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Mariana Alencastro Turma XVII Objetivo 1: Compreender a consulta psiquiátrica Introdução -> A postura do médico deve ser de suporte e compreensão, garantindo ao paciente um ambiente seguro em que ele possa se abrir. Começa com o vínculo de autenticidade que mostra que você está disponível para ajudar o paciente e controlar a insegurança e ansiedade. Logo após o vínculo de empatia e conhecimento. -> Deve se iniciar deixando o paciente falar livremente, expondo queixas e nessa fase já se avalia o seu psiquismo. Depois, o médico deve inquirir detalhes e esclarecer pontos que ficaram sem esclarecimento. -> Essas perguntas devem começar com um teor mais geral e se aprofundando conforme a entrevista vai acontecendo e devem ser feitas de modo confirmatório evitando a indução de respostas. (Técnica de queixa) -> Após formular as hipóteses, essas devem ser expostas de forma clara e objetiva assim como a conduta a ser tomada e separar um momento apenas para as dúvidas que surgirem. (Técnica de esclarecimento e direcionamento) ● As principais técnicas de esclarecimento são: ○ especificação quando precisa de respostas precisas ○ generalização quando precisa de respostas sobre padrões gerais de problemas mas o paciente fala algo específico ○ quantificação quando o examinador precisa atribuir valor a problemas ou comportamentos e o paciente se sente incapaz de fazer ○ verificação de sintomas quando o paciente é vago ou pouco fluente ○ sondagem quando um paciente atribui significado bizarro ou muito pessoal para uma vivência e não é claro ○ inter-relacionamento quando o paciente relaciona eventos de maneira ilógica e precisa de esclarecimento ○ sumário para focar a atenção do paciente possibilitando uma contra checagem -> Técnicas de direcionamento são utilizadas para gerenciar o fluxo de informações e o andamento da entrevista: continuação, transições (suaves, acentuadas e abruptas) e redirecionamento, Mariana Alencastro Turma XVII -> Técnicas de resistência ajudam o paciente relutante a falar algum problema que inicialmente teme expor ao examinador: aceitação, confrontação, mudança de perspectiva, exagero, vaidade -> Técnicas de defesa ajudam o paciente a revelar algum problema que inicialmente está oculto não apenas para o examinador. História psiquiátrica -> Após a identificação abre espaço para a queixa ou relato principal, caracterizando o início dos sintomas, apresentação, periodicidade e possíveis tratamentos medicamentosos ou internações prévias. -> Também nesse momento deve fazer a caracterização dos antecedentes biográficos como comportamento durante infância e adolescência, história ocupacional e conjugal, padrão de relacionamentos interpessoais e características de personalidade pré-mórbida. -> Antecedentes pessoais clínicos assim como os hábitos de vida devem ser abordados tal qual em uma entrevista clínica, investigando possível correlação temporal entre eles. -> Por último deve investigar a história familiar com ênfase na presença de doenças psiquiátricas e dependência de drogas entre os parentes e aproveitar para compreensão do contexto familiar e social do entrevistado. Observação -> Verifica a vigília, aparência, postura, expressão facial e motricidade -> Chamamos de soft signs aqueles sinais que nos deixam com alerta, como se com “uma pulga atrás da orelha”. Eles são sugestivos de transtornos, mas não específicos, e podem ter múltiplas causas possíveis. -> Já os hard signs nos dão a certeza do problema, indicativos de transtornos, com alguma especificidade. Em geral, fazem parte dos critérios diagnósticos de transtornos mentais ou de personalidade. Exame psíquico -> No prontuário o médico pode se abster de termos técnicos para poder criar um painel mais aproximado de como está o psiquismo do paciente na entrevista. -> As funções psíquicas principais e os sintomas que podem advir de suas alterações são listados de forma relativamente hierarquizada, ou seja: 1º: avalia se o paciente está consciente pois se não tiver outras funções serão afetadas, se não tiver com a atenção preservadas a memória será prejudicada e se o afeto estiver muito deprimido a psicomotricidade estará lentificada e assim por diante. Consciência Mariana Alencastro Turma XVII -> Para o exame psiquiátrico importa o nível de consciência e de alerta e de quão desperto e funcionante está o sistema nervoso central. ● Alerta, vigil, sonolência, torpor, estupor e coma. -> Além das alterações quantitativas a qualidade