Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HISTÓRIA DA HIPNOSE Faculdade de Minas 2 Sumário INTRODUÇÃO................................................................................................. 4 A PRÉ-HISTÓRIA DA HIPNOSE ..................................................................... 9 FRANZ ANTON MESMER (1734-1815) ........................................................ 11 JAMES BRAID (1795-1860) .......................................................................... 15 JEAN-MARTIN CHARCOT ............................................................................ 18 O NEURO-HIPNOTISMO .............................................................................. 20 SÉCULO XX .................................................................................................. 22 MILTON ERICKSON (1901-1980) ................................................................. 25 A HISTÓRIA DA HIPNOSE ATUAL ............................................................... 27 A HIPNOSE NO BRASIL ............................................................................... 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 32 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 34 Faculdade de Minas 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 INTRODUÇÃO Os fenômenos hipnóticos pertenceram aos deuses, ao diabo, aos astros, ao homem e, finalmente, à Ciência. Entenda os caminhos que a hipnose percorreu para chegar até hoje: Hoje em dia, a Hipnose é mais utilizada nas áreas da medicina e da psicologia como ferramenta para ajudar em processos de cura do corpo ou da mente. Mas qualquer pessoa que estude e pratique técnicas simples de hipnose rápida conseguirá algum resultado sem tantas dificuldades. Atualmente, os canais de aprendizado estão muito mais acessíveis. O fato é que as pessoas estão cada vez mais conseguindo hipnotizar e entender o que é hipnose, e isso prova que não existe nenhuma força ou poder hipnótico especial naqueles que conseguem executar a técnica, como costumávamos acreditar. Nesse texto, você vai entender como se deu a trajetória da hipnose através dos tempos, quem ajudou na sua ascensão e quais as dificuldades que a técnica enfrentou. O hipnotismo vem de um passado muito, muito distante. Não é incomum a brincadeira de que a primeira relação hipnótica teria ocorrido quando Deus anestesiou Adão, para fazer a cirurgia de retirada da sua costela, certo? Mas, heresias (ou não) à parte, a verdade é que os fenômenos hipnóticos pertenceram aos deuses, ao diabo, aos astros, ao homem e, finalmente, à ciência. Momento em que puderam ser identificados, reproduzidos e, até certo ponto, explicados através da Psicologia e da Neurofisiologia. O primeiro tipo de Hipnose Formal desenvolvida foi a “Hipnose Animal”, oriunda do “Magnetismo Animal” de Mesmer. Com este tipo de hipnose, os agricultores do século 17 podiam acalmar galinhas, hipnoticamente, usando diferentes técnicas. Na França, os agricultores aprenderam a hipnotizar galinhas para chocar ovos de outras Faculdade de Minas 5 galinhas. Em 1800, as pessoas hipnotizavam pássaros, coelhos, rãs, cães, gatos, cavalos, entre outros animais. O médico austríaco Franz Anton Mesmer (1734-1815) que é reconhecido como o “Pai da Hipnose”, foi quem criou o primeiro tipo de tratamento por meio do magnetismo animal. Mesmer acreditava que havia um quanta-magnético em todas as partículas de ar que respiramos, e um “fluido cósmico” que é capaz de ser armazenado em objetos inanimados, tais como ímãs, e transferidos para os pacientes para curar a doença. Mesmer havia curado uma mulher, que sofria de uma doença convulsiva. Durante um dos ataques da mulher ele aplicou três ímãs no estômago e nas pernas da paciente, enquanto ela se concentrava nos efeitos positivos do “fluido cósmico”. Seus sintomas desapareceram quando Mesmer aplicou este tratamento. Mesmer acreditava que o “fluido cósmico” percorria o corpo do paciente e restaurava o fluxo de energia, recuperando a saúde por inteiro. Mesmer obteve grande sucesso com o “Magnetismo Animal” ou “Transe Magnético”, que também ficou conhecido como “Mesmerismo”, realizando este tipo de tratamento em milhares de pessoas. Em 1835, outro grupo de pesquisadores ligados à Faculdade de Medicina de Paris, como Marquês de Puységur, Charles Deslon, Barão du Potet e Millet, retomaram o assunto do magnetismo animal, dedicando-se ao chamado “sonambulismo”, e a outros fenômenos provocados pela ação do agente magnético de Mesmer. Puységur pensou que a vontade das ações do operador da pessoa – o hipnotizador, eram fatores importantes para o sucesso ou fracasso do magnetismo, e ele acreditava que um “fluido cósmico” não era magnético, mas sim elétrico. Um cirurgião Inglês, John Elliotson (1791-1868) relatou em 1834, inúmeras operações cirúrgicas indolores, utilizando o magnetismo. Faculdade de Minas 6 Um cirurgião escocês, James Braid (1795-1860), considerado o iniciador da Hipnose Científica, foi o primeiro a dar uma explicação científica para o “Mesmerismo”. Ele descobriu que alguns estudos experimentais podiam fazer uma pessoa entrar em transe, simplesmente fixando os seus olhos sobre um objeto brilhante. Ele acreditava que o Mesmerismo é um “sono nervoso” e cunhou a palavra Hipnose, derivada da palavra grega “Hypnos”, que significa sono. Porém, rejeitando a ideia de Mesmer que a Hipnose fosse induzida por magnetismo. O médico e neurologista francês, Jean Martin Charcot (1825-1893), usava a Hipnose para tratar a histeria, que era categorizada como uma atividade neurológica anormal, assim como diversos tipos de perturbações psíquicas. Auguste Ambroise Liébeault (1823-1904) e Hippolyte Bernheim (1837-1919), foram os primeiros a considerar a Hipnose como um fenômeno normal. Sigmund Freud (1856-1939), o “Pai da Psicanálise”, se interessou pela Hipnose, e chegou a ler o livro de Bernheim sobre Hipnose, “De la Suggestion”, para encontrar uma explicação fisiológica da sugestão, no Sistema Nervoso. Como ele observou, os pacientes entravam em um estado hipnótico. Freud começou então a reconhecer a existência do inconsciente. No entanto, Freud rejeitou a Hipnose como a ferramenta para desbloquear memórias reprimidas, favorecendo