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APG 10 - Pólipos e câncer colorretal 1. Compreender o desenvolvimento, etiologia, epidemiologia, manifestações clínicas, diagnóstico e complicações do pólipo de cólon 2. Entender os mecanismos de carcinogênicos, fatores de risco, epidemiologia do câncer de cólon 3. Analisar a classificação e evolução histopatológica das neoplasias de cólon Pólipo de cólon ➔ A palavra “pólipo” é um termo clínico-morfológico utilizado para descrever pequenos tumores que se projetam da mucosa intestinal, podendo apresentar-se sob a forma séssil ou pediculada. Pólipos neoplásicos Representam uma condição pré-cancerosa, e que o seu potencial de malignização está na dependência direta do seu tamanho, padrão de crescimento e grau de atipia celular. Fisiopatologia Histopatologicamente, os adenomas têm origem em células imaturas localizadas junto ao fundo das criptas intestinais, que persistem no processo proliferativo celular, ultrapassando as necessidades da reparação normal do epitélio. As células epiteliais não conseguem restringir a síntese do DNA; como consequência, o processo proliferativo atinge a mucosa e, pelo seu acúmulo, formam os pólipos, que, na sua progressão, atingem a forma displásica. Classificação Os adenomas são classificados como tubular, viloso ou tubuloviloso. Convencionalmente, um adenoma é designado viloso quando mais de 50% de sua extensão é constituída por estruturas papilíferas. Quando o componente viloso varia entre 25 e 50%, a lesão é considerada tubulovilosa. ➔ Adenoma tubular É o tipo mais comum e compreende 75% dos pólipos neoplásicos. A lesão pode ser solitária (esporádica) ou múltipla, esta associada à síndrome de polipose familial. Adenoma tubular é mais frequente no cólon e no reto (90%), mas pode ocorrer em outros locais, como estômago e intestino delgado. As lesões são geralmente pequenas (menores que 1 cm) e sésseis; quando crescem, tornam-se pediculadas. Histologicamente, o tumor é constituído por glândulas tubulares revestidas por epitélio colunar alto, pseudoestratificado, com graus variados de displasia. ➔ Adenoma viloso Menos frequente do que o adenoma tubular, compreende 10% dos pólipos neoplásicos e tem pior prognóstico: o risco de transformação maligna é dez vezes maior do que o do adenoma tubular. Adenoma viloso localiza-se nos 25 cm distais do cólon e manifesta-se em indivíduos após a sexta década. A lesão é geralmente única, tem base de implantação larga e é maior do que o adenoma tubular. Manifestações clínicas são mais frequentes do que nos adenomas tubulares. Histologicamente, é constituído por projeções papilíferas revestidas por epitélio colunar alto pseudoestratificado com diferentes graus de displasia. Em geral, o tumor é descoberto por sangramento retal; pode apresentar também hipersecreção de muco, com perda de proteínas e potássio. Adenoma tubuloviloso. Compreende 15 a 20% dos pólipos neoplásicos, tem a mesma localização do adenoma tubular e apresenta-se como tumoração séssil ou pediculada, com características histológicas de estruturas tubulares e vilosas. O risco de transformação maligna é proporcional à quantidade do componente viloso. Seja qual for a sua organização estrutural, os adenomas são constituídos pela proliferação de células epiteliais com diferentes graus de bloqueio da diferenciação celular (displasia). Atipias celulares variam de intensidade pequena (baixo grau) a grande (alto grau), de acordo com os distúrbios da diferenciação celular. Na displasia de baixo grau, os núcleos são dispostos na porção basal da célula e a produção de mucinas é preservada. Na displasia de alto grau, ocorre perda da orientação basal dos núcleos e da produção de mucinas. Displasia de alto grau é mais frequente em lesões maiores que 1,0 cm e situadas no reto e no cólon esquerdo. Sinais de alerta O aspecto mais importante quando se examina um adenoma é identificar se a lesão apresenta focos de carcinoma intramucoso ou invasivo. A probabilidade de se encontrar adenocarcinoma em adenoma correlaciona-se com o tamanho da lesão (maior que 2 cm), com sua estrutura histológica (tubular ou vilosa) e com o grau de displasia. Adenocarcinoma