da consciência eventualmente se encontra alterada. O paciente pode apresentar estreitamento da consciência, quando o foco fica restrito (ansiedade, intoxicações ou crises epilépticas, dissociação de consciência). Fazem parte ainda das alterações qualitativas os estados crepusculares vistos em quadros orgânicos como epilepsia. Atenção e concentração -> Capacidade de focalizar num objeto de maneira intencional podendo ser de natureza voluntária ou involuntária. Quanto maior o grau de atenção voluntária menor de involuntária e vice-versa. -> Concentração reflete a capacidade de manter a atenção voluntária. Orientação -> Capacidade de um indivíduo de estimar precisamente o tempo, espaço e as pessoas, se incluindo, no ambiente corretamente. -> Orientação temporal, espacial e autopsíquica. Memória -> Dividida em memória de longa duração, curta duração e imediata. ● Longa: memórias mais antigas que podem ser avaliadas enquanto paciente conta sua história ● Curta: mantidas por pouco tempo como número de telefone ● Imediata ou de trabalho: entender coerência de uma frase embora já não lembre exatamente quais eram as primeiras palavras lidas. Está ligada à atenção. -> Pode ser medida com testes simples específicos como gravar palavras ou nomes -> Déficits podem indicar confabulações que são as falsas memórias criadas pelo paciente para suprir lacunas abertas Pensamento e linguagem -> A forma de acessar o pensamento do paciente é sobretudo por meio do discurso, cuja avaliação acaba tendo pontos em comuns com a avaliação do pensamento. -> Deve analisar quanto a forma, curso e conteúdo. -> Alterações que acontecem principalmente em quadros psicóticos ou maniformes: afrouxamento de associações, arboriforme (desorganização mas na linha do raciocínio), fuga de ideias e desagregado. Também pode ter aceleração em síndromes maníacas ou lentificação como na depressão. Mariana Alencastro Turma XVII sensopercepção, juízo e crítica, afeto e humor, volição, impulso e prospecção, psicomotricidade e inteligência Objetivo 2: Caracterizar o transtorno bipolar Epidemiologia -> Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é considerada a sexta causa de incapacidade em indivíduos na faixa etária entre 15 e 44 anos ao redor do mundo. -> Dependendo do estudo, a prevalência estimada de transtorno bipolar ao longo da vida entre adultos em todo o mundo é de 1 a 3 por cento. Pesquisas comunitárias em 14 países descobriram que a prevalência ao longo da vida de transtorno bipolar I e transtorno bipolar II foi de 2,8 por cento. -> A idade média de início para transtorno bipolar I é de 18 anos e para transtorno bipolar II de 20 anos. A proporção de homens para mulheres que desenvolvem transtorno bipolar é de aproximadamente 1:1. -> Cerca de 4% da população adulta mundial sofre de transtorno bipolar e, segundo a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), essa prevalência vale também para o Brasil, o que representa 6 milhões de pessoas no país. Mariana Alencastro Turma XVII Fatores de risco -> Há alguns fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de transtorno bipolar. Entre eles estão: ● histórico familiar da doença; ● estresse intenso; ● uso e abuso de drogas recreativas e/ou álcool; ● mudanças de vida e experiências traumáticas; ● ter entre 15 e 25 anos, uma vez que homens e mulheres possuem as mesmas chances de desenvolver a doença. Fisiopatologia -> Os conhecimentos sobre a fisiopatologia do TB são poucos.As teorias iniciais focaram no sistema de neurotransmissão das aminas biogênicas. Teorizado inicialmente uma diminuição no transporte de transmissores no neurônio pré-sináptico e/ou nas vesículas sinápticas. Entretanto, os modelos focados em um único neuromodulador não explica as diversas apresentações clínicas desse transtorno. -> Estudos pós-mortem demonstraram diminuição significativa de células gliais no córtex pré-frontal e sistema límbico e de células neuronais no córtex pré-frontal e hipocampo de indivíduos com TB. -> O processo de geração de estados afetivos complexos envolve alguns passos ● O córtex insular e o núcleo caudado participam do processo de identificação do significado emocional do estímulo ● O córtex pré frontal ventrolateral, o córtex orbitofrontal, o córtex insular, o giro cingulado anterior, a amígdala e o estriado participam da resposta afetiva frente aos estímulos ● A regulação afetiva e comportamental, por sua vez, é desempenhada pelo córtex pré-frontal dorsolateral e dorsomedial, pelo hipocampo e pelo giro cingulado