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Cadernos de Docência na Educação Básica O ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DESAFIOS DIDÁTICOS Orgranizadores: ANTONIO FRANCISCO MARQUES JOSÉ ROBERTO BOETTGER GIARDINETTO VITOR MACHADO v São Paulo 2016 UNESP Realização Departamento de Educação – Faculdade de Ciências Programa de Pós-Graduação em Docência Para a Educação Básica Reitor Julio César Durigan Vice-Reitora Eduardo Kokubun Pró-Reirtor de Extensão Universitária Mariângela Spotti Lopes Fujita Pró-Reitor de Pesquisa Maria José Soares Mendes Giannini Pró-Reitor de Graduação Laurence Duarte Colvara Pró-Reitor de Pós-Graduação Lourdes Aparecida Martins dos Santos-Pinto Pró-Reitor de Administração Carlos Antonio Gamero Secretária-geral Maria Dalva Silva Pagotto Chefe de Gabinete Roberval Dalton Vieira Assessor chefe da Assessoria de Comunicação e Empresa Oscar D’Ambrosio Diretora da Faculdade de Ciências de Bauru Dagmar Ap. Cynthia França Hunger Vice-Diretor da Faculdade de Ciências de Bauru Paulo Noronha Lisboa Filho Chefe do Departamento de Educação Luciene Ferreira da Silva Vice-Chefe do Departamento de Educação Silvia Regina Quijadas Aro Zuliani Realização Departamento de Educação Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01 Bairro: Vargem Limpa Bauru, SP – CEP 17033-360 Telefone: (14) 3103-6081 Fax: (14) 3103-6095 Conselho Editorial Adreana Dulcina Platt – UEL; Adriana C. Omena dos Santos – UFU; Ana Maria Lombardi Daibem – UNESP; Célio José Losnak – UNESP; Denise Fernandes de Mello- UNESP; Dijnane Vedovatto Iza – UFSCAR; Edson do Carmo Inforsato- UNESP; Fernanda Ap. Meglhioratti – UNIOESTE; Fernanda Katia Bozelle – UNESP; Fernanda Rossi – UNESP; Fernando Donizete Alves – UFSCAR; José Carlos Miguel – UNESP; José Euzébio de Oliveira Souza Aragão- UNESP; José Misael Ferreira do Vale – UNESP; Luciana Ap. De A. Penitente – UNESP; Marcelo Augusto Totti – UNESP; Mariana A. Bologna Soares de Andrade – UEL; Neiza de L. Frederico Fumes – UNEAL; Odalea Viana – UFU; Patricia Unger Raphael Bataglia – UNESP; Paulo César de Faria- UFSCAR; Raquel Lazari Leite Barbosa – UNESP; Regiane Santos Zacarias – UNESP; Relma Urel Carboni Carneiro – UNESP; Silvio Henrique Fiscarelli – UNESP. 370.71 E26 Cadernos de docência na educação básica IV: Cadernos de Docência na Educação Básica V: O ensino na educação básica - desafios didáticos / Antonio Francisco Marques, José Roberto Boettger Giardinetto e Vitor Machado (org.) ; Antonio Francisco Marques ... [et al]. - São Paulo : Cultura Acadêmica, 2016 260 p. ISBN 978 -85-7983-833-0 Inclui bibliografia 1. Educação. 2. Ensino. 3. Docência. I. Marques, Antonio Francisco. II. Giardinetto, José Roberto Boettger. III. Machado, Vitor. IV. Título. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 5 CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA A RESPEITO DO AMBIENTE ............................................................................................................................. 10 ANA MARIA DE ANDRADE CALDEIRA TAMARA QUINTEIRO CAROLINA MORAES SANTOS ATIVIDADES PRÁTICAS NO ENSINO ESCOLAR DE CIÊNCIAS NATURAIS: CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE ................................................................................. 22 FERNANDO BASTOS ELIANE CERDAS LABARCE ALESSANDRO PEDRO A DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR E OS DESAFIOS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE FÍSICA .......................................................................................... 34 BEATRIZ S.C.CORTELA ROBERTO NARDI A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE DOCENTE DESDE A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE FÍSICA .......................................................................... 48 BEATRIZ S.C.CORTELA SANDRA REGINA TEODORO GATTI ROBERTO NARDI OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO DOS FORMADORES DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA – ALGUMAS REFLEXÕS ............................................................... 63 SILVIA REGINA QUIJADAS ARO ZULIANI ALEXANDRE DE OLIVEIRA LEGENDRE O ENSINO DE GEOMETRIA ESPACIAL NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: SUBSÍDIOS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES ................................................ 