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Indivíduo e mudança social: Sociedades humanas habitam um mundo em constante transformação. Consequentemente, em virtude do aparecimento constante de novos problemas, fenômenos ou situações que estressem a tessitura da sociedade em que o indivíduo se encontra inserido, cabe ao indivíduo participar de tal sociedade buscando soluções para essas situações de estresse, tendo em vista que nenhuma sociedade pode sobreviver sem o inventor ou idealista ocasional e sua capacidade de encontrar soluções inovadoras para tais questões. Ainda que, como uma simples unidade inserida em um organismo social este mesmo indivíduo acabe, necessariamente, contribuindo para a perpetuação do status quo vigente naquela sociedade. A relação do indivíduo com o grupo social é traduzida pela constante contradição entre as suas necessidades individuais (alimento, abrigo, reprodução) e as necessidades coletivas do grupo (equilíbrio, estabilidade, preservação do status quo e da normalidade). E são das reações desses indivíduos aos estímulos recebidos de parte dos fenômenos sociais, a forma que estes indivíduos respondem, seja com uma postura altruísta ou com uma postura egoísta, que nascem ou morrem a maioria dos fenômenos sociais e processos transformativos dessas sociedades. O processo de interação entre indivíduo e sociedade, é portanto, a manifestação da contradição entre, por um lado, uma consciência particular e individual, voltada, prioritariamente, para a satisfação das necessidades básicas de sobrevivência deste mesmo indivíduo (abrigo, alimento, reprodução) e, por outro lado, uma consciência comum ou coletiva, composta de padrões estabelecidos (normas de convívio social, implícitas e explícitas) como coletivamente aceitáveis, dentro dos termos do chamado "contrato social" ao qual os membros daquele determinado grupo social aderem e se submetem. Contudo, a vida social gera conflitos inerentes à este próprio convívio, que como vimos provocam estresse sobre estas normas de convívio social vigentes, sobre o status quo. Por um lado, temos o conflito, representado pela pressão transformadora (resultante da resposta a novos fenômenos sociais ou do acirramento daqueles conflitos intrínsecos ao convívio social). Por outro lado, temos o sistema de recompensas sociais, representado pela capacidade dos agentes sociais em usufruirem das recompensas sociais estabelecidas como parte de sua adesão ao conjunto de normas de convivência. Recompensas estas tais como o suporte do grupo no caso de eventos além do controle do indivíduo, por exemplo, a capacidade da sociedade de prover alimento e abrigo para os indivíduos que se encontrem incapazes de fazê-lo por seus próprios meios, a capacidade da sociedade de prover segurança e proteção contra predadores ou elementos beligerantes oriundos de outro grupo social, ou ainda a capacidade da sociedade de resolver conflitos e controlar ou eliminar processos de comportamento social desviante que possam vir a ameaçar as necessidades, ou mesmo a sobrevivência, do indivíduo ou do seu núcleo social mais próximo (família, por exemplo), e, nas sociedades modernas, a capacidade do indivíduo de receber do convívio social com outros indivíduos, produtos ou serviços que esses outros indivíduos são capazes de produzir, e aquele indivíduo não é capaz de produzir, como consequência do processo de especialização, e alienação, provocado pela divisão social do trabalho. Por conseguinte, enquanto se mantenha o equilíbrio entre este conflito e este sistema de recompensas, a ruptura da ordem social, ou ainda a fragmentação do grupo social, podem ser adiadas, ou mesmo evitadas. Entretanto, quando o balanço entre a situação de estresse social provocada pelos conflitos, e as recompensas individuais e sociais obtidas pelo respeito as normas de convívio social, começa a pender drasticamente para o acirramento dos conflitos, a tendência é de que esse processo de ruptura da ordem vigente, ou até mesmo de fragmentação do grupo social, venha a ocorrer. Se este processo ocorre na esfera de um indivíduo isolado, normalmente se estabelece aí um comportamento social desviante, no qual as necessidades individuais daquele agente social específico entram em conflito com as normas sociais estabelecidas pela consciência comum ou coletiva. Quando este processo de acirramento do conflito, ultrapassa a esfera de um único indivíduo, e transborda em um processo coletivo, normalmente estabelecesse aí o início de um processo de transformação ou ruptura da estrutura social então vigente.
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