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Disciplina: Introdução à Lógica Aula 10: Falácias de relevância e ambiguidade Apresentação Nesta aula, estudaremos as particularidades e características dos tipos de falácias que compõem o grupo das falácias de relevância e o grupo das falácias de ambiguidade. Essas falácias são recorrentes em debates, discursos, textos teóricos, enfim, sempre que a argumentação se faz necessária. Vamos aprender a identificá-las para perceber quando nossos interlocutores estão fazendo uso delas e para que possamos evitá-las. Já que essas falácias são muito bem disfarçadas, precisamos nos munir de instrumental teórico que permita analisá- las cuidadosamente e encontrar o erro cometido. Objetivos Descrever os tipos mais comuns de falácias de ambiguidade e relevância; Identificar e diferenciar argumentos falaciosos que cometem cada um dos tipos de falácias apresentados. Falácias de relevância As falácias de relevância se caracterizam por serem argumentos cujas premissas são logicamente irrelevantes para suas conclusões. Significa que as premissas mantêm uma ligação fraca com a conclusão, sendo incapazes de estabelecer a verdade da conclusão do argumento. A irrelevância nesse caso não é psicológica, mas lógica, embora, claro, haja algum grau psicológico, elemento que fortalece o efeito persuasivo ou aparentemente coercitivo da argumentação. Precisamos estar sempre atentos para identificar uma falácia de relevância. Pois, é fácil confundir a relevância lógica e a psicológica. Isso ocorre pelo fato de, em alguns casos, a linguagem poder ser articulada de modo a estimular as emoções. Assim, pode-se usar esse recurso para despertar sentimentos no interlocutor, como: Medo Raiva Ódio Amor As falácias de relevância são muitas, bem mais que as de ambiguidade. Aqui estudaremos as 11 consideradas mais comuns. As falácias de relevância receberam nomes em latim, sendo que alguns desses nomes são conhecidos, como, por exemplo, a expressão ad hominem, que faz parte do vocabulário jurídico. Precisamos frisar que essas falácias são bastante comuns e são utilizadas cotidianamente. Toda discussão, todo debate, seja qual for a circunstância, é terreno fértil para o aparecimento dessas falácias. O que vamos tentar mostrar é o que leva raciocínios e argumentos logicamente incorretos a serem persuasivos. Muito disso se deve à função expressiva da linguagem, usada para fortalecer persuasivamente as premissas do argumento. Essa ação estimula atitudes e emoções que tendem a provocar a aceitação das conclusões. Desse modo, o interlocutor aceita as conclusões pela força da persuasão, deixando de lado a verificação das razões fornecidas pelas premissas para que a conclusão seja aceita. 1. Argumentum ad Baculum (recurso à força) Essa falácia se dá quando o orador recorre à força ou ameaça de força para que seu interlocutor ou interlocutores aceitem uma conclusão. Geralmente, é usada quando as provas racionais oferecidas pelas premissas para se aceitar a conclusão fracassam. O ad baculum pode ser resumido da seguinte maneira: “O poder gera o direito”. Esse tipo de falácia é muito cometido pelos pais que não conseguem persuadir os filhos com argumentos e recorrem à ameaça. Políticos e governantes que usam métodos coercitivos para convencer as pessoas ou levar a população a aceitar uma medida impopular também são comuns. Claro, o uso de métodos irracionais de intimidação pode ser feito de forma sutil, sem que se faça uma ameaça direta, abertamente. Por exemplo, um governante qualquer pode usar a violência como desculpa para justificar a ocupação de comunidades carentes com tropas do exército. Assim, usa-se a força militar para coagir moradores tendo aprovação da opinião pública que faz parecer legítimo algo falacioso. 