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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Curso de Administração Pública Disciplina: Filosofia Nome: Polo: Paracambi Matrícula: Página 39 1 – Qual o sentido e a importância da contribuição dos filósofos pré- socráticos para a formação e o desenvolvimento da tradição filosófica? Ao observarmos a etimologia da palavra “filosofia” extraímos do grego philosophia junção de duas palavras “philo” (amor, amizade) e “sophia” (sabedoria, conhecimento), portanto, em termos gerais, tem-se a tradução próxima: amor ao saber. Nesse aspecto, os filósofos podem ser compreendidos como aqueles que estão pela busca do conhecimento, da sabedoria. Isso ocorre por meio de questionamentos sobre a vida e profundas reflexões. Em um primeiro momento, houve a necessidade de explicar as ideias de forma racional, uma vez que, até então eram respondidas por histórias mitológicas, de cunho simbólico. Nesse ambiente, aparece Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo pré-socrático de que se tem registros consolidados, propondo explicações de variados assuntos pela observação empírica da natureza e pela racionalidade, destacando-se o elemento da água, como sendo primordial para seu pensamento. Posteriormente, houve outros filósofos que contribuíram para a formulação do conhecimento humano, como: Pitágoras, através das relações matemáticas (principalmente geométricas); Heráclito, com o mobilismo, afirmando que tudo está em movimento, todas as coisas seguem um fluxo; Parmênides e Eleatas, por outro lado, defendem a doutrina monista, na qual afirmam: a existência de uma realidade única, a distinção entre a realidade e a aparência, além de propor o pensamento sobre o mundo sensível, que mais tarde fora ampliado para a metafísica. Na segunda fase do pensamento pré- socrático, é importante destacar os filósofos Leucipo e Demócrito. Sendo este último considerado um dos criadores da doutrina do atomismo, no qual sustenta que a realidade é constituída de átomos e vazios. É uma noção bem principiológica do que viria a se tornar tempos depois, com as descobertas científicas. Em resumo, tais ideais fomentaram um importante embasamento na formulação de pensamentos de filósofos posteriores, sejam por Sócrates, Platão e Aristóteles, sejam pelos sofistas, com o desenvolvimento da retórica e oratória (na construção de conhecimentos da linguagem na tradição cultural grega, que mais tarde serviu de base para a gramática e poemas). Assim, consta-se a grande valia do pensamento dos filósofos pré-socráticos no desenvolvimento de novos conhecimentos posteriormente. 1 4 – Quais os principais argumentos de Parmênides e dos monistas contra Heráclito e os mobilistas? Como você avalia esses argumentos? Parmênides defendia a doutrina monista, que consiste na realidade única. Ele introduz a distinção do pensamento entre a realidade e a aparência. O primeiro argumento contra o mobilismo envolve em caracterizá-lo somente como aparente, propondo um aspecto superficial das coisas. Segundo ele, se utilizássemos o pensamento, numa concepção abstrata de experiência sensível, constataríamos que a realidade verdadeira é única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio, nem fim, contínua e indivisível. Nesse contexto, Parmênides afirma que o “ser” é esférico, de modo que a esfera representa um aspecto pleno e perfeito do real. Por meio do pensamento, é possível chegar na essência da realidade, aquilo que permanece na mudança. Só é possível entender a mudança se existir algo de essencial que permanece e possa identificar o objeto como o mesmo. O segundo argumento contra o mobilismo possui um caráter lógico, no qual a noção de movimento pressupõe a noção de permanência como mais básica. Parmênides afirma que a vida é uma constante transformação. Desse modo, o movimento não pode ser compreendido como mais básico, primitivo, definidor do real. É complicado avaliar a contraposição entre mobilistas e monistas. Para mim ambos os argumentos são válidos, principalmente se percebermos que isso influenciou, de certo modo, para os pensamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles. Na concepção de Heráclito, os opostos são complementares e o conflito faz parte de um dos princípios básicos do real, portanto o ponto de vista de Parmênides se torna insustentável. Ao passo que para os monistas, a posição do mobilismo é absurda. Desse modo, resumidamente, temos essas duas correntes: o mobilismo que valoriza a pluralidade do real, e o desenvolvimento da experiência concreta para o conhecimento da realidade; e o monismo que busca o que é singular, único, permanente, estável e perfeito, aquilo que não pode ser compreendido pelos sentidos, se revelando apenas pela observação da experiência refletida. Portanto, é um conflito sem solução, são duas perspectivas opostas e interessantes que podem ser analisadas, porém não podemos chegar a uma conclusão concreta. 