metodológica de nossa Arte/Educação (AZEVEDO, 2000). Um outro fator foi que o MEA, durante mais de duas décadas, foi responsável pela formação inicial e continuada dos arte/educadores de diferentes regiões brasileiras, conforme apresentado nos estudos de Varela (1986). No entanto, a origem histórica da Tendência Modernis- ta do Ensino de Arte no Brasil antecede à criação do MEA. Dessa forma, diferentes fatores contribuíram para o surgi- mento da Tendência Modernista de Ensino da Arte que, ao longo de mais de duas décadas, iriam produzir um campo fértil para a criação do MEA. A partir de 1914, através da influência americana e eu- ropeia, que implementou a pedagogia experimental nos cursos de formação de professores no Estado de São Pau- lo, observa-se que, pela primeira vez no Brasil o desenho infantil foi tomado como livre expressão da criança, como uma representação de um processo mental, passível de in- vestigação e interpretação. Apesar dessa nova concepção psicopedagógica ter tido seu início em São Paulo, ela pas- sou a influenciar o Brasil como um todo, a partir da atuação dos diferentes educadores paulistas nas reformas educa- cionais dos outros Estados da Federação. Entretanto, apesar dessa nova visão sobre o desenho da criança, os valores estéticos da arte infantil só passaram a ser reconhecidos e valorizados como produto estético com a introdução das correntes artísticas expressionistas, futuristas e dadaístas na cultura brasileira, através da reali- zação da Semana de Arte Moderna de 1922. Os modernistas Mário de Andrade e Anita Malfatti de- sempenharam um papel fundamental na introdução das ideias da livre-expressão do ensino de arte para as crianças, através da implementação de novos métodos baseados na valorização da expressão e da espontaneidade da criança, conforme citação abaixo: A ideia da livre-expressão, originada no expressionis- mo, levou à ideia de que a Arte na educação tem como fi- nalidade principal permitir que a criança expresse seu sen- timento e à idia de que a Arte não é ensinada, mas expres- 12 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes sada. Esses novos conceitos, mais do que aos educadores, entusiasmaram artista e psicólogos, que foram os grandes divulgadores dessas correntes e, talvez por isso, promover experiências terapêuticas passou a ser considerada a maior missão da Arte na Educação (BARBOSA, 1975, p. 45). Com a democratização política do Brasil na década de 1930, surgiu um movimento de renovação educacional denominado “Escola Nova”. Inspirado no pensamento do filósofo americano John Dewey, esse novo ideário pedagó- gico foi trazido para o Brasil através dos educadores Nereu Sampaio e Anísio Teixeira. Nesta direção, o MEN se contrapõe ao modelo peda- gógico tradicional, defendendo no centro das discussões educacionais da época uma nova concepção de criança, conforme citação abaixo: [...] nela a criança não era pensada como miniatura de adulto, mas deveria ser valorizada e respeitada em seu próprio contexto, com sua forma peculiar de pensar/agir no mundo, possuindo uma capacidade expressiva original, comunicando-se por meio de seu gesto-traço, seu gesto- -teatral e seu gesto-sonoro (AZEVEDO, 2000, p. 37). Foi nesse campo fértil que, em 1948, foi fundada, no Rio de Janeiro, a Escolinha de Arte do Brasil (EAB), pelos artistas plás- ticos Augusto Rodrigues, Margaret Spencer e Lúcia Valentim. A EAB foi o início do que seria mais tarde denominado MEA, formado por um conjunto de “140 escolinhas espa- lhadas ao longo do território nacional e mais uma em As- sunção, no Paraguai; uma em Lisboa, Portugal e duas na Argentina, sendo uma em Buenos Aires e a outra na cidade de Rosário” (AZEVEDO, 2000, p. 25). Com o surgimento do MEA como um grande e im- portante movimento, novas possibilidades surgiram para a Arte/Educação brasileira, conforme explicitado por Barbosa: Somente em 1948, com a criação da Escolinha de Arte do Brasil, novos horizontes se abrem para novas concep- ções, e o objetivo mais difundido da Arte-Educação passou a ser, entre nós, o desenvolvimento da capacidadecriadora em geral (BARBOSA, 1975, p. 46). O MEA, ao longo de sua história, recebeu diferentes influências e contribuições teóricas de educadores, psi- cólogos, artistas. No entanto, as bases conceituais que marcaram profundamente o MEA devem-se aos estudos dos estrangeiros Herbert Read, especialmente da sua obra “Educação Através da Arte” (READ, 1982), e Viktor Lowen- feld, através de sua obra “Desenvolvimento da Capacidade Criadora” (LOWENFELD, 1977). Essas obras traduziam o ideário pedagógico do MEA que, através da proposta de educar mediante a arte, bus- cou valorizar a arte da criança, a partir de uma concepção de ensino baseada no desenvolvimento da livre expressão e da liberdade criadora. A grande Arte/Educadora Noêmia Varela foi de fundamental importância na introdução desse ideário pedagógico no MEA. Ainda segundo Azevedo (2000), um outro valor ressal- tado pela Arte/Educação Modernista era a democratização da Arte através da dessacralização da obra de arte, baseada na ideia de que todas as crianças, em potencial, eram capa- zes de produzir e de expressar-se através da arte, inclusi- ve crianças com necessidades educacionais especiais. No entanto, para que a criança fosse capaz de produzir a sua própria arte era preciso preservá-la da arte instituída, que era produzida pelo adulto, pois, a arte adulta não deveria ser apresentada para a criança como um modelo. Na proposta do MEA, a aproximação com o univer- so da arte adulta deveria acontecer naturalmente. Nesse sentido, a função do Arte/Educador era interferir o míni- mo possível na arte da criança. Essa maneira de proceder iria possibilitar conservar um valor fundamental divulgado pela Arte/Educação Modernista: a originalidade como um fator primordial do fazer artístico. Conforme acabamos de apresentar, o ensino de arte modernista possui uma trajetória conceitual de, aproxi- madamente, 57 anos (1914-1971). Se comparada à ten- dência pré-modernista (arte como técnica), ela possuiu uma trajetória relativamente curta. No entanto, apesar dessa curta trajetória, a concepção de ensino de arte como desenvolvimento da expressão e da criatividade deixou marcas profundas na maneira de ensinar arte na escola. Dessa forma, encontramos, ainda, na escola práti- cas de ensino de arte, tais, como: (1) produção de dese- nho e pintura como forma de expressão do pensamento da criança; (2) levar as crianças para assistirem a diferen- tes apresentações artísticas (dança, teatro, cinema, circo, entre outras) e a exposições em museus de arte e em cen- tros culturais. Atividades essas, realizadas, sem, contudo, terem sido planejadas as estratégias de compreensão do conhecimento artístico antes, durante e após a excursão didática, caracterizando-a, apenas, como uma simples aula passeio. Essas atividades, em geral, são trabalhadas de forma “livre”, sem qualquer intervenção e/ou media- ção do professor na percepção dos produtos artísticos e na realização da produção da criança, partindo da crença de que a aprendizagem do conhecimento artístico ocorre de forma espontânea, sem haver necessidade de qualquer trabalho de mediação do professor. Dessa forma, a grande ênfase nessa concepção é so- bre as ações mentais desenvolvidas durante a realização da atividade artística, ou seja, sobre o processo, tendo pouca importância o produto resultante. É a partir dessa ideia que vai surgir à concepção de ensino de arte como lazer, auto expressão e catarse, o que descaracteriza a arte como um conhecimento indispensá- vel para a formação das novas gerações, passível de ser ensinado e aprendido. Essa interpretação custou à área de arte ser configu- rada apenas como uma mera atividade, sem conteúdos próprios, conforme verificaremos na concepção de ensino de arte como atividade, que apresentaremos a seguir. O Ensino de Arte como atividade A concepção de ensino da arte baseada na simples reali- zação de atividades artísticas é resultado do esvaziamento dos conteúdos específicos da área de arte na educação escolar. Essa concepção de ensino foi legitimada através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de n° 5.692, promulgada em 11 de agosto de 1971, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de arte nos currícu- los das escolas de 1° e 2° graus. 13 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A partir dessa Lei, o ensino de arte no Brasil passou a ser designado através da rubrica “Educação Artística”. Uma terminologia ultrapassada para o período em que foi criada, diante dos avanços possibilitados pelos diferentes estudos e discussões da área da arte e seu ensino, desen- volvidas no Brasil, Estados Unidos e Europa. No entanto, apesar de instaurar a obrigatoriedade do ensino da arte na educação escolar, a Lei, ao designar os componentes do currículo, classificou-os em duas moda- lidades: (1) Disciplinas (áreas do conhecimento com obje- tivos, conteúdos, metodologias e processo de avaliação específica); (2) e atividades (desenvolvimento de práticas e procedimentos). Dessa forma, coube à arte, dentro do currículo escolar, desempenhar, apenas, o papel de mera atividade. No contexto político e social do Regime Militar, a Lei 5.692/71 desempenhou, apenas, uma função meramente ideológica, que tinha como objetivo dar um caráter huma- nista ao currículo. “As artes eram aparentemente a única matéria que poderia mostrar abertura em relação às huma- nidades e ao trabalho criativo, porque mesmo Filosofia e História foram eliminadas do currículo” (BARBOSA, 2002b, p. 9). Na realidade, a referida Lei, no campo do ensino da arte, caracterizou-se como uma ação não planejada, pois, as atividades eram desenvolvidas, apenas, para cumprir as formalidades e ocupar os horários, sendo ministradas por professores de outras áreas que não compreendiam o significado da Arte na Educação. É necessário destacar, que diferente das outras concep- ções de ensino de arte, não encontramos em nossos estudos registros históricos ou conceituais de uma matriz teórica que a fundamentasse. Na realidade, essa concepção é a maior ex- pressão da presença do tecnicismo pedagógico no ensino de arte. Apesar de uma trajetória conceitual curta, a concep- ção de ensino da arte como atividade cristalizou no ensi- no de arte diferentes práticas pedagógicas, que encon- tramos, ainda hoje, nas escolas brasileiras, tais, como: (1) cantar músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto; (2) preparar apresentações artísticas e objetos para a co- memoração de datas comemorativas; (3) fazer a deco- ração da escola para as festas cívicas e religiosas; entre outras. Isenta de qualquer conteúdo de ensino, a concepção de ensino da arte baseada exclusivamente no “fazer ar- tístico” contribuiu muito para relegar a arte a um lugar inferior na educação escolar. Essa compreensão custou, inclusive, a retirada do ensino de arte das três primeiras versões da nova LDBEN, nos meados da década de 1980. Convictos da necessidade do ensino de arte no desen- volvimento intelectual das novas gerações, os arte/educa- dores brasileiros se organizaram e lutaram politicamente para garantir a presença da arte no currículo escolar, a partir da ideia de que arte é um campo de conhecimento específico, com objetivos, conteúdos, métodos de ensi- no e processos de avaliação da aprendizagem próprios, e não apenas uma mera atividade, conforme poderemos verificar na concepção de ensino de arte, a seguir. O Ensino de Arte como conhecimento A concepção de ensino de arte como conhecimento, ao contrário das teses liberais, positivistas e modernistas, defende a ideia da arte na educação com ênfase na própria arte, denominada por Eisner (2002) como o “essencialismo” no ensino de arte. Segundo Rizzi (2002), a corrente essencialista: …acredita ser a Arte importante por si mesma e não por ser instrumento para fins de outra natureza. Por ser uma experiência que permite a integração da experiência singular e isolada de cada ser humano com a experiênciada humanidade (RIZZI, 2002, p. 64-65). Por tanto, compreender a arte como uma área de co- nhecimento, como uma construção social, histórica e cul- tural é trazer a arte para o domínio da cognição. Nessa di- reção, o conceito de arte também está ligado à cognição como um dos elementos de manifestação da razão, pois existe na arte um conhecimento estruturador, que permite a potencialização da cognição. Atualmente, no Brasil, a abordagem mais contemporâ- nea da Arte/Educação está relacionada ao desenvolvimen- to cognitivo, que, segundo Barbosa (2005), vem se impon- do cada vez mais entre os arte/educadores brasileiros. Essa compreensão nos impõe a pensar de maneira diferente o ensino de arte na educação escolar, provocando o deslo- camento das nossas preocupações relacionadas à questão de “como se ensina arte” para “como se aprende arte”. Questão essa que vem gerando, ao longo de mais de duas décadas, teorias e estudos, tais, como os trabalhos de Pillar (2001), de Barbosa (2002b) e de Parsons (1992), entre ou- tros, que buscam explicar o processo de ensino aprendiza- gem dos conhecimentos artísticos. É nessa ressignificação de paradigmas que nasce, no Brasil, a Tendência Pós-Mo- derna de ensino de arte. Para explicar essa terminologia, Barbosa afirma: Como diz Homi Bhadha, nossa existência hoje é marca- da pela tenebrosa sensação de sobrevivência, vivendo um presente que não tem nome próprio, mas é designado por um prefixo acrescentado ao passado. Trata-se do prefixo ‘pós’ do pós-modernismo, do pós-colonialismo, do pós-fe- minismo etc. Queremos explicitamente ultrapassar o passado sem deixá-lo de lado (BARBOSA, 1998a, p. 33). Dessa forma, a nossa compreensão é a de que o movi- mento de mudançaepistemológica na forma de conceber, filosófica e metodologicamente, o ensino da arte na con- temporaneidade, que não ocorria desde o modernismo, não é fruto do poder legislativo, através da implantação de leis e decretos, que determinaram a obrigatoriedade do ensino da arte na educação escolar; antes, foi fruto da luta política e conceitual dos arte/educadores brasileiros, que buscaram justificar a presença da arte na educação a partir do paradigma da cognição. Na década de 1980, com a redemocratização do país, eclodiram, no cenário nacional, as associações de arte/edu- cadores e cursos de pós-graduação (lato sensu e stricto sensu), fazendo com que surgissem novas reflexões sobre o ensino de arte e novas concepções para o processo de ensino-aprendizagem de arte no âmbito escolar. 14 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Em 1988, foi promulgada a Constituição Brasileira, iniciando-se, logo em seguida, discussões sobre a nova LDBEN. Em três de suas versões, foi retirada a obrigatorie- dade do ensino de arte nas escolas. Organizados, os arte/ educadores protestaram, convictos da importância da arte para a formação do aluno. Iniciou-se, aí, uma longa luta política e conceitual dos arte/educadores brasileiros para tornar a arte uma disciplina curricular obrigatória, com todas as suas especificidades (objetivos de ensino, con- teúdos de estudos, metodologia e sistema de avaliação). Foi nesse contexto de luta que, em 20 de dezembro de 1996, os arte/educadores brasileiros conquistaram a obrigatoriedade do ensino de arte para toda a Educação Básica, através da promulgação da nova LDBEN, de n° 9.394, que, depois de quase uma década, revogou as dis- posições anteriores e consagrou, oficialmente, a concep- ção de ensino de arte como conhecimento, ao explicitar que o ensino de arte escolar deverá promover o desenvol- vimento cultural dos alunos. A partir dos estudos de Barbosa (1998a; 2002b; 2002d), Richter (2002; 2003), Efland (2005) e Jogodzinski (2005) foi possível compreender que, entre outros princí- pios, a concepção de ensino de arte como conhecimento está baseada no interculturalismo, na interdisciplinaridade e na aprendizagem dos conhecimentos artísticos, a partir da inter-relação entre o fazer, o ler e o contextualizar arte. Segundo Barbosa, “o compromisso com a diversida- de cultural é enfatizado pela Arte-Educação Pós-moder- na” (2002d, p. 19), através da “idéia de reforçar a heran- ça artística e estética dos alunos com base em seu meio ambiente” (BARBOSA, 2002b, p. 24). Nessa direção, tanto Richter (2002; 2003) como Barbosa (1998a; 2002d) vêm, ao longo dos anos, produzindo diferentes estudos so- bre a diversidade cultural no ensino da arte. Segundo as referidas autoras, definir diversidade cultural pressupõe evocar diferentes termos, tais, como multiculturalismo, pluriculturalidade, interculturalidade, que, na atualidade, aparecem como sinônimos no ensino de arte. No entanto, Barbosa (2002d) e Richter (2002) nos alertam que o termo mais adequado para designar a diversidade cultural no ensino da arte é a “interculturalidade”. No livro “Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte”, Barbosa nos explica que, “enquanto os termos ‘Multicul- tural’ e ‘Pluricultural’ pressupõem a coexistência e mútuo entendimento de diferentes culturas na mesma socieda- de, o termo ‘Intercultural’ significa a interação entre as diferentes culturas” (2002d, p. 19). Defendendo essa ideia, Richter afirma que “esse ter- mo seria, portanto, o mais adequado a um ensino-apren- dizagem em artes que se proponha a estabelecer a inter- relação entre os códigos culturais de diferentes grupos culturais” (2002, p. 86). No entanto, esse processo precisa estar apoiado em uma perspectiva interdisciplinar, que vem sendo defendi- da por Barbosa (1984), desde a década de 1980, ao afir- mar que polivalência não é interdisciplinaridade. Nessa direção, Richter explica que, diferente da “multidisciplina- ridade” e “transdisciplinaridade”, a “interdisciplinaridade”: …indica a inter-relação entre duas ou mais disciplinas, sem que nenhuma se sobressaia sobre as outras, mas que se estabeleça uma relação de reciprocidade e colaboração, com o desaparecimento de fronteiras entre as áreas do conheci- mento (RICHTER, 2002, p. 85). Nessa compreensão, o ensino de arte deve interdisci- plinar consigo mesmo, através de diferentes linguagens, como, também, com outras áreas do conhecimento huma- no. Seria o que poderíamos chamar de uma “educação sem territórios e fronteiras”, conforme esclarece Barbosa: O estudo da interdisciplinaridade como abordagem pedagógica é central para o ensino de arte. A arte con- temporânea é caracterizada pelo rompimento de barrei- ras entre o visual, o gestual e o sonoro. O happening, a performance, a bodyart, a arte sociológica e ambiental, o conceitualismo e a própria vídeo art são algumas das ma- nifestações artísticas que comprovam uma tendência atual para o inter-relacionamento de diversas linguagens repre- sentativas e expressivas. Portanto, pelo isomorfismo orga- nizacional, a interdisciplinaridade dever ser o meio através do qual se elaborem os currículos e a práxis pedagógica da arte (BARBOSA, 1984, p. 68). Um outro princípio defendido pela Arte/Educação Pós-Mo- derna está relacionado à aprendizagem dos conhecimentos artísticos, a partir da inter-relação entre o fazer, o ler e o con- textualizar arte, designados por Barbosa (2002b) como ações necessárias para a compreensão da Arte como epistemologia. Com o esvaziamento dos conteúdos do ensino de arte, que vinha ocorrendo desde o início do Século XX, através da Tendência Modernista da Arte/Educação, surgem, na década de 1970, no cenário internacional, alguns pensado- res que propunham resgatar os conteúdos para as aulas de arte. Foi desse movimento que apareceram, no cenário da Arte/Educação, diferentes abordagens de ensino da arte. Inspirada nesses teóricos e nessas abordagens, Ana Mae e suas colaboradorassistematizam, na década 1980, a partir das ati- vidades educativas desenvolvidas no Museu de Arte Contempo- rânea (MAC), da Universidade de São Paulo (USP), a abordagem pós-colonialista no ensino de arte do Brasil, denominada Propos- ta Triangular de Ensino de Arte, conformeafirmação abaixo: A Proposta Triangular deriva de uma dupla triangula- ção. A primeira é de natureza epistemológica, ao designar aos componentes do ensino/aprendizagem por três ações mentalmente e sensorialmente básicas, quais sejam: criação (fazer artístico), leitura da obra de arte e contextualização. A segunda triangulação está na gênese da própria sistemati- zação, originada em uma tríplice influência, na deglutinação de três outras abordagens epistemológicas: as Escuelas al Aire Libre mexicanas, o Critical Studies inglês e o Movimento de Apreciação Estética aliado ao DBAE (Discipline Based Art Education) americano (BARBOSA, 1998a, p. 35). Para uma maior compreensão sobre Abordagem Trian- gular de Ensino de Arte, do ponto de vista das teorias edu- cacionais e das teorias da aprendizagem, Barbosa afirma: A educação cultural que se pretende com a Proposta Triangular é uma educação crítica do conhecimento cons- truído pelo próprio aluno, com a mediação do professor, acerca do mundo visual e não uma “educação bancária” (BARBOSA, 1998a, p. 40). 15 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Ao contrário da concepção de ensino como téc- nica – que valoriza o produto artístico em detrimento do processo – e da concepção de ensino de arte como expressão – que supervaloriza o processo, dando pou- ca importância ao produto estético –, a concepção de arte como conhecimento vem buscando a valorização tanto do produto artístico como dos processos desen- cadeados no ensino de arte, trazendo para o contexto atual da Arte/Educação a ideia de arte como proces- so e produto, que vem sendo defendida por Barbosa (1975), desde a década de 1970. Na contemporaneidade, a concepção de ensino de arte como conhecimento vem sendo apontada pelos diferentes estudos, como a orientação mais adequada para o desenvolvimento do ensino de arte na edu- cação escolar. A seguir, apresentaremos as conside- rações finais do nosso trabalho e suas contribuições para o campo educacional. Essa divisão que acabamos de apresentar tem um caráter mais didático e analítico do que prescritivo e normativo, pois, a partir de uma observação mais cui- dadosa, é possível verificar que as diferentes concep- ções de ensino de arte que acabamos de apresentar não estão limitadas aos períodos históricos em que eles surgiram e tampouco estão circunscritos de for- ma isolada na prática educativa dos professores, pois, podemos encontrar em uma mesma prática a presen- ça de concepções de ensino de arte completamente antagônicas, conforme apresentada na pesquisa rea- lizada por Silva (2004). Elaboramos essa classificação para que pudéssemos compreender cada concepção dentro do contexto social e histórico em que elas sur- giram. Ao confrontarmos a classificação que elabora- mos com a classificação elaborada nos estudos dos teóricos estrangeiros Räsänem (1998), Agirre (2000) e Eisner (2002), foi possível compreender que esse fenômeno possui características singulares na reali- dade educacional brasileira. No entanto, constatamos também, que apesar da singularidade, algumas con- cepções aparecem tanto no Brasil, como em outros países, constituindo-se como fenômeno “universal”. A explicação para este fato está na origem e deriva- ção epistemológica dessas concepções, o que deve se constituir em um novo objeto de estudo. Esperamos que o presente estudo possibilite o desenvolvimento de um olhar mais clínico e crítico sobre a prática pedagógica de ensino de arte desen- volvida no âmbito da educação escolar brasileira e que possa subsidiar a re-configuração do ensino de arte voltado e comprometido com o crescimento in- tegral dos alunos, que perpassam, também, pelo seu desenvolvimento cultural.4 4 Fonte: www.30reuniao.anped.org.br – Por SILVA, Everson Melquiades Araújo Silva/Clarissa Martins Araújo O ENSINO DA ARTE, CONCEITO, HISTÓRICO, METODOLOGIAS, PROPOSTAS E PRÁTICAS. Plano de ação pedagógica docente para o ensino da arte. No decorrer desse material veremos a contribuição da disciplina na aprendizagem do aluno, ressaltando a impor- tância metodológica da disciplina no currículo escolar para o ensino de artes envolvendo as quatro linguagens, (ar- tes visuais, dança, música e teatro), e isso se dá justamen- te pela relevância da educação artística no ensino, onde o aluno desenvolve a coordenação motora e por meio dos trabalhos e todos os seus sentimentos aprendendo a se relacionar com o mundo. O papel do professor de arte é fundamental nesse pro- cesso, pois de acordo com os parâmetros curriculares nes- sa disciplina o aluno desenvolve sua sensibilidade, percep- ção, imaginação tanto como realizar formas artísticas como apreciar e conhecer as formas produzidas por eles e pelos seus colegas, pela natureza e diferentes culturas. Ao resgatar mesmo sendo brevemente a história do ensino de artes no Brasil pode-se observar que existem várias direções com relação ás finalidades, cursos e ao de- sempenho dos docentes e também ás políticas educacio- nais, pedagógico e focos de filósofos. Pode se dizer que a arte é identificada por um olhar filosófica e humanista, que são marcados pelas tendências tradicionalistas e es- cola novista. Na escola tradicional os professores trabalham em cima de livros didáticos, manuais conforme a escolha do profissional, tendo o ensino centralizado no professor de forma mecânica, cabendo a ele a transmissão de lingua- gem e conteúdos. Com a tendência escola nova as escolas brasileiras passaram ter outras práticas no ensino e apren- dizagem de arte, centralizando no desenvolvimento pró- prio da criança, valorizando as necessidades e absorção, considerando as formas de expressão e o seu entendimen- to sobre mundo. A Introdução da Educação Artística no currículo esco- lar foi um progresso especialmente na compreensão no que diz a respeito à arte na formação do sujeito, tendo como princípios de pensamentos inovadores. O efeito des- se avanço, entretanto foi incoerente e paradoxal, pelo fato dos professores não estarem aptos e muito menos treina- dos para várias linguagens, que precisavam ser introduzi- dos no conjunto de exercícios artísticas sendo elas Artes Plásticas, Educação Musical e Artes Cênicas. O sistema educacional na época de 70 e 80 passou por dificuldades em relacionar a teoria e a prática, os profissio- nais formados em Educação Artística utilizavam os guias curriculares, livros didáticos que não possuíam metodolo- gias e orientações e nem a bibliografia específica. As fa- culdades ofertavam formações sem base conceituais, que causou insegurança por parte do professor que buscava equilibrar com atividades envolvendo a música, corporais e plásticos mesmo sem saber ou conhecer. 16 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Nos anos de 80 surgiu o movimento Arte-Educação, vi- sando estruturar o profissional, despertando o movimento nos professores de artes formal e informal. A partir desse movimento começou a discutir também sobre a valoriza- ção e o aperfeiçoamento do professor, devido à falta de conhecimento e habilidades na área. Conforme os Parâmetros curriculares Nacionais de ar- tes (2000): Em 1988, com a promulgação da Constituição, iniciam – se as discussões sobre a lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional, que seria sancionada apenas em 20 de De- zembro de 1996. Convictos da importância de acesso escolar dos alunos de ensino básicos também à área de artes, houve manifestações e protestos de inúmeros educadores contrá- rios a uma das versões da referida lei, que retirava a obriga- toriedade da área. (p.30) Com a lei n. 9.394\96 a Artes passa ser considerada obrigatória na educação básica conforme o artigo 26, § 2.º: “O ensino da arte constituirá componente curricular obri- gatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Sendo assim, nota - se que a partir do movimento e conscientização dos professores fez com que evoluíssemdiscussões adquirindo concepções, metodologias para o processo de ensino- aprendizagem de artes nas escolas. Mais adiante na década de 90, houve novas tendências cur- riculares em artes, visando incluir a arte no currículo como área, tendo conteúdos voltados à cultura artística. A metodologia educativa na Arte inclui escolhas pro- fissionais do professor quanto os assuntos relacionados à area de arte, contextualizando no que é trabalhado com os alunos. Os docentes de arte, comprometidos na democra- tização de saberes artístico procuram instruir os educandos rumo ao fazer e o entender as diversas modalidades e a história cultural das mesmas. Segundo FERRAZ; FUSARI, (1993), esse posicionamen- to na escolarização de crianças e jovens em arte tem uma história com várias marcas presentes em nossas atuais idéias e práticas tanto estética quanto pedagógicas. Algumas dessas marcas históricas queremos conservar e outras queremos transformar para melhor, tendo em vis- ta o compromisso escola de ajudar na democratização da cultura artistica junto aos estudantes. Exemplificando, há professores cujo ideário é desenvolver cursos de arte com aulas em que não existam atitudes educativas diretivas com os alunos. Assim, esses professores entendem que basta or- ganizar e coordenar os ambientes das salas de aula proven- do-os com vários materiais para que aconteçam trabalhos espontâneos, livres e para que assim os alunos saibam arte. Com esse ideário, esses docentes poucos interferem nos ru- mos do curso e nos estudos artísticos. São professores cujos posicionamentos em educação escola em arte não são de todo incorretos, todavia, são incompletos e reduzidos. (p.99) Há professores que assumem a formação dos alunos em arte somente das interferências no fazer e no entender trabalhos artísticos, como organizar aulas com os aconte- cimentos na sala de aula, introduzindo sua metodologia de trabalho. É importante observar o que ocorre nos passeios, nos trajetos de ida e volta à escola, nas brincadeiras, pro- gramas de rádios e televisão e analisar se essas vivências estão contribuindo com o desenvolvimento do aluno. A tarefa do professor de artes é auxiliar o desenvolvimento a partir dessas percepções. Qualquer conceito estético ou artístico pode ser tra- balhado a partir do cotidiano tanto da natureza quanto da cultura como um todo. Assim, é bastante enriquecedor solicitar que as crianças levem para a escola, por exemplo, elementos que se refiram a um determinado assunto de artes a ser trabalhado. O professor também deverá fa- zê-lo. Desta maneira, havendo interesse em trabalhar as percepções e seus elementos (como texturas, cores), pode se colecionar da natureza – flores, folhas, gravetos, pedras, etc. – ou de materiais produzidos pelo homem – como te- cidos, pedaços de papeis, rótulos, embalagens, fotografias, ilustrações, objetos de uso cotidiano, sons, canções e ou- tros – que serão reunidos na classe como material auxiliar para as aulas de artes. (FERRAZ; FUSARI, 1993, p.49) O professor deve trabalhar esses materiais conforme o envolvimento e plano de aula, ajudando a concreti- zar os conhecimentos sobre artes. Em qualquer idade a criança tem capacidade para assemelhar as diversidades formais, estruturais e cromáticas existente no mundo no qual ele está inserido. O contato da criança com as obras de artes também é outro ponto importante, porque possibilita a praticar as atividades artísticas, adquirindo novos repertórios re- lacionando com suas experiências já estabelecidas em sua vida. O professor deve mostrar aos alunos as diver- sas possibilidades que encontramos através das expres- sões artísticas, considerando inúmeros elementos que compõem a arte. É necessário que o professor possibilite aos alunos o desenvolvimento de sua percepção, imaginação, racio- cínio, dentre outros aspectos que ajudarão no processo de ensino aprendizagem, tornado os seres capazes de analisar, refletir e emitir opiniões. Ferramentas simbóli- cas para abrir a fantasia e a criatividade do aluno, abrem caminhos para a autonomia e construção de significa- dos, sentidos, aprendizagem e regras sociais. O docente tem na Arte um grande suporte para seu trabalho educativo, por meio do qual se têm a possibi- lidade de observar tendências individuais e a partir des- tas, encaminhar a formação do gosto, estimular a inte- ligência e ajudar na formação da personalidade de seus alunos, quando o mesmo brinca passa a desenvolver vá- rias competências, afetividade, linguagem oral e escrita, motricidade, percepção, memória e a representação de mundo. Ao pesquisar a aprendizagem do fazer artístico, apoiados no pensamento de Vygotsky onde o mesmo enfatizava o processo histórico-social e o papel da lin- guagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio social. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de rela- ções intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação. Em uma nova perspectiva de olhar o desenvolvimento das crianças. 17 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Sua abordagem sempre foi orientada para os proces- sos de desenvolvimento do ser humano com destaque a dimensão sócia histórica e na interação do indivíduo com o outro no espaço social. Não podemos pensar que o alu- no vai se desenvolver com o tempo, pois ela não tem, por si só, instrumentos para percorrer sozinho o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta. A criança é reconhecida como ser pensante capaz de ligar suas ações às representações do mundo que cons- titui sua cultura, sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de en- sino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre indivíduos. A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é a dis- tância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, de- terminado pela capacidade de resolver problemas inde- pendentemente, e o nível de desenvolvimento proximal. Determina pela capacidade de solucionar problemas com ajuda de um indivíduo mais experiente. São as aprendiza- gens que ocorrem na ZDP que fazem com que a criança e ao adolescente se desenvolvam ainda mais. É justamente nesta zona de desenvolvimento proximal que a aprendi- zagem vai ocorrer. A função de um educador escolar, por exemplo, seria, então, a de favorecer esta aprendizagem, servindo de mediador entre a criança e o mundo. Conforme Vygotsky, L.S, (1991): Resumindo, o aspecto mais essencial de nossa hipóte- se é a noção de que os processos de desenvolvimento não coincidem com os processos de aprendizado. Ou melhor, o processo de desenvolvimento progride de forma mais lenta e atrás do processo de aprendizado; desta sequenciação re- sultam, então, as zonas de desenvolvimento proximal. Nossa análise modifica a visão tradicional, segundo a qual, no mo- mento em que uma criança assimila o significado de uma palavra, ou domina uma operação tal como a adição ou a linguagem escrita, seus processos de desenvolvimento estão basicamente completos. Na verdade, naquele momento eles apenas começaram. A maior consequência de se analisar o processo educacional desta maneira, é mostrar que, por exemplo, o domínio inicial das quatro operações aritméticas fornece a base para o desenvolvimento subsequente de vá- rios processos internos altamente complexos no pensamento das crianças. (p. 64-65) Arte é fundamental na educação, pois os alunos irão desenvolver a coordenação motora por meio das ativida- des inseridas no ambiente escolar e aprenderão a trabalhar em grupos para que eles aprendam a compartilhar, a per- ceber que não estão sós no momento de criação. Abordar o ensino de Artes é importante para que se leve a uma re- flexão no que se refere à formação dos alunos, os espaços e materiais fornecidos pelas escolassão ainda insuficientes, atendendo apenas em partes as demandas da disciplina. Refletir sobre a presença da arte na escola nos leva a necessidade de compreendermos a realidade de diversas discussões que já foram feitas em torno da importância e da necessidade da arte na escola enfatizando as possibili- dades do homem interagir com o mundo que o cerca. O mesmo autor afirma que: Tivemos a oportunidade de observar como o desenho das crianças se torna linguagem escrita real, através de experimentos onde atribuíamos as crianças a tarefa de re- presentar simbolicamente algumas frases mais ou menos complexas. Nesses experimentos, ficou absolutamente clara a tendência, por parte das crianças em idade escolar, de mu- dar de uma escrita puramente pictográfica para uma escrita ideográfica, onde as relações e significados individuais são representados através de sinais simbólicos abstratos. Observamos bem essa dominância da fala sobre a escri- ta numa criança em idade escolar que escreveu cada palavra da frase em questão través de desenhos individuais. Assim, a frase - “Eu não vejo as ovelhas, mas elas estão ali” - foi repre- sentada da seguinte forma: a figura de uma pessoa (“Eu”), a mesma figura com os olhos cobertos (“não vejo”), duas ovelhas (“as ovelhas”), um dedo indicador e várias árvores atrás das quais podia-se ver as ovelhas “mas elas estão ali”). A frase - “Eu respeito você” - foi representada da seguinte maneira: uma cabeça (“Eu”), duas figuras humanas, uma das quais com um chapéu nas mãos (“respeito”) e outra cabeça (“você”)”. (p.80-81) A linguagem é um processo a construir na escola e na sociedade, a criança e o adolescente vive em um mundo de simbologias. O sistema da fala, rabiscos, pronúncia, palavras, desenhos e as escritas em geral linguagem lenta que deve ser acompanhadas por um adulto sociocultural. Todos são falantes natos e questionam. E com isso a eles tem que ser avaliados, instrumento para reflexão da prática docente.5 Aspectos históricos Antes de haver escola, já havia a arte e já havia a trans- missão dos conhecimentos artísticos pela tradição. Esse tipo de ensino de Arte predominou do período paleolítico, palco das primeiras manifestações artísticas, até o Renasci- mento. (OSINSKY, 2001). Nesse contexto, o conhecimento era transmitido pelos mais velhos para os mais jovens na atuação em atividades culturais da comunidade. As crian- ças participavam de todas as atividades como aprendentes dessa cultura sem que houvesse distinção entre fazeres de crianças e fazeres de adultos, pois para essas sociedades a ideia da infância, como uma fase distinta da fase adulta como temos hoje, ainda não existia (ARIÈS, 1981). Na história institucionalizada da educação escolar, a arte sempre se fez presente, e as intenções para o seu en- sino variaram de acordo com os princípios que a Escola as- sumia em cada época. Contudo, a significação para os usos que se fez da arte na educação não dependeu somente do papel que se atribuía à escolarização, pois o conteúdo e a própria história da Arte, 6 em sua amplitude de dimensões, permitiam que lhe fosse atribuída sentidos e funções dife- rentes. Segundo Biasoli (1999), ao longo do tempo, o conceito de Arte foi objeto de diferentes interpretações: arte como técnica, como produção de materiais artísticos, como lazer, como liberação de impulsos, como expressão, como lin- 5 Fonte: www.erra.multivix.edu.br - Por Adriana Castro Bonfante/Jéssica Fernandes/Rhamona Sales 18 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes guagem, como comunicação. Esses múltiplos entendimen- tos influenciaram e influenciam a prática de professores, no que se refere à proposição de atividades com linguagens artísticas na escola. Algumas destas concepções destaca- ram-se na história da Pedagogia e ainda hoje permeia o fazer docente nas escolas brasileiras. A proposição de atividades artísticas objetivando a re- produção de modelos tem subjacente a idéia de Ensino de Arte pautado pela concepção estética do belo, em que se busca alcançar o padrão artístico presente nas “obras de arte”, produzidas por uns poucos iniciados, às vezes consi- derados “gênios”. Ancorando-se nessa concepção de Arte e de seu ensino, o professor deveria incentivar seus alunos à reprodução dos padrões como forma de apropriação do conhecimento dessa área. Essa postura foi reforçada pelos ideais de educação da pedagogia tradicional, que prioriza- vam a memorização e reprodução de conhecimentos obser- vando padrões pré-estabelecidos. Dessa forma, as crianças deveriam apropriar-se desses padrões demonstrando sua aprendizagem, à medida que conseguiam reproduzi-los fielmente. O adulto, detentor do saber, incutiria na criança conhecimentos e valores morais aceitáveis socialmente, pois como ressalta Ferraz e Fusari (1993, p. 23): Na pedagogia tradicional o processo de aquisição dos conhecimentos é proposto através de elaborações intelec- tuais e com base nos modelos de pensamento desenvolvidos pelos adultos, tais com análise lógica, abstrata. Na prática, a aplicação de tais ideias reduz-se a um ensino mecaniza- do, desvinculado dos aspectos do cotidiano, e com ênfase exclusivamente no professor, que “passa” para os alunos “in- formações” consideradas verdades absolutas. [...] Nas aulas de Arte das escolas brasileiras, a