2. Argumentum ad Hominem (ofensivo) Podemos fazer uma tradução literal do termo em latim usado para nomear essa falácia como “argumento contra o homem”. Essa falácia permite duas interpretações. A primeira delas é a de caráter ofensivo. Ela é cometida quando você abre mão de buscar a refutação da verdade do argumento contrário ao seu e prefere atacar diretamente a pessoa que defende esse argumento contrário. Veja um exemplo: Dois amigos debatem sobre a descriminalização das drogas. Márcio defende que as drogas não devem ser descriminalizadas, mas, ao invés de apresentar razões para que a sua tese seja aceita, ele diz que os argumentos do seu antagonista não devem ser considerados pelo fato de que seu antagonista faz uso de drogas. O argumento apresentado por Márcio é falacioso, pois o caráter de uma pessoa é logicamente irrelevante para determinar a verdade ou falsidade daquilo que a pessoa diz. Argumentar que uma tese defendida por um comunista, neoliberal, católico ou ateu é argumentar falaciosamente, buscando sustentar a argumentação numa falácia ad hominem. 3. Argumentum ad Hominem (circunstancial) Vamos à outra interpretação da falácia ad hominem. Neste caso, circunstância se refere à ligação entre as crenças de uma pessoa e às circunstâncias que a envolvem. Digamos que haja uma disputa entre duas pessoas e uma delas ignora completamente a verdade ou falsidade das afirmações feitas pela sua própria argumentação. Nessas condições, tenta provar que seu antagonista deve aceitar as razões oferecidas por ele como prova de seu ponto de vista devido às circunstâncias especiais em que a temática se encontra. Nesse caso, não se buscou demonstrar a verdade. Apenas foi feita pressão para que esse indivíduo em particular (o pastor) a aceite, devido às circunstâncias peculiares em que ele se encontra, que aqui é a sua condição religiosa. 4. Argumentum ad Ignorantiam (argumento pela ignorância) Essa falácia é usada para defender teses que não podem ser refutadas por uma prova que a desqualifique. A falácia de argumentum ad ignorantiam é cometida toda vez que uma proposição tem por base o argumento de que uma vez não demonstrada a falsidade desta proposição, então ela é verdadeira. Contudo, a ignorância para se provar ou refutar uma proposição não é razão suficiente para se estabelecer sua veracidade. Essa falácia é constantemente cometida quando está em discussão fenômenos psíquicos, astrologia, telepatia, fenômenos sobrenaturais etc., pois não há provas claras nem pró nem contra elas. Curiosamente, há um número grande de pessoas a cair nessa falácia. Muitos cientistas defendem a falsidade das pretensões espirituais, por exemplo, baseados simplesmente no fato de que a verdade sobre elas ainda não foi estabelecida. Atividade 1. Marque a alternativa que comete a falácia de apelo à ignorância ou argumentum ad verecundiam: a) As esposas de homens bem-sucedidos na vida vestem roupas caras, de modo que a melhor maneira de uma mulher ajudar seu marido a triunfar é comprar um guarda-roupa caro. b) Os acidentes de trânsito estão aumentando, os choques entre Fords Modelo T são acidentes de trânsito. Logo, os choques entre Fords Modelo T estão aumentando. c) Mas, podereis duvidar de que o ar tem peso, quando tendes o claro testemunho de Aristóteles, ao afirmar que todos os elementos tem peso, incluindo o ar e excetuando apenas o fogo?( GALILEU GALILEI, Diálogos Sobre Duas Novas Ciências) d) Todos os fenômenos do universo estão saturados de valores morais. E, portanto, podemos chegar à conclusão de que o universo, para os chineses, é um universo moral. e) Nossos testes mostram que a droga, em questão, não possui qualquer valor medicinal; positivamente, nenhum, para os males que pretende, em hipótese, curar. Concluímos, portanto, que não pode ser vendida com êxito e será um fracasso comercial. 5. Argumentum ad Misericordiam (apelo à piedade) Essa falácia é cometida quando se apela à piedade ou à compaixão a fim de fazer com que uma dada conclusão seja aceita. Argumentos contendo esse tipo de falácia são constantemente usados em tribunais no momento em que o advogado de defesa deixa de lado os fatos referentes ao caso e busca obter a absolvição do réu levando os membros dojúri a se apiedar de seu cliente. Em sua Introdução à Lógica, Irwing Copi cita um trecho da Apologia de Sócrates, de Platão, como sendo talvez o mais antigo recurso da falácia de apelo à piedade. Veja o trecho (COPI, 1978. p. 79): Talvez haja alguém entre vós que esteja ressentido comigo, ao recordar que ele próprio, numa ocasião semelhante e até menos séria, rogou e suplicou aos