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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE DIREITO 
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO 
 
 
 
 
MÁRCIA MELO CARONE 
 
 
OS SERIAL KILLERS À LUZ DA PSIQUIATRIA FORENSE 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2016 
MÁRCIA CARONE 
 
 
 
 
OS SERIAL KILLERS À LUZ DA PSIQUIATRIA FORENSE 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Universidade Federal do Ceará como requisito 
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em 
Direito. Área de Concentração: Medicina Legal 
e Direito Penal 
Orientador: Prof. Dr. William Paiva Marques 
Júnior 
 
 
 
FORTALEZA 
2016 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação 
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
C295s Carone, Márcia Melo.
 Os serial killers à luz da Psiquiatria Forense / Márcia Melo Carone. – 2016.
 43 f. 
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito,
Curso de Direito, Fortaleza, 2016.
 Orientação: Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior.
 1. Serial killer. I. Título.
 CDD 340
MÁRCIA MELO CARONE 
 
 
 
 
 
 
 
OS SERIAL KILLERS À LUZ DA PSIQUIATRIA FORENSE 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Universidade Federal do Ceará como requisito 
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em 
Direito. Área de Concentração: Medicina Legal 
de Direito Penal 
 
Aprovada em: ___/___/______. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________ 
Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior (Orientador) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________ 
Prof. Me. Victor Hugo Medeiros Alencar 
Faculdade 7 de Setembro (FA7) 
Universidade de Fortaleza (Unifor) 
 
 
_________________________________________ 
Bianca Berdine Martins Mendes 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus. 
Aos meus pais. 
E ao meu filho, Vitor. 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus, pela dádiva da vida e pelas bênçãos concedidas ao longo do meu caminho. 
Aos meus pais, por todo zelo que a mim dispensaram e pelos valores compartilhados. 
Ao professor e orientador William Paiva Marques Júnior, por ter me acompanhado com 
tanta benevolência e me instruído com perfeição ao longo do trabalho. 
Ao professor Victor Hugo Medeiros Alencar, pela generosidade com a qual ofereceu 
preciosa colaboração e significante apoio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Que os vossos esforços desafiem as 
impossibilidades, lembrai-vos de que as 
grandes coisas do homem foram 
conquistadas do que parecia impossível.” 
Charles Chaplin 
 
 
 
RESUMO 
Serial killers sempre existiram na sociedade, embora não tenham sido conhecidos por essa 
denominação desde logo. Portanto, o interesse em assassinatos em série subsistiu através dos 
tempos e continua a causar inquietude nos dias de hoje. Cumpre salientar que a identificação 
do modelo psicopata serve como verdadeira forma de prevenção contra o relacionamento ou 
envolvimento com o agente periculoso que ele significa. O presente trabalho tem o escopo de 
entender e estudar o perfil psicopata dos assassinos em série para que, compreendendo seu 
universo e modus operandi, seja possível uma identificação mais fácil do tipo. Também é 
objetivo desta composição, verificar o enquadramento forense dispensado aos psicopatas, como 
os assassinos seriais, no Brasil. A metodologia aplicada na pesquisa foi bibliográfica, valendo-
se de livros, pesquisas, jurisprudência e legislação. Destaca-se que os serial killers, insertados 
no tipo psicopático, são indivíduos que possuem transtorno na personalidade, que consiste em 
uma particularidade de suma importância, visto que, por ser algo constitucional, congênito, 
nato, seus males não têm cura. Desta forma, conclui-se que, se apresentam como um perfil 
impossível de ser regenerado, visto que além de não ser passível de cura, não possui nenhuma 
aptidão para viver em sociedade de forma pacífica. Sendo assim, na esfera penal, são 
considerados semi-imputáveis e a medida de segurança figura como tratamento mais adequado 
aos assassinos seriais. 
 
Palavras-chave: ASSASSINOS SERIAIS; PSICOPATA; PERSONALIDADE; SEMI-
IMPUTÁVEIS; MEDIDA DE SEGURANÇA 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
Serial killers have always existed in society, although they have not been known by that name 
since then. Therefore, the interest in serial killings survived through the ages and continues to 
cause concern nowadays. It should be noted that identifying the psychopath model serves as a 
true form of prevention against the relationship or involvement with the dangerous agent he 
means. This study has the scope to understand and study the profile of psychopathic serial 
killers so that, understanding their universe and modus operandi, an easier identification of the 
type can be possible. It is also objective of this composition, to check the forensic supervision 
given to psychopaths, as serial killers, in Brazil. The methodology used in the research was 
bibliographic, drawing on books, researches, case law and legislation. It is noteworthy that the 
serial killers, framed in the psychopathic type, are individuals who possesses disorder in 
personality, which consists of a feature of paramount importance, since, being something 
constitutional, congenital, inborn, his evil has no cure. Thus it follows that, if presented as an 
impossible to be regenerated profile, as well as not curable, the serial killers have no ability to 
live in society peacefully. Thus, in criminal cases, they are considered semi competent and the 
security measure is included as best suited to their treatment. 
 
Keywords: SERIAL KILLERS; PSYCHOPATHS; PERSONALITY; SEMI COMPETENT; 
SECURITY MEASURE 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E MÉDICA: DA POSSESSÃO DEMONÍACA À DOENÇA 
MENTAL ................................................................................................................................. 11 
2.1 A dicotomia entre o louco e o são .................................................................................... 11 
2.2 Construção histórica dos tratamentos psiquiátricos ..................................................... 13 
2.3 A Psiquiatria Forense ....................................................................................................... 16 
3 A MENTE PSICOPATA E SUAS TIPOLOGIAS ........................................................... 22 
3.1 A psicopatologia e a formação da personalidade antissocial ........................................ 22 
3.2 Perfil do psicopata ............................................................................................................ 25 
3.3 Tipologias das personalidades psicopáticas ................................................................... 28 
4 OS ASSASSINOS SERIAIS ............................................................................................... 31 
4.1 Perfil delinquente .............................................................................................................. 31 
4.2 Os assassinos seriais ante a Psiquiatria Forense ............................................................ 33 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 40 
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Desde os mais remotos tempos,a humanidade vem se deparando com a incidência de 
doenças mentais e dos mais diversos distúrbios da psique. Por não entenderem o caráter 
científico das anomalias, os homens costumavam excluir aqueles que não se encaixavam no 
tipo considerado normal em termos psíquicos. Estes eram completamente marginalizados, pois, 
os loucos eram considerados possuídos por entidades demoníacas. Esse entendimento místico 
e obscuro da loucura, permeado pela ignorância, à época, era responsável pela maneira 
miserável com a qual esses indivíduos eram mantidos ao longo dos anos. 
Notar-se-á que, com o passar dos séculos, a compreensão do cunho científico, e não 
mais místico, dos transtornos e enfermidades mentais foi dando ensejo ao tratamento de seus 
portadores, em vez da sua alienação. Portanto, foi-se firmando a percepção de que a loucura era 
nada além do que o contrário da razão. 
Após embasamento sobre a evolução dos tratamentos psiquiátricos e da Psiquiatria 
Forense, ciência que que lida com a interface entre lei e psiquiatria, passar-se-á à interpretação 
da psicopatia e suas tipologias. 
A metodologia a ser utilizada será bibliográfica, valendo-se de consulta a livros, 
pesquisa legislativa e documental, publicações especializadas e artigos, além de análise 
jurisprudencial envolvendo a situação do psicopata. 
O assassino serial configura-se como o paciente de nível mais grave abrigado dentre os 
tipos psicopatas. Dessa forma, é necessário o enfoque no estudo da personalidade psicopática, 
consistente em distúrbios nos quais há verdadeira perversão do sentimento, do temperamento, 
da tendência, bem como dos hábitos e da ação, sem que exista qualquer irregularidade na 
faculdade intelectiva, de modo a afetar diretamente a conduta desses indivíduos. 
Constatar-se-á que os serial killers apresentam grande risco à sociedade quando do 
cometimento de seus crimes, que podem, inclusive, chegar a números consideráveis. Nesse 
diapasão, é objetivo do presente trabalho analisar suas principais características 
comportamentais, a fim de que seja possível sua identificação, como melhor maneira de 
prevenir a ação prolongada desses criminosos. 
 
10 
 
Um ponto basilar neste estudo serão os aspectos forenses concernentes ao tema, vez que 
é preciso compreender o enquadramento do assassino serial quanto a sua capacidade de 
responder pelos seus delitos e, em consequência disso, vislumbrar o mais adequado tratamento 
penal para o agente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E MÉDICA: DA POSSESSÃO DEMONÍACA À DOENÇA 
MENTAL 
 
A questão da loucura acompanha a evolução humana. O homem, por natureza, teme 
aquilo que ignora e, durante séculos, pensou-se, primordialmente, que o louco seria aquele 
possuído pelo demônio. Tratava-se de um “fenômeno maldito”, precisando, portanto, ser o 
louco alienado da humanidade, que, em verdade, tinha grande receio do contágio. 
Após essa fase obscura, pode-se entender melhor o significado da loucura, gerando 
numerosos estudos acerca do assunto, porém, sempre foram necessários maiores 
aprofundamentos, na tentativa de compreender e dar tratamento adequado aos enfermos 
mentais. 
 