tendência tradicional está presente desde o século XIX, quando predominava a teoria estética mimética, isto é, mais ligada às cópias do “natura” e com apresentação de modelos para os alunos imitarem. O ensino de Arte na pedagogia tradicional valorizava a transmissão do conteúdo de forma reprodutivista preocu- pando-se, sobretudo, com o produto do trabalho escolar. Esse produto demonstrava o quanto o aluno aprendeu do “fazer técnico e científico” dos conteúdos abordados. Questionando a pedagogia tradicional, os ideais de educação democrática do início do século XIX, aliados aos avanços da Psicologia, ganharam expressão no movimento do escolanovismo que propunha uma mudança de foco nos princípios e no fazer pedagógico. Contrapondo-se à escola tradicional, centrada na autoridade do professor e no ensino através da reprodução de conteúdos previamente definidos, a escola nova priorizava os interesses e necessidades do aluno, enfocando, principalmente, o seu processo de aprendizagem. Nesse contexto, concebe-se arte como um produto interno que reflete a organização mental, cuja finalidade, na escola é a de permitir que o aluno expresse seus sentimentos e libe- re suas emoções. A arte, portanto, não é ensinada, mas ex- pressada. A criança procura seus próprios modelos sem que o professor interfira diretamente no seu processo criador. O professor é tão somente um facilitador de experiências, que proporciona o ambiente necessário- situações e materiais- para o livre desenvolvimento das crianças. Sobre essas mu- danças na educação e no ensino de arte, Eliot Eisner afirma: [...] se antes a escola prestava pouca atenção às necessi- dades das crianças, os progressistas superenfatizavam aque- las necessidades; se as aulas tradicionais eram rigidamente organizadas, os progressistas eram excessivamente cautelo- sos com qualquer tipo de ordem; se a educação tradicional estava destinada aos objetivos pré-estabelecidos, os progres- sistas frequentemente deixavam as aulas fluírem; se a edu- cação tradicional negligenciava as particularidades indivi- duais dos educandos e seu desenvolvimento, os progressistas enfatizaram erroneamente a necessidade de ensinar apenas o que a criança queria aprender (Eliot Eisner. apud Barbosa, 1997, p. 81). No entanto, não foi somente a Educação e a Psicologia que influíram para construção de um outro olhar sobre o ensino de Arte, pois enquanto na educação, a Escola Nova se contrapunha à Escola Tradicional, no campo da Arte, os modernistas chamavam à atenção para a “Arte da crian- ça”, valorizando a originalidade e a qualidade expressiva das produções infantis edos povos aborígines. Alegavam eles, que a força criativa dessas produções se justificava por esses povos e as crianças não serem afetados pelas con- venções sociais e manterem assim, resguardados os canais puros da criatividade. A criatividade pura, livre das conven- ções, que era a meta dos artistas modernistas, acabou tam- bém por ser a meta para muitos professores progressistas. Nesse sentido, a educação centrada na criança e nos processos de aprender, influenciada por interpretações da Psicologia e aliada aos ideais modernistas da Arte, fomen- tou a ideia de que arte na escola serviria à auto - expres- são e que o professor não deveria intervir, pois o desen- volvimento do processo criador ocorreria naturalmente em experiências individuais de expressão da energia criativa intrínseca. A ênfase na expressão fez com que o ensino da arte priorizasse a atividade de liberação emocional e se vol- tasse, basicamente, para a construção afetiva, relegando, desse modo, os processos de cognição. Supervalorizava-se a Arte como livre expressão e o entendimento da criação artística como fator afetivo e emocional, em detrimento do pensamento reflexivo. A atividade artística, transformada assim em técnica para expressão de emoções e conflitos, acaba por distanciar os alunos do contato refletido com os elementos que compõem as linguagens artísticas, bem como da construção cultural que há em torno da Arte. Arte na escola tornou-se, principalmente, um fazer movido pela emoção. Na programação das escolas, as ciências faziam parte do universo cognitivo e a arte, do domínio das emo- ções e dos sentidos. A centralização das intenções para a presença da arte na escola, enquanto um “fazer” que possibilitava a expres- são de sentimentos, geralmente conduzia os professores a não se preocupar com intervenções no sentido de pro- piciar avanços no conhecimento da Arte. A educação não tinha como objetivo o acesso aos códigos de Arte não dis- poníveis no cotidiano dos alunos. Dessa maneira, o aluno não era, intencionalmente, levado a pensar sobre sua pro- dução em relação ao repertório cultural da Arte; nem era desafiado a construir novas relações para seu processo de criação e/ou de conhecimento da Arte. 19 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Os ideais escolanovistas8, tomados equivoca- damente ao extremo, fizeram com que, na escola, o olhar se voltasse apenas para os processos de apren- der, e que não mais se refletisse sobre a ação do pro- fessor, isto é, sobre o outro lado da moeda, o ensi- no. Contemporaneamente, a educação tem realizado o movimento de rever esses equívocos e considerar a influência do professor no processo de ensino e aprendizagem do aluno. É importante ressaltar que os ideais de educação democrática do escolanovismo não, necessariamente, pressupunham o trabalho com Arte voltado somente para a livre expressão. O educador norte americano John Dewey, importante referência quando o assunto é educação democrática e “Escola Nova”, se contra- põe ao conceito modernista de Arte somente como expressão, ao defender a Arte como experiência. A experiência é a interação da criatura viva com as condições que a rodeiam e está implicada no próprio processo de vida e, enquanto experiência, a Arte faz parte das relações que o homem estabelece com seu entorno. Nessa perspectiva, a Arte ganha um caráter prático e articula-se com a vida e a cultura. Na contemporaneidade, alguns princípios da edu- cação mudaram e na arte também ocorreram trans- formações conceituais. Ao contrário do modernismo, que valorizava, sobretudo a originalidade e indepen- dência em relação ao entorno, a arte contemporânea retoma a presença e a influência de imagens no ato criador. Imagens produzidas em determinada cultu- ra desencadeiam outros elementos aos processos de criação. Forja-se, desse modo, uma concepção de Arte que não nega a presença da história e da influência dos códigos culturais na criação artística. Como afir- ma Barbosa, apud Biasoli (1999 p. 90): “Na Pós Mo- dernidade o conceito de Arte está ligado à cognição, o conceito de fazer está ligado à construção, e o con- ceito do pensamento visual está ligado à construção do pensamento da imagem”. Barbosa (1998) sintetiza os princípios contem- porâneos de Ensino de Artes na Proposta Triangular, cujos eixos – leitura, contextualização e fazer artísti- co - se constituem em ações intercomplementares de aproximação ao conhecimento da arte. O entendimento de criança e de educação para infância também foi ressignificado na contemporanei- dade. A criança passou a ser percebida como um ser de direito, entre eles o direito ao acesso aos objetos culturais. É preciso considerar que ela atua sobre es- ses objetos culturais construindo significados e, por- tanto, conhecimentos. Mas, para que esse processo seja facilitado, é fundamental a mediação do adulto apresentando-lhe o que ainda não sabe, investindo na ampliação do olhar e atuação das crianças sob o seu entorno. No tocante aos objetos culturais da Arte, Barbosa (1991), tratando da linguagem plástica da arte, res- gata a importância da presença de imagens nos pro- cessos de ensino, para a formação do apreciador de arte. A exemplo dela, outros autores têm ressaltado os significados do contato com manifestações de arte em todas as linguagens.6 Entendendo o ensino de Arte na escola Para se entender o ensino de Arte na escola, é necessá- rio refletir sobre a tarefa da arte na sociedade contempo- rânea. Em que sociedade vivemos? Que conceitos de arte sobrevivem? Quais são as definições atuais de arte? Quan- do falamos de arte e sociedade, sobre qual concepção de arte e de sociedade falamos? Existe uma arte específica para uma determinada cultura? Ou para uma determinada classe social? A tradicional divisão entre arte popular e arte erudita ainda corresponderia à realidade? O que seria arte erudita? Ou o que seria uma arte popular? A arte popular não é para ser levada a sério? Serviria apenas para distrair o leitor/consumidor/ouvinte? Onde se estabelece o limite entre arte e não arte? Algumas definições de arte As definições mais conhecidas de arte, segundo Luigi Pareyson, poderiam ser reduzidas a três: a arte concebida como um fazer, como um conhecer e como um exprimir. O autor adverte, porém, que “estas diversas concep- ções ora se contrapõem e se excluem umas às outras, ora, pelo contrário, aliam-se e se combinam de várias maneiras” (apud FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 102). Na concepção de arte como fazer, destaca-se o seu “aspecto executivo, fabril, manual”, ou seja, arte como téc- nica, predominante na Antiguidade, quando, praticamente, não havia “distinção entre a arte propriamente dita e o ofí- cio ou a técnica do artesão” (ibid.). A segunda concepção, que interpreta a arte “como co- nhecimento, visão, contemplação”, entende-a “ora como a forma suprema, ora com a forma ínfima do conhecimento, mas, em todo caso, como visão da realidade: ou da realidade sensível na sua plena evidência, ou de uma realidade metafísi- ca superior e mais verdadeira, ou de uma realidade espiritual mais íntima, profunda e emblemática”. Segundo Pareyson, “o fato de se haver acentuado o caráter cognoscitivo e visivo, contemplativo e teórico da arte contribuiu para colocar em segundo plano seu aspecto mais essencial e fundamental que é o executivo e realizador, com grave prejuízo para a teoria e prática da arte” (apud Ferraz; Fusari, 2009, p. 104). Já a terceira concepção de arte, advinda do Romantismo, considera que “a beleza da arte” consiste “não na adequação a um modelo ou a um cânone externo de beleza, mas na be- leza da expressão, isto é, na íntima coerência das figuras artís- ticas com o sentimento que as anima e suscita” (ibid., p. 102). No decorrer do tempo, as concepções de arte como expressão se multiplicaram e se aprimoraram. Nas concep- ções atuais de arte, estão presentes as contribuições da Filosofia, da Sociologia e daAntropologia para o desloca- mento do foco das teorias estéticas não mais sobre a obra de arte, mas sobre as relações que as pessoas criam com os objetos e produções artísticas. 6 Fonte: www.ufrgs.br - Por Gilvânia Maurício Dias de Pon- tes 20 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Considerando a arte como um produto e construção sociocultural, Pareyson destaca que (...) a arte não é somente executar, produzir, realizar e o simples ´fazer´ não basta para definir sua essência. A arte é também uma invenção. Ela não é execução de qualquer coisa já ideada, realização de um projeto, produção segun- do regras dadas ou predispostas. Ela é um tal fazer, que enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer. A arte é uma atividade na qual execução e invenção procedem pari passu, simultâneas e inseparáveis, na qual o incremento de realidade é constituição de um valor original. Nela conce- be-se executando, projeta-se fazendo, encontra-se a regra operando, já que a obra existe só quando é acabada, nem é pensável projetá-la antes de fazê-la e, só escrevendo ou pintando, ou contando é que ela é encontrada e é concebi- da e é inventada (PAREYSON apud FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 105). Se arte é invenção, para Ferraz e Fusari (2009), ela é também “produção, trabalho e construção” já que a arte inclui “o artista, a obra de arte, os difusores comunicacio- nais e o público” (p. 56). Segundo as autoras, a concepção de arte está diretamente relacionada “com o ato de criação da obra de arte, desde as primeiras elaborações de forma- lização dessas obras até em seu contato com o público” (p. 56). Uma obra de arte é feita para ser vista, consumida, di- fundida no mundo cultural e num determinado contexto histórico-social. Por essa razão, a obra artística só se com- pleta “com a participação do espectador”, que recria “novas dimensões dessa obra a partir do seu grau de compreen- são da linguagem, do conteúdo e da expressão do artista” (FERRAZ; FUSARI, 2009, p.56). O principal sentido da obra de arte estaria, portanto, na “sua capacidade de intervir no processo histórico da so- ciedade e da própria arte e, ao mesmo tempo, ser por ele determinado, explicitando, assim, a dialética de sua relação com o mundo” (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 107). Funções sociais da arte A arte hoje tem muitas definições. Ela não é mais vis- ta no sentido clássico da arte do belo (SCHOPENHAUER), mas é também considerada em suas funções sociais. Para que serve a arte? Que funções se colocam para a arte na sociedade em que vivemos? A arte teria uma tarefa que iria além de ela ser ela mesma? Seguiria ela o mesmo princípio proposto por Gertrude Stein, “a rose is a rose is a rose” po- der-se-ia se dizer: arte é arte é arte e nada mais? Como lembram Ferraz e Fusari (2009, p. 101), “a arte está intimamente vinculada ao seu tempo, não podemos dizer que ela se esgote em um único sentido ou função. É por isso que, ao buscarmos definições para as artes, pode- mos esbarrar em conceitos até contraditórios e que foram incorporados pela cultura”. Ao procurar definir o conceito de música, por exemplo, Bohlman escreve: Música pode ser o que pensamos que seja: ou pode não ser. Música pode ser sentimento, sensação, sensualidade, mas também pode não ter nada a ver com emoção ou sen- sação física. Música pode ser aquilo para o qual alguns dan- çam ou fazem amor: mas, tal não é necessariamente o caso. Em algumas culturas há categorias complexas para pen- sar sobre música, em outras, parece nem haver a necessida- de de especular sobre música, contemplando-a (BOHLMAN, 1999, p. 17). O que se espera da música hoje? O que milhares de pessoas esperam é poder relaxar, buscar o prazer, ou mes- mo utilizá-la com fins terapêuticos. Música, nessa direção, tem o efeito de uma droga leve: ela ajuda a sair de um momento ruim, dá um consolo fugitivo, por permitir que se saia de si mesmo por um momento, como acontece nas festas raves ou na trance-music. Na necessidade da arte ou, entre os objetivos da arte colocados por Platão (políticoi- deológico) a Stockhausen (espiritual-terapêutico), existe, portanto, um amplo leque de possibilidades no qual a so- ciedade utilizou e utiliza a arte para diversos fins, inclusive os não artísticos. Assim, as artes também tornam-se um campo vasto de produções. Objetivos do ensino de Arte Pensar sobre os sentidos e funções da arte conduz ne- cessariamente ao conhecimento do próprio processo ar- tístico, que, como mencionado, inclui produtores/artistas/ autores; as obras/produtos artísticos; as formas de comuni- cação/distribuição/difusão e suas relações com o público/ plateia/apreciadores (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 57). A disciplina Arte deve garantir que os alunos vivenciem e compreendam aspectos técnicos, criativos e simbólicos em música, artes visuais, teatro, dança e suas intercone- xões. Para tal é necessário um trabalho organizado, consis- tente, por meio de atividades artísticas relacionadas com as experiências e necessidades da sociedade em que os alunos vivem. A arte pode favorecer a formação da identidade e de uma nova cidadania de crianças e jovens que se educam nas escolas, contribuindo para a aquisição de competên- cias culturais e sociais no mundo no qual estão inseridos. O objetivo a que se propõe o ensino de Arte, em toda a sua especificidade prevista na forma de lei, é essencial para a construção da cidadania. O ensino de Arte trata de re- lacionar sentimentos, trabalhar aspectos psicomotores e cognitivos, planejar e implementar projetos criativos e se engajar emocionalmente neles, num permanente processo reflexivo. Talvez mais que em outras disciplinas, no ensi- no de Arte, os alunos são obrigados a entrar em contato consigo mesmos, quando, por exemplo, criam uma coreo- grafia, realizam um jogo teatral, interpretam uma música ou apreciam um quadro. Isso não é nada menos do que formar a sua própria imagem de mundo, compreender a realidade. Revelar o potencial criativo para o desenvolvimento como ser humano, ampliar a capacidade de julgar e agir, ter responsabilidade, tolerância, consciência dos valores são alguns dos outros objetivos dessa disciplina. Diante da complexidade presente nas escolas, como problemas de violência, dificuldades de concentração e interesse dos alu- nos pelas aulas, as tarefas dos professores de Arte parecem crescer nesse espaço. Efetivamente, a arte pode ajudar nas diversas formas de trabalhos coletivos por meio dos quais os alunos, em grupos ou em equipes, podem definir eles 21 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes mesmos objetivos e, depois, chegar a resultados que foram trabalhados em conjunto. As competências de trabalhar em equipe, assumindo partes de tarefas independentes como a experiência de grupos vocais e instrumentais ou grupos teatrais e de dança, são competências que estão relacionadas com a metodologia de trabalho na área de Arte. Mas a arte permite também um trabalho individual que discute a tolerância, o exercício para com o outro. Esse trabalho pode promover a autoconfiança e a coragem de se mostrar. Geralmente, essas competências são ignoradas na escola, aparecendo em momentos pontuais e como de- coração do ambiente. O campo das arte é visto como um campo teórico-prá- tico. Ao invés de consumir grandes quantidades de conhe- cimento escolar, que será esquecido logo após as provas, o ensino de Arte reivindica para si, através de um trabalho prático, orientado para a ação, ancorar o conhecimento sensorial que envolve todos os sentidos: visão, tato, olfato, audição, gustação. Onde o ensino tradicional promove o pensamento linear, causal, a arte oferece o pensamento em rede, discursivo e trabalha com a inteligência emocional. A tentativa é a de superar um discurso modernista em que razão/sentimento, corpo/alma são tratados de uma forma dicotômica. Em resumo, o campo das artes oferece aos alunos oportunidades de realmente aprenderem para a vida. Issoocorre porque o ensino de Arte oferece um espaço de ex- periência. Quem é artisticamente criativo pratica o exercício da livre escolha. Aqueles que constroem modelos apren- dem a redesenhar o futuro, procuram novas soluções, exer- citam suas faculdades críticas na leitura de mundo. Vale ressaltar que essas competências deveriam estar no foco de toda a escola e não apenas no ensino de Arte e seus métodos, pois, caso contrário, o ensino de Arte pode se tornar uma ilha criativa no conjunto de disciplinas es- colares, deixando pouco espaço para uma aprendizagem orientada para a ação e para a compreensão por meio dos sentidos, uma aprendizagem vivencial. Aprender, nesse caso, significa sempre vincular questões de interesse da área com o interesse dos alunos. Questões básicas para o ensino de Arte Qual tem sido a realidade das escolas no ensino de Arte? Com a aprovação da Lei 9394/96, várias práticas de ensino de Arte foram adotadas. Levando em conta os pou- cos profissionais com habilitação na área, a pouca forma- ção específica dos professores regentes de classe, o pouco interesse e conhecimento das escolas, bem como os es- cassos recursos para a área, muitos professores ainda têm dificuldades em operacionalizar os objetivos propostos nos documentos curriculares sugeridos pelo MEC. Considerando que o tempo escolar e o tempo de aula são limitados e que existem saberes mais ou menos impor- tantes, a tarefa da didática e da organização de diretrizes curriculares é responder ao que deve e pode ser ensinado, isto é, que situações e problemas crianças e adolescentes vão confrontar. Os conteúdos de Arte nos Parâmetros Cur- riculares do Ensino Fundamental são propostos com base em três eixos norteadores: apreciação, produção e reflexão. Os eixos são diferenciados, apoiados nos objetivos de com- preender como a arte é constituída, criar e inventar novas rea- lidades e pensar a produção artística presente na realidade. Em relação ao primeiro objetivo, trata-se de com- preender qual realidade construímos com o mundo esté- tico, quais influências tem a arte na nossa visão pessoal e social de mundo, como fazemos nossas experiências nas artes e quais conhecimentos adquirimos. Para tal, o eixo inclui as questões da percepção, da cul- tura, da semiótica, das condições formais e estruturais dos diferentes meios de comunicação, da interpretação de ima- gens e obras de arte, das análises críticas de textos teatrais. Em relação ao objetivo de criar e inventar, trata-se de oferecer métodos, técnicas e estratégias para a formação e a criação de ambientes estéticos, de experiências per- ceptivas, ou seja, imagens, objetos, músicas, peças e jogos teatrais que podem ser produzidos. Visam ao desenvolvi- mento da criatividade. O objetivo de ensaiar as produções artísticas existentes diz respeito à compreensão de como determinados meios foram utilizados e que formas de arte estão disponíveis no acervo cultural da humanidade, que influenciaram e influenciam o mundo. Essa organização mostra que as aulas de Arte não se resumem a pintar um quadro ou cantar uma “musiquinha”. Projetos envolvendo arte e mídias, história da arte, elabo- ração de roteiros para filmes e outros campos interdisci- plinares são considerados. De uma forma sucinta, os do- cumentos apresentam alguns exemplos de conteúdos que podem ser trabalhados indicando como as intersecções entre eles podem ser feitas. Se de um lado esses parâmetros consolidaram, no país, a transição dos currículos produzidos durante o regime mi- litar para currículos mais democráticos, por outro, as novas direções propostas tiveram algumas dificuldades na implan- tação de estruturas do sistema escolar. Em geral, quem quer realmente fazer um bom trabalho em Arte nas escolas não consegue fazê-lo sem uma boa dose de dedicação e de en- gajamento pessoal. Isso pode ser traduzido em inúmeras ho- ras extras, em trabalho noturno e em finais de semana. Professores de Arte concordam que todas as séries do Ensino Fundamental deveriam ter como requisito mínimo duas horas por semana de aulas de Arte. Na prática, ain- da são poucas as escolas públicas que conseguem manter um oferecimento regular e qualificado na área de Artes. A diminuição da carga horária das aulas de arte e a dificul- dade dos professores em manter a disciplina como parte integrante do currículo contrastam com as tarefas cada vez mais abrangentes com que eles se defrontam em decor- rência da ampliação do conceito de arte. Hoje sabemos que devemos entender arte como um fenômeno social e em sua diversidade de manifestações. O fenômeno da hibridização cultural (GARCIA CANCLINI, 2000) se faz presente também no campo das artes, e é pre- ciso trazer essa questão quando se fala na permanência e na perpetuação de determinados repertórios. A chamada música clássica seria, por exemplo, uma das músicas dis- poníveis no acervo cultural da humanidade. Precisamos formar plateias para as diversas músicas entendendo que o trânsito entre elas está cada vez mais fluente. 22 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A variedade de possibilidades de conteúdos que o en- sino de Arte oferece reflete-se também nos métodos que podem ser aplicados. Entre eles Arte-educação; Ensinando através da arte; A experiência estética cotidiana; História da arte ou Multiculturalidade.7 Procedimentos pedagógicos em Arte: conteúdos, métodos e avaliação. Teoricamente as diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais para os conteúdos do ensino de arte, podem-se considerar satisfatórias, na prática quase sempre se termi- na por aceitar o que é proposto nas instituições de ensino. O assunto aponta para uma discussão que precisa ser en- carada com seriedade e discernimento por professores de arte, gestores, estudantes, no sentido de encontrar alter- nativas eficazes que permitam o resgate dos conteúdos e objetivos específicos ao ensino de arte. Ana Mae Barbosa (1978, p. 13) defende que os novos métodos de ensino de Arte não são resultantes simples- mente da junção da Arte e a Educação, muito menos da oposição entre elas, mas da sua interpenetração. O professor é o instrumento principal para as transfor- mações no Ensino de arte, ele é o diferencial, o colaborador para a eficácia do bom aproveitamento dos conteúdos. Se- gundo Barbosa (2008, p. 50) “Sua tarefa é oferecer a comida que alimenta o aprendiz é também organizar pistas, trilhas instigantes para descobertas de conhecimentos, pelos alu- nos e visitantes, alimentando-se também.” Como tal é ne- cessário que o ele, enquanto profissional entenda a impor- tância do seu posicionamento e compromisso face à ques- tão, buscando em parceria com as instituições de ensino possíveis soluções para a melhoria da qualidade do ensino. Face às questões que envolvem o Ensino de Arte em sua totalidade, o presente artigo objetiva analisar as difi- culdades de assimilação do conteúdo de Arte aplicado nos 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, a partir das diretrizes estabelecidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (conteúdos, relação teoria/prática, avaliação), proporcio- nando principalmente ao professor como sujeito, uma re- flexão na tentativa de conhecer e compreender o processo histórico, além de abrir portas para a discussão e reflexão na construção de um ensino de Ensino de Arte eficaz, pro- pondo alternativas com o intuito de contribuir na constru- ção de uma metodologia que atenda as expectativas tanto do que ensina como do que aprende, atentando que nesse processo tais papéis em determinado momento tendem-se a inverter. Conceituar arte e ensino de arte Ao conceituar arte devemos estar atentos da abran- gência de seu significado, é um conceito extremamente subjetivo e varia de acordo com a diversidade cultural, período histórico ou até mesmo o indivíduo em questão, conforme as necessidades de cada civilização. Não se trata de um conceito simples e ao longo dos anos, vários artistas, pensadores e críticosde artes se dedi- cam na busca de tal definição. 7 Fonte: www.portal.mec.gov.br – Por Jusamara Souza Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Por- tuguesa, a palavra arte é expressa em duas de suas defi- nições como “atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação”...; “a capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimentos ....”. Também segundo Bue- no (1986) arte é o «Conjunto de preceitos para a perfeita execução de qualquer coisa. Artifício, ofício, profissão; in- dústria; astúcia; habilidade; travessura; magia; feitiçaria; [...] complexo de regras e processos para a produção de um efeito estético determinado». Arte está presente na história da humanidade, des- de os primórdios em praticamente todas as manifestações culturais, os conhecimentos e descobertas apreendidos vão sendo passados de geração a geração, independente- mente de se fazer parte de um ensino formal ou informal, assim segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais a Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo. O ensino e a aprendizagem da arte fazem parte, “(...) de acordo com normas e valores estabelecidos em cada ambiente cultural, do conhecimen- to que envolve a produção artística em todos os tempos.” (BRASIL, 1997, p. 20). Não se nasce sabendo, a aprendizagem é um proces- so natural, o homem nasce, vive e cresce sempre apren- dendo e ensinando, esse aprendizado informal – conhe- cimento de mundo - em muito contribui no processo ensino-aprendizagem formal estabelecido nas escolas de ensino básico. A arte produzida pelos artistas e a função da arte na escola são objetos de estudos diferenciados, embora este- jam intimamente entrelaçados. Partindo do estabelece o os Parâmetros, a educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artís- tico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imagina- ção, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. Mudanças no Ensino de Arte O preconceito com o ensino de arte no Brasil des- de o reinado e império já era enfatizado, nesse contexto histórico havia a necessidade de se formar uma elite que defendesse a colônia dos invasores e que movimentas- se culturalmente a Corte, até então a Academia de Belas Artes, criada em 1816, com inicio de funcionamento dez anos mais tarde, constava na relação das primeiras insti- tuições de Ensino Superior. Na República a necessidade de uma elite que governasse o país guiou o pensamento educacional brasileiro, a partir daí, as faculdades de Direi- to, passaram a ser consideradas de maior importância do momento no cenário educacional (BARBOSA, 1978, p. 16). Com a república se fortaleceu o preconceito em relação ao ensino de arte, considerado objeto de adorno do Reinado e Império e como tal protegida. 23 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Partindo desse conhecimento, Barbosa (1978, p. 16) diz que tal preconceito veio acrescentar-se aos inúmeros pre- conceitos contra o Ensino da Arte sedimentados durante todo o século XIX, os quais de originaram dos aconteci- mentos que cercaram a criação da Academia Imperial de Belas-Artes, ou de elementos já assimilados pela nossa cul- tura, mas que a atuação da Academia fez vir a tona. Nos séculos que se sucederam ao Renascimento, arte e ciência eram cada vez mais consideradas como áreas de conhecimento totalmente diferentes, gerando uma con- cepção astuciosa, segundo a qual a ciência seria produto do pensamento racional e a arte, pura sensibilidade. Na verdade, nunca foi possível existir ciência sem imaginação, nem arte sem conhecimento. Tanto uma como a outra são ações criadoras na construção do devir humano. A Revolução Industrial trouxe em sua bagagem neces- sidades e com elas a preocupação com a arte-educação, Barbosa (1985, p. 23) diz que durante os dez anos após im- plantação do ensino de arte obrigatório no Brasil na escola de 1º e 2º graus e nos sete desses dez anos, a educação artística foi um caos, uma inutilidade, uma excrescência no currículo, com professores despreparados, deslocados e menosprezados pelo sistema escolar. No início da década de 70 autores responsáveis pela mudança de rumo do ensino de Arte nos Estados Unidos afirmavam que o desenvolvimento artístico é resultado de formas complexas de aprendizagem e, portanto, não ocor- re automaticamente à medida que a criança cresce; é tare- fa do professor propiciar essa aprendizagem por meio da instrução (BRASIL, 1997, p. 24) A partir daí já se pensava um ensino de arte sem a alienação proposta. Tais autores defendiam que o professor tem um importante papel nas orientações das habilidades artísticas desenvolvidas pelos alunos, que buscam meios para transformar idéias, senti- mentos e imagens num objeto material. A arte, a partir de 1971, durante a vigência da Lei nº 5.692, que reformou o ensino de 1º e 2º graus no Brasil, pas- sou a ser tratada como experiência de sensibilização e como conhecimento genérico, mas contraditoriamente, deixa de ser valorizada como conhecimento humano e histórico im- portante na educação escolar. (BRASIL, 2000, p. 47) O Ministério da Educação e Cultura (BRASIL, 1981, p. 09) a esse respeito enfatiza: A Educação Artística não de dirigirá, pois a um deter- minado terreno estético. Ela se deterá, antes de tudo, na expressão e na comunicação, no aguçamento da sensibili- dade que instrumentaliza para a apreciação, no desenvol- vimento da imaginação, em ensinar a sentir, em ensinar a ver como se ensina a ler, na formação menos de artistas do que de apreciadores de arte, o que tem a ver diretamente com o lazer - preocupação colocada na ordem do dia por sociólogos de todo o mundo, e com qualidade de vida. Ao professor cabia o papel de mero interlocutor e os PCN’s a esse respeito enfatizam: Ao professor destinava-se um papel cada vez mais ir- relevante e passivo. A ele não cabia ensinar nada e a arte adulta deveria ser mantida fora dos muros da escola, pelo perigo da influência que poderia macular a “genuína e es- pontânea expressão infantil”. O objetivo fundamental era o de facilitar o desenvol- vimento criador da criança. No entanto, o que se desenca- deou como resultado da aplicação indiscriminada de ideias vagas e imprecisas sobre a função da educação artística foi uma descaracterização progressiva da área. Tal estrutura conceitual foi perdendo o sentido, prin- cipalmente para os alunos. Além disso, muitos dos objeti- vos arrolados nos planejamentos dos professores de Arte poderiam também compor outras disciplinas do currículo, como, por exemplo, desenvolver a criatividade, a sensibili- dade, o autocontrole, etc. (BRASIL, 1997, p. 20,21). Quanto aos conteúdos e a formação profissional, se- gundo os PCN’s (Brasil, 2000, p. 47), pode-se constatar: O Ensino de Arte nas escolas passou a ser entendida como mera proposição de atividades artísticas, muitas ve- zes desconectadas de um projeto coletivo de educação es- colar e os professores deveriam atender a todas as lingua- gens artísticas (mesmo aquelas para as quais não se forma- ram) com um sentido de prática polivalente, descuidando- -se de sua capacitação e aprimoramento profissional. Não havia uma formação por parte dos professores no domínio de várias linguagens, que deveriam ser incluídas no conjunto das atividades artísticas (Artes Plásticas, Edu- cação Musical, Artes Cênicas). E durante a década de 70-80, a situação foi agravada, pois: (...) tratou-se dessa formação de maneira indefinida: “... não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendênciase dos interesses”. A Educação Artística de mostrava, em sua concepção e desenrolar, que o sistema educacional vigente estava enfrentando dificuldades de base na relação entre teoria e prática. (BRASIL, 1997, p. 24) A partir de então os professores, viram-se configura- dos em professores polivalentes (Artes Plásticas, Desenho, Música, Artes Industriais, Artes Cênicas) e para não ficarem a dever na aplicação da disciplina, deixaram sua áreas es- pecificas de estudo, assimilando, mesmo que superficial- mente as demais, ocorrendo assim a diminuição qualita- tiva dos saberes referente às especificidades de cada área. Barbosa (1989, p.22) diz que a chamada polivalência é, na verdade, uma versão reduzida e incorreta do principio da interdisciplinaridade (...). A partir dos anos 80 constitui-se o movimento Arte- -Educação, inicialmente com a finalidade de conscientizar e organizar os profissionais, resultando na mobilização de grupos de professores de arte, tanto da educação formal como da informal. (BRASIL, 1997, p.25) O movimento Arte-Educação permitiu a ampliação das discussões sobre a valorização e o aprimoramento do pro- fessor, que reconhecia o seu isolamento dentro da escola e a insuficiência de conhecimentos e competência na área, com o intuito de rever e propor novos rumos ao ensino de arte. Nesta mesma época, outro fator de mudança foram os novos posicionamentos sobre o ensino e aprendizagem de arte, bem como direcionamentos e fundamentações que passaram a alicerçar programas de pós-graduação em ar- te-educação e a difundir-se no país na década de 80, ini- ciando pela Universidade de São Paulo. (MEC, 2000, p. 47). 24 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Nesse contexto o que fica registrado nos Parâmetros Curriculares (Brasil, 2000, p. 47) é: A partir de Congressos Nacionais e Internacionais sobre Arte e Educação. Organizados pelas Universidades e pela Federação Nacional dos Arte-educadores do Bra- sil – FAEB (criada em 1987), passou-se então a discutir questões sobre o curso de arte, nas diversas linguagens artísticas, da pré-escola até a universidade, incluindo a formação de profissionais educadores que trabalham com arte (licenciados, pesquisadores, pedagogos coor- denadores de escola e de professores de Arte, alunos do Ensino Médio Magistério). Em grupo lutou-se para que a arte se tornasse presente nos currículos das escolas de Educação Básica no Brasil e fizesse parte da Lei de Dire- trizes e Bases da Educação Nacional de 1996. É neste cenário que se chegou ao final da década de 90, mobilizando novas tendências curriculares em Arte. “São características desse novo marco curricular as rei- vindicações de identificar a área por Arte (e não mais por Educação Artística) e de incluí-la na estrutura curricular como área, com conteúdos próprios ligados à cultura ar- tística e não apenas como atividade.” (BRASIL, 1997, p.25) “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alu- nos”. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 (Artigo 26, Parágrafo 2). E continuou se estudando e atuando para que a se tornasse um conhecimento cada vez mais fortalecido na educação, com qualidade e no mesmo patamar de igual- dade com os demais conhecimentos humanos, presentes na escola básica. (BRASIL, 2000, p. 47) A Constituição Federal de 1988 (art. 205), diz que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da famí- lia, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifica- ção para o trabalho.” Ainda no art. 211, estabelece que, “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino”. A LDB de 1996 (Artigo 26, Parágrafo 1), impõe que “Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características re- gionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.” E ainda que “Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especial- mente do Brasil.” O Artigo 9º, inciso IV da LDB estabelece, em cola- boração com os Estados, o Distrito Federal e os Municí- pios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegu- rar formação básica comum. Assim o PCN surge reforçando a LDB (1996), apoiado em normas legais, com o objetivo de dirimir os problemas encontrados no ensino básico, com vistas à transformação desse ensino em respostas as necessidades da sociedade brasileira. Os Parâmetros Curriculares (BRASIL 1997, p. 14) afir- mam que a LDB para dar conta desse amplo objetivo “con- solida a organização curricular de modo a conferir uma maior flexibilidade no trato dos componentes curriculares, reafirmando desse modo o princípio da base nacional co- mum (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser comple- mentada por uma parte diversificada em cada sistema de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210 da Consti- tuição Federal.” A Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001, aprova o Pla- no Nacional de Educação, que visa assegurar que em três anos, todas as escolas tenham formulado seus projetos pedagógicos, com observância das Diretrizes Curriculares para o ensino fundamental e dos Parâmetros Curriculares Nacionais. (SAVIANI, 2008, p. 288). Portanto, como a própria designação do termo, os PCN’s estabelecem diretrizes para elaboração dos con- teúdos no ensino fundamental, contudo os conteúdos preestabelecidos podem ser adequados à realidade esco- lar. “Mas, currículo pode significar também a expressão de princípios e metas do projeto educativo, que precisam ser flexíveis para promover discussões e reelaborações quando realizado em sala de aula, pois é o professor que traduz os princípios elencados em prática didática” (BRASIL, 1997, p. 49). Atualmente o que se pode verificar nas escolas de ensi- no básico é um ensino de arte aquém do objetivo proposto e aprovado. Partindo do pressuposto de que a disciplina arte não é importante para o currículo escolar e ainda, que não é necessária formação específica de profissionais na área, pode-se afirmar que há uma displicência quanto ao ensino de arte no contexto educacional e segundo Barbosa (1978, p.15) “o ensino artístico no Brasil só agora, e mui- to lentamente, se vem libertando do acirrado preconcei- to com a qual a cultura brasileira o cercou durante quase 150 anos que sucederam à sua implantação.” Tal colocação apesar do contexto de então, ainda prevalece como um pensamento para a realidade atual. A relação teoria e prática no ensino de arte O ensino de Arte, para alguns professores que minis- tram a disciplina nas escolas do Ensino Básico e até mesmo no pensamento de alguns gestores, resume-se em mo- mentos de lazer, produção de cartazes para as datas co- memorativas, murais para festas escolares. “sem falar nas inúmeras visões preconcebidas que reduzem a atividade artística na escola a um verniz de superfície, que visa as comemorações de datas cívicas e enfeitar o cotidiano es- colar.” Brasil (1997,p. 25) As atividades práticas nem sempre são trabalhadas no contexto do conteúdo, são atividades aleatórias utilizadas como passatempo para o aluno descarregar a tensão das horas dedicadas com afinco nas disciplinas julgadas indis- pensáveis. Ana Mae (208, p. 80) afirma que “a arte tem con- 25 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes teúdos específicos a oferecer (...) o aprendizado artístico compreendia mais do que a habilidade de utilizar materiaisde arte”, segundo a teórica o papel do professor deve ser ativo e exigente e não simplesmente um fornecedor de materiais e um apoio emocional. No ensino de Arte é inte- ressante aliar a teoria a pratica com o intuito de construir no discente um pensamento histórico critico, seguindo-se a essa prática a análise das obras e dos conteúdos. Quanto a relação teoria/prática os Parâmetros Curriculares Nacio- nais (BRASIL, 1997, p. 50) enfatizam: Na prática das salas de aula, observa-se que os ei- xos do produzir e do apreciar já estão de alguma maneira contemplados, mesmo que o professor o faça de maneira intuitiva e assistemática. Entretanto, a produção e a apre- ciação ganham níveis consideravelmente mais avançados de articulação na aprendizagem dos alunos quando estão complementadas pela contextualização. Nas aulas das escolas públicas, pode-se perceber uma defasagem nos conteúdos aplicados. Com base nos PCN’s (BRASIL, 1997, p. 26) verifica-se que: Em muitas escolas ainda se utiliza, por exemplo, o de- senho mimeografado com formas estereotipadas para as crianças colorirem, ou se apresentam “musiquinhas” indi- cando ações para a rotina escolar (hora do lanche, hora da saída). Em outras, trabalha-se apenas com a auto-ex- pressão; ou, ainda os professores estão ávidos por ensinar história da arte e levar os alunos a museus, teatros e apre- sentações musicais ou de dança. Os conteúdos mesmo abrangentes estão distantes do real entendimento e compreensão por parte dos alunos. Um dos maiores empecilhos é a ausência de materiais, co- meçando pela pequena quantidade de livros didáticos so- bre assunto, bem como a carência de cursos de formação continua e específicos na área, que compreendam todas as modalidades. O professor polivalente ainda inventa manei- ras maneira criativas para trabalhar, atitudes isoladas que segundo os PCN’s (BRASIL, 1997, p.26) “têm pouca oportu- nidade de troca, o que se realiza nos eventos, congressos regionais, onde cada vez mais professores se reúnem, mas aos quais a grande maioria não tem acesso.” A avaliação dos conteúdos “Avaliar implica conhecer como os conteúdos de Arte são assimilados pelos estudantes a cada momento da es- colaridade e reconhecer os limites e a flexibilidade neces- sários para dar oportunidade à coexistência de distintos níveis de aprendizagem em um mesmo grupo de alunos.” (BRASIL, 1997, p. 54) Há critérios específicos para avaliação e para tal o pro- fessor deve considerar e observar o aluno em sua totalida- de, os resultados obtidos, a compreensão dos conteúdos, a avaliação do outro, manifestando seu ponto de vista e também a auto- avaliação que deve ser orientada, fazendo com que o aluno possa expressar suas idéias, comparan- do-as com as idéias expressas pelos colegas. “O professor deve observar se o aluno articula uma resposta pessoal com base nos conteúdos estudados, que apresente coe- rência e correspondência com sua possibilidade de apren- der.” (BRASIL, 1997, p. 55). Segundo os PCN’s (idem, p. 56), “A avaliação em arte constitui uma situação de aprendizagem em que o aluno pode verificar o que aprendeu, retrabalhar os conteúdos, assim como o professor pode avaliar como ensinou e o que seus alunos aprenderam.” Para uma avaliação eficiente é necessário que ela seja realizada com base nos conteúdos, objetivos e orientação do projeto educativo na área concretizada em três momen- tos: antes, durante e ao término do conjunto de atividades, para diagnosticar o nível de conhecimento, identificar a in- teração do aluno com os conteúdos e analisar a assimila- ção do aprendizado. Barbosa (2008, p.14) defende que os poderes pú- blicos precisam propiciar meios para que os professores desenvolvam a capacidade de compreender, conceber e fruir arte. Sem a experiência do prazer da Arte por parte de professores e alunos, nenhuma teoria de Arte-Educação será reconstrutora. O professor precisa ser conhecedor dos conteúdos que transmite, pois segundo Barbosa (2008, p. 15) “A falta de uma preparação pessoal para entender Arte antes de ensiná-la é um problema crucial, nos levando mui- tas vezes a confundir improvisação com criatividade”. Ele precisa estar fundamentado para explicitar e discutir seus instrumentos, métodos e procedimentos de avaliação com a equipe da escola. “O professor precisa ser avaliado sobre as avaliações que realiza, pois a prática pedagógica é so- cial, de equipe de trabalho da escola e da rede educacional como um todo.” (Brasil, 1997, p. 57). Após análise dos estudos e opiniões, entende-se que é preciso uma reflexão sobre as atitudes, de todos os envolvidos e interessados no processo ensino aprendizagem. Entende-se que um problema só pode ser passível de solução quando o tomamos como nosso e no que se refere a Arte ou Ensino de Arte, não há como fugirmos deste contexto. Faz-se necessário rever as atitudes e postura ética diante da situação não es- quecendo a responsabilidade acadêmica, indispensável para o comprometimento com a qualidade do ensino, sempre enfa- tizando valores e princípios do profissional da educação, mais precisamente do profissional da educação em arte. Infelizmente, o que se verifica na conjuntura atual do ensino básico e não precisa ir tão longe, é uma postura apática e, no mínimo, displicente de alguns profissionais da educação. Não há uma preocupação por se modificar e até mesmo revolucionar o ensino de arte na escola formal, os Parâmetros estão aí, são subsídios aplicáveis, não pode- mos deixar de evidenciar que há realmente uma espécie de comodismo por parte de todos os profissionais (gestores, professores e autoridades responsáveis), mas, sobretudo aos professores cabe, lembrando a “postura ética”, não se deixar ser conduzido e sim contribuir com eficácia para a construção ou reconstrução de um ensino de arte não medíocre, a arte não é um mero instrumento de atrativos visuais para ornamentação de festas, mas como visto, ele- mento decisivo na formação de indivíduos influenciáveis socialmente. Barbosa (2008, p. 14), afirma que “Somente a ação inteligente e empática do professor pode tornar a Arte ingrediente essencial para favorecer o crescimento in- dividual e o comportamento de cidadão como fruidor de cultura e conhecedor de sua própria nação.” 26 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Ao analisarmos os conteúdos do ensino de arte, observarmos a riqueza que pode ser proporcionada ao aluno. Portanto é dever do professor identificar o pro- blema, não somente transmitir conteúdos, mas envolver o aluno em seu universo, exercitar a criatividade, esti- mular o pensamento crítico, tornar o ensino prazeroso, deixar nele um gosto de quero mais, estimular a capaci- dade criadora, conscientizá-lo como agente transforma- dor da sociedade e como tal sempre será um aprendiz. Ana Mae diz que a arte não pode se tornar algo sem vida, mecânico, como tem ocorrido com o que ensina- mos em todos os níveis de educação (2008, p. 82). E ainda que a criação de estruturas para os programas de arte e a busca da legitimidade acadêmica possa colocar em risco a magia da arte. Cabe ao professor, provocar interesse, curiosidade, entusiasmo, vontade de pesqui- sar, estímulo, amor pelo conhecimento e problematiza- ção do conteúdo, atitudes que na prática dificilmente acontece. Contudo o professor, além da metodologia neces- sita de parceiros para a obtenção de resultados sem- pre melhores. Nas escolas publicas os espaços não são adequados para a aplicação da disciplina. Para as aulas de dança e teatro, os espaços sempre são os improvisa- dos, Angela Carrancho defende o papel que a arte pode desempenhar na escola e reclama do espaço que não está reservado a ela na grade curricular e apresenta ra- zões para que os professores devam reivindicar. Quanto ao tempo disponibilizado a disciplina em detrimento as outras, é mínimo que na pratica resume-se a 45 minutos semanais, considerados insuficiente para uma discipli- na tão rica e abrangente,a esse respeito CARRANCHO (2006, p. 8), frisa “(...) essa atitude é iniciada pela grade escolar, que como o próprio nome indica, aprisiona a rotina escolar em tempos fragmentados de 40 a 50 mi- nutos.” O Ensino de Arte não está em menor nível a qual- quer outra disciplina do Ensino Fundamental, ao contra- rio a prática eficaz da mesma irá conduzir o aluno por caminhos da interdisciplinaridade. A perspectiva é que o ensino de Arte eficiente não fique restrito a debates inflamados nas academias, seminários, congressos en- tre outros e sim seja uma realidade evidente nas salas de aulas. Tal eficácia se dará através disponibilidade de materiais adequados para as aulas práticas, material di- dático de qualidade para dar suporte às aulas teóricas e da aplicação da disciplina por profissionais formados na área, bem como pelo comprometimento do profissional. Dentre as alternativas para melhoria do ensino as apresentadas neste trabalho é que se ampliem os es- paços e que os mesmos sejam apropriados, com pelos menos uma sala que abranja todas as modalidades do Ensino de Arte: artes visuais (bancadas, pia, armários, suportes), dança (barra, espelhos), música (instrumentos musicais, equipamentos de sons) e teatro. Ampliação do tempo/aula por semana, para melhor aplicação e assi- milação dos conteúdos, disponibilidade de materiais es- pecíficos da disciplina.8 8 Fonte: www.arcos.org.br – Por Francinely P Dinelly ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS Orientações didáticas para os cursos escolares de Arte referem-se ao modo de realizar as atividades e às interven- ções educativas junto dos estudantes nos domínios do co- nhecimento artístico e estético. São ideias e práticas sobre os métodos e procedimentos para viabilizar o aperfeiçoa- mento dos saberes dos alunos em Arte. Mas não são quais- quer métodos e procedimentos e sim aqueles que possam levar em consideração o valor educativo da ação cultural da arte na escola. As orientações didáticas referem-se às escolhas do professor quanto aos conteúdos seleciona- dos para o trabalho artístico em sala de aula. Referem-se aos direcionamentos para que os alunos possam produzir, compreender e analisar os próprios trabalhos e apreender noções e habilidades para apreciação estética e análise crí- tica do patrimônio cultural artístico. A didática do ensino de Arte manifesta-se em geral em duas tendências: uma que propõe exercícios de repetição ou a imitação mecânica de modelos prontos, outra que trata de atividades somente auto estimulantes. Ambas fa- vorecem tipos de aprendizagens distintas que deixam um legado empobrecido para o efetivo crescimento artístico do aluno. Em arte as estratégias individuais para a concretização dos trabalhos são um fato; além disso, os produtos nunca coincidem nos seus resultados. Para o aluno compreender e conhecer arte e seus processos de criação, torna-se por- tanto um excelente modelo de referência e faz parte da orientação didática. As atividades propostas na área de Arte devem garan- tir e ajudar as crianças e jovens a desenvolverem modos interessantes, imaginativos e criadores de fazer e de pen- sar sobre a arte, exercitando seus modos de expressão e comunicação. Os encaminhamentos didáticos expressam, por fim, a seriação de conteúdos da área e as teorias de arte e de educação selecionadas pelo docente. Criação e aprendizagem O processo de conhecimento na área artística se dá especialmente por meio da resolução de problemas, as- sim como nas outras disciplinas do currículo escolar. Quais questões devem ser propostas para os alunos durante sua aprendizagem artística, ou, dito de outro modo, o que é resolver problemas em arte? A partir da reflexão sobre essa pergunta, são apresentados alguns pontos que visam orientar os professores de Arte na compreensão das tare- fas e papéis que podem desempenhar a fim de instrumen- talizar o processo de aprendizagem dos alunos. Pode-se identificar duas classes de problemas que fazem parte do conjunto de atividades da área artística: — Problemas inerentes ao percurso criador do aluno, ligados à construção da forma artística, ou seja, à criação, envolvendo questões relativas às técnicas, aos materiais e aos modos pessoais de articular sua possibilidade expres- siva às técnicas e aos materiais disponíveis, organizados numa forma que realize sua intenção criadora. No percurso criador específico da arte, os alunos estabelecem relações entre seu conhecimento prévio na área artística e as ques- 27 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes tões que um determinado trabalho desperta, entre o que querem fazer e os recursos internos e externos de que dis- põem, entre o que observam nos trabalhos dos artistas, nos trabalhos dos colegas e nos que eles mesmos vêm realizando. Estabelecem relações entre os elementos da forma ar- tística que concorrem para a execução daquele trabalho que estão fazendo, como, por exemplo, as relações entre diferentes qualidades visuais, sonoras, de personagens, de espaço cênico, etc. Além disso, tomam decisões e fazem escolhas quanto a materiais, técnicas, instrumentos mu- sicais, tipos de personagens e formas de caracterizá-los e assim por diante. São questões que se apresentam durante sua ativida- de individual ou grupal, que mobilizam o conhecimento que têm dos conteúdos de Arte, suas habilidades em de- senvolvimento, sua curiosidade, segurança ou insegurança interna para experimentar e correr riscos, suas possibilida- des de avaliar resultados, o contato significativo com suas necessidades expressivas, sua percepção com relação aos passos de seu processo de criação, sua sensibilidade para observar e refletir sobre seu trabalho e seguir os cami- nhos que este lhe suscita, sua disponibilidade para convi- ver com a incerteza e o resultado não-desejado e muitas outras possibilidades que fazem parte de todo processo de criação. O professor precisa compreender a multiplicidade de situações-problema que podem ocorrer das mais diversas maneiras e se apresentam a cada aluno em particular, se- gundo seu nível de competência e as determinações inter- nas e externas de um momento singular de criação, dentro de seu processo de aprender a realizar formas artísticas. — A aprendizagem dos alunos também pode se dar por meio de uma outra classe de problemas, inerente às propostas feitas pelo professor, que caracterizam uma in- tervenção fundamentada em questionamentos como par- te da atividade didática. Tal intervenção pode ocorrer em vários aspectos dessa atividade, antes e durante o proces- so de criação artística dos alunos e também durante as ati- vidades de apreciação de obras de arte e de reflexão sobre artistas e outras questões relativas aos produtos artísticos. É importante esclarecer que a qualidade dessa inter- venção depende da experiência que o professor tem, tanto em arte quanto de seu grupo de alunos. É fundamental que o professor conheça, por experiência própria, as ques- tões que podem ocorrer durante um processo de criação, saiba formular para si mesmo perguntas relativas ao co- nhecimento artístico e saiba observar seus alunos durante as atividades que realizam, para que esse conjunto de da- dos conduza suas intervenções e reflexões. É nisso que reside a diferença entre uma intervenção mecânica, artificial, “programada”, ou que visa apenas tes- tar o nível de conhecimento imediato dos alunos, que é, enfim, fruto da aplicação de uma técnica que por si mesma orienta o trabalho dos alunos para a vivência de proble- mas e um outro tipo de interferência que leva em consi- deração o conjunto de dados, fazendo parte, portanto, da interação entre o professor e seus alunos na produção de um conhecimento vivo e significativo para ambos. A intervenção do professor abarca diferentes aspectos da ação pedagógica e caracteriza-se como atividade cria- dora, tendo como princípio que ele é antes de mais nada um educador que intencionalmente cria, sente, pensa e transforma. Estão relacionadas aseguir algumas situações em que a intervenção do professor pode se dar, apresenta- das como orientações didáticas para seu trabalho. A organização do espaço e do tempo de trabalho É importante que o espaço seja concebido e criado pelo professor a partir das condições existentes na escola, para favorecer a produção artística dos alunos. Tal concep- ção diz respeito: • à organização dos materiais a serem utilizados dentro do espaço de trabalho; • à clareza visual e funcional do ambiente; • à marca pessoal do professor a fim de criar “a estética do ambiente”, incluindo a participação dos alunos nessa proposta; • à característica mutável e flexível do espaço, que per- mita novos remanejamentos na disposição de materiais, objetos e trabalhos, de acordo com o andamento das ati- vidades. Um espaço assim concebido convida e propicia a cria- ção dos alunos. Um espaço desorganizado, impessoal, re- pleto de clichês, como as imagens supostamente infantis, desmente o propósito enunciado pela área. A criação do espaço de trabalho é um tipo de intervenção que “fala” a respeito das artes e de suas características por meio da or- ganização de formas manifestadas no silêncio, em ruídos, sons, ritmos, luminosidades, gestos, cores, tex- turas, volumes, do ambiente que recebe os alunos, em con- sonância com os conteúdos da área. Um bom planejamento precisa garantir a cada modali- dade artística no mínimo duas aulas semanais, em sequên- cia, a cada ano, para que o aluno possa observar conti- nuidade e estabelecer relações entre diversos conteúdos, tanto em relação aos conceitos da área quanto ao próprio percurso de criação pessoal. Por exemplo, se Artes Visuais e Teatro forem eleitos respectivamente na primeira e segun- da séries, as demais formas de arte poderão ser abordadas em alguns projetos interdisciplinares, em visitas a espetá- culos, apresentações ou apreciação de reproduções em ví- deos, pôsteres, etc. A mesma escola trabalhará com Dança e Música nas terceira e quarta séries, invertendo a opção pelos projetos interdisciplinares. Os instrumentos de registro e documentação das atividades dos alunos Neste plano, o professor também é um criador de for- mas de registrar e documentar atividades. Tais registros desempenham um papel importante na avaliação e no desenvolvimento do trabalho, constituin- do-se em fontes e recursos para articular a continuidade das aulas. São, dentre outros, relatos de aula, as observa- ções sobre cada aluno e sobre as dinâmicas dos grupos, a organização dos trabalhos realizados pelos alunos segun- do critérios específicos, as perguntas surgidas a partir das propostas, descobertas realizadas durante a aula, os tipos 28 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes de documentação, propostas de avaliação trabalhadas durante as aulas e as propostas de registros sugeridas pelos alunos, tais como fichas de observação, cadernos de percurso, “diários de bordo” e instrumentos pes- soais de avaliação. A pesquisa de fontes de instrução e de comuni- cação em arte Outra vez se estabelece o caráter criador da ati- vidade de pesquisa do professor. Trata-se da neces- sidade de buscar elementos disponíveis na realidade circundante que contribuam para o enriquecimento da aprendizagem artística de seus alunos: imagens, tex- tos que falem sobre a vida de artistas (seus modos de trabalho, a época, o local), levantamento sobre artistas e artesãos locais, revistas, vídeos, fitas de áudio, cas- setes, discos, manifestações artísticas da comunidade, exposições, apresentações musicais e teatrais, bem como acolhimento dos materiais trazidos pelos alunos. A história da Arte O professor precisa conhecer a História da Arte para poder escolher o que ensinar, com o objetivo de que os alunos compreendam que os trabalhos de arte não existem isoladamente, mas relacionam-se com as ideias e tendências de uma determinada época e lo- calidade. A apreensão da arte se dá como fenômeno imerso na cultura, que se desvela nas conexões e in- terações existentes entre o local, o nacional e o inter- nacional. A percepção de qualidades estéticas O professor precisa criar formas de ensinar os alu- nos a perceberem as qualidades das formas artísticas. Seu papel é o de propiciar a flexibilidade da percepção com perguntas que favoreçam diferentes ângulos de aproximação das formas artísticas: aguçando a percep- ção, incentivando a curiosidade, desafiando o conheci- mento prévio, aceitando a aprendizagem informal que os alunos trazem para a escola e, ao mesmo tempo, oferecendo outras perspectivas de conhecimento. A produção do professor e dos alunos O professor na sala de aula é primeiramente um observador de questões como: o que os alunos que- rem aprender, quais as suas solicitações, que materiais escolhem preferencialmente, que conhecimento têm de arte, que diferenças de níveis expressivos existem, quais os mais e os menos interessados, os que gostam de trabalhar sozinhos e em grupo, e assim por diante. A partir da observação constante e sistemática desse conjunto de variáveis e tendências de uma classe, o professor pode tornar-se um criador de situações de aprendizagem. A prática de aula é resultante da com- binação de vários papéis que o professor pode desem- penhar antes, durante e depois de cada aula. Antes da aula: • o professor é um pesquisador de fontes de infor- mação, materiais e técnicas; • o professor é um apreciador de arte, escolhendo obras e artistas a serem estudados; • o professor é um criador na preparação e na orga- nização da aula e seu espaço; • o professor é um estudioso da arte, desenvolvendo seu conhecimento artístico; • o professor é um profissional que trabalha junto com a equipe da escola. Durante a aula: • o professor é um incentivador da produção indivi- dual ou grupal; o professor propõe questões relativas à arte, interferindo tanto no processo criador dos alunos (com perguntas, sugestões, respostas de acordo com o conhecimento que tem de cada aluno, etc.) quanto nas atividades de apreciação de obras e informações sobre artistas (buscando formas de manter vivo o interesse dos alunos, construindo junto com eles a surpresa, o mistério, o humor, o divertimento, a incerteza, a questão difícil, como ingredientes dessas atividades); • o professor é estimulador do olhar crítico dos alu- nos com relação às formas produzidas por eles, pelos colegas e pelos artistas e temas estudados, bem como às formas da natureza e das que são produzidas pelas culturas; • o professor é propiciador de um clima de trabalho em que a curiosidade, o constante desafio perceptivo, a qualidade lúdica e a alegria estejam presentes junto com a paciência, a atenção e o esforço necessários para a con- tinuidade do processo de criação artística; • o professor é inventor de formas de apreciação da arte — como, por exemplo, apresentações de trabalhos de alunos — e de formas de instrução e comunicação: visitas a ateliês e oficinas de artesãos locais, ensaios, ma- neiras inusitadas de apresentar dados sobre artistas, es- colha de objetos artísticos que chamem a atenção dos alunos e provoquem questões, utilizando-os como ele- mentos para uma aula, leitura de notícias, poemas e con- tos durante a aula; • o professor é acolhedor de materiais, ideias e su- gestões trazidos pelos alunos (um familiar artesão, um vi- zinho artista, um livro ou um objeto trazido de casa, uma história contada, uma festa da comunidade, uma música, uma dança, etc.); • o professor é formulador de um destino para os trabalhos dos alunos (pastas de trabalhos, exposições, apresentações, etc.); • o professor é descobridor de propostas de traba- lho que visam sugerir procedimentos e atividades que os alunos podem concretizar para desenvolver seu processo de criação, de reflexão ou de apreciação de obras de arte. Assim, exercícios de observação de elementos da natu- reza ou das culturas, por exemplo, podem desenvolver a percepção de linhas, formas, cores,sons, gestos e cenas, o que contribuirá para o enriquecimento do trabalho artístico dos alunos; • o professor é reconhecedor do ritmo pessoal dos alunos, o que envolve seu conhecimento da faixa etária do grupo e de cada criança em particular; 29 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes • o professor analisa os trabalhos produzidos pelos alunos junto com eles, para que a aprendizagem também possa ocorrer a partir dessa análise, na apreciação que cada aluno faz por si do seu trabalho com relação aos dos demais. Depois da aula: • o professor é articulador das aulas, umas com relação às outras, de acordo com o propósito que fundamenta seu trabalho, podendo desenvolver formas pessoais de articu- lação entre o que veio antes e o que vem depois; • o professor é avaliador de cada aula particular (con- tando com instrumentos de avaliação que podem ocorrer também durante o momento da aula, realizados por ele e pelos alunos) e do conjunto de aulas que forma o processo de ensino e aprendizagem; tal avaliação deve integrar-se no projeto curricular da sua unidade escolar; • o professor é imaginador do que está por acontecer na continuidade do trabalho, com base no conjunto de da- dos adquiridos na experiência das aulas anteriores. As atitudes dos alunos Durante o trabalho, o professor mostra a necessidade de desenvolvimento de atitudes não como regras exterio- res, mas como condições que favorecem o trabalho criador dos alunos e a aprendizagem significativa de conteúdos. O respeito pelo próprio trabalho e pelo dos outros, a organização do espaço, o espírito curioso de investigar possibilidades, a paciência para tentar várias vezes antes de alcançar resultado, o respeito pelas diferenças entre as habilidades de cada aluno, o saber escutar o que os ou- tros dizem numa discussão, a capacidade de concentra- ção para realização dos trabalhos são atitudes necessárias para a criação e apreciação artísticas. É importante que o professor descubra formas de comunicação com os alunos em que ele possa evidenciar a necessidade e a significação dessas atitudes durante o processo de trabalho dos alunos. Arte e os Temas Transversais A área de Arte, dada a própria natureza de seu objeto de conhecimento, apresenta-se como um campo privile- giado para o tratamento dos temas transversais propostos nestes Parâmetros Curriculares Nacionais. As manifestações artísticas são exemplos vivos da di- versidade cultural dos povos e expressam a riqueza criado- ra dos artistas de todos os tempos e lugares. Em contato com essas produções, o aluno do ensino fundamental pode exercitar suas capacidades cognitivas, sensitivas, afetivas e imaginativas, organizadas em torno da aprendizagem ar- tística e estética. Ao mesmo tempo, seu corpo se movimen- ta, suas mãos e olhos adquirem habilidades, o ouvido e a palavra se aprimoram, enquanto desenvolve atividades nas quais relações interpessoais perpassam o convívio social o tempo todo. Muitos trabalhos de arte expressam questões humanas fundamentais: falam de problemas sociais e polí- ticos, de relações humanas, de sonhos, medos, perguntas e inquietações de artistas, documentam fatos históricos, ma- nifestações culturais particulares e assim por diante. Neste sentido, podem contribuir para uma reflexão sobre temas como os que são enunciados transversalmente, propician- do uma aprendizagem alicerçada pelo testemunho vivo de seres humanos que transformaram tais questões em pro- dutos de arte. Com relação ao tema Pluralidade Cultural, por exem- plo, o professor poderá investigar como integrá-lo na apre- ciação estética dos alunos, buscando maneiras de estudar as manifestações artísticas como exemplos de diversidade cultural. Assim como no plano da experiência mais imediata dos alunos, uma classe é feita de diferentes crianças; no plano da realidade estética, um trabalho de arte é feito da arti- culação entre os elementos diversos que o compõem. Do mesmo modo, no plano da realidade sociocultural, o Brasil é um país onde existem diferentes regiões, cada uma com sua cultura local. E o mundo é feito de diferentes países com suas formas culturais específicas. A partir dessa visão, que universaliza a questão em estudo, os alunos podem transitar de sua experiência particular para outras e vice- -versa, compreendendo o conceito de pluralidade cultural como parte da vida das comunidades humanas. É impor- tante mobilizar a curiosidade dos alunos sobre contrastes, contradições, desigualdades e peculiaridades que integram as formações culturais em constante transformação e as distinguem entre si, por meio da escolha de trabalhos ar- tísticos que expressem tais características. O universo da arte popular brasileira, por exemplo, envolve cantigas e folguedos, contos tradicionais, danças, textos escritos (como a literatura de cordel), cerâmica uti- litária e ornamental, tecidos e uma infinidade de objetos que são diferentes em cada região do Brasil. São formas de arte que expressam a identidade de um grupo social e não são nem mais nem menos artísticas do que as obras produzidas pelos grandes mestres da humanidade. O pro- fessor pode descobrir, em primeiro lugar para si mesmo, o valor e a riqueza das manifestações artísticas brasileiras na sua variedade. Além disso, pode encontrar, na arte local de sua comunidade, uma fonte inestimável de aprendizagem para seus alunos. O professor pode tanto apresentar formas artísticas a partir de sua pesquisa pessoal como solicitar dos alunos dados sobre a arte produzida na sua comunidade. Esse tipo de trabalho pode dar condições para que os alunos se percebam como produtores de cultura, ao mesmo tempo que desenvolvem uma compreensão de códigos culturais. Uma atividade de intercâmbio entre escolas de diferentes regiões brasileiras possibilitará aos alunos criarem conjun- tos de textos e imagens para contar às crianças de outros lugares como é seu repertório cultural: suas brincadeiras, suas cantigas ou que tipo de arte se desenvolve na sua comunidade. Na tarefa de seleção dos trabalhos de arte a serem utilizados, tanto brasileiros quanto de outros povos, con- temporâneos ou de outras épocas, é importante que o professor tenha em mente a vinculação de tais trabalhos com os grupos humanos que os produziram, ressaltando os componentes culturais neles expressos: os diversos mo- dos de elaboração de artistas, diferentes materiais, valores, época, lugar, costumes, crenças e outras características que se manifestam nesses trabalhos. 30 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Uma constante na história de arte é a representação da figura humana. As obras de arte que apresentam relações humanas entre homens e mulheres, mães/pais e filhos, me- ninos e meninas, existem nas mais variadas formas: pintu- ras, gravuras, esculturas, canções sobre heróis e heroínas, pontos, peças de teatro. Por meio da apreciação dessas obras, o professor poderá nortear discussões com os alu- nos, tendo como referência perguntas tais como: “O que é um menino? Uma menina? Um pai? Uma mãe?”, “Existem atributos masculinos e femininos?”, “Como se expressam nas obras observadas?”. Poderia observar como as crianças experimentam e expressam esses atributos corporalmen- te, como dão significados, na sua faixa etária, às diferen- ças sexuais, como representam essas diferenças nas suas atitudes, conversas e produções artísticas. A partir dessas observações, poderá nortear tanto a escolha de obras a se- rem trazidas para a classe, como também propostas de tra- balho a serem desenvolvidas pelos alunos. É importante a escolha de produções de arte que possibilitem um diálogo entre os alunos a partir do que as obras provocam neles; se uma obra mostra, por exemplo, um casal de namorados, pode trazer à tona a concepção que têm de um homem e uma mulher, possibilitando que sua aprendizagem inclua as dimensões culturais, afetivas e sociais da sexualidade. Cria-se um espaço onde os alunos possamformular ques- tões, dentro de sua experiência pessoal, em conversa com a experiência do artista, ressignificando valores transmiti- dos pelo processo de socialização no que diz respeito a esse tema. As obras de arte podem também contribuir para am- pliar as dimensões da compreensão dos alunos sobre a sexualidade humana, quando documentam ações de ho- mens e mulheres em diferentes momentos da história e em culturas diversas: no intercruzamento do tema Pluralidade Cultural com o de Orientação Sexual, outra vez os alunos podem transitar pelas diferenças, o que contribui para o aprofundamento de conceitos e a formação da opinião particular de cada um. Uma outra dimensão que faz parte das manifestações artísticas é a expressão das características do ambiente em que foram produzidas. O ponto de partida do professor, focalizando generi- camente a relação dos seres vivos com seu meio, tal como se expressa nas manifestações artísticas, abre perspectivas para a escolha de propostas para produção e apreciação de obras artísticas nas quais: • haja elementos para uma reflexão sobre ambientes naturais e construídos, urbanos e rurais, físicos e sociais; • esses elementos permitam uma discussão sobre a harmonia e o equilíbrio necessários para a preservação da vida no planeta; • seja possível reconhecer modos como as manifesta- ções artísticas intervêm no ambiente natural; • seja possível observar espaços, formas, sons, cores, movimentos, gestos, relacionados ao ambiente em que fo- ram produzidos: em cidades do sul do Brasil as casas são réplicas de construções europeias; os povos nômades e os esquimós produzem um tipo de arte que resulta também das condições do seu ambiente. Trabalho por projetos Uma das modalidades de orientação didática em Arte é o trabalho por projetos. Cada equipe de trabalho pode eleger projetos a serem desenvolvidos em caráter interdisciplinar, ou mesmo referentes a apenas uma das formas artísticas (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro). O projeto tem um desenvolvimento muito particu- lar, pois envolve o trabalho com muitos conteúdos e organiza-se em torno de uma produção determinada. Um projeto caracteriza-se por ser uma proposta que favorece a aprendizagem significativa, pois a estrutura de funcionamento dos projetos cria muita motivação nos alunos e oportunidade de trabalho com autonomia. Em um projeto, professores e alunos elegem os produtos a serem realizados que se relacionam aos conteúdos e objetivos de cada ciclo. Os professores planejam situações de aprendizagem para o grupo, se- guindo alguns critérios: • eleição de projetos em conjunto com os alunos; • participação ativa dos alunos em pesquisas e pro- duções de referenciais ao longo do projeto em formas de registro que todos possam compartilhar; • práticas de simulação de ações em sala de aula que criam correspondência com situações sociais de aplicação dos temas abordados, por exemplo, dar um seminário como se fosse um crítico de arte, opinar so- bre uma peça apresentada como se estivesse falando para uma emissora de TV em programa de notícias cul- turais; • eleição de projetos relacionados aos conteúdos trabalhados, com o objetivo de estruturar um produto concreto, como um livro de arte, um filme, a apresenta- ção de um grupo de música. Os projetos também são muito adequados para que se abordem as formas artísticas que não foram eleitas no currículo daquele ciclo. Um cuidado a ser tomado nos trabalhos por pro- jetos é não deixar que seu desenvolvimento ocupe to- das as aulas de um semestre; deve-se circunscrever seu espaço nos planejamentos, pois projetos lidam com conteúdos variados e não permitem o trabalho apro- fundado com todos os conteúdos necessários a serem abordados em cada grau de escolaridade. Na prática, os projetos podem envolver ações en- tre disciplinas, como, por exemplo, Língua Portuguesa e Arte, ou Matemática e Arte e assim por diante. Os con- teúdos dos temas transversais também são favoráveis para o trabalho com projetos em Arte. O ensino fundamental permite que as áreas se in- corporem umas às outras e o aluno possa ser o princi- pal agente das relações entre as diversas disciplinas, se os educadores estiverem abertos para as relações que eles fazem por si. Os projetos devem buscar nexos na seleção dos conteúdos por série, enquanto as relações entre os distintos conhecimentos são realizadas pelo aluno. Cabe à escola dar-lhe essa oportunidade de li- berdade e de autonomia cognitiva.9 9 Fonte: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/arte.pdf 31 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A ARTE E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA. Pensar a Arte-cidadania significa refletir sobre o lugar da arte em nosso mundo, sob uma perspectiva abrangente e democrática, que reconhece indivíduos e comunidades como agentes da construção de nossa diversidade cultu- ral e que reitera a importância da participação cultural na conquista das autonomias individuais e coletivas. Significa considerar um novo campo para a política pública de cul- tura no país. “ A arte e sua influência na sociedade e na cultura Pela arte, pensamentos tomam forma e ideais de cultu- ras e etnias têm a oportunidade de serem apreciados pela sociedade no seu todo. Assim, o conceito de arte está li- gado à história do homem e do mundo, porém não está preso necessariamente a determinado contexto, é essen- cialmente mutável. Para exemplificar, voltemos algumas décadas no tem- po e analisemos como a arte era entendida antigamente. Como será que nossos bisavôs definiriam a arte? Possivelmente, na época, fosse difícil pensar em uma arte digital, ou no desenvolvimento de uma ciberarte (ma- nipulação das novas tecnologias e mídias atuais para a construção de objetos artísticos), mas hoje esse fator é de- terminante para compreendermos a arte num sentido mais amplo e completo. Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade está marcada pelos desafios políticos, econômicos e sociais decorrentes de uma nova configuração da realidade, em que campos da atividade humana, estão utilizando inten- samente as redes de comunicação e a informação compu- tadorizada (SANTOS, 2006). O conceito de obra de arte é uma construção social, não pode ser um trabalho isolado. A arte possibilita um diálogo com quem a observa, cria situações que podem se tornar desafiantes para o apreciador e, algumas vezes, os materiais utilizados na própria composição propõem uma reflexão sobre o significado da arte. Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo de arte. Porque a função da arte varia de acordo com as exigências colocadas pela nova sociedade; porque uma nova sociedade é governada por um novo esquema de condições econômicas; e porque mudanças na organiza- ção social e, portanto, mudanças nas necessidades objeti- vas dessa sociedade, resultam em uma função diferente de arte (KOELLREUTTER, 1997). Contudo, a arte está ligada aos fatores históricos e so- ciais, mas dialoga ativamente com nossa sociedade, crian- do os estilos de época, e acompanhando a evolução do homem e da tecnologia. Quando se lida com as formas em artes visuais con- vive-se habitualmente com as relações entre superfície, espaço, volume, linhas, cores e a luz. Cada um desses ele- mentos tem suas próprias possibilidades expressivas e são ricos em significados, tanto em si mesmo como em relação aos demais. E todos eles são intermediados pelos autores e observadores ao se utilizarem de métodos e técnicas es- pecíficas para produzi-las e percebê-las (SANTOS, 2007). Ressalta-se ainda o valor de uma educação da práxis artística, preocupada com o aprofundamento de conceitos, critérios e processos, considerando o universo de visuali- dade do mundo contemporâneo e a complexidade do dis- curso visual, e nesse contexto, promovendo a ampliação e enriquecimento dos repertórios sensível-cognitivos, apro- fundando os modos de ver, observar, expressar e comuni- car por meio de imagens, sons ou movimentoscorporais. Muitas vezes, o primeiro contato que os indivíduos têm com a arte é na escola, nas aulas de arte, obrigatórias no currículo do ensino fundamental. Espera-se que os estu- dantes, nestas aulas, vivenciem intensamente o processo artístico, a fim de contribuir significativamente em seus modos de fazer técnico, de representação imaginativa e de expressividade. Ao mesmo tempo, espera-se também que aprendam sobre os artistas e obras de arte de diferentes períodos, complementando assim seus conhecimentos na área. Mas, será possível que o professor de artes trabalhe com as funções terapêuticas do fazer artístico? O professor pode explorar, estudar e se especializar em arteterapia e, na medida do possível, conversar sobre as produções de seus alunos, se algum caso chamar sua aten- ção e ele não conseguir dar conta em sala, é aconselhável que ele faça o encaminhamento do aluno para um atendi- mento psicológico. A arte foi e é sinônimo de expressão de sentimentos, emoções, revoltas, traumas... Nossa forma de ver a arte ou de fazer arte revela a compreensão que temos do mundo.10 A arte como instrumento político-pedagógico Talvez o fato de as teorias pedagógicas encontrarem-se distanciadas do mundo social cotidiano tenha colaborado para que os espaços de educação passassem a ser vividos como um privilégio, dos eleitos, dos intelectuais, dos mes- tres que distribuem seu saber àqueles que “nada sabem”. Isso nos remete àquela figura do professor catedrático que, do alto da sua tribuna, profetiza para os discípulos as verdades sobre o mundo. Verdades que só aqueles que de- senvolveram seus saberes em universidades, em especiali- zações, concluem como ninguém e que, como vanguarda e guardiões do saber têm o dever nobre e a legitimidade, quase natural de as repassarem para os “homens comuns”, quase sempre considerados “sem sabedoria”. E foi exatamente assim que o espaço da aprendizagem veio se constituindo ao longo dos séculos XIX e XX, no Bra- sil. Professores corporativizaram o saber em tomo da sua profissão e afastaram-se do cotidiano, do mundano, que também é, sem dúvida, um grande espaço de educação e de aprendizagem. Comprometendo-se em reproduzir as normas e os va- lores formais presentes nas estruturas da formação da so- ciedade brasileira e seguindo os Planos Nacionais de Edu- 10 www.portaleducacao.com.br 32 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes cação (PNE), educadores esqueceram-se de que deveriam desempenhar um papel importante na mediação entre Es- cola e Sociedadel Comunidade. Esse esquecimento não se deu por vontade individual, ma’) sim pelo próprio “lugar” de onde estavam falando. Convém dizer que o “lugar” representa mais do que uma simples fala, representa uma carga cultural e ideológica im- portantíssima para a relação ensino-aprendizagem. Neste sentido, o cotidiano de cada sujeito “aprendi- z-ensinante” é um espaço de ressignificação de todos os conteúdos apreendidos, de maneira formal, nas institui- ções de ensino e é “ali fora” que essas reelaborações se tomam momentos de transformação e construção, assim como de intolerância e de simples reproduções, depen- dendo da forma como são reelaboradas. O fato é que os educadores contemporaneamente dis- cutem sob a luz de teorias como a de Paulo Freire ou a de Morin, a necessidade de reincorporar às práticas educati- vas esse cotidiano que também é aprendizado. A prática educativa proposta pelas metodologias de arte-educação demonstra que à medida que nos aproxi- mamos de outras formas de conhecimento que não a for- mal, abrimos a possibilidade para outras formas de relação entre escola e aluno, pois cada conhecimento não-formal, incorporado nos espaços formais de educação, represen- ta a potencialidade de transformar o “mundo da vida” de cada um daqueles que aprendem. Essa relação estabele- ce-se por uma relação de respeito mútuo e íntima com o outro. Essa relação íntima passa pelo prazer de “estar no lu- gar”. Esse prazer de estar ali intercambiando conhecimen- tos e histórias é o que conduz a prática educativa a uma pedagogia não mais punitiva, castradora e repressiva das expressividades que estão para além da escrita. Não restam dúvidas de que as complexidades que emergiram com a sociedade globalizada trouxeram para a educação uma série de questionamentos no que tangencia o seu papel, assim corno também ao que realmente envol- ve o espaço educativo. Com a emergência da sociedade moderna, viu-se crescer, cada vez mais, a importância da educação corno aquela que possibilita ao ser humano o acesso ao conhecimento, cada vez mais racional, corno fer- ramenta imprescindível para sua participação, de maneira plena, na sociedade capitalista de bens e serviços. A educa- ção passou a ser vista corno um elemento fundamental de abertura para o progresso, bem corno para o encaixe dos indivíduos na sociedade moderna, entendida corno urna sociedade dotada de racionalidade, que por muitas vezes se confunde com racionalização, por não obter a capaci- dade de dialogar com a realidade, ignorando “os seres, a subjetividade, a afetividade e a vida irracional”. De fato, a educação passou a ser o elemento-chave para a ascensão e para a aquisição de status, ainda que, e hoje se pode afirmar isso, esse estatuto e a possibilidade de mobilidade social ficaram restritos à ideia de que cada indivíduo, diante das oportunidades dadas pela sociedade liberal, deveria tomar-se um perito em alguma especialida- de, e essa mesma especialidade lhe determinaria o lugar a ser ocupado socialmente. O problema é que a decisão por uma dada especialida- de acabou colonizando todos os espaços da vida humana, que não necessariamente apresentam, em suas relações e construções sociais, a ideia presente na especialização. Se ela foi importante para a fundamentação de uma ciência racional, o impacto dessa racionalidade, nas outras esfe- ras das relações humanas, criou um estatuto seletivo que tornou insignificantes e menores os saberes pautados em lógicas afetivas e culturais. A racionalização da experiência pedagógica não permitiu a inclusão da afetividade e do desejo nas práticas de aprendizagem. Criou-se, para essas esferas, um estatuto inferiorizado. E a arte é representativa desses saberes inferiorizados. Des- sa maneira, durante um bom curso de nossa vida, na lógica da modernidade racional, foi disseminada a ideia de que só o saber cientificamente construído é dotado de legiti- midade cognitiva. Ora, parece hoje, em um mundo globalizado de forma não homogênea, que o contato entre diferentes culturas e o apelo por respeito à diversidade cultural e pela intercul- turalidade trouxeram à tona are-significação da construção do saber e do conhecimento. Será que o conhecimento construído a partir da espe- cialização científica é o único dotado de verdade? Será que o conhecimento tem que necessariamente ser “duro”, es- tanque e uniforme? Será que apenas uma pequena parcela da humanidade tem a prioridade e o privilégio de construir as ideias sobre as coisas e os homens? Será que não po- demos revelar o mundo por meio da música, da poesia, do movimento do corpo, do verso, da rima, da brincadeira, do místico, do alternativo? Será que o lúdico não pode tam- bém ser uma maneira legítima de conhecer? Graças a uma característica intrinsecamente humana, o indivíduo constrói-se a si mesmo a partir das necessidades e problemas que lhe são postos, e assim busca soluções nos mais variados campos. Não deixaria de ser verdade, então que aque- le indivíduo, destituído das construções explicativas a partir da racionalidade científica, encontra meios de elaborar e reelaborar o conhecimento tendo corno referência o chão onde pisa. Há algo de rico no senso comum que reelabora o cien- tífico, e não só o contrário. Aqui, descobre-se que a estrada é de mão dupla e que o sujeito que aprende é sujeito que ensina, e o que ensina, naturalmente, aprende nessa rela- ção.Nasce assim, o sujeito “aprendiz-ensinante”. Nesse sentido defendemos urna escola ‘’fora do lugar”, isto é, uma escola em que os conteúdos, corno os raios de um círculo misterioso, atinja todas as partes do mundo social, mas cujo centro apresenta-se em lugar algum. Urna escola que interaja e inclua a realidade cotidiana em seus aprendizados e que construa esse novo caminho em parce- ria com os jovens e outros educadores da cidade. Vivendo a tensão do paradoxo proposto acima e na contracorrente dos que se mantêm na tradição de ênfase na escrita, entendemos a importância contemporânea de urna “escola descentrada”, isto é, fundada em diferentes lu- gares, linguagens e estéticas, tal corno proposto por cubis- tas corno Picasso, que, em 1904, sugeriu um novo olhar: sem um ponto de vista único, mas diverso, reunindo numa mesma imagem a colagem de vários pontos de vista. 33 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Somente na perspectiva interdiscursiva e dialógica, de estarmos falando não de um lugar, no “entre” de um lugar onde o sentido seja partilha verbo-visual, teremos possibi- lidade de apreender o real, metaforicamente simbolizado pela criança que, na parábola de viagem de colégio de in- terior ao litoral, dirigiu-se à professora e de mão estendida pediu: “-Tia, me ajuda a olhar esse mar, ele é tão grande ... “. Nesta perspectiva, o papel de educadores, seria o de tomar essa criança pelas mãos e auxiliá-la a ver o mar e o resto do mundo por diversos caminhos, possibilitando a ela a descoberta do seu caminho! A arte-educação promove o desenvolvimento humano, pois permite novas formas de pensar, agir, conviver, co- nhecer e produzir a partir de uma linguagem que não abor- ta o mundo sensível. Desta forma, a partir de uma pedago- gia que considera o diálogo, o desejo e a emoção como construtores da socialidade cotidiana, busca-se construir uma convivência sempre com pés fincados na ética e na estética, ou seja, respeitando aquilo que une, e que “for- ma” a subterraneidade, não apenas na aparência, mas nos interstícios históricoculturais. Poder ser negro, branco, índio, por exemplo, e não precisar se afirmar numa identidade universal, mas sim po- der viver desenvolvendo a potencialidade de suas diversas identificações. A busca pelo despertar das potencialidades humanas. Essa busca baseia-se numa reconstrução da cidadania, na qual o cidadão é diferenciado tanto do consumidor como do indivíduo passivo diante do Estado de Direito. A cidada- nia, neste sentido, é pensada como a representação do indi- víduo na cidade. A cidade, vista como o lugar da reunião, da religação, das trocas socioculturais e da ação política. E essa representação política do indivíduo constitui- -se de realidade concreta, de sonhos e de desejos que são estimulados pelas inter-relações estético-comunicativas considerando as diversidades culturais que se apresentam no cotidiano da cidade. Neste aspecto, a formulação do que seja “ser cidadão” é mutável e construída a partir do desejo e dos valores presentes em determinado momento histórico. Contrapõe-se ao modelo de sociedade que utiliza do desenvolvimento económico para estabelecer os parâme- tros educacionais (seja na escola ou fora dela). Os modelos de aprendizagem e conhecimento das sociedades ociden- tais refletem uma ética utilitária voltada a garantir a “cons- trução de cidadãos” que se posicionam nas relações socio- políticas como se posicionam diante das escolhas merca- dológicas. As escolhas são “ensinadas”, promovidas, sob a lógica de interesses baseados na tríade saber-produzir-pos- suir, distanciando-se da relação conhecer-conviver-ser que está no cerne de nossa discussão. (BRANDÃO, 2(02) A pedagogia aqui proposta diferencia-se das metodo- logias educacionais das escolas formais por estar ancora- da na relação conhecer conviver-ser. O conhecimento neste caso não se reduz a um saber técnico racional, mas é um conhecimento que se desenvolve a partir do momento em que há uma abertura para o outro, para a compreensão do outro (seja ser humano ou natureza) que conduza o indiví- duo a uma prática reflexiva crítica. O mais relevante não é o progresso do saber, mas a liberdade em compreender para retornar a si mesmo de uma forma mais consciente. E essa consciência de si e do outro implica em lidar conscientemente com as qualidades racionais, emocionais e afetivas. Segundo Carlos Brandão (2002, p.65), “toda educação cidadã começa por um aprender a sair-de-si-mesmo em direção ao outro”, e isso é possível com a ampliação de “círculos e circuitos interativos de diálogos”. Neste sentido, a educação “serve à comunicação e ao que ela constrói en- tre as pessoas”. A ampliação de “círculos e circuitos” de diálogos entre jovens faz parte desta metodologia, em que o exercício de “sair de si” em direção ao outro funciona como prática políti- ca para atingir em conjunto, por meio da experiência de estar fazendo parte de um movimento social, direitos para todos. Esse diálogo construtor de cidadania propõe a crítica ao modelo “puramente crítico”, disseminando uma ética baseada na solidariedade, na diversidade e no desejo de transmutar a realidade social, e essa transmutação ocorre com o prazer de se relacionar pela arte. Arte que possibilita estar em comunhão consigo e com “o outro”. A arte transforma-se na principal via de comunicação. Comunicação que representa o espaço em que acontece a relação ensino-aprendizagem que também é estética. Es- tética que engendra comunhão, que entrelaça, e conjuga, fundando o sentido do que é comum, auxiliando no pro- cesso de compreensão. O que pode haver, então, de mais importante que o paroxismo da razão (racionalismo) como norte educativo? A resposta que se propõe é: o paroxismo da natureza hu- mana. Re-encantamento do mundo, consideração plena pela alteridade, observação do melhor das tradições (refle- xo do melhor do homem), busca filosófica -e não exclusiva- mente científica -pelos sentidos da vida. A educação tem, permanentemente, de retomar à natureza humana inscrita nas matérias culturais, refazendo o percurso originário do conhecimento e da compreensão. É o esforço educativo de, com o aluno, fazer nascer o saber via conhecimento. É esfor- ço de com o aluno pegar a experiência e transformá-la em sentido e responsabilidade, ação compreensiva dinâmica e ininterrupta que busca não confundir formação humana com acúmulo intelectual ou mera preparação profissional. A discussão proposta trouxe como objetivo dialogar com preocupações que permeiam a “pedagogia do desejo e do re- conhecimento”. Esta é compreendida como uma pedagogia que utiliza do encantamento e da beleza para atingir o “Ser”, promovendo um sentido diferenciado das pedagogias até en- tão experimentadas nos cotidianos das escolas formais, habi- tuadas a formar crianças e jovens para uma sociedade em que aprender relaciona-se diretamente com possuir, ou seja, que prioriza o aprender-para-produzir-para-possuir, baseando-se no Ter e não no Ser como finalidade última humana. Daí, também a importância de que o professor pegue junto com o aluno e manuseie os objetos desvelando suas possibilidades, indo do concreto ao abstrato; de que se co- loque, então, no lugar do outro, transmitindo a importância da compreensão como norte de uma postura humana que leva em conta o aspecto relacional, a dialogia. 34 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Ele deve diferenciar-se da postura autoritária que des- considera os interesses originais dos alunos pelo conhe- cimento e impõe uma cultura científica racionalista que, a princípio, não pode ser vista pelos alunos como dizendo respeito à sua realidade. Que ele tenha em mente o desa- fio imposto pelas diferenças entre as subjetividades tradi- cionais e as subjetividades contemporâneas, estas últimas, subjacentes à atitude e comportamento do jovem, e con- templadas pela passagem da modernidade à “pós-moder- nidade”,tempos do efémero, dos valores fluidos, do co- nhecimento descartável, da velocidade técnica, de etcéteras que fazem do processo educativo uma constante aventura em novos territórios imaginários e exigem dos educadores atenção sócioantropológica. Diante disso tudo, o professor deve enfatizar aqui- lo que não é efémero porque é permanente, a natureza humana (a intencionalidade e o desejo pelo bem) que se materializa mesmo nessas caracterizações pós-modernas. Dessa natureza, ele pode desenvolver a importância de transmitir um percurso racional correto, correspondente à intencionalidade inseparável da experiência vivencial, isto é, impregnada de afetos, desejos, sonhos ...11 A importância da Arte na Educação – vida plena à cidadania Através da experimentação dos sentimentos e das emoções, a arte auxilia no encontro da identidade pessoal no mundo em que se vive. Durante este processo, o indiví- duo não apenas entra em contato com o mundo sensorial, mas simultaneamente desenvolve e educa seus sentimen- tos através da prática dos símbolos artísticos. A Arte é a expressão da vida que, associada ao pro- cesso de criação, transforma-se na capacidade de exercer plenamente a condição de ser humano. A Arte favorece o desenvolvimento integral do indivíduo, possibilitando a expressão livre do pensamento e das emoções, desenvol- vendo seu raciocínio com criatividade e imaginação. Crian- do, o indivíduo torna-se mais seguro dos seus potenciais e consciente dos seus limites; torna-se mais autêntico e livre para fazer suas escolhas. A Arte protagoniza as mudanças sociais e o proces- so de construção da sociedade. Na Educação, ela forma um cidadão consciente, crítico e participativo, capaz de compreender a realidade em que vive. A ação educativa da Arte tem como objetivo a preparação do jovem para a vida plena da cidadania, buscando a formação de cidadãos que possam intervir na realidade, podendo ser considerada como um instrumento de transformação social. Ao longo da vida, o ser humano é inundado por conhe- cimentos pré-fabricados, como “receitas de bolo”, trans- mitidos de maneira hermética. Todos os instrumentos de uma vida prática parecem imunes às livres reproduções de valores, idéias e ideais. Havendo apenas uma repetição, não há espaço para os sonhos, fantasias e experimentação. Não sobra lugar para criar, ocasionando uma transmissão de respostas prontas e conservadas. Sem a oportunida- de de realizar algo novo, que exprima simplesmente o que nós realmente somos, há o contínuo exercício das respos- 11 Fonte: www.feata.edu.br tas determinadas e acabadas. O ato criador é renegado, abandonado e esta postura repetitiva cerceia a capacidade criadora, reflexiva e sensorial. O uso da Arte na Educação aponta para um cenário em que as respostas moldadas e impermeáveis não podem mais ser seguidas por pontos finais. Devem, sim, serem levadas para “seres humanos pensantes”, que possam re- construí-las e adaptá-las às suas realidades e às suas ne- cessidades. A Arte na Educação busca a intensificação do interesse por novas criações, pela reflexão e pelo desen- volvimento de uma capacidade crítica, visando à formação de sujeitos ativos e autênticos. É exatamente neste sentido que a Arte na Educação atua como veículo de transforma- ção e um canal para o vislumbre de novas possibilidades, novos horizontes. O aluno deve ser trabalhado na sua totalidade: corpo, mente e espírito. Através desse processo, ele automatica- mente vê a razão sob uma nova ótica. Na verdade, a inser- ção da Arte na Educação propõe uma releitura integral e profunda do processo de aprendizagem, e não apenas de forma verborrágica. Educar com Arte significa educar através do contato com o outro, do despertar dos sentimentos e da troca. É sair de si mesmo para enxergar o outro. O que se almeja é que a descoberta interiorizada de sentimentos reais evolua para a externalização dos mesmos de maneira consciente e enga- jada. O Teatro, por exemplo, é uma das manifestações artís- ticas que consegue trabalhar o indivíduo e, principalmente, o coletivo, além de possibilitar o conhecimento histórico e cultural da sua existência passada e contemporânea. É importante ressaltar que o objetivo da Arte na Educação não é formar artistas, mas sim indivíduos conscientes e ap- tos a exercerem a cidadania, desenvolvendo suas capacidades de reflexão e crítica. Certamente, na nossa existência, um dos maiores presentes que temos é a nossa própria capacidade de pensar, de elaborar… Por isso deve-se estimular sempre a criação, invenção, produção, reconstrução e reinvenção. A Arte na Educação refere-se ao desenvolvimento das aptidões e potencialidades de cada indivíduo. O aluno não pode ser manipulado como objeto. Deve ser tratado como ser humano único, próprio, espontâneo e com diferenças individuais que anseiam por se manifestar. O ser humano não pode ser encarado como uma máquina copiadora, mas como algo novo, extraordinário e excepcional. Não pode ser moldado ou sufocado, mas orientado para expor toda a sua originalidade, sua criatividade, reflexão, sua tendência para a liberdade, para a auto-criação, sua capacidade de auto-limitar-se e de aspirar, e o seu poder de inquietação interior que o impele até mesmo para o transcendental. Ao invés de se desenvolver trabalhos impessoais, onde o educando apenas recria e transcreve as técnicas apren- didas, a Arte o estimulará a se retratar em suas produções artísticas. Desta maneira, o educando é capaz de manifes- tar a sua própria realidade, com todos os seus conflitos e desejos. Essa possibilidade que se abre contribui em muito para o amadurecimento do indivíduo, para o seu auto-co- nhecimento, para o despertar dos seus sentimentos, para a manifestação de suas próprias opiniões e, principalmente, para o verdadeiro sentido do “viver em grupo”. 35 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A cada dia a nossa dura realidade se mostra mais co- tidiana. As marcas da injustiça, do sofrimento e das trai- ções, feitas ao direito de ser, são cada vez mais simples e normais. E o futuro? Este então é definido como algo sem saída. Completamente imutável. Devemos saber dos acontecimentos como possibi- lidades, mas nunca como limites definitivos ou intrans- poníveis. O papel do cidadão não pode ser apenas o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém. Não podemos ser apenas objetos da Histó- ria. Devemos ser sujeitos ativos. Ninguém pode estar no mundo de uma forma neutra, passiva, de braços cruza- dos. A chave que tanto procuramos está e sempre estará nas mãos de cada um. Chegou a hora de transformar. De transformar com Arte. Faz-se necessário mudar!12 A Importância do Ensino de Artes na Formação Humana Trabalhar arte na educação escolar demanda requerer seleção dos professores em termos de propostas, esco- lhas, estando essas diretamente relacionadas aos conhe- cimentos que possuem sobre arte, educação, aprendi- zagem na instituição escolar e os propósitos da escola na vida dos alunos, todas as áreas de conhecimento são importantes na formação humana, pois, cada uma traz para a humanidade várias contribuições, intervenções didáticas, os documentos que norteiam e direcionam os conteúdos do ensino de artes sobre nossa prática for- mação na elaboração de projetos e ações de intervenção pedagógica. A arte tem a função tão importante quanto os outros conhecimentos no processo de ensino e apren- dizagem. Desse modo, a introdução da atividade de artes aju- da no desenvolvimento do pensamento artístico, físico, intelectual dos alunos buscando uma relação do ensino e aprendizagem de artes com as práticas desenvolvidas nas aulas do fundamental I, onde o aluno amplia a percep- ção, a reflexão e a imaginação. O contexto sobre o ensino fundamental nos Parâmetros Curriculares nacionais tem como objetivo formar alunos capazes de compreender e participar do mundo social e democrático, respeitandoseus direitos e deveres. Mostrando ser responsável e es- tabelecer críticas construtivistas através de diálogos. Ter conhecimento sobre as características do Brasil suas culturas e identidade, valorizando sem discrimina- ção social, racial, sexual e contribuir com a melhoria am- biental da nação brasileira. Desenvolver conhecimento pessoal sobre capacidades física, afetiva, ética. Valorizar e cuidar da saúde e qualidade de vida no individual e co- letivo. Utilizar intelectualmente as diferentes linguagens verbais, corporal, matemática, plástica e gráfica, recursos tecnológicos para valorizar a construção do conhecimen- to. Questionar formulando problemas e resolução para os mesmos com pensamento lógico e criativo. Conforme Vygotsky (1999): “A arte é o social em nos, e o seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isto não significa, de maneira nenhuma, que suas raízes e es- sência sejam individuais”. (p.315) 12 Por Vivian Lacerda Nesta concepção, a arte é concebida como ação huma- na intencional que recria a realidade material e transforma o próprio sujeito, sob a concepção social e histórica do psi- quismo, um resultado imediato dessa concepção reside em não se compreender a arte como fruto de um homem só, o artista, mas como um objeto cultural, elaborado sob dada técnica construída socialmente e com temática para obje- tivar os sentimentos e, entendemos as demais capacidades mentais tipicamente humanas. Pela interação social, apren- demos e nós desenvolvemos, criamos novas formas de agir no mundo, ampliando nossas ferramentas de atuação. A criança e o adolescente é um ser em constante mo- bilidade e utiliza dela mesma para ter conhecimentos da- quilo que os cercam. Contudo, abordarmos o ensino de Arte e percebemos que foram inúmeras as tendências que influenciaram o ensino e aprendizagem da disciplina ao longo de sua história.13 AS DIVERSAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS: ESTÉTICA - CONCEITOS E CONTEXTOS. Pela arte, pensamentos tomam forma e ideais de cultu- ras e etnias têm a oportunidade de serem apreciados pela sociedade no seu todo. Assim, o conceito de arte está li- gado à história do homem e do mundo, porém não está preso necessariamente a determinado contexto, é essen- cialmente mutável. Para exemplificar, voltemos algumas décadas no tem- po e analisemos como a arte era entendida antigamente. Como será que nossos bisavôs definiriam a arte? Possivelmente, na época, fosse difícil pensar em uma arte digital, ou no desenvolvimento de uma ciberarte (ma- nipulação das novas tecnologias e mídias atuais para a construção de objetos artísticos), mas hoje esse fator é de- terminante para compreendermos a arte num sentido mais amplo e completo. Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade está marcada pelos desafios políticos, econômicos e sociais decorrentes de uma nova configuração da realidade, em que campos da atividade humana, estão utilizando inten- samente as redes de comunicação e a informação compu- tadorizada (SANTOS, 2006). O conceito de obra de arte é uma construção social, não pode ser um trabalho isolado. A arte possibilita um diálogo com quem a observa, cria situações que podem se tornar desafiantes para o apreciador e, algumas vezes, os materiais utilizados na própria composição propõem uma reflexão sobre o significado da arte. Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo de arte. Porque a função da arte varia de acordo com as exigências colocadas pela nova sociedade; porque uma nova sociedade é governada por um novo esquema de condições econômicas; e porque mudanças na organiza- 13 Fonte: www.erra.multivix.edu.br - Por Adriana Castro Bon- fante/Jéssica Fernandes/Rhamona Sales 36 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes ção social e, portanto, mudanças nas necessidades objeti- vas dessa sociedade, resultam em uma função diferente de arte (KOELLREUTTER, 1997). Contudo, a arte está ligada aos fatores históricos e so- ciais, mas dialoga ativamente com nossa sociedade, crian- do os estilos de época, e acompanhando a evolução do homem e da tecnologia. Quando se lida com as formas em artes visuais con- vive-se habitualmente com as relações entre superfície, espaço, volume, linhas, cores e a luz. Cada um desses ele- mentos tem suas próprias possibilidades expressivas e são ricos em significados, tanto em si mesmo como em relação aos demais. E todos eles são intermediados pelos autores e observadores ao se utilizarem de métodos e técnicas es- pecíficas para produzi-las e percebê-las (SANTOS, 2007). Ressalta-se ainda o valor de uma educação da práxis artística, preocupada com o aprofundamento de conceitos, critérios e processos, considerando o universo de visuali- dade do mundo contemporâneo e a complexidade do dis- curso visual, e nesse contexto, promovendo a ampliação e enriquecimento dos repertórios sensível-cognitivos, apro- fundando os modos de ver, observar, expressar e comuni- car por meio de imagens, sons ou movimentos corporais. Muitas vezes, o primeiro contato que os indivíduos têm com a arte é na escola, nas aulas de arte, obrigatórias no cur- rículo do ensino fundamental. Espera-se que os estudantes, nestas aulas, vivenciem intensamente o processo artístico, a fim de contribuir significativamente em seus modos de fazer técnico, de representação imaginativa e de expressividade. Ao mesmo tempo, espera-se também que aprendam sobre os artistas e obras de arte de diferentes períodos, comple- mentando assim seus conhecimentos na área. Mas, será possível que o professor de artes trabalhe com as funções terapêuticas do fazer artístico? O professor pode explorar, estudar e se especializar em arteterapia e, na medida do possível, conversar sobre as produções de seus alunos, se algum caso chamar sua aten- ção e ele não conseguir dar conta em sala, é aconselhável que ele faça o encaminhamento do aluno para um atendi- mento psicológico. A arte foi e é sinônimo de expressão de sentimentos, emoções, revoltas, traumas... Nossa forma de ver a arte ou de fazer arte revela a compreensão que temos do mundo.14 Podemos nos expressar de diversas maneiras: falando, rindo, cantando… Também nos expressamos através da arte e de diversas formas. Linguagens Artísticas Cada pessoa pode ter a sua idéia sobre o que é Arte, e, muitas dessas idéias estão corretas, afinal, quem nunca realizou um desenho, nunca mexeu com tinta, nunca viu ou ouviu um artista cantando, nunca assistiu uma peça ou um filme? Creio que todos já tiveram contato com pelo menos uma dessas manifestações artísticas. Defino Arte como algo maravilhoso, que dá prazer às pessoas, pois a Arte contribui para a felicidade do ser hu- mano, seja em quaisquer das formas de linguagem artís- 14 Fonte: www.portaleducacao.com.br tica, porém, não se resume somente a isto, a Arte é mais, com ela aprendemos um pouco do nosso passado, através das obras de arte feitas nos períodos mais distintos, po- dendo analisar o contexto histórico para verificar o que o artista quis expressar. Quando uma pessoa aprecia uma obra de arte, seja ela, um quadro, uma escultura, uma música, uma dança, uma representação cênica, é importante que ela não seja ape- nas, uma apreciadora passiva, mas que ela, saiba analisar a obra em vários contextos. Segundo BARBOSA (1994), o ensino da Arte deve se- guir, o que ela chama de Metodologia Triangular que é composta pela História da Arte, pela leitura da obra de arte e pelo fazer artístico, ou seja, a pessoa que aprende Arte, deve saber, não apenas fazer algo, mas também saber de onde veio aquilo que ela está fazendo, o que levou aque- las pessoas a fazerem aquela obra, para assim, fazerem a leitura da obra, podendo perceber a mensagem o que o artista quis passar através da sua obra. Além disso, ao cria- rem suas obras artísticas, poderão criar algo que transmita uma mensagem, dando sentido à Arte. Isso não significa que a técnica deva ser deixada de lado, é importante que o aprendiz venha a conhecê-las para aprimorarcada dia mais o seu trabalho, mas, a técnica sozinha, não dá sentido à obra.15 O desenvolvimento do pensamento estético. Atualmente, o mundo vive transformações sociais, cul- turais, políticas, tecnológica, estética, resultantes de um longo processo de mudanças de comportamentos, hábi- tos, formas de pensar e agir que estejam além de aspectos objetos e da lógica, mas que também contemple os aspec- tos subjetivos e sensíveis de ver e compreender o mundo. Essas mudanças afetam a articulação da educação com o campo da arte, pois a educação é uma prática social que visa a formação do ser humano, contribui e amplia possi- bilidades cognitivas, e também afetivas e expressivas, daí a necessidade de um conhecimento que estabeleça cone- xões entre o processo mental e a educação dos sentidos. Uma das finalidades do ensino de arte é a formação estética, além do refinamento da percepção e da sensibi- lidade, por meio do fomento à criatividade, da autonomia na produção e fruição da arte. A questão neste texto é con- seguir explicar como a estética está diretamente vincula- da ao ensino de arte e vice-e-versa. É um exercício difícil e relevante para a educação, pois a estética esta presente em praticas sociais e culturais como forma de expressão e representação do mundo, contudo, é essencialmente pre- dominante na arte. Por meio da educação estética se pode despertar a sensibilidade, perceber e organizar os estímu- los do exterior e as funções globais do corpo. O desenvolvimento estético e artístico, são temas e as- suntos que estão no cotidiano da prática pedagógica dos professores de arte, que utilizam-se de reflexões sobre arte e teorias da arte, porém questões conceituais sobre estéti- ca ou sobre os problemas da estética não são amplamente discutidos, ou as teorias sobre arte não são compreendidas 15 Fonte: www.webartigos.com – Por João Bezerra Da Silva Júnior 37 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes como categorias da estética. Na verdade existe uma se- paração entre o fazer arte e o pensar arte, entre prática e teoria da arte. Este texto apresenta algumas reflexões sobre estética na prática pedagógica, por meio de um recorte feito a par- tir de pesquisas sobre a prática pedagógica de professores de Artes do ensino fundamental, o objetivo é evidenciar o conceito de estética apontando sua relação com a prática pedagógica do professor de Artes numa perspectiva só- cio-histórica. Para isso discutimos a conceituação e alguns dos principais problemas da Estética, para depois fazermos a articulação com a prática pedagógica. Dessa maneira, é relevante desencadear reflexões e interesses para novos conhecimentos. Refletir sobre uma educação estética que busque suprir os limites de um en- sino de arte fragmentado, tecnicista e padronizado. Uma educação estética, que vá além, centrada na realidade em que se vive, que busque aprimorar e refinar os sentidos, compreender os significados e sentidos estéticos da arte, para melhor compreender e fundamentar a função da ex- periência estética tanto na formação de nossos alunos, quanto na formação do professor. O conceito de estética, ao longo da história, foi incor- porando imposição de uma estética ocidental, universalis- ta, produção artística elitizada, a influência da cultura in- dustrial; a supervalorização do novo; o imediatismo; de ati- vidades mentais nas procura do prazer sem esforço e ime- diato; por gosto e opiniões dirigido pela cultura de massa, rompimento da sensibilidade com a educação do intelecto e a busca pelo belo idealizado, imposições que acarretou em um empobrecimento ou uma vulgarização do real sig- nificado de estética. Outra questão a se considerar é que, conceito de estética ficou durante muito tempo atrelado a beleza, atualmente, ocorreu um rompimento, tornando-se supérfluo, pois a questão do belo depende da cultura em que o indivíduo está inserido. Portanto, a partir dessas concepções, surgem alguns questionamentos quanto educação estética na escola: os professores de artes têm realmente construído ações que promovam a educação estética em todos os níveis e con- texto do ensino fundamental? Porque se fala tanto de estética e qual necessidade históri- ca que responde as inúmeras formulações dentro deste tema? Essas questões sintetizam parte de inúmeros questio- namentos que podem ser formulados sobre a estética e a educação estética no ensino de arte no ensino undamental. Vamos no ater somente às questões citadas acima, por um questão de tempo e espaço, embora tenhamos clareza que as nossas reflexões não se extinguiram neste texto. De princípio, é importante afirmar que a estética é emi- nentemente filosófica, os conceitos sobre estética confun- dem-se com o conceito de arte, mas se ocupa especifica- mente do conhecimento sensível. Nesse sentido, a estética estuda as qualidades de formas de representação artísticas perceptíveis pelos sentidos, busca a construção de um dis- curso reflexivo sobre o fazer artístico e o processo criativo. A reflexão sobre estética é uma vivência, afinal a obra de arte não é percebida somente pelos órgãos do sentido, mas é uma atividade interior que entra em contato com a vivência do outro indivíduo. Nesse sentido, a Estética se constitui por um discurso reflexivo e autônomo, de natu- reza filosófica acerca dos aspectos gerais da arte, do fazer e produzir artístico, a estética evidencia particularidade da obra artística, configurando suas nuances entre a produção singular e universal. A estética ao longo da história Cada época, cada movimento artístico, cada filosofia, logo que surgiam novas concepções era substituída, revista ou rejeitada, por novos conceitos sobre forma e conteúdo em arte, desse modo, falar de estética é demasiado com- plexo. Na tentativa de analisar e compreender os conceitos estéticos convém retomar os conceitos de estética cons- truídos historicamente de maneira a apresentar suas prin- cipais manifestações. As teorias estéticas começaram a ser construídas desde a antiguidade clássica e até hoje são objetos de pesquisa e têm merecido especial destaque, especialmente a partir do desenvolvimento do modo de produção capitalista, que impõe a necessidade de trabalhadores criativos e flexíveis para que possam se adaptar às constantes oscilações do mercado de trabalho. Segundo Bayer (1978), na antiguidade primeiramente pode-se destacar o pensamento de Platão sobre estética, (427 a 348 a.C), porém não existe uma estética Platônica, porque toda a sua filosofia é estética e as suas concepções estão centradas no Mundo das Ideias. Platão, entendia a arte por meio de regras que poderiam dirigir a vida do ser humano e não separava arte da ciência, sua estética é cen- trada na metafísica. Platão, considerava impossível separar o belo do mun- do das Ideias, pois, a beleza é a única ideia que verdadei- ramente resplandece no mundo, o belo é o bem e a perfei- ção. Ele criou uma concepção de belo, que se afastava da interferência e da participação do juízo humano, ou seja, o homem tem uma atuação passiva ao conceito de belo. A estética deve aparentar os sentimentos, agradáveis ou não, pois, vêm da natureza da alma, onde “A realidade não é mais do que uma cópia imperfeita, o que importa é conhecer as ideias, pois, só pela intuição se apreenderá” (BAYER, 1978, p.47). A aparência sensível, é constituída pela imitação de um ideal concebido no mundo das Ideias. A única arte aceita por Platão é arte do raciocínio, a poesia é uma arte, tal qual como a política, a guerra, a medicina, a justiça etc, principalmente pelo caráter virtuoso das nar- rativas. Já Aristóteles, diferentemente de Platão, afirmava que não havia uma estética, fazia uma separação entre a arte da ciência e restringindo assim, o conceito de arte. Por outro lado, ele diferenciava as coisas geradas por obra da nature- za e não define a arte como imitação dos objetos naturais, mas da própria natureza. Não uma imitação da imitação,como Platão concebia, porque a imitação direta vinda do racional, da inteligência, por meio da sensibilidade, é ne- cessário, absoluto e ideal. Para Aristóteles, o belo é visto como algo de bom, ao lado do belo moral encontra-se o belo formal, assim, o belo e a moral é uma estética do bem. Ele foi influenciado pelas 38 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes de uma cognição do sensível. Por volta de 1750, passou a determinar regras para beleza estética e o estudo do que experimenta-se perante a arte percepção, sensação, con- siderou que a estética é a “ciência do conhecimento sen- sível”. Para ele o artista, ao criar, altera intencionalmente a natureza, adicionando elementos de sentimento a realida- de percebida por estes. Nesse sentido para Baumgarten, iguala-se ao prévio pensamento grego clássico que considerava a arte princi- palmente como mimesis da realidade. Dividiu em estética em duas partes: estética teórica e prática. (BAYER, 1978, p.180). Outro filósofo de relevância para a discussão sobre estética é Emmanuel Kant, um dos mais importantes e in- fluentes filósofos da modernidade. Em seus estudos, con- siderava que toda ação deve orientada pela razão, e que a razão humana é a base da moralidade. Na crítica da ra- zão pura apropria-se da palavra estética de Baumgarten, como um estudo gnosiológico denominando de estética transcendental. As suas concepções no campo da estéti- ca e despertaram interesse em grandes pensadores que se surgiram depois dele. A sua Crítica da Faculdade de Julgar, publicada em 1790, contribuiu para as bases teóricas para todo criticismo romântico alemão e as fundações de uma nova Estética. Para Kant, o prazer estético, quanto à sua natureza, não é igual a nenhum outro tipo de prazer, porém existe uma diferença, pois, as “duas das faculdades intelectuais, habi- tualmente divergentes, estão de acordo aqui: imaginação e o entendimento. Esta coincidência inabitual causa-nos pra- zer; e esse prazer, é prazer