Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 2a EDIÇÃO/2022 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 4 2. CONTROLE DE LEGALIDADE E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 4 3. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE 5 4. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO COMPARADO 5 4.1. QUAIS OS CRITÉRIOS EXISTENTES NO MUNDO? 6 5. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO BRASILEIRO 7 5.1. CONTROLE POLÍTICO 7 5.2. CONTROLE JUDICIAL 8 6. ELEMENTOS ESSENCIAIS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 9 6.1. ELEMENTO CONCEITUAL (“BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE”) 9 6.2. ELEMENTO TEMPORAL 10 7. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 10 7.1 QUANTO AO MOMENTO EM QUE DEVERÁ OCORRER O CONTROLE 10 7.1.1. CONTROLE PREVENTIVO (OU A PRIORI) 10 7.1.2. CONTROLE REPRESSIVO 12 7.2. QUANTO AO ÓRGÃO 12 7.2.1. CONTROLE POLÍTICO 12 7.2.2. CONTROLE JURISDICIONAL 12 7.2.3. CONTROLE MISTO 13 7.3. QUANTO AO MODO 13 7.3.1. CONTROLE DIFUSO-CONCRETO 13 7.3.2. CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO 13 8. ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE 14 8.1 QUANTO À EXTENSÃO 14 8.1.1. TOTAL 14 8.1.2. PARCIAL 14 8.2. QUANTO AO MOMENTO 14 8.2.1. ORIGINÁRIA 14 8.2.2. SUPERVENIENTE 14 8.3. QUANTO AO PRISMA DE APURAÇÃO 16 8.3.1. DIRETA (OU ANTECEDENTE) 16 8.3.2. INDIRETA (REFLEXA, POR VIA OBLÍQUA OU POR ATO INTERPOSTO) 16 8.4. QUANTO AO TIPO DE CONDUTA DO PODER PÚBLICO 16 8.4.1. AÇÃO 16 8.4.2. OMISSÃO 17 8.4.2.1 ESPÉCIES 17 8.5. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL (NOMODINÂMICA OU EXTRÍNSECA) 18 8.5.1 SUBESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL 18 8.6. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL (NOMOESTÁTICA, DE CONTEÚDO MATERIAL, SUBSTANCIAL, DOUTRINÁRIA OU INTRÍNSECA) 18 8.7. INCONSTITUCIONALIDADE EM RAZÃO DA OFENSA AO DECORO PARLAMENTAR (OU FINALÍSTICA) 19 8.8. INCONSTITUCIONALIDADE “CHAPADA”, “ENLOUQUECIDA”, “DESVAIRADA” (ADI 3.232) 20 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 1 9. FORMAS DE CONTROLE REPRESSIVO JURISDICIONAL 21 9.1. CONTROLE DIFUSO (OU ABERTO, MODELO AMERICANO, INCIDENTAL, INDIRETO, PELA VIA DA DEFESA OU EXCEÇÃO, INCIDENTER TANTUM) 21 9.2. CONTROLE CONCENTRADO (OU FECHADO, MODELO AUSTRÍACO ou EUROPEU-CONTINENTAL, DIRETO, PELA VIA DA AÇÃO) 21 10. FORMAS DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 21 10.1. QUANTO AO ASPECTO SUBJETIVO 21 10.2. QUANTO AO ASPECTO OBJETIVO 22 10.3 QUANTO AO ASPECTO TEMPORAL 24 10.3.1 MODULAÇÃO DOS EFEITOS 24 10.4. QUANTO À EXTENSÃO DOS EFEITOS 25 10.4.1 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO X PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME 25 10.4.2. LIMITES À APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME 26 10.5 PONTOS IMPORTANTES 26 11. LEI “AINDA CONSTITUCIONAL”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA”, OU “DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DE NORMA EM TRÂNSITO PARA A INCONSTITUCIONALIDADE” 27 12. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM PRONÚNCIA DA NULIDADE (OU SEM EFEITO ABLATIVO) 27 13. INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL 27 14. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO “ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL” OU DO “DESVIO DO PODER CONSTITUINTE” 28 15. CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE 28 15.1 PRONUNCIAMENTO EM ABSTRATO ACERCA DA VALIDADE DA NORMA 28 15.2. MOMENTO A PARTIR DO QUAL A DECISÃO SE TORNA OBRIGATÓRIA 29 15.3. TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE POR “ARRASTAMENTO” OU “ATRAÇÃO”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE DE PRECEITOS NÃO IMPUGNADOS”, OU INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENCIAL, OU INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE OU DERIVADA, OU “INCONSTITUCIONALIDADE POR REVERBERAÇÃO NORMATIVA”, OU INCONSTITUCIONALIDADE SECUNDÁRIA 29 15.3.1. INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO HORIZONTAL 30 15.3.2. INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO VERTICAL 30 15.4. PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE 30 15.5. DESCABIMENTO DO CONTROLE ABSTRATO POR VIA DAS AÇÕES DIRETAS 30 16. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ADI 31 16.1. LEGITIMAÇÃO 31 16.1.1. LEGITIMIDADE PASSIVA 31 16.1.2. LEGITIMIDADE ATIVA 32 16.2. OBJETO 33 16.3. PROCEDIMENTO - LEI 9.868/99 40 16.3.1. PETIÇÃO INICIAL - ART. 3º, LEI 9.868/99 40 16.3.2. AMICUS CURIAE - ART. 7º, § 2º, LEI 9.868/99 41 16.3.3. MEDIDA CAUTELAR 45 16.3.4. EFEITOS - art. 11, Lei 9.868/99 45 16.3.5. DECISÃO FINAL 47 16.3.6. LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS OBJETIVOS DA DECISÃO 49 16.3.7. LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS SUBJETIVOS DA DECISÃO 51 16.3.8. EFEITOS TEMPORAIS 56 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 2 16.4. COISA JULGADA “INCONSTITUCIONAL”. S. 343/STF. RESCISÓRIA (ART. 966, V, CPC/2015) 57 17. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE - ADC 58 17.1. LEGITIMIDADE ATIVA 58 17.2. OBJETO 59 17.3. PETIÇÃO INICIAL 59 17.3. MEDIDA CAUTELAR 60 17.4. DECISÃO DEFINITIVA 60 18. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL - ADPF 61 18.1. LEGITIMIDADE ATIVA 61 18.2. ESPÉCIES 61 18.2.1. ARGUIÇÃO AUTÔNOMA - art. 1º, caput, Lei 9.882/99 61 18.2.1. ARGUIÇÃO INCIDENTAL (por equiparação ou equivalência) - art. 1º, parágrafo único, I c/c art. 6º, § 1º, Lei 9.882/99 62 18.3. PONTOS IMPORTANTES 62 18.4. PRESSUPOSTOS DE CABIMENTO 65 18.4.1. DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 65 18.4.2. INEXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO IDÔNEO (SUBSIDIARIEDADE) - art. 4º, Lei 9.882/99 66 18.4.3. PRESSUPOSTO ESPECÍFICO DA ARGUIÇÃO FUNDAMENTAL 66 18.5. OBJETO - art. 1º, Lei 9.882/99 66 18.6 ATOS DO PODER PÚBLICO E DETERMINADOS ATOS PRIVADOS EQUIPARADOS AOS PRATICADOS POR AUTORIDADES PÚBLICAS 67 18.7. MEDIDA CAUTELAR - art. 5º, Lei 9.882/99 67 19. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO - ADO 69 19.1. INTRODUÇÃO 69 19.2. ESPÉCIES DE OMISSÃO 69 19.3. OBJETO 70 19.3.1. Se o sujeito passivo na ação for um dos Poderes 70 19.3.2. Se a omissão for imputável a um órgão administrativo 70 19.4. MEDIDA CAUTELAR 70 19.5. MANDADO DE INJUNÇÃO X ADI POR OMISSÃO 71 20. CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO NO ÂMBITO ESTADUAL 72 20.1. COMPETÊNCIA 72 20.2. LEGITIMIDADE ATIVA 72 20.3. PARÂMETRO 73 20.4. RECURSO CONTRA A DECISÃO DO TJ 75 20.5. SIMULTANEIDADE DE AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE (simultaneus processus) 75 21. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO MUNICIPAL 78 22. CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE 78 22.1. LEGITIMIDADE ATIVA 78 22.2. COMPETÊNCIA 79 22.3. CISÃO FUNCIONAL DE COMPETÊNCIA 80 22.4. EXCEÇÕES À CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO 81 22.5. CONTROLE DIFUSO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA 82 22.6. OBJETO 82 22.7. EFEITOS 83 22.8. A TEORIA DA ABSTRATIVIZAÇÃO (OBJETIVAÇÃO, VERTICALIZAÇÃO OU CONCENTRAÇÃO) DO CONTROLE DIFUSO 84 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 3 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O Controle de Constitucionalidade é um mecanismo previsto na Constituição Federal, que tem como intuito, verificar a compatibilidade de atos infraconstitucionais com a CF. Pressupostos necessários para o Controle de Constitucionalidade: Existência de uma Constituição Rígida; Princípio da Supremacia Formal da Constituição; Para o exercício do Controle de Constitucionalidade são necessárias normas-parâmetro (ou bloco de constitucionalidade), ou seja, normas materialmente constitucionais que servem de parâmetro para confronto de aferição de constitucionalidade das demais normas que integram o Ordenamento Jurídico. NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO SÃO CONSIDERADAS NORMAS-PARÂMETRO ➔ As normas previstas na CF; ➔ As Emendas Constitucionais; ➔ Princípios implícitos; ➔ Os tratados internacionais de direitos humanos aprovados com força de Emenda Constitucional de acordo com o art. 5º § 3º, CF. 2. CONTROLE DE LEGALIDADE E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE1 ⭕ CONTROLE DE LEGALIDADE: é imanente ao Direito Administrativo, pois é destinada a aferição da validade de norma infralegal em face da Legislação. ⭕ CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: é inerente ao Direito Constitucional, sendo dirigido ao deferimento da validade de norma infraconstitucional em face da Constituição. Trata-se de uma atividade por meio da qual o sujeito controlador verifica se existe ou não compatibilidade formal e material entre o objeto, o ato normativo (espécies do Art. 59 da CF), e o objeto paradigma, a Constituição. CF - ART. 59 Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis complementares;III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; 1 https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/efeitos-do-controle-de-constitucionalidade-e-sua-importa ncia-para-garantir-a-seguranca-juridica/#:~:text=Como%20se%20depreende%20desses%20dois,o%20segundo%20%C3 %A9%20imanente%20ao CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 4 VI - decretos legislativos; VII - resoluções. Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. 3. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE2 É a verificação da compatibilidade das leis e atos normativos com os tratados internacionais com força supralegal. A Emenda Constitucional no 45/04, que acrescentou o § 3o ao art. 5o da Constituição, trouxe a possibilidade de os tratados internacionais de direitos humanos serem aprovados com um quorum qualificado, a fim de passarem (desde que ratificados e em vigor no plano internacional) de um status materialmente constitucional para a condição (formal) de tratados “equivalentes às emendas constitucionais”. Tal acréscimo constitucional trouxe ao direito brasileiro um novo tipo de controle à produção normativa doméstica, até então desconhecido: o controle de convencionalidade das leis. Com isso, as leis internas estariam sujeitas a um DUPLO PROCESSO DE COMPATIBILIZAÇÃO VERTICAL, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional, bem como aos previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro. 4. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO COMPARADO 2 https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/46/181/ril_v46_n181_p113.pdf CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 5 A ideia de controle de constitucionalidade existe desde Aristóteles, em 420 a.C., passando pela Idade Média. Nesse contexto, cumpre ressaltar que não existe uma data precisa para a criação do controle de constitucionalidade. Contudo, pode-se afirmar que o controle difuso foi sistematizado nos Estados Unidos em 1803, com a decisão Marbury X Madison, ao passo que o controle concentrado foi sistematizado na Áustria, em 1920, por Hans Kelsen, na Constituição daquele país. SISTEMA AUSTRÍACO (KELSEN) SISTEMA NORTE-AMERICANO (MARSHALL)3 decisão tem eficácia constitutiva (caráter constitutivo-negativo) decisão tem eficácia declaratória de situação preexistente por regra, o vício de inconstitucionalidade é aferido no plano da eficácia por regra, o vício de inconstitucionalidade é aferido no plano da validade por regra, decisão que reconhece a inconstitucionalidade produz efeitos ex nunc (prospectivos) por regra, decisão que declara a inconstitucionalidade produz efeitos ex tunc (retroativos) a lei inconstitucional é ato anulável (a anulabilidade pode aparecer em vários graus) a lei inconstitucional é ato nulo (null and void), ineficaz (nulidade ab origine), írrito e, portanto, desprovido de força vinculativa lei provisoriamente válida, produzindo efeitos até a sua anulação invalidação ab initio dos atos praticados com base na lei inconstitucional, atingindo-a no berço o reconhecimento da ineficácia da lei produz efeitos a partir da decisão ou para o futuro (ex nunc ou pro futuro), sendo erga omnes, preservando-se, assim, os efeitos produzidos até então pela lei a lei, por ter nascido morta (natimorta), nunca chegou a produzir efeitos (não chegou a “viver”), ou seja, apesar de existir, não entrou no plano da eficácia 4.1. QUAIS OS CRITÉRIOS EXISTENTES NO MUNDO? Há dois critérios básicos: 🔴 NATUREZA DO ÓRGÃO ⭕ CONTROLE POLÍTICO: efetivado por um órgão não pertencente ao poder judiciário. Exemplo: modelo francês estabelecido na Constituição de 1958 e que fixou um Conselho Constitucional, composto de 9 3 Tabela retirada do livro LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 26º Ed, pg. 469. São Paulo: SaraivaJur, 2022. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 6 Conselheiros escolhidos pelo Presidente da República e pelo Parlamento, tendo como membros natos os ex-Presidentes da República. ⭕ CONTROLE JUDICIAL: Efetuado por órgão pertencente ao poder judiciário. Como exemplo, temos os Estados Unidos. 🔴 MOMENTO DO EXERCÍCIO ⭕ CONTROLE PREVENTIVO: É o controle efetuado sobre o AINDA PROJETO DE LEI OU PROPOSTA. Antes da norma adquirir vigência. ⭕ CONTROLE REPRESSIVO: É o efetuado após a norma legal adquirir vigência. Não se dá sobre projeto/proposta, mas sim sobre LEI ou EMENDA. 5. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO BRASILEIRO No Brasil, temos todos os controles apresentados, com base em duas regras: Em regra, o controle político é preventivo Em regra, o controle judicial é repressivo 5.1. CONTROLE POLÍTICO O controle político, como já mencionado, é o controle realizado por órgão que não integra o Poder Judiciário. No Brasil, pode-se falar em controle político no art. 66, §1º, CF/88 que dispõe: CF - Art. 66. § 1º: Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, INCONSTITUCIONAL ou contrário ao interesse público, VETA-LO-Á total ou parcialmente, no prazo de 15 dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de 48 horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. O artigo citado (art. 66, §1º, CF) traz expressamente a hipótese de um VETO JURÍDICO, sua fundamentação é uma suposta inconstitucionalidade do projeto recebido pelo Presidente da República. ATENÇÃO Em regra, o controle político é PREVENTIVO. Exceção: o controle político é REPRESSIVO na hipótese do art. 49, V da CF. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 7 Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: V - SUSTAR OS ATOS NORMATIVOS do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (1ª parte) ou dos limites de delegação legislativa (2ª parte); A Constituição Federal estabelece limites, que sendo exorbitados pelo Executivo, faz com que o Legislativo atue para impedir a inconstitucionalidade. DECRETO (art. 84, IV, parte final): envolve o decreto expedido pelo Presidente da República para a fiel execução da lei. Quando o decreto exorbita o poder regulamentar será sustado pelo Congresso Nacional, mantendo-se o que não ultrapassar os limites do poder regulamentar. CF - Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - Sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como EXPEDIR DECRETOS E REGULAMENTOS PARA SUA FIEL EXECUÇÃO; LEI DELEGADA (art. 68): Lembre-se que o Presidente legisla em dois casos: Medida Provisória e Lei Delegada. A primeira é altamente informal, enquanto a lei delegada é altamente formal (obtendo delegação legislativa). Se não obtiver delegação legislativa para tratar de determinada matéria, será possível ao poder legislativo sustar o que exorbite a delegação. CF - Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. ATENÇÃO Alguns doutrinadores apontam que o art. 62 (Medidas Provisórias) como controle político repressivo. Todavia, Guilherme Peña assevera que esse exemplo não deve ser citado, pois nem sempre o controle da MP é de constitucionalidade (na verdade, na maioria é unicamente um controle político). Inclusive, uma das correntes sobre a natureza jurídica da Medida Provisória é a de que MP é projeto de lei que tem força cautelar de Lei (SAULO RAMOS). Para essa posição, o exemplo da MP não configura um controle repressivo. 5.2. CONTROLE JUDICIAL Nascido nos Estados Unidos da América, o controle judicial, como o próprio nome sugere, é realizado pelo Poder Judiciário. Ou seja, é a competência dos juízes e tribunais do Poder Judiciário para declarar a inconstitucionalidade das leis nos casos concretos que são submetidos à sua apreciação, como previsto no art. 102, I, a da CF: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 8 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação diretade inconstitucionalidade de LEI ou ATO NORMATIVO federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; ATENÇÃO Na ADI ou na ADC, o objeto é a lei ou o ato normativo, ou seja, a norma já vigente, sendo assim em regra, trata-se de um controle REPRESSIVO. Exceção: o controle judicial é PREVENTIVO no mandado de segurança impetrado por membro do Congresso Nacional. 6. ELEMENTOS ESSENCIAIS AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE4 6.1. ELEMENTO CONCEITUAL (“BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE”) Consiste na determinação da própria ideia de Constituição e na definição das premissas jurídicas, políticas e ideológicas que lhe dão consistência. A ideia é identificar o que deve ser entendido como parâmetro de constitucionalidade. Trata-se de nítido processo de aferição da compatibilidade vertical das normas inferiores em relação ao que foi considerado como “modelo constitucional” (vínculo de ordem jurídica, tendo em vista o princípio da supremacia da Constituição —paradigma de confronto). Predominava no Brasil uma posição restritiva em relação ao conceito de “bloco de constitucionalidade”, no qual os parâmetros seriam somente as normas e princípios expressos da Constituição escrita e positivada. Tal tendência estava fundada na ideia de supremacia formal, apoiada no conceito de rigidez constitucional e na consequente obediência aos princípios e preceitos decorrentes da Constituição (“bloco de constitucionalidade em sentido estrito”). Contudo, a EC 45/04 ampliou o “bloco de constitucionalidade”, na medida em que se passou a ter um novo parâmetro (norma formal e materialmente constitucional), qual seja, nos termos do art. 5º, § 3º, CF, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. CF - ART. 5º, § 3º. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois 4 Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.pág. 241 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 9 turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. ATENÇÃO Na ADI 595-ES, que teve como relator o Min. Celso De Mello, foi mencionado o professor J.J. Gomes Canotilho, que expõem sobre o parâmetro do controle de constitucionalidade incluindo também os princípios não escritos na Constituição. "Todos os atos normativos devem estar em conformidade com a Constituição (art. 3.