73 JOSÉ ROBERTO BOETTGER GIARDINETTO ADAUTO DE JESUS PEREIRA PROVINHA BRASIL DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO ENVOLVENDO O PROCESSO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS POR MEIO DO “PENSAR EM VOZ ALTA” ........ 86 NELSON ANTONIO PIROLA NADJA MARIA ACIOLY-RÉGNIER ENSINAR E APRENDER COM AS TECNOLOGIAS: OS DESAFIOS DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NO USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE ....................................................................... 99 THAÍS CRISTINA RODRIGUES TEZANI ADRIANA CRISTINA LÁZARO O DISCURSO DA MIDIA PARA A INFÂNCIA ................................................................. 111 MARIA DA GRAÇA MELLO MAGNONI A AVALIAÇÃO DO JUÍZO MORAL DE CRIANÇAS NÃO-ALFABETIZADAS: UM DESAFIO METODOLÓGICO ............................................................................................. 124 RITA MELISSA LEPRE DANIELE PAVAN MARTINS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: UMA REFLEXÃO SOBRE A AÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE ............................................................................................................................. 136 VERA LÚCIA MESSIAS FIALHO CAPELLINI JULIANA HENRIQUE SILVÉRIO BERNARDO DESAFIOS DIDÁTICOS NO ENSINO DO ESPORTE NA/DA ESCOLA ....................... 146 LILIAN APARECIDA FERREIRA ELIANE ISABEL FABRI FABIANA ANDREANI LÍGIA ESTRONIOLI DE CASTRO TALITA FABIANA ROQUE DA SILVA ENSINO E DESAFIOS DIDÁTICOS: O LÚDICO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................................................. 158 LUCIENE FERREIRA DA SILVA DANIELA FERNANDA HORÁCIO OS DESAFIOS NO ENSINO DOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA/DAINFÂNCIA: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA PROFESSORAL ................... 170 CRISTIANE AP. SILVEIRA DOS SANTOS DAGMAR HUNGER FERNANDA ROSSI LINGUÍSTICA NA ALFABETIZAÇÃO: UMA ANÁLISE DOS CONHECIMENTOS DE FONÈTICA E FONOLOGIA MOBILIZADOS NO ENSINO DA ESCRITA INICIAL ... 184 ROSA MARIA MANZONI JANAÍNA DE ALMEIDA LOPES A INFLUÊNCIA DA FILOSOFIA FREIREANA NA EJA: APROXIMAÇÕES COM AS TEORIAS CONTEMPORÂNEAS ........................................................................................ 200 MARIA APARECIDA COUTO ELIANA MARQUES ZANATA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO “FERNANDO COSTA” E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SEU CURSO PRIMÁRIO (1953-1975) ............................................ 210 MACIONIRO CELESTE FILHO ALINE DE NOVAES CONCEIÇÃO O PAPEL DESEMPENHADO PELA DIREÇÃO ESCOLAR NA GESTÃO DOS FAZERES E SABERES DA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................................................... 222 MARCOS JORGE KARLA ROSA POLO FAMÍLIA E ESCOLA: APRENDIZAGEM E SOCIALIZAÇÃO NA INFÂNCIA ........... 231 ALINE FERNANDA COLACINO BRUNA DI RICHELLE SOUZA PADOVINI ANTONIO FRANCISCO MARQUES O ENSINO DE SOCIOLOGIA E A ACONSTRUÇÃO DA PRÁXIS DOCENTE NO COMBATE AO ESTGMA E DESCRIMINAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR .............. 246 VITOR MACHADO PAULO HENRIQUE NAPOLI 5 APRESENTAÇÃO O livro Cadernos de Docência na Educação Básica V é o quinto de uma série que pretende divulgar a produção científica dos docentes e de seus grupos de pesquisa vinculados ao Departamento de Educação da Faculdade de Ciências, campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista – Unesp. Os textos que integram este livro abordam temas diversos, de diferentes áreas do conhecimento queatravessam e constituem os focos específicos dos trabalhos reunidos neste volume, como a concepção da questão ambiental entre os professores; docência nas ciências naturais, física e matemática, de considerações acerca das tecnologias e mídia e outros. Desta forma, apontam subsídios para a reflexão e intervenção no espaço educativo formal não somente nos aspectos teóricos, mas também nos aspectos da dimensão prática. No texto “Concepções dos professores da Educação Básica sobre problemas ambientais” Ana Maria de Andrade Caldeira, Tamara Quinteiro e Carolina Moraes Santos buscam identificar a existência de um saber conceitual entre professores na ação docente a partir de situações cotidianas como infrações ambientais cometidas pela população regional. No texto “Atividades práticas no ensino escolar de ciências naturais: contribuições para o debate” Fernando Bastos, Eliane Cerdas Labarce e Alessandro Pedro os autores