estético; e por isso ele é desin- teressado e na o precisa de posse material” (idem, p. 201). Assim, o aspecto emocional, foi ligado à estética, por- que relacionou com o prazer e desprazer, portanto, segun- do Martindale (2000), o juízo estético se resume em pura contemplação, não possui interesse ou desejo, não quer atribuir um conceito fixo, é um juízo livre na sua essência; são verdadeiros juízo individual. A beleza é a única maneira de satisfação e sensibilida- de, e é livre de todo sentimento de egoísmo,daí livre de deste sentimento castrador, liberta o homem. Considera que o único ideal de belo é o homem, pois este é o único ser livre e moral. Quanto a filosofia moral Kant afirma que: A base para toda razão moral é a capacidade do ho- mem de agir racionalmente. O fundamento para esta lei de Kant é a crença de que uma pessoa deve comportar-se de forma igual a que ela esperaria que outra pessoa se com- portasse na mesma situação, tornando assim seu próprio comportamento uma lei universal (HÖGE, 2000, p. 38). O século XIX, foi um período marcado por grandes transformações, entre eles o aparecimento do movimento romântico, na arte romântica ocorre o recomeço de ati- vidade da Ideia. Na estética alemã deste período aparece Schiller, que discute a objetividade e sua cultura, mostra muita consciência, sobre as possibilidades da arte e seus recursos, porque, para ele o fim estético era o de tornar o “instinto em arte e o inconsciente em saber” (BAYER, 1978, p. 293). teorias matemáticas de Pitágoras, considerava a percepção da beleza ocorre entre os sentidos e o intelecto e resulta de um perfeito equilíbrio de uma série de elementos. As- sim, considerava que só existe beleza se há simetria; que as formas supremas do belo são está em conformidade com as leis, da simetria e da determinação. Aristóteles, criou duas importantes concepções que in- fluenciou a reflexão sobre estética: a arte é uma imitação (mímesis) da natureza e a arte é um meio de purificação (catharsis) dos sentimentos. Avançando para a estética alemã, do século XVIII, des- taca-se os precursores de Kant. Esse período que foi mar- cado pela dissociação da estética da moral, porém Kant re- toma essas ideias e busca demarcar os limites desses dois domínios. Inicialmente, apresenta-se a concepção de Leibniz, segundo Bayer (1978), a filosofia europeia foi influencia- da pelas concepções de Leibniz. Ele considerava que é na harmonia que percebemos o belo e o universo é apenas o reflexo da própria harmonia interior do homem, sendo o universo, “um conjunto harmonicamente acabado, pois, todo o universo é dominado por uma visão estética e re- integra o novamente o sentido de Belo e que o domínio estético não é um domínio original, mas, conhecimento do perfeito” (Idem, p.174) . Ele defendia a existência, de uma única realidade, mas dividida em uma infinidade de seres, as Mónadas. Cada Mó- nada representa uma alma e um corpo indissoluvelmente unidos num desenvolvimento contínuo. “As mónadas estão em evolução contínua; a evolução da representação, que é a manifestação única da mónada, vai do conhecimento vago ao conhecimento inteiro, distinto, que é o conheci- mento divino”. (BAYER, 1978, p.176). Na verdade, Leibniz criou suas teorias dentro de uma psicologia estética, para ele, o estado artístico surge das próprias pessoas e toda estética dá sempre à forma em lugar importante e a substância formadora apela para uma estética, a criação . Wolff, afirmava que era impossível uma separação en- tre consciência e pensamento. Leibiniz, que por sua vez, afirmava que existe outro nível de conhecimento (cogni- ção) e não havia divisões entre a extensão do pensamento, e que eles não são parados, porque eles se unem e iden- tificam num determinado elemento. Assim, esses dois filó- sofos utilizavam sistemas de conhecimento: inferiores os sentidos e superior o espírito. Baumgarten, foi influenciado pela as idéias de Christian Wolff e de Leibinz. Baseando-se nas concepções de Leibniz, Baumgarten viu a região da estética entre a sensibilidade e a inteligên- cia pura. Afirmava que a estética é a ciência da cognição sensorial e que a cognição sensorial deriva por meio do trabalho natural. Que o conhecimento origina da sensação e também da lógica ou cognição. Considerava que a cog- nição sensorial se amplia com formação. A cognição senso- rial prazerosa conduz a um sentido de beleza. Com relação à beleza, Baumgarten, estava a frente dos demais filósofos da sua época, afirmou a relação entre beleza e pensamento belo e que a beleza é o resultado 39 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Schiller escreveu a sua principal obra as Cartas sobre a Educação estética do Homem. Esta obra além de ser esté- tica, é também sociológica, pois a estética aparece como um suplemento da política e da nova moral. Na sua teoria, a virtude educadora da arte é a junção do moralismo e do romantismo, porém o seu moralismo salva-o do roman- tismo. Schiller escreveu sobre estética e adaptou as suas próprias concepções com as de Kant, não há duvidas que a obra estética da maturidade de Schiller foi baseada nos seus primeiros pensamentos, pois o belo á a manifestação da humanidade ideal. Schiller afirmava, que há uma manifestação em que essa contradição é resolvida, “a reconciliação, a catharsis, esta na contemplação, em que o homem verdadeiramente não deseja e em que, por isso, não tem de lutar em nome da moral” (idem, p.302). Com relação a transcendência da arte na criação artística, pela catharsis, pela habilidade de- legada ao homem pela técnica do fazer, pois, no momen- to em que o artista cria ou realizar uma produção artística (pintura, poesia, escultura, música, teatro), ele está eviden- ciando uma representação sensível, por meio do fazer ar- tístico mostra a força da estética. A obra estética de Hegel é a primeira que combina a reflexão filosófica com uma história da arte. A base da filo- sofia hegeliana é a noçãode Ideia, onde a arte é a repre- sentação particular da Ideia, é a manifestação ou a própria aparência sensível da Ideia. Hegel defendia o belo artístico como o único com interesse estético. E que o belo artístico é um produto do espírito, por isso só o podemos encontrar nos seres humanos e nas obras que eles produzem. Para Hegel, o que existe de profundo e verdadeiro na obra de arte escapa ao sentimento particular do belo e ao do gosto como aos demais sentimentos, ele acrescenta “o que há de profundo na obra de arte apela não só para os sentimentos e para a reflexão abstrata, mas para a plena razão e para a totalidade.” No processo estético, o sensí- vel é espiritualizado e o espiritual aparece como sensibili- zação. Ainda sobre a concepção de belo Hegel, considera que toda obra de arte tem um fim em si, ela é somente um instinto natural de reproduzir e o prazer de ver a obra terminada , o fim das belas artes não é imitar, é despertar paixões e sentimentos, e acordar acontecimentos humanos por meio “dos espetáculos multiformes da natureza” (BA- YER, 1978, p.309). Hegel sempre ocupou cargos ou desempenhou fun- ções relacionadas à educação, para ele, uma sociedade não sobrevive sem a educação, pois ela é expressão da razão que busca estabelecer a liberdade e implantá-la enquanto prática corrente. Nesse sentido, Hegel atribui centralidade ao conteúdo e não aos métodos e técnicas. O conteúdo deve ser ministrado enquanto direito e também necessidade, pois é por ele que o homem aprende a ser livre, isto é, racional. A liberdade como fim da educa- ção somente se realiza na totalidade da comunidade o que implica a superação de posicionamentos individualistas. Avançado para o século XX, a estética ganha uma vas- ta dimensão, pois esse período foi marcado por grandes revoluções na estética. Na teoria da educação destaca-se o filósofo Herbert Read, que considerava a importância do conhecimento intelectual para o processo educativo e John Dewey, a importância da interação dos elementos psicoló- gicos e sociais. Herbert Read, no final do século XIX, foi influenciado pelas teorias de Platão e Schiller, ele considerava que “o objetivo da educação pode ser apenas o de devolver, ao mesmo tempo em a singularidade, a consciência social ou reciprocidade do indivíduo”. No campo da educação artística, ele afirmava que a arte deve ser a base para educação. Para Herbert Read a criação artística deve ser pensada por meio de métodos, pois, são fenômenos de auto-reve- lação, “ideais para revelar ao homem sua personalidade (READ, 1956, p. 18). Para Herbert Read, a estética é uma ciência empírica que prova cientificamente esses fenômenos, busca meios e apresenta ferramentas para a sua aplicação no sistema educativo. Assim a estética nas suas concepções, dividiu-se em duas ordens de fatos evidentes: fatos subjetivos que poder ser apreendidos introspectivamente, cuja importân- cia é o capital e o mundo de fatos analisáveis, que tentava mostrara estética por meio das observações das propor- ções, ritmos, harmonia. Nos Estados Unidos, no início da primeira metade do século XX, destaca-se a estética do norte-americano John Dewey, cuja principal característica é a utilização da técnica da experiência que pode ser percebida diretamente dessa relação. A estética experimental de observação e de des- crição, encontra-se na obra estética Arte é experiência, que escreveu sobre os seguintes valores: moral e educação, em 1934. Dewey se considerava empírico e pragmático. O prag- matismo permeou todo o seu estudo, pois, acreditava que toda a ideia, valor e instituição social surge das circunstân- cias práticas da vida do ser humano. Para ele essas ideias não botavam de revelações divinas e nem refletiam um modelo ideal. Para ela a verdade não representava uma ideia na esperança de ser descoberta, afinal só poderia ser realizada na prática. A teoria estética Dewey, nem sempre coloca uma se- paração entre o estético e artístico, ele entendia o estético como o gozo, e o artístico como atividade produtora. Ele era veementemente contra a filosofia idealista, pois e compreendia, que a estética deveria servir para realizar a vida de um povo, e jamais ser “a arte pela arte”. Em seus escritos considera a arte inspiradora, porque une o possí- vel e o real, gerando uma forma concreta, ele afirmou que, “uma emoção estética, é um fato distinto, porém, não mui- to afastado de outras experiências naturais” (BAYER, 1978. p. 434). Dewey não concebia uma estética sem a influencia da educação e da sociedade e o conhecimento da história é indispensável para julgar uma obra de arte. A estética ao mesmo tempo que é uma estética experimental, é também sociológica e cultural, talvez por isso, preocupava-se com o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Nesse sentido, participava ativamente na crítica social, mas, não como um mero expectador de exercícios abstratos de con- templação, dissociados da moralidade prática. 40 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A arte para Dewey é também expressão de um valor particular e a expressão do sentimento do artista, essa ex- pressão é revelado no momento da criação, na fusão dos meios e do fim, do útil e do belo, deve conservar sua uni- versalidade. Bayer (1978, p. 434) escreveu: “ O sentimento numa obra de arte não é uma experiência pessoal, antes deve ter o caráter universal” A partir do século XX, é interessante apresentar os pensamen- tos do filósofo húngaro Lukács (1978), que em suas concepções, sobre estética, apresenta a arte, como reflexo estético da realida- de, tendo em vista os valores humanos e a realidade objetiva. Faz uma reflexão sobre as categorias da particularidade e de realismo crítico, baseando-se nos fundamentos teóri- cos marxistas, não deixando, contudo, de dialogar e fazer a crítica a estética de Hegel, Kant, Aristóteles, entre outros. Em suas concepções sobre a estética, Lukács acredi- ta que o prazer estético deve ser vivido mesmo diante do comportamento da sociedade capitalista, afinal, a arte não deve cultivar uma visão estática, congelando a vida social. A arte tem o poder de realizar uma leitura correta do con- texto social e ter uma apreciação exata do momento pre- sente. Ela deve estar centrada na busca incessante de estar ligado à vida cotidiana e buscar suas maiores conquistas e transformações, afinal, é para o cotidiano que se vive. Desse modo, a vida social deste homem é constantemen- te transformada, por meio das aquisições obtidas por inter- médio da arte e da ciência, a forma pura de reflexo. A arte e a ciência se desenvolvem intensamente, segundo Lukács: A ciência descobre nas suas leis a realidade objetiva in- dependente da consciência. A arte opera diretamente sobre o sujeito humano: o reflexo da realidade objetiva, o reflexo dos homens sociais em suas relações recíprocas, no seu in- tercâmbio social com a natureza, é um elemento de media- ção – ainda que indispensável –, é simplesmenteum meio para provocar este crescimento do sujeito (1978, p. 295-6). Os pensamentos do autor, trouxeram uma enorme contribuição para valorização da criação artística. Toda criação artística tem a capacidade de conquistar uma uni- versalização que transcende o campo restrito da singula- ridade, porém, isso poderá acontecer se criação artística conquista a particularidade estética. Quando isto acontece, a obra criada, toma novas proporções, para elevar-se da imediata individualidade cotidiana. Na visão de Lukács, o julgamento de estética é deter- minada pela passagem do universal ao particular: é apenas reflexivo se o universal é buscado a partir do particular. Para o autor a obra de arte é o reflexo estético da rea- lidade, no processo criador e no comportamento estéti- co-receptivo em face da arte, ou seja, “universalidade da forma artística”. Educação estética Entender educação estética e a arte como conheci- mento é romper com a ideia de que a ciência é puramen- teracional e a arte puramente sensível, na verdade arte e ciência integram as diferentes formas de conhecer. O pri- meiro a defender essa junção é Baumgarten que começa a utilizar o termo Estética como ciência que estuda o belo, a percepção e a teoria da arte. Autores como Schiller, Herbert Read, Dewey, citados acima desenvolveram estudos sobre educação estética, cada um com uma concepção e em tempos históricos dis- tintos. De maneira geral a educação estética pressupõe a formação integral do aluno, tanto em seus aspectos sen- síveis e cognitivos, que contemple a arte como forma de propiciar um processo de ensino e aprendizagem mais sig- nificativo e amplo, tendo a arte como base para a educação integral do homem. Outro autor que estuda e aponta para a necessidade de uma educação estética é Vigotski (2001a), que afirma que educar esteticamente significa criar um conduto per- manente e de funcionamento constante, que canalize e desvie para necessidades úteis a pressão interior do sub- consciente. A reação estética que se opera ante uma obra de arte, não serve apenas para repetir no espectador o sentimento ou a percepção do autor, mas para superar e vencer o efeito por ela causado, por exemplo a obra Crian- ça Morta de Portinari, nos coloca diante de uma realidade triste, mas ao vê-la nos colocamos acima dela, superamos e vencemos a impressão de tristeza. Essa vivencia estética contribui para a organização de nossos comportamentos, enfim “a arte implica em emoção dialética que reconstrói o comportamento e por isso ela sempre significa uma ativi- dade sumamente complexa de luta interna que se conclui na catarse” (VIGOTSKI, 2001a, p. 345). A educação estética não é um recurso pedagógico que ajude a resolver problemas difíceis e complexos da educa- ção ou que exista para a distração e execução prazerosa de atividades escolares, onde a arte é utilizada como meio para atingir resultados pedagógicos estranhos à própria estética. Também a arte não pode adquirir valor no processo educativo pelo sentido moral que, por vezes lhe é atribuído as impressões estéticas, os contos por exemplo, são utiliza- dos como forma de trabalhar a rotina, sermões ou regras sociais. A arte não deve ser trabalhada por si mesma, não pode estar restrita aos estudos da forma ou de aprendizado de técnicas, mas deve estar voltada para a complexidade do observar, ouvir e sentir. Conforme Vigotski (2001a, p. 351), “só é útil aquele ensino da técnica que além dessa técnica e ministra um aprendizado criador: ou de criar ou de per- ceber”. Numa compreensão sócio-histórica a educação estéti- ca é o contato com a arte, que adequadamente vivido e as- similado, se insere no processo mais íntimo do desenvolvi- mento pessoal; promove a auto-realização e ajuda o aluno a desenvolver melhor as suas potencialidades. O objetivo da educação estética é ensinar a capacidade de perceber e entender arte e a beleza em geral (LEONTIEV, 2000). A educação estética oportuniza uma experiência que não é uma simples manifestação da sensibilidade desco- nectada da sociedade, mas que sintetiza um conjunto de relações significativas e universais; propicia a oportunida- de de interpretar os elementos das linguagens artísticas e preparar a criança para romper as fronteiras da sua vida cotidiana. É fundamental para a formação da criança, busca a interação com a vasta gama de textos e imagens, sons e 41 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes movimentos, tanto no espaço da escola como fora da esco- la, de maneira a possibilitar a apreensão e compreensão da cultura na sua totalidade e a socialização do saber em arte. Esse processo de revelar e construir nosso olhar, audição e movimentos, de apontar novos significados e sentidos. O educador precisa propiciar à criança um diálogo íntimo e profundo com produções culturais, para que ela amplie horizontes particulares, quanto maior for o conta- to com os bens culturais, à medida que ela compreende e dialoga com a cultura que a cerca, como estão configura- das os elementos construtivos e qual é o contexto estético, social e histórico, maior será o desenvolvimento e aprendi- zado da criança. A experiência estética é uma vivência individual e co- letiva, pois a obra de arte não é percebida somente pelos órgãos do sentido, mas é uma atividade interior que entra em contato com a vivência do outro indivíduo, segundo FISCHER (1976, p. 13), “a arte é o meio indispensável para essa união do indivíduo como o todo; reflete a infinita ca- pacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e ideias”. Dentro desta perspectiva Vigotski, considera que quanto mais a criança “veja, ouça e experimente, quanto mais aprenda e assimile, quando mais elementos da reali- dade disponha em sua experiência, tanto mais considerá- vel e produtiva será, como as outras circunstâncias, a ati- vidade de sua imaginação” (2006, p. 18). Isto pode ocorrer por meio do oferecimento de diferentes possibilidades de leitura de imagens, por meio do contato com fotografias (publicadas em jornais, revistas), literatura, pinturas, qua- drinhos, desenhos, esculturas, peças de teatro, dança, com- putador, televisão, filmes, imagens publicitárias (cartazes, outdoors, anúncios, charges) entre outros. A escola e os professores são os mediadores que de- vem oferecer perspectivas teóricas e práticas, discussões e experiências com atividades que promovam o entendi- mento de formas de expressão, das tradicionais e novas técnicas artísticas. A estética na prática pedagógica A prática pedagógica do professor de arte tem sido objeto de estudo por parte dos técnicos da Secretaria Mu- nicipal de Educação, responsáveis pelo componente curri- cular Artes no ensino fundamental. Questões como meto- dologia de ensino, avaliação, currículo e função da arte na escola estão presentes em cursos de formação continuada e atendem às necessidades que emanam da prática peda- gógica do professor de Arte. Uma das discussões que rea- lizamos trata da educação estética, que se apresenta como uma das propostas metodológicas específicas do ensino das aulas de Artes em consonância com as teorias pedagó- gicas libertária, libertadora e histórico-crítica (PESSI, 1994). Essa temática gerou uma grande polêmica, pois a ten- tativa de conceituar, definir e caracterizar estética, eviden- ciou a grande confusão e imprecisão do conceito de esté- tica e por consequência sobre o que é educação estética. A partir dessa problemática iniciamos um estudo so- bre a estética e a educação estética no ensino de arte, de maneira a apreender a constituição histórica do conceito, apontando as raízes que sustentam tal discurso. Para reali- zar nossa análise recorremos ao levantamento bibliográfico sobre a temática contrapondo os estudos teóricos com as informações empíricas colhidas por meio de questionários aplicados a professores de Artes do ensino fundamental da Rede Municipal de Ensino, além observações e contatos com professores de arte em grupos de estudos e cursos oferecidos no decorrer do ano de 2006 e no primeiro se- mestre de 2007. As nossas observações permitem afirmar que no en- sino de Artes tem na educação estética seus fundamentos e princípios, mas que na prática pedagógica do professor existe um distanciamento desses fundamentos. Isto ocor- re pela ausência de uma discussão mais aprofundada dos próprios fundamentos do ensino de arte. Como diz Saviani (2003), o óbvio, por ser muito evidente acaba por ser es- quecido e não é tomado como objeto de estudo. Assim, ocorre com a questão da educação estética, que por ser fundante e inerente para compreender o processo de ensi- nar e aprender Arte, deixa de ser discutida e estudada, até mesmo de ser mencionada. Essa análise pode ter início em um dos principais do- cumentos que regem o ensino de Arte no Brasil: os Parâ- metros Curriculares Nacionais de Arte. De início podemos apontar a presença da estética em dos objetivos gerais do ensinofundamental: “desenvolver o conhecimento ajus- tado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania”. Já nos objetivos gerais de Arte para o ensino fundamental, consta - Edificar uma relação de autocon- fiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções. - Compreender e saber identificar a arte como fato his- tórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo respeitando e podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural, identificando a existência de dife- renças nos padrões artísticos e estéticos. (BRASIL, 1997, p. 53-4). Em seqüência no bloco de conteúdo “as artes visuais como objeto de apreciação significativa” temos o conteú- do: convivência com produções visuais (originais e repro- duzidas) e suas concepções estéticas nas diferentes cultu- ras (regional, nacional e internacional). A questão é que se menciona a capacidade estética, o conhecimento estético, padrões estéticos. Esses conceitos podem ser compreendidos quando se discute o conheci- mento artístico como produção e fruição, ou seja, como experiência estética direta da obra de arte. Esse conheci- mento caracteriza-se: pela obra de arte situar-se entre o particular e o universal da experiência humana, revela a possibilidade da existência e comunicação para além da realidade e relações habitualmente conhecidos; pela cria- ção artística que distingue-se das outras produções huma- nas pela qualidade da comunicação que ela propicia por 42 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes meio das especificidades das linguagens artísticas, onde a forma artística fala por si mesma, indo além das intenções do artista; a percepção estética é a chave da comunicação artística, o processo de conhecimento artístico advém da percepção das qualidades da linha, texturas, cores, sons, movimentos, etc., onde o receptor deixe-se tocar sensivel- mente para perceber os significados que emanam dessas qualidades; a personalidade do artista é ingrediente que se transforma em gesto criador; a imaginação criadora trans- forma a existência humana. O conhecimento artístico engloba, ainda a reflexão, pois o universo da arte contém um outro tipo de conhe- cimento que é gerado pela necessidade de investigar o campo artístico como atividade humana, tal conhecimento delimita o fenômeno artístico: “como produto das cultu- ras; como parte da cultura; como estrutura formal na qual podem ser identificados os elementos que compõem os trabalhos artísticos e os princípios que regem sua combi- nação” (BRASIL, 1997, p. 43). Segundo consta nos PCNs, apenas um ensino criador, que favoreça a integração entre a aprendizagem racional e estética dos alunos, poderá contribuir para o exercício con- junto complementar da razão e do sonho, no qual conhe- cer é maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconheci- do, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com descobertas (BRASIL, 1997, P. 35). Os princípios presentes nos PCNs, apresentam princí- pios do ensino de Arte que começaram a ser discutidos na década de 1980 com o movimento Arte-educação que definiu linhas políticas e a defesa de ensino de arte de qua- lidade. Uma das principais questões é a necessidade da lei- tura da imagem, essa discussão é levantada por Barbosa (1991) que, na proposta triangular propõe o fazer artístico, a apreciação estética e a contextualização. Decorrem daí uma série de estudos sobre a imagem no ensino de artes, Meira (2006, p. 121) afirma que “Hoje o estético está na ordem do dia, já que dizem ser a nossa a civilização da imagem. Nada é tão representativo de ex- periência estética como uma imagem, seja ela algo etéreo, fantástico, ou algo materializado numa forma natural ou cultural”. Essas discussões se desdobram em estudos sobre a educação do olhar (PILLAR, 2006) tendo em vista a neces- sidade de discussões sobre a leitura estética e a compreen- são estética. Martins (2005) aponta para provocações esté- ticas e mediações pedagógicas. Surgem estudos que abor- dam a estética e o desenvolvimento estético (ROSSI, 2006; MEIRA, 2006), a estética do cotidiano e a interculturalidade (RICHTER, 2003), os diferentes olhares sobre a educação estética e artística (FRÓIS, 2000) e os fundamentos esté- ticos da educação propostos por (DUARTE Jr, 1981; 1983). A questão é que existe uma fragmentação da com- preensão sobre a estética no ensino de Arte, pois em ou- tros estudos a educação estética ou a estética não é cla- ramente conceituada e o enfoque recai sobre experiência estética, conhecimento estético, desenvolvimento estético que aparecem sobre a ótica da educação do olhar, para a leitura de obras, para a imagem esquece-se de anunciar os seus fundamentos. Toda a discussão feita acima e que está presente em livros e documentos oficiais encontra eco na prática do professor. Os questionários analisados evidenciam que os professores de Artes procuram desenvolver suas aulas de acordo com os pressupostos da proposta triangular, e que enfocam os valores estéticos da cultura regional como forma de tornar contextualizado ensino de Arte. Outra questão que merece ser mencionada é que o professor de Artes acredita ainda, em uma educação que favoreça a arte como princípio para a execução de atividades que desenvolvam habilidades motoras e a sa- tisfação e a ludicidade necessária para o aprendizado de conceitos, regras e habilidades intrínsecas a outras áreas de conhecimento. A questão é que na prática pedagógica do professor a dimensão estética está distante do discurso do profes- sor. Na prática pedagógica o professor de Artes eviden- cia toda uma discussão sobre leitura e releitura de ima- gens, de percepção dos elementos das linguagens artís- ticas, com maior ênfase nas artes visuais, pois a maioria tem formação em artes visuais, mas não discutem o que é educação estética e, quando o fazem seguem os prin- cípios defendidos por Herbert Read. Outra questão é que a experiência estética é com- preendida sob os mesmos pressupostos da experiência artística, ou seja, é uma experiência pautada no fazer arte. Mas, a estética deve ser compreendida como uma capacidade reflexiva sobre esse fazer, enquanto que arte é a representação, expressão e materialização da per- cepção estética.. Nesse sentido é interessante observar que a estética ocupa-se com o conhecimento sensível e com a qualida- de da percepção seja do belo como do feio que emanam das qualidades dos elementos constitutivos das diferen- ces linguagens artísticas. Os nossos estudos evidenciaram que a educação es- tética tem suas raízes históricas na estética e se desdobra em diferentes nuances no ensino de Artes. De início po- demos considerar que documentos oficiais contribuem para a não explicitação sobre a proposta de educação estética, pois está diluída em termos como capacidade estética, em conhecimento estético, experiência estéti- ca, percepção estética, alguns destes inclusive não são conceituados ou definidos. Em outras publicações sobre o ensino de arte a educação estética aparece como ine- rente ao ensino de Arte e à arte-educação, então sendo naturalizados não precisam ser explicados, pois se su- bentende que não precisam ser explicados. Esse movimento provoca um distanciamento da teo- ria que explica o ensino de Artes e a prática pedagógica do professor, pois cotidianamente a experiência estética é propiciada aos alunos, mas sem que se conheça as teo- rias que fundamentam essa prática. A educação estética e o estudo sobre estética repre- senta a possibilidade de aprofundar conceitos, de com- preender a complexidade que envolveensinar e apren- der arte, pois o que a educação estética propõe é uma formação ampla e sensível aos alunos. 43 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Propõe a reflexão e a continuo estudo sobre as formas, conteúdos da arte, bem como dos mecanismos envolvidos nesse processo, como a criatividade, a expressão, a míme- ses, o belo e a qualidade das percepções oriundas de obras de arte ou não. No Brasil as concepções sobre educação estética ini- ciaram-se centradas nas ideias do filósofo Herbert Read. As concepções de Read, ancoradas no princípio de que a arte é a base para a educação, foi amplamente difundida nas Escolinhas de Arte no Brasil. Segundo Ivone Richter (2000), a estética é vista como área do conhecimento, com ênfase na apreciação e com- preensão da arte. Esta tendência foi proposta a partir do DBAE - Discipline-based Art Education, nos Estados Unidos que defendia o ensino das artes visuais apoiado em quatro grandes eixos: a produção artística, a apreciação da arte (estética), a crítica da arte e a história da arte. A educação estética, a arte é vista como parte da vida cotidiana, abrangendo além da estética vinculada à produ- ção artística, mas também a estética do cotidiano. Este enfoque dá ênfase à sensibilidade, à relação com o meio ambiente e ao multiculturalismo. A interdiscipli- naridade aparece como uma possível proposta de ensino (Feldman, Fichtner). Duarte Jr (2004) afirma que atualmente experiência estética pede uma mudança na maneira pragmática de perceber o mundo. Esta experiência (e também o trabalho científico ou filosófico) foi transformando-se em um obstá- culo dentro da realidade cotidiana. A experiência do belo é uma espécie de parêntese aberto na linearidade do dia-a- -dia. (Duarte Jr.,1991, p.33) Diante do exposto, no processo de construção histó- rica, pode-se perceber que a estética ganhou novos, que não pertence somente ao campo da arte e atualmente a estética é uma ciência independente da filosofia e foi fir- mando-se como uma ciência e se estabilizou na educação. O conceito de estética deixa de estar centrado somente aos pensamentos platônicos que ligava a estética à noção de Bem (Platão), a visão Kantiana que associava a arte ao belo. Atualmente, a noção belo pertence a uma das categorias estéticas e arte é mais do que prender-se a com conceitos pré estabelecidos. A educação estética graças à importância que Herbet Read atribuiu à arte, pois percebeu que o objetivo da edu- cação seria também o de encorajar o desenvolvimento da- quilo que é individual no ser humano, em equilíbrio com a unidade orgânica do grupo social a que cada um pertence. Somando a essas concepções, destaca-se John Dewey, ao afirmar que: nenhuma experiência poderá constituir-se numa unidade, amenos que apresente qualidade estética. (...) Os ini- migos do estético são o monótono, a submissão à convenção nos procedimentos práticos e intelectuais. (DEWEY, 1974, p.251) O contato com a arte é realmente viver uma experiên- cia estética. Segundo Duarte Jr, (2004) afirma que a beleza apenas atrelada apenas às formas, somente às qualidades dos objetos, mas; a beleza diz respeito à maneira de como nos relacionamos com os objetos – e não necessariamente uma obra de arte –, mas, é a relação entre sujeito e objeto. Se tal relação for determinada pela função das coisas tere- mos simplesmente uma experiência, mas se for determina- da pela sua forma, vive-se uma experiência completa, ou seja, uma experiência estética. Outra concepção importante para o momento é ressal- tar a contribuição da ideia de Lukács (1978) ao estabelecer relações entre a universalidade, a particularidade e a singu- laridade. Para ele elas são categorias, ou um o conceito es- sencial que reflete sobre a capacidade da obra em superar a todos os limites impostos (social, religiosos, moral, etc). E que a forma estética presente um uma determina- da obra de arte é a objetivação estética da realidade no processo criador e no comportamento estético-reflexivo em face da arte. O ser humano por meio da experiência estética, as limitações e as concretas possibilidades do ho- mem, sua dimensão histórica e classista; percebe, também, o jogo de forças que atuam na vida cotidiana. Assim diante dos pensamentos destes autores, perce- be-se que o conceito de estética e de educação estéticas, modifica-se a cada diferentes gerações, e isto podemos perceber por meio dos variados conceitos sobre estética, exposto pode-se afirmar que: “sem a nova arte não haverá o novo homem”. (VIGOTSKI, 2001b, p.329). Após essa intensa reflexão proporcionada por estas abordagens, fica-se talvez a sensação a necessidade de uma persistente caminhada em busca de saberes que não são definitivos e que continuamente desafiam as rotinas sociais, adaptando-se a novos caminhos. Nas escolas, ain- da encontramos muitos professores que consideram que só se pode ensinar por meio das imagens de pintores da história da arte, que são contempladas e reproduzidas pe- los alunos. Ainda cultivam a importância da criança de ex- pressar dentro de um conceito de beleza, afinal, acreditam que criação artística deve seguir rígidos padrões ideais de beleza, esquecendo-se que belo para o professor pode não ser para o aluno, que o padrão de beleza modifica-se de- pendendo do momento histórico, social e cultural. Professores que não compreende a educação estética e continuam em suas práticas ensinado o uso de técnicas cen- tradas nas suas funções utilitárias, a uma ciência reduzida a relações causais, presa à lógica, à questão prática, de causa e efeito. Mas, embora a natureza seja o grande modelo de bele- za mimética e um mistério a ser constantemente desvendado pela razão científica, ela não é capaz de significar, ela não tem a autonomia do signo, porque é só do homem a tarefa de criar representações e a mais visceral de todas é a arte, feita de intelecção e sensibilidade, matérias primas do ser. Talvez as reflexões aqui abordadas possa contribuir, para despertar a importância do entendimento de alguns conceitos que ainda continuam a fazer diferença, na bus- ca de novas perspectivas e por um conhecimento estético, que contribua para o desenvolvimento integral do homem. Talvez nossa inquietação e angustia passa contribuir com os educadores possam sentir, movimentados e motivados para começar ou recomeçar uma reflexão mais aprofundada sobre suas atitudes teórico/práticas retirar destas contribuições as im- plicações para uma verdadeira Educação Estética e Artística.16 16 Fonte: www.histedbr.fe.unicamp.br – Por Ana Lúcia Ser- rou Castilho/Vera Lúcia Penzo Fernandes 44 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes ASPECTOS DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA E AS MANIFESTAÇÕES POPULARES: FORMAÇÃO HISTÓRICA, MULTICULTURALISMO. Ao abordar o tema da cultura brasileira e permi- tir que aspectos relacionados à história e à identida- de ganhem relevo, é importante atentar para algumas questões. O que denominamos “cultura brasileira” é um amálgama, uma trama de fios os mais diversos, cuja di- nâmica é tanto mais rica quanto menos escondamos suas variações, suas contradições, suas linhas de força divergentes. Se a reflexão sobre cultura e identidade ganha lu- cidez na medida em que consegue se precaver de ge- neralizações, não basta apelarmos para o polo oposto, e adotar um relativismo absoluto, cujo resultado pode ser uma indiferenciação pouco estimulante. Afinal, há sim possibilidade de lermos o panorama cultural bra- sileiro apontando linhas de força principais, desde que fiquem claros os critérios mobilizados nessa leitura. Está colocada, desse modo, a pergunta: como or- ganizar uma análise adequada da realidade da cultura brasileira, sem evitar o tema da identidade brasileira, atentando para as dificuldades já apontadas? Para esse exercício de pensamento, farei primeiro uma consideração geral sobre cultura e, depois, irei me reportar à cultura brasileira, procurando pontuarcarac- terísticas que me parecem marcantes. Da palavra cultura Voltemo-nos então para o conceito de cultura. Não quero me deter-nos muitos significados his- tóricos que foram e são atribuídos à cultura, principal- mente na antropologia. Mas quero ressaltar dois aspec- tos de seu sentido etimológico, que permanecem muito atuais nos dias correntes. Na tradição romana, a palavra cultura advém, origi- nalmente, do verbo latino “colo”, que era utilizado para designar o plantio e que significava “eu cultivo”. À época, tratava-se de uma Roma ainda agrária, contrastando com o império em que se converteria mais tarde. Por isso, o uso específico para esse verbo: “eu cultivo o solo”. Assim, a palavra cultura circunscre- ve, rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado”. Seguindo esse sentido, Alfredo Bosi, professor emérito do Departamento de Letras da Universidade de São Paulo, nos diz que: “[a palavra cultura] era um modo verbal que ti- nha sempre alguma relação com o futuro; tanto que a própria palavra tem essa terminação –ura, que é uma desinência de futuro, daquilo que vai acontecer, da aventura. As palavras terminadas em –uro e –ura são formas verbais que indicam projeto, indicam algo que vai acontecer.” Este sentido destacado na citação se refere sim- plesmente ao aspecto material do verbo, que durou sé- culos entre os romanos. Não se tinha, ainda, o sentido ideal e intelectual como “desenvolvimento humano”, “conjunto de ideias e valores” ou “transmissão de co- nhecimentos”. Isso só vai ocorrer quando o mundo romano se heleni- za, após a conquista da Grécia. Nesse momento os significados do termo grego “Pai- déia”, que se referem ao sentido ideal e intelectual, ligados à formação e ao desenvolvimento humano, passam a alimen- tar e a manter equivalência com o termo latino “cultura”. Cabe lembrar que Paidéia deu origem à Pedagogia, o que indica a forte relação entre cultura e educação. Com a influência grega, a palavra cultura ganha den- sidade e se liga a uma outra dimensão: passa a se referir, também, ao passado, à herança, à transmissão de valores, ideias e conhecimentos. Assim, é possível notar que a cultura, em sua riqueza etimológica, mantém, ainda nos dias de hoje, esses dois sentidos: • ela se refere a tudo aquilo que foi herdado, ou seja, ao passado; e • ela diz respeito àquilo que é projeto, que está direcio- nado para o futuro. Abordar a cultura brasileira tendo como perspectiva investigar traços identitários consiste numa tarefa que, se manejada de modo grosseiro, leva a estereótipos que des- respeitam a riqueza cultural em questão. Para isso, é impor- tante termos em mente a natureza ambivalente da cultura, sua dupla face que olha para o que foi feito e para o que será construído. É nesse sentido que vale a pena olharmos para a ques- tão da identidade brasileira como projeto – ou seja, ela- boração contínua e coletiva – e como herança – ou seja, considerando um legado constantemente re-significado. Exemplos do enredamento entre passado e futuro não faltam, e remetem, inclusive, à dialética entre linguagens artísticas e o contexto cultural mais amplo, que inclui for- mas diversas de ser, conviver e se expressar. Três exemplos entre muitos Quando nos remetemos, por exemplo, a momentos valiosos da história cultural brasileira, vale a pena colocar em suspensão noções como “genialidade” e “inspiração”. Não afirmo que sejam ideias desprovidas de realidade, mas são inadequadas se queremos vislumbrar, de modo mais integrado e orgânico, as conexões entre arte e cultura. Para não progredir apenas com