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SEPSE E CHOQUE SÉPTICO Sepse pode ser definida como uma presença de disfunção orgânica ameaçadora a vida em decorrência da resposta desregulada do organismo a presença de infecção, seja ela causada por bactérias, vírus, fungos ou protozoários. Em outras palavras sepse é definida como uma Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica em decorrência de quadro infeccioso prévio, já que um quadro de SIRS nem sempre é equivalente a um quadro de sepse, mas sepse sempre é o quadro de SIRS. A Sepse quando não reconhecida rapidamente ou atrasado o diagnostico por qualquer motivo apresenta elevado grau de mortalidade, principalmente em pacientes mais velhos que venham apresentar sepse. Estima-se que cerca de 10% a 40% dos pacientes com sepse venham a óbito, sendo as infecções as causas mais comuns e o choque séptico causa mais comum de mortalidade. Lembrando que quanto mais rápido for feita a intervenção no quadro de sepse, menos chance do paciente evoluir para choque séptico e também vir a óbito, sendo tempo essencial para se obter melhores prognósticos. SÍNDROME RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA O quadro de SIRS é uma resposta inflamatória sistêmica do organismo contra um determinado quadro ou alteração do que ocorreu no organismo. Essa resposta inflamatória faz com que se tenha o aparecimento de sinais decorrentes do sistema imunológico super ativado na produção celular e moleculares como citocinas, mediadores inflamatórios em que se tem acometimento completo do organismo. Antigamente era definida como sepse um quadro de SIRS associado a um quadro infeccioso já que SIRS pode ter uma causa infecciosa mas também uma causa metabólica ou a causa traumática como em caso de acidentes por exemplo não necessariamente sendo apenas infeccioso. Atualmente Sepse não apresenta como definição quadro de SIRS associado com infecção. No entanto, os critérios de definição de SIRS ainda sim são utilizados para triagem de pacientes suspeitos de sepse, ou seja, quando um paciente tiver dois ou mais sinais de SIRS é um provável quadro ou evolução posterior para sepse. SEPSE – DEFINIÇÃO Ambos os critérios, tanto o SOFA quanto o QSOFA são dois métodos utilizados, sendo o QSOFA mais simples e que se associa mais em avaliar a gravidade do caso. Já o SOFA se tem uma avaliação completa de todos os sistemas desse organismo acometido por um quadro de sepse, diferente do QSOFA que é utilizado mais a beira leito a fim de se ver probabilidade e avaliação do quadro rapidamente. Sepse é definida portanto por um quadro de disseminação da infecção ativando sistemicamente uma resposta imune que provoca uma disfunção orgânica. Essa disfunção é sim avaliada pelos critérios de SOFA de maneira mais completa e pelo QSOFA de maneira mais simples. Sendo que 2 ou + critérios atingidos identificam um quadro de sepse. CHOQUE SÉPTICO O choque séptico é definido como uma sepse associada a necessidade do uso de drogas vasoativas para manutenção da PAM > 65 mmHg e Lactato > 2 mmol/L. lembrando que o lactato aumenta devido a queda na perfusão de tecidos que leva ao aumento do metabolismo anaeróbico dessas células mal perfundidas, sendo um dos motivos em que o tratamento é justamente reposição volêmica. Em outras palavras, um choque séptico é um quadro sepse que evoluiu para uma hipotensão grave associado com os valores de Lactato > 2. Nesses casos é necessário também o uso de drogas vasoativas para manutenção da pressão arterial média acima de 65 mmHg. Lembrando que casos de lactatemia elevada isoladamente não configura quadro de sepse necessariamente. ETIOPATOGENIA Um quadro de Sepse evolui com sintomas e sinais clínicos e laboratoriais identificáveis, assim como presença quadro infeccioso prévio, não necessariamente com aparecimento de febre. Devem ser tratados imediatamente assim que for descoberto, sendo que a conduta rápida é fundamental a se ter bom prognóstico posteriormente. A fisiopatologia da sepse envolve diversos mecanismos que confluem a partir da exposição do organismo a algum patógeno ou suas toxinas, desencadeando uma resposta imune mediadas por citocinas, ativando neutrófilos, plaquetas e monócitos que geram a inflamação e danos aos tecidos do organismo. Alguns microrganismos já foram associados com uma maior predisposição ao quadro de sepse, como o exemplo Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae que são bactérias gram positivas bastante comum na