Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 1 Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO INTRODUÇÃO HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA Proveniente do TGI superior OCULTA Desconhecida pelo paciente BAIXA Proveniente do TGI inferior OBSCURA Proveniente de local desconhecido no TGI AGUDA Aparecimento recente: < 3 dias Instabilidade de sinais vitais Anemia Necessidade de transfusão sanguínea CRÔNICA Período de diversos dias Sangue oculto ou visível nas fezes Frequente perda de sangue lenta ou intermitente Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 2 Sem repercussão hemodinâmica Anemia DIVISÃO TGI SUPERIOR Boca Faringe Esôfago Estômago Duodeno INFERIOR Intestino Delgado Ceco Cólon Apêndice Reto CLASSIFICAÇÃO HDA VARICOSA Hemorragia secundária à hipertensão portal, quando o sangramento ocorre por ruptura de varizes esofágicas e/ou gástricas HDA NÃO VARICOSA Hemorragia ocasionada, geralmente, por lesões agudas da mucosa do esôfago, do estômago e do duodeno Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 3 Etiologia mais frequente: cirrose Etiologia mais frequente: úlcera gastroduodenal ETIOLOGIA Úlcera péptica: 35 a 50%, duodenal > gástrica Síndrome de Mallory-Weiss relacionada à esofagite: 5 a 15% Varizes esofágicas/gástricas: 5 a 10% Más-formações vasculares: 5% Gastroduodenite erosiva: 8 a 15% Não determinada: 5% FATORES DE RISCO Idade > 60 anos Hematêmese volumosa ou enterorragia Transfusão > 6 unidades de concentrado de hemácias Patologias associadas Hipotensão postural ou choque Coagulopatia grave Sangramento em hospitalizados Ressangramento durante a internação Aspirado nasogástrico com sangue vivo QUADRO CLÍNICO HEMATÊMESE Definição: vômitos de sangue vivo, geralmente em grande volume, com rápida repercussão hemodinâmica Etiologia: proximal ao ligamento de Treitz Sangramentos de menores proporções: apresentam vômitos com coágulos ou material sanguinolento digerido Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 4 MELENA Características: fezes enegrecidas, pastosas e de odor fétido Causas: na maioria das vezes é pelo sangramento do TGI alto e raramente de sangramento do jejuno, íleo ou cólon ascendente ENTERORRAGIA Sangramento do TGI superior volumoso EXAME FÍSICO Palidez cutânea + hipotensão + taquicardia = sinais associados a magnitude da perda sanguínea Telangiectasias + ascite + ginecomastite + eritema palmar = hepatopatia crônica Exame retal: essencial para verificar o aspecto e a coloração das fezes, além de avaliar a presença de doenças anorretais DIAGNÓSTICO E EXAMES COMPLEMENTARES ENDOSCÓPICAS Endoscopia digestiva alta: papel fundamental no diagnóstico, nas estratificação do risco de Colonoscopia Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 5 ressangramento e no tratamento da HDA varicosa e não varicosa Enteroscopia Cápsula endoscópica TABELA DE FORREST CARACTERÍSTICAS ENDOSCÓPICAS RISCO DE RESSANGRAMENTO Ia - Sangramento em jato “spurting” 40-90 Ib - Sangramento tipo porejamento “oozing” 20 IIa - Vaso visível ou protuberância pigmentada 40-50 IIb - Coágulo vermelho 20-30 IIc - Coágulo escuro ou mancha pigmentada plana < 10 III - Ausência de estigma de sangramento 2 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCOS DE ROCKALL Parâmetro/Pontos 0 1 2 3 Idade (anos) < 60 60-79 > 80 - Pulsação (bpm) < 100 > 100 - - Pressão arterial sistólica (mmHg) > 100 > 100 < 100 - Comorbidade Nenhuma CI/ICC Insuficiência hepática Neoplasia metastática Sinais endoscópicos de sangramento recente Nenhum/ponto vermelho-escuro - Qualquer outro sinal - ESCORE DA SOMA DOS PONTOS MORTALIDADE % 0 0 1 3 2 6 3 12 Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 6 4 24 5 36 6 62 7 75 Pontuação é calculada a partir da idade do paciente, da presença ou ausência de choque hipovolêmico e comorbidades, bem como dos achados endoscópicos Quanto maior a pontuação, maior o risco de mortalidade RADIOLÓGICAS Angiografia Angiotomografia computadorizada Trânsito intestinal RADIOISOTÓPICAS Cintilografia com hemácias marcadas com tecnécio (metal atômico 43) CONDUTA INICIAL ESTABILIZAÇÃO CLÍNICA E HEMODINÂMICA Obter 2 acessos venosos calibrosos periféricos: 16 G ou maior Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 7 Iniciar infusão de solução salina: 1.000 a 2.000 mL em 30 a 45 minutos Fornecer oxigênio suplementar: cateter ou óculos nasal COLETA DE EXAMES LABORATORIAIS Hemograma Contagem de plaquetas Tempo de protrombina Prova de função renal Prova de função hepática Tipagem sanguínea TRANSFUSÃO DE HEMODERIVADOS Indicação: na presença de hipotensão arterial ou choque persistente, após a infusão rápida de soluções salinas Pacientes com fatores de risco ou instáveis: deve-se manter a concentração de Hb acima de 9 g/dL Pacientes sem doenças concomitantes ou com doenças crônicas estabilizadas: busca-se manter