juízes, com muitas lágrimas, e levou seus filhos ao tribunal para despertar a compaixão, junto com uma multidão de parentes e amigos; ao passo que eu, em contrapartida, ainda que minha vida corra perigo, nada farei dessas coisas. O contraste pode ocorrer em seu espírito, predispô-lo contra mim e levá-lo a depositar seu voto com ira, porque está descontente comigo por causa disso. Ora, se há alguma pessoa assim entre vós — note-se que não afirmo que haja — a pessoa, se a houver, poderia responder, razoavelmente, desta maneira: caro amigo, sou um homem e, como os demais homens, uma criatura de carne e sangue, e não “de madeira ou pedra”, como disse Homero; e tenho também família, sim, e filhos, ó atenienses, três em número, um quase um homem e dois ainda pequenos; entretanto, não trarei nenhum deles ante vós para que vos supliquem pela minha absolvição. Perceba como Sócrates utiliza a falácia de apelo à misericórdia. Ele a coloca sutilmente na argumentação. Diz que não tentará arrancar a absolvição de seus juízes apelando para a compaixão, tal qual o indivíduo que levou filhos, parentes e amigos ao tribunal para despertar a piedade no coração de seus juízes. Contudo, do meio para o final do argumento, Sócrates lança a informação de que tem filhos, dois pequenos etc. Através desse artifício retórico, Sócrates consegue disfarçar a presença da falácia de apelo à piedade. 6. Argumentum ad Populum Essa falácia é cometida quando se faz apelo emocional direcionado “ao povo” ou “à galeria”, intencionando conquistar seu apoio a uma conclusão que não possui boas razões para que ela seja sustentada. Porém, há uma particularidade que devemos ressaltar: A definição da falácia do argumentum ad populum é tão ampla que abarca as falácias ad hominem (ofensiva), ad misericordiam e ainda algumas outras falácias de relevância. 6. Argumentum ad Populum Essa falácia é cometida quando se faz apelo emocional direcionado “ao povo” ou “à galeria”, intencionando conquistar seu apoio a uma conclusão que não possui boas razões para que ela seja sustentada. Porém, há uma particularidade que devemos ressaltar: A definição da falácia do argumentum ad populum é tão ampla que abarca as falácias ad hominem (ofensiva), ad misericordiam e algumas outras falácias de relevância. Existe uma possibilidade de condensar a definição do argumentum ad populum. Podemos considerar que ela ocorre quando se tenta obter a concordância do público estimulando paixões e exaltando a multidão. Geralmente, esse é um artifício muito usado por publicitários, marqueteiros e demagogos. Uma vez que necessitem mobilizar um grande número de pessoas a ser favorável a uma determinada medida, ou ser contrária a ela, o marqueteiro lança mão dos métodos mais eficazes do argumentum ad populum. Exemplo Digamos que o governo federal deseja propor uma medida que produza mudanças significativas na legislação trabalhista do país e que essas mudanças beneficiem os empregadores e deixe os trabalhadores reféns das alternâncias do mercado, no que diz respeito à manutenção de seu posto de trabalho. Sabemos que existe um número muito maior de trabalhadores do que de empregadores. Dessa forma, será necessário que a equipe de marketing contratada pelo governo pense uma peça publicitária que convença a maior parte dos trabalhadores de que as mudanças na lei trabalhista são necessárias, e que, mesmo que não pareça, trará benefícios aos trabalhadores. Essa equipe usará imagens e argumentos que levem as pessoas a associar as mudanças sugeridas com melhoria da condição de vida da população. 7. Argumentum ad Verecundiam (apelo à autoridade) Essa falácia apela à autoridade de um indivíduo, geralmente especialista no assunto levantado pelo argumento. Alguém famoso, uma celebridade ou que ocupe um cargo de poder. O argumentum ad verecundiam busca estruturar a argumentação de modo a despertar o sentimento de respeito à autoridade ou poder que famosos possuem. Assim, pessoas pressionam seus interlocutores a aceitar sua posição, já que ela é a mesma defendida pelo especialista x, que é uma autoridade naquele assunto. O interlocutor é obrigado a aceitar sem levar em consideração as razões oferecidas para que a tese defendida seja aceita. Contudo, esse argumento não é completamente falaz, já que é citação de uma autoridade reconhecida em seu campo de atuação. O que, a depender do contexto da argumentação, pode ser uma prova de fato para o que se defende. Vemos em séries ou filmes que tratam de julgamentos, os advogados solicitarem a presença de um especialista em determinada área para corroborar um acontecimento capital para o julgamento. Esse é um exemplo em que a argumentação que usa a autoridade de alguém não é falaciosa. 