º/3). Significa isto que os actos legislativos e restantes actos normativos devem estar subordinados, formal, procedimental e substancialmente, ao parâmetro constitucional. (...) (1) o parâmetro constitucional equivale à constituição escrita ou leis com valor constitucional formal, e daí que a conformidade dos actos normativos só possa ser aferida, sob o ponto de vista da sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade, segundo as normas e princípios escritos da constituição (ou de outras leis formalmente constitucionais); (2) o parâmetro constitucional é a ordem constitucional global, e, por isso, o juízo de legitimidade constitucional dos actos normativos deve fazer-se não apenas segundo as normas e princípios escritos das leis constitucionais, mas também tendo em conta princípios não escritos integrantes da ordem constitucional global." 6.2. ELEMENTO TEMPORAL É imprescindível constatar se o padrão de confronto, alegadamente desrespeitado, ainda vige, pois, sem a sua concomitante existência, descaracteriza-se o fator de contemporaneidade, necessário à verificação desse requisito. 7. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 7.1 QUANTO AO MOMENTO EM QUE DEVERÁ OCORRER O CONTROLE 7.1.1. CONTROLE PREVENTIVO (OU A PRIORI) É uma espécie de controle que tem por finalidade evitar que um projeto de lei inconstitucional adentre no sistema jurídico. Esse controle é realizado durante a tramitação do projeto de lei ou proposta de emenda constitucional. Momentos em que é exercido: a) No Poder Legislativo: realizado na Comissão de Constituição e Justiça. É possível recurso ao Plenário quando o projeto de lei for rejeitado na CCJ (art. 58, CF). É realizado também quando da rejeição do veto do CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 10 Presidente da República, pois se envolver fundamento constitucional será uma forma de controle, hipótese em que a posição do Poder Legislativo estará prevalecendo sobre o entendimento do Executivo. b) No Poder Executivo: realizado pelo Chefe do Poder Executivo, por meio de sanção ou veto jurídico. c) No Poder Judiciário: em regra, parlamentar tem o direito público subjetivo de questionar a regularidade do devido processo legislativo constitucional (impetração de mandado de segurança). Nesse sentido, cabe ao Poder Judiciário apenas verificar se foi garantido um procedimento em total conformidade com a CF, não lhe cabendo a extensão do controle sobre aspectos discricionários concernentes às questões políticas e aos atos interna corporis, vedando-se a interpretação de normas regimentais. ATENÇÃO A jurisprudência do STF consolidou-se no sentido de negar legitimidade ativa ad causam a terceiros não parlamentares, ainda que invoquem sua potencial condição de destinatário da futura lei ou emenda, pois somente o parlamentar tem direito líquido e certo à observância do processo legislativo. É possível que o STF, ao julgar MS impetrado por parlamentar, exerça controle de constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso Nacional e o declare inconstitucional, determinando seu arquivamento? Em regra, não. Existem, contudo, duas exceções nas quais o STF pode determinar o arquivamento da propositura: a) proposta de emenda constitucional que viole cláusula pétrea; b) proposta de emenda constitucional ou projeto de lei cuja tramitação esteja ocorrendo com violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo. STF. Plenário. MS 32033/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 20/6/2013 (Info 711) .5 Partidos políticos também podem impetrar mandado de segurança questionando projeto em tramitação e que seja, em tese, inconstitucional?6 NÃO. Segundo o STF (MS 24.642), somente o parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de leis e emendas constitucionais que não se compatibilizam com o processo legislativo constitucional. 6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d645920e395fedad7bbbed0eca3fe2e0> 5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d645920e395fedad7bbbed0eca3fe2e0> CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 11 O que acontece se houver perda superveniente do mandato parlamentar? Segundo Pedro Lenza, parece ter razão o Min. Celso de Mello ao afirmar que a perda superveniente de titularidade do mandato legislativo desqualifica a legitimação ativa do congressista, impondo-se a extinção do mandado de segurança (STF, MS 27.971). 7.1.2. CONTROLE REPRESSIVO Ao contrário do controle preventivo que não incide sobre uma lei já pronta, mas sim sobre um projeto de lei, o controle repressivo atua sobre uma lei ou emenda constitucional já existente. A finalidade do controle repressivo é retirar do ordenamento jurídico normas que violam o texto constitucional. Em regra, é realizado pelo Poder Judiciário (realizado por um órgão jurisdicional) EXCEÇÕES ⭕ É competência exclusiva do CongressoNacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa (art. 49, V, CF). ⭕ Análise dos requisitos de relevância e urgência, realizada pelo Congresso Nacional, quando da edição de medida provisória (art. 62, CF). ⭕ O Chefe do Poder Executivo pode realizar o controle de constitucionalidade pela negativa de cumprimento de lei considerada por ele inconstitucional. CNMP e CNJ podem realizar controle de constitucionalidade? Não. O STF (MS 27.744, Info 781; MS 32.582-MC, Info 744) entendeu que não é possível que o CNMP e o CNJ realizem controle de constitucionalidade, sob o fundamento de que tais órgãos exercem atos de caráter administrativo. O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do Poder Judiciário, nos termos do art. 103-B, § 4º, II, da Constituição Federal, possui, tão somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não lhe é permitido apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas somente sua legalidade. STF. Plenário. MS 28872 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/02/2011. 7 7.2. QUANTO AO ÓRGÃO 7.2.1. CONTROLE POLÍTICO Realizado por órgão que não pertence ao Judiciário. 7.2.2. CONTROLE JURISDICIONAL Realizados por órgão pertencentes ao judiciário, juízes ou tribunais. 7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c0e190d8267e36708f955d7ab048990d> CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 12 7.2.3. CONTROLE MISTO Neste as Constituições sujeitam cercos atos ao controle político (realizado por órgãos estranhos ao Poder Judiciário) e outros ao controle jurídico (realizado por órgãos componentes do Poder Judiciário). ATENÇÃO O STF, em entendimento sumulado, entendia que o TCU poderia deixar de aplicar o ato por considerá-lo inconstitucional, bem como sustar outros atos praticados com base em leis vulneradoras da CF, sempre de forma incidental, era denominado controle administrativo. A Súmula 347 do STF tratava do assunto: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público. Em recente decisão, o STF passou a entender que “Não cabe ao Tribunal de Contas, que não tem função jurisdicional, exercer o controle de constitucionalidade de leis ou atos normativos nos processos sob sua análise” (STF. Plenário. MS 35410, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/04/2021. 7.3. QUANTO AO MODO 7.3.1. CONTROLE DIFUSO-CONCRETO Segundo esse sistema, que teve sua origem no Caso Marbury vs Madison, qualquer juiz ou tribunal pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei, pois conforme esse sistema o controle de constitucionalidade é algo intrínseco à própria jurisdição. A decisão será inter pars, ou seja, só produzirá efeito para o caso concreto e para as pessoas nele envolvidas. 7.3.2. CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO Esse modelo de controle surgiu na Constituição Austríaca no ano de 1920. Segundo esse modelo de controle, apenas um tribunal específico pode fazer o controle de constitucionalidade. O controle concentrado-abstrato não analisa o caso concreto, analisa a lei em si, numa decisão que será erga omnes, ou seja, uma decisão que valerá para todos e que por sua vez terá efeito vinculante. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE QUANTO AO ÓRGÃO Controle político Controle jurisdicional QUANTO AO MOMENTO Preventivo Repressivo QUANTO AO MODO Controle difuso-concreto CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 13 Controle concentrado-abstrato 8. ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE 8.1 QUANTO À EXTENSÃO 8.1.1. TOTAL A inconstitucionalidade pode atingir todo o ato normativo, ou seja, quando toda a norma contraria o texto constitucional. Em geral, a inconstitucionalidade total da lei decorre de inconstitucionalidade formal. 8.1.2. PARCIAL Incide sobre uma palavra ou expressão, desde que não altere o restante do sentido, em expressão do PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE. ATENÇÃO Segundo Pedro Lenza, em sua obra a respeito de Direito Constitucional, o princípio da parcelaridade é aplicável no âmbito do controle concentrado. Isso significa que a Corte Constitucional, ao julgar parcialmente procedente o pedido de declaração de inconstitucionalidade, pode expurgar do texto legal apenas uma palavra ou expressão, diferente com o que ocorre no caso do veto presidencial, conforme o art. 66, parágrafo segundo da CF/88. “O Presidente da República, ao vetar determinado projeto de lei (controle de constitucionalidade prévio ou preventivo, realizado pelo Executivo), poderá fazê-lo integralmente (veto de todo o projeto de lei) ou parcialmente; nesta última hipótese, porém, o veto só poderá ser de texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea (art. 66, § 2.º, da CF).”8 8.2. QUANTO AO MOMENTO 8.2.1. ORIGINÁRIA O ato desde a sua origem já é inconstitucional (o objeto surge após o parâmetro). 8.2.2. SUPERVENIENTE O objeto, que originariamente era constitucional, torna-se inconstitucional em razão da superveniente mudança de parâmetro. 