promovem a reflexão sobre as atividades práticas no ensino de ciências naturais delimitando sua conceituação e função como contribuição à melhoria do ensino prático de ciências. Refletir sobre os desafios dos docentes que atuam como formadores de professores no planejamento e desenvolvimento de práticas pedagógicas é o objetivo do texto “A docência no ensino superior e os desafios na formação inicial do professor” de Beatriz S. C. Cortela e Roberto Nardi. Já em “A construção de uma identidade docente desde a formação inicial de professores de física” esses mesmos autores, em conjunto com Sandra Regina Teodoro Gatti, refletem sobre os desafios didáticos para o ensino na Educação Básica a partir da análise das Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica desde a CNE/CP 01/2002 até a atual CNE/CP 02/2015, que determina que todos os cursos de licenciatura deverão ser reformulados a partir de 2016. No texto “Os desafios do ensino na educação básica: provocações e reflexões da formação de professores à formação de formadores”, Sílvia Regina Queijadas Aro Zuliani e Alexandre de Olveira Legendre promovem uma reflexão sobre como se pode encaminhar a 6 construção de processos de formação continuada de docentes no âmbito da Universidade. Para tanto tece uma série de reflexões a partir de questões como: que questões são pertinentes quando se reflete sobre as propostas didáticas para o ensino e aprendizagem na Educação Básica? Como somos formados (sob o ponto de vista da profissionalidade docente) para exercer a docência no Ensino Superior? O que significa ser docente em uma Universidade Pública atualmente? Nos próximos dois textos a temática é o ensino de matemática. Em “O ensino de geometria espacial no Ciclo de Alfabetização na perspectiva da pedagogia histórico-crítica” José Roberto Boettger Giardinetto e Adauto Pereira se utilizam desta perspectiva teórico-pedagógica para apontar melhorias no ensino da geometria espacial diante da constatação de dificuldades por parte dos professores alfabetizadores no desenvolvimento desse conteúdo. Neste sentido, reflete sobre a aplicação de uma sequência didática nos moldes da Pedagogia Histórico-crítica, a fim de que os alunos se apropriassem desse importante ramo da matemática. Já em “Provinha Brasil de Matemática: um estudo envolvendo o processo de resolução de problemas por meio do “pensar em voz alta” “, Nelson Antonio Pirola e Nadja Maria Acioly-Régnier investigam a metodologia do “pensar em voz alta” a partir do problema relativo a haver ou não variação no desempenho dos alunos iniciantes do terceiro ano do Ensino Fundamental, quando realizam a Provinha Brasil oficial e a Provinha Brasil por meio desta metodologia. Esclarecem que o texto partiu de estudos teóricos realizados por Nelson Antonio Pirola na Universidade de Lyon I, no final de 2014, sob a supervisão da professora Nadja Maria Acioly-Régnier, em que o objetivo principal era analisar as estratégias de resolução de problemas apresentadas por alunos do segundo ano do Ensino Fundamental, que se encontravam em processo de alfabetização, tendo como instrumento de pesquisa itens da Provinha Brasil. O presente texto apresenta os resultados da pesquisa realizada no Brasil. As tecnologias é assunto do texto de Thaís Cristina Rodrigues Tezani e Adriana Cristina Lázaro. Intitulado “Ensinar e aprender com as tecnologias: os desafios da mediação pedagógica no uso das tecnologias digitais da informação e comunicação na prática docente” o texto apresenta um recorte da dissertação de mestrado “As tecnologias da informação e comunicação na formação continuada de professores: uma proposta para o uso do laboratório de informática” (LÁZARO, 2015) defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Docência para a Educação Básica da Faculdade de Ciências da UNESP de Bauru. O objetivo da 7 pesquisa foi repensar o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) e sua relação com o currículo escolar para assim entender que na atualidade há novas formas de ensinar e aprender. A criança, a televisão e a educação compõem a reflexão de Maria da Graça Magnoni no texto intitulado “O discurso pedagógico da mídia para a infância”. Buscando analisar o discurso pedagógico da TV para a infância, considerando que aos conhecimentos científicos, filosóficos e pedagógicos presentes no processo de formação do professor, a autora apresenta uma reflexão a partir de dois