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ANA RITA CABRAL - P7 Problema 1 – Chega de dor! Lúcia, 62 anos, negra, casada, costureira, natural e procedente de Nazaré da Mata/PE. Q.P.D – Dor nos joelhos há 3 anos. H.D.A – A paciente relata que sempre foi saudável e, desde jovem, apaixonada pela costura, sua atividade laboral há mais de 40 anos, nunca abandonada, apesar das dores em joelhos e quadris há 3 anos. Em conversa com os vizinhos sobre suas dores, foi orientada por uma amiga com quadro semelhante a usar diclofenaco sódico. Relatando sua evolução, houve piora do quadro de dor nos joelhos, principalmente em tempos frios, acompanhada de inchaço e sensação de areia ao dobrá-los há cerca de um ano. Durante episódio de intenso esforço físico nas suas atividades domésticas, procurou serviço de urgência pois as dores estavam "insuportáveis''. Foi avaliada pelo plantonista na ocasião, sendo prescrito para dona Lúcia paracetamol, diclofenaco e sessões de fisioterapia. Liberada para retornar às suas atividades profissionais, porém com carga horária reduzida. Na UBS, seu médico assistente solicita exames complementares para o acompanhamento. Antecedentes Pessoais – Hipertensa em uso de IECA (captopril). Colecistectomizada há 10 anos. Nega etilismo e tabagismo. Nega alergias medicamentosas. Antecedentes Familiares – Pais hipertensos. Informa que mãe tinha artrite e artrose. Exame Físico – Eupneica, bom estado geral, corada, consciente, lúcida e orientada. Obesa e afebril ao toque. Ap. Respiratório – MV presente e normal em AHT, ausência de ruídos adventícios. FR=24 mrpm. Ap. Circulatório – RCR em 3T presença de B4, BNF, ausência de sopros. FC= 80bpm. PA=140X90 mmHg. Abdômen – Globoso, simétrico, depressível, indolor à palpação superficial e profunda. Ausência de visceromegalias. Extremidades – Ausência de edemas em MMII durante a inspeção. Na palpação, dor durante mobilização das patelas, com presença de crepitações. Estalidos durante flexão passiva dos joelhos. Paciente apresenta arqueamento simétrico dos joelhos. Dor durante todo o arco de movimento dos quadris, principalmente o direito. Redução da rotação interna no quadril direito. EXAMES COMPLEMENTARES – AST e ALT – normais. Uréia – 90mg/dL. Creatinina – 1,8mg/dL. Alfa-1-glicoproteína ácida – 35mg/dL. FAN – não reagente. FR – 60Ul/mL. PCR – 10mg/dL. ASLO – 150Ul/mL. Anti-Ro – Anti-La – Anti-Sm = Normais. Eletroforese de Hemoglobina – Normal. Foram solicitadas radiografias de joelhos e bacia. Dona Lúcia refere que não está percebendo melhora com as sessões de fisioterapia e pergunta ao médico da UBS se ele não pode passar algum remédio que melhore logo essas dores. Analisando as imagens de raio x, o seu médico percebeu algumas alterações e informou a dona Lúcia que seria mais indicado encaminhá-la para avaliação complementar com o ortopedista. 1. ENTENDER A OSTEOARTRITE ( DEFINIÇÃO EPIDEMIOLOGIA E QUADRO CLÍNICO) Doença articular crônica mais comum e ocorre por um desequilíbrio degradação-reparo. A prevalência aumenta com a idade, sendo mais frequente após os 60 anos. Predomina no sexofeminino. No Brasil cerca de 16% das pessoas têm osteoartrite. Os fatores de risco são obesidade, estresse mecânico, doença articular inflamatória precedente e doenças endócrino-metabólicas. A osteoartrite (OA) é uma síndrome que possui a perda qualitativa e quantitativa da cartilagem articular determinando uma intensa remodelação óssea hipertrófica local aliada a discreta inflamação 2º. Resulta de um processo de modificação da estrutura da matriz cartilaginosa na qual ocorre ativação de ANA RITA CABRAL - P7 condrócitos, resposta inflamatória e posterior perda progressiva da cartilagem. Ela acomete o esqueleto axial, está relacionada + ao processo mecânico. Está relacionada c/ o envelhecimento articular Afeta principalmente a cartilagem articular e também o osso subcondral, ligamentos, cápsula, membrana