Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APG 28 - Climatério e menopausa 1. Compreender como ocorre o desencadear, fatores influenciadores, alterações fisiológicas, diagnóstico e tratamento farmacológico e não farmacológico do climatério e da menopausa O climatério é a fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da mulher, caracterizado por uma gama de modificações endócrinas, biológicas e clínicas, compreendendo parte da menacme até a menopausa. Essa, por sua vez, é definida como o último período menstrual, identificado retrospectivamente após 12 meses de amenorreia. O intervalo, do início dos sintomas de irregularidade menstrual até o final do primeiro ano após a menopausa, é chamado de perimenopausa. A menopausa é um evento fisiológico e inevitável que ocorre devido ao envelhecimento ovariano e sua consequente perda progressiva de função. Usualmente, ocorre de forma natural no final da quarta e início da quinta década de vida, com variações devidas a diferenças étnicas, regionais, ambientais e comportamentais, como o tabagismo. Conforme dados de uma metanálise envolvendo os seis continentes mundiais, a idade média geral da menopausa no mundo foi descrita como de 48,78 anos, variando entre 46 e 52 anos. A menopausa que ocorre antes dos 40 anos de maneira espontânea ou artificial é chamada menopausa precoce. Desencadear e fatores influenciadores A menopausa, apesar de poder ser influenciada pelo eixo hipotálamo hipofisário, é um evento ovariano secundário à atresia fisiológica dos folículos primordiais; sua ocorrência pode ser natural ou artificial, após procedimentos clínicos ou cirúrgicos que levem à parada da produção hormonal ovariana Até que seu número se esgote na pós-menopausa, os folículos crescem e sofrem atresia de forma contínua. Esse processo é irrecuperável e ininterrupto, independentemente de situações como gravidez ou de períodos de anovulação. Dos milhões de folículos formados na vida intra útero, apenas 400 terão seu crescimento resultando em ovulação durante o menacme; o restante é perdido pelo processo de atresia. O declínio paralelo da quantidade e qualidade dos folículos contribui para a diminuição da fertilidade. Além disso, o consumo do pool folicular com o passar dos anos determina alterações hormonais importantes, responsáveis pelas alterações fisiológicas características do período peri e pós-menopáusico A transição menopausal é caracterizada pela irregularidade do ciclo menstrual devido à variabilidade hormonal e ovulação inconstante. A diminuição maciça do número de folículos ovarianos resulta na queda gradual da inibina B, que, por sua vez, desativa o feedback negativo sobre a hipófise, liberando a secreção de FSH na tentativa de aumentar o recrutamento folicular. O resultado dos níveis elevados de FSH é a aceleração da depleção folicular até o seu esgotamento Enquanto houver folículos suficientes, a ovulação ainda é mantida e os níveis de estradiol permanecerão dentro da normalidade. A contínua perda da reserva folicular diminui os níveis de estradiol que não são mais suficientes para estimular o pico de hormônio luteinizante (LH), encerrando, assim, os ciclos ovulatórios. Sem a ovulação propriamente dita, não há produção de corpo lúteo e consequentemente de progesterona, além de os níveis de estradiol não serem suficientes para estimular o endométrio, levando à amenorreia Na pós-menopausa, na tentativa de estimular uma adequada produção de estradiol pelos ovários, a hipófise é ativada por picos de hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e secreta grandes quantidades de gonadotrofinas, levando as mulheres a um estado de hipogonadismo hipergonadotrófico. Devido à redução da resposta ovariana às gonadotrofinas, os níveis de FSH e LH são marcadamente elevados nos primeiros anos após a menopausa, decrescendo com o envelhecimento Com a diminuição da massa folicular, ocorre relativo aumento no estroma ovariano, porção responsável pela produção de testosterona e androstenediona. De maneira geral, a síntese dos esteroides androgênicos está diminuída, porém a produção remanescente é suficiente para manter os ovários ativos. Esses androgênios, principalmente a androstenediona, servem como substrato para a aromatização periférica A mulher pós-menopáusica não é totalmente desprovida de estrogênio, que segue sendo sintetizado em níveis muito menores. No ovário, a produção de estradiol é quase nula. Já, por meio da aromatização periférica da androstenediona no tecido adiposo, a produção da estrona é mantida e, mesmo em pequenas concentrações circulantes, passa a ser o principal estrogênio na pós-menopausa. Quanto à progesterona, não há mais produção Diagnóstico O diagnóstico do climatério é clínico, não havendo necessidade de dosagens