suas técnicas de associação livre e interpretação dos sonhos. Com o surgimento da Psicanálise, na primeira metade do século 20, a Hipnose caiu em popularidade. Mas foi apenas na década de 1930, que o estudo moderno do hipnotismo, se desenvolveu efetivamente. Através dos estudos de Clark Leonard Hull (1884-1952), na Universidade de Yale.Onde foram realizados estudos rigorosos com a Hipnose e a Sugestionabilidade. Por meio de análises estatísticas e experimentais, os estudos de Hull demonstraram que a Hipnose não possuía qualquer tipo de ligação com o Faculdade de Minas 7 sono. E ficou comprovado que toda ideia de sono aplicada à Hipnose, obscurece o conceito, pois Hipnose não é sono, e não possui nenhuma relação para dormir. E foi assim, que a Hipnoterapia, ou seja, a Terapia por Hipnose, foi amplamente utilizada na Primeira Guerra Mundial, na Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coréia. E suas técnicas foram então fundidas com a Psiquiatria, e foi especialmente útil no tratamento do que hoje é conhecido como Estresse Pós-Traumático. Em 1950, a Medicina começou a usar a Hipnose como terapia. Em 1952, na Grã-Bretanha, a Lei de Hipnotismo foi instituída para regular os espetáculos públicos e o ofício dos hipnotizadores. Em 1955, a Associação Médica Britânica reconheceu o uso terapêutico da Hipnose. Em 1958, a Associação Médica Americana aprovou um relatório sobre o uso medicinal da Hipnose. E dois anos após a aprovação, a American Psychological Association, aprovou a Hipnose como um ramo da Psicologia. Mas foi o psiquiatra americano Milton Erickson (1901-1980), quem desenvolveu novos estudos, muitas pesquisas e novas técnicas de Hipnose, que eram muito diferentes do que era comumente praticado. Seu estilo é conhecido como Hipnose Ericksoniana, que vem influenciando fortelemente, muitas escolas modernas de Hipnose. Dave Elman (1900-1967), foi um dos pioneiros no uso médico da Hipnose. A definição de Hipnose por Elman, ainda é amplamente utilizada entre muitos hipnotizadores profissionais. Ele é conhecido por ter treinado a maioria dos médicos e psicoterapeutas nos Estados Unidos, no uso da Hipnose. Elman também ficou muito conhecido por apresentar induções rápidas para o campo do hipnotismo. John Cerbone ficou mais conhecido por seu trabalho na área de induções instantâneas (indução speedtrance). O seu trabalho baseia-se em seis métodos de indução de transe (tédio, confusão, perda de equilíbrio, a fixação dos olhos, Faculdade de Minas 8 desorientação, choque e sobrecarga), em uma única técnica, que produz indução instantânea de 3 a 7 segundos. Richard Nongard tem sido um colaborador no desenvolvimento destes métodos com Cerbone. Atualmente, a Hipnose é uma ferramenta médica altamente eficaz e popular. É amplamente utilizada para o controle de hábitos e comportamentos – como parar de fumar, controle de peso, e muitos outros problemas de saúde. Faculdade de Minas 9 A PRÉ-HISTÓRIA DA HIPNOSE A pesquisa mais recente que temos coloca o marco inicial da história da hipnose na Região da Mesopotâmia a 3500 anos A.C, onde na Caldéia, já existem relatos de curas pela fixação do olhar. Uma outra aparição remota da hipnose é no Egito, onde existiam os templos do sono e foram identificadas utilizações dos estados de transe para anestesia. Nesses templos, as doenças eram tratadas após o paciente ser submetido à hipnose. Teoria comprovada por obras arqueológicas como vasos de cerâmica, onde aparecem figuras de médicos fazendo intervenções cirúrgicas. Na antiga Grécia, os enfermos também eram postos a dormir e despertavam curados. Lá, a população em geral participava de cultos religiosos onde iam aos templos do sono e, após entrarem em transe, ouviam os sermões dos sacerdotes do respectivo deus desse templo. Após o procedimento, os enfermos retornavam às suas atividades gozando de plena saúde e alegria. As impressões da utilização de técnicas hipnóticas aparecem nos estudos das vastas documentações históricas sobre a China, Índia e Pérsia, onde também não restam dúvidas sobre o fato daqueles povos manipularem empiricamente técnicas hipnóticas. Como vimos, a história antiga está cheia de manifestações sobre hipnose, mas todas elas, toda essa fenomenologia, estava sob a regência de supostas leis ocultas, conhecidas somente por privilegiados, geralmente sacerdotes. O que é bastante comum para todas as práticas da época, já que esse período foi muito marcado pelo uso da religião como explicação para todos os fenômenos existentes. Comumente se comentam os rituais religiosos das civilizações antigas como o início da hipnose. Se pensarmos na hipnose como o uso da linguagem para a mudança dos modos de pensar, ser e agir, podemos, de fato, colocar as práticas ritualísticas nessa categoria. Faculdade de Minas 10 Sejam sacerdotes de Sekhmet no Egito antigo, os oráculos na Grécia, os asclepíades romanos ou os mestres dos mantras no hinduísmo, os modos de transformação apresentavam certas semelhanças. Esses rituais de cura pelo simbólico tinham em comum o fundo místico e a presença de uma figura de autoridade. A imbricação do lado xamanístico perdurou por muito tempo e pode-se encontrar até hoje pessoas que defendem o lado espiritual da hipnose. Outros fatores permanecem hoje presentes, porém com outras explicações. Por exemplo, a ideia presente no mantra existe como o foco na repetição para a mudança. A ideia da cura através do sonho presente no culto grego “Esculápio” sobrevive hoje na concepção de trabalho com uma instância não consciente. Ao longo dos anos as explicações com relação à eficácia simbólica da linguagem e dos rituais se alteraram acompanhando sempre a filosofia de cada época. Mas a guinada definitiva no modo de compreender a hipnose começou no século XVIII. Com o advento do Iluminismo iniciou-se a busca por uma compreensão mais científica dos fenômenos. Faculdade de Minas 11 FRANZ ANTON MESMER (1734-1815) Com Franz Anton Mesmer se iniciou o longo processo de transição do ocultismo para a compreensão científica da hipnose. Mesmer foi uma figura dúbia e contraditória, tanto em sua abordagem da hipnose como nas consequências do seu trabalho. Se por um lado, podemos considerá-lo como o inaugurador da era moderna da