sinovial e músculos periarticulares, constituindo-se em uma verdadeira insuficiência da articulação sinovial. A estrutura + acometida durante o processo de surgimento da OA é a cartilagem articular A OA representa uma falência articular, uma doença na qual todas as estruturas da articulação sofreram alterações patológicas, na maioria das vezes simultaneamente. A condição sine qua non patológica da doença consiste em perda da cartilagem articular hialina, presente em um padrão focal e, inicialmente, não uniforme. Esse quadro é acompanhado de aumento na espessura e na esclerose da placa óssea subcondral, de crescimento excessivo de osteófitos nas margens articulares, de distensão da cápsula articular, de vários graus de sinovite e de fraqueza dos músculos que cruzam a articulação. Nos joelhos, a degeneração meniscal faz parte da doença. Existem numerosos caminhos que levam à falência articular, porém a etapa inicial é representada mais frequentemente por lesão articular na vigência de uma falha dos mecanismos protetores. EPIDEMIOLOGIA - As alterações articulares da osteoartrite têm início na idade adulta e são + prevalentes com o avançar da idade. É + frequente em mulheres - No Brasil, a prevalência da osteoartrite em uma população geral c/ idade média de 36 anos foi de 4,1%, chegando a 15,8% após os 55 anos. - As juntas + frequentemente acometidas, além de quadril e joelhos, são as das mãos, c/ predileção pelas interfalangeanas distais e proximais e da base do polegar, coluna cervical e lombar e as primeiras metatarsofalangeanas (“joanetes”). - Fatores de risco: idade, raça, sexo, fatores genéticos, bem como obesidade e fatores biomecânicos, como lesão traumática repetitiva ou isolada, desalinhamento e sobrecarga. Depois da idade avançada, a obesidade é o fator de risco mais importante para OA de joelho - Obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento de osteoartrite → a obesidade é um fator mecânico que causa sobrecarga da cartilagem articular, favorecendo a degradação em detrimento da síntese → A adiposidade desencadeia inflamação metabólica, com as adipocinas desencadeando inflamação da sinóvia e remodelamento ósseo subcondral - Idade: Considerado o fator de risco mais importante, aumentando sua prevalência em progressão geométrica a partir dos 45 anos. O mecanismo por trás desse aumento não é bem conhecido, mas o mais aceito é a diminuição da atividade metabólica da cartilagem articular com o passar dos anos - Gênero: É mais predominante no sexo feminino, por conta, possivelmente, das alterações da secreção de hormônios sexuais (estrógeno e progesterona) após a menopausa - Doenças metabólicas sistêmi cas: Interferem na formação da matriz cartilaginosa,aumentando a probabilidade de adquirir OA. Temos como exemplos a ocronose e hemocromatose - Extrínseco: São fatores externos ao organismo que o acompanham ao longo de sua rotina. Esportes e/ou trabalhos extenuantes: Atividades físicas exaustivas (ciclismo, velocistas, futebol, ginástica) e empregos “braçais” (mineiros, perfuradores, lavradores) que demandem muito da proteção mecânica exercida pelas articulações, principalmente nos joelhos, por conta de movimentos repetitivos e excessivos de ANA RITA CABRAL - P7 flexão. Por conta disso, em pacientes com menos de 45 anos, a OA é mais prevalente em homens que mulheres 2. ENTENDER A REMODELAÇÃO CONDRAL ESCLARECENDO A FISIOPATOLOGIA DA OA Ocorre devido a um predomínio da degradação sobre a síntese, que evolui c/ inflamação local, proliferação sinovial e enfraquecimento global dos ligamentos e músculos; - Ocorre devido a um predomínio da degradação sobre a síntese, que evolui c/ inflamação local, proliferação sinovial e enfraquecimento global dos ligamentos e músculos - 1: A atividade catabólica da cartilagem é dependente da ação de citocinas, interleucina-1 (IL -1) e do fator de necrose tumoral a (TNF-α), sintetizados