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Falácias de Relevância e Ambiguidade

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Disciplina: Introdução à Lógica
Aula 10: Falácias de relevância e ambiguidade
Apresentação
Nesta aula, estudaremos as particularidades e características dos tipos de falácias
que compõem o grupo das falácias de relevância e o grupo das falácias de
ambiguidade. Essas falácias são recorrentes em debates, discursos, textos teóricos,
enfim, sempre que a argumentação se faz necessária.
Vamos aprender a identificá-las para perceber quando nossos interlocutores estão
fazendo uso delas e para que possamos evitá-las. Já que essas falácias são muito
bem disfarçadas, precisamos nos munir de instrumental teórico que permita analisá-
las cuidadosamente e encontrar o erro cometido.
Objetivos
Descrever os tipos mais comuns de falácias de ambiguidade e relevância;
Identificar e diferenciar argumentos falaciosos que cometem cada um dos tipos
de falácias apresentados.
Falácias de relevância
As falácias de relevância se caracterizam por serem argumentos cujas
premissas são logicamente irrelevantes para suas conclusões. Significa que as
premissas mantêm uma ligação fraca com a conclusão, sendo incapazes de
estabelecer a verdade da conclusão do argumento.
A irrelevância nesse caso não é psicológica, mas
lógica, embora, claro, haja algum grau
psicológico, elemento que fortalece o efeito
persuasivo ou aparentemente coercitivo da
argumentação.
Precisamos estar sempre atentos para identificar uma falácia de relevância.
Pois, é fácil confundir a relevância lógica e a psicológica. Isso ocorre pelo fato
de, em alguns casos, a linguagem poder ser articulada de modo a estimular
as emoções.
Assim, pode-se usar esse recurso para despertar sentimentos no interlocutor,
como:
Medo
Raiva
Ódio
Amor
As falácias de relevância são muitas, bem mais que as de ambiguidade. Aqui
estudaremos as 11 consideradas mais comuns.
As falácias de relevância receberam nomes em latim, sendo que alguns
desses nomes são conhecidos, como, por exemplo, a expressão ad hominem,
que faz parte do vocabulário jurídico.
Precisamos frisar que essas falácias são bastante comuns e são utilizadas
cotidianamente. Toda discussão, todo debate, seja qual for a circunstância, é
terreno fértil para o aparecimento dessas falácias.
O que vamos tentar mostrar é o que leva raciocínios e argumentos
logicamente incorretos a serem persuasivos. Muito disso se deve à função
expressiva da linguagem, usada para fortalecer persuasivamente as premissas
do argumento.
Essa ação estimula atitudes e emoções que tendem a provocar a aceitação
das conclusões. Desse modo, o interlocutor aceita as conclusões pela força da
persuasão, deixando de lado a verificação das razões fornecidas pelas
premissas para que a conclusão seja aceita.
1. Argumentum ad Baculum
(recurso à força)
Essa falácia se dá quando o orador recorre à força ou ameaça de força para
que seu interlocutor ou interlocutores aceitem uma conclusão.
Geralmente, é usada quando as provas racionais oferecidas pelas premissas
para se aceitar a conclusão fracassam.
O ad baculum pode ser resumido da seguinte
maneira: “O poder gera o direito”.
Esse tipo de falácia é muito cometido pelos pais que não conseguem persuadir
os filhos com argumentos e recorrem à ameaça. Políticos e governantes que
usam métodos coercitivos para convencer as pessoas ou levar a população a
aceitar uma medida impopular também são comuns.
Claro, o uso de métodos irracionais de intimidação pode ser feito de forma
sutil, sem que se faça uma ameaça direta, abertamente.
Por exemplo, um governante qualquer pode usar a violência como desculpa
para justificar a ocupação de comunidades carentes com tropas do exército.
Assim, usa-se a força militar para coagir moradores tendo aprovação da
opinião pública que faz parecer legítimo algo falacioso.
2. Argumentum ad Hominem
(ofensivo)
Podemos fazer uma tradução literal do termo em latim usado para nomear
essa falácia como “argumento contra o homem”.
Essa falácia permite duas interpretações. A primeira delas é a de caráter
ofensivo. Ela é cometida quando você abre mão de buscar a refutação da
verdade do argumento contrário ao seu e prefere atacar diretamente a pessoa
que defende esse argumento contrário.
Veja um exemplo:
Dois amigos debatem sobre a descriminalização das drogas.