2.1 A dicotomia entre o louco e o são 
Desde os mais remotos tempos, o homem teme a loucura. Por meio de uma interpretação 
de cunho mágico e místico, popularmente, costumava-se pensar que o louco nada mais era que 
um possuído pelo diabo. 
Termos como furioso (que tem o espírito em fúria e as paixões sem freios), 
mentecapto (mente aprisionada) e energúmeno (possuído pelo demônio) eram usados, na 
Grécia e na Roma Antiga para designar os endemoninhados. 
Contra esses desafortunados, imprimiam-se as práticas mais ríspidas e intolerantes. Os 
homens ditos “normais”, com intuito claro de alheá-los, escorraçavam-lhes para fora dos muros 
das cidades. Outras vezes, transportavam-lhes em embarcações com destino a longínquas terras, 
para que se vissem livres daquela escória, pouco importando o destino que aquelas pessoas 
teriam. 
Na verdade, esses doentes, uma vez abandonados e excluídos da sociedade, tinham suas 
vidas entregues à incerteza e à penúria. Esse primeiro momento se estende até meados do século 
XVI. 
 
12 
 
É acessível que o homem do passado não entendia a loucura tal qual uma doença médica 
como outra qualquer. O que pairava era uma natureza sagrada da doutrina utilizada para 
explicar tal loucura, prevalecendo, à época, esse entendimento. Porém, observou-se, ainda que 
de forma inexpressiva, que havia quem discordasse de todo esse misticismo. 
 
A doutrina que imputava ao demônio a origem da loucura, entretanto preponderava, 
e assim foi por cerca de um mil e quinhentos anos da era cristã. Se não embarcassem 
o louco na sultifera nave, procediam ao exorcismo, como forma de expulsar do corpo 
o anjo decaído. Muitos acabaram queimados na fogueira, com a Inquisição, página 
sombria da história da Igreja Católica. (PALOMBA, 2003, pag. 5) 
 
 
 
Já Pessotti (1994, p.109) afirma que: 
 
O caráter sagrado dado à loucura e o exorcismo tiveram ponto culminante com a 
edição do Malleus maleficarum, em 1484, reeditado várias vezes, que se destinava a 
instruir os inquisitores e eclesiásticos a identificar casos de possessão demoníaca e a 
proceder eficazmente nessas situações. Em 1576, Jerônimo Menghi de Viadana 
(1529-1609) editou o Compêndio de arte exorcista, em cujo texto doutrinário 
explicava metodicamente “as estupendas operações do demônio para dominar a mente 
humana e os modos de ação demoníaca sobre o cérebro”. 
 
Dessa forma, a Idade Média, fez, de fato, jus à alcunha de “Idade das Trevas”, vez que 
esteve mergulhada na cognição mágico-mística da loucura. Contudo, houve diminutas 
exceções, como exemplo de Unhammad, médico árabe que, no século IX, produziu uma 
classificação de doenças mentais, na tentativa de afirmar o seu caráter orgânico, bem como o 
médico judeu egípcio, Isaac Judaeus, que percebeu a melancolia como doença. Dentre essas 
reservas, é conveniente destacar também a figura de Avicena (980-1037), médico e filósofo 
persa, responsável pela confecção do livro Princípios da medicina, versando sobre manias e 
melancolia, por exemplo. Merece destaque, ainda, seu sucessor, Averroés (1198), médico que, 
assim como seu mestre, abordava as questões de demonologia se utilizando de racionalismo, 
ao mesmo tempo em que rechaçava a ideologia mística da época. (PALOMBA, 2003, p. 6) 
Convém citar o nome de Johann Weyer (1515-1588), médico holandês, oculista e 
demonologista que se propôs a estudar e a investigar a fundo os casos de feitiçaria, para então 
desmistificá-los, imprimindo a eles racionalidade com explicações de cunho naturalista. E foi 
dessa maneira que surgiram cada vez mais estudiosos que se empenhavam em plantar a semente 
da razão em época tão sombria e mística. 
Foi dentro da Igreja Católica, na época da Renascença, em que se desenvolvia o 
racionalismo, mais precisamente em Valência, Espanha, no ano de 1409, que surge o primeiro 
 
13 
 
hospício, servindo como uma espécie de hotel para alienados mentais. (FOUCAULT, 1986, 
p.3) 
Nesse diapasão, foi-se firmando o entendimento de que a loucura era nada mais que o 
contrário da razão. Esta percepção encontrava amparo no princípio da dialética, que defende 
que uma ideia sai de si própria (tese) para ser uma outra coisa (antítese) e depois regressa à sua 
identidade, se tornando mais concreta. 
Assim, formaram-se as Casas de Internação, para onde iam todos aqueles que não 
possuíam razão, os ditos loucos, que deveriam ficar isolados dos normais. O grande impasse 
dessa nova percepção da loucura era que, por mais que o louco não mais fosse associado ao 
demônio, por meio de interpretações misteriosas, ainda não era entendido como doente, mas 
como degenerado e devasso. Por conta disso, aqueles que eram levados às Casas de Internação 
eram submetidos a trabalhos forçados, juntamentecom criminosos ou com prostitutas, por 
exemplo. Como se não bastasse, também costumavam ser presos a correntes e outros tipos de 
amarras, trancafiados e bastante maltratados nessas casas. 
Ocorre que os loucos são incapazes de seguir regras coletivas e, por consequência, 
ineficazes para o trabalho, fato que gerou a necessidade de se criar tratamento especial para 
eles. A partir dessa assimilação, de forma paulatina, a loucura foi se medicalizando. 
Com o advento do Iluminismo, por volta do século XVII, a Medicina ganhou grande 
impulso, acarretando muitos estudos e pesquisas acerca da loucura e, com isso, surgiriam 
explicações médicas para o entendimento do desvario, reconhecendo os aspectos morais e 
comportamentais, através do estudo do cérebro, a fim de distinguir e, então, classificar os vários 
tipos de loucura. 
 
2.2 Construção histórica dos tratamentos psiquiátricos 
 
No ano de 1793, em Paris, ganhou bastante destaque Philippe Pinel, que curiosamente 
havia sido médico de Napoleão Bonaparte. Ele foi responsável por grande avanço na concepção 
da loucura, vez que incorporou a função médica ao libertar os loucos de suas correntes. As casas 
 
14 
 
de internação passariam de meros depósitos de loucos para casas de tratamento médico de que 
aquelas pessoas necessitavam. (PALOMBA, 2003, p. 11) 
Aliou-se a um respeitável grupo de intelectuais franceses conhecidos como “Ideólogos”, 
os quais, na seara médica, de maneira revolucionária e vanguardista, analisavam o paciente 
considerando diversos aspectos: mentais, físicos e sociais. Com isso, na década de 1790, houve 
grande reforma psiquiátrica, nada mais que produto da percepção dos ditos Ideólogos. Sob o 
prisma desses estudiosos, e por influência socrática, era importante também auferir sobre a 
ocupação, o histórico e a natureza, de forma geral, de cada enfermo. 
A fama de Pinel se estendeu pelo mundo. Desta sorte, desenvolveu-se a humanização 
da loucura. Os alienados mentais iam deixando de ser vistos como figuras abomináveis e 
bestiais, por tantas vezes temidas e repudiadas. A partir dali, começavam a ser percebidos como 
meros doentes, que, na verdade, necessitavam de tratamento adequado, sendo dignos de respeito 
e de compaixão pelo próximo. 
Com o decorrer dos anos, no início do século XIX, métodos ditos terapêuticos 
começaram a ser usados para fins de tratamento. Choques, banhos, sustos e técnicas de comoção 
física eram exemplos de meios utilizados nesse intuito. 
Diversos depoimentos, como o de Esquirol, psiquiatra francês, discípulo de Pinel, um 
importante estudioso destas instituições no século XIX, retratam este quadro: 
 
Eles são mais maltratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, 
estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de 
palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas 
indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, 
abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com 
falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas 
ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais. 
(UGOLOTTI, 1949 apud PESSOTTI, 1994, p. 154) 
 
Era tudo bastante rudimentar. Para os casos mais radicais, representados pelos 
indivíduos mais agitados, usava-se a camisa de força, a fim de contê-los. 
Gradativamente, ao passo em que a loucura se medicalizava, todo o aparato como jaulas, 
armários e algemas ia sendo desprezado e servindo, em um momento posterior, apenas como 
documento histórico. Toda simbologia obscura que as Casas de Internamento ostentavam 
começava a arrefecer. Iam, então, dando lugar ao hospício (hospitiu, hospitalidade, amparo), 
 
15 
 
encarregado de oferecer tratamento, que se desvencilhava da adoção de medidas como trabalho 
forçado ou cárcere. 
A partir de então, o pensamento filosófico que viria dominar a ciência das alienações 
mentais seria a Filosofia Moderna, cujo precursor foi René Descartes, criador do dualismo 
entre res corporea e res cogitans. O primeiro relacionado às coisas do corpo (substância 
corpórea) e o último condizente às coisas da consciência, da alma (substância pensante). De 
forma conclusiva, as “coisas do corpo" acarretariam doenças corpóreas, somáticas. Por sua vez, 
as “coisas da alma" calhariam em doenças mentais. Os colaboradores desse entendimento eram 
chamados de idealistas. 
Por volta do ano de 1841, Damerov, alemão, verteu o termo “medicina mental” para o 
grego, resultando em psycheiatreia (psyche: mente, iatreia: medicina), psiquiatria. A valer, 
grandes correntes psiquiátricas nasceram graças ao dualismo cartesiano, embasando toda a 
psiquiatria ocidental. (PALOMBA, 2003, p. 22) 
Fazendo contraponto à percepção idealista, surgem os organicistas, preconizando que 
as enfermidades mentais seriam cerebrais ou doenças do organismo como um todo. 
Consequentemente, este grupo acabou por prover significativas contribuições para a 
neuropsiquiatria. 
Já um outro grupo de estudiosos, conhecidos como unicistas, discordava do dualismo 
cartesiano, vez que considerava que corpo (soma), e alma (psyché) fossem um só, que apesar 
de serem duas substâncias distintas, no homem elas se fundiam. Dentre esses intelectuais, 
destacou-se o médico Benjamin Rush, tido como pai da psiquiatria americana. 
Houve um momento nesta linha do tempo que merece bastante realçamento. Foi o início 
da farmacologia, em meados de 1950, na França. Através da sintetização da clorpromazina, um 
neuroléptico, foi dado início a uma verdadeira transformação em todo o método terapêutico em 
vigor até então. Foi a partir daí, que surgiram os remédios com intenção de tratar variados tipos 
de insânia, como os antidepressivos, por exemplo. 
 