pelos condrócitos e pela membrana sinovial. Outras interleucinas , como a IL6 e a IL8, também participam do processo - 2: Elas induzem a produção e a ativação d e metaloproteases o que proporciona uma da síntese de elementos da matriz ou modificam o padrão normalde sua produção - 3: A IL-1, em sua ação nos condrócitos, inibe a produção dos colágenos dos tipos II e IX e a dos tipos I e III, reparando a matriz d e maneira inapropriada (formando fibrocartilagem ) e agravan do a osteoartrite - 4- O comprometimento d a cartilagem manifesta-se pela formação de ondulações e soluções de continuidade na superfície (fibrilações e erosões) - 5- Ocorre progressivamente a p erda d a espessura da cartilagem e a exposição do osso subcondral, que, em resposta a sobrecargas, hipertrofia-se e gera metaplasia óssea endocondral, formando o s osteófitos(é uma cartilagem calcificada) - 6- Na sequência, ocorre o desprendimento de microfragmentos da cartilagem que são fagocitados e geram inflamação sinovial, liberando + citocinas e enzimas proteolíticas que agravarão o processo de degradação d a cartilagem. RESUMO: 3. DEFINIR QUADRO CLÍNICO DA OA ENFATIZANDO A REDUÇÃO DA PERFORMANCE ARTICULAR QUADRO CLÍNICO Obs.: Chamamos de estalo (ou estralo) os ruídos breves e repentinos. Já a crepitação é o ruído ou sensação relacionada com atrito ou irregularidade das superfícies, tende a ser mais constante no movimento. A crepitação é descrita frequentemente como “rangido”, “sensação de areia”, “sensação de raspar”. O estalido é um som que pode acontecer quando ligamentos e tendões ao redor de uma articulação – como, por exemplo, o joelho – se esticam à medida que passam por uma proeminência óssea e depois se encaixam novamente, causando esse ruído. Isso também pode acontecer por contato de ossos”, informa a reumatologista Licia Mota. O estalido nem sempre é patológico, nem sempre representa doença. Ou seja, sua relação com a osteoartrite não é tão próxima. Já a crepitação é mais comum de ser sentida por pacientes que sofrem com a doença. “O som da crepitação é muito mais fino, mais sentido do que ouvido. É uma sensação de como se houvesse areia dentro da articulação”, É bastante comum a interpretação da crepitação como sendo decorrente de uma “poeira” da cartilagem dentro da articulação. É como se pequenos pedaços de cartilagem ficassem soltos e com a movimentação da articulação a passagem desses pequenos pedaços leva à crepitação. “Isso tem a ver com a osteoartrite, que é a degeneração da cartilagem - Dor (principal sintoma): A dor na OA é pior com o uso da articulação (dor relacionada ao uso) e aliviada pelo repouso. - Rigidez articular: Ocorre quando o paciente se encontra em repouso, principalmente durante a manhã, após longos períodos de imobilidade. Ela difere da rigidez das demais inflamações articulares por persistir até 30 minutos; - Instabilidade articular: Marcada principalmente por uma sensação de apreensão e falta de confiança/segurança em suportar o peso sustentado pela articulação. No entanto, ocasionalmente essa instabilidade pode levar a quedas. - Limitação do movimento: Há redução da amplitude dos movimentos, tanto passivos (pode existir dor ao movimento passivo da articulação) como ativos. Ocorre, principalmente, por conta da presença de osteófitos e do espessamento da cápsula articular, embora a sinovite também contribua por conta da hiperplasia sinovial Já em relação aos principais sinais, encontramos, principalmente durante o exame físico: - Aumento da articulação: Encontrado em áreas onde há inchaço ósseo e/ou cartilaginoso. A consistência desse aumento volumétrico é firme, com pontos dolorosos; - Crepitações audíveis ou palpáveis: Produzidas pelo movimento de estruturas articulares danificadas, como, por exemplo, uma deformidade da cartilagem articular ou dos tendões; - Deformidade articular: É um sinal de lesão articular avançada; Sinais