hipnose, por outro foi o principal responsável pela imagem negativa dos hipnotistas que se perpetua até hoje. Mesmer iniciou a aproximação da hipnose com o saber científico da época, depois afastando-se dele. Inspirado pelas Leis de Newton publicadas no final do século XVII e que marcaram o Zeitgeist da época, Mesmer criou o conceito de magnetismo animal. A ideia era a de que, da mesma forma como os planetas exercem influência um sobre o outro através da força gravitacional, os seres humanos operavam na mesma lógica com uma força universal nomeada magnetismo. Mais tarde, ele começou a aplicar o conceito que havia teorizado em sua clínica médica. A primeira paciente, Franzl Oesterline, foi tratada de um quadro convulsivo por Mesmer. Foi utilizado um ímã como instrumento para permitir o fluxo do magnetismo animal do médico para a paciente. Hoje compreenderíamos o ocorrido como uma sugestão hipnótica que permitiu o alívio dos sintomas, mas o sistema de crenças que operava na época era outro. Sua fama se espalhou pela Europa e suas práticas se aproximaram cada vez mais de um espetáculo com demonstrações dramáticas de seus poderes. Junto com a exibição teatral de suas técnicas iniciou-se o processo de crítica por parte dos demais médicos da época. Ele foi acusado de charlatanismo e fraude, e uma comissão foi instaurada pelo rei da França para investigar suas teorias. A comissão, ao comparar resultados de procedimentos realizados com e sem Faculdade de Minas 12 magnetismo, não encontrou diferenças nos resultados. Concluíram, portanto, que Mesmer não possuía base científica para suas práticas. Essa disparidade entre teoria e prática, no entanto, não foi estudada até o final do século XVIII. Mesmer estava equivocado na explicação por detrás do seu êxitona clínica, ainda assim apresentava resultados positivos com seus pacientes. A comissão apenas refutou as causas teorizadas por ele, porém sem buscar o motivo do seu sucesso. A busca por uma nova explicação veio somente em 1796. O médico americano Elisha Perkins havia patenteado um dispositivo de metal utilizado em curas pela eletricidade à distância, de maneira similar ao magnetismo de Mesmer. John Haygarth realizou experimentos em laboratório com o dispositivo de metal e outro similar de madeira, obtendo os mesmos efeitos. Haygarth então teorizou o efeito placebo. Ficou em evidência pela primeira vez a influência da sugestão e da autoridade nos processos de cura. Embora tenha mantido elementos ritualísticos, Mesmer foi o primeiro a desenvolver um método para sua prática, o que possibilitou que suas teorias fossem refutadas e verificadas. Sua contribuição para o desenvolvimento da hipnose nos séculos seguintes é inegável. A pesquisa mais recente que temos coloca o marco inicial da história da hipnose na Região da Mesopotâmia a 3500 anos A.C, onde na Caldéia, já existem relatos de curas pela fixação do olhar. Uma outra aparição remota da hipnose é no Egito, onde existiam os templos do sono e foram identificadas utilizações dos estados de transe para anestesia. Nesses templos, as doenças eram tratadas após o paciente ser submetido à hipnose. Teoria comprovada por obras arqueológicas como vasos de cerâmica, onde aparecem figuras de médicos fazendo intervenções cirúrgicas. Na antiga Grécia, os enfermos também eram postos a dormir e despertavam curados. Lá, a população em geral participava de cultos religiosos onde iam aos templos do sono e, após entrarem Faculdade de Minas 13 em transe, ouviam os sermões dos sacerdotes do respectivo deus desse templo. Após o procedimento, os enfermos retornavam às suas atividades gozando de plena saúde e alegria. As impressões da utilização de técnicas hipnóticas aparecem nos estudos das vastas documentações históricas sobre a China, Índia e Pérsia, onde também não restam dúvidas sobre o fato daqueles povos manipularem empiricamente técnicas hipnóticas. Como vimos, a história antiga está cheia de manifestações sobre hipnose, mas todas elas, toda essa fenomenologia, estava sob a regência de supostas leis ocultas, conhecidas somente por privilegiados, geralmente sacerdotes. O que é bastante comum para todas as práticas da época, já que esse período foi muito marcado pelo uso da religião como explicação para todos os fenômenos existentes. Esse homem, tão amado e tão odiado, fez escola e teve seguidores. Um novo caminho estava aberto na história: o magnetismo prosseguiu nas mãos de nomes com Puysegur, Petetin, Du Potet, Deleuze, Bertrano, Cloquet e Abade Faria. Este último, desempenhou um papel importantíssimo pelo fato de ser um dos primeiros e voltar a sua atenção para a importância do pensamento e da imaginação do paciente. Ele foi o precursor da utilização da sugestão verbal, enquanto todos os demais defendiam a hipótese do fluido, negando a intervenção do pensamento. A figura do Abade Faria causou tamanha impressão que Egas Moniz, professor da Universidade de Lisboa, neurocirurgião, prêmio Nobel de Medicina, escreveu um livro sobre ele com finalidade de fazer justiça a um genial investigador ignorado por uns e esquecido por outros. Um outro personagem importante para a evolução da hipnose foi o grande magnetizador Charles Lafontaine que fazia demonstrações públicas, causando grande impacto e publicou um artigo chamado “Art de Magnétiser”, onde condensava suas teorias, seus princípios e ensinava suas técnicas. Faculdade de Minas 14 Ele ficou conhecido por esta revista e hoje em dia é considerado o precursor das técnicas de apresentação de palco. Mas se engana quem pensa que a importância dele se deve (só) a esse fato. O seu episódio com James Baid, o defensor da sugestão e por muitos considerado o pai da Hipnose, talvez seja um pouco mais relevante para nós atualmente. Faculdade de Minas 15 JAMES BRAID (1795-1860) Aos poucos as crenças no magnetismo se dissiparam, porém as técnicas de Mesmer continuaram a ser utilizadas nas práticas de diversos médicos, por apresentarem eficácia. A técnica prosseguiu com o reconhecimento de que funcionava, mas sem uma explicação científica embasando-a. John Elliotson (1791-1868) foi um dos principais nomes na época, abrindo a Enfermaria Mesmérica de Londres em 1849, onde começou a utilizar hipnose para anestesia