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A_RENOVAÇAO_2012

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A RENOVAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
DA CIÊNCIA GEOGRAFICA 
Alvacy Lopes do Nascimento
 O surgimento da Geografia Pragmática e da Geografia Crítica
 Desde o início do século XX, os avanços e descobertas da Física Quântica e a teoria da relatividade, de Albert Einstein, suscitavam novas concepções acerca da matéria, do espaço e do tempo e do próprio universo, ultrapassando princípios, conceitos e métodos da ciência tradicional.
Como observam Ferreira e Simões (1986), os paradigmas positivistas foram abalados porque surgiram novos parâmetros para se analisar a realidade. As ciências humanas sofreram o impacto decorrente das novas condições para se alicerçar a produção do conhecimento científico, além de outros tipos de pressão provenientes das contingências históricas no âmbito político, social e econômico. 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o capitalismo e o socialismo, sob a liderança, respectivamente, dos Estados Unidos e da União Soviética, dividiram a humanidade, formando-se um mundo bipolar, fundamentalmente ideológico, com implicações geopolíticas e socioeconômicas. Era o período da guerra fria, com muitos debates, disputas, conflitos e críticas de um lado e de outro e até ameaças de eclosão da Terceira Guerra Mundial.
O capital se mundializava através de empresas multinacionais, que se instalavam nos países subdesenvolvidos. Dava-se a modernização da agricultura em certas regiões do então denominado Terceiro Mundo, intensificando as migrações rurais para centros urbanos e o consequente aumento da favelização, do desemprego e da violência, principalmente nas grandes cidades. Condições que tornavam a realidade mundial cada vez mais complexa e mais contraditória.
As ciências humanas foram solicitadas a participar diretamente da realidade mundial através de duas formas: dando apoio técnico ao avanço e modernização do capitalismo, ou cooperando, por meio da pesquisa e do planejamento oficial, na procura de soluções para os grandes problemas socioeconômicos do mundo subdesenvolvido. Essas ciências, porém, não estavam preparadas para tais incumbências, tendo em vista as bases teórico-metodológicas e instrumentais de que se constituíam, já que, em geral, foram sistematizadas no século XIX.
À Geografia, particularmente, como acentua Moraes (1986), estruturada nos moldes positivistas, supervalorizando o método indutivo através da escola francesa, com sua visão regional, que se tornou hegemônica, faltavam condições para atender à nova realidade mundial, um espaço cada vez mais interligado pela lógica do capital, tendente, com o apoio da tecnologia, a homogeneizar-se, minimizando ou ignorando as barreiras regionais. Nessa situação, a ciência geográfica entrou em crise, iniciando-se um processo de renovação de suas teorias e dos seus recursos metodológicos.
As duas vertentes resultantes desse movimento de renovação, a Geografia Pragmática (ou Nova Geografia ou Geografia Quantitativa) e a Geografia Crítica –, surgidas entre as décadas de 1950 e 1970, são discordantes em conteúdo e objetivos. A Pragmática apareceu nos Estados Unidos, estendendo-se, em pouco tempo, à Inglaterra e aos países nórdicos. Essa vertente atrelou-se ao Neopositivismo (ou Positivismo Lógico), que trocou o método indutivo pelo dedutivo, pregando uma linguagem comum para todas as ciências, através da Matemática e da Lógica. 
 Duas obras foram de importância basilar para a Geografia Pragmática: Exceptionalism in Geography, de Fred K. Shaefer, lançada em 1953, com a crítica da visão regional-historicista da Geografia, e Theoretical Geography, de William Bunge, de 1962, com o desenvolvimento dos fundamentos teóricos do novo paradigma da ciência geográfica, definindo como seu objeto modelos representativos da organização e interligação de elementos constituintes do espaço geográfico. 
A perspectiva pragmática deu também origem à Geografia da Percepção ou do Comportamento, a qual, apoiada na Psicologia, explora as ligações subjetivas do homem com o espaço, e seu comportamento em relação a este. Essa modalidade tão diferenciada de se fazer Geografia, causou forte impressão, contrariando os paradigmas tradicionais, enraizados no Positivismo, que só considerava as realidades objetivas na produção do conhecimento científico.
A vertente crítica, com raízes na França, surgiu fazendo crítica radical à Geografia Tradicional, à Geografia Pragmática e às estruturas socioeconômicas do Terceiro Mundo, alegando que a Geografia Tradicional e a Pragmática se identificam pelos compromissos assumidos com o capitalismo e pelos serviços que lhe têm prestado, totalmente distanciadas dos problemas sociais e das graves disparidades entre os países ricos e países pobres. O geógrafo francês Ives Lacoste lançou na década de 1970 o livro A Geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, um dos primeiros trabalhos com uma abordagem crítica, tendo alcançado grande repercussão em outros países, inclusive no Brasil, principalmente com uma tradução em português, na década de 1980. De acordo com Moraes (1993), Lacoste foi o autor que formulou a crítica mais radical à Geografia Tradicional.
A Geografia Crítica subdividiu-se em duas correntes: a crítica liberal, com propostas de transformações socioeconômicas através da democracia, e a crítica radical, com propostas de transformações socioeconômicas veiculadas num discurso com conteúdo político conscientemente assumido, denunciando as contradições do capitalismo, intrínsecas à produção do espaço geográfico.
O objeto ou campo de estudo da Geografia, segundo as correntes críticas, é o espaço geográfico, ou seja, o espaço cultural, social, histórico ou humanizado, analisado através de uma metodologia flexível, conforme as tendências filosóficas do geógrafo: marxista, existencialista, estruturalista. É a Geografia vista como ciência social, humanística. 
No Brasil, na década de 1960, sob o regime militar, a Geografia Quantitativa teve boa penetração em alguns setores universitários e influenciou trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística − IBGE. 
Com a abertura política na década de 1980, as correntes críticas puderam ser divulgadas abertamente, com grande aceitação no ensino superior, o que provocou a renovação de livros didáticos, nos quais a análise da relação homem/natureza vai além das aparências reveladas pela observação da paisagem, procurando-se ressaltar fatores sociais e econômicos. 
Essa forma de abordagem em Geografia se consolidou. Atualmente é bastante explorada, principalmente no ensino médio, como preparação para os concursos de acesso às universidades. Mas é preciso que haja maior conscientização dos professores acerca da evolução do conhecimento geográfico, a fim de que não haja distorções e até mesmo retrocesso na veiculação da mensagem. Essa conscientização, que deve ser paulatinamente adquirida nos cursos de graduação, pode, todavia, ficar muito distante de um nível desejável se houver também carência, nesse sentido, por parte dos professores responsáveis por tais cursos.
 REFERÊNCIAS
FERREIRA, Conceição Coelho ; SIMÕES, Natércia Neves. A evolução do pensamento geográfico. Lisboa: Gradiva, 1986.
 MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 12. ed. São Paulo: HUCITEC, 1993.
OBRAS CONSULTADAS
ANDRADE, M. C. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2006.
MOREIRA, Ruy. O que é geografia. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.
NASCIMENTO, Alvacy Lopes do. A evolução do Conhecimento Geográfico: da antiguidade à era da globalização. Maceió: Edufal, 2003.

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