de sinovite: Consiste no edema, aumento da temperatura e discreto derrame articular na região afetada. - Nódulos de Heberden e de Bouchard: Consiste nas expansões firmes de tecido ósseo e cartilaginoso nas proeminências articulares, respectivamente, interfalangianas distais e ANA RITA CABRAL - P7 proximais.Essas expansões consistem nos osteófitos palpáveis nos pacientes, sendo um sinal patognomônico da OA. - Exame físico: pode revelar deformidades, aumento de volume articular, calor local, crepitações e limitações ao movimento passivo da articulação, e deve-se avaliar possíveis instabilidades articulares decorrentes de fragilidade de ligamentos e/ou músculos. Sensação de click ou “claudicação”, possivelmente associada à lesão meniscal, pode ocorrer na OA de joelho. Varismo e valgismo dos joelhos, valgismo do hálux, desvio dos dedos das mãos c/ de aumento do volume nas interfalangeanas distais (nódulos de Heberden) e proximais (nódulos de Bouchard) apontam p/ OA nessas juntas. Essa é uma doença de longa evolução e insidiosa, de sorte que mudanças bruscas no quadro, como surgimento de dor noturna ou contínua, podem alertar p/ um quadro inflamatório intenso, como em neoplasias ou infecções, ainda que secundárias, e dor súbita em joelho ou quadril pode decorrer de osteonecrose local, mesmo em OA prévia. A dor por OA no quadril acompanha de limitação da rotação interna, ao passo que dor na face lateral proximal da coxa e dor sacral, decorrentes respectivamente de bursite anserina e tendinite glútea, por exemplo, por vezes confundem o diagnóstico de OA do quadril ou da coluna lombar -A OA dos joelhos pode produzir dor na fossa poplítea após algum tempo sentado, fruto de acúmulo de líquido sinovial inflamatório ocasionando da pressão local, como no caso dos cistos de Baker ARTICULAÇÕES MAIS ACOMETIDAS - Joelhos: Piora à flexão, como ao subir e descer escadas, e, nos casos mais graves, limitações à amplitude completa de flexão e extensão do movimento. Crepitação articular é um importante sinal, pois está quase sempre presente. Edema com derrame articular pode ocorrer. - Mãos: Nas mãos, as articulações mais afetadas são, em ordem de frequência, as interfalângicas distais (IFD), a primeira carpometacarpal ou rizartrose e as interfalângicas proximais (IFP). Em muitos pacientes,verifica-se alargamento de consistência rígida nas regiões dorsolateral e dorsomedial das articulações IFDe IFP, denominadas nódulos de Heberden e Bouchard, respectivamente. Essa forma de doença é também chamada OA nodal. Sua distribuição é, via de regra,poliarticular e simétrica. Os nódulos representam proliferação osteocartilaginosa e constituem uma das manifestações mais comuns e características da OA idiopática. Entre os pacientes com nódulos interfalângicos, destaca-se um subgrupo que apresenta a doença com um comportamento mais agressivo,cursando com maior destruição da cartilagem e do osso subcondral, este último podendo apresentar múltiplos cistos e erosões ósseas. Esse tipo é a OA nodal erosiva,caracterizada por diversos autores como uma forma distinta de OA. - A rizartrose engloba o envolvimento do trapézio com oprimeiro metacarpal e, em menor frequência, o trapézio com o escafoide. Ela está particularmente relacionada ao uso do polegar, no seu movimento de pinça,principalmente se houver aplicação de força excessiva.A formação de osteófitos no local acarreta o aspecto de“mão quadrada” - Quadril: O quadril é uma articulação frequentemente comprometida e, em muitos casos, a doença evolui para a incapacidade total com indicação cirúrgica(substituição por prótese ortopédica). É mais frequente em homens e pode ser uni ou bilateral. O envolvimento bilateral é o mais frequente, porém, mesmo quando unilateral do ponto de vista clínico, ambos os quadris podem estar comprometidos - Coluna: Na coluna, a dor se apresenta bastante correlacionada aos movimentos e às