8 Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.pág. 271 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 14 ATENÇÃO Segundo Lenza, em regra, não se pode admitir nem o fenômeno da constitucionalidade superveniente, nem o da inconstitucionalidade superveniente .9 🔴 CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE: é o fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo que tenha “nascido” com algum vício de inconstitucionalidade, seja formal ou material, e se constitucionaliza. Esse fenômeno é inadmitido na medida em que o vício congênito não se convalida. Ou seja, se a lei é inconstitucional, trata-se de ato nulo (null and void) e, assim, por regra, não pode ser “corrigido”, pois o vício de inconstitucionalidade não se convalida, é um vício insanável, “incurável”. 🔴INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE: fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo que “nasceu” “perfeita”, sem nenhum tipo de vício de inconstitucionalidade, vem a se tornar inconstitucional. Em regra, esse fenômeno não é observado. Lenza expõe exemplos, na visão da jurisprudência do STF, que afastam essa possibilidade em razão da caracterização de outros institutos específicos e próprios: Lei editada antes do advento da nova Constituição (fenômeno da recepção): se a lei foi editada antes do advento de uma nova Constituição, duas situações surgem: ou a lei é compatível e será recepcionada, ou a lei é incompatível e, então, nesse caso, será revogada por não recepção. Não se pode falar em inconstitucionalidade superveniente nesse caso, pois não haverá preenchimento da regra da contemporaneidade. Lei editada já na vigência da nova Constituição e superveniência de emenda constitucional futura que altere o fundamento de constitucionalidade da lei: o STF entende que, se a lei foi editada já na vigência da nova Constituição sem nenhum tipo de vício, eventual emenda constitucional que mude o parâmetro de controle pode deixar de assegurar validade à referida norma, e, assim, a nova emenda constitucional revogaria a lei em sentido contrário. Não se trata, portanto, do fenômeno de inconstitucionalidade superveniente. ⭕ EXCEÇÕES À REGRA DA IMPOSSIBILIDADE DE INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE a) mutação constitucional: a redação do dispositivo da Constituição não é alterada, mas o seu sentido interpretativo muda, surgindo, então, uma nova norma jurídica. As mutações constitucionais, portanto, exteriorizam o caráter dinâmico e de prospecção das normas jurídicas, por meio de processos informais. A lei, então, que nasceu constitucional, tornar-se-ia inconstitucional em razão da mudança no sentido interpretativo do parâmetro de constitucionalidade. Exemplo: união estável entre pessoas do mesmo sexo. b) mudança no substrato fático da norma:não se tem uma alteração no parâmetro da Constituição, mas nos novos aspectos de fato que surgem e que não eram claros no momento da primeira interpretação. Exemplo trazido por Pedro Lenza: amianto - em um primeiro momento, o STF pronunciou-se no sentido de se declarar a constitucionalidade da lei federal que admitia o uso 9 Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.pág. 188-190 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 15 controlado de uma das modalidades do amianto (asbesto branco). Em momento seguinte, em razão da mudança no substrato fático da norma, referida disposição se tornou inconstitucional, passando a norma por um processo de inconstitucionalização. 8.3. QUANTO AO PRISMA DE APURAÇÃO10 8.3.1. DIRETA (OU ANTECEDENTE) Ocorre quando o ato viola diretamente a Constituição, ou seja, quando se tem o confronto direto de uma norma infraconstitucional e a Constituição. ATENÇÃO ADI só será admitida quando a inconstitucionalidade for direta. 8.3.2. INDIRETA (REFLEXA, POR VIA OBLÍQUA OU POR ATO INTERPOSTO) Ocorre quando a norma infraconstitucional não viola diretamente o texto constitucional. Neste caso, o objeto é ato normativo secundário. Configura-se uma ilegalidade previamente à inconstitucionalidade. Um exemplo clássico de inconstitucionalidade indireta, quando um decreto regulamentar, expedido para a fiel execução da lei, extrapola os limites desta. ATENÇÃO A jurisprudência não admite controle de constitucionalidade de atos normativos secundários (inaptos a criar direito novo), de que são espécies, além do regulamento, as resoluções, as instruções normativas e portarias, dentre outros (STF, AgReg na ADI 6117 DF). Contudo, excepcionalmente é possível que o STF controle a constitucionalidade de decreto regulamentador, quando este ultrapassar o poder de regulamentar, em razão do art. 49, V, CF, que possibilita que o Congresso Nacional também exerça esse controle. CF - Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; 8.4. QUANTO AO TIPO DE CONDUTA DO PODER PÚBLICO 8.4.1. AÇÃO Pressupõe uma conduta positiva, comissiva, do legislador que não se compatibiliza com os princípios e normas constitucionalmente consagrados. 10 https://jus.com.br/artigos/64556/teoria-do-controle-de-constitucionalidade-topicos-teoricos-e-praticos CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 16 8.4.2. OMISSÃO Decorre de uma lacuna inconstitucional, ou seja, uma conduta omissiva, um não fazer, descumprindo a obrigação constitucional de legislar na regulamentação de normas constitucionais de eficácia limitada. ATENÇÃO Em relação às normas programáticas, em regra não será possível falar em omissão inconstitucional, exceto se a inércia inviabilizar providências ou prestações correspondentes ao mínimo existencial. São dois os remédios jurídicos concebidos pela CF para enfrentar o problema: mandado de injunção e ação direta de inconstitucionalidade por omissão. 8.4.2.1 ESPÉCIES 🔴 OMISSÃO TOTAL (OU ABSOLUTA) Quando o legislador, tendo o dever jurídico de atuar, abstenha-se inteiramente de fazê-lo, deixando um vazio normativo no tema. Possibilidades de atuação judicial: a) Reconhecer a auto-aplicabilidade da norma constitucional e fazê-la incidir diretamente: em regra, dá-se prazo ao órgão para que supra a lacuna. b) Declarar a existência da omissão, constituindo em mora o órgão omisso: declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade. c) Criar a norma para o caso concreto. 🔴 OMISSÃO PARCIAL RELATIVA A lei exclui do seu âmbito de incidência determinada categoria que nele deveria estar abrigada, privando-a de um benefício e violando o princípio da isonomia. Possibilidades de atuação judicial: a) Declaração de inconstitucionalidade por ação da lei que fere a isonomia. b) Declaração de inconstitucionalidade por omissão parcial da lei, dando-se ciência ao órgão legislador para tomar as providências necessárias. c) Extensão do benefício à categoria excluída: o Poder Judiciário, mesmo se deparando com uma situação de desigualdade, não pode “corrigir” essa disparidade porque não tem “função legislativa”, não lhe sendo possível suprir a ausência da lei que é indispensável no caso. Nesse sentido: Súmula Vinculante 37: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia. Exceções à SV 37: ações judiciais que questionam a Resolução nº 133/2011, que reconhece a simetria constitucional entre as carreiras da Magistratura e do MP como decorrência da aplicação direta do dispositivo constitucional (art. 129, § 4º, da CF/88. O Plenário do STF ainda irá apreciar essas discussões. 🔴 OMISSÃO PARCIAL PROPRIAMENTE DITA CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 17 O legislador atua sem afetar o princípio da isonomia, mas de modo insuficiente ou deficiente relativamente à obrigação que lhe era imposta. 8.5. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL (NOMODINÂMICA OU EXTRÍNSECA) A inconstitucionalidade formal, também denominada de nomodinâmica ou extrínseca, é verificada quando a lei ou o ato normativo infraconstitucional possuir algum vício no seu processo de formação, ou seja, possui um vício em sua forma. 8.5.1 SUBESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL 🔴 FORMAL SUBJETIVA: Quando há vício de iniciativa. Ressalta-se que o vício de iniciativa não é sanado pela sanção do Presidente da República. 🔴FORMAL OBJETIVA (RITUAL OU PROCESSUAL): Violação do devido processo legislativo em seu conteúdo objetivo. 🔴 POR VIOLAÇÃO A PRESSUPOSTOS OBJETIVOS DO ATO NORMATIVO : Pedro Lenza lembra que a11 violação ou falta dos pressupostos, requisitos externos e anteriores ao procedimento legislativo, também gera inconstitucionalidade. Ex: verificação dos requisitos de relevância e urgência quando da edição de MP, observância dos requisitos do art. 18, § 4º, CF, para a criação de Município. 🔴FORMAL ORGÂNICA: Quando a falha está na competência legislativa para elaboração do ato. Ex: lei federal (elaborada pelo Congresso Nacional) não pode dispor sobre tempo de permanência em fila de banco, uma vez que se trata de competência municipal (elaborada pela Câmara Municipal). 8.6. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL (NOMOESTÁTICA, DE CONTEÚDO MATERIAL, SUBSTANCIAL, DOUTRINÁRIA OU INTRÍNSECA) A inconstitucionalidade material, também denominada de nomoestática, de conteúdo material, substancial, doutrinária ou intrínseca, ocorre quando o conteúdo da lei viola o texto constitucional. Assim sendo, o seu processo legislativo, ao contrário do que acontece na inconstitucionalidade formal, pode ter sido fielmente obedecido, porém a matéria tratada é incompatível com a Constituição. Como exemplo, podemos citar o Princípio da Individualização da Pena que impede que o Legislador estabeleça em abstrato a progressão de regime. A Lei de Crimes Hediondos vedava a progressão de regime em abstrato, nesse caso foi declarada inconstitucional segundo o STF que decidiu no Habeas Corpus 82959.12 12 https://jus.com.br/artigos/64570/teoria-do-controle-de-constitucionalidade-topicos-teoricos-e-praticos 11 Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.pág. 194 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 18 8.7. INCONSTITUCIONALIDADE EM RAZÃO DA OFENSA AO DECORO PARLAMENTAR (OU FINALÍSTICA) Segundo o art. 55, § 1º, CF, é incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas. CF - Art. 55 § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagensindevidas. Pedro Lenza (2022, p. 496) lança a ideia de inconstitucionalidade por vício de decoro parlamentar com base no art. 55, §1º, da Constituição Federal, ao defender a possibilidade de reconhecimento desta espécie de inconstitucionalidade. Para o autor, trata-se de inconstitucionalidade já que a corrupção dos parlamentares, uma vez condenados pela Justiça, macula a essência do voto e o conceito de representatividade popular.13 O que é vício de decoro parlamentar? 14 Segundo entendimento de Pedro Lenza, o vício de decoro parlamentar é uma das espécies de vício de inconstitucionalidade, ao lado da formal e da material. Consubstancia-se quando, na votação de determinada matéria, ocorre a situação descrita no art. 55, parágrafo primeiro, da CF/88. Assim, por exemplo, quando se comprova que no processo legislativo de uma emenda constitucional ocorreu a compra de votos (mensalão), deveria tal lei ser tida por inconstitucional pelo vício no decoro. 3. O vício que corrompe a vontade do parlamentar ofende o devido processo legislativo contrariando o princípio democrático e a moralidade administrativa. 4. Quebra do decoro parlamentar pela conduta ilegítima de malversação do uso da prerrogativa do voto pelo parlamentar configura crise de representação. 5. No caso, o número alegado de “votos comprados” não se comprova suficiente para comprometer o resultado das votações ocorridas na aprovação da emenda constitucional n. 41//2003. Respeitado o rígido quórum exigido pela Constituição da República. Precedentes. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF, ADI 4889, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 11/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-279 DIVULG 24-11-2020 PUBLIC 25-11-2020) 14 Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.pág. 195 13 https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/controle-judicial-de-constitucionalidade-por-vicio-de-dec oro-parlamentar-o-caso-mensalao/ CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 19 8.8. INCONSTITUCIONALIDADE “CHAPADA”, “ENLOUQUECIDA”, “DESVAIRADA” (ADI 3.232) Expressão inicialmente utilizada pelo Min. Sepúlveda Pertence, é empregada para caracterizar uma inconstitucionalidade mais do que evidente, clara, escancarada, flagrante, não restando qualquer dúvida sobre o vício, seja formal, seja material.15 I. Ação direta de inconstitucionalidade: Confederação Nacional de Saúde: qualificação reconhecida, uma vez adaptados os seus estatutos ao molde legal das confederações sindicais; pertinência temática concorrente no caso, uma vez que a categoria econômica representada pela autora abrange entidades de fins não lucrativos, pois sua característica não é a ausência de atividade econômica, mas o fato de não destinarem os seus resultados positivos à distribuição de lucros. II. Imunidade tributária (CF, art. 150, VI, c, e 146, II): "instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei": delimitação dos âmbitos da matéria reservada, no ponto, à intermediação da lei complementar e da lei ordinária: análise, a partir daí, dos preceitos impugnados (L. 9.532/97, arts. 12 a 14): cautelar parcialmente deferida. 1. Conforme precedente no STF (RE 93.770, Muñoz, RTJ 102/304) e na linha da melhor doutrina, o que a Constituição remete à lei ordinária, no tocante à imunidade tributária considerada, é a fixação de normas sobre a constituição e o funcionamento da entidade educacional ou assistencial imune; não, o que diga respeito aos lindes da imunidade, que, quando susceptíveis de disciplina infraconstitucional, ficou reservado à lei complementar. 2. À luz desse critério distintivo, parece ficarem incólumes à eiva da inconstitucionalidade formal argüida os arts. 12 e §§ 2º (salvo a alínea f) e 3º, assim como o parág. único do art. 13; ao contrário, é densa a plausibilidade da alegação de invalidez dos arts. 12, § 2º, f; 13, caput, e 14 e, finalmente, se afigura chapada a inconstitucionalidade não só formal mas também material do § 1º do art. 12, da lei questionada. 3. Reserva à decisão definitiva de controvérsias acerca do conceito da entidade de assistência social, para o fim da declaração da imunidade discutida - como as relativas à exigência ou não da gratuidade dos serviços prestados ou à compreensão ou não das instituições beneficentes de clientelas restritas e das organizações de previdência privada: matérias que, embora não suscitadas pela requerente, dizem com a validade do art. 12, caput, da L. 9.532/97 e, por isso, devem ser consideradas na decisão definitiva, mas cuja delibação não é necessária à decisão cautelar da ação direta. (STF, ADI 1802 MC, Relator(a): SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 27/08/1998, DJ 13-02-2004 PP-00010 EMENT VOL-02139-01 PP-00064) 15 Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.pág. 252 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 20 9. FORMAS DE CONTROLE REPRESSIVO JURISDICIONAL 9.1. CONTROLE DIFUSO (OU ABERTO, MODELO AMERICANO, INCIDENTAL, INDIRETO, PELA VIA DA DEFESA OU EXCEÇÃO, INCIDENTER TANTUM) Conhecido por ser o sistema americano de controle, o controle difuso possibilita o reconhecimento da inconstitucionalidade por qualquer componente do Poder Judiciário, ou seja, os juízes de primeiro grau e os diversos tribunais do País, todos têm aptidão para decidir, no âmbito de sua competência, sobre a constitucionalidade das leis no controle difuso. 9.2. CONTROLE CONCENTRADO (OU FECHADO, MODELO AUSTRÍACO ou EUROPEU-CONTINENTAL, DIRETO, PELA VIA DA AÇÃO) O controle concentrado de constitucionalidade, é assim denominado por concentrar em um único tribunal a competência para o reconhecimento de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. PODE SER VERIFICADO EM CINCO SITUAÇÕES ADI - Ação Direta de Inconstitucionalidade (art. 102, I, “a”, CF) ADC - Ação Declaratória de Constitucionalidade (art. 102, I, “a”, CF) ADPF - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (art. 102, § 1.º, CF) ADO - Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (art. 103, § 2.º, CF) ADI Interventiva (art. 36, III, c/c art. 34, VII, CF) O que é a teoria da divisibilidade das leis no âmbito do controle de constitucionalidade?16 Referido princípio possibilita ao STF julgar e declarar inconstitucional apenas parte do texto legal que estiver em conflito com o texto constitucional, mantendo em vigor a parcela que com ela for compatível, desde que autônoma em relação à parte declarada inconstitucional. 10. FORMAS DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 10.1. QUANTO AO ASPECTO SUBJETIVO O aspecto subjetivo diz respeito aos sujeitos atingidos pela declaração de inconstitucionalidade. 16 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/362132/no-que-consiste-o-principio-da-parcelaridade-no-ambito-do-controle-conc entrado-de-constitucionalidade-denise-cistina-mantovani-cera CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 21 CONTROLE CONCRETO CONTROLE ABSTRATO Efeito inter pars. Efeito erga omnes e vinculante. É aplicável à ADI, ADC, ADPF. O que é efeito inter pars? Diz-se que o efeito é inter pars quando a decisão é apenas para o caso concreto, ou seja, a decisão não vale para todos. O que é efeito erga omnes? É o efeito que atinge todos, tanto os particulares quanto o Poder Público. O efeito não fica limitado às pessoas de um grupo específico. O que é o efeito vinculante? Atinge todo o Poder Judiciário, salvo o Plenário do STF; todo o Poder Executivo, incluindo o Chefe do Executivo e a Administração Pública Direta e Indireta, em todas as esferas de governo. Segundo Márcio Cavalcante, “essa decisão não vincula, contudo, o Plenário do STF. Assim, se o STF decidiu, em controle abstrato, que determinada lei é constitucional, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que esta mesma lei é inconstitucionalpor conta de mudanças no cenário jurídico, político, econômico ou social do país. Isso se justifica a fim de evitar a "fossilização da Constituição".17 ATENÇÃO ⭕ Os órgãos fracionários (relator ou turmas) do STF ficam vinculados e não podem ir de encontro à decisão do Pleno do STF. ⭕ Não é o Poder Legislativo em si que não fica vinculado, mas sim a função legiferante, sob pena de fossilização da Constituição. Assim, quando atuando em função administrativa (ex: nomeação de funcionários) também estará vinculado. ⭕ O Chefe do Poder Executivo só fica vinculado quanto à função administrativa. 10.2. QUANTO AO ASPECTO OBJETIVO O aspecto objetivo é relativo à extensão dos efeitos. 17 https://www.dizerodireito.com.br/2015/10/superacao-legislativa-da-jurisprudencia.html CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 22 Quais as partes da decisão produzem eficácia erga omnes e efeito vinculante?18 1ª corrente: TEORIA RESTRITIVA Somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes. 2ª corrente: TEORIA EXTENSIVA Além do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também são vinculantes. Admite-se a transcendência dos motivos que embasaram a decisão. 