abstrações, tomemos, na forma de uma indagação, um caso específico: (¿)Em que medida a circunstância cultural, que carac- terizou a região das Minas Gerais no século XVIII, marcada por alta concentração de poder político-econômico e por uma estruturação social inédita no país, foi causa da criati- vidade manifestada na arquitetura, nas artes visuais e nas letras? E, em que medida, foi consequência? Urge notar que uma reflexão que considere a cultura como campo de ações – ou seja, um jogo polissêmico de mútuas influências – pode dar conta de um panorama so- 45 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes fisticado como esse. Panorama que se inscreveu como me- mória persistente em nossa matriz cultural, e que se revela pelos mesmos traços nos quais se esconde: nas marcas que deixou em nós, em nossos modos de falar, em nossas casas e museus, em nossas culinárias e cidades. Cabe ressaltar, por esse caro exemplo, que a cultura, pensada como campo, está aberta a variadas pressões in- ternas e externas. Tal campo constrói-se nesse embate, que não ocorre sem uma mistura de desejos, frustrações e aco- modações. Afinal, estamos falando do terreno das mani- festações humanas, pleno de articulações que flexionam o individual e coletivo, sem jamais apartar as duas instâncias. Assim, é impossível pensar a cultura da velha Vila Rica sem considerar a mescla rara de aspirações iluministas, das particularidades do lirismo ibérico, das marcas de resistên- cia de negros e índios. Se tal legado nos diz respeito até os dias de hoje, é porque aquilo que era condição trans- formou-se em projeto, conectando, no conceito de cultura, vetores divergentes de tempo. Guardadas as imensas distinções históricas, é possível fazer uma analogia com outros contextos de riqueza cul- tural cuja importância é semelhante. Dentre eles, nos vêm rapidamente à lembrança duas referências: • um caso evidente é o modernismo brasileiro em sua primeira fase, na década de 1920, cujo epicentro foi a cida- de de São Paulo, embalado pela economia cafeeira, e ligado a uma primeira promessa de efervescência urbana; e • outro exemplo faz referência à passagem da década de 1950 aos anos 60, quando energias oriundas de variados terrenos – as artes, os esportes, as humanidades, o urbanis- mo – explicitaram seus respectivos projetos de nação, con- fluindo num mosaico que nos diz respeito até hoje. Recuperando a dupla face etimológica de “cultura”, seria pos- sível aprofundar a análise de cada um dos três exemplos citados. Essa tarefa consistiria em investigar em que medi- da cada um deles revisitou e revigorou sua herança e suas ascendências, bem como os modos pelos quais cada um dos processos comentados ajudou a reelabo- rar o que se entendia, à época, por cultura brasileira. Ao citar esses três momentos privilegiados da história cultural do Brasil, emergem questionamentos dos quais não devemos nos desviar. Isso porque tais questionamentos sublinham o caráter arredio inerente a um debate sobre cultura e identi- dade brasileiras que procure escapar de estereótipos e fór- mulas prontas. Várias culturas no Brasil Uma primeira questão a ser colocada refere-se a nos- so olhar sobre o passado, quando se propõe a buscar as nossas possíveis raízes. Nos acostumamos a pensar sobre o passado com um apego excessivo a episódios privilegiados, muitas vezes desconsiderando um fluxo mais amplo, impul- sionado e refreado por motivações, camadas de sedimenta- ção, inconsciências e concessões. Tal miopia histórica, sobre a qual os estudiosos devem estar permanentemente advertidos, nos leva ao problema da legitimação. Quem deve opinar e quais critérios devem ser levados em conta nos debates acerca de “história brasi- leira”, “identidade brasileira” e “cultura brasileira”? Novamente, o professor Alfredo Bosi nos adverte que: “[...] não existe uma cultura brasileira homogênea, ma- triz dos nossos comportamentos e dos nossos discursos. Ao contrário, a admissão de seu caráter plural é um passo decisivo para compreendê-la como um ‘efeito de sentido’, resultado de um processo de múltiplas interações e opo- sições no tempo e no espaço”. Somos um país continental, com marcantes diferen- ças constitutivas e culturais ao longo de nossa história; com processos de urbanização e desenvolvimento distin- tos; e com especificidades geográficas e culturais, local e regionalmente.As várias culturas que habitam simultaneamente a realidade brasileira travam, há séculos, embates tácitos ou declarados, em busca de legitimação. Nesse sentido, até as primeiras décadas do século XX o Brasil experimentou uma situação comum no mundo ocidental, na qual a cha- mada “arte erudita” ocupava, de forma quase exclusiva, o posto de representante da cultura brasileira, chegando mesmo a se confundir com a própria ideia de cultura. Segundo esse modo restritivo de ver a cultura, parce- las numerosas da população brasileira, apesar de desen- volverem modos próprios de dar sentido ao mundo, não produziam ou consumiam a cultura legitimada. Estavam, assim, alijadas do debate sobre cultura e identidade na- cional. Outro sintoma de uma leitura classista de cultura, o reverso da moeda que acabamos de descrever, consistia em reservar um espaço circunscrito à denominada “cultu- ra popular”, embutindo nessa precária noção alguns pre- conceitos ligados à pureza e à espontaneidade. O efeito mais grave dessa construção teórica consiste em descon- siderar os ricos contatos entre essas manifestações e a cultura legitimada. Entretanto, as condições históricas que emergiram no mundo ocidental ao longo do século XX tornaram mais fluidas as fronteiras entre as várias “culturas”. Um dos sin- tomas dessa fluidez foi o interesse de artistas, considera- dos eruditos ou de vanguarda, por manifestações ditas populares: lembremo-nos de Picasso, lembremo-nos de James Joyce. No Brasil, o modernismo escancarou o trânsito inten- so entre culturas. Isso fica claro, por exemplo: • na pesquisa por uma “linguagem brasileira” feita pela literatura de Mario de Andrade; • no interesse de Villa-Lobos pela música popular e por aspectos das culturas indígenas; e • na pintura de Tarsila do Amaral, na qual se fundiam características cubistas com elementos iconográficos do interior do país. Ao mesmo tempo em que as fronteiras entre cultu- ra erudita e cultura popular tornavam-se mais tênues, uma nova instância ganhava consistência, colaborando para embaralhar ainda mais o campo cultural: a cultura de massa ou indústria cultural. Resultante da organização em larga escala do trato com a cultura, a cultura de massa incorpora meios de reprodução de som e imagem, meto- dologias industriais e ferramentas publicitárias de difusão. 46 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Criticada por teóricos da Escola de Frankfurt, a cultu- ra de massa constituiu uma sintaxe específica a partir da apropriação seletiva de aspectos da cultura erudita e da cultura popular. Sua presença no contexto urbano impôs- -se velozmente. Logo após a Segunda Grande Guerra, artis- tas norte-americanos e europeus já estabelecem diálogos com o universo das propagandas, das histórias em quadri- nhos e do imaginário do cinema e da televisão. Assim como ocorreu com artistas mundo afora, muitos pintores, músicos e escritores brasileiros incorporaram sig- nos dessa nova realidade a seus repertórios, dotando-os de agudo senso crítico. Desse modo, notamos nas últimas décadas uma pro- gressiva aproximação e mistura de elementos das várias dimensões da cultura: cultura erudita, cultura de vanguar- da, cultura popular, cultura de massa. Parece ocioso buscar algo de puro num contexto cuja riqueza advém, precisa- mente, desses contatos entre culturas. Culturas do Brasil, culturas do mundo É fácil notar que o debate sobre a identidade cultural deve, necessariamente, considerar essa complexidade ra- pidamente descrita. Outro ponto a ser levado em conta, inescapável no caso brasileiro, é o fator geográfico, confor- me se manifestou ao longo dos séculos até os dias de hoje. O que é a realidade brasileira, senão o resultado de encontros entre matrizes culturais de diversas partes do globo, aliado a uma vocação para contágios mútuos? Aqui, algumas considerações devem ser feitas: 1. as aproximações entre tais matrizes culturais se de- ram ao longo de cinco séculos, formando extratos antigos e recentes que se interpenetram; 2. devemos considerar tanto os contatos entre culturas estrangeiras, que se encontraram no Brasil, como os inten- sos trânsitos de pessoas e bens culturais dentro do próprio país; 3. as diversas culturas que constituem a nossa realida- de sofreram e sofrem processos desiguais de legitimação - mais lentos ou mais rápidos, mais ou menos aprofundados. Hoje, parece restar poucas dúvidas de que a comple- xidade advinda dessas noções de espaço e de tempo é a principal marca de nossa riqueza cultural. Daí a pluralidade de modos de ser, conviver e se expressar. Se não faz sentido pensarmos em culturas estanques, mas na dinâmica entre elas, não é certo imaginar que as particularidades possam se dissolver em homogeneidade resultante de repetidos contatos. Identidades regionais e locais reinventam maneiras de manter o vigor de suas for- mas de ver o mundo contemporâneo e nele agir. A cultura como condição humana Ao descrever o que denominamos polifonia cultural, ressaltamos dois vetores, que tentam dar ordem para o que é, em essência, pouco afeito a ordenações precisas: • o vetor das dimensões da cultura, abrangendo ins- tâncias interligadas, como cultura erudita, cultura popular, cultura de massa e suas variações; e • o vetor geográfico, que mostra a dinâmica de influên- cia de ascendências e localidades diversas. Os dois vetores não devem ser pensados isoladamen- te: interpenetram-se e têm uma realidade histórica, varian- do ao longo do tempo. Tomados em conjunto, podem nos ajudar a vislumbrar a complexa rede de relações do campo cultural. A rede da cultura não conhece limites, tem vocação para o espalhamento, para a amplidão. Ao invés de incor- rermos na visão restritiva que compreende a cultura como uma esfera da vida humana que estabelece relações com outras, sejam elas políticas, econômicas, filosóficas ou cien- tíficas, sugiro que pensemos a cultura numa perspectiva expandida: a cultura confunde-se com a própria condição humana para vivenciar as coisas do mundo e construir re- presentações dessas coisas. A essa disposição do campo cultural para o espalha- mento, soma-se outro fenômeno, mais diretamente re- lacionado à experiência contemporânea. A cultura tem adquirido crescente centralidade em agendas do debate econômico, político e social. Há pensadores que a consi- deram, inclusive, o elemento mais importante para formas renovadas de desenvolvimento. Quando consideramos de forma conjugada essas duas expressões da cultura – sua onipresença e sua relevância -, naturalmente percebemos o desafio envolvido em se pen- sar em identidade cultural, ainda mais num contexto como o brasileiro. Identidade e diversidade cultural podem ser encaradas como faces de uma mesma moeda: é o convívio respeitoso de identidades culturais que permite que a diversidade seja experimentada como valor. Contra previsões pessimistas, percebemos que um mundo globalizado não é hostil a esse binômio. A própria posição central da cultura na circuns- tância contemporânea está relacionada à coexistência de visões culturais – convergindo aqui, divergindo acolá. Podemos falar de uma identidade brasileira? Como ela se relaciona com a diversidade típica de um país de dimensões continentais, marcado por cinco séculos de fluxos migratórios externos e internos? Enxergamos um grau de regionalização em certas ma- nifestações culturais brasileiras, que nos leva a identificar traços gaúchos ou mineiros, particularidades nordestinas ou cariocas. De forma análoga, percebemos que grandes cidades de uma determinada região chegam a compartilhar modos de expressão, sem negar sotaques locais. Entretanto, é possível sugerir elementos que, em linhas gerais, parecem dizer respeito a uma “brasilidade”. Citá-los pode significar a adesão a estereótipos que simplificariam nossa complexidade cultural. A identidade na diversidade. O diverso como fator de reconhecimento identitário. O que parece um jogo de palavrastenta dar conta de uma situação profundamente paradoxal, cujos paradoxos não devem ser reduzidos a qualquer síntese apaziguadora. A expressão “campo cultural” pode nos ser útil nesse momento. Afinal, trata-se de um campo onde as culturas negociam por maior ou menor visibilidade e legitimação. O Brasil é um terreno fértil para essas negociações: temos uma disposição para o outro que não se encontra em qual- 47 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes quer parte. A identidade brasileira e as muitas identidades que a compõem só podem ser pensadas como soluções provisórias para um debate que é permanente. Emerge aqui a veia processual que deve estar presente em qualquer abordagem da cultura: • as políticas culturais são eficazes se concebidas como processos; • as ações educativas relacionadas à cultura ocorrem em regimes processuais – é o que podemos denominar de educação permanente; • a produção, a difusão e o consumo são mais bem entendidos quando considerados em sua dependência mútua. A construção de uma identidade brasileira encontra-se num processo que, felizmente, não atingirá seu fim: seria uma contradição. Ou sua morte. A cultura é um testemunho da dinâmica dos indivíduos e das comunidades. A trama de culturas que enreda coti- dianamente o Brasil registra e qualifica essas movimenta- ções.17 Cultura e Costumes do Povo Brasileiro Diversidade Humana A humanidade sempre teve reações variadas pelas di- ferenças que percebiam entre si e os vários povos com os quais tinham contato. Guerreiros; viajantes; comerciantes; e lendas relatavam a seus pares, desde a mais remota anti- guidade, as exoticidades dos demais. As reações eram e são variadas: desde o medo e a repulsa, até a curiosidade e o apreço (Mair, 1965; Laraia, 1986; Maggie, 1996). Aspectos culturais e físicos imediatamente perceptíveis da singularidade dos “outros”, como vestimentas; orna- mentos corporais; estatura; cor da pele, cabelos e olhos; e língua, ressaltavam a singularidade mais aparente. Os “costumes” mais estranhos, porém, sobressaiam aos que tinham a oportunidade de passar um certo tem- po maior entre os “estrangeiros” e outras diferenças mais profundas entre os povos só poderiam ser apreendidas por um olhar mais detalhado: historiadores como Heródoto são tidos, por alguns, como os primeiros “antropólogos”, por se preocuparem com a organização das sociedades que descrevia, e não somente com os acontecimentos his- tóricos, buscando assim uma razão, uma causalidade para os eventos (Mair, op. cit.). As explicações sobre a diversidade humana sempre ressaltaram com mais ênfase os aspectos negativos dos “outros”, tendo como parâmetro as características positi- vas, físicas e culturais, dos povos sob cujo ponto de vista se pensava a diferença. Chega-se até a negar a qualidade de “humano” aos demais povos. Alguns exemplos: entre os povos indígenas brasileiros, a autodesignação, a rigor, enfatiza as qualidades de “seres humanos”; “gente”; “povo de Deus” de cada povo. E para os demais restam termos, no mínimo, desagradáveis, como “os agressivos selvagens”; “os comedores de carne de ma- míferos ou de cobra” ou outra característica repulsiva. Já 17 Fonte: www.sescsp.org.br - Danilo Santos de Miranda nos primeiros séculos da colonização luso-espanhola, o estatuto de “seres com alma” chegou a ser negado aos ha- bitantes tradicionais das Américas, sendo objeto de discus- sões acirradas no âmbito da Igreja Católica. A esta atitude a antropologia chama de “etnocentris- mo”, uma atitude generalizada entre as sociedades huma- nas de valorizarem ao máximo como as melhores, as mais corretas, suas formas de viver; agir; sentir e pensar coleti- vamente. Outros exemplos demonstram atitudes mais positivas em relação à alteridade, como na Primeira Carta ao Rei de Portugal, em que Caminha descreveu os “índios” como ale- gres e inocentes como crianças, sem notarem que estavam expondo suas “vergonhas”. Rousseau, um crítico da socie- dade européia, cunhou a idéia do “bom selvagem” e as cortes européias deleitavam-se com a exoticidade animal e humana do “Novo Mundo”. Segundo Maggie (op. cit. : 226), foi a partir do sécu- lo XVI, com a expansão colonial européia, que caracteres como a cor da pele e outros traços físicos dos povos en- contrados por exploradores passou a ser um aspecto privi- legiado no imaginário europeu, como marcador das dife- renças entre os povos. A autora cita Camões, em Os Lusíadas, que, ao descre- ver um encontro com um habitante da África, disse acerca daquela parte do mundo: “ Onde jazem os povos a quem nega O filho de Clymenes a cor do dia”. e ainda, mais adiante: “ hum estranho…de pelle preta” A partir desta época, igualmente, o pensamento euro- peu começou a desenvolver uma forma específica de clas- sificar e pensar “as coisas do mundo”. A ânsia pelo saber, separando-se da Religião e da Filosofia, tornara-se Ciência, buscando dar conta de um novo mundo de proporções multi-continentais. Os critérios da observação sistemática e da classificação em hierarquias racionais foram aplicados às novas formas de vida (vegetal; animal e humanas) que passaram a conhecer. A escravização dos povos indígenas sul-americanos e africanos, trouxe contradições políticas e morais no pen- samento colonial e os critérios de classificação das diver- sidades vegetais e animais foram tomados como critérios principais de demarcação das diferenças humanas. Segun- do Maggie (op.cit. : 225-226), “as diferenças são a própria matéria do pensamento, desde a passagem da natureza à cultura, mas foi nesse encontro entre povos distantes que se levou a troca simbólica a níveis tão intensos.” A noção de Raça, e sua associação de características biológicas; comportamentais e sociais foi, neste longo pe- ríodo que se estendeu até o século XX, a expressão científi- ca do racismo colonial luso-espanhol.. Na cultura luso-his- pânica, este movimento teve desdobramentos importantes que incluíram, como no Brasil, a política de incentivo a aos movimentos migratórios – desde a importação esclavagista da África até as tentativas de “branqueamento” do povo brasileiro (Seyferth, 1996), no século XIX – e influenciaram os estudos raciais acadêmicos até meados do século XX. 48 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Darwin e sua obra “A origem das espécies” foi um im- portante marco da revolução metodológica que expressava uma “síntese revolucionária” na ciência classificatória natu- ralista das espécies. Sua teoria da evolução biológica das es- pécies introduziu uma visão dinâmica que desvinculou das ciências classificatórias naturais das explicações da origem “inata” das diferenças entre as espécies. Não obstante, desde meados do século XIX até meados do século XX, nos deba- tes científicos sobre Raça, este pensamento dinâmico não se havia consolidado. Segundo Ventura dos Santos (1996:125- 127), a obra de Darwin e de outros, com modelos evolucio- nistas, levaram um longo tempo para se consolidarem nas Ciências Antropológicas que se baseavam na construção de categorias como “tipos raciais” e “raças”. Somente pouco antes da metade do século XX, quan- do autores como Franz Boas (1940) e Stocking (1968) le- vantaram as influências das condições ambientais na cons- tituição das diversidades humanas, o que Santos chama de “segunda revolução darwinista” na Antropologia “Física” (biológica) se consolidou. O conceito de raça, nas ciências antropológicas, foi substituído então pela categoria “popu- lação” (cf. Ventura dos Santos, op.cit. :125-129), construí- da a partir de critérios estatísticos e genéticos, cuja ênfase estava mais em seus aspectos dinâmicos, e na separação, por inspiração da biologia experimental, estes critérios dos extrabiológicos (sócio-culturais). O clima do pós-guerra europeu, em fins da década de 40 e na dos 50, trouxe reações radicalmente contrárias aos fundamentos da eugenia levada ao extremo pela política nazista.Esta transição foi significativamente marcada na Assembléia da UNESCO (United Nations Educational and Scientific Organization) de 1949 (cf. Ventura dos Santos, op. cet.:129-132). Nesta Assembléia, Boas e alguns antro- pólogos, como Lévi-Strauss (Raça e História) foram convi- dados a participar e exerceram influência no relatório final, contrária à ênfase na diversidade racial como explicativa de fenômenos sócio-culturais e ambientais. A negação da diversidade biológica e sua influência em certas caracterís- ticas individuais dos grupos humanos, levou a uma reação de geneticistas; biólogos e antropólogos físicos, que tive- ram a oportunidade de participar de outra reunião, cuja conclusão não foi, segundo Ventura dos Santos, muito di- ferente da anterior, embora resguardasse um espaço para se pensar a diversidade biológica humana. Diversidade Biológica Às classificações da diversidade humana, baseadas na morfologia física e no conceito de raça, sobrepunham- -se igualmente aspectos do comportamento e formas de pensar e sentir (aspectos sócio-culturais). O evolucionismo darwinista inspirara, inicialmente, uma hierarquização da diversidade humana e das “raças” em que a raça “branca” estaria no ápice da escala de evolução, devido à sua “supe- rioridade” tecnológica e, acreditava-se, moral (etnocentris- mo evolucionista que, na antropologia social ou cultural, teve também grande influência). Não obstante, com a influência do evolucionismo dar- winista e da biologia experimental do início do século XX, as classificações da antropologia física passaram, das ca- racterísticas morfológicas à inclusão de parâmetros mais profundos da biologia humana, como os grupos sanguí- neos; as características da hereditariedade genética; da es- tatística, com as seqüências médias de caracteres genéticos e da teoria da probabilidade. A associação entre a antropologia biológica e a gené- tica faz parte deste movimento que aprofundou o olhar científico da morfologia para as moléculas e que, segundo Ventura dos Santos (op. cit. : 126-129), consistiu em um movimento metodológico significativo, designado como a “segunda revolução darwinista”. A associação entre antro- pologia e genética faz parte deste movimento metodoló- gico. Os antropólogos físicos, atualmente, buscam mais me- dir a distribuição de certas substâncias no sangue; a pres- são sanguínea e de seqüências genéticas específicas em determinados grupos humanos. Os estudos da antropologia física estariam assim, mais próximos dos estudos arqueológicos; médicos e genéticos, voltados, no contexto do processo saúde-doença, para as interações adaptativas entre a biologia humana e o meio- -ambiente natural e sócio-cultural. Para uma revisão crítica e síntese dos rumos da Antropologia Física atual, ver Gould (1991). A genética, aprofundando mais o enfoque metodoló- gico, ganhou um estatuto que passou de disciplina pura- mente científica para a de técnica, com a engenharia ge- nética. É particularmente decisivo para as questões atuais sobre a diversidade humana, na bioética e na antropologia social, o emprego da engenharia genética, o decifrar da cadeia de DNA humano, e a ênfase no “genoma”. A “Nova Genética”, fruto das revisões críticas pós-mo- dernas, define-se enquanto técnica terapêutico-preventiva de doenças herdadas e como uma engenharia. Este assun- to será reelaborado no próximo item, sobre a Diversidade Cultural. Para uma crítica atual das questões ligadas às im- plicações sócio-culturais e políticas da Nova Genética, cf. Petersen e Bunton, 2002. Diversidade Cultural No campo das antropologias não-biológicas (etno- logia; antropologia social e cultural), há uma diversidade de abordagens. A noção de cultura é básica para se com- preender os movimentos pelos quais passou esta disciplina, inicialmente parte da Antropologia (geral, sem distinções) do início do século XIX, e que pretendia abordar todos os aspectos das questões acerca da diversidade humana. O mesmo debate que, na Antropologia Física (biológi- ca) substitui o conceito de Raça pelo de População, desde meados do século XIX até meados do Século XX, ocorreram no âmbito da Antropologia de cunho mais social, em que a diversidade humana transitou pelos conceitos de Raça; Etnia e Cultura. E se confunde com a própria história da disciplina. Para uma visão mais abrangente, resumirei antes de entrar no assunto específico do conceito de cultura e o de- bate entre este conceito e o de raça, enfocarei outra ques- tão importante, que diz respeito à história da antropologia. 49 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Por influência do darwinismo, no início da antropologia social, o projeto de dar conta da diversidade cultural levou naturalistas e historiadores a debruçarem-se sobre os rela- tos de viajantes; exploradores e administradores coloniais que falavam sobre “as exoticidades” das sociedades “inferio- res”; incivilizadas; simples, em relação a uma visão industrial da técnica; e, finalmente, primitivas, por serem mais rema- nescentes de formas antigas, primeiras, da evolução das so- ciedades humanas. O relativo isolamento geográfico destas sociedades e povos contribuiu para esta visão. Assim, a An- tropologia Social , partindo de questões evolucionistas im- portantes para os estudiosos do século XIX, ficou vista como “ciência das sociedades primitivas”. Mas com a persistência destas sociedades em resistirem até a atualidade de forma bastante diferente da tradição européia, colocou um pro- blema crucial para esta visão evolucionista e etnocêntrica da diversidade humana. Este fato motivou variações ao longo da história da disciplina e de seus conceitos. Os antropólogos voltaram-se, a partir dos próprios re- sultados das pesquisas nestes povos com “culturas dife- renciadas”, para sub-grupos ou sub-culturas no interior das sociedades “complexas”: os estudos de “comunidades camponesas” de Redford; os estudos voltados para grupos marginalizados nas regiões urbanas até, finalmente, estudos voltados para grupos pertencentes às classes populares e al- tas da sociedade moderna, culminaram por desembocar em uma análise crítica da visão de mundo ocidental moderna e da globalização, inclusive a da própria cultura científica nas áreas médicas e da saúde pública (cf. Verani, 1990 e 1994; Duarte, et al., 1998; Lupton, 1999; Petersen e Bunton, 2002). Voltando ao conceito de cultura, algumas das principais correntes teóricas que influenciaram variações do mesmo são: o evolucionismo e suas influências no difusionismo e na sociologia francesa de Durkheim e Mauss; o marxismo e a sociologia de Marx Weber; e o estruturalismo de Lévi- -Strauss. O funcionalismo inglês e as vertentes culturalistas americanas também se inserem neste campo. Tylor e Boas foram os que mais enfatizaram o adjetivo cultural ligado à antropologia, em um movimento inicia- do na Inglaterra, em início do século XIX, e nos Estados Unidos. Mas na França, com a Sociologia de Comte bem solidificada enquanto disciplina independente das demais Ciências Humanas, Durkheim; Mauss e Lévi-Strauss são autores importantes que vinculam a Antropologia Social à Sociologia, como uma sub-disciplina desta última. A noção de cultura é o cerne de uma antropologia que separava o determinismo biológico “racial” das manifesta- ções de comportamento aprendidas pelos indivíduos de uma sociedade após o nascimento. Estes aspectos eram con- siderados então como de ordem “ambiental” no debate das relações entre Raça e Cultura. Para uma revisão dos diversos conceitos de cultura e de antropologia, até à metade do sé- culo XX, com suas teorias subjacentes, conferir a coletânea de Shapiro, 1956; Mair, 1965; Copans, 1971; Laraia, 1986. Mas para efeitos didáticos, cito aqui a definição de cultura de Tylor (1871, apud Mair, op.cit.:15-16): Cultura é (…) “conhecimentos; crenças; artes; moral; leis; costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem comomembro da sociedade.” Como comenta Mair, esta é mais uma lista de itens do que uma definição ou uma teoria que descreva e ex- plique a diversidade humana.Boas, na América, interes- sou-se pelas “artes e técnicas”. Na prática, o estudo da cultura refere-se a costumes; maneiras e técnicas tradi- cionais específicas de uma sociedade. Esta vertente cultu- ralista da Antropologia considerava-se mais próxima da Antropologia Física; da Lingüística; e da Arqueologia. Sua ênfase maior era em descrever e entender a diversidade humana. Já a outra vertente citada, incluindo o funcionalismo institucional de Malinowiski e o funcionalismo-estrutural de Radcliffe-Brown, considerando-se mais próximo das Ciências Sociais, detiveram-se mais, através do método comparativo, no desenvolvimento teórico de genera- lizações sobre todos os tipos de sociedades humanas. Malinowiski, também considerado o “pai do trabalho de campo”, o método privilegiado de estudos etnológicos, enfatizava que os estudiosos deveriam descrever todos os aspectos vinculados numa dada sociedade ao comple- xo, por exemplo, da função alimentar: técnicas agrícolas; formas de distribuição dos alimentos entre grupos e in- divíduos; instituições de trocas (comércio ou circulação de bens); etc. Malinowiski via a sociedade através de uma metáfo- ra anatômica em que na morfologia das sociedades, as instituições cumpriam as mesmas funções que os órgãos e sistemas do corpo humano. A metáfora mecânica de estrutura e funcionamento também influenciou as teorias sobre as sociedades humanas, como no funcionalismo, em que, porém, a metáfora fisiológica predominava. A noção de sistema dinâmico é parte desta influência. É necessário, não obstante, as diferenças atribuídas ao conceito de “estrutura”. Apesar de utilizado por Ma- linowiski; Radcliffe-Brown; Evans-Pritchard; e outros, foi com Lévi-Strauss que este conceito, influenciado pelas teorias da lingüística, tornaram-se mais abstratos e liga- dos a questões mais sociais que a metáforas tomadas de disciplinas como a biologia e a mecânica. Lévi-Strauss, critica e sintetiza a definição de cultu- ra mais utilizada: “hábitos; atitudes; comportamentos; maneiras próprias de agir sentir e pensar de um povo” e enfatiza a “estrutura sub-consciente de pensamento”. Para o estruturalismo de Lévi-Strauss, a diversidade hu- mana não é importante, e sim a similaridade humana de pensamento. Nesta teoria, o conceito de cultura ganha um sentido residual. “Residual, porém irredutível”, como coloca Carneiro da Cunha (1986), em que a identidade de grupo é fundamental na construção da Pessoa Humana. Para o a antropologia atual, cultura é um sistema simbólico (Geertz, 1973), característica fundamental e co- mum da humanidade de atribuir, de forma sistemática; racional e estruturada, significados e sentidos “às coisas do mundo”. Observar; separar; pensar e classificar; atri- buindo uma ordem totalizadora ao mundo, é fundamen- tal para se compreender o conceito de cultura atualmen- te definido como “sistema simbólico”, e sua diversidade nas sociedades humanas, mesmo neste período atual de modernidade tardia. 50 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Questões mais atuais No que concerne aos rumos intelectuais dos objetos de interesse para o estudo e construções teóricas atuais da Antropologia Social, o individualismo; a fragmentação; a alta especialização técnica e a dificuldade de se articular níveis distintos de relações qualitativas e quantitativas en- tre os fenômenos, no modo globalizado hegemônico de pensar, são os problemas mais enfatizados (cf. Dumont, 1985; Duarte, 1998). Conceitos como “disembeddeness”; “embodiment” e “reflexivity” são importantes para o que, na Epidemiologia, se considera característico da “socieda- de de risco”, como podemos chamar o capitalismo global da modernidade tardia. Deborah Lupton (1999) faz uma in- teressante síntese dos conceitos e análises sócio-políticas e culturais na pós-modernidade e atualmente, aplicados à noção de Saúde Pública de “sociedade de risco” e subjetivi- dade “reflexiva”, onde as escolhas individuais são predomi- nantemente privilegiadas para a prevenção e controle do risco de adoecimento e morte. A questão do genoma e da genética passa por ques- tões tanto de ordem biológica quanto culturais e éticas. A “Nova Genética”, conforme reflexão de Petersen e Bunton (2002), na modernidade tardia de nossa sociedade capita- lista global, poderia estar, enquanto técnica (engenharia) aplicada dos conhecimentos científicos da biologia e ge- nética, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida humana, prevenindo doenças e evitando riscos, ou criando, em uma reedição individualista (i.e., não imposta pelos es- tados-nações, já bastante enfraquecidos com o neolibera- lismo; a abertura dos mercados internacionais e a enorme amplitude via Internet da circulação de informações), uma nova diferença e eugenia? Assim como, na antropologia física, ainda subsistem noções mais ligadas ao conceito de “tipo racial” (Ventura dos Santos, op. cit.: 132-137), e na antropologia social (ou cultural) até recentemente, ainda se encontravam bastan- tes influências de idéias evolucionistas; positivistas e de cunho comportamentalista, a Nova Genética pode estar, sob o argumento de uma aposta no futuro “positivo” para a prevenção e controle de doenças herdadas, construin- do novas identidades de sociedade, grupos e indivíduos “inferiores”; de “risco” , baseadas inclusive em diferenças biológicas. Desta vez, não da cor da pele, mas da herança genética. Outras questões, como as patentes de organismos geneticamente modificados (OGM), sejam sementes agrí- colas; sejam híbridos animais ou embriões humanos clona- dos, iriam tornar-los, com o uso médico terapêutico, mais uma forma de criar consumo e lucro. Neste campo, as lu- tas sócio-econômicas e bioéticas ganham novo papel no contexto global. Os debates são atuais e estão abertos aos rumos da história.18 Multiculturalismo e Educação O termo multiculturalismo possui uma polissemia de significados; com o estudo do artigo de Flávia Pansini e Miguel Nenevé que citaram Silva (2007) Entendemos que o multiculturalismo se refere a estudos voltados para as dife- 18 Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br - Por Cibele Verani rentes culturas espalhadas nos lugares do mundo, objeti- vando a partir da aprendizagem a importância de cada cul- tura a fim de evitar os conflitos sociais. Podendo também estar voltado à política, quando os grupos como negros, índios, mulheres e outros reivindicam perante as autorida- des políticas seus direitos e deveres como cidadãos. O multiculturalismo é um movimento social surgido nos estados unidos e tem como objetivos principais: a luta pelos direitos civis dos grupos dominados, excluídos por conta de não pertence a uma cultura e classe social con- siderada superior a euro americana, branco, letrado, mas- culino, heterossexual e cristão. A formação de um currículo escolar que aborde essa questão ensinando os alunos a “não terem preconceitos e discriminações, já que a escolar e uma espaço de socialização”. O multiculturalismo só ganhou pulso e força a nível estadunidense e mundial, pois os grupos silenciados num primeiro momento, não calaram sua voz se uniram nos movimentos negro, feminista, homossexuais, e a luta dos deficientes. Hoje o assunto interressa o currículo escolar e aos políticos. Relataremos para exemplificação o que tem acontecido de eventos no Brasil e no mundo tratado da temática e os desafios para a justiça social Ainda falaremos como o currículo escolar e o educador são fundamentais no assunto e quando se contradizem quan- do as praticas curriculares segregam as crianças negras e a formação universitária não prepara de forma eficaz os profis- sionais da educação a tratarem da diversidade em suas aulas. O não reconhecimento e respeito a identidades cultu- rais diferentes das nossas criam atritos; quandoolhamos para determinado grupo social e vemos esses com mais direitos do que o nosso, principalmente as questões eco- nômicas já que precisamos de oportunidades para apren- der e se desenvolver como ser social e profissional. E por isso que Paulo Freire defende que o fim maior da educação deve ser desenvolvido a partir do diálogo e da consciência, onde as pessoas podem lutar por sua liberdade, contra a máquina opressora do capitalismo. Escolhemos o tema devido à necessidade individual de convivência com o próximo, sabendo das nossas diferenças, buscamos entender o multiculturalismo para aprendermos a interagir e respeitar os diferentes grupos sociais de forma harmoniosa e influenciar como futuro educador, nossos alu- nos a tais práticas, minimizando os preconceitos e conflitos no ambiente escolar e consequentemente social. História do Multiculturalismo O movimento multiculturalista se inicia no final do sé- culo XIX nos Estados Unidos com a ação principal do movi- mento negro para combater a discriminação racial no país e lutar pelos seus direitos civis. Segundo SILVA e BRANDIM (2008:56) “Os precursores do multiculturalismo foram professores, doutores afro-a- mericanos, docentes universitários na área dos estudos sociais que trouxeram por meio de suas obras, questões sociais, políticas e culturais de interesse para os afro-des- cendentes”. Esses precursores foram essenciais para que no século XX por meio de novos intelectuais o tema se vol- tasse também à educação. 