 
Márcio defende que as drogas não devem ser descriminalizadas, mas, ao
invés de apresentar razões para que a sua tese seja aceita, ele diz que os
argumentos do seu antagonista não devem ser considerados pelo fato de que
seu antagonista faz uso de drogas.
 
O argumento apresentado por Márcio é falacioso,
pois o caráter de uma pessoa é logicamente
irrelevante para determinar a verdade ou falsidade
daquilo que a pessoa diz.
Argumentar que uma tese defendida por um comunista, neoliberal, católico ou
ateu é argumentar falaciosamente, buscando sustentar a argumentação numa
falácia ad hominem.
3. Argumentum ad Hominem
(circunstancial)
Vamos à outra interpretação da falácia ad hominem. Neste caso, circunstância
se refere à ligação entre as crenças de uma pessoa e às circunstâncias que a
envolvem.
Digamos que haja uma disputa entre duas pessoas e uma delas ignora
completamente a verdade ou falsidade das afirmações feitas pela sua própria
argumentação.
Nessas condições, tenta provar que seu antagonista deve aceitar as razões
oferecidas por ele como prova de seu ponto de vista devido às circunstâncias
especiais em que a temática se encontra.
Nesse caso, não se buscou demonstrar a verdade.
Apenas foi feita pressão para que esse indivíduo em
particular (o pastor) a aceite, devido às
circunstâncias peculiares em que ele se encontra,
que aqui é a sua condição religiosa.
4. Argumentum ad Ignorantiam
(argumento pela ignorância)
Essa falácia é usada para defender teses que não podem ser refutadas por
uma prova que a desqualifique.
A falácia de argumentum ad ignorantiam é
cometida toda vez que uma proposição tem por
base o argumento de que uma vez não
demonstrada a falsidade desta proposição, então
ela é verdadeira.
Contudo, a ignorância para se provar ou refutar uma proposição não é razão
suficiente para se estabelecer sua veracidade.
Essa falácia é constantemente cometida quando está em discussão fenômenos
psíquicos, astrologia, telepatia, fenômenos sobrenaturais etc., pois não há
provas claras nem pró nem contra elas.
Curiosamente, há um número grande de pessoas a cair nessa falácia. Muitos
cientistas defendem a falsidade das pretensões espirituais, por exemplo,
baseados simplesmente no fato de que a verdade sobre elas ainda não foi
estabelecida.
Atividade
1. Marque a alternativa que comete a falácia de apelo à ignorância ou
argumentum ad verecundiam:
 a) As esposas de homens bem-sucedidos na vida vestem roupas caras,
de modo que a melhor maneira de uma mulher ajudar seu marido a
triunfar é comprar um guarda-roupa caro.
 b) Os acidentes de trânsito estão aumentando, os choques entre Fords
Modelo T são acidentes de trânsito. Logo, os choques entre Fords Modelo
T estão aumentando.
 c) Mas, podereis duvidar de que o ar tem peso, quando tendes o claro
testemunho de Aristóteles, ao afirmar que todos os elementos tem peso,
incluindo o ar e excetuando apenas o fogo?( GALILEU GALILEI, Diálogos
Sobre Duas Novas Ciências)
 d) Todos os fenômenos do universo estão saturados de valores morais.
E, portanto, podemos chegar à conclusão de que o universo, para os
chineses, é um universo moral.
 e) Nossos testes mostram que a droga, em questão, não possui
qualquer valor medicinal; positivamente, nenhum, para os males que
pretende, em hipótese, curar. Concluímos, portanto, que não pode ser
vendida com êxito e será um fracasso comercial.
5. Argumentum ad Misericordiam
(apelo à piedade)
Essa falácia é cometida quando se apela à piedade ou à compaixão a fim de
fazer com que uma dada conclusão seja aceita.
Argumentos contendo esse tipo de falácia são constantemente usados em
tribunais no momento em que o advogado de defesa deixa de lado os fatos
referentes ao caso e busca obter a absolvição do réu levando os membros dojúri a se apiedar de seu cliente.
Em sua Introdução à Lógica, Irwing Copi cita um trecho da Apologia de
Sócrates, de Platão, como sendo talvez o mais antigo recurso da falácia de
apelo à piedade.
