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INSTITUTOS POSITIVISTAS DOS DIREITOS POLÍTICOS ELEITORAIS NO BRASIL (NACIONALIDADE & CIDADANIA) O ponto de partida do nosso estudo nesta aula é a análise dos institutos da nacionalidade e da cidadania, considerando seus liames e diferenças, bem como os vínculos que tais institutos representam nas relações entre o indivíduo e o Estado. A nacionalidade, que é pressuposto de atingimento da cidadania, apresenta a seguinte natureza jurídica: tratase de vínculo jurídico que une o individuo ao Estado, de acordo com os requisitos estabelecidos por cada ordem constitucional. Assim, podemos verificar que a nacionalidade é estabelecida através de vínculos jurídicos constitucionais específicos que unem o indivíduo ao Estado. Tais vínculos podem ser: 1. o vínculo de sangue, ou seja, de filiação e descendência, chamado de “jus sanguinis” (direito de sangue), como por exemplo ocorre no modelo italiano; 2. o vínculo territorial, isto é, o liame estabelecido pelo nascimento de um indivíduo em determinado território estatal, conhecido como “jus soli” (direito de solo), como por exemplo é aplicado no constitucionalismo argentino; 3. o vínculo de domicílio (“jus domicilli”) ou até mesmo o vínculo laboral (“jus laboris”), estes, por exemplo, utilizados na Santa Sé (esta constituída pelo Papa e pela Cúria Romana), na forma do Tratado de Latrão de 1929. IMPORTANTE: no Brasil a nacionalidade originária é identificada por um modelo misto, ou seja, adotase tanto o vínculo “jus sanguinis” como o “jus soli”, conforme preconiza as alíneas “a”, “b” e “c” do inciso I, do art. 12 da CRFB/88, onde é conferida a qualificação de brasileiro nato àquele que apresenta tais vínculos jurídicos com o Estado. OBSERVAÇÃO COMPLEMENTAR: ainda existe no Brasil a chamada nacionalidade derivada, secundária ou de 2º grau, que representa a naturalização (ver alíneas “a” e “b”, do inciso II, do art. 12 da CRFB/88), ou seja, a aquisição da nacionalidade brasileira por nacional de outro país. Neste caso, ou somamse as duas ou mais nacionalidades, acaso permitido pelas ordens constitucionais envolvidas (condição de polipátrida), ou apenas uma das nacionalidades será mantida por perda da(s) outra(s) conforme determinação constitucional específica, fato este que está contemplado no constitucionalismo brasileiro nas alíneas “a” e “b”, do inciso II, do § 4º, do art. 14 da CRFB/88. Nos casos de nacionalidade derivada, ou seja, obtida através de naturalização, tornase interessante ressaltar que existe a possibilidade de sua perda e até mesmo de sua posterior reaquisição. IMPORTANTE: No Brasil, conforme prevê o § 4º do art. 12 da CRFB/88, a perda da nacionalidade derivada, ou seja, da naturalização, representará uma privação de direitos políticos, isto é, a perda da condição de cidadão, de acordo com o inciso I do art. 15 da CRFB/88, cujo estudo faremos adiante. As reaquisições da naturalização e dos direitos políticos poderão ser conferidas por decreto presidencial ou por ação rescisória, à luz dos preceitos estabelecidos na Lei 818/49 (apontada na aula nº 01 de nosso curso). Outrossim, se torna interessante ainda ressaltar que, nos casos de perda da nacionalidade, se o indivíduo não for polipátrida poderá se tornar um apátrida, ou seja, um “sem pátria”. CONCLUSÃO: A nacionalidade é um pilar da cidadania e, assim, da titularidade de direitos políticoeleitorais como, por exemplo, do direito de sufrágio. Sobre cidadania, podemos verificar que, etimologicamente, este instituto positivista eleitoral vem do latim “civitas” ou “status civitatis” (expressão aplicada em Roma e na Grécia antiga), cuja visão conceitual, própria do contexto político, em linhas gerais, configurou as seguintes transformações históricas no mundo: 1ª) Antigüidade Clássica cidadão era aquele que morava na cidade e participava de seus negócios (minoria), e que com tal condição econômica, apresentava discreta participação política, pois na verdade