8. Acidente A falácia de acidente aplica uma regra geral em uma situação particular, em que as circunstâncias “acidentais” fazem com que não seja possível aplicar a regra. “Uma taça de vinho por dia é benéfico à saúde” é uma generalização não qualificada. Por exemplo, para um dependente de álcool, beber vinho não é benéfico. Irwing Copi ainda em sua Introdução à Lógica cita também um trecho da República de Platão, em que o filósofo grego usa uma exceção à regra geral que diz que uma pessoa deve sempre cumprir suas promessas. Eis o trecho (COPI, 1978. p. 83): Suponhamos que um amigo, quando em seu perfeito juízo, confiou-me, em depósito, suas armas e me pediu que lhas devolvesse, quando seu espírito o estivesse conturbado. Deveria devolver-lhas? Ninguém diria que sim ou que eu faria a coisa certa, se assim procedesse... Devemos entender que aquilo que é verdadeiro “em geral” pode não ser necessariamente verdadeiro, ou seja, irrestritamente verdadeiro. Isso porque, como no exemplo apontado por Copi (1978), as circunstâncias geram um contexto que alteram os casos. 9. Falsa causa Essa falácia, como o próprio nome indica, ocorre quando se toma como causa de um efeito aquilo que de fato não o é. Outra característica desse tipo de falácia se refere à designação de um acontecimento como causa de outro porque o primeiro é anterior ao segundo. São assim todos os argumentos que procuram equivocadamente estabelecer uma conexão causal. De uma experiência vivida, a personagem passou a crer que toda vez que tiver dor de cabeça, basta tomar muita água e ela sumirá. A questão é que pode ser apenas uma coincidência dela ter tomado o chá e a dor de cabeça ter passado. Será preciso testes, experimentos que atestem essa hipótese, para verificar se o chá possui propriedades que combatem a dor de cabeça e daí a pessoa poder afirmar com certeza que o chá combate de fato esse problema. 10. Petitio Principii (petição de princípio) A petição de princípio é uma falácia retórica que demonstra a veracidade da conclusão de um argumento partindo da ideia de que a veracidade da conclusão já está dada em uma das premissas desse argumento. Essa falácia pretende fazer com que a conclusão esteja dada já em uma das premissas. Quando a conclusão é adotada como premissa de seu argumento, a pessoa está cometendo uma petição de princípio. Devemos estar atentos e ter em mente que as premissas são logicamente determinantes para estabelecer a verdade de uma conclusão, pois sempre que as premissas são verdadeiras a conclusão necessariamente será verdadeira. 11. Pergunta complexa Comumente, quando ficamos muito tempo sem ver um amigo ou conhecido, ao reencontrá-lo, temos que lidar com perguntas um tanto quanto constrangedoras. Digamos que certa pessoa é alcoólatra e sempre que se depara com um amigo após muito tempo sem vê-lo tem que enfrentar a perguntaapós os cumprimentos de praxe: Pode não parecer, mas esta é uma pergunta difícil de responder. Além de ser constrangedora, invasiva, ela desconsidera as dificuldades impostas pelo alcoolismo, que é uma doença, que torna extremamente difícil para o alcoólatra largar a bebida. Esse tipo de pergunta não permite que a resposta ofereça um simples “não” ou “sim”. Isso porque é uma pergunta que possui várias outras agrupadas em uma só. Atividade 2. Identifique as falácias de relevância nos seguintes trechos: a) Você não pode levar a sério o que o Professor Threadbare diz sobre a importância de salários mais elevados para os professores. Como professor, ele é naturalmente favorável a um aumento dos salários dos professores. b) Nossa equipe é a mais destacada do torneio, porque tem os melhores jogadores e o melhor