e controle da dor. Podemos considerar que Elliotson foi o precursor de James Esdaile (1808- 1859), um cirurgião que trabalhou na Índia realizando inúmeras cirurgias apenas com anestesia hipnótica. Ele criou o que hoje chamamos de estado de coma hipnótico ou estado de Esdaile, em que a profundidade do transe hipnótico causa anestesia sem sugestão. A partir da metade do século XIX, ganharam força as teorias francesas chamadas de escola de Nancy e de Saltpêtrière. A escola de Saltpêtrière teve como defensor mais conhecido Jean-Martin Charcot (1825-1893). Ele trabalhou fundamentalmente com casos de histeria, utilizando autoridade e procedimentos disciplinares em seus tratamentos. Freud inicialmente trabalhou com essa perspectiva, abandonando posteriormente a hipnose em favor da associação livre e do trabalho com a transferência. Charcot comparou os fenômenos hipnóticos aos sintomas observados na histeria, como a catalepsia, a letargia e o sonambulismo. Teorizou, a partir dessas observações, que a hipnose seria, portanto, um estado de anormalidade. A escola de Nancy se opunha a essas concepções. Hippolyte Bernheim (1840-1919) desafiou o conceito de Charcot de 3 estágios. Argumentou que a sugestionabilidade era uma característica normal do Faculdade de Minas 16 ser humano e não um estado anormal. Essa polêmica entre as escolas francesas deu origem à disputa entre concepções de estado e de não-estado sobre a hipnose. A disputa francesa foi também um marco porque passou-se a discutir a fundo o que era hipnose, buscando desvelar seu funcionamento. Deixou-se de questionar “se” a técnica era um fenômeno válido e buscou-se aprofundar em seu estudo. Se Mesmer iniciou a aproximação com a ciência, James Braid foi quem completou esse processo. Considerado o pai da hipnose, foi o responsável por cunhar o termo hipnose, afastando-o do mesmerismo. Ao assistir uma sessão de mesmerismo onde os sujeitos não conseguiam abrir os olhos, Braid começou a estudar foco visual. Teorizou, então, que o mesmerismo não dependia de magnetismo, mas sim de fixação do olhar e atenção. Esse foi o início da passagem e compreensão do fenômeno hipnótico como algo dependente do sujeito e não do poder do hipnotista. Braid induzia o transe através de foco visual em objetos iluminados, como velas. Produzia assim cansaço visual que provocava o fechamento das pálpebras. Como ele comparou inicialmente o fenômeno com o sono, cunhou o termo hypnotism, devido ao deus grego do sono, Hypnos. Posteriormente, ao concluir que hipnose não tinha qualquer relação com o sono, criou o termo monoideísmo para indicar a fixação da atenção em uma única ideia. Porém o termo hipnose já havia se difundido e se arraigado na linguagem. Seu prolífico trabalho clínico permitiu finalmente o reconhecimento da hipnoterapia como um procedimento válido. O reconhecimento da hipnose como um fenômeno psicológico foi o marco do seu desenvolvimento a partir do século XX. Em novembro de 1841, 70 anos depois da apresentação de Mesmer em Viena, o médico-cirurgião James Braid foi a uma sessão de Lafontaine, para desmascará-lo. Contudo, ficou impressionado, porque não havia nada que identificasse a fenomenologia do Mesmerismo como falsa. Concluindo então que haveria aFaculdade de Minas 17 possibilidade de só a teoria ser enganosa. A partir daí, Braid começou a desenvolver sua própria técnica. Assim, em 1842, publicou um trabalho mostrando os erros de Mesmer e iniciando um novo período. Segundo James Braid, não existia fluido algum e qualquer manobra que cansasse o sistema nervoso (ele usava a fixação do olhar) produziria um estado que traz uma perturbação, pela fixidez de atenção que requereria muita energia do sistema nervoso associada com o repouso físico. O resto das reações dependeria da impressionabilidade do paciente. Essa teoria, passava então a defender que os fenômenos do Mesmerismo eram reais; só que a causa deles que não era, de modo algum, magnética ou vinda das estrelas. Para provar isso, fez experiências com diferentes pessoas, onde conseguiu obter os mesmos fenômenos, sem os procedimentos magnéticos habituais. Faculdade de Minas 18 JEAN-MARTIN CHARCOT Jean-Martin Charcot foi um neurologista francês e um professor de patologia anatômica. Hoje ele é conhecido pelo seu trabalho com hipnose e histeria, em particular por seu trabalho com a paciente Louise Augustine Gleizes. Ele também é conhecido como o “pai da neurologia moderna”, e seu nome foi conectado com pelo menos 15 epônimos médicos, incluindo a doença de Charcot e a doença Charcot- Marie-Tooth. Ademais, Charcot é considerado um dos pais da psiquiatria moderna e foi chamado de “Napoleão das Neuroses”, como já mencionei. O foco primário de Charcot foi a Neurologia. Ele nomeou e foi o primeiro a descrever a esclerose múltipla, sumarizando relatórios anteriores e adicionando suas próprias observações clínicas e patológicas. Na época, Charcot chamou a doença de “sclérose en plaques”. Os três sinais de esclerose múltipla são hoje conhecidos como a “tríade de Charcot”, que são nistagmo, tremor intencional e fala telegráfica. Além disso, o neurologista também observou mudanças de cognição, descrevendo pacientes como tendo um “notável enfraquecimento da memória” e “concepções que se formavam devagar”. Charcot hoje é mais conhecido pelo seu trabalho com hipnose e histeria. Em particular, ele é conhecido pelo seu trabalho com a paciente Louise Augustine Gleizes, que aumentou sua fama durante sua vida. Porém, Marie “Blanche” Wittman, conhecida como a Rainha dos Histéricos, foi seu paciente de histeria mais famoso na época. Ele inicialmente acreditava que histeria era uma desordem neurológica com uma predisposição hereditária no sistema nervoso, mas próximo ao final da sua vida ele concluiu que histeria era uma doença psicológica. Faculdade de Minas 19 Charcot começou a estudar histeria após criar uma ala especial para mulheres sãs com “histero-epilepsia”. Ele descobriu duas formas distintas de histeria entre essas mulheres: Histeria menor e histeria maior. Seu interesse em histeria e hipnotismo se desenvolveram em um tempo onde o público estava fascinado com “magnetismo animal” e “mesmerização”, o que depois (graças a James Braid) se