intramucoso (limitado até a muscular da mucosa) tem baixo potencial de originar metástases, pois os vasos linfáticos localizam-se abaixo dessa camada. Quando ultrapassa a muscular da mucosa, o tumor é invasivo. Pólipos não neoplásicos ➔ Pólipos hiperplásicos São os mais frequentes no cólon, geralmente pequenos (0,1 a 1,0 cm), sésseis e múltiplos; sua frequência aumenta com a idade, sendo mais comuns no retossigmoide e em indivíduos na sexta e sétima décadas de vida. Tais pólipos, que não têm potencial de evolução maligna, resultam da diminuição do turnover das células epiteliais nas criptas colônicas que leva ao empilhamento das células e ao aspecto serrilhado. Histologicamente, são constituídos por criptas bem definidas, alongadas e/ou ramificadas, com borda de aspecto serrilhado, revestidas por células caliciformes e absortivas com maturação preservada ➔ Pólipos hamartomatosos São lesões constituídas por tecidos próprios do local, com maturação preservada, mas em quantidade aumentada e com estrutura desorganizada. Podem ser isolados (esporádicos) ou múltiplos, associados a síndromes hereditárias. Possuem risco de evoluir para câncer no trato gastrointestinal e em outros órgãos. A identificação de um pólipo hamartomatoso é importante porque pode ser uma pista para o diagnóstico de uma síndrome hereditária de polipose, com risco de evoluir para câncer. ❖ Pólipo juvenil Ocorre principalmente no reto de crianças menores de 5 anos, mas pode aparecer também em jovens ou adultos. As lesões são geralmente solitárias (esporádicas) e consideradas como malformações (pólipos de retenção). O pólipo apresenta-se como tumor pardo-avermelhado, geralmente pediculado, com 1,0 a 3,0 cm, que pode sofrer torção, infarto e auto amputação, podendo ser eliminado nas fezes. Histologicamente, o pólipo é constituído por glândulas dilatadas císticamente e revestidas por epitélio mucossecretor; o estroma contém infiltrado inflamatório. Pólipos juvenis múltiplos no cólon, intestino delgado e estômago caracterizam a síndrome da polipose juvenil, doença de herança autossômica dominante, com maior risco de evoluir para adenoma e adenocarcinoma. ❖ Síndrome de Peutz-Jeghers Rara e de herança autossômica dominante, caracteriza-se por: (1) pólipos hamartomatosos múltiplos no trato gastrointestinal: intestino delgado (100%), cólon e reto (30%) e estômago (25%) e, por vezes, nas vias respiratórias e na bexiga; (2) hiperpigmentação melânica cutaneomucosa semelhante a lentigo, na mucosa oral, face, genitália e palma das mãos. Os pólipos são em geral volumosos, pediculados e lobulados. Histologicamente, tais pólipos apresentam padrão arboriforme com feixes de tecido conjuntivo e células musculares lisas que septam estruturas glandulares revestidas por epitélio colunar alto com maturação preservada ➔ Pólipos inflamatórios (pseudopólipos) São lesões nodulares com 0,2 a 1,5 cm, associadas a inflamação no cólon, úlceras e reparo da mucosa. As lesões são constituídas por ilhas de mucosa preservada adjacentes às úlceras, as quais se projetam na luz intestinal. Tais pólipos formam-se em pacientes com colite ulcerativa de longa duração e em indivíduos com prolapso da mucosa retal. Pólipos linfóides representam uma variante dos pólipos inflamatórios; são constituídos por hiperplasia do tecido linfóide associado à mucosa colônica. ➔ Pólipo séssil serrilhado Trata-se de lesão séssil ou plana que se origina predominantemente no cólon proximal. A arquitetura serrilhada das criptas é similar à do pólipo hiperplásico, embora nos adenomas o aspecto serrilhado ocorra em toda extensão das glândulas, incluindo a base das criptas e as suas ramificações laterais. A lesão é importante porque é precursora do câncer do cólon associado à instabilidade de microssatélites Epidemiologia A incidência estimada de pólipos na população geral varia de 9 a 60%, sendo esse valor maiorcorrespondente a pequenos pólipos encontrados em necropsias. A idade média de incidência era de 55 anos, cerca de 5 a 10 anos menos do que a média dos portadores do câncer colorretal. Cerca de 50% dos pólipos ocorrem no cólon sigmoide e reto, 50% dos pacientes apresentam mais de uma lesão, e 