treinador. Sabemos que possui os melhores jogadores e o melhor treinador, por conseguinte, é óbvio, vai ganhar o título. E ganhará o título, pois merece conquistá-lo. É claro, merece ganhar o título, porque é, de há muito, a melhor equipe do torneio. Falácias de ambiguidade As falácias de ambiguidade também são chamadas de falácias de clareza. Elas são recorrentes em argumentos que são elaborados de modo a gerar confusão interpretativa. A seguir, analisaremos os tipos de falácias de ambiguidade classificados e vamos entender a especificidade da ambiguidade de cada uma delas. Equívoco A maioria das palavras possui mais de um significado. A palavra “pena”, por exemplo, pode se referir tanto à plumagem das aves, quanto à punição dada a alguém ou quanto ao sentimento de tristeza pela situação difícil enfrentada por uma pessoa. A falácia de equívoco ocorre quando se formula o argumento e a palavra é usada em um contexto que exige o seu uso com o significado x, mas apresenta o significado y. Isso gera equívoco, levando-nos ao erro. Veja este exemplo (COPI, 1978. p. 91): O fim de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo, a morte é a perfeição da vida. Perceba a confusão gerada pelo uso da palavra “fim” com dois significados diferentes no mesmo argumento. Sua natureza falaz se apresenta devido a esse uso duplo do significado da palavra “fim”. Claro que ambos os significados são legítimos, o ponto não é esse. A ilegitimidade está na confusão gerada pelo uso de dois significados distintos da mesma palavra em um mesmo raciocínio. Anfibologia Essa falácia ocorre em formulações cuja ambiguidade das premissas é gerada devido à construção gramatical empregada. Desse modo, podemos dizer que uma proposição é anfibológica, quando sua clareza é comprometida devido à combinação confusa e imprecisa das palavras utilizadas na construção das proposições que o compõem. Detalhe: pode ocorrer uma situação na qual uma proposição anfibológica seja verdadeira, porém, que seja falsa em outra. Isso dependerá se a formulação da proposição como premissa no argumento o torna verdadeiro e a conclusão que dele se deriva ao ser analisado o torna falso. Nesse caso, estaremos diante de uma falácia de anfibologia. Conheça um exemplo histórico de ocorrência da anfibologia <galeria/aula10/docs/a10_doc1.pdf> mencionado do por Irwing Copi em sua Introdução à Lógica. Ênfase file:///W:/2018.2/introducao_a_logica__GON954/galeria/aula10/docs/a10_doc1.pdf Essa falácia é cometida quando sua natureza enganadora está atrelada à uma mudança ou alteração no significado. E essa mudança nos significados dependerá de quais partes recebem alguma acentuação, ou seja, sejam enfatizadas. Evidentemente, algumas proposições recebem significados bastante diferentes a depender das palavras que enfatizem. Exemplo: “Não devemos acusar nossos amigos.” Ao lermos essa sentença sem qualquer ênfase inadequada, a proibição exigida pela sentença é totalmente válida. Porém, caso a conclusão dela extraída seja a de que não devemos acusar apenas nossos amigos, estando livres, a partir dessa exceção, para acusar quem quisermos, então estamos diante de uma falácia de ênfase. Sua ocorrência se dá no âmbito do discurso falado, quando o orador pode enfatizar esta ou aquela palavra e essa ação será o que determinará a inferência que os ouvintes farão. A conclusão, dada como exemplo, é derivada caso o orador, ao discursar, enfatize a palavra “devemos” e as palavras “nossos amigos”. Composição Essa falácia ocorre em dois tipos de argumento inválidos que possuem relação próxima. O primeiro ocorre quando o raciocínio é construído e das partes de um somos levados ao todo propriamente. O seguinte exemplo ajudará a entender: Alguém argumenta que, se cada parte de uma máquina é leve, então a máquina, como um todo, também possui um peso leve. Outro tipo de falácia de composição é aquele que nos leva a partir das propriedades que membros de um grupo, tomados individualmente, possuem. Isso nos leva a concluir que o grupo, como um todo, também as possui. Digamos que alguém queira argumentar que os comunistas são genocidas. Para isso, recorra ao fato de que Joseph Stalin foi responsável pela morte de milhões