descobriu ser um método de indução a hipnose. Ademais, o neurologista ainda argumentou veementemente contra a noção médica e popular que histeria era uma doença quase exclusivamente feminina. Ele o fez apresentando vários casos de histeria masculina traumática. Além do mais, ele ensinava que devido a esse preconceito esses casos iam muitas vezes desconhecidos, mesmo por médicos de renome e podia acontecer em modelos de masculinidade como soldados. A análise de Charcot e sua visão sobre histeria como uma condição orgânica que podia ser causada por trauma, abriu o caminho para a compreensão de sistemas neurológicos nascentes de traumas. Faculdade de Minas 20 O NEURO-HIPNOTISMO Após a apresentação, Braid abole o vocábulo proveniente do magnetismo. E substitui-o por neuro-hipnotismo, passando depois para apenas hipnotismo. Já quase no fim de sua carreira, ele descarta parte do método do cansaço visual e da fascinação, pois descobre que pode hipnotizar cegos ou pessoas em lugares de baixa visibilidade. Situação que deu importância à sugestão verbal. Logo após essa descoberta, ele também não tardou em descobrir que o sono não era necessário para produzir os fenômenos hipnóticos como a anestesia, a amnésia, a catalepsia e alucinações sensoriais. Mas quando Braid identificou que hipnose não era sono, a palavra hipnotismo já estava disseminada. Certo ou errado, esse é o nome que vigora até os nossos dias. Depois desse trabalho de James Braid, o assunto se difunde por toda a Europa, tendo os seus polos na França e Inglaterra. O pai da Hipnose faleceu subitamente no dia 25 de março de 1858 deixando uma profunda modificação no que diz respeito à produção e interpretação dos fenômenos hipnóticos. Durante muitos anos, a hipnose foi esquecida e mal interpretada por não se compreender na época a natureza e dinâmica dos seus fenômenos. Ela foi resgatada na França por duas importantes escolas de pensamento que possuíam visões muito distintas sob o fenômeno da hipnose: a escola de Salpêtrière, liderada por Jean- Martin Charcot e a escola de Nancy, comandada por Auguste A. Liébault e Hippolyte Bernheim. A escola de Salpêtrière tinha como líder Charcot, o neurologista mais importante e conceituado da época, ele estava estudando os estados hipnóticos para tratamento de pacientes histéricos. Em um trabalho apresentado em 1882, na Academia Francesa de Ciências, Charcot considerou a hipnose como um estado patológico de dissociação, comparando o transe ao processo histérico e a anormalidades no sistema nervoso. A relação entre hipnose e doença obteve grande Faculdade de Minas 21 aceitação no meio científico, vindo a influenciar, segundo este ponto de vista, teóricos como Freud. Diferentemente da escola de Salpêtriere, a Escola de Nancy de Liébault e Bernheim do século XIX, também estudava a hipnose e seus fenômenos por mais de 100 anos conforme descritos por Braid, pensando na hipnose como um estado de consciência normal e natural do ser humano, tendo um ponto de vista muito distinto de Charcot. Liébault e Bernheim retomaram a ideia original de Braid de que a indução hipnótica decorria da sugestão, realizando inúmeros estudos e experimentações científicas. Faculdade de Minas 22 SÉCULO XX Durante o século XX, o centro do conhecimento em hipnose começou a migrar da Europa para os Estados Unidos. Joseph Jastrow (1863-1944) foi um dos principais responsáveis por divulgar a hipnose para a audiência leiga, começando o resgate da imagem dos hipnotistas e combatendo a ideia de controle mental. Foi também nesse século que eclodiu a semente plantada pelas escolas francesas com relação ao conceito de transe. A discussão sobre as teorias de estado e não-estado culminou com Hull. Para defensores da teoria de estado, o transe hipnótico seria um estado de consciência diferente daquele presente no cotidiano. Para defensores da teoria de não-estado, os fenômenos hipnóticos se apresentam no dia a dia, sem a necessidade de um estado diferenciado. Seguindo a racionalidade da época, as aplicações clínicas continuaram a se desenvolver. Porém, agora ao lado de pesquisas científicas do fenômeno em si, de maneira similar aos estudos sobre percepção. Dave Elman (1900-1967), nesse contexto, foi importante por criar uma indução rápida, possibilitando agilidade nos tratamentos terapêuticos. Se a hipnose foi anteriormente posta de lado por muitos médicos pela demora em induzir os sujeitos ao transe, com Elman ela voltou a se apresentar como uma alternativa viável. Aos poucos, a hipnose começou a integrar também o corpo do saber relacionado à auto-ajuda. Criou-se nesse contexto a auto-hipnose (termo popularizadopor Émile Coué). No século XX, surgiria um novo método para analisar a mente humana: a Psicanálise. O seu criador Sigmund Freud, que inicialmente usava a hipnose em suas teorias, abandonou-a nos últimos anos do século XIX para dedicar-se somente à Psicanálise e este acontecimento tem gerado um mal-entendido até os dias de hoje. Faculdade de Minas 23 Muita gente tem a impressão de que, após a Psicanálise, a Hipnose tenha ficado obsoleta, ou seja irrelevante, tendo em vista que o próprio “deus” Freud desistiu dela, mas, na verdade, ele utilizou a hipnose como base apenas para provar que conteúdos podem ser armazenados em um local da mente, o inconsciente, e que este inconsciente pode ser manipulado. Começando a se dedicar a maneiras de tornar conscientes os conteúdos inconscientes que causavam os sintomas. Nos primeiros anos do novo século, Freud tornou-se o centro das discussões. É que a Psicanálise, rompendo aquele aglomerado de teorias organicistas, surgia como uma nova esperança na solução de problemas atribuídos às doenças cerebrais. O Hipnotismo despertava medo e desconfiança, ao contrário da Psicanálise, onde o cliente só precisaria deitar-se num divã e associar idéias, contar coisas, lembrar de acontecimentos passados e dos sonhos que teve durante a semana. Ao lado disso, o professor vienense não criara apenas um método psicoterápico, mas algo muito mais amplo, de caráter doutrinário e revolucionário para a época. O método terapêutico era apenas uma faceta da nova doutrina. Hoje, 70 anos após a morte de Freud, uma visão retrospectiva dos diferentes acontecimentos