15%, duas lesões, sendo a distribuição desses pólipos do cólon similar à do câncer. Com relação à distribuição dos tipos, o adenoma tubular ocorre em 75% dos casos, o papiloma viloso em 5%, e a forma intermediária ou tubulovilosa, em 20%. Como foi dito, aceita-se hoje que a maioria dos cânceres do cólon originam-se de adenomas. Adenocarcinoma do cólon Epidemiologia É a neoplasia maligna mais frequente do trato gastrointestinal. Na Europa e nos Estados Unidos, é o terceiro câncer mais prevalente. No Brasil, é o terceiro câncer mais comum em homens e o segundo mais frequente em mulheres. O pico de incidência é entre 60 e 79 anos; 20% dos casos ocorrem antes de 50 anos. Fatores de risco A incidência dos TMCR aumenta significativamente após a idade de 40 anos, e cerca de 90% dos casos ocorrem em indivíduos acima de 50 anos. A existência pregressa de pólipos adenomatosos, particularmente se múltiplos e/ou com mais de 1 cm A existência de antecedentes familiares está presente em cerca de 25% dos pacientes com TMCR, sendo a incidência proporcional ao número de parentes de primeiro grau que apresentaram neoplasia. É recomendável que pessoas com dois ou mais familiares com TMCR sejam orientadas a realizarem colonoscopia de controle a partir da idade de 30 anos, independentemente de quaisquer sintomas. Polipose familiar adenomatosa (PFA) Câncer hereditário não polipoide (CHNP) O risco dos TMCR em pacientes com retocolite ulcerativa Carcinogênese colônica A maioria dos casos de câncer do cólon é de lesões esporádicas, relacionadas com fatores ambientais; hábitos alimentares e estilo de vida são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer do cólon. As formas hereditárias compreendem: (a) polipose familial do cólon, de herança autossômica dominante; (b) carcinoma hereditário não associado a polipose. Alimentação é o principal fator ambiental envolvido na carcinogênese colônica. Altas taxas de câncer do cólon associam-se a: (1) dieta pobre em fibras vegetais e rica em gorduras, carnes vermelhas e carboidratos refinados. O menor teor de fibras na alimentação reduz o bolo fecal, aumenta o tempo de trânsito intestinal e altera a microbiota intestinal. Nessa situação, alta concentração de produtos oxidativos da degradação de carboidratos por bactérias e pequeno volume de fezes possibilitam maior tempo de contato do bolo fecal com a mucosa do cólon; (2) alta ingestão de carnes vermelhas resulta em maior taxa de colesterol, o que aumenta a síntese e a excreção de ácidos biliares, os quais podem ser convertidos em agentes cancerígenos pelas bactérias intestinais; (3) carência de vitaminas A, C e E na alimentação resulta em aumento de radicais livres de O2, que são potencialmente mutagênicos; (4) obesidade e inatividade física aumentam o risco para câncer do cólon; O câncer do cólon desenvolve-se por duas vias: (1) via APC/β-catenina, que atua na origem de adenomas e sua progressão para adenocarcinoma (sequência adenoma-carcinoma); (2) via de instabilidade de microssatélites, relacionada com defeitos no reparo do DNA. Em ambas as vias, há acúmulo de mutações sucessivas e cumulativas que diferem nos genes envolvidos e nas formas de seu aparecimento. Alterações epigenéticas, como silenciamento gênico, por metilação do DNA ou por microRNAs, favorecem a progressão da neoplasia. A via da sequência adenoma-carcinoma (APC/β-catenina) é responsável por 70 a 80% dos carcinomas esporádicos do cólon. A lesão inicia-se com mutações no gene APC. Como se trata de gene supressor de tumor, ambos os alelos do gene precisam estar afetados (mutações ou alterações epigenéticas) para que o fenótipo neoplásico se manifeste. O produto do gene APC é um regulador negativo da β-catenina, proteína citoplasmática que faz parte da via de sinalização WNT. Em condições normais, a proteína APC liga-se à β-catenina, levando à sua degradação. Com a perda de função da proteína APC, a β-catenina fica livre e desloca-se ao núcleo, onde ativa fatores de transcrição de alguns genes cujos produtos induzem proliferação celular (genes MYC e da ciclina D1). Mutações adicionais ocorrem, incluindo ativação do oncogene KRAS, que favorece a proliferação celular e