hormonais para confirmá-lo quando há irregularidade menstrual ou amenorreia e quadro clínico compatível. Porém, níveis de FSH acima de 40 mUI/mL e estradiol (E2) menores do que 20 pg/mL são característicos do período pós-menopáusico Alterações fisiológicas ➔ Consequências do hipoestrogenismo Alterações no ciclo menstrual A queixa mais frequente na transição menopausal é a irregularidade menstrual, com alteração na intensidade do fluxo, na duração ou frequência da menstruação. Essa irregularidade reflete os ciclos anovulatórios cada vez mais comuns e, por consequência, as alterações no padrão de secreção tanto do estrogênio quanto da progesterona tendem a se iniciar com encurtamento dos ciclos e progredir para períodos de amenorreia cada vez mais longos até a parada total. A amenorreia prolongada é característica da deficiência de estrogênio. O padrão de fluxo menstrual também pode variar, sendo comum ocorrer sangramento aumentado Nessa fase, o desenvolvimento de patologias orgânicas como miomas e pólipos é favorecido e, nos casos de sangramento uterino intenso, é mandatória a investigação e exclusão de patologias endometriais, com atenção às hiperplasias endometriais e ao carcinoma de endométrio Sintomas vasomotores Compreende os episódios de fogachos e suores noturnos O fogacho se manifesta como uma súbita sensação de calor intenso que se inicia na face, pescoço, parte superior dos troncos e braços, e se generaliza; além disso, é seguida por enrubecimento da pele e subsequente sudorese profusa. Observa-se aumento do fluxo sanguíneo cutâneo, taquicardia, aumento da temperatura da pele devido à vasodilatação e, eventualmente, palpitações Alterações no sono Distúrbios do sono, incluindo menor duração, aumento nos episódios de despertar noturno e menor eficácia do sono, estão presentes em até metade das mulheres na pós-menopausa, com ênfase ao período perimenopáusico, devido às flutuações hormonais Alterações do humor As mudanças evidentes desse período, a perda da capacidade reprodutiva e o próprio envelhecimento propiciam distúrbios psicológicos associados, que também podem contribuir para o quadro depressivo ou ansiolítico Alterações cognitivas Durante a transição menopausal, há marcado aumento nas queixas referentes ao declínio das funções cognitivas, com ênfase nas queixas de diminuição da atenção e alterações da memória Alterações em pele e fâneros O padrão de distribuição da gordura passa de ginecoide para androide, propiciando o acúmulo na região abdominal. A quantidade de gordura visceral também aumenta. Aumento da flacidez e das rugas e diminuição da elasticidade da pele. A pele seca é condicionada ao envelhecimento O cabelo passa a ser mais fino e pode aumentar o padrão de queda relacionada à transição menopausal e o status pós-menopáusico Em relação a alterações oculares, uma das queixas mais comuns associada à menopausa é a síndrome do olho seco, caracterizada por irritação ocular, secura, pressão, sensação de corpo estranho, aspereza e queimação, assim como fotofobia; esses sintomas parecem estar relacionados tanto à redução dos níveis de estrogênio, quanto à de androgênios A transição menopausal também parece atuar de forma importante no desencadeamento do declínio auditivo relacionado à idade em mulheres saudáveis Alterações atróficasA síndrome geniturinária da menopausa (SGM), também conhecida por atrofia vulvovaginal (AVV), compreende alterações histológicas e físicas da vulva, vagina e trato urinário baixo devidas à deficiência estrogênica A vulva perde tecido adiposo dos grandes lábios e a pele está mais fina e plana, com rarefação dos pelos. Os pequenos lábios perdem tecido e pigmentação; quando intensa, a atrofia pode resultar em coalescência labial. A vagina passa a ser mais curta e estreita, diminuindo suas rugosidades, principalmente na ausência de atividade sexual. O epitélio vaginal torna-se fino, e a lubrificação resultante de estímulo sexual está prejudicada em decorrência da diminuição da secreção glandular. Também se apresenta bastante friável, com sangramento ao toque e vulnerável a traumas. O pH vaginal está alcalino, reduzindo o número de lactobacilos na flora, propiciando infecções e vaginite atrófica. A uretra é hiperemiada e proeminente Alterações ósseas e articulares A osteoporose é uma doença sistêmica caracterizada pela diminuição da densidade óssea e alterações em sua microarquitetura, levando à fragilidade e predispondo a fraturas por baixo impacto. O equilíbrio entre formação e reabsorção óssea está afetado, resultando em perda de massa óssea de forma acelerada. O hipoestrogenismo tem papel importante nesse mecanismo Além das alterações ósseas, as alterações articulares fazem parte das queixas comuns das mulheres de meia-idade. Cerca de 50% a 