 
 
16 
 
2.3 A Psiquiatria Forense 
 
Ao passo que se firmava o senso de justiça entre os homens, os povos criavam suas leis. 
Depois de tanto tempo que o louco vivenciou sem o amparo de leis especiais para seu 
julgamento, leis que pudessem lhe proteger em razão de sua anormalidade, foi no século XVI 
que começaram a surgir questões para confrontar toda essa indiferença. 
 
Os princípios jurídicos dos juristas italianos do século XVI mostram bom 
conhecimento das condições subjetivas da capacidade psicológica de imputação de 
ato jurídico: O infante não deve ser castigado, isso até os 12 anos para a mulher e os 
14 para os homens, por presunção de falta de discernimento. Daí para a frente há 
limites. Os menores não podiam ser testemunhas em juízos criminais e as penas a eles 
aplicadas diminuíam conforme a idade fosse abaixando, desde os 25 anos, quando 
tornavam-se maiores. A velhice conhecia proteção análoga. (PALOMBA, 2003, p. 
65) 
 
É salutar observar que, àquela época, os juristas italianos consideravam 
como circunstâncias atenuantes o estado passional e também a ancianidade. E é nesse contexto 
que se vê surgir aquilo que seriam os primórdios da Medicina Legal, foi então que começaram 
a ser publicados os primeiros livros médico-jurídicos. 
Merece destaque o primeiro deles, de autoria do cirurgião militar francês Amboise Paré, 
em 1575, elencando os princípios da perícia. 
 
 O cirurgião, quando chamado pela justiça, deve fazer um relatório bem 
consciencioso, sincero e com isenção, pois os juízes julgam segundo o que se lhes 
relatam e muitas vezes é difícil reconhecer a causa de certas doenças, mortes ou 
ferimentos. (PARÉ, 1840, p. 214) 
 
Nesse diapasão, não se pode deixar de mencionar Cesare Lombroso (1836 – 1909), 
italiano, médico legista e psiquiatra, que ganhou notoriedade pelo mundo por conta de sua 
escola criminológica ampla, bastante difundida e, por isso, citada por diversas autoridades 
mundiais. O valor doutrinário de sua obra é eminente, pregava a tipologia criminal. Sua 
concepção positivista o tornou um autor a ser estudado até os diasde hoje. Relacionava aspectos 
físicos do criminoso à propensão de se cometerem delitos. 
 
17 
 
Concluiu que a hereditariedade deveria ser levada em consideração. Desta feita, para 
ser um criminoso, o indivíduo não seria induzido pelo meio, vez que influências externas em 
pouco iriam contribuir, uma vez que a patologia criminosa já se encontrava nele desde nascido, 
e seria questão de tempo até desencadear-se. Seu trabalho foi amplamente divulgado e ganhou 
diversos adeptos, inclusive no Brasil. Contudo, sua tese foi, paulatinamente, sendo rebatida e 
caindo em desuso. 
Em um entendimento mais atual, considera-se que Medicina Legal é “a arte de aplicar 
os conhecimentos e os preceitos de diversos ramos principais e acessórios da Medicina à 
composição das leis e às diversas questões de direito, para iluminá-los e interpretá-los 
convenientemente”. (FRANÇA, 2011. p. 134) 
Quando se fala nessa ciência, há de se reconhecer o seu precursor. Poucos médicos 
tiveram tanto prestígio e respaldo quando Paulo Zacchia. Sua obra entitulada Quaestionum 
medico-legalium, escrita de 1621 a 1627, reputada como primeira grande obra completa que 
versa sobre Medicina Legal, apresenta doutrina específica sobre as diversas searas da Medicina, 
o que inclui a chamada Psiquiatria Forense que, até então, nunca havia sido tão bem explorada 
e definida. 
À vista disso, tem-se que a Psiquiatria Forense nada mais é que fruto da Medicina Legal, 
tendo em conta que os diversos tratados de Medicina Legal continham uma seção destinada a 
tratar da alienação mental em face da legislação. 
No início do século XIX, se deu o aparecimento dos primeiros cursos de Medicina Legal 
nas faculdades de Medicina. Tardiamente, por volta do ano de 1836, surgiu também nas 
faculdades de Direito. 
 
A Medicina Legal serve mais ao Direito, visando defender os interesses dos homens 
da sociedade, do que à Medicina. A designação legal emprestada a essa ciência indica 
que ela serve, no cumprimento de sua nobre missão, também das ciências jurídicas e 
sociais, com as quais guarda, portanto, íntimas relações. É a Medicina e o Direito, 
completando-se mutuamente, sem engalfinhamentos. (CROCE, 2010, p. 31) 
 
Chegando à segunda metade do século XIX, apesar de ainda não ter conquistado total 
autonomia, independência em relação à Medicina Legal, sem possuir seus próprios tratados, a 
Psiquiatria Forense seria, cada vez mais, imprescindível em processos judiciais que 
 
18 
 
apresentavam incidentes de insanidade mental ou mesmo em questões que versavam sobre 
imputabilidade penal e capacidade civil. 
Após esse relato histórico, analisando o panorama atual, observa-se que a Psiquiatria 
Forense, hoje amplamente consolidada no cenário mundial, corresponde à aplicação de 
conhecimentos e técnicas psiquiátricas aos processos jurídicos, dando ênfase ao estudo do 
comportamento do indivíduo no meio social. Vale dizer que objetiva a conexão entre psiquiatria 
e direito, na medida em que busca dirimir dúvidas em situações que abordam a capacidade, em 
seus diversos aspectos, de um indivíduo. Portanto, exerce função auxiliar do Direito, vez que é 
incumbida de informar ao juiz sobre essa capacidade no que tange noções de bem e de mal, em 
matéria de gestão de bens ou de exercício de funções parentais, como exemplo. 
No entendimento de José Carlos Dias Cordeiro (2003, p.15), 
 
O exercício ético da psiquiatria forense, à semelhança de outras áreas de atividade, 
começa por uma atitude rigorosamente neutra, isto é, sem qualquer tipo de preconceito 
alegadamente moral, religioso, rácico, na peritagem psiquiátrica de uma situação ou 
comportamento. Na prática, esta atitude corresponde a uma total disponibilidade para, 
à partida, aceitar equidistantemente, por exemplo, a responsabilidade civil ou 
criminal, ou a ausência dela. Isto na base do princípio universalmente aceito, 
teoricamente, mas não na prática, de que todas as pessoas são presumíveis inocentes, 
até que seja provado o contrário. 
 
Em poucas palavras, a Psiquiatria Forense consiste na aplicação dos conhecimentos e 
das técnicas psiquiátricas aos processos jurídicos dando destaque ao comportamento dos 
indivíduos com outros em sociedade. Chamada também de “juspsiquiatria”, requer de seus 
profissionais estudos específicos, técnica apropriada e treino exaustivo, a fim de que se cumpra 
de forma correta, vez que lavrar o laudo de sanidade mental de um réu é tarefa demasiadamente 
séria e que a ele trará consequências dramáticas. 
O ordenamento jurídico brasileiro compreende a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, 
que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e 
redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Para conferir a substância do dispositivo, 
vale observar em especial seus dois primeiros artigos. 
 
Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que 
trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, 
 
19 
 
cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, 
recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, 
ou qualquer outra. 
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus 
familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados 
no parágrafo único deste artigo. 
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: 
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às 
suas necessidades; 
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de 
beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no 
trabalho e na comunidade; 
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; 
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; 
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a 
necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; 
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; 
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de 
seu tratamento; 
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos 
possíveis; 
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde 
mental. (BRASIL, 2001) 
 
A Psiquiatria Forense deve estar em consonância com o Código Penal. É conveniente 
dizer que, analisando o panorama mundial, essa especialidade não encontra grandes 
divergências entre os países, sofrendo algumas variações na abordagem da enfermidade mental 
e, por consequência, no tratamento legislativo acerca de suas relações com o direito. Não há 
uma inclinação doutrinária, nem mesmo um país com ideias psico-forenses que predominem. 
Cabe, neste momento, averiguar, então, o que versa o Código Penal Brasileiro a respeito 
da inimputabilidade: 
 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz 
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento. 
Redução de pena 
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o 
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do 
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1940) 
 
A imputabilidade consiste em condição legal para que haja imposição da sanção penal 
ao indivíduo que pratica um fato típico e antijurídico. Se dá quando o autor do fato é 
mentalmente capaz de compreender a ilicitude do ato praticado ou se determinar de acordo com 
essa percepção. Faltando ao autor a inteira capacidade de compreensão da ilicitude de sua 
 