posturas, isto é,tem caráter mecânico, e melhora com o repouso e durante o sono. A radiografia simples da coluna normalmente mostra a presença de osteófitos nas articulações que estão sob forças de compressão.Quando existe um desalinhamento lateral da coluna,isso significa a presença de osteófitos na face convexa.A dor à flexão geralmente indica um comprometimento dos discos intervertebrais, e a dor à extensão, o envolvimento das articulações interapofisárias 4. DESCREVERA CONDUTA DIAGNÓSTICO INDICANDO OS EXAMES COMPLEMENTARES ADEQUADOS ACHADOS RADIOGRÁFICOS Sequência de Radiografias de um Paciente ao Longo de 19 anos de acompanhamento: Inicialmente → observa-se uma articulação praticamente normal, com uma discreta esclerose do osso subcondral (linha branca mais hiperdensa), e m decorrência da inflamação do osso subcondral que fica abaixo da cartilagem, sendo mais intensa nos côndilos tibiais do que nos femorais; ANA RITA CABRAL - P7 9 anos depois: - Presença de Osteófito na margem articular (seta laranja) - Redução do espaço articular , principalmente do compartimento femorotibial medial, que é o compartimento mais acometido do joelho ( seta amarela) ‘ 13 anos depois: - Osteófito aumentou de tamanho (seta laranja) - Maior redução do espaço articular (seta amarela) - Espessamento do osso subcondral, que é a esclerose visível na radiografia (seta azul) 19 anos depois: - Ausência d e espaço articular (seta amarela) → assim, o indivíduo não consegue mais dobrar o joelho por completo, em 90° - Desalinhamento da articulação (seta verde) - Isso tudo culmina com a insuficiência d a articulação sinovial O diagnóstico de osteoartrite é clínico. Existem critérios específicos para OA de joelho, quadril e de mãos, mas pode-se sim diagnosticar clinicamente a OA, desde que se obedeça 3 pré-requisitos DIAGNÓSTICO CLÍNICO O diagnóstico é clínico quando presentes os 3 seguintes critérios: - Idade > 45 anos - Dor articular mecânica - Ausência de rigidez matinal (ou rigidez matinal < 30 minutos) Com a presença dessas 3 características citadas, não é necessário de Radiografia para dar o diagnóstico de osteoartrite. Esse diagnóstico é clínico. A radiografia é realizada para estadiamento e avaliação do que deve ser feito e de que forma se poderia tratar melhor o indivíduo 5. DESCREVER AS CONDUTAS FARMACOLÓGICOS E NÃO FARMACOLÓGICO E CONHECER SEUS EFEITOS COLATERAIS (PRINCIPALMENTE NOS PACIENTES IDOSOS). Os objetivos do tratamento da OA consistem em aliviar a dor e minimizar a perda da função física. Até o ponto em que a dor e a perda de função forem consequências de inflamação, fraqueza da articulação e frouxidão e instabilidade, o tratamento da OA envolverá a correção de cada um desses comprometimentos. A terapia abrangente consiste em uma abordagem multimodal, incluindo elementos farmacológicos e não farmacológicos. Os pacientes com sintomas leves e intermitentes podem necessitar apenas de tranquilização ou tratamentos não farmacológicos. Pacientes com dor contínua e incapacitante tendem a necessitar tanto de terapia não farmacológica como de farmacoterapia. Os tratamentos para a OA do joelho foram avaliados mais completamente do que os destinados à OA do quadril e da mão ou à doença em outras articulações. Assim, apesar de os princípios do tratamento serem idênticos para a OA em todas as articulações, enfocamos adiante o tratamento da OA no joelho, assinalando recomendações específicas para a doença em outras articulações, principalmente quando diferem das adotadas para a doença no joelho. TERAPIA NÃO FARMACOLÓGICA Sabendo que a OA é uma doença induzida mecanicamente, a base do tratamento consiste em alterar as cargas sobre a articulação dolorida e melhorar a função dos protetores articulares, para que possam distribuir melhor a carga ao longo da articulação. As maneiras de reduzir as cargas focais ao longo da articulação consistem em: 1.evitar