Veja o trecho (COPI, 1978. p. 79):

Talvez haja alguém entre vós que esteja ressentido
comigo, ao recordar que ele próprio, numa ocasião
semelhante e até menos séria, rogou e suplicou aos
juízes, com muitas lágrimas, e levou seus filhos ao
tribunal para despertar a compaixão, junto com uma
multidão de parentes e amigos; ao passo que eu, em
contrapartida, ainda que minha vida corra perigo, nada
farei dessas coisas. O contraste pode ocorrer em seu
espírito, predispô-lo contra mim e levá-lo a depositar
seu voto com ira, porque está descontente comigo por
causa disso. Ora, se há alguma pessoa assim entre vós
— note-se que não afirmo que haja — a pessoa, se a
houver, poderia responder, razoavelmente, desta
maneira: caro amigo, sou um homem e, como os
demais homens, uma criatura de carne e sangue, e não
“de madeira ou pedra”, como disse Homero; e tenho
também família, sim, e filhos, ó atenienses, três em
número, um quase um homem e dois ainda pequenos;
entretanto, não trarei nenhum deles ante vós para que
vos supliquem pela minha absolvição.
Perceba como Sócrates utiliza a falácia de apelo à
misericórdia. Ele a coloca sutilmente na
argumentação.
Diz que não tentará arrancar a absolvição de seus juízes apelando para a
compaixão, tal qual o indivíduo que levou filhos, parentes e amigos ao tribunal
para despertar a piedade no coração de seus juízes. Contudo, do meio para o
final do argumento, Sócrates lança a informação de que tem filhos, dois
pequenos etc. Através desse artifício retórico, Sócrates consegue disfarçar a
presença da falácia de apelo à piedade.
6. Argumentum ad Populum
Essa falácia é cometida quando se faz apelo emocional direcionado “ao povo”
ou “à galeria”, intencionando conquistar seu apoio a uma conclusão que não
possui boas razões para que ela seja sustentada.
Porém, há uma particularidade que devemos ressaltar:
A definição da falácia do argumentum ad
populum é tão ampla que abarca as falácias ad
hominem (ofensiva), ad misericordiam e ainda
algumas outras falácias de relevância.
6. Argumentum ad Populum
Essa falácia é cometida quando se faz apelo emocional direcionado “ao povo”
ou “à galeria”, intencionando conquistar seu apoio a uma conclusão que não
possui boas razões para que ela seja sustentada.
Porém, há uma particularidade que devemos ressaltar:
A definição da falácia do argumentum ad
populum é tão ampla que abarca as falácias ad
hominem (ofensiva), ad misericordiam e
algumas outras falácias de relevância.
Existe uma possibilidade de condensar a definição do argumentum ad
populum. Podemos considerar que ela ocorre quando se tenta obter a
concordância do público estimulando paixões e exaltando a multidão.
Geralmente, esse é um artifício muito usado por publicitários, marqueteiros e
demagogos. Uma vez que necessitem mobilizar um grande número de
pessoas a ser favorável a uma determinada medida, ou ser contrária a ela, o
marqueteiro lança mão dos métodos mais eficazes do argumentum ad
populum.

Exemplo
Digamos que o governo federal deseja propor uma medida que produza
mudanças significativas na legislação trabalhista do país e que essas
mudanças beneficiem os empregadores e deixe os trabalhadores reféns
das alternâncias do mercado, no que diz respeito à manutenção de seu
posto de trabalho.
Sabemos que existe um número muito maior de trabalhadores do que de
empregadores. Dessa forma, será necessário que a equipe de marketing
contratada pelo governo pense uma peça publicitária que convença a
maior parte dos trabalhadores de que as mudanças na lei trabalhista são
necessárias, e que, mesmo que não pareça, trará benefícios aos
trabalhadores.
Essa equipe usará imagens e argumentos que levem as pessoas a
associar as mudanças sugeridas com melhoria da condição de vida da
população.
7. Argumentum ad Verecundiam
(apelo à autoridade)
Essa falácia apela à autoridade de um indivíduo, geralmente especialista no
assunto levantado pelo argumento. Alguém famoso, uma celebridade ou que
ocupe um cargo de poder.
O argumentum ad verecundiam busca estruturar a argumentação de modo a
despertar o sentimento de respeito à autoridade ou poder que famosos
possuem. Assim, pessoas pressionam seus interlocutores a aceitar sua
posição, já que ela é a mesma defendida pelo especialista x, que é uma
autoridade naquele assunto.