a concentração de hemoglobina (Hb) acima de 7 g/dL Pacientes com hipertensão portal: não se deve transfundir em excesso, pois isso pode precipitar novos episódios de sangramento ADMINISTRAÇÃO DE IBP IV Fármaco: omeprazol 40 mg de 12/12 Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 8 p g horas até a confirmação da causa da hemorragia Administração de IBPs, por via oral (VO) ou IV: associada à redução da mortalidade, ao ressangramento e à necessidade de cirurgia na HDA, sendo superiores aos bloqueadores H2 Manter pH intragástrico acima de 6: fundamental para a agregação plaquetária e para a estabilização do coágulo Quando o paciente retomar a VO: IBP pode passar a ser administrado por essa via USO DE FÁRMACOS PROCINÉTICOS Fármaco: eritromicina Prescrição: eritromicina IV – na dose de 250 mg, diluída em 100 mL de solução fisiológica 0,9% em 30 minutos – em pacientes com suspeita de grande quantidade de sangue e coágulos na câmara gástrica Vantagens: aumento no esvaziamento gástrico e redução da necessidade de uma segunda endoscopia, de transfusão de sangue e do tempo de internação Desvantagem: dificuldade da obtenção da apresentação IV da eritromicina SONDA NASOGÁSTRICA Não há indicação formal para passagem de sonda nasogástrica (SNG) ou realização de lavagem gástrica em todos os pacientes com HDA O uso da SNG pode ajudar na remoção de coágulos, permitindo melhor exame endoscópico Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 9 CONDUTA HDA NÃO VARICOSA CONDUTA Inicial: medidas de reanimação e estabilização hemodinâmica (grau de recomendação C) Pacientes de alto risco: como na instabilidade hemodinâmica, coagulopatia, idosos, comorbidades requerem cuidados intensivos (grau de recomendação B) Pacientes de baixo risco clinicoendoscópico: podem ser tratados ambulatorialmente (grau de recomendação A) Endoscopia: efetiva no diagnóstico e no tratamento da HDA (grau de recomendação A) Fluxograma para conduta na hemorragia digestiva alta não varicosa Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 10 Terapia com IBP: iniciar no momento do diagnóstico do sangramento digestivo (grau de recomendação A) Uso de procinéticos: antes da endoscopia auxilia no esvaziamento gástrico em pacientes com coágulos e sangue fresco no estômago Endoscopia de revisão precoce: não está rotineiramente indicada (grau de recomendação A) Pacientes com úlcera péptica: devem ser investigados e tratados, quando positivos, para Helicobacter pylori (grau de recomendação A) TRATAMENTO ENDOSCÓPICO INDICAÇÃO DE URGÊNCIA (PRIMEIRAS 24H) História de malignidade ou cirrose Presença de hematêmese Sinais de hipovolemia (hipotensão, choque, taquicardia e Hb < 8 g/dL) ÚLCERA PÉPTICA Injeção endoscópica de soluções esclerosantes e vasoativas: fácil execução, rápida, eficaz e de baixo custo, obtendo-se a parada do sangramento em mais de 90% dos casos Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 11 Métodos térmicos: eletrocoagulação monopolare bipolar Métodos mecânicos: uso de clipes metálicos RESSANGRAMENTO Maior risco: ocorre nas primeiras 72 horas após a hemostasia endoscópica das lesões Fatores: pacientes idosos (> 70 anos), presença de doenças concomitantes, presença de choque hipovolêmico na admissão, presença de sangramento ativo em “jato” (Forrest Ia) e úlceras maiores do que 2 cm TRATAMENTO CIRÚRGICO ÚLCERA PÉPTICA SANGRANTE Cada vez menos frequente a indicação por úlcera péptica sangrante devido ao sucesso terapêutico dos IBPs Objetivos: resolução do sangramento e prevenção da recorrência Via mais utilizada: laparoscópica Indicação cirúrgica: úlceras sangrantes de mais difícil controle endoscópico Úlceras sangrantes de mais difícil controle endoscópico: aquelas maiores de 2 cm e as situadas na porção alta do corpo gástrico ou na parede posterior do bulbo duodenal, por poderem lesar artérias calibrosas Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 12 Situações de maior urgência: a melhor opção terapêutica cirúrgica é a gastrotomia ou duodenotomia com localização do sangramento e ulcerorrafia, principalmente nas situações em que o paciente está com condições hemodinâmicas comprometidas devido ao sangramento CONDUTA HDA VARICOSA CONDUTA Pacientes cirróticos: a HDA é uma emergência médica que demanda atendimento intensivo por equipe multidisciplinar (grau de recomendação A) Reposição volêmica imediata e transfusão sanguínea: objetivo de manter o nível de Hb > 8 g/dL, a fim de reduzir a mortalidade (grau de recomendação D) Fluxograma para conduta na hemorragia digestiva alta varicosa Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 13 Indicações de intubação traqueal: sangramento ativo maciço, alteração do nível de consciência por encefalopatia hepática e/ou choque hipovolêmico, incapacidade de manter saturação de oxigênio maior do que 90% e/ou evidência de aspiração Paciente