20 
 
conduta, por conta de uma doença mental ou de um desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado,a ele é inviável a aplicação de sanção penal, sendo, dessa forma, inimputável. 
Vê-se, então, que a lei isenta de pena aquele cuja debilidade mental impede a 
compreensão da ilicitude do fato praticado. A doença ou o desenvolvimento mental incompleto 
ou retardado devem ser a causa de sua total falta de compreensão da ilicitude dos fatos. Dessa 
maneira, se deve enfatizar que a simples existência de doença mental não é suficiente para o 
reconhecimento da inimputabilidade. 
Por outro lado, a hipótese do parágrafo único do artigo 26 do Código Penal trata de uma 
imputabilidade mitigada, advinda de uma concepção reduzida da ilicitude penal, que decorre 
também de perturbação mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. 
Convém, neste momento, mostrar entendimento jurisprudencial sobre o assunto: 
HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO 
ESPECIAL.DESVIRTUAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. SEMI-
IMPUTABILIDADE. PRETENDIDO RECONHECIMENTO. 
IMPOSSIBILIDADE. PLENA COMPREENSÃO DO CARÁTER ILÍCITO DO 
FATO. PORTE DE DROGAS PARA USO PRÓPRIO E TRÁFICO DE DROGAS. 
CONDUTAS DE NATUREZA DIVERSA. MANIFESTO CONSTRANGIMENTO 
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do habeas corpus, a fim de preservar 
a coerência do sistema recursal e a própria função constitucional do writ, de prevenir 
ou remediar ilegalidade ou abuso de poder contra a liberdade de locomoção. 
2. O remédio constitucional tem suas hipóteses de cabimento restritas, não podendo 
ser utilizado em substituição a recursos processuais penais, a fim de discutir, na via 
estreita, temas afetos a apelação criminal, recurso especial, agravo em execução, 
tampouco em substituição a revisão criminal, de cognição mais ampla. A ilegalidade 
passível de justificar a impetração do habeas corpus deve ser manifesta, de 
constatação evidente, restringindo-se a questões de direito que não demandem 
incursão no acervo probatório constante de ação penal. 
3. Para a aplicação da causa geral de diminuição relativa à semi-imputabilidade, faz-
se necessário que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento 
mental incompleto ou retardado, o agente, no momento da prática da ação delituosa, 
não seja capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com 
esse entendimento. 
4. Mostra-se inviável a aplicação da causa geral de diminuição de pena prevista no 
parágrafo único do art. 26 do Código Penal, quando evidenciado que o paciente, ao 
tempo do delito de narcotráfico, era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito 
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
5. Não se mostra contraditória a conclusão do laudo psiquiátrico no sentido de que, 
em relação ao delito de tráfico de drogas, o paciente era plenamente imputável, mas, 
quanto ao crime de porte de drogas para uso próprio, era, à época do fato, inteiramente 
capaz de entender o caráter ilícito do mesmo; contudo, devido à dependência, era 
parcialmente capaz de determinar-se de acordo com esse entendimento, uma vez que 
o fato de o paciente não conseguir recusar uma oferta de drogas para consumo próprio 
não importa, automaticamente, na sua incapacidade de evitar o exercício da 
traficância, tendo em vista a natureza diversa dessas condutas. 
6. Habeas corpus não conhecido. (BRASIL, 2010) 
 
21 
 
 
Isto posto, conclui-se que no caput deste artigo haverá isenção de pena em razão da 
absoluta impossibilidade de o autor do fato compreender a ilicitude de sua conduta ou 
determinar-se de acordo com esse entendimento, em razão de doença mental ou de seu 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Tem-se, nesse caso, uma condição de 
inimputabilidade. 
Em contrapartida, no parágrafo único da mesma regra, haverá somente a redução da 
pena, como resultância de uma relativa impossibilidade de compreender a ilicitude de sua 
conduta, também em razão de perturbação mental ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado. Nessa situação, os doutrinadores brasileiros falam em semi-imputabilidade. 
O Código de Processo Penal brasileiro, em seu artigo 149, demonstra como se dá o 
exame de insanidade mental na persecução penal: 
 
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz 
ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, 
do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a 
exame médico-legal. 
§ 1o O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação 
da autoridade policial ao juiz competente. 
 § 2o O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando 
suspenso o processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que 
possam ser prejudicadas pelo adiamento. (BRASIL, 1941) 
 
O exame de sanidade mental, uma vez ordenado pelo juiz, só terá validade se for 
procedido, impreterivelmente, por um juspsiquiatra. 
É válido ressaltar que o periciado, protegido pela já mencionada Lei nº 10.216/2001, em 
seu artigo 2º, parágrafo único, IV, tem a garantia de sigilo nas informações que forem prestadas, 
de modo que o perito fica proibido de divulgá-las, devendo manter o sigilo profissional. 
 
 
 
 
 
22 
 
3 A MENTE PSICOPATA E SUAS TIPOLOGIAS 
 
A psicopatologia, base da psiquiatria, se ocupa em estudar os estados psíquicos que 
estão relacionados ao sofrimento mental. Dentre os distúrbios de que ela trata destacam-se as 
personalidades psicopáticas. Psicopatas, existentes em qualquer tipo de sociedade, e dentro 
delas, em qualquer um dos segmentos, são indivíduos cujo tipo de conduta é extremamente 
peculiar. Não podem ser qualificados como loucos nem como débeis. Encontram-se em um 
campo intermediário. 
Existe, nesse grupo de pessoas, comportamento, conduta moral e ética extremamente 
afetados. Desmunidos de empatia, sensibilidade e compaixão, trazem muitos transtornos para 
a sociedade, muitas vezes, cometendo crimes. 
 
3.1 A psicopatologia e a formação da personalidade antissocial 
 
A análise psiquiátrico-forense tem por escopo avaliar o psiquismo delinquencial. Para 
tanto, é necessário responder a uma série de indagações que levam à compreensão que se deseja. 
Conhecer os fatores biológicos (temperamento e patologia) ou psicossociais (histórico familiar 
e social) que levaram o paciente a cometer o delito, saber se ele entendia o caráter delitivo do 
ato no momento de sua prática e auferir se diante desse entendimento, era capaz de se comportar 
de acordo com ele são questionamentos que devem ser dirimidos durante o exame em questão. 
Embora não haja um limite nítido entre normalidade e anormalidade e a prudência seja 
grande aliada no momento de fazer referida distinção, é possível entender por “normal” aquilo 
que seria o mais comum, mais esperado, previsível, dentro de uma amostra. De maneira 
estatística, consiste na característica que aponta uma tendência em determinado grupo. A partir 
dessa premissa, os comportamentos que são considerados típicos, isto é, os "esperados" de se 
encontrar e de acordo com os padrões sociais aceitáveis para o agir são considerados 
comportamentos "normais". Em contrapartida, todo comportamento que se opõe a esse padrão 
deve ser interpretado como indício de patologia. 
 
 
23 
 
Raitzin (1949 apud CROCE, ano, p. 629) aduz que: 
 
É a normalidade mental, com efeito, considerada simplesmente qual um conceito 
primacial dos conhecimentos psicológicos, e como uma realidade virtual do 
psiquismo, quando nele não se nota nenhum dos estigmas mórbidos ou sinais 
patológicos por que se diferenciam e identificam as diversas constituições 
psicopáticas e as síndromes características das moléstias mentais conhecidas. 
Destarte, todo indivíduo cujo tipo de mentalidade e comportamento não esteja 
incluído na nosologia psiquiátrica, fica de fato categorizado, classificado como 
normal. 
 
A psicopatologia consiste no campo do saber que se destinaa estudar o sofrimento da 
mente, ou seja, objetiva-se estudar a mente nos casos em que há alteração em seu 
desenvolvimento e execução. Assim, psicopatologia traduz o estudo dos transtornos mentais, 
que, por sua vez, significam desordens no funcionamento da mente que danificam o 
desempenho do indivíduo na vida pessoal, familiar e social, vez que pode prejudicar a 
capacidade de autocrítica. 
Transtornos mentais podem causar muito sofrimento e incapacidade. De modo geral, 
são consequência de uma gama de fatores, como exemplo, alterações no funcionamento do 
cérebro, fatores genéticos, a própria personalidade do indivíduo, estresse excessivo ou até 
mesmo o sofrimento de agressões psicológicas ou físicas. Dessa maneira, se entende que eles 
não têm causa específica, resultam de condições biológicas, psicológicas e socioculturais. 
Basicamente, o transtorno mental se divide em dois grupos, que são considerados a base 
da psiquiatria: a enfermidade mental, composta pela psicose e pela neurose; e o estado anormal, 
dividido entre oligofrenia e psicopatia. 
Considera-se que neurose e psicose são fases sucessivas de um mesmo processo mental. 
No entendimento de Beca Souto (apud ALBERGARIA, 1988 p. 86), “psicose consiste na 
alteração patológica, mais ou menos prolongada, das funções psíquicas, a qual impede a 
adaptação do indivíduo às normas do meio ambiente, com perigo ou prejuízo para si próprio e 
para a sociedade igualmente.” 
Já o caso de neurose se assemelha a uma obsessão, certa angústia ou medo provenientes 
de um conflito psíquico. Para diferenciar os transtornos desse mesmo grupo, vale salientar que, 
na neurose, o indivíduo reconhece que está doente e deseja melhorar. Ele não nega a realidade, 
 