políticos, religiosos, científicos, artísticos e culturais nos mostra claramente a influência às vezes direta, às vezes sutil da Psicanálise. Na primeira Guerra Mundial, a hipnose é reativada prestando serviços inestimáveis à Psiquiatria de Guerra pela maior objetividade no tratamento de neuróticos que, necessitando de um resultado mais rápido que os oferecidos pela psicanálise, conduziam seus tratamentos através de sugestões. Esse fato é demonstrado na autobiografia de Freud, quando ele diz que, no exército alemão, a hipnose foi utilizada com êxito satisfatório para a produção de um processo catártico abreviado. Ligado a essa linha, temos o Locutor de Rádio Dave Elman. Um dos aspectos mais importantes do seu legado foi o método de indução, que originalmente foi construído para realizar a hipnose de um modo rápido e depois adaptada para o uso de profissionais médicos. Os seus discípulos rotineiramente obtinham estados Faculdade de Minas 24 hipnóticos adequados para procedimentos médicos ou cirúrgicos em menos de três minutos. Seu livro e suas gravações deixaram muito mais que somente sua técnica de indução rápida e exploram assuntos que ainda não são conhecidos (ou não são aplicado por muitos), principalmente no Brasil. Há novamente um período de retração da hipnose científica, que ressurge na segunda Guerra Mundial. Nos fins da década de 30 e começo da década de 40, as atividades hipnológicas se mostram em pleno vigor. O número de publicações é imenso; o número de conclaves científicos, também. Nas principais partes do mundo, há interesse crescente pelo assunto, e nomes como o de Erickson surgem. Faculdade de Minas 25 MILTON ERICKSON (1901-1980) Psiquiatra norte-americano, especializado em terapia familiar e hipnose. Fundou a American Society of Clinical Hypnosis e foi um dos hipnoterapeutas mais influentes no pós-guerra. Ele publicou vários livros e artigos científicos na área. Durante a década de 1960, Erickson popularizou um novo tipo de hipnoterapia, conhecida como hipnose ericksoniana, caracterizada principalmente por sugestão indireta, “metáforas” (na realidade, analogias), técnicas de confusão, e duplos vínculos no lugar de uma indução hipnótica clássica. Enquanto a hipnose clássica é direta e autoritária, e muitas vezes encontra resistência do paciente, a forma que Erickson apresentou é permissiva e indireta. Por exemplo, se na hipnose clássica é utilizada a indução “você está entrando agora em um transe hipnótico”, na hipnose ericksoniana, a indução seria utilizada na forma “você pode aprender confortavelmente como entrar em um transe hipnótico”. Desta forma, dá a oportunidade ao paciente de aceitar as sugestões com as quais se sentirá mais confortável, no seu próprio ritmo, e com consciência dos benefícios. A pessoa a ser hipnotizada sabe que não está sendo coagida, tomando para si a responsabilidade e a participação na sua própria transformação. Como a indução se dá durante uma conversa normal, a hipnose ericksoniana também é chamada de hipnose conversacional. Erickson insistia que não era possível instruir conscientemente a mente inconsciente, e que sugestões autoritárias seriam muito mais prováveis de obter resistência. A mente inconsciente responderia a aberturas, oportunidades, metáforas, símbolos e contradições. A sugestão hipnótica eficaz, então, seria “artisticamente vaga”, deixando a oportunidade para que o hipnotizado possa preencher as lacunas com seu próprio entendimento inconsciente – mesmo que eles não percebam conscientemente o que está acontecendo. Faculdade de Minas 26 Um hipnoterapeuta habilidoso constrói essas lacunas nos significados de modo que melhor se adéqua para cada indivíduo – de uma forma que tem a maior probabilidade de produzir o estado de mudança desejado. Por exemplo, a frase autoritária “você vai deixar de fumar” teria uma menor probabilidade de atingir o inconsciente que “você pode se tornar um não-fumante”. A primeira, é um comando direto, para ser obedecido ou ignorado (e observe que ela chama a atenção para o ato de fumar). Já a segunda, é um convite aberto para uma mudança permanente e possível, sem pressão, e que é menos provável de encontrar resistência. Milton Erickson foi o responsável por questionar profundamente a ideia de autoridade do hipnotista para o processo terapêutico. Focando na relação terapêutica, Erickson trabalhou a linguagem e o uso de metáforas como ferramentas para engajar processos não conscientes. Sua maior contribuição para a história da hipnose foi trazer de volta o foco no indivíduo para o processo terapêutico e desenvolver ferramentas alternativas à sugestão direta. Faculdade de Minas 27 A HISTÓRIA DA HIPNOSE ATUAL Desde o final do século XX até os dias atuais, a hipnose possui novos desafios. O advento das técnicas de ressonância magnética e o aprimoramento do escopo de conhecimento em neurociências abriram novos horizontes. As novas fronteiras consistem em organizar as diversas frentes de conhecimento sobre a hipnose e estabelecer diálogos entre elas. Temos uma infinidade de teorias de diferentes vertentes. Algumas de cunho filosófico associadas ao desenvolvimento pessoal, outras teorias sociológicas e comportamentais que associam a hipnose ao contexto social como determinante dos comportamentos esperados pelos seres humanos e algumas teorias baseadas nas neurociências que procuram associar fenômenos hipnóticos a estados fisiológicos cerebrais, etc. A história da hipnose no século XXI continua se escrevendo dia após dia. O nosso maior desafio é ir além e desvendar as possibilidades inexploradas da hipnose. Como diria Platão, “A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos”. Na década de 50, muitas sociedades de hipnologia foram fundadas na Europa, em diversos países da América e no Japão. Participaram das mesmas somente médicos, dentistas, psicólogos e, em alguns países, pessoas da área de Filosofia. A oficialização da hipnologia dentro das ciências médicas nas Américas, se deu com a criação da Seção de Hipnose Clínica em 1960. Atualmente,os hipnotistas mais conhecidos do mundoe que mais inspiraram a produção de conteúdo sobre hipnose são: Sean Michael Andrews, Igor Ledochowski, Anthony Jacquin, Derren Brown e James Trip. Dentre