anterior dorsal. -> Estudos que avaliaram a performance de pacientes bipolares em tarefas cognitivas demonstraram prejuízo nos testes de atenção e de memória de trabalho, além de dificuldade de reconhecimento de expressões faciais de medo, tristeza e alegria e tendência a perceber estímulos neutros como particularmente negativos. Estes achados são apoiados pelos estudos pós-mortem, que demonstraram diminuição significativa do número e densidade de células neuronais no córtex pré-frontal, dorsolateral e hipocampo e pelos estudos neurofuncionais, que observaram alterações no metabolismo da amígdala, do córtex insular, orbitofrontal e cingulado anterior dorsal e na cabeça do caudado Mariana Alencastro Turma XVII -> Diminuição da liberação e da atividade da 5-HT podem estar associadas a algumas anormalidades como ideação suicida, tentativas de suicídio, agressividade e distúrbios do sono, achados freqüentes nos transtornos bipolares. -> A participação da 5-HT na fisiopatologia do TAB, formulando a hipótese permissiva, na qual um déficit na neurotransmissão serotoninérgica central permitiria a expressão tanto da fase maníaca, quanto da depressiva; contudo, tais fases diferiram em relação aos níveis de catecolaminas (noradrenalina e dopamina) centrais, que estariam elevadas na mania e diminuídas na depressão. -> Um dos achados mais consistentes em relação ao papel da dopamina na neurobiologia do TAB é o fato de agonistas dopaminérgicos diretos e indiretos simularem episódios de mania ou hipomania em pacientes com transtorno bipolar subjacente ou predisposição ao mesmo. -> Um menor débito de noradrenalina e uma menor sensibilidade dos receptores a2 são relatados, em contraste com uma tendência de maior atividade da noradrenalina em estados maníacos. -> Dados clínicos indicam que um decréscimo na função GABAérgica acompanha os estados maníacos e depressivos, e que agonistas do GABA possuem propriedades antidepressivas e antimaníacas. -> O sistema glutamatérgico na etiologia da TAB tem se mostrado pelo uso de estabilizadores de humor quando aumentam as concentrações de glutamato na sinapse causando uma up regulation da atividade do transportador. -> Apesar da gama de alterações observadas no nível dos neurotransmissores e da interação desses com seus receptores, tem-se demonstrado que anormalidades em rotas de sinalização intracelular estão diretamente relacionadas a uma série de alterações nos sistemas de neurotransmissão. -> As proteínas G realizam a transdução de sinal de mais de 80% das moléculas extracelulares de sinalização, incluindo hormônios, neurotransmissores e neuromoduladores. Dois estudos iniciais demonstraram um aumento dos níveis da proteína G estimulatória (G) no córtex frontal, temporal e occipital de indivíduos com TAB. -> Estudos demonstraram que o lítio e o ácido valpróico aumentam a expressão da proteína AUH, uma das proteínas que estabilizam o RNAm durante a fase de transcrição; desta forma, esses fármacos são capazes de regular a expressão de múltiplos genes no SNC, efeito este que pode ter um papel central no tratamento de uma doença complexa como o TAB. Mariana Alencastro Turma XVII Quadro clínico Mania -> A marca registrada do humor na mania é a euforia (alegria patológica), a expansão e a elação com grandiosidade ou engrandecimento do eu, muitas vezes acompanhado de taquipsiquismo. -> O humor expansivo e eufórico pode alternar-se ou evoluir para irritabilidade ou agressividade, geralmente sem objetivo preciso. O taquipsiquismo se manifesta por características como agitação psicomotora, logorreia, taquilalia e pensamento acelerado ou com fuga de ideias. -> Isso inclui comportamentos de risco, incluindo a hipersexualidade e a desinibição social. Em geral, há envolvimento com atividades perigosas e ações inadequadas tendo em vista o meio sociocultural. -> Quanto aos sintomas somáticos, é comum a sensação de maior energia e disposição, menor necessidade de sono sem prejuízo funcional no dia seguinte ou mesmo marcada agitação psicomotora. -> Existem ainda ideias fixas de grandeza, de poder, que muitas vezes acabam constituindo delírios, chamados de delírios de grandeza, nos quais também se inclui o delírio de referência, isto é, acreditar que algo se refere ao paciente, como a televisão estar falando a seu respeito. Hipomania -> A hipomania é uma síndrome caracterizada pela presença de sintomas maníacos, de intensidade mais leve, à exceção dos sintomas psicóticos que estão ausentes. Entretanto, não causam impacto