24 
 
a conhece, mas a ignora. Em contrapartida, na psicose, o paciente sequer percebe sua 
enfermidade. Além disso, nega a realidade e também procura substituí-la. 
Examinando o segundo grupo, o do estado anormal, a oligofrenia é caracterizada pela 
deficiência mental, de modo a abranger aqueles que possuem detenção das faculdades 
psíquicas, não atingindo o nível considerado normal. Seria a escassez de inteligência, déficit 
intelectual, adquirido de forma congênita ou em idade precoce, se subdividindo em três 
subgrupos, de acordo com sua intensidade (oligofrênicos suaves, moderados e profundos). 
Os oligofrênicos se diferenciam dos dementes, pois desde o nascimento ou logo nos 
primeiros anos de vida, já mostram retardamento mental, insuficiência de suas capacidades 
intelectuais. Em contrapartida, aqueles considerados dementes vêm a apresentar deficiência 
intelectiva somente após esses períodos. Em outras palavras, o oligofrênico, em especial o de 
grau profundo, nunca teve vida intelectual ativa, já o demente pode ter tido de forma intensa 
em algum momento, vindo a perdê-la posteriormente. No entendimento análogo de Esquirol 
(apud JASON, 1988, p. 104) “o demente é um rico que se tornou pobre, e o oligofrênico já 
nasceu pobre”. Justamente por conta dessa supressão das faculdades psíquicas, são levados à 
dificuldade de se adaptar ao meio social. 
Ainda dentro desse segundo grupo, encontra-se a psicopatia. Para discorrer sobre ela, 
insta que se façam apontamentos quanto à definição de personalidade. Para Boll e Baud, a 
personalidade de uma pessoa é “o conjunto de suas atitudes e de seus modos ao reagir ao meio 
ambiente, distinguível das pulsões biológicas, manifestações das necessidades e das tendências 
no amplo sentido da palavra, e na organização da conduta que tende a satisfazer estas 
necessidades.” ( BAUD e BOLL apud CROCE, 2010, p. 673) 
Cumpre entender por “tendências e necessidades” o caráter, e por “intelecto”, o conjunto 
de meios de se organizar um comportamento. 
Considera-se como normal, média, uma personalidade que se apresente como a soma 
dos seguintes elementos psíquicos em harmonia: inteligência, caráter e comportamento. É 
esperado que essa síntese, influenciada por fatores hereditários e mesológicos (aqueles relativos 
ao meio ambiente) capacite o indivíduo normal a viver tranquilamente em sociedade. 
Por outro lado, se chamam “personalidades psicopáticas” aqueles indivíduos que, 
embora não apresentem perturbação na inteligência nem tenham sofrido deterioração dos 
 
25 
 
elementos que integram a psique, mostrem, ao longo de sua vida, intensos transtornos de 
instintos, temperamento, caráter e afetividade, desenvolvendo uma verdadeira anormalidade 
mental, considerada preexistente. 
Mesmo com tudo isso, não se considera que eles possuam enfermidade mental 
exatamente. Em outras palavras, a personalidade psicopática, também chamada de antissocial, 
nada mais é que todo o indivíduo que apresenta instabilidade mental patológica sem, contudo, 
perder suas funções intelectuais. 
Na verdade, se trata de uma zona fronteiriça entre a sanidade mental e a loucura. Os 
pacientes não apresentam delírios, confusão ou alucinações. Eles sequer perdem o senso da 
realidade. 
Psicopatia, então, alberga aqueles indivíduos que comportam personalidades causadoras 
de sofrimentos a si e à sociedade, abrangendo variações de personalidades pervertidas. Observa-
se que a razão etimológica da palavra “psicopatia” já não faz mais sentido, vez que 
anteriormente se referia simplesmente àqueles diferentes dos normais. 
 
3.2 Perfil do psicopata 
 
Faz-se necessário, a partir de agora, analisar com propriedade o perfil do psicopata, a 
fim de compreender sua atmosfera e identificá-lo com facilidade. 
A maioria dos autores contemporâneos aceita o alienista britânico Pritchard como o 
pioneiro a tratar de maneira mais adequada a psicopatia, por volta do ano de 1835, época em 
que disse que: 
 
São distúrbios nos quais existe uma perversão do sentimento, do temperamento, da 
tendência, dos hábitos e da ação, sem irregularidade na faculdade intelectiva. Essa 
loucura do sentimento consiste na unilateral e circunscrita atrofia do senso moral, com 
consequência sobre a conduta. (KRAEPELIN, 1907 apud PALOMBA, 
2003, p. 517) 
 
 
26 
 
São sinônimos contemporâneos de psicopatia: transtornos de personalidade e de 
comportamento, condutopatia, sociopatia, personalidades psicopáticas e personalidades 
antissociais, por exemplo. 
Do ponto de vista clínico, convém dizer que de 1 a 4% da população apresenta 
psicopatia. 
 
Especificamente, o conceito clínico do qual nos servimos é devido a Kurt Schneider, 
considerando desde logo que a sua “etiologia” é constitucional e apresenta as seguintes 
características: 
1) Ser congênita, isto é, sua existência independente de fatores exógenos ou 
psicógenos; o que se pode considerar é que seu aparecimento, por vezes, pode 
depender de tais fatores. 
2) Ser precoce, isto é, suas manifestações surgem cedo, sendo possível reconhecê-la 
precocemente em um indivíduo: normalmente começa na infância ou na 
adolescência, lá pelos 9, 10, 12 ou 14 anos (constituindo-se na chamada “criança-
problema”), continua pela vida adulta afora, ficando mais fácil o diagnóstico ser 
elaborado em torno de 15 ou 16 anos. 
3) Como se trata de uma alteração congênita o que apresentam, são influenciáveis à 
terapêutica, seja ela medicamentosa, seja psicoterápica. (EÇA, 2010, p. 284) 
 
No entendimento do psiquiatra alemão Kurt Schneider, a psicopatia pode ser 
interpretada como uma anormalidade permanente do caráter. Essa premissa leva a concluir que 
não se trata propriamente de uma enfermidade, como no caso da psicose; tampouco de um 
defeito intelectual, o que ocorre na oligofrenia. 
Considera-se que o psicopata esteja em uma zona fronteiriça entre a normalidade e a 
doença mental. 
No caso de psicopatia, não há que se falar em insuficiência significativa de inteligência, 
vez que seus pacientes podem, inclusive, ser bastante inteligentes, eloquentes e influentes, 
tomando, por vezes, posições de liderança no trabalho ou em outra situação social. 
Os psicopatas, emsua maioria, são indivíduos incapazes de demonstrar ou possuir 
sentimentos altruístas, vez que possuem em sua caracterização, um arraigado desprezo pelas 
obrigações sociais. Dessa forma, são inaptos a enquadrar-se aos padrões éticos e morais de 
qualquer sociedade em que estejam inseridos. Seu transtorno se deve ao comprometimento de 
três estruturas psíquicas, quais sejam: a afetividade, a conação-volição (impulso que dá lugar a 
 
27 
 
um ato, seguido da decisão de praticar esse ato) e a capacidade crítica. Contudo, todas as outras 
partes mentais são mantidas de forma íntegra. 
O comprometimento da afetividade significa dizer que o paciente apresenta traços fortes 
de insensibilidade, egoísmo, indiferença e suas respostas emocionais são flagrantemente 
inadequadas. Além disso, a sua capacidade de autocrítica e de julgamento de caráter ético e 
moral se encontra estruturada de modo atípico, prova disso é que não há inibição do movimento 
voluntário, qualquer que seja sua vontade. 
 
O condutopata se relaciona com o mundo de forma característica, cujo padrão de 
comportamento surge no curso do desenvolvimento individual, como fruto de fatores 
constitucionais e de vivências pessoais, e desvia-se dos padrões culturais, do meio 
social no qual se desenvolveu, com repercussões coletivas, familiares, ou em outras 
áreas importantes da vida em sociedade. O padrão de comportamento é estável, 
podendo se iniciar na adolescência ou no começo da idade adulta, isso quando não 
começou na infância e bem precocemente. (PALOMBA, 2003, p. 516) 
 
Importante é frisar que não se pode falar propriamente em personalidade psicopática 
formada em crianças ou adolescentes. Isso porque somente após os 21 anos, a personalidade do 
indivíduo se encontrará sedimentada. Até lá, o paciente, com o padrão de comportamento 
estável, provavelmente, dará muitos indícios de que possui tendência psicopata. Nestes casos, 
logo em tenra idade, são comuns os maus tratos contra animais, a insensibilidade, a indiferença 
à dor psíquica e até mesmo física. Essas crianças ou adolescentes pouco reagem a punição dos 
pais, fazendo que, muitas vezes, esses desistam de insistir em mudar aquele comportamento 
perturbado e indesejável. 
Uma característica extremamente marcante dos portadores deste distúrbio é a falta de 
empatia, que significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso 
estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Em outras palavras, empatia é a capacidade de 
considerar e respeitar os sentimentos alheios. Eles não se importam com o que sente seu 
próximo, já que são movidos por puro egoísmo. 
Segundo o psicólogo canadense Robert Hare (1999 apud SILVA, 2014, p. 35), “os 
psicopatas têm total ciência dos seus atos (a parte cognitiva ou racional é perfeita), ou seja, 
sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e por que estão agindo dessa maneira.” 
 
28 
 
Quando cometem atos criminosos, estes provêm de um raciocínio frio e calculista. 
Muitas vezes metódicos, os psicopatas traçam determinado objetivo e, para alcançá-lo, não 
medem consequências. O que de fato interessa é o resultado a se atingir e, por isso, inúmeras 
são as vezes em que se utilizam de outras pessoas, como meros objetos, para conquistar o 
objetivo, sem vestígios de arrependimento ou culpa. 
Nesse diapasão, destaca-se o poder de persuasão e o talento teatral que desenvolvem. 
Quando descobrem que seu comportamento não está sendo aceito socialmente, tratam de 
escondê-lo, não por vergonha, mas por questão estratégica. Assim, desenvolvem uma dupla 
existência. Disfarçam suas características reais para dar lugar a um personagem, aquele que 
será aceito socialmente, com o único escopo de poder viver sem que seus planos sejam 
comprometidos. 
Portadores de personalidade psicopata, em regra, são bem articulados, espirituosos e 
eloquentes. Com uma conversa agradável, passam uma boa imagem. São bastante egocêntricos, 
o que corrobora com a ideia de viver de acordo com as próprias regras em detrimento das regras 
de convívio social ou mesmo da lei. 
Segundo Eça (2010, p. 282), estudos epidemiológicos chegaram a registrar que apenas 
47% das pessoas caracterizadas com distúrbios de personalidade apresentavam histórias de 
processos criminais realmente significativos. Além disso, normalmente, não são capazes de 
aprender com a punição e de modificar seu comportamento. 
 