diminui a apoptose. A progressão neoplásica associa-se a mutações em outros genes supressores de tumor, como SMAD2 e SMAD4, que participam na via de sinalização TGF-β, inibidora da proliferação celular. Mutações no gene TP53 são encontradas em 70% dos cânceres do cólon, surgem na etapa de progressão da neoplasia e levam à instabilidade genômica, que é uma das principais características da via de carcinogênese APC/β-catenina. A via de instabilidade de microssatélites (IMS) caracteriza-se por alterações em genes de reparo do DNA. Os produtos desses genes (hMSH2, hMLH1, hMSH6 e hPMS2) são “revisores” do DNA, pois detectam erros ocorridos durante a replicação do DNA (erros de pareamento). Sem reparo do DNA, erros de replicação não são corrigidos e originam mutações. Microssatélites são pequenas sequências repetitivas de nucleotídeos (3 a 5 pares de bases) altamente polimórficas no genoma e muito sujeitas a mutações. Mutações em microssatélites são um bom marcador de defeitos nos genes de reparo do DNA. Microssatélites podem situar-se na região codificadora ou promotora de vários genes, como os envolvidos na proliferação celular (p. ex., TGF-β) ou apoptose (p. ex., BAX). Mutações nesses genes aumentam a proliferação celular ou diminuem a apoptose, permitindo a expansão de clones celulares transformados. Tais anormalidades moleculares podem ser reconhecidas pela ausência, à imuno-histoquímica, das proteínas de reparo do DNA (MLH1 e MSH2) ou pela análise molecular de microssatélites. O gene MLH1 pode tornar-se inativo por metilação do seu promotor. Carcinomas com instabilidade de microssatélites ocorrem na síndrome do câncer do cólon hereditário não associado à polipose (HNPCC – síndrome de Lynch). Aspectos morfológicos O carcinoma do cólon é mais frequente no reto/sigmoide (70% dos casos), seguindo-se o ceco e o cólon ascendente (22%), cólon transverso e descendente. A lesão apresenta várias formas macroscópicas: polipóide (vegetante), úlcero infiltrativo, anular-constritiva e difusa. As três primeiras são as mais comuns. As lesões polipoides ou vegetantes são mais comuns no cólon direito, crescem em direção à luz como massas fungoides ou em couve-flor e geralmente adquirem grandes dimensões. Como no ceco a luz intestinal é ampla e o conteúdo fecal predominantemente líquido, as manifestações clínicas são tardias e não raramente o tumor é diagnosticado pelas metástases. Por essa razão, o prognóstico é ruim, apesar de o tumor geralmente ter crescimento lento e ser bem diferenciado. O tipo úlcero infiltrativo é o mais frequente, cresce em superfície e profundidade, infiltra a parede do cólon e leva a estreitamento (estenose) da luz intestinal. A lesão forma grande úlcera com fundo necrótico e bordas elevadas e irregulares. A forma anular-constritiva é comum especialmente no reto e no sigmoide. O tumor cresce pouco em direção à luz, mas infiltra a parede de modo circular. A estenose deve-se à reação desmoplásica do estroma induzida pelas células neoplásicas. Por essa característica constritiva, é conhecido como tumor em anel de guardanapo. O segmento proximal dilata-se devido à estase fecal. Como este padrão de crescimento compromete o trânsito intestinal, o diagnóstico é mais precoce. Manifestações clínicas O câncer do cólon e do reto desenvolve-se insidiosamente, podendo permanecer assintomático por longo tempo. No ceco e no cólon direito, o tumor é clinicamente silencioso, manifestando-se com sinais inespecíficos de fadiga, fraqueza e anemia ferropriva. Lesões no cólon esquerdo manifestam-sepor obstrução intestinal progressiva, com alterações do hábito intestinal, e por alterações nas fezes (fezes em fita), associadas a diarreia e perda de sangue nas fezes (evidente ou como sangue oculto). Estadiamento O principal fator prognóstico é a extensão da lesão no hospedeiro, avaliada pela profundidade de invasão do tumor na parede intestinal e pela presença de metástases em linfonodos regionais e/ou em órgãos a distância, sobretudo fígado, pulmões e ossos. Como a drenagem venosa do cólon é feita pelo sistema porta, o fígado é o órgão com maior incidência de metástases.
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