O interlocutor é obrigado a aceitar sem levar em
consideração as razões oferecidas para que a tese
defendida seja aceita. Contudo, esse argumento
não é completamente falaz, já que é citação de uma
autoridade reconhecida em seu campo de atuação.
O que, a depender do contexto da argumentação,
pode ser uma prova de fato para o que se defende.
Vemos em séries ou filmes que tratam de julgamentos, os advogados
solicitarem a presença de um especialista em determinada área para
corroborar um acontecimento capital para o julgamento. Esse é um exemplo
em que a argumentação que usa a autoridade de alguém não é falaciosa.
8. Acidente
A falácia de acidente aplica uma regra geral em uma situação particular, em
que as circunstâncias “acidentais” fazem com que não seja possível aplicar a
regra.
“Uma taça de vinho por dia é benéfico à saúde” é
uma generalização não qualificada. Por exemplo,
para um dependente de álcool, beber vinho não é
benéfico.
Irwing Copi ainda em sua Introdução à Lógica cita também um trecho da
República de Platão, em que o filósofo grego usa uma exceção à regra geral
que diz que uma pessoa deve sempre cumprir suas promessas.
Eis o trecho (COPI, 1978. p. 83):

Suponhamos que um amigo, quando em seu perfeito
juízo, confiou-me, em depósito, suas armas e me pediu
que lhas devolvesse, quando seu espírito o estivesse
conturbado. Deveria devolver-lhas? Ninguém diria que
sim ou que eu faria a coisa certa, se assim
procedesse...
Devemos entender que aquilo que é verdadeiro “em geral” pode não ser
necessariamente verdadeiro, ou seja, irrestritamente verdadeiro. Isso porque,
como no exemplo apontado por Copi (1978), as circunstâncias geram um
contexto que alteram os casos.
9. Falsa causa
Essa falácia, como o próprio nome indica, ocorre quando se toma como causa
de um efeito aquilo que de fato não o é.
Outra característica desse tipo de falácia se refere à designação de um
acontecimento como causa de outro porque o primeiro é anterior ao segundo.
São assim todos os argumentos que procuram
equivocadamente estabelecer uma conexão causal. 
De uma experiência vivida, a personagem passou a
crer que toda vez que tiver dor de cabeça, basta
tomar muita água e ela sumirá.
A questão é que pode ser apenas uma coincidência dela ter tomado o chá e a
dor de cabeça ter passado. Será preciso testes, experimentos que atestem
essa hipótese, para verificar se o chá possui propriedades que combatem a
dor de cabeça e daí a pessoa poder afirmar com certeza que o chá combate
de fato esse problema.
10. Petitio Principii (petição de
princípio)
A petição de princípio é uma falácia retórica que demonstra a veracidade da
conclusão de um argumento partindo da ideia de que a veracidade da
conclusão já está dada em uma das premissas desse argumento.
Essa falácia pretende fazer com que a conclusão esteja dada já em uma das
premissas.
Quando a conclusão é adotada como premissa de
seu argumento, a pessoa está cometendo uma
petição de princípio.
Devemos estar atentos e ter em mente que as premissas são logicamente
determinantes para estabelecer a verdade de uma conclusão, pois sempre que
as premissas são verdadeiras a conclusão necessariamente será verdadeira.
11. Pergunta complexa
Comumente, quando ficamos muito tempo sem ver um amigo ou conhecido,
ao reencontrá-lo, temos que lidar com perguntas um tanto quanto
constrangedoras.
Digamos que certa pessoa é alcoólatra e sempre que se depara com um
amigo após muito tempo sem vê-lo tem que enfrentar a perguntaapós os
cumprimentos de praxe:
Pode não parecer, mas esta é uma pergunta difícil de responder. Além de ser
constrangedora, invasiva, ela desconsidera as dificuldades impostas pelo
alcoolismo, que é uma doença, que torna extremamente difícil para o
alcoólatra largar a bebida.
Esse tipo de pergunta não permite que a resposta
ofereça um simples “não” ou “sim”. Isso porque é
uma pergunta que possui várias outras agrupadas
em uma só.
Atividade
2. Identifique as falácias de relevância nos seguintes trechos: 
 
a) Você não pode levar a sério o que o Professor Threadbare diz sobre a
importância de salários mais elevados para os professores. Como
professor, ele é naturalmente favorável a um aumento dos salários dos
professores. 