vídeos, utilizados na disciplina Filosofia da Educação, disciplina desenvolvida pela autora entre os futuros professores no Curso de Pedagogia. Os vídeos escolhidos visavam a abordagem e discussões voltadas às concepções de “valor” e a relação com a Educação, Já no texto “A avaliação do juízo moral de crianças não-alfabetizadas: um desafio metodológico” Rita Melissa Lepre e Daniele Pavan Martins abordam a experiência de desenvolvimento e aplicação de um instrumento metodológico para se avaliar o juízo moral de crianças pequenas em um Centro de Convivência Infantil de uma Universidade Estadual que atende a filhos de docentes, discentes e técnicos-administrativos, entre quatro meses e cinco anos de idade. A partir de três valores, a saber, amizade, generosidade e justiça, para cada um desses valores as autoras construíram pares de histórias-dilemas, baseados no método-clínico piagetiano. Vera Lúcia Messias Fialho Capellini e Juliana Henrique Silvério Bernardo no texto “Práticas pedagógicas: pesquisar, aprender, ensinar e mudar...” apresentam uma discussão sobre a prática docente no âmbito da educação especial, tecendo uma crítica à pratica pedagógica predominante na educação básica, que normalmente se destina aos alunos de forma homogênea e uniforme, desconsiderando os diferentes níveis e ritmos de aprendizados. Segundo as autoras tudo isso é subsidiado por um currículo oficial repleto de conteúdos que dificultam a adoção de estratégias voltadas a diversidade. Desta maneira, o texto demonstra como o professor, ao reorganizar os elementos constituintes do cotidiano escolar, através de novas relações educativas, pode assegurar a qualidade de aprendizagem aos alunos e garantir assim a inclusão. Os três texto seguintes abordam a temática da educação física. O primeiro deles intitulado “Desafios didáticos para o ensino dos esportes como conteúdo das aulas de educação física na escola”, Lilian Aparecida Ferreira, Eliane Isabel Fabri, Fabiana Andreani, 8 Lígia Estronioli de Castro e Talita Fabiana Roque da Silva, mostra de que forma o professor da Educação Física deve proceder ao abordar os conteúdos da Educação Física na sala de aula, chamando a atenção para o fato de que a prática do professor deve sempre se pautar numa perspectiva crítica para que os saberes corporais possam atingir todas as dimensões do esporte. O texto “Ensino e desafios didáticos: o lúdico nos anos iniciais do ensino fundamental”das autoras Luciene Ferreira da Silva e Daniela Fernanda Horácio mostra a importância do emprego do lúdico, especialmente os jogos, no desenvolvimento das práticas pedagógicas no Ensino Fundamental dos anos iniciais. A fim de repensar a prática docente voltada ao ensino infantil, o texto demonstra como o professor deve proporcionar atividades e avaliações que propiciem o desenvolvimento do aluno sem que este perca sua criatividade. Já Cristiane Ap. Silveira dos Santos e Dagmar Hunger no texto “Currículo de Educação Física para educação infantil: desafios da prática pedagógica”, trataram de apontar a necessidade de incorporar as especificidades da Educação Infantil em currículos que legitimem o conhecimento científico, histórico, estético e cultural, acumulado historicamente, a partir das interações e brincadeiras e eixos que devem nortear as experiências e saberes das crianças de 0 a 5 anos, garantindo assim às crianças, o domínio consciente e voluntário de suas ações corporais. Na área da linguagem as autoras Rosa Maria Manzoni e Janaína de Almeida Lopes, no texto “Linguística na alfabetização: uma análise dos conhecimentos de fonética e fonologia mobilizados no ensino da escrita inicial” apresentam as contribuições da Fonética e Fonologia na alfabetização. As autoras sugerem uma metodologia de alfabetização fundamentada nos conceitos de alfabetização baseados na mecânica da escrita (codificação e decodificação) e na apreensão e compreensão do significado das ideias (SOARES, 2011) e no critério fônico da relação entre som (fonema) e letra (gramema) (LEEMLE, 2009). No texto intitulado “A influência da filosofia freireana na EJA: aproximações com as teorias contemporâneas” Maria Aparecida Couto e Eliana Marques Zanata mostram a Filosofia Freireana como aporte teórico fundamental da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ao estarem alicerçados nessa filosofia, as autoras sugerem que o professor da EJA será capaz de promover a mediação pedagógica para o letramento a partir do desenvolvimento de práticas sociais da leitura e da escrita, considerando a dimensão afetiva nas relações educador-educando e ensino-aprendizagem. 