atividades dolorosas, que geralmente são aquelas que sobrecarregam a articulação; 2.melhorar a força e o condicionamento dos músculos que cruzam a articulação, a fim de aprimorar sua função; e 3.remover as cargas que atuam sobre a articulação, seja redistribuindo-as dentro da articulação com uma órtese ou uma tala ou reduzindo a carga articular durante a sustentação do peso corporal com uma bengala ou uma muleta. O tratamento mais simples para muitos pacientes é evitar as atividades que precipitam dor. Por exemplo, para o paciente de meia-idade cuja corrida de longa distância provoca os sintomas de OA no joelho, uma forma menos rigorosa de atividade com sustentação do peso corporal pode aliviar todos os sintomas. Para uma pessoa de idade mais avançada cujas caminhadas diárias subindo e descendo ladeiras provocam dor no joelho, a mudança de percurso da caminhada, desviando-se das ladeiras, pode eliminar os sintomas. Como o efeito da carga exercida por cada quilograma de peso é multiplicada em 3 a 6 vezes ao longo dos joelhos, cada quilograma de peso perdido pode exercer um efeito multiplicador proporcional, ANA RITA CABRAL - P7 aliviando a carga tanto sobre os joelhos como sobre os quadris e provavelmente minimizando a dor nessas articulações. Nas articulações das mãos afetadas pela OA, a imobilização, uma vez que limita o movimento, frequentemente minimiza a dor em pacientes com comprometimento, sobretudo na base do polegar. As articulações responsáveis pela sustentação do peso corporal, como as dos joelhos e dos quadris, podem ser aliviadas ao utilizar uma bengala na mão oposta à articulação afetada, para sustentar parcialmente o peso. Um fisioterapeuta pode ajudar o paciente, ensinando-o a usar adequadamente a bengala, assegurando que a altura esteja ótima para reduzir as cargas. As muletas ou os andadores podem ter uma função benéfica semelhante. Exercício A dor osteoartrítica nos joelhos ou nos quadris durante a sustentação do peso corporal resulta em falta de atividade e mobilidade reduzida, e, pelo fato de a OA ser tão comum, a inatividade resultante aumenta o risco de doença cardiovascular e obesidade. A capacidade aeróbia é precária na maioria dos idosos com OA sintomática do joelho, sendo pior que a dos outros indivíduos da mesma idade. A fraqueza nos músculos que cruzam as articulações osteoartríticas é de etiologia multifatorial. Primeiro, observa-se um declínio na força com o envelhecimento. Segundo, com uma mobilidade limitada, instala-se a atrofia muscular por desuso. Terceiro, os pacientes com OA dolorosa nos joelhos ou nos quadris alteram sua marcha, de modo a reduzir as cargas sobre a articulação afetada, o que reduz ainda mais o uso dos músculos. Quarto, pode ocorrer “inibição artrogênica”, pela qual a contração dos músculos que cruzam a articulação é inibida por uma alça de feedback aferente neural com origem em uma cápsula articular edemaciada e distendida, impedindo que seja alcançada a força voluntária máxima. Sabendo que a força muscular e o condicionamento adequados são essenciais à proteção articular, a fraqueza em um músculo que cruza a articulação acometida torna essa articulação mais suscetível à dor e a lesões adicionais. O grau de fraqueza se correlaciona fortemente com a intensidade da dor articular e o grau de limitação física. Um dos principais elementos do tratamento da OA consiste em melhorar o funcionamento dos músculos que circundam a articulação. Os ensaios clínicos para a OA do joelho e do quadril mostraram que exercícios reduzem a dor e melhoram a função física. Os esquemas de exercícios mais efetivos consistem em treinamento aeróbio e/ou de resistência; os de resistência enfocam o fortalecimento dos músculos que cruzam a articulação. É provável que os exercícios sejam efetivos especialmente quando treinam os músculos utilizados na execução das atividades rotineiras de uma pessoa. As atividades