 
b) Nossa equipe é a mais destacada do torneio, porque tem os melhores
jogadores e o melhor treinador. Sabemos que possui os melhores
jogadores e o melhor treinador, por conseguinte, é óbvio, vai ganhar o
título. E ganhará o título, pois merece conquistá-lo. É claro, merece
ganhar o título, porque é, de há muito, a melhor equipe do torneio.
Falácias de ambiguidade
As falácias de ambiguidade também são chamadas de falácias de clareza. Elas
são recorrentes em argumentos que são elaborados de modo a gerar confusão
interpretativa.
A seguir, analisaremos os tipos de falácias de ambiguidade classificados e
vamos entender a especificidade da ambiguidade de cada uma delas.
Equívoco
A maioria das palavras possui mais de um significado.
A palavra “pena”, por exemplo, pode se referir tanto à plumagem das
aves, quanto à punição dada a alguém ou quanto ao sentimento de
tristeza pela situação difícil enfrentada por uma pessoa.
A falácia de equívoco ocorre quando se formula o argumento e a palavra
é usada em um contexto que exige o seu uso com o significado x, mas
apresenta o significado y. Isso gera equívoco, levando-nos ao erro.
Veja este exemplo (COPI, 1978. p. 91): 
O fim de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo, a
morte é a perfeição da vida.
Perceba a confusão gerada pelo uso da palavra “fim” com dois
significados diferentes no mesmo argumento.
Sua natureza falaz se apresenta devido a esse uso duplo do significado
da palavra “fim”. Claro que ambos os significados são legítimos, o ponto
não é esse. A ilegitimidade está na confusão gerada pelo uso de dois
significados distintos da mesma palavra em um mesmo raciocínio.
Anfibologia
Essa falácia ocorre em formulações cuja ambiguidade das premissas é
gerada devido à construção gramatical empregada. Desse modo,
podemos dizer que uma proposição é anfibológica, quando sua clareza é
comprometida devido à combinação confusa e imprecisa das palavras
utilizadas na construção das proposições que o compõem.
Detalhe: pode ocorrer uma situação na qual uma proposição anfibológica
seja verdadeira, porém, que seja falsa em outra. Isso dependerá se a
formulação da proposição como premissa no argumento o torna
verdadeiro e a conclusão que dele se deriva ao ser analisado o torna
falso. Nesse caso, estaremos diante de uma falácia de anfibologia.
Conheça um exemplo histórico de ocorrência da anfibologia
<galeria/aula10/docs/a10_doc1.pdf> mencionado do por Irwing
Copi em sua Introdução à Lógica.
Ênfase
file:///W:/2018.2/introducao_a_logica__GON954/galeria/aula10/docs/a10_doc1.pdf
Essa falácia é cometida quando sua natureza enganadora está atrelada à
uma mudança ou alteração no significado. E essa mudança nos
significados dependerá de quais partes recebem alguma acentuação, ou
seja, sejam enfatizadas.
Evidentemente, algumas proposições recebem significados bastante
diferentes a depender das palavras que enfatizem.
Exemplo:
“Não devemos acusar nossos amigos.”
Ao lermos essa sentença sem qualquer ênfase inadequada, a proibição
exigida pela sentença é totalmente válida. Porém, caso a conclusão dela
extraída seja a de que não devemos acusar apenas nossos amigos,
estando livres, a partir dessa exceção, para acusar quem quisermos,
então estamos diante de uma falácia de ênfase.
Sua ocorrência se dá no âmbito do discurso falado, quando o orador pode
enfatizar esta ou aquela palavra e essa ação será o que determinará a
inferência que os ouvintes farão.
A conclusão, dada como exemplo, é derivada caso o orador, ao discursar,
enfatize a palavra “devemos” e as palavras “nossos amigos”.
Composição
Essa falácia ocorre em dois tipos de argumento inválidos que possuem
relação próxima.
O primeiro ocorre quando o raciocínio é construído e das partes de um
somos levados ao todo propriamente.
O seguinte exemplo ajudará a entender:
Alguém argumenta que, se cada parte de uma máquina é leve, então a
máquina, como um todo, também possui um peso leve.
Outro tipo de falácia de composição é aquele que nos leva a partir das
propriedades que membros de um grupo, tomados individualmente,
possuem. Isso nos leva a concluir que o grupo, como um todo, também
as possui.
Digamos que alguém queira argumentar que os comunistas são
genocidas. Para isso, recorra ao fato de que Joseph Stalin foi responsável
pela morte de milhões quando governou a extinta União Soviética.