3.3 Tipologias das personalidades psicopáticas 
 
Segundo Silva (2014, p. 39): 
 
Os psicopatas, em geral, são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, 
dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. São 
incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocarem no lugar do outro. São 
desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. 
Em maior ou menor nível de gravidade, e com formas diferentes de manifestar os seus 
atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros predadores sociais, em cujas veias 
e artérias corre um sangue gélido. 
 
Em seu livro, analisa Ana Beatriz Barbosa Silva (2014, p. 144) que os psicopatas não 
são necessariamente assassinos. Em geral, estão envolvidos em transgressões sociais, como 
 
29 
 
tráfico de drogas, corrupção, roubos, assaltos à mão armada, estelionatos, fraudes no sistema 
financeiro, agressões físicas e violência no trânsito, por exemplo. Ocorre que, na maioria das 
vezes, não são descobertos nem penalizados por seu comportamento ilícito. Um exemplo típico 
que a autora cita de tal comportamento é o abuso físico e psicológico de mulheres e crianças, o 
que constitui uma transgressão de difícil controle por parte da sociedade. Fato é que se existe 
uma “personalidade criminosa”, ela se realiza completamente no psicopata. Ninguém estaria 
tão habilitado a desobedecer às leis, enganar ou ser violento como ele. 
Visto isso, deve-se dizer que há uma classificação, uma tipologia, que subdivide os 
portadores de personalidades psicopáticas. Existem tipos mais propensos ao cometimento de 
crime que outros. 
O tipo hipertímico é aquele que se apresenta alegre, eufórico, sempre agitado. Com um 
jeito muito informal, trata todos com certa familiaridade, mesmo que esta não exista de fato. 
Manifesta excesso de ideias e é bastante impulsivo. De maneira frequente, estará associado a 
brigas, disputas, infidelidade e furtos. 
O psicopata depressivo se identifica como exatamente o oposto do hipertímico. 
Geralmente triste e desanimado, mostra pouca atividade física e intelectual. 
O tipo lábil de humor já demonstra intensa instabilidade em seu temperamento, com 
abruptas oscilações sem motivo aparente e de maneira desproporcional, o que, geralmente, 
resulta em abandono de trabalho, alcoolismo e toxicomanias. Por conta desse perfil, tem a 
tendência de praticar roubos e agressões. 
O tipo explosivo se mostra como aquele irritável. Exalta-se por qualquer motivo e tem 
necessidade de descarregar imediatamente suas tensões, sem qualquer tipo de filtro, de 
ponderação. Algo curioso neles é o fato de, em sua, maioria, serem pessoas pacatas e até dóceis, 
até o momento em que “explodem”. Os crimes normalmente cometidos pelo tipo explosivo são 
atos violentos e os crimes passionais. 
A espécie de psicopata ostentativa é aquela em que o indivíduo que retrata grande 
carência, necessitando mostrar-se melhor do que é, estando sempre preocupado com as 
aparências. Cheio de si, narcisista, pretende se supervalorizar perante a sociedade e, para tanto, 
se utiliza bastante de artifícios como sua fértil imaginação e a mentira. Com frequência comete 
o crime de estelionato. 
 
30 
 
Existem muitos outros tipos de personalidades psicopáticas, antissociais, porém, 
convém, agora, destacar uma, inclusa nos tipos especiais: os assassinos em série. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
4 OS ASSASSINOS SERIAIS 
 
Os assassinos seriaisse apresentam como portadores de personalidades anormais. São 
caracterizados por apresentar um difícil relacionamento pessoal, podendo ser levados ao delito 
por motivos diversos, que, para que sejam compreendidos, devem passar pelo crivo da 
psicanálise criminal. 
Consistem na espécie de psicopata mais danosa à sociedade, em decorrência da 
gravidade dos crimes que cometem. A característica basilar de um serial killer é a sequência de 
assassinatos que realizam, obedecendo determinado roteiro por ele estabelecido, bem como 
uma assinatura, que caracteriza o seu crime. 
4.1 Perfil delinquente 
 
O assassino serial caracteriza-se, basilarmente, por assassinar, de forma semelhante e 
repetitiva. Há três tipos: o normal mentalmente, o doente mental e o fronteiriço. 
Mentalmente normal seria exatamente aquele que mata com fins lucrativos, por 
encomenda de terceiros. Ele é o popular assassino de aluguel, que encara essa conduta como 
um trabalho como qualquer outro. Na verdade, não se trata de um psicopata em absoluto. 
O assassino serial doente mental, de caráter psicótico, em regra, sempre age sozinho, 
sua conduta surge como consequência de uma descarga de agressividade incomum. É o caso 
dos franco-atiradores, os quais descarregam armas em desconhecidos, em locais com grande 
número de pessoas, sem motivo na maioria das vezes, almejando atingir a maior quantidade 
possível de vítimas. Vale salientar que a ação, nesse caso, advém, por inúmeras vezes, de 
alucinações ou delírios, típicos do portador de psicose. 
Esse tipo de assassino se difere do psicopata, pois não entende a realidade da situação, 
vez que cria a sua e toma atitudes de acordo com essa fantasia. Ele acredita estar agindo de 
forma adequada e, por isso, não há ocultação de cadáveres, fuga ou dissimulação. 
Finalmente, o assassino em série, propriamente dito, o famoso serial killer é o 
fronteiriço, psicopata, tema do estudo em questão. Diferentemente do doente mental, sua 
 
32 
 
atividade homicida não se dá de uma só vez, visto que, entre um assassinato e outro, o intervalo 
de tempo pode ser longo. 
Há uma outra forma de classificação de serial killers, que os divide em organizados e 
desorganizados. A primeira engloba o assassino socialmente adequado, que geralmente aponta 
histórico de abuso físico na família, usa frequentemente a sedução para atrair e dominar as 
vítimas, apresenta controle sobre a cena do crime, bem como planeja sua ação, deixando poucas 
ou nenhuma prova da materialidade ou autoria do delito. Como o próprio nome diz, é um serial 
killer extremamente organizado. Já os assassinos em série desorganizados diferem dos 
primeiros, pois não costumam planejar seus crimes, além de agirem sempre por impulso e não 
se preocuparem com os vestígios deixados. 
Vamos nos ater, principalmente, à análise do assassino serial mais emblemático, do tipo 
psicopata e organizado. 
Como psicopata que é, a falta de senso moral e ético é alarmante, não desfruta de 
afetividade em nenhum aspecto, a não ser o teatral, quando está vivendo um personagem a fim 
de mascarar seu real perfil macabro. Vez que não se encontram comprometidos os campos da 
inteligência, da memória, da vigilância e da sensopercepção, a frieza patológica de suas 
condutas sedimenta ainda mais o seu caráter antissocial. 
Muitos estudos mostram que a causa dessa personalidade peculiar se deve ao fato de 
que esses criminosos dispõem de manifestações cerebrais diferentes de um ser humano comum. 
Seu sistema límbico, responsável por todas as emoções, como alegria, raiva, medo, tristeza, por 
exemplo, quase não possui atividade. Em compensação, a região do lobo pré-frontal, que 
responde pela racionalização e atitude, encontra-se em intensa atividade cerebral. Nas pessoas 
mentalmente sadias, essas duas regiões produzem atividades igualmente intensas. 
Os assassinos seriais, em sua maioria, apresentam um convívio social dificultoso, o que 
se inicia logo cedo, quando crianças ou adolescentes. Geralmente, eles provêm de uma família 
desestruturada, tendo vivenciado diversos episódios de violência física e psicológica. Essa 
conjuntura não é difícil de ser assimilada, vez que a personalidade humana se forma muito cedo 
no indivíduo, com seu nascimento e, posteriormente, com o advento de suas experiências e 
influências externas, a ela vão sendo agregados mais elementos, que darão forma ao 
 
33 
 
comportamento. Desse modo, a personalidade anormal, antissocial, do serial killer vai se 
sedimentando. 
Eça (2010, p.318) afirma que: 
 
 
Se por um lado, os doentes mentais, mesmo os criminosos, interagem com o mundo a 
partir de uma realidade que eles mesmos criam em suas mentes doentias, por sua vez, 
os indivíduos portadores de personalidades psicopáticas interferem e interagem coma 
realidade, a partir de sua personalidade, que se mostra desajustada aos padrões 
socialmente aceitos e voltada principalmente para a satisfação das suas necessidades 
e anseios. 
 
Observa-se que, para este tipo de criminoso, não importam as regras sociais, a moral ou 
os costumes. Apesar de ter perfeita ciência sobre tudo isso, bem como sobre o ordenamento 
jurídico que proíbe os crimes que comete, para ele, nada é mais importante que a sua vontade, 
por mais desprezível que ela seja. Para satisfazer seus mais pervertidos desígnios, ele é capaz 
de qualquer atitude. 
Costumam agir de forma natural, planejam, dissimulam e, quando fazem vítimas, se 
preocupam em ocultar o corpo e não deixar vestígios, pois reconhecem plenamente o caráter 
ilícito dos atos cometidos. 
 
4.2 Os assassinos seriais ante a Psiquiatria Forense 
 
O modo com o qual os psicopatas criminosos, o que inclui logicamente os assassinos 
seriais, vêm sendo tratados pelo ordenamento jurídico pátrio tem acarretado verdadeira celeuma 
jurídica. Há discussão acerca da necessidade de tratamento judicial diversificado a eles, os quais 
são considerados, por parte da doutrina e jurisprudência, como semi-imputáveis 
De acordo com o Código Penal Brasileiro, a imputabilidade se define como a capacidade 
do agente de entender o caráter ilícito do fato praticado e de determinar-se de acordo com isso. 
Guilherme de Souza Nucci (2013, p. 210) leciona a respeito do conceito de 
culpabilidade: 
 
Trata-se de um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo 
o agente ser imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a 
 
34 
 
possibilidade e a exigibilidade de atuar de outro modo, seguindo as regras impostas 
pelo direito (teoria normativa pura, proveniente do finalismo). 
 