funcional tão pronunciado como na mania. Por vezes, acaba compreendido pelo indivíduo como um período mesmo benéfico, de maior energia. Portanto, por vezes não recebe atenção médica. Depressão -> Os episódios de depressão no TB são muito semelhantes aos encontrados no transtorno depressivo maior, também chamado de depressão unipolar. De fato, na presença de um paciente deprimido, pode ser difícil determinar se trata-se de depressão bipolar ou unipolar. -> De fato, na maioria dos casos, portadores de TB experimentam vários episódios de depressão antes do desenvolvimento da mania/hipomania e, para a maioria deles, há predominância de episódios depressivos ao longo do curso longitudinal da doença. -> Mais ainda, os sintomas depressivos tendem a permanecer em intensidades mais leves (subsindrômicos) nas fases de remissão da doença e, mesmo assim, podem comprometer a qualidade de vida (QV), prejudicar a funcionalidade e aumentar o risco de recaídas e recorrências dos episódios de manias/hipomanias e depressões. Mariana Alencastro Turma XVII Ciclagem rápida -> É caracterizada pela ocorrência de 4 ou mais fases da doença: mania, hipomania ou depressão, em um período de 12 meses, podendo ser descrita ao longo da vida ou no último ano. Entre os episódios de humor alterado devem existir períodos de remissão dos sintomas por pelo menos 2 meses ou deve haver troca imediata para episódio de polaridade oposta, como um episódio depressivo logo seguido por hipomania. Ideação suicida -> Estima-se que cerca de 25 a 50% de indivíduos com TB tentem suicídio pelo menos uma vez em suas vidas e 8 a 19% cometem o suicídio. -> Os sinais de alerta incluem ameaça de se machucarem, procura por meios de se matar, por exemplo, medicamentos ou armas e desenvolver falas ou escrever sobre morte. Distorções cognitivas são características centrais da depressão que abrangem pensamentos negativos, atitudes e estilos de personalidade disfuncionais. Classificação -> Transtorno bipolar tipo 1: O portador do distúrbio apresenta períodos de mania, que duram, no mínimo, 7 dias, e fases de humor deprimido, que se estendem de 2 semanas a vários meses. Tanto na mania quanto na depressão, os sintomas são intensos e provocam profundas mudanças comportamentais e de conduta -> Transtorno bipolar tipo 2: São pacientes que nunca apresentaram episódios maníacoscompletos. Em vez disso, eles apresentam períodos de níveis elevados de energia e impulsividade que não são tão intensos como os da mania (chamado de hipomania), mas um estado mais leve de euforia, excitação, otimismo e, às vezes, de agressividade; sem prejuízo maior para o comportamento e as atividades do portador. Esses episódios se alternam com episódios de depressão. -> Transtorno bipolar não especificado ou misto: Os sintomas sugerem o diagnóstico de transtorno bipolar, mas não são suficientes nem em número nem no tempo de duração para classificar a doença em um dos dois tipos anteriores. -> Transtorno ciclotímico: Envolve oscilações de humor menos graves. É marcado por oscilações crônicas do humor, que podem ocorrer até no mesmo dia. O paciente alterna sintomas de hipomania e de depressão leve que, muitas vezes, são entendidos como próprios de um temperamento instável ou irresponsável. Mariana Alencastro Turma XVII Diagnóstico -> É preconizado pelo DSM-5 e divide pela classificação dos tipos de bipolaridade -> Transtorno bipolar tipo 1: Os critérios do DSM-5 para transtorno bipolar I requerem a presença de um período distinto de humor anormal de pelo menos uma semana e incluem diagnósticos separados de transtorno bipolar I para um episódio maníaco único e para um episódio recorrente ● Episódio maníaco único: os pacientes devem estar vivenciando seu primeiro episódio maníaco para satisfazer os critérios diagnósticos para transtorno bipolar I, episódio maníaco único. Esse requisito baseia-se no fato de que pacientes que estão tendo seu primeiro episódio de depressão do transtorno bipolar I não podem ser distinguidos daqueles afetados por transtorno depressivo maior. ● Recorrente: Os episódios maníacos são considerados distintos quando são separados por pelo menos dois meses sem sintomas significativos de mania ou hipomania -> Os critérios diagnósticos para transtorno bipolar II são caracterizados por episódios depressivos e hipomaníacos durante o curso do transtorno, mas os episódios de sintomas maníaco-símiles não satisfazem por completo os critérios diagnósticos para uma síndrome maníaca completa -> Transtorno bipolar de ciclagem