51 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Na década de 90 algumas universidades estaduniden- ses aderem ao movimento e que com as pressões popula- res ganham força e espaço com a criação de políticas pu- blica em todas as esferas do poder público no que cocerne a oportunidades educacionais iguais aos grupos sociais favorecidos daquele país. O pós-modernismo que defende a valorização da plu- ralidade cultural no seu discurso curricular ajuda o fortale- cimento dos estudos multiculturais nos anos 80 e 90. Hoje na contemporaneidade o tema é influenciado pela globali- zação, com os intercâmbios culturais fala-se de uma hege- monia cultural o que tem causado problemas sociais. Segundo McLaren (1997 apud PANSINI E MENEZES, 2008, P. 35) há pelo menos quatro tendências de multicul- turalismo enquanto projeto político: O multiculturalismo conservador, multiculturalismo humanista liberal, multicul- turalismo liberal de esquerda e multiculturalismo critico e de resistência, visão esta ultima do qual se diz partidário o próprio autor. O multiculturalismo conservador ou empresarial e aquele que pretender construir uma cultura comum o que faz com que apartir desse princípio negue a diversidade existente e construída há séculos e que nos leva a entende sua defesa a uma cultura padrão a branca. Nesse contexto desmotiva os grupos dominados em suas lutas a seu capi- tal cultural. Esse tipo de visão conservadora (...) “mesmo quando reconhece outras culturas assenta-se sempre na incidên- cia, na prioridade a uma língua normalizada- e, portanto, é um multiculturalismo que de fato não permite que haja um reconhecimento efetivo das outras culturas’’. (SOUZA SANTOS, 2003, P 12). “A vertente Humanista liberal por ingenuidade ou idea- lismo ressalta a existência de uma igualdade natural entre as diversas etnias, sem se preocupar em evidenciar a falta de oportunidades iguais em termos sociais e educacionais” (SILVA E BRADIN, 2008, P.63). Sem levar a risca a realidade social do sistema econômico capitalista se valendo de seus próprios argumentos. Fala-se da criação de uma organiza- ção econômica mais igualitária daí dizer que todos somos capazes de competir e vencer no mundo. O multiculturalismo liberal de esquerda defende a di- versidade cultural, Pansini e Nenevé quando citam McLa- ren compreendemos que o fim desse tipo de vertente é se focar mais nas diferenças e respeita-las esquecendo-se que elas são formadas nas pessoas pela interação do meio social em que convivem sendo negativa a tendência a eliti- zar outros grupos ao mesmo tempo em que deixa de lado a participação de outros grupos nas discussões multicul- turais. O multiculturalismo critico ou de resistência é o que podemos considerar mais voltados aos anseios dos movi- mentos multiculturais conforme Silva e Bradim O multiculturalismo critico levanta a bandeira da plu- ralidade de identidades culturais,a heterogeneidade como marca de cada grupo e opõe-se á padronização e unifor- mização definidas pelos grupos dominantes. Celebrar o di- reito á diferença nas relações sociais como forma de asse- gurar a convivência pacifica e tolerante entre os indivíduos caracteriza o compromisso com a democracia e a justiça social, em meios às relações de poder em que tais diferen- ças são construídas. Conceber, enfim, o multiculturalismo numa perspectiva critica e de resistência pode contribuir para desencadear e fortalecer ações articuladas a uma pra- tica social cotidiana em defesa da diversidade cultural, da vida humana, acima de qualquer forma discriminatória, preconceituosa ou excludente. (2008, p.64) A escola e a Pluralidade Cultural A escola é um sistema aberto que faz parte da supe- restrutura social formada por diversas instituições como: a igreja, família, meios de comunicação; faz parte do ambien- te escolar crianças pertencentes a classes sociais, costumes, aspectos físicos,e culturais diferentes que estão em proces- so de aprendizagem. De acordo com Menezes: (...) Ao contemplarmos as relações raciais dentro do es- paço escolar questionarmos até que ponto ele está sendo coerente com a sua função social quando se propõe a ser um espaço que preserva a diversidade cultural, responsá- vel pela promoção da equidade. Sendo assim, aguardamos mecanismos que devam possibilitar um aprendizado siste- matizado favorecendo a ascensão profissional e pessoal de todos os que usufruem os seus serviços. A escola atende aos padrões dominantes das classes consideradas superiores, os brancos euros americanos essa cultura e ensinada e os que dela não fazem parte ou não se adéquam são excluídos vemos isso no dia a dia quando os grupos inferiores índios e negros sofrem, são insultados no espaço escolar, e dificilmente vemos algum negro ocupado um posto elevado na sociedade. Como coloca Menezes: “a escola pode ser um espaço de disseminação quanto um meio eficaz de prevenção e diminuição do preconceito”. A escola dissemina o precon- ceito quando em seus currículos aplicados, métodos de ensino, apresentação de imagens caricatas negras em car- tazes ou livros didáticos e através da linguagem não verbal desprezam a cultura dos grupos não dominantes, a exem- plo quando falam só da escravidão negra e não valoriza a cultura dessa raça. O docente passa a ser um disseminado do problema quando pela linguagem não verbal não mantém contato físico com as crianças negras, o que demonstra rejeição a elas por sua cor e condição social da qual fazem parte causando-lhe sofrimento. “A sua dor não é reconhecida, havendo uma aparente falta de acolhimento por parte de pessoas autorizadas (educadores), que silenciam ou se omitem em face de uma situação de discriminação. Tal pos- tura denuncia a banalização do preconceito e a conivência dos profissionais com ele” (Romão, 2001) Quanto à diminuição do preconceito, o que não e tão fácil a exemplo do Brasil aonde a exclusão dos negros, ín- dios vem desde a colonização portuguesa. O que pode ser feito e incorporar nos currículos das instituições formado- ras de professores a temática multicultural seja as institui- ções públicas ou privadas. O educador que tem papel na formação de identidades pode segundo Moreira (2001, p. 49 apud PANSINI E NENEVÉ, 2008, P.41) a ideia e que o 52 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes professor reflexivo preserve a preocupação com os aspec- tos políticos, sociais e culturais emque se insere sua prati- ca, leve em conta todos os silêncios e discriminações que se manifestam na sala de aula, bem como amplie o espaço de discussão de sua atuação. Focalizamos a etnia negra, tendo em vista que o mul- ticulturalismo se iniciou como movimento por esse grupo racial. A exclusão deles começa desde a infância dentro das escolas por possuírem características físicas e costumes di- ferentes; de acordo com pesquisas, feitas com crianças elas se sentem oprimidas pelos seus colegas, pois são chama- das de “feias, fedoretas, cabelo duro, preta”, ou seja, são desvalorizados seus atributos individuais o que influencia na sua formação identitária porque nesse período da vida seu caráter esta sendo formado. O preconceito racial e a discriminação fazem com que aos índios e, em especial aos negros se mantenham em uma situação marginal e excluída sem a assistência devida dos órgãos responsáveis, eles tornam-se alheios ao exer- cício de cidadania, sem condições de crescer intelectual e profissionalmente. Nessa direção MENEZES destaca: O preconceito racial cria uma ação perversa que de- sencadeia estímulos dolorosos e retira do sujeito toda pos- sibilidade de reconhecimento e mérito, levando-o a utilizar mecanismos defensivos das mais diversas ordens, contra a identidade ou o pensamento persecutório que o desper- sonaliza e o enlouquece. Nessa perspectiva, é fortalecida a ideia de dominação de grupos que se julgam mais adianta- dos, legitimando os desequilíbrios e desintegrando a dig- nidade dos grupos dominados. Na escola os educandos não conseguem relacionar ou praticar os conteúdos ensinados a sua realidade fora da escola, pois a maioria deles fazem parte dos grupos inferio- res, daí a importância do professor ter criatividade e levar seus alunos a refletir e investigar as questões relacionadas a vida e cultura dos grupos mais próximos a sua vida, tendo autonomia em seu ensino e deixando um pouco de lado as praticas colonizadoras. Devido aos padrões de branqueamento muitas crianças negras querem ser brancas e incorporam em suas atitudes os costumes deles porque estes são incluídos na socieda- de nos aspectos econômicos políticos e sociais e culturais. Como relatam pesquisas feitas com crianças negras, que de- monstra isso muito bem quando uma garota diz: eu gostaria de dormir e acordar branca e de cabelo liso, essa fala de- monstra o seu sofrimento porque vem sofrendo preconcei- tos por colegas de classe, elas tem acesso a matricula e sala de aula exceto as atividades escolares com êxito e aceitação, daí resulta em sua reprovação, e quando adultos sua indig- nação ou silenciamento por sua condição de vida. Na verdade o que seria necessário era “uma formação cultural deve voltada para sua realidade local de modo que os educadores possam romper com tais praticas possibi- litando aos educadores” afirmar suas tradições culturais e recuperar suas historias reprimidas” (Bhabha, 1998, p. 29). Os movimentos sociais conquistaram na constituição brasileira de1988 admissão do nosso pluralismo étnico. Os efeitos são observados na educação no campo da produ- ção artística, sobretudo da literatura fala-se em “escrita fe- minina”, em “vozes negras”, homoerótico etc. Nessa linha de raciocínio: “A cultura torna-se instrumento de definição de polí- ticas de inclusão social - as “políticas compensatórias” ou as “ações afirmativas” - que tomam os diversos setores da vida social. Cotas para minorias, educação bilíngue, progra- mas de apoio aos grupos marginalizados, ações anti-racis- tas e antidiscriminatórias são experimentadas em toda par- te.(Daniel Bell) Para Romão (2001), a reversão desse quadro será pos- sível pelo reconhecimento da escola como reprodutora das diferenças étnicas, investindo na busca de estratégias que atendam as necessidades especificas de alunos negros, incentivando-os e estimulando-os nos níveis cognitivo, cultural, físico. O processo educativo pode ser uma via de acesso ao resgate da autoestima, da autonomia e das ima- gens distorcidas, pois a escola é ponto de encontro e de embate das diferenças étnicas, podendo ser instrumento eficaz para diminuir e prevenir o processo de exclusão so- cial e incorporação do preconceito pelas crianças negras. É impossível viver na escola e na sociedade sem se re- laciona com pessoas diferentes de nos, não somos melho- res do que nenhuma raça somos iguais às diferenças não devem ser vistas como barreiras e sim como o complemen- to de nossa existência e aprendizado. Mais uma vez coloco a participação dos docentes no sentido de comprometi- mento a estuda o multiculturalismo e respeita a bagagem cultural de seus alunos. Daí citaram que a “leitura critica que ser realiza nos cur- sos de formação deve ser entendida como uma interseção da linguagem, da cultura, do poder, e da historia”.(McLaren e Giroux,2000) A manifestação do multiculturalismo nas análises educacionais, de fato trouxe desafios muito importantes às investigações sobre o conhecimento, e com isso abriu possibilidades para se pensar em práticas curriculares e de formação docente que pode ser voltadas à construção de identidades discente e docente multiculturalmente com- prometidas com o ensino/aprendizagem, visando assim promover o respeito à diferença e à pluralidade cultural. As ações escolares e políticas A problemática multicultural tem sido um tema discu- tido principalmente na pedagogia e no currículo com um intuito de solucionar os conflitos que dela surgem, já que a mesma abrange gênero, sexualidade, cultura. Também de entidades políticas do mundo inteiro. Temos observado a inserção do assunto nos debates, literatura, eventos con- ferencias, teses e dissertações, que são respostas as vozes dos diferentes movimentos sociais que lutam pelos seus direitos e legitimidades Ainda nesse contexto apoiado – nos em SILVA e BRA- DIM, nas universidades CANDAU (1997) reafirma o cresci- mento, nos últimos anos, de encontros, seminários e con- gressos abordando temas relativos à globalização, plura- lismo cultural, identidades sociais e culturais etc. O marco para o inicio dos debates nos foros educacionais universi- tários deu-se numa das reuniões anuais da ANPED. Ela re- 53 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes lata que, “(...) em 1995, pela primeira vez, foi realizada uma sessão especial sobre o tema multiculturalismo e universi- dade. Os participantes fomos testemunhas das reticências e reservas que o tema suscitou no debate” (Ibid,: 241) Na área educacional muitos estudos têm sido formu- lados na tentativa de criar um currículo que busque os in- teresses dos não pertencentes aos padrões dominantes, assim:” Nos parâmetros curriculares nacionais – PCN (BRA- SIL,1997) consta que o Brasil tem participado de eventos importantes, como a Conferencia Mundial de Educação para Todos, realizada em Jostiem, na Tailândia, em 1990, convocada por organizações como a UNESCO, UNICEF e Banco Mundial”.(SILVA e BRADIM,P. 59, 2008) “Somente no inicio do século XXI e que podemos per- ceber uma significativa mudança, posto que varias institui- ções do ensino superior começaram a adotar as denomina- das ações afirmativas para negros e indígenas, com ênfase no sistema de cotas. E, desde 2003, há a obrigatoriedade das temáticas história e cultura do negro no Brasil nos cur- rículos escolares, sancionada através da Lei 10.639”.(Santos E Queiroz,2007) “No contexto educacional as praticas que se engajaram a despeito do multiculturalismo são:” Nos parâmetros curricula- res nacionais – PCN (BRASIL, 1997) consta que o Brasil tem par- ticipado de eventos importantes, como a Conferencia Mundial de Educação para Todos, realizada em Jostiem, na Tailândia, em 1990, convocada por organizações como a UNESCO, UNICEF e Banco Mundial”. (SILVA e BRADIM, P. 59, 2008) O movimento negro no Brasil só ganhou força nos anos 50 porque eles tomaram atitudes eficazes como: fim do iso- lamento dos movimentos brasileiros em relaçãoaos movi- mentos de libertação racial em outros países. Os congressos e conferencias pan-africanas irão possibilitar trocas de infor- mações visando á conscientização do valor da cultura negra e a libertação do complexo de inferioridade em relação ás culturas branca; a criação de organizações de revindicação do movimento negro no país, a exemplo da Associação dos Negros Brasileiros (ANB), Convenção Nacional do Negro Bra- sileiro (CNNB), União Nacional dos Homens de Cor (UNHC), a criação do Teatro Experimental Negro (TEM); a atuação de organizações internacionais, como a ONU. Nos parâmetros curriculares nacionais – PCN (BRASIL, 1997) consta que o Brasil tem participado de eventos im- portantes, como a Conferencia Mundial de Educação para Todos, realizada em Jostiem, na Tailândia, em 1990, convo- cada por organizações como a UNESCO, UNICEF e Banco Mundial”. (SILVA e BRADIM, P. 59, 2008) Quanto às ações políticas SILVA e BRADIM relatam que devido as pressões populares multiculturais e as teorias cri- ticas e pós – criticas, as próprias organizações internacio- nais de defesa dos direitos humanos firma o compromisso de promover uma educação para a cidadania baseada no respeito a diversidade cultural, visando a superação das discriminações e preconceitos. CANDAU (1997) menciona a conferencia mundial sobre políticas culturais, promovida pela UNESCO, em 1982, no México, cujo papel é o de con- tribuir para a aproximação entre os povos e uma melhor compreensão entre as pessoas. “A propósito a ONU e suas agencias especializadas, so- bretudo a UNESCO, impulsionarão os países membros a ela- borar garantias jurídico-institucionais para proteger as vidas de grupos culturalmente dominados” (SILVA e BRADIM, 2008) O multiculturalismo e a educação estão intimamente li- gados, porque ao mesmo tempo em que a escola ensina as pluralidades culturais ela segrega os que não fazem parte da- quele padrão aceitável pelo seu sistema educacional. Quan- do em seus ensinamentos morais pregam o respeito à tole- rância ao próximo ela segrega dando num mesmo espaço maiores oportunidades de expressão e atenção aos brancos. Daí a s discussões, e os inúmeros estudos voltados as multiculturalidades, sendo que abrangem não apenas um grupo social mais várias vitimas do preconceito, exclusão social, discriminação juntamente com as manifestações des- ses grupos oprimidos, o olhar governamental e a instituição escolar se preocupam em criar mecanismos que silencie ou minimize os conflitos das diferenças. No sentido político ou- vimos mais discursos, sem grandes repercussões concretas. Como argumenta SILVA e BRADIM o problema ameaça todos, indistintamente (dominados e dominantes, pobres e ricos, negros e brancos, mulheres e homens), indepen- dente de classe ou grupo social. Para isso traçam metas, definem propostas e promovem eventos (fóruns e confe- rencias), a fim de manter sob controle os antagonismos sociais e culturais. Vimos no subtítulo ações escolares e políticas que a ONU, por exemplo, tem dado sua contribuição ao tema para combater as discriminações e preconceitos assim como os espaços acadêmicos de formação de professores onde cons- tatamos a necessária intervenção do professor nessas ques- tões. Torna-se urgente uma educação verdadeiramente de- mocrática, que inclua a diversidade cultural, para que este processo aconteça é necessário o convívio multicultural que implica respeito ao outro, diálogo com os valores do outro. Propomos a realização eficaz de mudanças nos sis- temas educacionais enquanto espaços monoculturais, atra- vés do desenvolvimento de atitudes, projetos curriculares e ideias pedagógicas, que sejam sensíveis à emergência do multiculturalismo. O professor deve ser crítico reflexivo, humano; Ques- tionado o que ele vai ensinar aos seus alunos e propor reformas pedagógicas já que ele e o mediador do conhe- cimento, ouvindo seus alunos quanto a suas dificuldades, incentivar trabalhos que levem os mesmos a pesquisa sua realidade local, humano quando não despreza um aluno que não pertence ao padrão cultural aceito, ele deve ser um profissional com todas essas competências e não ape- nas aquele que sabe do conteúdo, mas que com sua baga- gem teórica ensine a viver neste mundo capitalista. Queremos, sobretudo a ação das autoridades políticas com projetos, leis mais eficazes que inclua a diversidade dando chances para que tenham seus direitos atendidos, pois estes vem lutando há muito tempo pelo seu valor e dignidade. Isso é possível mesmo sabendo que a globaliza- ção parece querer cria apenas uma cultura algo que jamais acontecera, pois a multiculturalidade estar presente antes dos avanços tecnológicos. 54 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Propomos que esses assuntos estejam presentes no processo ensino – aprendizagem desde as primeiras series do ensino básico, na formação de professores enfim concordamos com Silva e Bradim “Defendemos o multiculturalismo crítico para quem as diferenças não têm um fim em si, mas situam-se num contexto de lutas por mudança social, contrapondo- se ao ideário neoliberal e a globalização econômica e cultural vigente, como expressões legitimas do modelo capitalista opressor”. Contudo somos afavor do multiculturalismo crítico, entendendo que o respeito à vida humana, diversidade cultural e essencial para a construção de um mundo de paz, como futuro educador vemos na instituição escolar uma força maior que nos conduzirá a esse processo de justiça social e democracia. Nessa vertente é necessário o avanço de pesquisas teóricas e praticas envolvida na formação de identidades e pluralidades culturais.19 A ARTE DA PRÉ-HISTÓRIA: ARTE BRASILEIRA, ARTE INDÍGENA, ARTE AFRICANA. Artes Plásticas na Pré-História ( de 15.000 a 3.000 a.C.) As pinturas rupestres (em paredes de cavernas) mais antigas do Brasil foram encontradas na Serra da Capivara, no esta- do do Piauí. Na época entre 5000 a.C e 1100, povos da Amazônia fabricaram objetos de enfeites e de cerâmica Destacam-se os vasos de cerâmica da ilha de Marajó e do rio Tapajós. A arte plumária (com penas de pássaros) feitas por índios e a pintura corporal, usando tintas derivadas da natureza, representam importantes exemplos da arte indígena. As mais importantes pinturas rupestres do Brasil: · PEDRA PINTADA (PA), aqui, em 1996, a arqueóloga americana Anna Rosevelt achou pinturas com cerca de 11.000 anos. · PERUAÇU (MG), tem vários estilos de pinturas entre 2.000 a 10.000 anos. Exibe espetaculares desenhos geométricos. · LAGOA SANTA (MG), suas pinturas de animais, conhecidas desde 1834, têm entre 2.000 e 10.000 anos de idade. · SÃO RAIMUNDO NONATO (PI), segundo Niède Guindon, da Universidade Estadual de Campinas, possui vestígios huma- nos de 40.000 anos e pinturas de 15.000 anos. Para seu conhecimento: A tinta de pedra é feita de cacos de minério que forneciam as cores para as pinturas rupestres: os artistas raspavam as pedras para arrancar os pigmentos coloridos, o vermelho e o amarelo vinham do minério de ferro, o preto, do manganês. Misturado com cera de abelha ou resina de árvores o pigmento virava tinta. As imagens abaixo referem-se à Serra da Capivara/Piauí. Arte Indígena brasileira. Os olhos e as mentes intelectuais da humanidade começaram no séc. XX a reconhecer os povos nativos como culturas diferentes das civilizações oficiais e vislumbraram contribuições sociais e ambientais deixadas pelos guerreiros que tiveram o sonho como professores. Mas a maior contribuição que os povos da floresta podem deixar ao homem branco é a prática de ser uno com a natureza interna de si. A Tradição do Sol, da Lua e da Grande Mãe ensinam que tudo se desdobra de uma 19 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br 55 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes fonte única, formando uma trama sagrada de relações e inter-relações, de modo que tudo se conecta a tudo. O pulsar de uma estrela na noite é o mesmo que do coração. Homens, árvores,serras, rios e mares são um corpo, com ações interde- pendentes. Esse conceito só pode ser compreendido através do coração, ou seja, da natureza interna de cada um. Quando o humano das cidades petrificadas largarem as armas do intelecto, essa contribuição será compreendida. Nesse momento entraremos no Ciclo da Unicidade, e a Terra sem Males se manifestará no reino humano. A arte indígena brasileira é um tipo de arte produzida pelos povos nativos brasileiros, antes, durante e depois da colo- nização portuguesa, que começou no século XV. Devido à grande diversidade dos índios brasileiros, é difícil definir um padrão artístico, porém, a cerâmica, o trançado, os enfeites do corpo, as danças e os rituais merecem destaque. É importante saber que quando falamos que um objeto indígena é artístico, provavelmente estaremos lindando com conceitos da nossa civilização, porém, estranhos aos índios. Para eles, o objeto precisa ser perfeito ao produzido, e não na sua utilização. Outro aspecto importante, é que a arte indígena é a representação de uma tribo, e não da personalidade de quem o faz. Por isso, essa arte é tão diversificada. Eles também usam apenas elementos naturais na composição da arte: madeira, palhas, cipós, resinas, ossos, dentes, couro, conchas, pedras, sementes, plumas, tintas, e etc. As peças de cerâmica mostram os muitos costumes dos povos indígenas. As máscaras para os índios, são produzidas pelo homem comum, mas ao mesmo tempo, são a figura viva do sobrena- tural. São feitas com troncos de árvores, cabaças, palhas, e são normalmente usadas em danças cerimoniais. As cores mais usadas pelos índios são: o vermelho muito vivo, o negro esverdeado, e o branco. A importância desse tipo de cor, é que ao fazerem a pintura corporal, os eles tem a intenção de transmitir a alegria com cores vivas e intensas. Além do mais, através dessa pintura corporal, as tribos se organizam socialmente, como por exemplo: guerreiros, nobres e pessoas comuns. Musica e Dança A música e a dança estão frequentemente associadas aos índios e a sua cultura, variando de tribo para tribo. Em muitas sociedades indígenas a importância que a musica tem na representação de ritos e mitos é muito grande. Cada tribo tem seus próprio instrumentos, havendo também os instrumentos que são utilizados em diferentes tribos no entanto de dife- rentes formas como é o caso do maracá ou chocalho, onde em determinadas sociedades indígenas como a dos Uaupés o uso do mesmo acontece em cerimonias religiosas, já outras tribos como a dos Timbiras é utilizado para marcar ritmo junto a um cântico por exemplo. A dança junto aos indígenas se difere da nossa por não dançarem em pares, a não ser por poucas exceções como acontece no alto Xingú. A dança pode ser realizada por um único indivíduo ou por grupos. Trançado e Tecelagem Os trançados feitos pelos indígenas possuíam como matérias-primas as folhas, palmas, cipós, talas e fibras. Os indíge- nas produzem uma variada gama de peças de vestuário, cestas e redes, além de perneiras e abanos. Os principais produtos que eram produzidos com esta arte de tecelagem eram as vestimentas, que caracterizam muito a sua cultura indígena, já que dependendo de qual cultura a vestimenta também muda. 56 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Nos trabalhos de cestaria dos índios há uma definição bastante clara no estilo do trabalho, de forma que um estudioso da área pode através de um traba- lho em trançado facilmente identificar a região ou até mesmo que tribo o produziu. As cestarias são utilizadas para o transporte de víveres, armazenamento, como re- cipientes, utensílios, cestas, assim como objetos como esteiras. Cerâmica As peças de cerâmica que se conservaram ao longo do tempo testemunham costumes de diferentes povos indígenas já desaparecidos, numa linguagem artística que nos impressiona. Elas possuem várias formas dife- rentes para cada local, como também figuras, isso ex- plica a diversidade cultural presente na época indígena. A fabricação de artefatos de cerâmica não é carac- terística de todas as tribos indígenas. Entre os Xavan- tes, por exemplo, ela falta totalmente. Em algumas sua confecção é bastante simples, mas o que é importante ressaltar é que por mais elaborada que seja a cerâmi- ca sua produção é sempre feita sem a ajuda da roda de oleiro. As cerâmicas são utilizadas na fabricação de bonecas, panela, vasos e outros recipientes. Muitas são produzidas visando atender a demanda dos turistas. Mascaras Para os indígenas, as máscaras têm um caráter du- plo: ao mesmo tempo que são um artefato produzido por um homem comum, são a figura viva do ser sobre- natural que representam. Feitas com cascas de árvo- res, cabaças de palhas de buriti, geralmente são usadas em danças cerimoniais, representando personagens da mitologia indígena. Com seu simbolismo, as másca- ras aproximam estas forças sobrenaturais ao indivíduo e materializam todos os códigos inscritos nos rituais e mitos, facilitando a leitura que cada um dos índios fará destes códigos. Um aspecto recorrente nas mitologias indígenas é que em um passado distante aconteceram conflitos entre as entidades representadas pelas máscaras e os índios, porém no presente os índios preparam festas que servem para “alegrar” e controlar estas entidades. Assim os índios superam os confrontos passados, e in- fluenciam as forças sobrenaturais em favor de seus in- teresses. Arte Plumaria Essa é uma arte muito especial, pois ela não está associada a nenhum fim lucrativo e sim apenas à pura busca da beleza, com esta arte os índios criam mantos, diademas e colares. Uma das peças mais conhecidas é o “manto Tupinambá” confeccionada pelos Tupinambás, para serem usadas pelos pajés. Existem dois grandes estilos na arte plumária, são eles, os trabalhos majestosos e grandes, como os dia- demas, e os delicados adornos de corpo, que está no colorido e na combinação dos matizes, que seriam um tipo de colar. Arte em Pedras A confecção de instrumentos de pedra (ex.: machadi- nhas) fora de extrema importância no passado indígena, mas nos dias atuais os índios não mais costumam produzir artefatos em pedra devido à inserção de instrumentos de ferro, que se mostraram mais eficientes e práticos, embora algumas tribos ainda utilizam estes artefatos para ocasiões especiais. Esta arte acabou sendo também um dos fatos mais im- portantes ocorridos na arte indígena, pois foi um momento em que os índios desenvolveram-se na caça, alimentação, vestimentas entre outros. Arte em Madeira A madeira é utilizada para a fabricação de diversos tra- balhos nas sociedades indígenas. Vários artefatos são pro- duzidos como ornamentos, máscaras, banquinhos, bone- cas, reprodução de animais e homens, pequenas estatuetas, canoas entre vários outros. Os karajá, por exemplo, produ- zem estatuetas na forma humana que nos faz lembrar de uma boneca. No alto Xingu os trabalhos em madeira são bastantes desenvolvidos. São produzidos máscaras, bancos esculpidos na forma animal, notando-se grande habilidade no trabalho, sendo sua demanda comercial muito grande advinda principalmente de turistas. Além do mais, com a arte em madeira foi possível pro- duzir a arma mais conhecida do índio que seria o arco, que até hoje é utilizado por eles. Arte Corporal Uma das características que mais marcam a cultura indígena é a pintura corporal. Ela pode ser comparada a necessidade e importância de uso de roupas do homem moderno. A tinta que se usa, é extraída principalmente de jeni- papo, carvão, urucum e calcário. Essa pintura corporal tem como objetivo, caracterizar e diferenciar os povos, deter- minar funções dentro de uma aldeia, mostrar valores, e em alguns casos, o “estado civil”. Algumas índias até usam esse método para transmitir a ideia de que estão interessadas em arrumar um parceiro. Se duas tribos tiverem as mesmas pinturas corporais, uma luta pode ocorrer entre elas. Em algumas tribos, os homens sepintam diferentes das mulheres para que se possam diferenciar, e pode ocor- rer, que as pinturas masculinas sejam mais bem produzi- das, dando uma posição de liderança.20 Arte Africana A arte afro-brasileira trilhou um longo percurso du- rante séculos, tendo nascida a partir de profundas raízes africanas, conquistando visível autonomia e criatividade própria. Percorreu uma trajetória de trocas, sobretudo com os europeus, em meio a um mundo escravocrata e cató- lico que lhe acarretou perdas e ganhos, continuidade e mudança. Essa arte, realimentada pelas levas sucessivas de escravos que lhe inspira uma visão de mundo herdada da 20 Fonte: www.artedosindigenas.blogspot.com.br - Texto de Ra- fael Fernandes Pereira/Matheus Ribeiro/Lucas Trindade/Felipe Georg´s/Thales Henrique e João Paulo Dantas 57 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes África, estava, porém, sujeita simultaneamente à dinâmica proveniente da evolução da sociedade brasileira. Participou de tal modo na construção e desenvolvimento de nossa sociedade que o sociólogo Gilberto Freyre, pioneiramente, considerou o negro como “um co-colonizador, apesar da sua condição de escravo”. A função primordial da arte africana, também chamada de arte negra, foi a de produzir valores emocionais para as comunidades às quais pertenceu e que possuíam um saber cultural já estabelecido. Acompanhava, assim, a vida cotidiana da comunidade, participando dos rituais da vida doméstica desde o nascimento, dos ritos de passagem, passando pela fatalidade da morte e continuando ainda na perene ligação com a ancestralidade. Essa arte não tinha o compromisso de ser retrato da realidade e se apresentou sem simetria e proporção. Na figura humana, por exemplo, quase sempre a cabeça é demasiado grande, pois repre- senta a personalidade, o saber, sobretudo quando é a de alguém mais velho; a língua, por vezes, ultrapassa a cavi- dade da boca, já que expressa a fala, que é a chave da tra- dição oral; a barriga e os seios femininos representam, em conjunto, a fertilidade; os pés, normalmente grandes, estão sempre bem fixados na terra. De base rural-comunitária, a arte africana feriu direta- mente os cânones europeus até quase o final do século XIX e, com o seu “expressionismo”, conseguiu atrair pintores como Picasso e Braque, justamente quando enveredaram pelo cubismo. No entanto, por volta da mesma época, os europeus também reagiram com espanto a um outro tipo de arte africana: os “bronzes de Benin”, levados para a Eu- ropa após a conquista colonial. O crítico alemão F. von Lun- cham escreveu, em 1901: “Estes trabalhos de Benin (ela- borados com a secular técnica da ‘cera perdida’) estão no patamar mais elevado da técnica de fundição da Europa. Cellini, e ninguém antes nem depois dele, poderia tê-los fundido melhor”. Essas cabeças e estátuas em bronze já eram produzidas assim pelos iorubás desde o século XVI, conforme testemunharam os portugueses quando ali apor- taram no tempo das grandes navegações. Analisando a fraca presença dos negros brasileiros nas artes visuais contemporâneas – em flagrante contraste com o período do barroco, quando eram dominantes – Clari- val do Prado Valadares (1988) menciona que essa presença passou a traduzir-se, quase que exclusivamente, no que se convencionou chamar de “arte primitiva”. Essa arte, segun- do ele, aceitavelmente dócil, era aquilo que se esperava do negro, uma arte adequada ao lugar que lhe era permitido ocupar na hierarquizada sociedade brasileira. Compreende-se isso melhor ao se consultar Quem é quem nas artes e letras do Brasil, lançada pelo Ministério das Relações Exteriores em 1966. Das 298 fichas biográfi- cas de artistas brasileiros ali listadas, somente 16 eram de negros. O mesmo Itamaraty – numa edição, em francês, do seu Anuário de 1966 assinala que, no que diz respeito à cor “a maioria da população brasileira é constituída de bran- cos; a percentagem de mestiços é fraca”. Essa “distração” étnica felizmente não só desapareceu dos anuários oficiais do Itamaraty como também aumentou a participação dos negros nas artes nacionais. Porém, é preciso ter presente a mentalidade reinante durante a época do escravismo, em que qualquer tipo de trabalho, mesmo artístico, era considerado indigno de um branco da casa-grande. A única exceção a essa regra foram os padres que, quase todos, aprenderam as artes na me- trópole. Para uma eficaz ação evangélica da Igreja foram indispensáveis várias artes, e não só a retórica dos sermões. Eram necessários muitos templos, que se espalharam por cada capitania. Cada um deles requisitou arquitetos, pin- tores, escultores, músicos (o padre mestiço José Maurício Nunes Garcia foi o músico mais reverenciado da época). E não esqueçamos os corais dos jesuítas, quase todos forma- dos por negros, principalmente até meados do século XVIII. No entanto, foi somente na época do barroco que os negros constituíram, de certo modo, uma elite na arte brasilei- ra. O barroco brasileiro, com seu epicentro situado em Minas Gerais (mas com núcleos importantes em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro), beneficiou-se economicamente do chama- do “ciclo do ouro” das décadas de 1729 a 1750. Do fecundo período barroco, resultaram os mais belos monumentos reli- giosos do Brasil, no dizer de Fernando Azevedo, que acrescen- ta terem sido os anos Setecentos o “século do Aleijadinho”, o gênio mulato que deu aos “centros urbanos de Minas Gerais algumas das igrejas rococós mais belas do mundo”. É natural, portanto, que muitos críticos considerem que, de fato, a histó- ria das artes no Brasil se iniciou com o estilo barroco. Além das ordens religiosas – exclusivistas do ponto de vista racial, uma vez que não toleravam a participação de quem não provasse ter “sangue puro” (os judeus, por exemplo) –, outro fator benéfico para o aparecimento de artistas negros foram as irmandades, a quem estavam liga- das as corporações de ofícios. Separadas pela cor dos seus membros – brancos, pardos (ou mulatos) e pretos – essas irmandades competiam entre si, mas não se tratava de uma competição muito excludente, já que, com frequência, o ta- lento era priorizado. Dois exemplos foram a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, que patrocinou a publicação, em Lisboa, do livro Testemunho eucarístico de o Aleijadi- nho, artista escolhido pela Irmandade de São Francisco, de brancos, para fazer a planta e para construir as suas duas mais belas igrejas, localizadas em Vila Rica e em São João Del Rei. Além de Aleijadinho, outro artista mulato de desta- que foi o Mestre Valentim, também filho de pai português e de mãe escrava. Enquanto Aleijadinho atuou em Minas Gerais, no terreno da arte religiosa, arquitetura e escultu- ra, o Mestre Valentim veio para o Rio de Janeiro, onde se imortalizou no campo do urbanismo e da construção civil. De acordo com Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira (2008), a sobrevivência desses dois nomes na memória cole- tiva brasileira não se explica somente pela qualidade de suas obras: “Há algo com raízes mais profundas na psicologia do povo brasileiro que arriscaríamos chamar de uma espécie de identidade nacional com esses dois artistas, ambos mulatos e, portanto, representantes autênticos da originalidade de uma cultura criada na periferia do mundo e que apresenta tal força e originalidade”. Originalidade capaz de manifestar uma força expressionista, de talha geométrica angulosa, tão próxima da África, como se sente em Aleijadinho e também no Mestre Va- lentim, com os traços negróides de suas esculturas e pinturas. 58 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Quem sugeriu o reconhecimento dessa “africani- dade” na arte desses dois mestres, e em outros artistas menos estudados, foi o crítico George Nelson Prestan, que elaborou a teoria do “neoafricanismo” voltada para a evolução da arte da diáspora africana nas Américas. Ema- nuel Araújo lembra que Mário de Andrade chamava de “racialidade brasileira”essa marca deixada pelos nossos artistas negros. Já Sérgio Buarque de Holanda preferiu o termo “mulatismo”. O crítico Augusto de Lima Júnior considera o mulatismo uma marca reconhecível em artis- tas, muitas vezes anônimos, dessa época, que também apresentaram traços negróides nas figuras humanas que pintaram. Se no período colonial, a maior parte da nossa criação artística foi de autoria de negros, o mesmo não ocorreu nos séculos XIX e XX. O século XIX, com efeito, proporcio- nou uma nova feição às artes visuais brasileiras. Logo em seus primeiros anos, alguns acontecimentos apontaram nessa direção. Em novembro de 1800 foi criada, no Rio de Janeiro, a Escola Pública de Desenho e Figura. A vinda da Corte portuguesa, em 1808, foi outro marco nessa mu- dança, completada com a chegada, em 1816, da Missão Francesa, que instituiu o neoclassicismo no Brasil. Após a chegada dos professores franceses, foi criada a Escola Real de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, em agosto de 1818. Poucos anos depois, com a colaboração francesa, foi criada a Academia Imperial de Belas Artes (em 1890, com a República, Escola Nacional de Belas Artes). As artes passaram, então, a participar diretamente de um circuito internacional que o barroco não tivera, o que provavel- mente contribuiu para a sua originalidade afro-brasileira. A consolidação do estilo implantado pela Academia acarretou um grande aumento de encomendas do gover- no imperial, o mercado das artes expande-se e aumen- tam as viagens de estudo ao exterior. A capacidade da arte em constituir carreiras promissoras passou a atrair os filhos da aristocracia rural e da burguesia emergente. Ainda assim, durante os Oitocentos, alguns artistas ne- gros se sobressaíram na arte propugnada pela Academia, entre os quais Firmino Monteiro, Estevão Silva, Fernando Pinto Bandeira e Artur Timóteo da Costa. A arte afro-brasileira só passou a ser devidamente valorizada como expressão da brasilidade a partir do mo- vimento modernista dos anos 1920 e nas excursões que Mário de Andrade liderou por Minas Gerais e pelo Nor- deste. O reconhecimento ganhou foros intelectuais com a criação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934 e, a seguir, com a Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. A partir de então, vários artistas brasileiros contemporâ- neos de origem negra se destacaram pela produção de suas respectivas obras: Heitor dos Prazeres (1898-1966) – Compositor e pintor nascido e falecido no Rio de Janeiro, sambista pio- neiro que participou da fundação das escolas de samba Portela e Mangueira. Sua carreira de pintor só foi iniciada em 1936, tendo como inspiração o samba e o cotidiano dos morros cariocas, onde a sua gente aparecia nos seus quadros com o rosto em perfil, o corpo de frente e “os dentinhos de fora”. Tornou-se prestigiado após a sua par- ticipação na I Bienal de São Paulo, em 1951, como um dos representantes da delegação brasileira no Festival Mun- dial de Arte Negra, em Dacar (Senegal, 1966). Djanira da Motta e Silva (1914-1979) – Embora sem sangue negro, dedicou atenção à cultura e às tradições africanas. Descendente de índios guaranis e de austríacos, nasceu no interior de São Paulo e foi morar na capital, onde passou uma vida de privações. Contraiu tuberculose aos 23 anos, mas conseguiu sobreviver. Mudou-se para o Rio, onde trabalhou como modista e cozinheira, fez aulas de pintura com Emeric Marcier e frequentou o Liceu de Artes e Ofícios. Expôs a partir de 1942, com ampla aceitação da crítica e do público. Fez o retrato apaixonado de sua terra e sua gente, sem concessões ao fácil e ao pitoresco. Mestre Didi (1917) – Natural de Salvador e alto dig- natário do culto dos ancestrais na Bahia. Seu livro mais co- nhecido, publicado em 1962 e reeditado, intitula-se Contos negros da Bahia. Os seus trabalhos, de cunho ritual, são esculturas feitas com produtos naturais. José de Dome (1921-1982) – Figurativista intuitivo e lírico, dedicou-se a paisagens e a tipos populares. Em Cabo Frio, onde viveu grande parte da sua vida, o prédio da se- cretaria de Cultura leva seu nome. Rubem Valentim (1922-1991) – Sua carreira se pro- jetou a partir de 1942 e, dois anos depois, expôs na Bahia aquele que é considerado como o primeiro quadro abstra- to executado no estado. Expositor constante nas Bienais de São Paulo (entre 1955 e 1977) como pintor e escultor, participou da delegação brasileira em dois festivais mun- diais de Arte Negra: em Dacar (1966) e em Lagos (1977), com uma arte geométrica ostentando símbolos dos cultos afro-brasileiros. Antonio Bandeira (1922-1967) – Nascido no Ceará, formou-se em Paris, onde faleceu. Com valiosa produção abstracionista, participou das Bienais de São Paulo e Vene- za, e sua obra foi distribuída por diversos museus no Brasil e no exterior. Ocupa uma das mais destacadas posições em toda a história da arte brasileira. Otávio Araújo (1926) – Natural de São Paulo, e de con- dição modesta, conseguiu realizar sua primeira exposição no Rio de Janeiro, em 1946, participando do “Grupo dos 19”. A obtenção de um prêmio permitiu-lhe viajar para a Europa. Foi assistente de Portinari entre 1952 e 1957, e em seguida viajou para a União Soviética. Maria Auxiliadora (1938-1974) – Artista mineira, a sua produção foi marcada por uma técnica de colagem de cabelo natural, que iniciou em 1968. A sua outra ca- racterística, na qual alguns veem um afloramento da “pop art”, foi a utilização da massa plástica para obter relevo e movimento. Em sua arte, misturam-se sexualidade e temas religiosos, fertilidade e candomblé. Emanoel Araújo (1940) – Artista baiano que sempre se inspirou nas tradições populares do seu estado natal. Também crítico de arte, produtor e administrador cultural, dono de uma importante coleção de obras de arte, organi- zou em 1988 o livro A mão afro-brasileira, considerado por especialistas a mais completa obra sobre o tema.21 21 Fonte: www.raulmendessilva.com.br – Por Arnaldo Marques da Cunha 59 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes OS ELEMENTOS DA LINGUAGEM VISUAL. OS MEIOS VISUAIS DE ARTE. As artes visuais representam um conjunto de mani- festações artísticas, por exemplo, a pintura, escultura, de- senho, arquitetura, artesanato, teatro, fotografia, cinema, dança, design, arte urbana, dentre outros. Note que o conceito de arte visual está intimamente relacionado ao conceito de visualizar “ver” e por isso, en- globa as artes em que a fruição ocorre por meio da visão. Dada sua importância e abrangência, atualmente existe o curso superior em “Artes Visuais” donde o estudante sai com o título de artista visual, capaz de criar, avaliar e parti- cipar do mercado cultural e artístico. As Artes Visuais na Contemporaneidade Importante destacar que o conceito de arte foi se am- pliando com o passar do tempo, no entanto, já ficou deter- minado que a arte é uma manifestação humana essencial que esteve sempre presente nas culturas desde as culturas da antiguidade, representadas pela arte rupestre e a arte parietal. De tal modo, além do conceito, as temáticas, técnicas e materiais empregados na arte, foram se ampliando e atualmente torna-se tarefa difícil identificar como ela sur- ge. Com o desenvolvimento da tecnologia e dos compu- tadores, a arte visual também pode ser produzida através de ferramentas tecnológicas, por exemplo, as artes gráficas criadas por meio de programas de computador (softwares) denominada de web art. As artes modernas e contemporâneas foram responsá- veis por abranger ainda mais o conceito de arte, donde a ideia torna-se mais importante do que o caráter estético e visual do objeto artístico. Sendo assim, atualmente podemos encontrar diversos tipos de artes: vídeo arte, animações, colagens, arte urba- na, instalações artísticas, performances, arte corporal (body art), apresentações de rua, história em quadrinhos, artes decorativas, arte multimídia, design gráfico, de produtor e de moda, dentre outros.Artes Visuais na Educação Nas últimas décadas, as artes visuais passarem a ser im- portantes ferramentas de aprendizagem desde a infância, posto que ela desperta a sensibilidade estética e estimula a criatividade e a reflexão dos estudantes, a partir de outro tipo de linguagem “a linguagem visual”, a qual agrega valor à linguagem escrita, mais recorrente no âmbito escolar. Décadas atrás, a disciplina sobre arte era chamada de educação artística a qual envolvia conceitos sobre a histó- ria da arte e basicamente, a criação de desenhos e pintu- ras. No entanto, o conceito de arte nas escolas se expan- diu sendo possível encontrar atualmente, colégios em que disciplinas de arte visuais são mais abrangentes, tal qual dança, teatro, fotografia e cinema, dentre outros.22 22 www.todamateria.com.br Percepção Visual As artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance). Cada uma dessas visualidades é utilizada de modo particular e em várias possibilidades de combinações entre imagens, por intermédio das quais os alunos podem ex- pressar-se e comunicar-se entre si de diferentes maneiras. O mundo atual caracteriza-se por uma utilização da vi- sualidade em quantidades inigualáveis na história, criando um universo de exposição múltipla para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma educação para saber perceber e distinguir sentimentos, sensações, ideias e qualidades. Por isso o estudo das visualidades pode ser integrado nos projetos educacionais. Tal aprendizagem pode favorecer compreen- sões mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibili- dade, afetividade e seus conceitos e se posicione criticamente. A educação em artes visuais requer trabalho continua- mente informado sobre os conteúdos e experiências rela- cionados aos materiais, às técnicas e às formas visuais de diversos momentos da história, inclusive contemporâneos. Para tanto, a escola deve colaborar para que os alunos pas- sem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal. A educação visual deve considerar a complexidade de uma proposta educacional que leve em conta as possibilidades e os modos de os alunos transformarem seus conhecimentos em arte, ou seja, o modo como aprendem, criam e se desenvolvem na área. Criar e perceber formas visuais implica trabalhar fre- quentemente com as relações entre os elementos que as compõem, tais como ponto, linha, plano, cor, luz, movi- mento e ritmo. As articulações desses elementos nas ima- gens dá origem à configuração de códigos que se transfor- mam ao longo dos tempos. Tais normas de formação das imagens podem ser assimiladas pelos alunos como conhe- cimento e aplicação prática recriadora e atualizada em seus trabalhos, conforme seus projetos demandem e sua sensi- bilidade e condições de concretizá-los permitam. O aluno também cria suas poéticas onde gera códigos pessoais. Além disso, é preciso considerar as técnicas, procedimen- tos, informações históricas, produtores, relações culturais e sociais envolvidas na experiência que darão suporte às suas representações (conceitos ou teorias) sobre arte. Tais repre- sentações transformam-se ao longo do desenvolvimento à medida que avança o processo de aprendizagem.23 Linguagens Visuais Linguagem visual é todo tipo de comunicação que se dá através de imagens e símbolos. Os elementos vi- suais constituem a substância básica daquilo que vemos, são a matéria-prima de toda informação visual. Entretanto, esses elementos isolados não representam nada, não tem significados preestabelecidos, nada definem antes de en- trarem num contexto formal. 