funcionava mais como aquele que deveria cumprir as determinações estatais do que por seu poder de exigir algo do próprio Estado; 2ª) Idade Média a Igreja assumiu como instituições legítimas a propriedade privada, o matrimônio, o direito, o governo e a escravidão, portanto, determinava quem de fato teria ou não cidadania, ou seja, titularidade de direitos; 3ª) O século das luzes e o nascimento do liberalismo a partir da Reforma Protestante, passouse a dar ênfase à realidade social como objeto de reflexão e questionamento, originandose então na França a corrente filosófica do Iluminismo, esta de valorização de reais condições de titularidade de direitos “lato sensu”, quanto de participação política (cidadania); 4ª) Século XX (Estado Social) o individualismo exacerbado do chamado “liberalismo puro” fez com que se gerassem alarmantes desigualdades sociais. O Estado Social (“Welfare State” ou Estado Providência), com a constitucionalização da ordem econômica, mostrouse como a solução, ampliando, assim, a visão e o exercício da cidadania, basicamente como a condição daquele nacional que além de titular de direitos individuais e políticos, poderia então exigir do Estado o cumprimento de deveres e metas de caráter social, em prol do bem comum; 5ª) Século XX (Estado Democrático de Direito) a condição de cidadania, afora o seu originário aspecto político, apresenta amplo alcance e está fundamentalmente ligada à titularidade, ao exercício e à máxima efetividade de direitos, principalmente no período pós II Guerra Mundial, quando o homem passou a ser o centro das atenções e quando houve um avanço significativo dos regimes políticos democráticos no mundo, além de uma real expansão dos direitos fundamentais e de seus instrumentos de tutela. Consequentemente, ocorre uma busca pelo atingimento da garantia dos interesses e da satisfação dos jurisdicionados e administrados, ou seja, do fortalecimento do que hoje se entende por ampla cidadania. IMPORTANTE: CIDADANIA sob a ótica política, é a condição político jurídica constitucional que permite ao seu detentor a titularidade e o exercício de direitos políticoeleitorais, identificando, portanto, um “NACIONAL NO PLENO GOZO DE SEUS DIREITOS POLÍTICOS”. PILARES DA CIDADANIA: nacionalidade e possibilidade de participação política. CONCEITO DE CIDADANIA E SUA PREVISÃO NORMATIVA: 1. considerando o enfoque político de cidadania, podemos encontrar no art. 1º, § 3º da Lei nº 4717/65, a chamada Lei da Ação Popular, a sua visão conceitual, representada basicamente pela possibilidade de votar e ser votado. De acordo esta previsão legal, a prova existencial da cidadania se dá com o título eleitoral; 2. em nossa CRFB/88, o seu art. 5º, inciso LXXIII, trata da ação popular como instrumento de garantia de direitos fundamentais, cuja legitimidade é do CIDADÃO; 3. conforme nosso estudo em aula anterior, os princípios constitucionais fundamentais de caráter político existentes no constitucionalismo pátrio (art. 1º, “caput” da CRFB/88), se mostram como vetores gerais e norteadores de todo o estudo do Direito Eleitoral e, consequentemente, como cânones identificadores e protetivos da CIDADANIA. São eles: princípio republicano; princípio democrático e princípio federativo; 4. art. 12, §1º CRFB/88 prevê que o português pode se escrever como eleitor. CONCLUINDO: CIDADANIA é o vínculo político que une um indivíduo (NACIONAL) ao Estado, em que sempreum cidadão será um nacional e o contrário nem sempre será possível. DO EXERCÍCIO DOS DIREITOS POLÍTICOS COMO MANIFESTAÇÃO DE CIDADANIA Os Direitos Políticos, figurando como manifestações da cidadania em um regime político democrático, poderão ser exercidos ativamente e passivamente através das seguintes manifestações: DIREITO POLÍTICO ATIVO: direito de escolha do mandatário do povo através do exercício do voto (votar); DIREITO POLÍTICO PASSIVO: direito de ser escolhido representante do povo (ser votado).
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