Ocorre que, psicopatas, incluindo os de alta periculosidade, como os serial killers, 
entendem perfeitamente o caráter ilícito do fato, tanto é, que quando cometem crimes, planejam, 
dissimulam e, geralmente, fogem e ocultam vestígios do delito. Em contrapartida, devido a sua 
personalidade antissocial, característica intrínseca de sua anormalidade, não conseguem se 
determinar diante desse entendimento, não tem a capacidade necessária de autodeterminação. 
Por isso, devem ser considerados semi-imputáveis. 
Em outras palavras, eles possuem um transtorno de personalidade e, em decorrência 
disso, não detêm o controle essencial sobre seus atos, justamente por lhes faltarem os chamados 
“freios instintivos”. Assim, agem como se fossem normais, entendendo a realidade dos fatos, 
cientes da ilicitude da conduta, porém, sua ação é demasiadamente perversa, eivada de frieza e 
crueldade, vez que sentem um prazer anormal na prática da maldade e nada é capaz de impedi-
los de realizar o que desejam. 
O criminoso deve ser analisado, levando-se em conta todas as suas particularidades, e a 
personalidade é uma particularidade de suma importância, visto que, por ser algo constitucional 
e nato, seus males não têm cura. 
Pode-se verificar que alguns tribunais pátrios defendem o enquadramento do psicopata 
comoum semi-imputável, nestes termos: 
 
Capacidade diminuída dos psicopatas – TJSP: ‘Os psicopatas são enfermos mentais, 
com capacidade parcial de entender o caráter criminoso do ato praticado, 
enquadrando-se, portanto, na hipótese do parágrafo único do art. 22 (art. 26 vigente) 
do CP (Redução facultativa da pena). (RT 550/303). No mesmo sentido, 
TACRSP:JTACRIM 85/541. (SILVA, 2012) 
 
No mesmo sentido, já foi decidido que, apesar de a psicopatia não ser considerada uma 
moléstia mental, ela pode ser compreendida como ponte de transição entre o psiquismo normal 
e as psicoses funcionais, com isso, os agentes psicopatas devem ser tidos como semi-
imputáveis: 
 
Capacidade diminuída da personalidade psicopática – TJSP: ‘Personalidade 
psicopática não significa, necessariamente, que o agente sofra de moléstia mental, 
 
35 
 
embora coloque na região fronteiriça de transição entre o psiquismo normal e as 
psicoses funcionais’ (RT 495/304). TJMT: ‘A personalidade não se inclui na categoria 
das moléstias mentais, acarretadoras da irresponsabilidade do agente. Inscreve-se no 
elenco das perturbações da saúde mental, em sentido estrito, determinantes da redução 
da pena’. (RT 462/409/10). No mesmo sentido, TJ:RT 405/133,442/412,570/319). 
(SILVA, 2012) 
 
 
Isto posto, não é algo inovador considerar os portadores de transtornos psicopáticos 
como indivíduos semi-imputáveis, tendo em vista que, como demonstrado, a jurisprudência 
nacional vem adotando esse entendimento. 
Antes da reforma da parte geral do Código Penal de 1940, o Brasil adotava o sistema 
duplo binário de aplicação de penas, que consistia na possibilidade de ocorrer a aplicação da 
pena privativa de liberdade e aplicação da medida de segurança concomitantemente. Contudo, 
após a derrogação da parte geral do Código Penal pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984, o Brasil 
adotou o sistema vicariante de penas, no qual o juiz observará se ao réu deve ser aplicada pena 
privativa de liberdade ou medida de segurança, de forma alternativa e não mais cumulativa. 
Com a marcante violência e o clima de insegurança e de impunidade que se instala no 
Brasil, a sociedade se encontra cada vez mais carente de satisfações quanto à punição de seus 
infratores. Essas satisfações acabam sendo dadas por meio da aplicação de grandes penas. 
É oportuno destacar que os prazos para cumprimento de pena são consideravelmente 
maiores do que os de cumprimento de medida de segurança. Citando como exemplo o crime de 
homicídio, ele pode levar de seis a trinta anos de reclusão, enquanto a medida de segurança tem 
prazo de duração inicial de um a três anos apenas, o que pode acabar levando a conclusões 
errôneas sobre qual o melhor tratamento judicial destinado aos psicopatas de alta 
periculosidade, como os assassinos seriais. A ideia de que deve ser aplicada a pena de reclusão, 
por ser mais longa e, portanto, teoricamente, afastar por mais tempo o criminoso da sociedade, 
é equivocada. 
O psiquiatra Antônio José Eça (2010, p. 323) elucida satisfatoriamente essa questão: 
 
Submetido à medida de segurança, o indivíduo fica naturalmente sujeito ao parecer 
que deverá ser elaborado ao término da mesma (medida de segurança) e dependendo 
de sua situação, de seu diagnóstico e de seu quadro psicopatológico, corre o risco de 
não mais ter alta, ou pelo menos não no período que lhe foi informado inicialmente, 
ou seja, ao cabo do período inicial de um a três anos, pois a alta psiquiátrico-forense 
estará vinculada à cessação de sua periculosidade; um exame bem conduzido e a 
obediência aos ensinamentos psicopatológicos com certeza vão proteger muito mais 
a sociedade do que penas que logo acabam; [...] 
 
36 
 
Não é outro o posicionamento de Ana Carolina Marchetti Nader (2010): 
 
Como já vimos o psicopata é portador de transtorno de personalidade que o torna 
insensível ao sentimento das outras pessoas, sem nenhum traço de compaixão nem de 
obediência a qualquer sistema ético. [...] A grande indagação é se as chamadas 
personalidades psicopáticas são portadoras de transtornos mentais propriamente ditos 
ou detentoras de personalidades anormais. Defendemos que sejam eles considerados 
semi-imputáveis, ficando sujeitos à medida de segurança por tempo determinado e a 
tratamento médico-psíquico. A pena privativa de liberdade não deve ser aplicada 
nestes casos tendo em vista seu caráter inadequado à recuperação e ressocialização do 
semi-imputável portador de personalidade anormal. [...] concluímos então pela efetiva 
necessidade de acompanhamento psiquiátrico dos presos para que se possam 
identificar os psicopatas e tratá-los de acordo com esta situação. 
 
Como não são loucos, não podem ser considerados inimputáveis. De outro lado, por não 
serem normais, não devem ser tidos por imputáveis plenamente. Restando, assim, a conclusão 
pela semi-imputabilidade dos portadores de personalidade antissocial. 
Nesse mesmo sentido vêm decidindo os Tribunais brasileiros, como pode-se observar: 
 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE 
RECURSO ESPECIAL. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. EXECUÇÃO 
PENAL. PROGRESSÃO INDEFERIDA EM 1º GRAU. MANUTENÇÃO DO 
DECISUM PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REQUISITO SUBJETIVO NÃO 
PREENCHIDO. PARECER PSICOLÓGICO DESFAVORÁVEL. PSICOPATIA 
COMPATÍVEL COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL. 
ELEVADO RISCO DE COMETIMENTO DE OUTROS DELITOS. 
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. ILEGALIDADE FLAGRANTE. 
INEXISTÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 
1. Ressalvada pessoal compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de 
Justiça ser inadequado o writ em substituição a recursos especial e ordinário, ou de 
revisão criminal, admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a constatação 
de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia. 
2. Legítima é a denegação de progressão de regime com fundamentos concretos, no 
caso pelo não preenchimento do requisito subjetivo em virtude, essencialmente, do 
conteúdo da avaliação psicológica desfavorável à concessão do benefício, com a 
presença de psicopatia compatível transtorno de personalidade antissocial, estando 
presente elevado risco de cometimento de outros delitos. Precedentes. 
3. Habeas corpus não conhecido. (BRASIL, 2010) 
 
E ainda: 
 
PROCESSUAL CIVIL. CIVIL.RECURSO ESPECIAL. INTERDIÇÃO. 
CURATELA. PSICOPATA. POSSIBILIDADE. 
1. Ação de interdição ajuizada pelo recorrente em outubro de 2009. 
Agravo em recurso especial distribuído em 07/10/2011. Decisão determinando a 
reautuação do agravo em recurso especial publicada em 14/02/2012. Despacho 
determinando a realização de nova perícia psiquiátrica no recorrido publicado em 
 