que aumentam a dor na articulação devem ser evitadas, e o programa de exercício precisa ser individualizado para melhorar ao máximo a sua efetividade. Os exercícios de amplitude de movimento, que não fortalecem os músculos, e os exercícios isométricos que os fortalecem, porém não por meio da amplitude dos movimentos, dificilmente são efetivos quando realizados isoladamente. Os exercícios de baixo impacto, como a hidroginástica e o treinamento de resistência na água, costumam ser mais bem tolerados pelos pacientes do que aqueles que envolvem cargas de impacto, como corrida ou exercícios na esteira. O paciente deveser encaminhado a aulas de ginástica ou a um terapeuta que possa criar um esquema individualizado. Além dos programas convencionais de exercícios, o tai chi pode ser efetivo para a OA do joelho. Entretanto, não há evidências concretas de que os pacientes com OA da mão possam se beneficiar do exercício terapêutico. Correção do desalinhamento O desalinhamento no plano frontal (varo-valgo) aumenta acentuadamente o estresse da articulação, o que pode resultar em progressão da doença, dor e incapacitação (Fig. 364-5). A correção do desalinhamento varo-valgo, seja cirúrgica ou com órtese, pode aliviar a dor em pacientes com joelhos mal alinhados. Entretanto, corrigir um desalinhamento muitas vezes é bastante difícil. Órteses ajustadas que endireitam joelhos em varo impondo um estresse em valgo ao longo da articulação podem ser efetivas. Lamentavelmente, muitos pacientes não desejam utilizar uma órtese de realinhamento para o joelho; além disso, em pacientes com pernas obesas, as órteses podem se deslocar durante o uso, perdendo seu efeito de realinhamento. Seu uso está indicado para pacientes motivados e capazes de aprender a vesti-las corretamente, nos quais a órtese não deslize. A dor do compartimento patelofemoral do joelho pode ser causada por inclinação ou desalinhamento da patela, a qual acaba se deslocando lateralmente no sulco troclear do fêmur. Ao utilizar uma órtese patelar para realinhar a patela, ou uma fita adesiva para recolocá-la no sulco troclear ou reduzir sua inclinação, comparativamente aos controles em ensaios clínicos, consegue-se reduzir a dor patelofemoral. Contudo, os pacientes podem ter dificuldade para aplicar a fita adesiva, sendo comum haver irritação da pele causada pela fita e, do mesmo modo como as órteses de realinhamento, as órteses patelares podem sair do lugar. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANA RITA CABRAL - P7 - O tratamento farmacológico divide-se em medicações de ação rápida e de ação lenta - São fármacos de ação rápida os: analgésicos e AINE - Os fármacos de ação lenta ainda são divididos: em sintomáticos e modificadores de doença - Medicamentos usados: → Analgésicos/antiinflamatórios tópicos: uso isolad o ou combinado c/ meios físicos locais (ex.: diclofenaco sódico, cetoprofeno) → Paracetamol (2 g/d), isolado ou associado a AINE c/ inibidor de bomba de prótons; naproxeno (1g/d); celecoxibe (200 mg/d); ou ibuprofeno (2,4 g /d) são os AINE c/< risco cardiovascular → Codeína ou tramadol associados a paracetamol: pelo < tempo possível, na falha ou contraindicação absoluta a AINE → Corticosteroides: injeção intra articular nos casos refratários a AIN E → Ácido hialurônico : injeção intra articular → Duloxetina (30 a 60 mg/d): como adjuvante na dor refratária → Sulfato de glucosamina (1,5 g/d) e/ou condroitina (1,2 g/d) : analgesia como poupador de AINE ou uso prolongado p/ possível efeito condroprotetor → Extrato de insaponificável de soja e abacate (1,5 g/d) : analgesia como poupador de AINE Tratamento sintomático de ação rápida e curta duração - Paracetamol ou acetaminofeno: é a escolha inicial p/ o alívio da dor leve a moderada da osteoartrite. - Dipirona: é recomendada como analgésico em nosso meio, porém ñ é autorizada em alguns países. No 1º consenso brasileiro de