rápida: episódios maníacos e depressivos alternados, separados por intervalos de 48-72 horas. Tratamento Introdução -> O tratamento de escolha para transtorno bipolar baseia se no uso de agentes estabilizadores de humor, principalmente, carbonato de lítio, ácido valpróico e carbamazepina. Nos casos resistentes, pode ser feita associação entre os estabilizadores do humor. A olanzapina tem sido considerada eficaz no controle da mania aguda e como estabilizador do humor. -> Como o TB é uma doença crônica e recorrente, o tratamento deve enfocar a remissão sintomatológica, a prevenção de recaídas (piora do episódio vigente) e recorrências (aparecimento de novos episódios), com redução dos déficits cognitivos e, consequentemente, boa recuperação funcional. -> O tratamento do TB envolve as terapias biológicas (farmacológicas e não farmacológicas) e as intervenções psicossociais, como as psicoterapias e a psicoeducação. -> As psicoterapias podem ser utilizadas em combinação com a farmacoterapia e alcançar benefícios nos episódios agudos da depressão e na fase de manutenção a longo prazo, promovendo redução das taxas de recaída e de recorrências. Devem Mariana Alencastro Turma XVII ser realizadas preferencialmente por profissional que tenha amplo conhecimento do que é TB Tratamento da hipomania -> O manejo desses estados deve seguir alguns princípios gerais: (1) intervenção comportamental/ambiental; (2) definição do local de tratamento: emergência, ambulatório ou internação; (3) descontinuação dos AD se estiver em uso; (4) investigação de desencadeadores/perpetuadores do episódio. -> Logo após o tratamento medicamentoso deve ser iniciado em que se usa de forma mais indicada os AA (antipsicóticos atípicos) e os EH (estabilizadores de humor) em monoterapia ou em combinação a depender do quadro. -> Na fase aguda todos os AA são indicados com exceção da clozapina e os EH mais utilizados são o lítio e o divalproato de sódio em monoterapia ou combinação com o AA seguidos de carbamazepina e oxcarbazepina. -> Na fase aguda, as concentrações séricas de lítio devem estar em torno de 0,8 e 1,2 mmol/ℓ e na fase de manutenção entre 0,6 e 0,8 mmol/ℓ. Tratamento da depressão bipolar -> Fase aguda: No tratamento da depressão bipolar dos tipos I e II, poucas são as medicações disponíveis e algumas delas, como os próprios AD e os agonistas dopaminérgicos, contribuem para o risco de desenvolvimento de sintomas hipomaníacos/maníacos. ● Como na mania em pacientes que não fazem uso de medicamentos, deve-se fazer uma monoterapia para avaliar a resposta. Nesse caso, o lítio segue a primeira escolha por ter ação profilática e não induz elevação de humor. ● Ensaios clínicos com a lamotrigina demonstraram resposta favorável ● Também se mostram como opção o divalproato e o AA quetiapina e lurasidona. ● Na combinação os AA citados podem ser associados com EH ou AD (preferencialmente ISRS mas depende de cada caso pela elevação de humor) tendo o lítio possível de ser combinado a todas as opções de monoterapia acima. Tratamento de continuação e manutenção -> A fase de continuação começa imediatamente após a remissão dos sintomas agudos. O principal objetivo do tratamento nessa fase é manter a estabilidade do humor e evitar a recaída. Mariana Alencastro Turma XVII -> Lítio: A dosagem deve ser feita sempre doze horas após a última ingestão do comprimido de lítio. Em geral, dosam-se os níveis séricos de cinco a sete dias após o início, e, posteriormente, o controle é feito a cada 3-6 meses. Os efeitos colaterais mais comuns são: sede e poliúria, alterações de memória, tremores, ganho de peso, sonolência, náuseas e diarreia. -> Anticonvulsivantes: O tratamento com valproato deve ser iniciado com doses baixas (250 mg/dia), com aumentos graduais até atingir a concentração sérica de 50 a 100 mcg/ml (não se excedendo a dose de 60 mg/kg por dia). A carbamazepina, da mesma maneira que o valproato, parece ter ação estabilizadora do humor. Em geral, preconizam-se níveis séricos entre 4 e 12 mcg/ml. Tratamento dos casos refratários -> Nos casos de mania refratária, deve-se considerar a adição de clozapina ao esquema usual com lítio ou anticonvulsivantes. Sua eficácia no tratamento das psicoses pode ser extrapolada nesse contexto. Objetivo 3: Elucidar o transtorno depressivo (suicídio) Epidemiologia e fatores de risco -> A depressão é altamente prevalente ao redor do mundo e parece estar aumentando com o passar do tempo. Contudo, dados de prevalência apontam discrepâncias, variando de 