Nesse caso, o criador do argumento cometeu uma falácia de composição.
Pois, do exemplo das particularidades de um indivíduo, atribuiu as
mesmas a todo o grupo do qual esse indivíduo faz parte.
Divisão
Essa é uma falácia que comete o equívoco contrário ao da falácia de
composição.
A confusão apresentada é a mesma, porém a inferência é feita na direção
oposta. Ou seja, das características e particularidades do todo, somos
levados a inferir que suas partes compartilham das mesmas
características e particularidades.
Tal qual a falácia de composição, a de divisão apresenta duas variedades:
A primeira consiste em afirmar que aquilo que é verdadeiro para o todo
também o é para suas partes.
Comete-se a falácia de divisão, por exemplo, ao argumentar-se que o
Barcelona é o melhor time de futebol do mundo e a partir dessa
informação afirma-se que jogador x, digamos Suarez, é jogador do
Barcelona e, portanto, o melhor jogador do mundo.
A segunda espécie de falácia de divisão é cometida ao se argumentar
que, a partir das propriedades de um grupo, os indivíduos que dele
fazem parte compartilham das mesmas propriedades.
Digamos que alguém intencione argumentar que os jogadores de futebol
jogam na posição de goleiro, zagueiro, volante, meio de campo, atacante
e centro avante, e que por isso cada jogador de futebol joga de goleiro,
zagueiro, volante, meio de campo, atacante e centro avante. Nesse caso
o argumentador está cometendo a falácia de divisão.
Atividade
3. Marque o argumento que apresenta uma falácia de ambiguidade:
 a) Estou certo de que o embaixador deles será razoável sobre a
questão. Afinal de contas, o homem é um animal racional.
 b) As esposas de homens bem-sucedidos na vida vestem roupas caras,
de modo que a melhor maneira de uma mulher ajudar seu marido a
triunfar é comprar um guarda-roupa caro.
 c) Nossos testes mostram que a droga, em questão, não possui
qualquer valor medicinal; positivamente, nenhum, para os males que
pretende, em hipótese, curar. Concluímos, portanto, que não pode ser
vendida com êxito e será um fracasso comercial.
 d) Durante a guerra, as redes de espionagem inimiga foram
descobertas mediante a escuta e a gravação dos telefonemas dos
suspeitos, portanto, as autoridades deveriam adotar a escuta dos
telefones de todos os suspeitos.
 e) As ameaças russas não tem sido notícias. Portanto, as ameaças
russas são boas notícias, pois o que não é notícia é boa notícia.
4. Marque o argumento que apresenta uma falácia de relevância:
 a) Os acidentes de trânsito estão aumentando, os choques entre Fords
Modelo T são acidentes de trânsito. Logo, os choques entre Fords Modelo
T estão aumentando.
 b) (...) a felicidade de cada pessoa é um bem para essa pessoa e a
felicidade geral um bem para o conjunto de todas as pessoas. (JHON
STUART MILL, Utilitarismo)
 c) “Fazendo água” perigosamente, conduzido por uma tripulação de
esqueletos, uma enfermidadeapós outra se apodera do pequeno barco.
(The Herald Tribune Books Section)
 d) Todos os fenômenos do universo estão saturados de valores morais.
E, portanto, podemos chegar à conclusão de que o universo, para os
chineses, é um universo moral.
 e) Mas, podereis duvidar de que o ar tem peso, quando tendes o claro
testemunho de Aristóteles, ao afirmar que todos os elementos tem peso,
incluindo o ar e excetuando apenas o fogo? (GALILEU GALILEI, Diálogos
Sobre Duas Novas Ciências)
Referências
ALVES, Alaôr Café. Lógica: pensamento formal e argumentação. São Paulo: Quartier
Latin, 2005.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
COPI, Irving M. Introdução à Lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
HAACK, Susan. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002.
HEGENBERG, Leônidas. Dicionário de Lógica. São Paulo: EPU, 1995.
KELLER, Vicente. Aprendendo Lógica. Petrópolis: Vozes, 2008.
MORTARI, Cezar A. Introdução à Lógica. São Paulo: UNESP, 2001.
Explore mais
Assista ao vídeo “Raciocínio Lógico - Falácias de Relevância Informais
<https://www.youtube.com/watch?v=ImpGBgaV4jw> ” sobre as falácias de
ambiguidade e relevância.
https://www.youtube.com/watch?v=ImpGBgaV4jw

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