quando governou a extinta União Soviética. Nesse caso, o criador do argumento cometeu uma falácia de composição. Pois, do exemplo das particularidades de um indivíduo, atribuiu as mesmas a todo o grupo do qual esse indivíduo faz parte. Divisão Essa é uma falácia que comete o equívoco contrário ao da falácia de composição. A confusão apresentada é a mesma, porém a inferência é feita na direção oposta. Ou seja, das características e particularidades do todo, somos levados a inferir que suas partes compartilham das mesmas características e particularidades. Tal qual a falácia de composição, a de divisão apresenta duas variedades: A primeira consiste em afirmar que aquilo que é verdadeiro para o todo também o é para suas partes. Comete-se a falácia de divisão, por exemplo, ao argumentar-se que o Barcelona é o melhor time de futebol do mundo e a partir dessa informação afirma-se que jogador x, digamos Suarez, é jogador do Barcelona e, portanto, o melhor jogador do mundo. A segunda espécie de falácia de divisão é cometida ao se argumentar que, a partir das propriedades de um grupo, os indivíduos que dele fazem parte compartilham das mesmas propriedades. Digamos que alguém intencione argumentar que os jogadores de futebol jogam na posição de goleiro, zagueiro, volante, meio de campo, atacante e centro avante, e que por isso cada jogador de futebol joga de goleiro, zagueiro, volante, meio de campo, atacante e centro avante. Nesse caso o argumentador está cometendo a falácia de divisão. Atividade 3. Marque o argumento que apresenta uma falácia de ambiguidade: a) Estou certo de que o embaixador deles será razoável sobre a questão. Afinal de contas, o homem é um animal racional. b) As esposas de homens bem-sucedidos na vida vestem roupas caras, de modo que a melhor maneira de uma mulher ajudar seu marido a triunfar é comprar um guarda-roupa caro. c) Nossos testes mostram que a droga, em questão, não possui qualquer valor medicinal; positivamente, nenhum, para os males que pretende, em hipótese, curar. Concluímos, portanto, que não pode ser vendida com êxito e será um fracasso comercial. d) Durante a guerra, as redes de espionagem inimiga foram descobertas mediante a escuta e a gravação dos telefonemas dos suspeitos, portanto, as autoridades deveriam adotar a escuta dos telefones de todos os suspeitos. e) As ameaças russas não tem sido notícias. Portanto, as ameaças russas são boas notícias, pois o que não é notícia é boa notícia. 4. Marque o argumento que apresenta uma falácia de relevância: a) Os acidentes de trânsito estão aumentando, os choques entre Fords Modelo T são acidentes de trânsito. Logo, os choques entre Fords Modelo T estão aumentando. b) (...) a felicidade de cada pessoa é um bem para essa pessoa e a felicidade geral um bem para o conjunto de todas as pessoas. (JHON STUART MILL, Utilitarismo) c) “Fazendo água” perigosamente, conduzido por uma tripulação de esqueletos, uma enfermidadeapós outra se apodera do pequeno barco. (The Herald Tribune Books Section) d) Todos os fenômenos do universo estão saturados de valores morais. E, portanto, podemos chegar à conclusão de que o universo, para os chineses, é um universo moral. e) Mas, podereis duvidar de que o ar tem peso, quando tendes o claro testemunho de Aristóteles, ao afirmar que todos os elementos tem peso, incluindo o ar e excetuando apenas o fogo? (GALILEU GALILEI, Diálogos Sobre Duas Novas Ciências) Referências ALVES, Alaôr Café. Lógica: pensamento formal e argumentação. São Paulo: Quartier Latin, 2005. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. COPI, Irving M. Introdução à Lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978. HAACK, Susan. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002. HEGENBERG, Leônidas. Dicionário de Lógica. São Paulo: EPU, 1995. KELLER, Vicente. Aprendendo Lógica. Petrópolis: Vozes, 2008. MORTARI, Cezar A. Introdução à Lógica. São Paulo: UNESP, 2001. Explore mais Assista ao vídeo “Raciocínio Lógico - Falácias de Relevância Informais <https://www.youtube.com/watch?v=ImpGBgaV4jw> ” sobre as falácias de ambiguidade e relevância. https://www.youtube.com/watch?v=ImpGBgaV4jw
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