2 Página 49 5 – Você considera sofistas como Protágoras e Górgias realmente filósofos ou meros mestres de retórica e manipuladores de opiniões? Sim, creio que foram filósofos. Uma vez que a filosofia da época era feita de forma discursiva e por debates, os sofistas contribuíram para o avanço dos estudos da linguagem na tradição cultural grega. Isso se deu por meio da divisão das partes do discurso, da análise etimológica para descobrir a essência das palavras, e também houve inspiração da literatura anterior fornecendo recursos estilísticos (como imagens e figuras de linguagem). Desse modo, o desejo pela retórica e oratória propiciaram os estudos da gramática e poética, posteriormente. Importa destacar que os sofistas não eram necessariamente manipuladores de opiniões, por isso acredito que eles foram filósofos e, de certo modo, educadores, pois além de contribuírem para a preparação do cidadão nas questões políticas (ainda que não se preocupassem tanto com a ética e moral, e focassem mais nas argumentações debatidas), eles também tinham o interesse na transmissão de seus conhecimentos. 7 – Como podemos situar Sócrates nesse mesmo contexto do século V a.C em oposição aos sofistas? É importante relatar o contexto histórico em que Sócrates estava inserido. No século V a.C., estava ocorrendo a transição da tirania e oligarquia para a democracia. Isso gerou uma construção de pensamento político para os cidadãos. Segundo Sócrates, os sofistas apenas se preocupavam em estabelecer argumentos que convencessem o interlocutor do seu ponto de vista, através de técnicas específicas, sem chegar necessariamente ao verdadeiro conhecimento. Todavia, isso poderia gerar relativismos e não uma única verdade real. A verdade seria relativizada de acordo com o interesse do debatedor. O método socrático propõe que através do diálogo, é possível de se obter um certo tipo de conhecimento, desenvolvê-lo por meio da reflexão e, assim, chegaria a uma definição mais próxima da verdade. Em outras palavras, poderiam ser desenvolvidas novas concepções (mais completas), a partir do questionamento de um entendimento já existente. Nesse modo de pensar, Sócrates enfrentou ideias que faziam parte da concepção do Estado. Por questionar sobre diversos assuntos, muitas vezes gerado pelo senso comum, ele foi condenado à morte por desrespeitar tradições religiosas locais e por corromper os jovens. Constata-se que a razão por essa acusação é eminentemente política, pelo fato de Sócrates fazer críticas contundentes sobre os desvios da democracia ateniense, e sobre valores e comportamentos da sociedade da época. 3 9 – O que significa maiêutica socrática? A maiêutica de Sócrates é caracterizada como “a arte de fazer o parto”. A analogia foi inspirada em sua mãe, que era uma parteira. De modo que, elealmejava fazer partos de ideias. Segundo ele, a contribuição do filósofo não é somente transmitir um saber pronto e finalizado, mas buscar um estímulo para que o seu interlocutor, por meio da dialética, da discussão no diálogo, consiga propor suas próprias ideias. Vale destacar que a dialética socrática atua por meio de um questionamento das crenças habituais de um interlocutor, de modo a interrogá-lo e provocá-lo, a fim de que ele possa dar respostas e explicar o conteúdo e o sentido de suas crenças. Posteriormente, Sócrates, frequentemente de forma irônica, problematiza essas crenças, induzindo o interlocutor a cair em contradição, para que ele observe a insuficiência e a falha dos seus argumentos e perceba sua ignorância. O reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria. Assim, o indivíduo poderá encontrar o verdadeiro conhecimento (episteme), afastando- se da opinião (doxa). Referências: Marcondes, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,2004. 4
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