9 Através do texto “Instituto de educação “Fernando Costa” e a formação de professores em seu curso primário (1953-1975)” Macioniro Celeste Filho e Aline de Novaes Conceição procuram, através de uma pesquisa bibliográfica e documental, reconstituir aspectos da história do extinto Instituto de Educação (IE) “Fernando Costa” da cidade de Presidente Prudente/SP, entre 1953 e 1975, recuperar os indícios da formação de professores realizados a partir do Curso Primário a ele anexado. Como era considerada uma escola de excelência na formação dos alunos, os autores destacam como uma de suas ações o treinamento constante dos seus docentes, o que possibilitava um ensino diferenciado proporcionado pela instituição, principalmente aquele voltado a formação das normalistas. “O papel desempenhado pela direção escolar na gestão dos fazeres e saberes da educação infantil” é o texto elaborado por Marcos Jorge e Karla Rosa Polo, que discutem a importância da gestão democrática do ensino público como princípio educacional. O texto procura demonstrar como o papel desempenhado pelo diretor de escola, quando esse assume o compromisso com a gestão democrática, pode assegurar o desenvolvimento de princípios voltados aos saberes e fazeres da Educação Infantil na instituição escolar. No texto “Família e escola: aprendizagem e socialização na infância” Aline Fernanda Colacino, Bruna Di Richelle Souza Padovini e Antonio Francisco Marques refletem sobre a importância do papel da família e da escola no processo de socialização na infância, discutindo a especificidade de cada um desses espaços educativos, de modo que eles são entendidos no texto como complementares a formação e desenvolvimento humano. Enfim, no último texto intitulado “O ensino de Sociologia e a construção da práxis docente no combate ao estigma e a descriminação no ambiente escolar”, Vitor Machado e Paulo Henrique Napoli apresentam um método de ensino, na forma de uma sequência didática, tendo como referência metodológica a Pedagogia Histórico-Crítica, para auxiliar os professores da educação básica, particularmente, da disciplina de Sociologia, a evitarem relações discriminatórias, transferidas do meio social para o ambiente escolar, as quais foram chamadas no texto de fenômenos caóticos ressonantes. Embora com temáticas distintas, todos os textos buscam equacionar a questão da didática no processo de ensino e de aprendizagem na Educação Básica. Acreditamos que a leitura proporcionará uma forma de pensar e repensar sobre o próprio fazer educativo. Desejamos a todos uma ótima leitura. 10 CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA A RESPEITO DO AMBIENTE Ana Maria de Andrade Caldeira 1 Tamara Quinteiro 2 Carolina Moraes Santos 3 1. INTRODUÇÃO O conhecimento ambiental objetiva a formação de um corpo conceitual que articule as relações ecológicas, econômicas, sociais e políticas na qual estamos inseridos. Antes do século XIV, predominava uma visão orgânica da natureza, na qual todos os seres vivos tinham uma relação de interdependência, valorizando todas as formas de vida (GRÜM, 2009). Porém, a partir do século XVII, a humanidade juntamente com o avanço das Ciências Tecnológicas passou a valorizar o homem como dominador da natureza. A Modernidade iniciou um afastamento do ser humano com os outros seres vivos e assumiu uma postura de superioridade, na qual a natureza passou a ser quantificada e mercantilizada (GRÜM, 2009). No século XIX, houve uma grande devastação das florestas para o plantio de café e a Constituição Brasileira de 1891 ainda não tratava de nenhuma questão ligada à preservação das florestas (DIAS, 2004). Mesmo após vários eventos e Conferências sobre o meio ambiente como em Tbilisi em 1977 e as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de 1984, ainda pode-se visualizar uma postura antropocêntrica na Constituição Brasileira de 1988 que define o Meio Ambiente como de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (Capítulo VI, Art. 225). No entanto, as discussões foram se ampliando e hoje se entende meio ambiente como um meio que não podemos apenas usufruímos de seus benefícios, mas sim um conjunto de interações abióticas e bióticas e, como parte desta relação, o ser humano deve interagir com os demais elementos presentes no ambiente (LISBOA e KINDEL, 2012). A falta de informação, reconhecimento, pertencimento ao ambiente, bem como a geração de renda e lucro referente aos recursos naturais, leva a população a cometer diversas ações exploratórias e de descaso. Nesse sentido, faz-se importante a existência de leis que protejam e assegurem um equilíbrio ambiental (lei n.