cirrótico com HD: deve receber antibioticoprofilaxia por 7 dias (grau de recomendação B) Antibióticos: norfloxacino 400 mg VO 2 ×/dia ou ciprofloxacino IV (na impossibilidade de VO) são os antibióticos de escolha (grau de recomendação B) Uso de fármacos vasoativos: como somatostatina, octreotida e terlipressina deve ser iniciado na suspeita de hemorragia varicosa e mantido por 3 a 5 dias (grau de recomendação A) Endoscopia: deve ser realizada nas primeiras 12 horas de admissão, assim que o paciente estiver hemodinamicamente estável (grau de recomendação A) Terapia endoscópica de 1ª escolha: ligadura elástica FARMÁCOS VASOATIVOS Terlipressina 2 mg IV de 4/4 horas. A dose pode ser reduzida para 1 mg IV de 4/4 horas, uma vez que a hemorragia tenha sido controlada, mantendo o tratamento por 3 a 5 dias Octreotida 50 µg em bólus IV, seguido por infusão contínua de 50 µg por hora também por 3 a 5 dias. A infusão de 50 µg por hora pode ser obtida pela diluição de 4 ampolas de 50 µg e octreotida em 196 mL de soro glicosado, administrado a 50 mL/hora Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 14 FLUXOGRAMA GERAL DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ÚLCERA PÉPTICA História: uso de anti-inflamatório não esteroidal (AINE), ingestão de alimentos frequentemente melhora a dor abdominal temporariamente, vômito em borra de café e hematêmese são muito comuns Exame: sensibilidade à palpação na região epigástrica média 1º Exame: EDA apresenta visualização direta da úlcera, além de permitir o diagnóstico e a terapia definitivos de sangramento decorrente de UP 2º Exame: teste respiratório para H. pylori ou teste do antígeno fecal Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 15 Outros exames: radiografia com bário, nível de gastrina sérica em jejum VARIZES ESOFÁGICAS História: uso de droga intravenosa que possa acarretar hepatite crônica, alcoolismo crônico ou cirrose deve imediatamente levantar a suspeita de hipertensão portal e, portanto, varizes; sangramentos varicosos frequentemente causam hematêmese volumosa Exame: sinais de doença hepática crônica frequentemente estão presentes, por exemplo, icterícia, hepatomegalia, esplenomegalia e ascite 1º Exame: EDA apresenta visualização direta das varizes Outros exames: tomografia computadorizada/angiografia da veia porta, procedimento de anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (TIPS) ESOFAGITE História: observada em DRGE, podendo incluir pirose crônica, sensação de globus, rouquidão, melena Exame: dor ao deglutir 1º Exame: EDA apresenta visualização direta das irritação esofágica Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 16 LACERAÇÃO DE MALLORY-WEISS História: hematêmese após esforço para vomitar ou vômitos, uso de álcool, idade avançada e presença de hérnias hiatais Exame: sangramento às vezes é acompanhado de dor na região epigástrica média ou de dor retroesternal 1º Exame: EDA apresenta visualização direta das dissecções intramurais SÍNDROME DE BOERHAAVE História: ânsia de vômito ou vômito seguido por dor retroesternal intensa e/ou dor epigástrica, história de consumo de álcool, dispneia, taquipneia, cianose, sepse e choque Exame: buscar enfisema subcutâneo 1º Exame: radiografia torácica que pode revelar ar livre mediastinal, peritoneal ou pré- vertebral, derrame pleural com ou sem pneumotórax, mediastino alargado e enfisema subcutâneo Outros exames: medição da amilase do líquido pleural, estudo da deglutição com contraste hidrossolúvel (gastrografina) e tomografia computadorizada VARIZES GÁSTRICAS Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 17 História: uso de droga intravenosa que possa acarretar hepatite crônica, alcoolismo crônico ou cirrose deve imediatamente levantar a suspeita de hipertensão portal e, portanto, varizes; sangramento maciço e rápido comprometimento hemodinâmico Exame: sinais de doença hepática crônica frequentemente estão presentes, por exemplo, icterícia, hepatomegalia, esplenomegalia e ascite 1º Exame: EDA apresenta visualização direta das varizes Outros exames: tomografia computadorizada/angiografia da veia porta, procedimento de anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (TIPS) MALFORMAÇÕES ARTERIOVENOSAS História: assintomáticas, associadas à cirrose, doença renal em estágio terminal, idade avançada e doença de von Willebrand Exame: sangramento crônico 1º Exame: EDA apresenta visualização direta dos capilares dilatados expandindo-se Outros exames: angiotomografia LESÕES DE DIEULAFOY Hemorragia Digestiva Alta - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 18 História: sintomáticas em homens com histórico de etilismo, de doença cardiovascular, de diabetes ou doença renal crônica Exame: sangramento intermitente 1º Exame: EDA apresenta visualização direta da lesão Outros exames: ultrassonografia endoscópica
Compartilhar