23 Fonte: www.penta3.ufrgs.br 60 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes De acordo com o estudo de vários autores, podem-se identificar como principais elementos visuais: o ponto, a linha, a forma, o plano, a textura, e a cor. 1. PONTO DEFINIÇÕES • O ponto é o elemento básico da geometria, através do qual se originam todas as outras formas geométricas. • Ponto é o lugar onde duas linhas se cruzam. • Ponto é um sinal sem dimensões, deixado na superfície. • Ponto é a unidade de comunicação visual mais simples e irredutivelmente mínima(DONDIS, 1997). • Considera-se como ponto qualquer elemento que funcione como forte centro de atração visual dentro de um esquema estrutural, seja numa composição ou num objeto(FORTES, 2001). FORMAS DE REPRESENTAÇÃO DO PONTO O ponto pode ser representado graficamente de duas maneiras: pela interseção de duas linhas ou por um simples to- que na superfície com um instrumento apropriado. É identificado através de uma letra maiúscula do nosso alfabeto. UTILIZAÇÃO DO PONTO NAS ARTES VISUAIS Qualquer ponto tem grande poder de atração visual, quando juntos eles são capazes de dirigir o olhar do espectador. Essa capacidade de conduzir o olhar é intensificada pela maior proximidade dos pontos, ou seja, quanto mais próximos uns dos outros estiverem os pontos, mais rápido será o movimento visual. Nas artes visuais um único ponto não é capaz de construir uma imagem. Porém com um conjunto de pontos podemos obter imagens visuais casuais ou organizadas. Em grande número e justapostos os pontos criam a ilusão de tom ou de cor. Observe: 61 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Quando se desenha ou se pinta uma obra usando muitos pontos, pode-se criar uma sensação de vibração. 62 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes 2. LINHA DEFINIÇÕES • Linha é a trajetória definida pelo movimento de um ponto no espaço; • Linha é um conjunto de pontos que se sucedem uns aos outros, numa seqüência infinita; • Linha é o elemento visual que mostra direcionamentos, delimita e insinua formas, cria texturas, carrega em si a idéia de movimento. CLASSIFICAÇÃO Alguns autores classificam as linhas simplesmente como físicas, geométricas e geométricas gráficas. • Físicas – são aquelas que podem ser enxergadas pelo homem no meio ambiente. Ex.: fios de lã, barbantes, racha- duras de pisos, fios elétricos etc. • Geométricas – apresentam comprimento ilimitado não possuindo altura e espessura, sendo apresentadas através da imaginação de cada um de nós quando observamos a natureza. • Geométricas gráficas – são linhas desenhadas numa superfície, sendo concretizadas quando colocamos a ponta de qualquer material gráfico sobre uma superfície e o movemos seguindo uma direção. Em artes Visuais, estudaremos as linhas geométricas gráficas que são classificadas quanto ao formato em SIMPLES e COMPLEXAS. As linhas simples podem ser retas ou curvas. Observe: 63 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes UTILIZAÇÃO DAS LINHAS NAS ARTES VISUAIS As linhas nascem do poder de abstração da mente humana, uma vez que não há linhas corpóreas no espaço natural. Elas só se tornam fato físico quando são representadas pela mão humana. Independente de onde seja utilizada, a linha é o instrumento fundamental da prévisualização, ou seja, ela é o meio de apresentar em forma palpável, concreta, aquilo que só existe na imaginação. Nas artes visuais, a linha é o elemento essencial do desenho, seja ele feito a mão livre ou por intermédio de instrumentos. Segundo ARNHEIM (1994) as linhas apresentam-se basicamente de 3 modos diferentes nas artes visuais: Linhas objeto - visualizadas como objetos visuais independentes. A própria linha é uma imagem. • Linhas de contorno - obtidas quando envolvem uma área qualquer criando um objeto visual. • Linhas hachuradas – são formadas por grupo composto de linhas muito próximas criando um padrão global sim- ples, os quais se combinam para formar uma superfície coerente. Hachuraré usar um grupo de linhas para sombrear ou insinuar texturas. Quanto mais próximas as linhas, mais densa a hachura e mais escuras as sombras. Quanto mais distantes as linhas, menos densa a hachura e menos escuras as sombras. As linhas da hachura podem ter comprimentos e formas diferentes. SIGNIFICADOS EXPRESSOS PELAS LINHAS A linha pode assumir formas muito diversas para expressar uma grande variedade de estados de espírito, uma vez que reflete a intenção do artista, seus sentimentos e emoções e principalmente sua visão de mundo. Quando predomina uma direção, a linha possui uma tensão que pode ser associada a determinado sentimento ou sensação. Exemplos: 64 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes As figuras Quando desenhamos uma linha fechada em uma superfície, separamos um espaço do resto do papel. Isso é uma fi- gura. Em arte nem todas as figuras são delimitadas com uma linha. Também podem ser feitas com cores, texturas, papéis recortados, etc. Há simples como o círculo, o triângulo, o quadrado, e figuras mais complexas. Quando vemos uma figura simples, podemos Recordá-la com facilidade e até reproduzi-la. No entanto, quando vemos uma figura complexa, precisamos olhar atentamente para poder identificar os elementos visuais, a construção, etc. Edvard Munch (O grito) 65 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Tarcila do Amaral ( São Paulo) 3. A FORMA Forma é o aspecto exterior dos objetos reais, imaginários ou representados. A linha descreve uma forma, ou seja, uma linha que se fecha dá origem a uma forma. Na linguagem das artes visuais, a linha articula a complexidade da forma. FORMAS BÁSICAS Existem três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero. Cada uma das formas básicas tem suas características específicas, e a cada uma se atribui uma grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação arbitrária, e outros, ainda, através de nossas próprias percepções psicológicas e fisiológicas. Ao quadrado se associam enfado, honestidade, retidão e esmero; ao triângulo ação, conflito, tensão; ao círculo, infinitude, calidez, proteção. Todas as formas básicas são figuras planas e simples, fundamentais, que podem ser descritas e construídas verbalmente ou visualmente. 66 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes 4. PLANO E SUPERFÍCIE O plano é uma superfície sem ondulações, de extensão infinita, ou seja, uma superfície plana que se estende infinita- mente em todas as direções possíveis. Temos a noção de um plano quando imaginamos uma superfície plana ilimitada e sem espessura. Pense numa folha de papel prolongada infinitamente em todas as direções, desprezando a sua espessura. A representação do plano será feita através de uma figura que sugere a idéia de uma parte dele. Também nesse caso, fica por nossa conta imaginar que essa superfície se estende indefinidamente em todas as direções possíveis. Os planos são denominados por letras minúsculas do alfabeto grego: alfa (α), beta (β), gama (γ), delta (δ) etc. Superfície é a extensão que delimita no espaço um corpo considerável, segundo a largura e a altura, sem levar em conta a profundidade. É o suporte onde o artista criará sua composição. 5. TEXTURA Textura, nas artes plásticas, é o elemento visual que expressa a qualidade tátil das superfícies dos objetos (DONDIS, 1997). A palavra textura tem origem no ato de tecer. Existem várias classificações para a textura, segundo diferentes autores que tra- tam do assunto. Para começar, ela pode ser classificada como natural – quando encontrada na natureza – ou artificial - quan- do produzida pelo ser humano (simula texturas naturais ou cria novas texturas). A textura natural de alguns animais, como o camaleão, pode ser modificada quando ele simula outra cor de pele. O homem também simula texturas naturais em suas vestimentas (como é o caso dos soldados camuflados). As texturas podem também ser divididas em visuais (óticas) e táteis. 67 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes A textura visual ou ótica possui apenas qualidades óticas. Ela simula as texturas táteis. Ex.: Uma pintura que crie o efeito da maciez de uma pétala de rosa, ou o pêlo do cachorrinho. A textura tátil possui tanto qualidades visuais quanto táteis. Existe textura tátil em todas as superfícies e esta nós podemos realmente sentir através do toque ou do contato com nossa pele. Quanto à forma de apresentação a textura pode ser geométrica ou orgânica. Nas artes gráficas pode ser reproduzida através de desenhos, pinturas, impressões, fotografia, etc. Podemos representar as texturas em forma de trama de sinais, pontos, traços, manchas com os quais se realizam as mais variadas atividades gráficas e artísticas. Exemplos: A textura é tão importante quanto a forma, tamanho, cor, etc. Existem várias técnicas para se criar texturas nas artes plásticas. O pintor, por exemplo, utiliza uma infinidade de técnicas para reproduzir ou criar a ilusão de textura tátil da vida real em suas obras. Entre as técnicas mais conhecidas estão a tinta diluída e o empasto (uso livre de grossas camadas de tinta para dar efeito de relevo). Outra técnica conhecida é a frotagem. A palavra “Frottage” é de origem francesa - frotter, que significa “esfregar”. Consiste em colocar uma folha de papel sobre uma superfície áspera, que contém alguma textura, e esfregá-la, pressionando-a com um bastão de giz de cera, por exemplo, para que a textura apareça na folha. No campo da arte, essa técnica foi usada pela a primeira vez pelo o pintor, desenhista, escultor e escritor alemão Max Ernest (1891 – 1976), um dos fundadores do movimento “Dada” e posteriormente um dos grandes nomes do Surrealismo. Os abstracionistas utilizam uma grande variedade de técnicas como a colagem com pedaços de jornais e materiais “expressivos” como madeira, papelão, barbante, areia, pedaços de pano etc. Os artistas recorrem às texturas para: • Traduzir visivelmente o sentido de volume e os efeitos de superfície; • Representar graficamente o claro e o escuro, a luz e a sombra. Na escultura os artistas utilizam texturas diferentes conforme os padrões estéticos do período ou movimento artístico a que pertencem. No Renascimento observamos texturas lisas e suaves, enquanto que no Impressionismo percebemos superfícies inacabadas como nas obras de Rodin. Além das artes visuais a textura ocorre também em diferentes espaços da vida. No cotidiano nós a observamos nos utensílios domésticos, nas roupas, nos calçados, nos papéis, nos vidros, na decoração de interiores, etc. A tecnologia favo- receu a criação de uma variedade muito grande de texturas. A tinta de parede, por exemplo, é encontrada em diversos tipos e para as mais diversas aplicações. Essas por si só já permitem efeitos de texturização. 68 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Tarcila do Amaral Renoar 69 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes 6. A COR DEFINIÇÃO A cor é o elemento visual caracterizado pela sensação provocada pela luz sobre o órgão da visão, isto é, sobre nossos olhos. O pigmento é o que dá cor a tudo o que é material. Ao falarmos de cores, temos duas linhas de pensamento distintas: a Cor-Luz e a Cor-Pigmento. A Cor-Luz pode ser observada através dos raios luminosos. Cor-luz é a própria luz que pode se decompor em muitas cores. A luz branca contém todas as cores. No caso da Cor-Pigmento a luz é que, refletida pelo material, faz com que o olho humano perceba esse estímulo como cor. Os pigmentos podem ser divididos em dois grupos diferentes: os transparentes e os opacos. As cores pigmento transparentes são mais utilizadas nas artes gráficas, nas impressoras coloridas entre outros meios de produção. As cores pigmento opacas são geralmente utilizadas nas artes plásticas, são mais populares, portanto, são mais conhe- cidas pelos estudantes da escola básica. 70 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor ClasseI - Artes Os dois extremos da classificação das cores são: o branco, ausência total de cor, ou seja, luz pura; e o preto, ausência total de luz, o que faz com que não se reflita nenhuma cor. Essas duas “cores” portanto não são exatamente cores, mas características da luz, que convencionamos chamar de cor. NOMENCLATURA DAS CORES Cores primárias e secundárias Para estudar as cores, o primeiro passo é sabermos que existem cores primárias e secundárias. As cores primárias são cores puras, sem mistura. É através das cores primárias que se formam todas as outras cores. As cores primárias são VERMELHO-AZUL-AMARELO. As secundárias, ao contrário, são as que resultam da mistura de duas cores primárias. As cores terciárias são obtidas misturando uma cor primária e uma secundária. As cores terciárias são: • Vermelho-alaranjado=combinação do vermelho+laranja. • Amarelo-alaranjado=combinação do amarelo+laranja. • Amarelo-esverdeado=combinação do amarelo+verde. • Azul-esverdeado=combinação do verde+azul. • Azul-arroxeado=combinação do azul+roxo. • Vermelho-arroxeado=combinação do roxo+vermelho. 71 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Cores Neutras São as cores que combinam com qualquer cor. As cores neutras são o preto, o branco e o cinza. Cores Quentes e Cores Frias As cores possuem seus valores de luminosidade. Algumas são mais alegres, mais vivas, que classificamos de cores quentes. As cores quentes nos lembram o fogo, o sol, e transmitem o arrojo, a aventura, o estímulo, o calor. Outras são mais escuras e tristes, que classificamos de cores frias, que classificamos de cores frias, e transmitem a calma, o repouso, o frio, a sombra. As cores quentes são derivadas do vermelho e as frias derivam do azul. A cor amarela é equilibrada. Os tons de roxo podem ser classificados como quentes ou frios, pois apresentam tanto azul como o vermelho. Harmonia das cores Harmonia é a combinação entre duas ou mais cores. São estas as principais maneiras de combinar cores: Monocromia É a harmonia conseguida quando utilizamos somente uma cor, com suas variações de tons, obtidas com o auxílio da cor branca ou preta. Isocromia È a harmonia conseguida através de uma cor e seus matizes. Por exemplo: amarelo-alaranjado, amarelo-esverdeado, amarelo-amarronzado. Policromia É a harmonia conseguida através de várias cores.24 24 Fonte: www.7dasartes.blogspot.com.br/ www.pointdaarte.webnode.com.br 72 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes AS CORRENTES ESTILÍSTICAS. Nas diversas épocas e culturas variam os enfoques seletivos, sempre de acordo com valores vigentes. Não são valores eternos. O que vem a ser importante numa geração, talvez não seja mais importante na geração seguinte. Os enfoques variam de acordo com a personalidade do artista e possivelmente no amadurecimento de seu desenvol- vimento artístico. Na multiplicidade de enfoques possíveis podemos distinguir três atitudes básicas. Elas representam modos de viven- ciar, ou seja, maneiras diversas de se encarar e elaborar a experiência do viver. Como se fossem correntes submarinas moldando o curso das ondas, as grandes correntes estilísticas caracterizam essencialmente os diversos estilos históricos assim como os estilos individuais dos artistas. 1. Naturalismo O artista procede de modo bastante objetivo, procurando respeitar a naturalidade, sem introduzir detalhes formais que não lhe pertencem, e descrevendo com relativa fidelidade. Mesmo assim o artista não deixará de deformar. Selecionando sempre, fixará no objeto apenas as qualidades que o atraírem e comoverem. Caracteriza-se por efeitos convincentes de luz e textura na superfície, o que causa a impressão de fidelidade à apa- rência natural de forma consistente. Na Arte Pré-histórica, por exemplo, as motivações mágicas de caça levaram os artistas a representarem os animais com a maior semelhança possível, caracterizando especialmente as qualidades que mais importavam dos animais, sua tensão e vitalidade. Arte Pré-histórica Pinturas rupestres 73 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Temos como um outro exemplo, os artistas impressionistas que descrevem, em vez de um objeto material, um fenô- meno da natureza: a luminosidade atmosférica. Esse fenômeno é observado e pintado com um rigor e uma objetividade quase científicos. E, obviamente, sem inten- ções mágicas. Impressionismo Monet 74 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Pode parecer estranho, mas ambas as atitudes: a científica (impressionista) e a mágica (préhistórica), cabem no enfoque do Naturalismo. Ambas apresentam a necessidade de observar particularidades específicas, ao se transmitirem as emoções geradas pelo fenômeno descrito. Nas pinturas de Monet, por exemplo, o tema real não é a fachada de prédios, com sua matéria de pedra, e sim os refle- xos coloridos produzidos pela luminosidade nas várias horas do dia. 75 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Não só a Arte Pré-histórica e o Impressionismo podem ser classificados como Naturalismo, mas também diversas obras de muitos outros movimentos artísticos. 2. Idealismo Procura reduzir, ou mesmo omitir, certos detalhes individuais, indicando apenas características gerais, idealizando assim as formas da natureza de acordo com um padrão geral. O Idealismo afirma que o mundo físico é menos importante do que a mente ou o espírito que lhe dá forma. Ênfase na alma e na mente em lugar do seu corpo, do material e do histórico. Os ideais regulam o modo como o artista representa o mundo. A Virgem dos rochedos (1493 - 1506) esculturas monumentais. Leonardo da Vinci 76 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Leda e o cisne (1530) – Michelangelo Esta obra mostra o físico humano idealizado em toda sua grandeza olímpica. As figuras de Michelangelo são molda- das a partir do seu conceito de ideal, e não na observação de corpos reais. Têm as mesmas proporções das A Virgem dos rochedos (1493 - 1506) esculturas monumentais. 3. Expressionismo Funda-se na intensificação de nossas emoções. O artista procura selecionar apenas os detalhes que considere essenciais do ponto de vista emotivo. Assim o artista intensifica formalmente exagerando em muito sua eventual aparência na natureza. O banho dos soldados (1915) Ernst Ludwig Kirchner 77 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Cores cruas, pinceladas grosseiras e figuras distorcidas tornam a pintura tipicamente expressionista. A obra tem impacto emocional carregado, que combina sentimentos pessoais do artista com crítica social. O pintor transmite sua própria vulnerabilidade durante a guerra: ele havia sido convocado, mas ganhou dispensa devido à doença mental. Ao mesmo tempo, Kirchner expressa seu ódio pela sociedade conformista e brutalizadora na qual vivia. Tendências surreais e fantásticas Tratam-se das artes fantásticas, não representando uma corrente estilística e sim uma temática específica. Esta temática procura ilustrar a presença de aspectos imaginativos irracionais dentro da nossa realidade. Os artistas fazem ligações estranhas entre objetos familiares. A arte surrealista parte de componentes individuais realistas e os recombina em contextos incoerentes deliberadamente. Persistência da memória (1912) Salvador Dalí O vestido da noiva (1940) Max Ernst 78 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Esta obra subverte o naturalismo da arte ao representar realisticamente um tema fantástico. Salvador Dalí usava fre- quentemente a mesma técnica. A arquitetura clássica refere-se ao racionalismo, mas se tornou cenário de um rito erótico e perturbador, no qual uma mulher mascarada é levada à cerimônia de seu casamento por um homem-pássaro. Os surrealistas tinham gosto em revelar o primitivo (na forma de impulsos sexualmente agressivos) sob a superfície racional da vida cotidiana. Mulher c om a garganta cortada (1932) – Alberto Giacometti Essaescultura mostra uma mulher como criatura parecida com um inseto. As pontas ao longo da coluna são reminis- centes de uma armadilha, sugerindo que ela é tanto agressora quanto vítima, e a coluna está arqueada, sugerindo morte ou orgasmo. Os surrealistas combinavam e justapunham elementos diferentes na escultura como meio de representar medos e fantasias subconscientes. Recapitulando... Correntes Estilísticas Básicas: - Representam modos de vivenciar, ou seja, maneiras diversas de se encarar e elaborar a experiência do viver; - Caracterizam essencialmente os diversos estilos históricos assim como os estilos individuais dos artistas; Naturalismo: - Descreve objetos ou fenômenos com fidelidade ao real. - O artista não deixa de deformar a imagem. - Nem todas as imagens na pintura são detalhadas. - A figura principal é bem observada, enquanto que as outras são vistas de uma forma generalizada. Idealismo: - Reduz ou omite certos detalhes individuais; - Indica apenas características gerais; - Representação fictícia de algo que será mais satisfatório para o espírito do que a realidade objetiva. 79 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Expressionismo: - Intensificação das emoções; - Seleção dos detalhes essenciais do ponto de vista emotivo; - Intensificação da forma exagerando sua aparência na natureza. Tendências surreais e fantásticas: - Não representa uma corrente estilística e sim uma temática específica; - Ilustra a presença de aspectos imaginativos irracionais dentro da nossa realidade; - Ligações estranhas entre objetos familiares; - Parte de componentes individuais realistas; - Recombina esses componentes em contextos incoerentes.25 A LEITURA DE IMAGEM, A CULTURA VISUAL E A COMUNICAÇÃO NA ARTE. Leitura de imagens Vivemos em um mundo dominado por imagens, a todo o instante somos surpreendidos por elas, em casa, no tra- balho, nas ruas, imagens sedutoras que tentam a todo custo influenciar nosso comportamento. No entanto, a leitura de imagens é uma necessidade para a compreensão e decodificação desses signos tão difundidos na nossa vida cotidiana, segundo Ana Mae Barbosa: Em nossa vida diária estamos rodeados por imagens impostas pela mídia, vendendo produtos, ideias, conceitos, com- portamentos, slogans políticos etc. Como resultado de nossa incapacidade de ler essas imagens, nós aprendemos por meio delas inconscientemente. A educação deveria prestar atenção ao discurso visual. Ensinar a gramática visual e sua sintaxe através da arte e tornar as crianças conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-las para compreender e avaliar todo o tipo de imagem, conscientizando-as de que estão aprendendo com estas imagens (BARBOSA, 1998, p. 17). Saber ler imagens é uma exigência da sociedade contemporânea, tendo em vista a grande quantidade de informações que nos são transmitidas por meio dessa linguagem. Conhecer a “gramática visual” nos tornaria capacitados para ler e interpretar imagens com consciência. A arte-educadora Ana Mae Barbosa em seus estudos sobre o ensino de arte nas escolas, sempre defendeu o uso da gramática visual no contexto escolar, enfatizando a importância da educação formal para a alfabetização visual (BARBOSA, 1998). Os professores, tradicionalmente, no Brasil, têm medo da imagem na sala de aula. Da televisão às artes plásticas, a se- dução da imagem os assusta, porque não foram preparados para decodifica-lá e usá-la em prol da aprendizagem reflexiva de seus alunos (BARBOSA, 1988, p. 138). O universo das Artes Visuais é bastante abrangente e rico em conhecimentos, os professores precisam aprender a explorar esse universo, buscar meios e estratégias para disseminar esses conhecimentos entre os aprendizes, para que eles sejam capazes de adotar uma atitude crítica e reflexiva diante de uma imagem ou obra de arte. O presente estudo tem como referencial teórico as publicações de arteeducadoras como: Ana Mae Barbosa, Analice Dutra Pillar, Luciana Mourão Arslan e Rosa Iavelberg, dentre outros. Apoiando-se nesses referenciais será apresentado algumas definições, conceitos e métodos de estudo sobre leitura de imagem. No primeiro capítulo, evidencia-se a educação do olhar no ensino da arte e busca-se compreender como acontece o processo de alfabetização visual por meio da leitura de imagem na sala de aula. No segundo capítulo, abordam-se duas teorias de apreciação estética, a partir do método de Robert Ott (1984) e Abigail Housen (1983). Apresenta-se estes métodos de análise de imagens como proposta de estudo, porém compete ao arteeducador selecionar as informações e adequar esses conhecimentos a realidade dos aprendizes. Após discorrer sobre a importância de introduzir atividades de leituras de imagens no ensino de artes visuais, trazen- do idéias e opiniões acerca do tema, serão feitas as considerações finais sobre as aprendizagens e experiências advindas desse processo de investigação e análise. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs-1996), “ver arte” é um dos eixos da aprendizagem signi- ficativa no ensino da Arte. É preciso incluir a leitura de obras de arte e boas propostas de apreciação estética em sala de aula. (apud ARSLAN; IAVELBERG, 1996, p. 15). As imagens são carregadas de significados, assim vemos o quanto é impor- tante educar o olhar, aprender a “ver arte”, para que seja possível extrair a essência, dialogar com a imagem, entender a mensagem, o conteúdo, para não sermos dominados por elas. Desenvolver essa pesquisa será muito importante, para en- riquecer os conhecimentos obtidos no decorrer do curso de Artes Visuais, sobre a importância de inserir a leitura de ima- 25 Por Raphael Lanzillotte 80 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes gem nas práticas educativas em sala de aula. Como futuros arte-educadores, devemos levar esses conhecimentos aos aprendizes, que necessitam desenvolver a percepção e a sensibilidade estética. Assim, a realização deste trabalho contribuirá para a re- flexão de arteeducadores e futuros arte-educadores que se preocupam em oferecer aos educandos um ensino voltado para a realidade social e cultural em que estamos vivendo. Ensinar crianças, jovens e adultos a compreender a cultura e os símbolos da arte é a missão de todo arte-educador que deseja promover a cidadania e a integração social por meio do ensino da Arte. 1. A EDUCAÇÃO DO OLHAR NO ENSINO DA ARTE Figura 1 Pablo Picasso. Mulher ao Espelho. Óleo sobre tela, 1932. Fonte: <http://www.artesdoispontos.com/viu.php?tb=- viu&id=10> Segundo PILLAR (2006, p.11), a partir dos anos 80, no Brasil, o ensino de arte começa a ser repensado em novas bases conceituais e revisado quanto a sua relação com as pesquisas contemporâneas em arte. Os professores passaram a trabalhar não só a produ- ção da criança e do adolescente, mas também a leitura da imagem e a contextualização histórica. Surgiram, também, as releituras, enquanto produções realizadas com base em obras de arte. O ensino de artes no Brasil, tradicionalmente voltado para as atividades práticas, como o desenho geométrico, assume novas perspectivas com o avanço de novas pes- quisas na área de arte. Além de trabalhar as produções dos alunos, via-se a necessidade de inserir na educação de crianças e jovens, a leitura de imagem, proposta inovado- ra e necessária para vincular o conhecimento à realidade (PILLAR, 2006). Há múltiplas definições de imagem. A imagem é hoje, um componente central da comunicação. Com sua multipli- cação e ampla difusão, com sua repetitividade infinita, estes dispositivos fazem com que, por intermédio da sua materia- lidade, uma imagem prolongue a sua existência no tempo (BARBOSA, 2008, p. 75). De acordo com as afirmações da autora, uma imagem pode receber inúmeros significados, devido ao poder de comunicação de suas formas e cores, presentes no tempo e no espaço em diferentes contextos sócio culturais. Deste modo, infere-se uma nova leitura visual para a apropriação damensagem propagada. Conforme BARBOSA (2008:18-19): A necessidade de al- fabetização visual vem confirmando a importância do papel da Arte na Escola. A leitura do discurso visual, que não se resume apenas à analise de forma, cor, linha, volume, equi- líbrio, movimento, ritmo, mas principalmente é centrada na significação que esses atributos, em diferentes contextos, conferem à imagem é um imperativo da contemporaneida- de. Os modos de recepção da obra de Arte e da imagem ao ampliarem o significado da própria obra a ela se incorpo- ram. Não se trata mais de perguntar o que o artista quis dizer em sua obra, mas o que a obra nos diz, aqui e agora em nosso contexto e o que disse em outros contextos históricos a outros leitores. Assim sendo, a leitura do discurso visual não se res- tringe a materialidade, ao corpo da obra e da imagem. No entanto, para entender o discurso é necessário uma analise profunda do contexto imaterial da obra (BARBOSA, 2008). A educação estética tem como lugar privilegiado o en- sino de Arte, entendendo por educação estética as várias formas de leitura, de fruição que podem ser possibilitadas às crianças, tanto a partir do seu cotidiano como de obras de Arte. Compreender o contexto dos materiais utilizados, das propostas, das pesquisas dos artistas é poder conceber a Arte não só como um fazer, mas também como uma for- ma de pensar em e sobre Arte (BARBOSA, 2008, pp. 71-72). Pensar em arte é formar um pensamento, uma opi- nião sobre determinado assunto. É ver uma obra artística ou qualquer tipo de imagem e se posicionar criticamente as idéias transmitidas pelo artista. O ensino de Arte pode nos proporcionar a fruição dessas produções artísticas por meio da leitura visual. Assim, “as pessoas aprendem com as imagens e também se emocionam com elas” (ARAÚJO, 2007, p.53). De acordo com Barbosa (2008:32), o que a arte na escola principalmente pretende é formar o conhecedor, o fruidor, decodificador da obra de arte. Deste modo, é necessário começar a educar o olhar da criança desde a educação infantil, possibilitando atividades de leitura para que além do fascínio das cores, das formas, dos ritmos, ela possa compreender o modo como a gramáti- ca visual se estrutura e pensar criticamente sobre as imagens (BARBOSA, 2008, p.81). 81 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Professor Classe I - Artes Neste sentido, o professor como mediador da apren- dizagem precisa incitar a criança, o adolescente a desen- volver a capacidade estética, explorando o universo infinito das imagens. Desta maneira, estará estimulando-os a aden- trar no universo da visualidade e a fazer uso da “gramática visual”, possibilitando descobertas e experiências por meio da leitura de imagens. No entanto, promover a apreciação da imagem é com- partilhar as experiências culturais que os alunos já trazem de suas vivências cotidianas. Desta forma, aproveitar esses conhecimentos será de fundamental importância para a construção da linguagem visual. No Livro Cultura Visual: mudança educativa e projeto de trabalho, Fernando Hernández (2000) questiona a forma como os professores têm utilizado as teorias de apreciação estética, nunca propondo (pelo menos desde o início) um questiona- mento da imagem ou obra apresentada: sempre partem do princípio de que a obra é indiscutivelmente importante e por isso deve ser observada. Hernandez critica a ausência de per- guntas que questionam os saberes constituídos. Nessa linha de pensamento, os professores poderiam perguntar: · Por que estamos vendo esta imagem/obra? · Quem legitimou essa produção como obra de arte? · Porque a obra está no museu ou no livro, e não outra? Hernandez acredita que o professor não deve tratar ou considerar as obras como objetos sempre legítimos e que nunca podem ter sua validade questionada. Pensar uma área de conhecimento pressupõe questioná-la. Desde cedo, deve-se incentivar uma postura crítica em relação aos sis- temas da cultura, para que as crianças se habituem a essa prática e se sintam capazes de fazer suas próprias escolhas culturais (ARSLAN; IAVELBERG, 2006, pp. 22-23). Nesta análise de pensamento, vemos o quanto é im- portante o professor deixar os alunos livres para estudar as imagens e criar um ambiente propício para a construção de saberes, levando-os a pensar criticamente, investigar o contexto cultural da imagem, o artista, os materiais, a téc- nica utilizada, para que a partir de suas próprias percep- ções, descubram a importância da obra dentro do contexto cultural em que se fazem presentes. Já que, os saberes se constroem dentro de um âmbito de interação e trocas mú- tuas, diante disso não é certo estabelecer um conhecimen- to como único e verdadeiro, principalmente ao se observar e analisar uma imagem. Pois, cada pessoa a ver de modo particular e atribui significados diferentes. Ana Mae Barbosa (1998:18) menciona, a importância da apreciação da arte para o desenvolvimento da criativi- dade: Apreciar, educar os sentidos e avaliar a qualidade das imagens produzidas pelos artistas é uma ampliação neces- sária à livre-expressão, de maneira a possibilitar o desenvol- vimento contínuo daqueles que, depois de deixar a escola, não se tornarão produtores de arte. Através da apreciação e da decodificação de trabalhos artísticos, desenvolvemos fluência, flexibilidade, elaboração e originalidade – os pro- cessos básicos da criatividade. Além disso, a educação da apreciação é fundamental para o desenvolvimento cultural de um país. Este desenvolvimento só acontece quando uma produção artística de alta qualidade é associada a um alto grau de entendimento desta produção pelo público. Entretanto, é importante que a escola prepare os edu- candos para apreciar e conceber a arte, para que eles sin- tam-se capazes de dialogar com as obras dos artistas e produzir sua própria arte. Deste modo, ampliando as per- cepções dos aprendizes por meio da leitura e análise das imagens, sejam estas imagens obras de arte ou imagens ilustrativas do cotidiano, estaremos estimulando à livre ex- pressão e a criatividade. A produção de arte faz a criança pensar inteligente- mente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. Este mundo cotidiano está cada vez mais sendo domina- do pela imagem. Há uma pesquisa na França mostrando que 82% da nossa aprendizagem informal se faz através da ima- gem e 55% desta aprendizagem é feita inconscientemente. Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Através da leitura de imagem de artes plásticas estaremos preparan- do a criança para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a prepararemos para aprender a gramática da imagem em movimento. Esta decodificação precisa ser associada ao julgamento da qualidade do que está sendo visto aqui e agora e em re- lação ao passado. Preparando-se para o entendimento das artes visuais se prepara a criança para o entendimento da imagem quer seja arte ou não (BARBOSA, 2008, pp. 34-35). A educação do olhar, em tempos de difusão e incorpo- ração da imagem na vida cotidiana, torna-se indubitavel- mente necessária para o ensino-aprendizagem de crianças e jovens em fase de desenvolvimento cognitivo. O ensino de artes visuais quando bem empregado pelos professo- res pode promover a aquisição desses conhecimentos que tanto precisamos para a compreensão da nossa cultura e da cultura do outro. “A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identidade cultural e o desenvolvimento de nossas capacidades críti- cas e perceptivas” (BARBOSA, 2008, p. 16). Esclarece Ana Mae Barbosa (2008:16), “dentre as artes, a arte visual, tendo a imagem como matéria-prima, torna- -se possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos.” O estudo das artes visuais contempla