osteoartrite incluiu-se seu uso p/ o tratamento da AO - Opioides: usados em pacientes c/ dor intensa, há formulações de codeína e tramadol isoladas ou em associação c/ paracetamol ou diclofenaco que são + comumente utilizadas. - Anti-inflamatórios não esteroidais: tem eficácia analgésica superior aos analgésicos comuns p/ casos moderados a graves de osteoartrite. - Corticosteroides: seu uso ñ é respaldado pela literatura. Entretanto as infiltrações intra-articulares de hexacetonido de triancinolona promovem respostas rápidas e eficazes em casos selecionados, na qual há inflamação exuberante Tratamento sintomático e/ou modificador de doença de ação lenta - As medicações sintomáticas de ação lenta têm como característica melhorar os sintomas de dor. - Cloroquina: tem sua eficácia analgésica indicada p/ a forma erosiva da osteoartrite de mãos - Diacereína: inibe diretamente a interleucina 1β e suas funções e c/ isso a degradação da matriz por condrócitos - Glicosamina(condroprotetor) e condroitina: o sulfato de glicosamina apresenta eficácia no controle dos sintomas álgicos da osteoartrite. O sulfato de condroitina age inibindo a síntese de IL-1β e o fator NF-κB. - Extratos insaponificáveis de soja e abacate: inibem a destruição de proteoglicanos aguda e cronicamente estimulam síntese e secreção por condrócitos, além de inibirem a colagenase, uma das enzimas degradadoras de matriz - Harpagophytum procumbens: o harpagosídeo, é o responsável pelos efeitos analgésicos desse fármaco e acredita-se que possam reduzir a produção de MMP-1, 3 e 5 por condrócitos via inibição do estímulo IL-1β. - Hialuronato intra-articular: doença acometendo o joelho foi demonstrado efeito positivo na dor, funcionalidade e avaliação global pelo paciente, além de reduzir o consumo de AINE 6. ANALISAR AS INDICAÇÕES DO TRATAMENTO CIRÚRGICO E IMPLANTE DE PRÓTESE AVALIANDO SUAS COMPLICAÇÕES E PROGNÓSTICO TRATAMENTO CIRÚRGICO - Indica-se o tratamento cirúrgico habitualmente após a falha do tratamento clínico - Os principais tratamentos cirúrgicos são: ANA RITA CABRAL - P7 → Artroscopia: o tratamento artroscópico apresenta maiores benefícios em casos de possibilidade de remoção de corpo s livres intra-articulares, que podem causar dor ou na presença de outras restrições mecânicas como lesões meniscais ou ligamentares passíveis de correção, especialmente em pacientes sem desalinhamento s e c/ radiografias, registrando fases iniciais da osteoartrite ligamentares passíveis de correção, especialmente em pacientes sem desalinhamento se c/ radiografias, registrando fases iniciais da osteoartrite. → Enxertos e transplantes de células: o transplante autólogo osteocondral (cartilagem íntegra e osso subcondral adjacente) já foi realizado de maneira bem-sucedida em pacientes c/ osteoartrite. A técnica utilizada é a mosaicoplastia → Plasma rico em plaquetas : a aplicação intra-articular de plasma rico em plaquetas, ou PRP, tem sido utilizada p/ o tratamento da osteoartrite, principalmente dos joelhos. As plaquetas são ricas em fatores de crescimento, que sendo liberados nos tecidos articulares lesado s poderia estimular sua melhora → Osteotomia: indicam-se osteotomias p/ correções de desalinhamentos que predisponham ao desenvolvimento d e osteoartrite ou que sejam secundários à progressão d a doença já instalada. → Artroplastia: a artroplastia total ou parcial tem por objetivo restaurar a integridade e a funcionalidade articular e obtém seus melhores resultados em curto prazo → Artrodese: é escolhida no tratamento da osteoartrite de mãos, coluna, tornozelo e pés. Seu uso em quadris e joelhos é bastante restrito. Ganha -se em controle da dor, porém perde -se em mobilidade articular Suas principais complicações em curto prazo foram: rigidez, embolia pulmonar com trombose venosa profunda, problemas com a ferida operatória e óbito.
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