os nomes dos maiores divulgadores da hipnose ericksoniana estão: Jeffrey Zeig, Stephen Paul Adler, Roxanna Erickson, o uruguaio Fábio Puentes e os brasileiros Sofia Bauer e Alberto Dell’Isola. Faculdade de Minas 28 Muito ainda há para dizer sobre como a hipnose evoluiu através dos tempos, mas esse resumo sobre a evolução histórica da Hipnose já fornece uma ideia do lugar incrível que ela ocupa. Mostra bem como se desvencilhou da magia e do ocultismo. Ocupando um lugar de destaque no meio científico, o que deve ser frisado pelos profissionais que trabalham atualmente com o assunto. Faculdade de Minas 29 A HIPNOSE NO BRASIL No início dos anos sessenta o então presidente da república, Jânio Quadros, assina o decreto N° 51.009 de 22/7/1961728 que proibia a prática da hipnose como entretenimento. Este decreto, no entanto, em seu artigo 2° já apontava uma linha divisória que deixava aos médicos a única concessão para o livre exercício da hipnose. Esta normativa era resultado de um crescente interesse da comunidade médica em torno da hipnose, como relata David Akstein, primeiro presidente da Associação Brasileira de Hipnose fundada em 1957. Nossa luta trouxe-nos algumas vantagens, ainda não obtidas por colegas de muitos países, como a proibição oficial do uso da hipnose como entretenimento, em televisão, teatros etc.[...] Esta proibição só foi obtida depois de medidas esclarecedoras nos mais influentes órgãos de publicidade, depois de vários anos de aplicação criteriosa da hipnoterapia pelos hipnólogos brasileiros e após a realização dos bem sucedidos 1° Congresso Pan Americano de Hipnologia e 1° Brasileiro de Hipnologia. Dessa forma, a maior parte do público passou a encarar a referida terapêutica como usual e inócua. (AKSTEIN,1980: 35) Este decreto não impediu que a hipnose continuasse a ser praticada forma diversa, com outros interesses, alguns textos presentes no site da revista brasileira de hipnose, são muito interessantes nesse sentido, por mostrarem um interesse grande no combate aos usos mágicos da hipnose, o combate a charlatães, paranormais e etc., como demonstra o próprio título do texto do qual retirei a citação acima O pensamento mágico e as Personalidades Paranóides na dificultação do Movimento Hipnológico. No entanto outros grupos de interesse se reúnem em torno da hipnose, trinta anos mais tarde o então presidente Fernando Collor revoga o decreto e uma sucessão de resoluções de órgãos profissionais passam a reconhecer e recomendar o uso da hipnose. Em 1993 o conselho federal de odontologia reconhece e recomenda a hipnose como ferramenta clínica, seguida pelo conselho federal de medicina em 1999, o Faculdade de Minas 30 conselho federal de psicologia em 2000 e o conselho federal de fisioterapia e terapias ocupacionais em 2010. O que estas normativas têm em comum é o apelo aos critérios éticos do emprego da hipnose e a exigência da devida habilitação por parte dos profissionais. O que supõem a demanda de um quadro estável de transmissão e formação profissional em hipnose. Servindo também, ao menos em situações informais e extraoficiais, para desqualificar o uso da hipnose por pessoas não pertencentes aos quadros profissionais regulamentados pelos conselhos. O caso da criação instituto brasileiro de hipnoterapia, denota bem o tipo de disputa que ocorreu entre a repartição de direitos entre médicos e psicólogos para o exercício e o estudo da hipnose no Brasil. da hipnose no Brasil. É nesse período ainda, entre fins de 80 e começo de 90 que chegam ao Brasil os primeiros cursos de Hipnose Ericksoniana e a partir de 1995 passam-se a instalar em vários estados brasileiros os Institutos Milton Erickson, responsáveis pela difusão, e formação para a habilitação de profissionais para o uso da hipnose tal como a desenvolvida por Erickson. Também passa a circular no campo de influência da hipnose, a PNL (programação neurolinguística), processo criado por Richard Bandler e John Grinder, fortemente influenciados pelos trabalhos de Erickson. Diz-se que a PNL, a grosso modo, pode ser compreendida com um conjunto de técnicas de modelagem do comportamento visando a excelência pessoal e profissional. Evidentemente a PNL é enormemente reconhecida nos circuitos de cultura empresarial, empreendedorismo, coaching, etc. E é notável como se torna presente no currículo de formação de hipnoterapeutas, e hoje é quase impossível efetuar qualquer busca referente à hipnose, seja ela ericksoniana ou não, que não acabe desembocando em algum curso, artigo, palestra sobre a PNL. Para além das normativas dos conselhos profissionais o uso da hipnose não é regulamentado por lei alguma, e um outro espaço crescente de institucionalização para hipnoterapeutas, são as terapias alternativas, new age etc. A grande maioria de terapeutas que não possuem curso superior de psicologia por exemplo, se inscrevem Faculdade de Minas 31 em associações, conselhos ou sindicatos de terapeutas holísticos, a fim de obter algum respaldo institucional, embora ainda não exista lei que regulamente a prática de terapeuta holístico. Entre estes terapeutas a PNL, a hipnose ericksoniana, o coaching continuam presentes, mas ao lado de terapias de vidas passadas (TVP), psicoterapia reencarnacionista, parapsicologia dentre inúmeras outras técnicas consideradas holísticas ou new age, muitos desses hipnólogos são inclusive referências constantes para quem se interessa por cursos de formação Parece ser possível despontar então, figuras de referência no campo da hipnose, que prescindem do reconhecimento de uma especialidade científica, como psicologia ou psiquiatria para a manutenção de seu reconhecimento e prestígio. Em suma, atualmente há uma variedade substancial de espaços, pessoas, usos e consequentemente produção de significados, em torno das terapias com hipnose só superficialmente esboçadas até aqui, que a princípio podem parecer incomensuráveis em seus interesses, mas coexistem e se interpenetram, como é possível reconhecer na trajetória dos terapeutas por exemplo. Faculdade de Minas 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da história, a hipnose se mostrou uma ferramenta de suporte intimamente conectada com a medicina, psicologia e psicoterapia. Desde