3% no Japão até 17% nos EUA. O Brasil tem uma prevalência de 12,6%. -> Cerca de 50% dos pacientes com transtorno depressivo maior têm início do quadro entre os 20 e os 50 anos, e a média de idade para o aparecimento dos sintomas é em torno dos 20 anos. -> Pessoas divorciadas ou sem relacionamentos interpessoais de caráter íntimo apresentam mais propensão a apresentar DM do que pessoas com relacionamentos íntimos duradouros. Mariana Alencastro Turma XVII -> Embora a depressão ocorra mais em áreas rurais do que em áreas urbanas, não foi constatada correlação entre a condição socioeconômica e o transtorno depressivo. -> Em um estudo realizado em 15 diferentes países, que envolveu 72.000 pessoas, observou-se que a taxa de depressão ao longo da vida é cerca de 1,9 vez maior em mulheres do que em homens. Para justificar tal diferença, as hipóteses são estressores psicossociais distintos para homens e mulheres, efeitos do parto e etiologia hormonal. Em adolescentes, a proporção é semelhante à dos adultos. No entanto, em crianças pré-púberes, ocorre o inverso, sendo mais comum o acometimento de meninos do que de meninas. Etiopatogenia -> Embora a compreensão da etiologia da depressão não tenha sido totalmente desvendada,é provável que ela seja o resultado da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, os quais culminam na manifestação do transtorno. Fatores biológicos -> Concentrações baixas de metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal e de zonas de captação de serotonina nas plaquetas são encontradas em alguns pacientes com impulsos suicidas. Pela respostas aos medicamentos a depressão foi entendida como déficit funcional dos transmissores de monoaminas em certos locais do cérebro. Entretanto, essa teoria não explica completamente as bases fisiológicas. -> Sobre a dopamina, sabemos que sua diminuição está associada à depressão em estudos neuroquímicos, genéticos, animais e de neuroimagem. -> Foram encontrados níveis reduzidos de glutamina e ácido gama-aminobutírico (GABA) no córtex pré-frontal de pacientes depressivos não medicados. -> Teoria da dessensibilização dos receptores: propunha a desregulação dos neuroreceptores, alterações no número e na sensibilidade dos receptores monoaminérgicos. -> Teoria neurotrófica: o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) relaciona-se com o desenvolvimento cerebral, diferenciação celular, neuroplasticidade e apoptose, tendo efeito neuroprotetor por toda a vida; a queda na expressão desse fator afeta áreas como o sistema límbico e o hipocampo ● O cortisol causa uma interferência na via de sinalização, alterando o BDNF – age como regulador de feedback negativo no eixo hipotalâmico através do hipocampo; na depressão, o eixo está desregulado e os mecanismos de feedback estão enfraquecidos; ● O cortisol favorece maior atividade da via glutamatérgica, que promove o estresse oxidativo e a morte neuronal; Mariana Alencastro Turma XVII -> Teoria do glutamato: o estresse crônico provoca uma disfunção na via glutamatérgica, que fica hiperativada e provoca a regressão do crescimento neuronal por excitotoxicidade -> Outra teoria é a neuro imuno endócrina: o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal sofre alterações que prejudicam sua regulação aumentando os níveis de cortisol que liberado pelas glândulas suprarrenais se ligam no cérebro com alta afinidade aos receptores e com menor afinidade aos receptores de glicocorticóides assim, o aumento de cortisol junto com o aumento de glicocorticoides e mineralocorticoides promovem danos graves. Quadro clínico -> Pode ser classificado em leve, moderado e grave Mariana Alencastro Turma XVII -> Sintomas afetivos: tristeza, melancolia, choro fácil e/ou frequente, apatia (indiferença afetiva), sentimento de falta de sentimento, incapacidade de sentir prazer, tédio e aborrecimento crônico, irritabilidade aumentada, angústia ou ansiedade, desespero. -> Alterações físicas: fadiga, cansaço fácil e constante, distúrbios do sono (insônia terminal ou hipersonia), perda ou aumento do apetite/peso, constipação, indigestão, distúrbios sexuais (diminuição da libido, disfunção erétil), palidez; alterações na menstruação, cefaleia. -> Distúrbios do pensamento: ideação negativa, pessimismo, ideias de arrependimento e culpa, ideias de abandono e autopunição, ideias de morte, desejo de desaparecer; ideação, planos ou tentativas suicidas. -> Alterações da auto valoração: sentimento de baixa autoestima e desvalia, sentimento de vergonha, autodepreciação