37 
 
18/12/2012. 
2. Recurso especial no qual se discute se pessoa que praticou atos infracionais 
equivalentes aos crimes tipificados no art. 121, §2º, II, III e IV (homicídios 
triplamente qualificados), dos quais foram vítimas o padrasto, a mãe de criação e seu 
irmão de 03 (três) anos de idade, e que ostenta condição psiquiátrica descrita como 
transtorno não especificado da personalidade (CID 10 - F 60.9), está sujeito à curatela, 
em processo de interdição promovido pelo Ministério Público Estadual. 
3. A reincidência criminal, prevista pela psiquiatria forense para as hipóteses de 
sociopatia, é o cerne do presente debate, que não reflete apenas a situação do 
interditando, mas de todos aqueles que, diagnosticados como sociopatas, já 
cometeram crimes violentos. 
4. A psicopatia está na zona fronteiriça entre a sanidade mental e a loucura, onde os 
instrumentos legais disponíveis mostram-se ineficientes, tanto para a proteção social 
como a própria garantia de vida digna aos sociopatas, razão pela qual deve ser buscar 
alternativas, dentro do arcabouço legal para, de um lado, não vulnerar as liberdades e 
direitos constitucionalmente assegurados a todos e, de outro turno, não deixar a 
sociedade refém de pessoas, hoje, incontroláveis nas suas ações, que tendem à 
recorrência criminosa. 
5. Tanto na hipótese doapenamento quanto na medida socioeducativa - 
ontologicamente distintas, mas intrinsecamente iguais - a repressão do Estado 
traduzida no encarceramento ou na internação dos sociopatas criminosos, apenas 
postergam a questão quanto à exposição da sociedade e do próprio sociopata à 
violência produzida por ele mesmo, que provavelmente, em algum outro momento, 
será replicada, pois na atual evolução das ciências médicas não há controle 
medicamentoso ou terapêutico para essas pessoas. 
6. A possibilidade de interdição de sociopatas que já cometeram crimes violentos deve 
ser analisada sob o mesmo enfoque que a legislação dá à possibilidade de interdição - 
ainda que parcial - dos deficientes mentais, ébrios habituais e os viciados em tóxicos 
(art. 1767, III, do CC-02). 
7. Em todas essas situações o indivíduo tem sua capacidade civil crispada, de maneira 
súbita e incontrolável, com riscos para si, que extrapolam o universo da 
patrimonialidade, e que podem atingir até a sua própria integridade física sendo 
também ratio não expressa, desse excerto legal, a segurança do grupo social, 
mormente na hipótese de reconhecida violência daqueles acometidos por uma das 
hipóteses anteriormente descritas, tanto assim, que não raras vezes, sucede à 
interdição, pedido de internação compulsória. 
8. Com igual motivação, a medida da capacidade civil, em hipóteses excepcionais, 
não pode ser ditada apenas pela mediana capacidade de realizar os atos da vida civil, 
mas, antes disso, deve ela ser aferida pelo risco existente nos estados crepusculares de 
qualquer natureza, do interditando, onde é possível se avaliar, com precisão, o 
potencial de auto-lesividade ou de agressão aos valores sociais que o indivíduo pode 
manifestar, para daí se extrair sua capacidade de gerir a própria vida, isto porquê, a 
mente psicótica não pendula entre sanidade e demência, mas há perenidade etiológica 
nas ações do sociopata. 
9. A apreciação da possibilidade de interdição civil, quando diz respeito à sociopatas, 
pede, então, medida inovadora, ação biaxial, com um eixo refletindo os interesses do 
interditando, suas possibilidades de inserção social e o respeito à sua dignidade 
pessoal, e outro com foco no coletivo - ditado pelo interesse mais primário de um 
grupo social: a proteção de seus componentes -, linhas que devem se entrelaçar para, 
na sua síntese, dizer sobre o necessário discernimento para os atos da vida civil de um 
sociopata que já cometeu atos de agressão que, in casu, levaram a óbito três pessoas. 
10. A solução da querela, então, não vem com a completa abstração da análise da 
capacidade de discernimento do indivíduo, mas pela superposição a essa camada 
imediata da norma, da mediata proteção do próprio indivíduo e do grupo social no 
qual está inserido, posicionamento que encontrará, inevitavelmente, como indivíduo 
passível de interdição, o sociopata que já cometeu crime hediondo, pois aqui, as 
brumas da dúvida quanto à existência da patologia foram dissipadas pela violência já 
perpetrada pelo indivíduo. 
11. Sob esse eito, a sociopatia, quando há prévia manifestação de violência por parte 
do sociopata, demonstra, inelutavelmente, percepção desvirtuada das regras sociais, 
 
38 
 
dos limites individuais e da dor e sofrimento alheio, condições que apesar de não 
infirmarem, per se, a capacidade do indivíduo gerenciar sua vida civil, por colocarem 
em cheque a própria vida do interditando e de outrem, autorizam a sua curatela para 
que ele possa ter efetivo acompanhamento psiquiátrico, de forma voluntária ou 
coercitiva, com ou sem restrições à liberdade, a depender do quadro mental 
constatado, da evolução - se houver - da patologia, ou de seu tratamento. 
12. Recurso especial provido. (BRASIL, 2011) 
 
Compõe-se, portanto, o psicopata, de um perfil impossível de ser regenerado, visto que 
além de não ser passível de cura, não possui nenhuma aptidão para viver em sociedade de forma 
pacífica, manifesta a baixa probabilidade de ressocialização, já que sua conduta instiga a 
reincidência no cometimento dos crimes. Quando preso, finge bom comportamento para obter 
algumas regalias, se aproxima de agentes penitenciários, pode provocar rebeliões, geralmente, 
liderando-as. Em outras palavras, representa, ainda por cima, grande risco para todo o setor 
carcerário do país, o qual, por sua vez, se torna um local de inacreditável reabilitação prisional. 
São transgressores que, além de tudo isso, são incapazes de aprender com a punição e 
de modificar seu comportamento, vez que não sentem culpa pelo que fazem e tampouco se 
importam com os valores sociais, éticos e morais, os quais são totalmente desprezados em 
benefício do seu desejo pessoal, por mais frio, egoísta e perverso que seja. 
De acordo com o texto “Máquinas do crime” de Eduardo Szklarz publicado pela Revista 
SUPERINTERESSANTE – Mentes psicopatas, o cérebro, a vida e os crimes das pessoas que 
não têm sentimento. Edição nº 267-A –, entre a população carcerária, cerca de vinte por cento 
(20%) dos presidiários são psicopatas. Segundo o autor, o índice de reincidência deles é 
altíssimo, cerca de setenta por cento (70%). 
 
Nem todos os criminosos são psicopatas, e nem todos os psicopatas são criminosos. 
No entanto, a prevalência deles dentro da população carcerária é enorme: na cadeia 
eles são 20% – e esses 20% são responsáveis por mais de 50% dos delitos graves 
cometidos por presidiários. Sabe aqueles crimes com requintes de crueldade que 
chocam todo mundo na televisão? Provavelmente existe um psicopata por trás deles. 
[...] Mas o tempo na prisão não muda seu comportamento quando retorna à sociedade. 
Sua personalidade o compele a novos crimes: sua taxa de reincidência chega a 70%, 
e apenas a metade deles reduz a atividade criminosa após 40 anos de 
idade. (SZKLARZ, 2010, p. 12) 
 
Visto isso, resta claro que a medida de segurança é a melhor providência judicial a ser 
adotada para o tratamento dos psicopatas de alta periculosidade. Essa medida configura-se 
como mais adequado tratamento neste caso, pois diante da instabilidade e periculosidade desses 
indivíduos, a avaliação médica, da qual dependerá sua liberdade, é a garantia mais plausível de 
 
39 
 
manter esses assassinos longe da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Observou-se que a questão da loucura acompanha a evolução humana. O homem, por 
natureza, teme aquilo que ignora e, durante séculos, pensou-se, primordialmente, que o louco 
seria aquele possuído pelo demônio. Tratava-se de um “fenômeno maldito”, precisando, 
portanto, ser o louco alienado da humanidade, que, em verdade, tinha grande receio do contágio. 
É importante perceber, que, mesmo nos dias atuais, existem certos resquícios de preconceito 
contra aqueles que apresentam transtornos mentais. 
O passar do tempo e o avanço da ciência, sobrepondo-se ao mero misticismo, 
possibilitaram ao homem uma compreensão mais verossímil da realidade das enfermidades 
mentais, que, com efeito, careciam de tratamento, em vez de exclusão. 
Destaque-se que psicopatologia, base da psiquiatria, se ocupa em estudar os estados 
psíquicos que estão relacionados ao sofrimento mental. Dentre os distúrbios de que ela trata 
destacam-se as personalidades psicopáticas. 
Psicopatas, existentes em qualquer tipo de sociedade, e dentro delas, em qualquer um 
dos segmentos, são indivíduos cujo tipo de conduta é extremamente peculiar. Portanto, não 
podem ser qualificados como loucos nem como débeis. Encontram-se em um campo 
intermediário. Dessa forma, os indivíduos acometidos por esse transtorno não podem ser 
colocados no grupo da normalidade, devido aos seus desequilíbrios psico-emocionais e 
comportamentais. Constatou-se que o distúrbio em foco se trata de perturbações da conduta, e 
não de enfermidade psíquica, visto que a inteligência se mantêm normal, porém as emoções e 
o caráter apresentam-se afetados. 
Para o psicopata,seu “eu” encontra-se acima de tudo e de todos, demonstrando um 
egoísmo patológico, pois ele realmente acredita poder fazer o que quiser. Seus atos são regidos 
por suas próprias regras, ignorando aquelas presentes na sociedade e no ordenamento jurídico. 
Serial killer é uma expressão em inglês que significa “assassino em série”, na tradução 
para a língua portuguesa. Eles são uma espécie de psicopata, a mais danosa à sociedade, em 
consequência da gravidade dos crimes que pratica. Viu-se que a principal característica de um 
serial killer é a sequência de assassinatos que comete, seguindo determinado roteiro 
estabelecido pelo criminoso, bem como uma assinatura, que caracteriza o seu crime. 
 
41 
 
Apontou-se o fato de que os assassinos seriais, geralmente, demonstram um convívio 
social dificultoso, iniciado desde cedo, quando crianças ou adolescentes. Geralmente, são 
provenientes de família desestruturada, tendo vivenciado diversos episódios de violência física 
e também psicológica. 
Destacou-se, por fim, em uma perspectiva forense, o modo com o qual os psicopatas 
criminosos, o que inclui lógica e principalmente os assassinos seriais, vêm sendo tratados pelo 
ordenamento jurídico pátrio tem acarretado verdadeira celeuma júridica. Há discussão acerca 
da necessidade de tratamento judicial diversificado a eles, os quais são considerados, por grande 
parte da doutrina e ratificado pela jurisprudência pátria, como semi-imputáveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
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