as aplicações históricas em templos com técnicas de incubação e meditação através de mantras religiosos, até o uso da hipnose em Charcot e Freud para a conclusão da existência de sintomas fisiológicos gerados por processos psicológicos. A hipnose afetou a formação de várias das técnicas psicoterapêuticas modernas, sendo essas a própria hipnoterapia, a psicanálise, a psicologia analítica e até a terapia cognitivo-comportamental. Outras também foram consideradas, apesar destas não serem mencionadas neste trabalho. A hipnose se mostra um amigo implícito em grande parte dos estudos psicológicos, lembrando sua definição por Braid. O transe pode se dar em qualquer situação desde que se cumpram duas condições. A fixação da visão e o foco da concentração do hipnotizado. Sendo assim, o autor vê a hipnose como um estudo de importância capital para a formação de um psicoterapeuta completo. Apesar de resultados discutíveis na parte da sugestão direta, a hipnose como componente ativo da terapia facilita a busca por informações do paciente, como um complemento a associação livre. Dessa forma, guiando o paciente a um local ou trauma específico da memória e o ajudando a focar em artefatos importantes da sua psique. A hipnose, por fim, não precisa nem ser utilizada. Seu estudo e conhecimento sem aplicação prática pelo analista,revela através das epifanias de seus praticantes conceitos importantes sobre o inconsciente e seus funcionamentos que o analista não teria de modo contrário. Faculdade de Minas 33 Mesmo em tempos modernos, é importante voltarmos a visão ao passado. Um psicoterapeuta pleno com certeza só pode se afirmar o mesmo após o estudo extenso daqueles que o pré-datam, e a história da hipnose é, em si, a história da psicologia. Em suma, se pudermos comparar de um modo geral as diferenças que se apresentam entre a forma de experiência que aparece ao fim do século XIX e as experiências contemporâneas especificas que relatei veríamos que um deslocamento da experiência do transe como delimitadoras do funcionamento normal do indivíduo para a experiência do transe enquanto amplificadora das qualidades individuais da pessoa. Se antes a hipnose havia servido para reiterar valores dominantes, hoje parece-me que ela procura meio de realizar os objetivos que o conjunto possível destes valores prescreve. A hipnose em algumas formas predominantes de seu uso contemporâneo parece estar disposta a atingir a máxima dita por Bernheim, a de que homem deve se aperfeiçoar indefinidamente, e aqui seria importante ressaltar que este aperfeiçoamento, nesta modalidade especifica de praticar a hipnose, se dá tão somente jogo de possibilidades que esta imagem do homem inscreve, na sua relação com os objetivos predominantes de nossa sociedade e que são também um meio de uma prática com uma história de difícil estabilização institucional encontrar um espaço para se manter. Faculdade de Minas 34 REFERÊNCIAS ANDRIOPOULOS, Stefan. Possuídos: crimes hipnóticos, ficção corporativa e a invenção do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014. AKSTEIN, David. “O pensamento mágico e as personalidades paranoides na dificultação do Movimento Hipnológico”. In: Revista Braisleira de Hipnose. 1980. AZEVEDO, Regina Maria. O discurso terapêutico de Milton Erickson: uma análise à luz dos padrões da programação neurolinguística. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2012. BANDLER, Richard, and GRINDER, John. "The structure of magic: A book about language and therapy." Palo Alto, Califórnia: Science and Behaviour books, 1975. BANDLER, Richard et all. Patterns of the hypnotic techniques of Milton H. Erickson, MD. Meta Publications, 1976. BELLOUR, Raymond. Le corps du Cinéma: hypnoses, émotions, animalités. Paris: POL, 2009. BINET, Alfred. La psicología del razonamiento : investigaciones experimentales por el hipnotismo.Madrid, Fernando Fe, 1902. CAPONI, Sandra. Loucos e degenerados: uma genealogia da psiquiatria ampliada. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2012. CAZETO, S. A Constituição do Inconsciente em Práticas Clínicas na França do Século XIX. Ed. Escuta/FAPESP. São Paulo, 2001. CHARCOT, Jean Martin. Grande Histeria. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2003. Faculdade de Minas 35 CHERTOK, L. e STENGERS, I. O coração e a razão: a hipnose de Lavoisier a Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. CONSOLIM, Maria Cristina. Crítica da razão acadêmica: campo das ciências sociais livres e a psicologia social francesa no fim do século XIX. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2007. DARNTON, Robert. O lado oculto da Revolução: Mesmer e o final do iluminismo na França. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. DUNKER, Cristian. Estrutura e constituição da clínica psicanalítica: uma arqueologia das práticas de cura, psicoterapia e tratamento. São Paulo: Annablume, 2011. ELLENBERGER, Henri. El descubrimiento del inconsciente: Historia y evolución de la psiquiatria dinámica. Madrid: Editorial Gredos, 1976. FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. MANSANO, Sonia Regina Vargas. "Transformações da subjetividade no exercício do trabalho imaterial." In: Estudos e pesquisas em psicologia 9.2, 2009. ORTEGA, Francisco. O sujeito Cerebral e o movimento da neurodiversidade. In: mana 14(2): 477-509, 2008. ROUDINESCO, Elizabeth e PLON, Jean, Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar,1998. SANTOS, Lucia Grossi dos. A experiência surrealista da linguagem: Breton e a psicanálise. In: Ágora v. V n. 2 jul/dez 2002. SHOWALTER, Elaine. “Hysteria, feminism and gender”. In: SHOWALTER et all. Hysteria beyond Freud. California: University California Press, 1993. Faculdade de Minas 36 TARDE, Gabriel. As leis sociais. Esboço de uma Sociologia – Parte I. Tradução de Mauro Guilherme Pinheiro Koury. In: RBSE, v.3, n.9, pp. 461-482, João Pessoa, GREM, Dezembro de 2004. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Perspectival Anthropology and the method of controlled equivocation”. In: Tipití: Journal of the Society for the Anthropology of Lowland South America”. Vol 2 (1), 2004. WAGNER, Roy. A Invenção da Cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
Compartilhar