e autoacusação. -> Alterações da psicomotricidade e volição: aumento da latência entre as perguntas e as respostas, lentificação psicomotora, diminuição do discurso, redução do tom de voz, fala lentificada; mutismo (negativismo verbal), negativismo (recusa alimentar, recusa à interação pessoal), ausência de planos e perspectivas. -> Alterações cognitivas: dificuldade de concentração e esquecimentos, dificuldade para tomar decisões, pseudodemência depressiva. -> Sintomas psicóticos: ideias delirantes de conteúdo negativo, delírios de ruína ou miséria, alucinações, geralmente auditivas, com conteúdos depressivos, outros sintomas psicóticos incongruentes com o humor. -> Suicídio: O suicídio é um tema que merece cuidado nos pacientes deprimidos. Estudos de necropsia psicológica demonstraram que a depressão é o transtorno psiquiátrico mais comum em pessoas que morrem por suicídio. Os pensamentos sobre a morte podem variar desde uma ideia vaga até ideação suicida, plano específico e tentativa de suicídio. Queixas de desesperança, sensação de inutilidade e desejo de não ser uma “carga” para os outros podem ser alguns dos sintomas. Alguns fatores de risco relatados foram: sexo masculino, história familiar de transtorno psiquiátrico, tentativa de suicídio prévio, depressão grave, desesperança e existência de outras comorbidades psiquiátricas. Diagnóstico -> Sugere-se diagnosticar transtornos depressivos unipolares de acordo com os critérios do DSM-5, segundo o qual os transtornos depressivos podem ser diagnosticados da seguinte maneira: ● Depressão maior unipolar – episódio único ou recorrente (transtorno depressivo maior) ● Transtorno depressivo persistente (distimia) ● Transtorno disruptivo de desregulação do humor Mariana Alencastro Turma XVII ● Transtorno disfórico pré-menstrual ● Transtorno depressivo induzido por substância/medicação ● Transtorno depressivo devido a outra condição médica ● Outro transtorno depressivo especificado (p. ex., depressão menor) ● Transtorno depressivo não especificado. -> Depressão maior unipolar: episódio único ou recorrente caracteriza-se por história de um ou mais episódios depressivos maiores e sem história de mania ou hipomania. Episódios de no mínimo 2 semanas e 5 critérios sendo Humor deprimido ou perda do prazer obrigatoriamente um dos 5. -> O transtorno depressivo persistente (distimia) O transtorno depressivo persistente manifesta-se com três ou mais dos seguintes sintomas durante, no mínimo, 2 anos consecutivos. Pelo menos um sintoma deve ser um humor deprimido: ● Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias ● Diminuição ou aumento do apetite ● Insônia ou hipersonia ● Baixa energia ou fadiga ● Baixa autoestima ● Concentração ou tomada de decisão comprometidas ● Falta de esperança -> Transtorno disfórico pré-menstrual. É marcado por sintomas emocionais e comportamentais que ocorrem repetidamente durante a semana anterior ao início Mariana Alencastro Turma XVII da menstruação e remissão com o início da menstruação ou alguns dias depois, interferindo em algum aspecto da vida da paciente. -> Transtorno depressivo induzido por medicação/substância. Consiste em um transtorno de humor que se caracteriza por um humor persistentemente deprimido ou irritado, ou interesse ou prazer diminuídos na maioria das atividades. As síndromes depressivas podem ser causadas por intoxicação ou retirada de várias substâncias e medicamentos, como álcool, anfetaminas, agentes anti-hipertensivo, cocaína, agentes bloqueadores da dopamina , interferona alfa, sedativos hipnóticos, estimulantes e glicocorticóides sistêmicos. -> Transtorno depressivo devido a outra condição médica. Consiste em um transtorno de humor que se caracteriza por humor persistentemente deprimido ou irritável, ou interesse ou prazer diminuído na maioria das atividades. Os achados da história, o exame físico ou os testes laboratoriais indicam que o transtorno é causado por outra condição médica. -> Outro transtorno depressivo especificado. Outro transtorno depressivo especificado aplica-se a pacientes com sintomas depressivos que causam angústia significativa ou prejudicam o funcionamento psicossocial, mas não atendem aos critérios completos para um transtorno depressivo específico. -> Depressão menor. Os episódios depressivos menores consistem em humor deprimido, além de um a três outros sintomas de depressão maior; duram, no mínimo, 2 semanas; e causam comprometimento clinicamente significativo ou sofrimento. Tratamento -> A combinação da