60% das mulheres nesse período referem dor ou rigidez articular, porém parece que os sintomas são relacionados ao status menopausal Alterações cardiovasculares e metabólicas No período pós-menopáusico, devido ao hipoestrogenismo, o perfil hormonal das mulheres passa a ser androgênico e a prevalência da SM aumenta, o que pode explicar de forma parcial o aumento da incidência de DCV após a menopausa. Devido ao novo perfil hormonal, perde-se a atividade protetora do estrogênio para eventos endoteliais e há o desenvolvimento de componentes da SM. Observa-se aumento da adiposidade central (intra-abdominal), mudança para um perfil lipídico e lipoproteico mais aterogênico, com o aumento da concentração de colesterol total à custa da lipoproteína de baixa densidade (LDL), dos triglicerídeos (TG) e da redução de lipoproteína de alta densidade (HDL), o principal preditor para eventos isquêmicos cardíacos. Também se observa aumento da glicemia e dos níveis de insulina. Tratamento farmacológico hormonal A terapêutica hormonal (TH) da menopausa envolve uma gama de hormônios, diferentes vias de administração e doses e esquemas diversos Dentre os principais benefícios para o uso da TH, podemos destacar o tratamento dos sintomas vasomotores e da atrofia vulvovaginal e a prevenção da osteoporose e fraturas osteoporóticas, que são indicações consagradas Terapia hormonal da menopausa (THM) é o termo amplo usado para descrever tanto o uso de estrogênio sem oposição para mulheres que se submeteram à histerectomia quanto a terapia combinada de estrogênio-progestina para mulheres com útero intacto que precisam de progestina para prevenir a hiperplasia endometrial associada ao estrogênio . Mulheres em tratamento para sintomas da menopausa, como ondas de calor, requerem estrogênio sistêmico; as mulheres tratadas apenas para a síndrome geniturinária da menopausa (GSM) devem ser tratadas com estrogênio vaginal de baixa dose em vez de estrogênio sistêmico. Via — O estrogênio está disponível em várias formas: oral, transdérmico, géis e loções tópicas e anéis vaginais. Em alguns países, o estrogênio também pode ser administrado como implante subcutâneo. A potência e, portanto, as doses dessas preparações de estrogênio diferem, mas diferem pouco em sua capacidade de aliviar as ondas de calor. Na maioria das vezes, iniciamos as mulheres com uma preparação transdérmica ou oral. Preferimos o 17-beta estradiol a outros estrogênios, como estrogênios equinos conjugados (CEE), porque é estruturalmente idêntico (bioidêntico) ao principal estrogênio secretado pelo ovário. Dose — Doses "padrão" de estrogênio administradas diariamente, como 17-beta estradiol (oral 1 mg/dia ou transdérmico 0,05 mg/dia) são adequadas para o alívio dos sintomas na maioria das mulheres Progestágenos — Todas as mulheres com útero intacto precisam adicionar um progestágeno ao estrogênio para prevenir a hiperplasia endometrial, que pode ocorrer após apenas seis meses de estrogênio sem oposição. As mulheres que se submeteram à histerectomia não devem receber progestágenos, pois não há outros benefícios para a saúde além da prevenção da hiperplasia endometrial e do carcinoma. Dosagem — Nossa primeira escolha de progestágeno é a progesterona micronizada natural oral (200 mg/dia por 12 dias/mês [ou seja, um regime cíclico projetado para imitar a fase lútea normal de mulheres na pré-menopausa] ou 100 mg diários [regime contínuo]) https://www.uptodate.com/contents/estradiol-drug-information?search=menopausa%20tratamento&topicRef=7450&source=see_link https://www.uptodate.com/contents/conjugated-equine-estrogens-drug-information?search=menopausa%20tratamento&topicRef=7450&source=see_link https://www.uptodate.com/contents/conjugated-equine-estrogens-drug-information?search=menopausa%20tratamento&topicRef=7450&source=see_link https://www.uptodate.com/contents/estradiol-drug-information?search=menopausa%20tratamento&topicRef=7450&source=see_link https://www.uptodate.com/contents/progesterone-drug-information?search=menopausa%20tratamento&topicRef=7450&source=see_link Tratamento não farmacológico Terapias comportamentais Usar técnicas de resfriamento corporal (uso de roupas leves e de algodão e controle da temperatura ambiental para diminuir a transpiração) e evitar determinados estímulos (bebidas alcoólicas, cafeína, comidas picantes) não são condutas que apresentam eficácia para SVMs, que tenham embasamento científico. A atividade física apresenta muitos benefícios para a saúde, por isso recomenda-se fortemente que as mulheres climatéricas pratiquem exercícios Técnicas psicocorporais (TPCs) As TPCs envolvem controle da mente, respiração compassada e estratégias cognitivas e comportamentais para controle dos SVMs. Acupuntura Alimentos e fitomedicamentos
Compartilhar