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CEL0017-WL-LC-02-01-Trecho da Narrativa de Watson

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- Foi em 4 de março. Lembro-me bem da data. Levantei-me mais 
cedo que o normal e encontrei Sherlock Holmes, que ainda não 
terminara seu café da manhã. A governanta estava tão 
acostumada com meus hábitos que ainda não colocara meu lugar 
à mesa nem preparara meu café. Com a pouco sensata petulância humana, sacudi a 
sineta para chamá-la e intimei-a a me servir. Então peguei uma revista na mesa e 
procurei me distrair com ela, enquanto meu companheiro mastigava 
silenciosamente sua torrada. O título de um dos artigos estava marcado a caneta. 
Isso atraiu minha atenção e comecei a lê-lo. O título era algo ambicioso – “O livro 
da Vida” -, e o artigo procurava demonstrar o quanto um bom observador pode 
aprender com o exame sistemático e preciso de tudo o que aparece à sua frente. 
Aquilo tudo me pareceu uma incrível mistura de astúcia e absurdos. A 
argumentação era forte e consistente, mas as deduções me pareceram ir 
exageradamente longe demais. O autor dizia ser capaz de penetrar profundamente 
nos pensamentos mais íntimos de uma pessoa por meio de uma expressão fugaz, 
uma contração muscular ou um relance de olhar de acordo com ele seria impossível 
enganar alguém treinado em observação e análise. Suas conclusões seriam tão 
infalíveis quanto muito das proposições de Euclides. Os resultados obtidos por tal 
pessoa seriam tão estarrecedores que os não iniciados nesses estudos julgariam que 
ela tem poderes mediúnicos. “A partir de uma gota d’água, dizia o autor, “um 
pensador lógico poderia inferir a possibilidade de um Atlântico ou de um Niágara, 
sem ter visto ou ouvido qualquer um deles. Assim é a vida, uma grande corrente 
cuja natureza podemos conhecer analisando um único elo. Como todas as outras 
artes, a Ciência da Dedução e Análise só pode ser adquirida mediante estudos 
longos e pacientes. Contudo, a vida não é extensa o suficiente para permitir que 
qualquer mortal chegue à perfeição nesta ciência”. (...) Que baboseira indizível! – 
exclamei, jogando a revista na mesa. Nunca li tolice maior na vida. 
 
- O que foi? – perguntou Sherlock Holmes. 
 
 
 
 
 
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- Este artigo – eu disse apontando com minha colher, enquanto me sentava para 
tomar o café. Percebo que você já o leu, pois o título está marcado. Não nego que 
está muito bem escrito. Mas é irritante. Trata-se, evidentemente, de algum 
“doutor de gabinete”, que chega a essas brilhantes conclusões sem nunca pôr o 
nariz na rua. Não é algo prático. Gostaria de vê-lo num vagão de terceira classe do 
metrô adivinhando as profissões de todos os passageiros. Apostaria mil por um 
contra ele. 
 
- Perderia dinheiro, disse Holmes, calmamente. – Quanto ao artigo, fui eu que 
escrevi. 
 
- Você?! 
 
- Sim, tenho uma disposição natural para observação e análise. As teorias que 
expus nesse artigo e que lhe parecem delírios são, na verdade, extremamente 
práticas. Tão práticas que ganho meu pão com elas. (...) Lembro-me de que o 
surpreendi quando disse, em nosso primeiro encontro, que você estivera no 
Afeganistão. 
 
- Não tenho dúvidas de que alguém lhe contou. 
 
- Nada disso. Eu sabia que você estivera no Afeganistão. Devido ao longo hábito, o 
fluxo de pensamentos corre tão rapidamente no meu cérebro que cheguei a essa 
conclusão sem refletir sobre ela. O fluxo de deduções foi o seguinte: “Aqui está um 
homem do tipo médico, mas com certa atitude militar. Claramente, então, um 
médico do Exército. Ele acaba de chegar dos trópicos, pois sua pele está morena e 
esta não é a sua cor natural, pois os pulsos são claros. Ele passou por maus bocados 
e esteve doente, como seu rosto maltratado denuncia. Foi ferido no braço 
esquerdo, pois o mantém parado de forma não natural. Onde, nos trópicos, um 
médico militar passaria por maus bocados e teria o braço ferido? Claramente, no 
 
 
 
 
 
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Afeganistão”. Todo o fluxo de pensamento não dura um segundo. Então, fiz meu 
comentário, dizendo de onde você veio, o que o deixou espantado.

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