psicoterapia e da farmacoterapia está indicada para o tratamento inicial da depressão maior unipolar e em casos de depressão resistente, poiso tratamento combinado foi mais efetivo que qualquer uma dessas terapêuticas sozinhas, sem superioridade entre combinações específicas de medicação/psicoterapia. Por outro lado, a psicoterapia isolada está indicada para o tratamento inicial de pacientes com depressão leve, quando a relação risco-benefício não justifica o uso de medicamentos para sintomas relativamente leves. -> A psicoterapia, a farmacoterapia é uma combinação de psicoterapia e farmacoterapia são métodos de tratamento eficazes para a depressão. -> Recomenda-se o tratamento farmacológico como escolha terapêutica inicial para pacientes com transtorno depressivo maior leve e moderado. Ele deve ser administrado aos pacientes com transtorno depressivo maior grave. -> Os três medicamentos mais utilizados são inibidores dos transportadores das monoaminas (tricíclicos), ISRS e inibidores da enzima MAO que atuam aumentando as concentrações de dopamina, noradrenalina e serotonina nas sinapses. Mariana Alencastro Turma XVII -> O objetivo desse tratamento é o restabelecimento funcional e a remissão total dos sintomas depressivos, o que gera taxas de suicídio mais baixas. Os pacientes são menos propensos a recaídas do que aqueles que mantêm sintomas residuais. -> O tempo médio de início da resposta terapêutica eficaz dos antidepressivos é de 3 a 4 semanas. Apesar de a duração ideal para um teste antidepressivo não estar bem definida, tende-se a elevar a dosagem ao valor máximo recomendado e mantê-la por 4 a 6 semanas antes de considerar falha terapêutica. -> O tratamento do transtorno depressivo maior dura em torno de 6 a 12 meses e, para interromper a medicação usada, deve-se diminuir gradualmente a dose ao longo de 2 semanas, pelo maior risco de reação de descontinuação se houver interrupção abrupta. -> A aliança terapêutica foi associada à alteração dos sintomas ao final do tratamento, e o pessimismo e a falta de energia ajudaram a identificar pacientes que precisavam de métodos terapêuticos adicionais ou alternativos. -> Fatores relacionados a isso são existência de sintomas residuais, número de episódios anteriores, gravidade, duração e grau de resistência ao tratamento. A terapia cognitivo-comportamental pode ser indicada em pacientes com sintomas residuais ou com alto risco de remissão da doença. -> As medicações antidepressivas não apresentaram diferenças significativas nas taxas de remissão e na eficácia geral ao serem comparadas no mesmo nível de tratamento. -> Para orientar a escolha do tratamento farmacológico, devemos considerar a duração, o curso, a gravidade, o perfil de sintomas da depressão, as condições clínicas gerais, outras condições psiquiátricas associadas, a resposta a tratamentos prévios, as medicações em uso e a preferência do paciente, assim como a tolerabilidade e os prováveis efeitos colaterais do fármaco indicado, o custo e a facilidade do uso. -> No tratamento da depressão maior unipolar, recomendam-se como tratamento inicial farmacológico os ISRS ou outros antidepressivos novos, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da norepinefrina (ISRSN), a mirtazapina e a bupropiona, por serem mais bem tolerados e se mostrarem tão eficientes quanto os antidepressivos tricíclicos. -> Os ISRS também são os fármacos de escolha para crianças e adolescentes, como sertralina e fluoxetina. Para os idosos, sertralina, citalopram, reboxetina e nortriptilina são os fármacos mais adequados de escolha Na depressão maior leve acompanhada de ansiedade ou insônia, podem ser indicadas baixas doses de benzodiazepínicos por um período breve, como 1 ou 2 semanas. Após, deve-se avaliar resposta terapêutica. -> Geralmente, reservam-se os inibidores da monoamina oxidase (IMAO) para pacientes nos quais a terapia antidepressiva de primeira linha não tenha sido eficaz Mariana Alencastro Turma XVII e para aqueles com sintomas atípicos, para os quais os ISRS e a bupropiona também são úteis. -> O tratamento inicial de episódios depressivos maiores, como sintomas de ansiedade, insônia ou agitação psicomotora, costuma ser com o uso maior de antidepressivos associado ao uso de ansiolíticos. -> Geralmente, o tratamento da depressão maior grave necessita de terapia combinada (farmacoterapia mais psicoterapia), farmacoterapia isolada e, por vezes, hospitalização, em vista de sua gravidade.
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