pele e no ambiente. Além das bactérias gram positivas, existem os microrganismos gram negativos e os fungos como agentes que frequentemente causam quadros de choque séptico. O mecanismo de defesa contra patógenos está organizado em respostas imunes inatas e também a respostas imunes adaptativas ou especificas. Moléculas de superfície das bactérias gram-positivas com parede de peptideoglicanos lipopolissacarídeos de bactérias Gram-negativas ligam-se a receptores toll-like em monócitos, macrófagos e neutrófilos, que culminam com a transcrição de várias citocinas, como o TNF-α e a interleucina-6 (IL-6). Respostas imunológicas especificas ou adaptativas são especificas para cada tipo de microrganismo, tem resposta imune inata. Linfócitos B produz imunoglobulinas, existe ativação do sistema complemento, linfócitos TH1 secretam citocinas pró-inflamatórias (TNF-a, IL-1b) e linfócitos TH2 secretam citocinas anti-inflamatórias (IL-4, IL-10). A ativação de uma extensiva rede de mediadores pró- inflamatórios pelo sistema imune inato tem papel significativo na progressão do choque, além de desempenhar papel fundamental para a lesão e disfunção de órgãos nessa situação. Naqueles que sobrevivem ao insulto inicial, segue-se uma forte resposta compensatória de características imunossupressoras, aumentando a predisposição a infecções secundarias e que contribuem para a alta mortalidade dos pacientes que tiveram choque séptico. Essa imunossupressão inclui a mudança de fenótipo do linfócito T (de TH1 para TH2) e a apoptose de linfócitos B, linfócitos T CD4+ e células do epitélio intestinal e pulmonar. A fisiopatogenia da Sepse pode ser dividida em três estágios. O primeiro é exclusivamente local e mediado pela produção de citocinas, e o segundo, representado pela liberação de pequenas concentrações dos mediadores químicos, acentuando os efeitos locais e iniciando os sistêmicos, a fase aguda inflamatória. Já o terceiro estágio, ocorre quando não há reestabilização da homeostase do organismo, com evolução para um quadro generalizado e a ocorrência dos efeitos colaterais da SRIS. Em um primeiro momento, ocorre portanto uma liberação de um processo inflamatório local justamente no local que foi lesionado, sofreu trauma ou alteração metabólica com aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação, migração de células inflamatórias e citocinas pró- inflamatórias são IL-1, IL-2, IL-12, IL-18, IFN-γ e TNF-α a fim de combater localmente aquela injúria no organismo. Em um segundo momento, não foi possível reestabelecer ainda a homeostase do organismo, começa a liberação de outras substancias locais denominadas mediadores inflamatórios, em maiores concentrações a fim de tentar combater então as lesões ou injurias traumáticas/metabólicas sendo os principais mediadores a histamina, prostaglandinas, além de sistema complemento, leucotrienos, e mais e mais citocinas e quimicitocinas. Nesse momento, os efeitos adversos de toda essa resposta inflamatória exacerbada passa a expandir apenas o caráter local, começando os efeitos sistêmicos. No terceiro momento, ocorre devido ao organismo não conseguir reestabelecer o controle hemodinâmico, um aumento dessa resposta inflamatória que passa a alterar sistematicamente todos os sistemas, por meio de vasodilatação, além da hipoperfusão tecidual e hipotensão.Com a resposta pró-inflamatória exacerbada ocorre a liberação de mediadores químicos, em virtude da hipoperfusão, acarretando no desenvolvimento dos sinais clínicos: hipertermia, hipotensão arterial, disfunção pulmonar com sequestro de neutrófilos, quimiotaxia neutrófila, anorexia, anomalias metabólicas, ativação plaquetária, vasoconstrição ou vasodilatação, isquemia e ulceração gastrointestinal. Com a evolução do processo inflamatório, inicia-se a fase dos efeitos colaterais gerados pela resposta do organismo, como lesões celulares, fechamento do esfíncter pré-capilar, “shunt” arteriovenoso, vasodilatação, depressão miocárdica, excessiva permeabilidade vascular, formação de “microtrombos” leucocitários, agregação plaquetária juntamente com coagulação intravascular disseminada e ativação do sistema retículo endotelial levando a gravíssimas alterações metabólicas, entre outros efeitos sistêmicos. As citocinas quando liberadas acarretam em injúrias endoteliais, levando ao aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação arteriolar, hipotensão arterial e hipoperfusão tecidual com danos isquêmicos, podendo resultar na síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMO). Em resposta a hipotensão, arterial, há ativação do sistema renina-angiotensina aldosterona (SRAA) como tentativa de aumentar o volume circulatório, evitando o desenvolvimento da insuficiência renal aguda. No sistema gastrointestinal, há diminuição do peristaltismo devido a isquemia vascular, facilitando a adesão e translocação bacteriana, além das erosões ulcerativas na mucosa intestinal, potencializando o quadro da SIRS. Não esquecer que lesões endoteliais ativam então toda a cascata de coagulação (Tríade de Virchow) e começa a ter uma formação de microtrombos por toda a circulação que pode levar a colapso circulatório do paciente, TVP e TEP. MICROBIOLOGIA GRAM POSITIVAS: - Staphylococcus Aureus - Streptococcus Pneumoniae GRAM NEGATIVAS: - E.Coli - Klebsiella - Pseudomonas Aeruginosas REFLEXOS NO SISTEMA CARDIOVASCULAR Levando em consideração que se tem por conta de todas a citocinas inflamatórias produzidas, assim como aumento de mediadores inflamatórios como a histamina, lesão dos endotélios vasculares, aumento da permeabilidade, com o extravasamento de líquidos, ocorre comprometimento do sistema cardiovascular como um todo. É nesse momento em que se tem uma diminuição pressão arterial em decorrência da vasodilatação provocada pelos mediadores inflamatórios (não à toa que pressão arterial é um dos sinais do QSOFA e SOFA), diminuição da pré carga em decorrência do extravasamento plasmático, associado a debilidade cardíaca, diminuição do débito, perfusão mal realizada e desigual para os tecidos. É nesse momento que se tem um choque séptico, com aumento do lactato, com uma hipotensão corrigida apenas com drogas vasoativas e mal perfusão tecidual total e necessidade de reposição da volemia já que o liquido todo saiu dos capilares por conta da permeabilidade vascular. OUTROS ACHADOS CLÍNICOS INESPECÍFICOS 1. TAQUIPNÉIA: tentativa do organismo de aumentar um fornecimento de oxigênio para os tecidos já que a perfusão está ruim, associado a um quadro de aumento da síntese de lactato que pode levar a quadros de acidose metabólica do organismo. É um dos parâmetros do QSOFA > 22 irpm. 2. HIPOXEMIA E TAQUICARDIA: resultado claro de se ter o quadro de má perfusão, com diminuição da volemia, além de extravasamento plasmático e vasodilatação sistêmica. 3. FEBRE OU HIPOTERMIA: valores acima de 38 ou menor do que 35 são indicativos de piora de quadro, podendo ser indicativo de gravidade do paciente. Lembrar sempre que é um dos parâmetros que podem levar o paciente para um quadro de internação na UTI com suspeita por exemplo de pneumonia hospitalar. 4. OLIGÚRIA: é resultante logicamente da ativação do SRA que tem como objetivo aumentar a pressão arterial a fim de aumentar a retenção de agua na urina. 5. CEFALÉIA E CONFUSÃO MENTAL: pode estar ligadas ao quadro de convulsões ou não, em decorrência da queda de perfusão circulatória como um todo, afetando o cérebro e levando aos quadros de distúrbios neurológicos. 6. ICTERÍCIA: o fígado passa a ser acometido decorrência de se ter o acumulo de substancias toxicas no organismo e que não conseguem ser removidas pelo órgão. 7. PETÉQUIAS, RASH OU PÚRPURAS: é decorrente de um quadro inflamatório sistêmico com extravasamento desse sangue para fora dos capilares, mostrando aparecimento de pequenos focos de hemorragias. TRATAMENTO: “PACOTE DE 1 HORA” 1. Encaminhar para Unidade de Terapia Intensiva se for o diagnóstico de sepse confirmado através dos critérios SIRS SOFA e QSOFA indicando disfunção orgânica + infecção. 2. Medir o Lactato e ver se apresenta valores alterados em valores acima de > 2 mmol/L. 3. Colher cultura e buscar agente causador da infecção a fim de direcionar melhor a antibioticoterapia ou outro tipo de patógeno. 4. Iniciar antibioticoterapia de largo espectro para tentar abranger a maior quantidade de agentes possíveis tanto da comunidade como hospitalares, principalmente Aureus e Pseudomonas. É recomendado Cefalosporinas de quarta geração como o Cefepime ou podendo utilizar aquelas de terceira geração como Ceftriaxone. 5. Iniciar reposição volêmica se Lactato > 4 mmol/L com o quadro de hipotensão grave com valores PAS < 100. 6. O uso de drogas vasoativas como noradrenalina se dá necessário caso o paciente não recupere a hipotensão em após se ter realizado a reposição volêmica. Geralmente se usa como parâmetro PAS < 90 mmHg ou PAM < 65 mmHg nesses pacientes.
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