🔵 O STF NÃO ADMITE A “TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES”. Segundo a TEORIA RESTRITIVA, adotada pelo STF, somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes. A reclamação no STF é uma ação na qual se alega que determinada decisão ou ato: • usurpou competência do STF; ou • desrespeitou decisão proferida pelo STF. Não cabe reclamação sob o argumento de que a decisão impugnada violou os motivos (fundamentos) expostos no acórdão do STF, ainda que este tenha caráter vinculante. Isso porque apenas o dispositivo do acórdão é que é vinculante. Assim, diz-se que a jurisprudência do STF é firme quanto ao não cabimento de reclamação fundada na transcendência dos motivos determinantes do acórdão com efeito vinculante. STF. Plenário. Rcl 8168/SC, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 19/11/2015 (Info 808). STF. 2ª Turma. Rcl 22012/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 12/9/2017 (Info 887). 🔵 TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES (EFEITOS IRRADIANTES OU TRANSBORDANTES?) Segundo a teoria dos efeitos irradiantes da decisão, além do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também são vinculantes. Para tanto, há de se observar a distinção entre ratio decidendi e obter dictum.19 ⭕ Obter dictum (“coisa dita de passagem”): são comentários laterais, que não influem na decisão, sendo perfeitamente dispensáveis. Portanto, aceita a “teoria do transbordamento”, não se falaria em irradiação de obter dictum, com efeito vinculante, para fora do processo. 19 Lenza, Pedro. Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, pág. 242 18 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/6c468ec5a41d65815de23ec1d08d7951> CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 23 ⭕ Ratio decidendi (ou holding, no direito norte-americano): é a fundamentação essencial que ensejou aquele determinado resultado da ação. Nessa hipótese, aceita a “teoria dos efeitos irradiantes”, a “razão da decisão” passaria a vincular outros julgamentos. Tal fenômeno reflete uma preocupação doutrinária em assegurar a força normativa da Constituição, cuja preservação integral exige o reconhecimento de que a eficácia vinculante atinge também os próprios fundamentos determinantes da decisão proferida pela Corte Suprema, especialmente quando consubstanciar uma declaração de inconstitucionalidade em sede de controle abstrato. 10.3 QUANTO AO ASPECTO TEMPORAL Tanto no controle concentrado como no difuso, pelo fato de que a natureza da lei inconstitucional é de ato nulo, a regra é de que a decisão de inconstitucionalidade produz efeitos ex tunc. 10.3.1 MODULAÇÃO DOS EFEITOS Excepcionalmente, admite-se uma modulação temporal dos efeitos da decisão, podendo o STF estabelecer um momento para o qual a inconstitucionalidade começa a valer, mesmo que se trate de um momento futuro. Tal modulação, que tem regulamentação específica no controle concentrado (art. 27, Lei 9.868/99), aplicável também no controle difuso por analogia, deve atender a dois requisitos: a) Quórum qualificado de 2/3. b) Deve atender a questões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social. ATENÇÃO Segundo o STF (ADI 2949 QO, Info 780) , depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve20 ser considerado concluído e encerrado e, por isso, mostra-se inviável, em face da preclusão, a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida. “Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida. A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica: a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulação dos efeitos. Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos”. STF. Plenário ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780). 20 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Momento-limite da modulação dos efeitos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponívelem:<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/28dd2c7955ce926456240b2ff0100bde CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 24 OBSERVAÇÃO O STJ, no REsp 1.904.374, pontuou que “da excepcionalidade da modulação decorre a necessidade de que o intérprete seja restritivo, a fim de evitar inadequado acréscimo de conteúdo sobre aquilo que o intérprete autêntico pretendeu proteger e salvaguardar.” No julgamento, A relatora, ministra Nancy Andrighi, explicou que a lei incompatível com o texto constitucional padece do vício de nulidade e, como regra, a declaração da sua inconstitucionalidade produz efeitos ex tunc (retroativos). Contudo, ela lembrou que, excepcionalmente – por razões como a proteção à boa-fé, tutela da confiança e previsibilidade –, pode ser conferida eficácia prospectiva (efeito ex nunc) às decisões que declaram a inconstitucionalidade de lei. "As interpretações subsequentes da modulação de efeitos devem ser restritivas, a fim de que não haja inadequado acréscimo de conteúdo exatamente sobre aquilo que o intérprete autêntico pretendeu, em caráter excepcional, proteger e salvaguardar", ressaltou.21 10.4. QUANTO À EXTENSÃO DOS EFEITOS 🔴 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE COM REDUÇÃO DE TEXTO: uma parte do texto ou todo o texto será excluído. 🔴 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO: o STF não declara a nulidade de um texto, mas sim de uma interpretação que poderia ser dada àquele texto. 10.4.1 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO X PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME DECLARAÇÃO DE NULIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME SEMELHANÇAS a) Não há alteração do texto da norma. b) Há uma redução no âmbito de aplicação do dispositivo. c) Nos dois casos, o STF julga parcialmente procedente a ADI. QUANTO À NATUREZA A declaração de nulidade (com ou sem redução de texto) é uma técnica de decisão judicial, quesó pode ser aplicada no controle abstrato de constitucionalidade. Pode ser aplicado em todos os controles, inclusive o difuso, pois trata-se de um princípio interpretativo (ou instrumental) da hermenêutica constitucional. QUANTO À TÉCNICA APLICADA Exclui uma interpretação e permite as demais. Permite uma interpretação e exclui as demais. 21https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/17082021-Inconstitucionalidade-da-distincao-de-regime s-sucessorios-alcanca-decisao-anterior-que-prejudicou-companheira.aspx CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 25 10.4.2. LIMITES À APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME a) Clareza do texto legal: se a norma não é polissêmica, só havendo uma interpretação possível, não será possível utilizar a interpretação conforme. b) O juiz não pode substituir a vontade da lei ou do legislador pela sua própria vontade. 10.5 PONTOS IMPORTANTES22 🔴 EFICÁCIA NORMATIVA Quando o STF, no controle concentrado de constitucionalidade(ADI ou ADC decide que determinada lei é constitucional ou inconstitucional, ele gera a consequência que se pode denominar de eficácia normativa que significa manter ou excluir(declarar nula a referida norma do ordenamento jurídico. 🔴 EFICÁCIA EXECUTIVA OU INSTRUMENTAL Além da eficácia normativa a sentença de mérito na ADI ou ADC provoca também um efeito vinculante, consistente em atribuir ao julgado uma força impositiva e obrigatória em relação aos atos administrativos ou judiciais supervenientes. A isso o Min. Teori Zavascki chama de eficácia executiva ou instrumental (eficácia vinculante). Em caso de descumprimento dessa eficácia executiva ou instrumental a parte prejudicada poderá ajuizar no STF uma reclamação (art. 102, I, “l” da CF/88). 🔴 EFICÁCIA NORMATIVA (EFEITOS EX TUNC) A Eficácia normativa (declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade) opera de forma “ex tunc” (retroativa). 🔴 EFICÁCIA EXECUTIVA (EFEITOS EX NUNC) A eficácia executiva (efeito vinculante) produz efeitos “ex nunc”. Assim o termo inicial da eficácia executiva é o dia de publicação do acórdão do STF no Diário Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). 22 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O simples fato de o STF ter declarado a inconstitucionalidade de uma lei não faz com que ocorra automaticamente a desconstituição da sentença transitada em julgado anterior que tenha aplicado este ato normativo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d5c186983b52c4551ee00f72316c6eaa> CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 26 11. LEI “AINDA CONSTITUCIONAL”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA”, OU “DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DE NORMA EM TRÂNSITO PARA A INCONSTITUCIONALIDADE”23 Trata-se da hipótese em que uma lei, em virtude das circunstâncias de fato, pode vir a ser inconstitucional, não o sendo, porém, enquanto essas circunstâncias de fato não se apresentarem com a intensidade necessária para que se tornem inconstitucionais. Exemplos: ⭕ Prazo em dobro para recurso no Processo Penal às Defensorias Públicas: a norma será constitucional ao menos até que a organização da Defensoria, nos Estados, alcance o nível de organização do respectivo Ministério Público, que é a parte adversa, como órgão de acusação, no processo da ação penal pública. ⭕ O art. 68, CPP, o qual trata da propositura de ação civil ex delicto pelo MP, é uma lei ainda constitucional e que está em trânsito, progressivamente, para a “inconstitucionalidade”, à medida que as Defensorias Públicas forem sendo, efetiva e eficazmente, instaladas. 12. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM PRONÚNCIA DA NULIDADE (OU SEM EFEITO ABLATIVO) A Corte Suprema reconhece que a norma é inconstitucional, mas a mantém no ordenamento jurídico até que nova lei seja editada em sua substituição. Isto é, a eficácia da lei fica suspensa até que o legislador manifeste-se sobre a situação inconstitucional.24 Ex: município putativo (ADI 2.240). 13. INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL25 Ocorre quando um enunciado normativo, em regra, válido, ao ser aplicado em determinadas circunstâncias, produz uma norma inconstitucional. Em outras palavras, a inconstitucionalidade circunstancial se dá quando determinada norma, embora seja válida, quando confrontada com uma situação específica, torna-se inconstitucional em decorrência do seu contexto particular. 25 Lenza, Pedro. Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, pág. 248 24https://jus.com.br/artigos/31062/apontamentos-sobre-a-tecnica-da-declaracao-de-inconstitucionalidade-sem-pronuncia-D e-nulidade-no-julgamento-das-normas-sobre-numeros-de-deputados-no-stf#:~:text=(3)%20Declara%C3%A7%C3%A3o %20de%20inconstitucionalidade%20sem,seja%20editada%20em%20sua%20substitui%C3%A7%C3%A3o. 23 Lenza, Pedro. Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, pág. 244 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 27 14. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO “ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL” OU DO “DESVIO DO PODER CONSTITUINTE”26 Segundo Pedro Lenza, a finalidade do princípio é “vedar qualquer mecanismo a ensejar o ‘atalhamento constitucional’, vale dizer, qualquer artifício que busque abrandar, suavizar, abreviar, dificultar ou impedir a ampla produção de efeitos dos princípios constitucionais”. Esse princípio, de origem alemã, foi aplicado no caso em que, visando burlar o princípio da anualidade, previsto no art. 16, CF, foi editada a EC 52/06 com efeitos retroativos, afirmando que esta teria aplicação nas eleições ocorridas em 2002. Nesse caso, haveria desvio de poder ou finalidade pela utilização de meio aparentemente legal com o objetivo de atingir fim ilícito. Percebe-se, portanto, que o princípio veda qualquer artifício que busque abrandar, suavizar, abreviar, dificultar ou impedir a ampla produção de efeitos dos princípios constitucionais, como, no caso, do princípio da anualidade do processo eleitoral. 15. CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE 15.1 PRONUNCIAMENTO EM ABSTRATO ACERCA DA VALIDADE DA NORMA O controle concentrado foi introduzido no Direito brasileiro no ano de 1965 através da EC 16/1965 (emenda à Constituição de 1946). Trata-se de exercício ATÍPICO de jurisdição, pois não há litígio ou partes (existem apenas sob o aspecto formal), nem um caso concreto que deve ser solucionado mediante a aplicação da lei pelo julgador. É um processo objetivo, destinado à proteção do próprio ordenamento. O controle concentrado é de competência originária do STF quando visa à aferição de leis em face da Constituição Federal. No âmbito estadual o TJ será competente quando o confronto for entre as leis locais e a Constituição do Estado. ATENÇÃO O controle concentrado em face da CF é exercido exclusivamente perante o STF por meio das seguintes ações: ADI - Ação Direta De Inconstitucionalidade ADO - Ação Direta De Inconstitucionalidade Por Omissão ADC - Ação Declaratória De Constitucionalidade ADPF - Arguição De Descumprimento De Preceito Fundamental 26 Lenza, Pedro. Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, pág. 252 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 28 QUESTÕES PRINCIPAIS a) Cumpre ao tribunal manifestar-se especificamente acerca da validade de uma lei e sobre sua permanência ou não no sistema, diferindo do controle por via incidental, no qual a discussão da constitucionalidade é questão prejudicial. b) Cabe ao autor indicar os atos infraconstitucionais que considera incompatíveis com a CF e as normas constitucionais em face das quais estão sendo questionados, com as respectivas razões. 15.2. MOMENTO A PARTIR DO QUAL A DECISÃO SE TORNA OBRIGATÓRIA A decisão, seja definitiva ou cautelar, torna-se obrigatória a partir da publicaçãoda ata da sessão de julgamento no DOU ou DJU, não sendo necessário aguardar o trânsito em julgado. 15.3. TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE POR “ARRASTAMENTO” OU “ATRAÇÃO”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE DE PRECEITOS NÃO IMPUGNADOS”, OU INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENCIAL, OU INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE OU DERIVADA, OU “INCONSTITUCIONALIDADE POR REVERBERAÇÃO NORMATIVA”, OU INCONSTITUCIONALIDADE SECUNDÁRIA27 Pela referida teoria, se em determinado processo de controle concentrado de constitucionalidade for julgada inconstitucional a norma principal, em futuro processo, outra norma dependente daquela que foi declarada inconstitucional em processo anterior, tendo em vista a relação de instrumentalidade que entre elas existe, também estará eivada pelo vício de inconstitucionalidade “consequente”, por “arrastamento” ou “atração”. Nesse sentido: 4. A inexistência de dependência normativa inviabiliza eventual declaração de inconstitucionalidade por arrastamento dos dispositivos não impugnados. Precedente: ADI 2.895, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ de 20/5/2005. 5. A declaração de inconstitucionalidade por arrastamento ou atração não se presta a suprir carências no exercício do direito de ação. Precedentes: ADI 4.647, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, DJe de 21/6/2018; ADI 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJ de 23/4/2004; ADI 1.775, Rel. Min. Maurício Corrêa, Plenário, DJ de 18/5/2001. (STF, ADI 5922 AgR, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 14/02/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-049 DIVULG 06-03-2020 PUBLIC 09-03-2020) Essa técnica da declaração de inconstitucionalidade por arrastamento pode ser aplicada tanto em processos distintos como em um mesmo processo, situação que vem sendo verificada com mais frequência na jurisprudência do STF. Ou seja, já na própria decisão, a Corte define quais normas são atingidas, e no 27 Lenza, Pedro. Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, pág. 243 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 29 dispositivo, por “arrastamento”, também reconhece a invalidade das normas que estão “contaminadas”, mesmo na hipótese de não haver pedido expresso na petição inicial. Trata-se, sem dúvida, de exceção à regra de que o juiz deve ater-se aos limites da lide fixados na exordial (princípio da adstrição), especialmente em razão da correlação, conexão ou interdependência dos dispositivos legais e do caráter político do controle de constitucionalidade realizado pelo STF. 15.3.1. INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO HORIZONTAL São as hipóteses de inconstitucionalidade parcial geradoras da inconstitucionalidade total, isto é, quando dentro do mesmo sistema normativo existe relação de dependência entre elas, seja lógica (ex: alínea que não sobrevive sem o restante do corpo do artigo) ou teleológica (a inconstitucionalidade muda o sentido ou a finalidade da norma que restar no ordenamento). 15.3.2. INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO VERTICAL A declaração de inconstitucionalidade incide, por consequência, em norma ligada hierarquicamente à norma objeto do pedido inicial. Exemplo, inconstitucionalidade de uma lei que conduz à inconstitucionalidade do decreto que a regulamenta. 15.4. PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE28 O STF pode julgar parcialmente procedente o pedido de declaração de inconstitucionalidade, expurgando do texto legal apenas uma palavra ou expressão, diferentemente do que ocorre com o veto presidencial. Trata-se de interpretação conforme com redução de texto, verificada, por exemplo, na ADI 1.227, suspendendo a eficácia da expressão “desacato”, do art. 7º, § 2º, do Estatuto dos Advogados. 15.5. DESCABIMENTO DO CONTROLE ABSTRATO POR VIA DAS AÇÕES DIRETAS29 Para fiscalização preventiva (projetos legislativos e propostas de EC). Para atacar atos normativos já revogados ou com eficácia suspensa ou já exaurida. Exceções: casos em que: ⭕ a revogação do ato atacado, ocorrida no curso do processo, seja considerada fraude processual; ⭕a petição inicial tenha sido emendada, antes da apreciação do requerimento de liminar, com a finalidade de incluir no objeto da ação a lei revogadora que reproduzirá as normas impugnadas, desde que a revogação tenha ocorrido na pendência do processo; ⭕ a ação já haja sido julgada antes da notícia da revogação da norma impugnada; e ⭕ a norma impugnada tiver sido reproduzida em texto posterior de ato normativo equivalente. Para controlar antinomias que envolvam o critério cronológico. 29 Bernardes e Ferreira (p. 499), via dizerodireito 28 Lenza, Pedro. Direito Constitucional esquematizado / Pedro Lenza. – Coleção esquematizado® / coordenador Pedro Lenza – 24. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, pág. 271 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 30 16. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ADI A ação direta de inconstitucionalidade (ADI) é uma ação típica do do controle concentrado, tem como finalidade a defesa da ordem jurídica, através da apreciação da constitucionalidade, de lei ou ato normativo (federal ou estadual) em face das regras e princípios da CF. É possível o ajuizamento de ADI nos âmbitos estadual e federal de maneira simultânea? (“simultaneus processus”) Sim. Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma ajuizada perante o tribunal de justiça local e outra perante o STF, o julgamento da primeira – estadual – somente prejudica o da segunda – do STF – se preenchidas duas condições cumulativas: Se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação e Se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com preceito da Constituição do Estado sem correspondência na Constituição Federal. Caso o parâmetro do controle de constitucionalidade tenha correspondência na Constituição Federal, subsiste a jurisdição do STF para o controle abstrato de constitucionalidade. STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/12/2018 (Info 927) .30 16.1. LEGITIMAÇÃO 16.1.1. LEGITIMIDADE PASSIVA Órgãos ou autoridades responsáveis pela lei ou ato normativo objeto da ação, aos quais caberá prestar informações ao relator. A defesa propriamente dita caberá ao AGU, independentemente de sua natureza federal ou estadual. ATENÇÃO O STF, na ADI 4667, pontuou que “A teor do disposto no artigo 103, § 3º, da Carta Federal, no processo objetivo em que o Supremo aprecia a inconstitucionalidade de norma legal ou ato normativo, o Advogado-Geral da União atua como curador, cabendo-lhe defender o ato ou texto impugnado, sendo imprópria a emissão de entendimento sobre a procedência da pecha”. 30 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual julgada primeiro. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/49ef08ad6e7f26d7f200e1b2b9e6e4ac>. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 31 16.1.2. LEGITIMIDADE ATIVA LEGITIMADOS ATIVOS UNIVERSAIS ESPECIAIS Podem propor a ADI e a ADC independentemente da existência de pertinência temática São aqueles dos quais se exige pertinência temática como requisito implícito de legitimação I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou a Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou o Governador do Distrito Federal; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 🔴 NEUTROS OU UNIVERSAIS a) PR: independe de sua participação direta no processo de elaboração, seja com iniciativa ou sanção. b) Mesa do CN: não pode propor ADI. c) PGR: possui juízo discricionário. d) Partidos políticos: a aferição da legitimidade deve ser feita no momento da propositurada ação. 🔴 INTERESSADOS OU ESPECIAIS a) Mesa da AL: necessitam de pertinência temática, que vem a ser o vínculo objetivo entre a norma impugnada e a competência da casa legislativa ou do Estado do qual é ela o órgão representativo. b) Governador: situação análoga à da Mesa da AL, sendo possível ajuizar ação tendo por objeto lei ou ato normativo originários de seu Estado, da União ou mesmo de outros Estados da Federação, se interferirem ilegitimamente em competências ou interesses juridicamente protegidos do seu Estado. ATENÇÃO Governador de Estado afastado cautelarmente de suas funções — por força do recebimento de denúncia por crime comum — não tem legitimidade ativa para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade. STF. Plenário. ADI 6728 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/4/2021 (Info 1015). c) Entidades de classe de âmbito nacional d) Confederação sindical ATENÇÃO PARA QUE AS CONFEDERAÇÕES SINDICAIS E AS ENTIDADES DE CLASSE POSSAM PROPOR ADI E ADC, O STF EXIGE O CUMPRIMENTO DOS SEGUINTES REQUISITOS: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 32 ⭕ A caracterização como entidade de classe ou sindical, decorrente da representação de categoria empresarial ou profissional; ⭕ A abrangência ampla desse vínculo de representação, exigindo-se que a entidade represente toda a respectiva categoria, e não apenas fração dela; ⭕ O caráter nacional da representatividade, aferida pela demonstração da presença da entidade em pelo menos 9 estados brasileiros; e ⭕ A pertinência temática entre as finalidades institucionais da entidade e o objeto da impugnação. STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/10/2020 (Info 995).31 16.2. OBJETO Lei ou ato normativo federal ou estadual, desde que editados após a promulgação da CF/88. A palavra lei compreende todas as espécies normativas do art. 59, CF. CF - Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VII - resoluções. ATENÇÃO As leis municipais não podem ser impugnadas por ADI perante o Supremo Tribunal Federal. Vale lembrar que o Distrito Federal possui natureza híbrida, ou seja, possui competência estadual e municipal. Sendo assim, as leis distritais poderão ser impugnadas em ADI perante o STF? Leis Distritais editadas no desempenho da competência estadual poderão ser impugnadas em ADI perante o STF. Leis Distritais editadas no desempenho da competência municipal NÃO poderão ser impugnadas em ADI perante o STF. 31 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Entidade de classe que representa apenas parte da categoria profissional (e não a sua totalidade), não pode ajuizar ADI/ADC. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a8acc28734d4fe90ea24353d901ae678 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 33 OBSERVAÇÕES32 ⭕ Lei delegada: em tese, sujeita-se a duplo controle jurisdicional de constitucionalidade: sobre a resolução do CN que veicula a delegação, bem como sobre a lei delegada propriamente dita, elaborada pelo PR. Além disso, pode ser submetida a controle político, nos termos do art. 49, V, CF. ⭕ Medida Provisória: a apreciação dos requisitos de relevância e urgência fica por conta do CN e do PR, de modo que o controle judicial exercido pelo STF só terá lugar quando a ausência dos requisitos puder ser evidenciada objetivamente, sem depender de uma avaliação discricionária, ou seja, o exame deve ser feito cum grano salis, com muita parcimônia. Em uma ADI proposta é possível que o STF julgue inconstitucional medida provisória pelo fato de ela não ter relevância e urgência? SIM. O STF admite a possibilidade de controle judicial dos pressupostos de relevância e urgência para a edição de medidas provisórias. No entanto, “o escrutínio a ser feito pelo Judiciário neste particular é de domínio estrito, justificando-se a invalidação da iniciativa presidencial apenas quando atestada a inexistência cabal desses requisitos” (RE 592.377).33 A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária de competência do Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional. Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos da MP. No caso de MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária, deve prevalecer, em regra, o juízo do administrador público, não devendo o STF declarar a norma inconstitucional por afronta ao art. 62 da CF/88. STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851). ⭕ Medida Provisória que abre crédito extraordinário (art. 62 c/c art. 167, § 3º, CF): ao contrário do que ocorre em relação aos requisitos de relevância e urgência (art. 62, CF), que se submetem a uma ampla margem de discricionariedade por parte do Presidente da República, os requisitos de imprevisibilidade e urgência (art. 167, § 3º, CF) recebem densificação normativa da Constituição. Nesse contexto, os conteúdos semânticos das expressões “guerra”, “comoção interna” e “calamidade pública” constituem vetores para a interpretação e aplicação do art. 167, § 3º c/c o art. 62, § 1º, I, “d”, CF. ⭕ Normas orçamentárias: podem ser objeto de controle abstrato de constitucionalidade. 33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível o controle judicial dos pressupostos de relevância e urgência para a edição de medidas provisórias, no entanto, esse exame é de domínio estrito, somente havendo a invalidação quando demonstrada a inexistência cabal desses requisitoso. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/74a9d40b0df3a01eda99c4463b607dd1> 32 LENZA (2020). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - 34 É cabível a propositura de ADI contra lei orçamentária, lei de diretrizes orçamentárias e lei de abertura de crédito extraordinário. STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/3/2016 (Info 817).34 ⭕ Atos de revisão constitucional: podem ser objeto de controle de constitucionalidade. ⭕ Atos normativos: podem ser resoluções administrativas dos tribunais; atos estatais de conteúdo meramente derrogatório, como as resoluções administrativas, desde que incidam sobre atos de caráter normativo (generalidade e abstração); deliberações administrativas dos órgãos judiciários. Ex: decisão administrativa de TJ que estende gratificação a todos os servidores do Judiciário estadual (STF, ADI 3.202, Info 734). O STF admite o uso das ações do controle concentrado de constitucionalidade para o exame de atos normativos infralegais, nos casos em que a tese de inconstitucionalidade articulada pelo autor propõe o cotejo da norma impugnada diretamente com o texto constitucional. STF. Plenário. ADI 3481/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/3/2021 (Info 1008)35 ATENÇÃO No caso de atos normativos secundários (decretos regulamentares, portarias, resoluções), duas hipóteses são possíveis: - Ato administrativo em desconformidade com a lei que lhe cabia regulamentar: ilegalidade. - A própria lei está em desconformidade com a CF: ela é que deverá ser impugnada. Nesse contexto, por estarem subordinados à lei, via de regra, não se submetem a controle de constitucionalidade em sede de ADI, pois os referidos atos serão ilegais e não inconstitucionais (“crise de legalidade”). Como se vê, o objeto não seria ato normativo primário, com fundamento de validade diretamente na Constituição, mas ato secundário, com base na lei, não se admitindo, portanto, controle de inconstitucionalidade por via indireta, reflexa ou oblíqua. Um Decreto pode ser considerado ato normativo para os fins do art. 102, I, da CF/88? Um decreto pode ser objeto de ADI? 36 Decreto que apenas regulamenta
Compartilhar