º 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 - Lei de 1 Profª. Adjª. do Departamento de Educação - FC – UNESP - Bauru. Programa de Pós-Graduação em Docência para a Educação Básica – FC – UNESP - Bauru. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Docência para Educação Básica – FC – UNESP – Bauru. Professora da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo 3 Graduanda em Bacharelado em Ciências Biológicas – FC – UNESP – Bauru. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm 11 Crimes Ambientais) 4 . Antes da existência dessa legislação, existiam contradições e as leis eram de difícil aplicação. A caça de um animal silvestre, mesmo servindo para alimento, era enquadrada como crime inafiançável, já maus tratos e desmatamentos eram punidos apenas por multas. Outras falhas na legislação, era a falta de explicação sobre experiências realizadas com animais e soltura de balões (O ECO – Organização não governamental, 2014). As infrações ambientais ocasionam umaproblemática nas mudanças globais e em sistemas socioambientais complexos que interferem nas condições de sustentabilidade do planeta. Dessa forma, existe uma urgência da necessidade de novas metodologias orientadoras de um processo de reconstrução do saber que permitam realizar uma ação integrada da sociedade (LEFT, 2007). Caldeira e Araújo (2009) defendem o ensino como uma produção de conhecimento, na qual o professor em formação deve ser capaz de atuar com autonomia intelectual, articular teoria e prática e refletir criticamente sobre a sua prática profissional. Dessa forma, o entendimento e a reflexão sobre as infrações ambientais e as respectivas legislações favorecem habilidades como refletir criticamente, avaliar, investigar, propor soluções e analisar situações do cotidiano. As estratégias utilizadas na Educação Ambiental devem desenvolver uma sensibilização a respeito dos problemas ambientais e buscar alternativas de soluções (DIAS, 2004) que podem abranger o conhecimento sobre as legislações que preveem a preservação ambiental. Os professores são um diferencial para propagarem o conhecimento. Partindo de situações do cotidiano como as infrações ambientais cometidas pela população regional, o trabalho visa analisar se existe um saber conceitual (ambiental), identificando o que os professores pensam sobre o assunto. Podendo assim, embasar novos estudos para a ampliação de tais conceitos por parte dos professores ou para desenvolver novas metodologias que alcancem o desenvolvimento da cidadania. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Educação Ambiental 4 Penaliza todo e qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o ambiente como a flora, fauna, os recursos naturais e o patrimônio cultural (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm 12 Pensar na educação é pensar em uma sociedade e/ou comunidade de aprendizagem. O trabalho deve estar embasado no respeito à diversidade biológica e ao meio ambiente, na construção de competências e na valorização do indivíduo (MORIN, 2001). A Educação Ambiental é uma área de conhecimento que articula as práticas das convivências humanas, na qual a natureza não seja utilizada como objeto, mas a existência da convivência no ambiente sem conflitos gerados pela economia e capital. Essa Educação pode ser entendida como possibilidade de transformação social por meio da formação do cidadão, se bem implementada. Há uma necessidade em ensinar visando conseguir uma inversão dos valores da sociedade do consumo por outro que nos liberte dessa concepção racionalista de destruir para consumir e poder viver. (MARQUEZ, 2009). Nesta perspectiva, a educação ambiental vai além de uma disciplina fragmentada e aprendida nas escolas. Como regulamentando e previsto na Constituição, em 1999, a Lei nº 9.795 (Política Nacional de Educação Ambiental), a “educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.” (art. 10), sendo que no § 2º do mesmo artigo, é citado que a educação não deve ser implantada como disciplina específica. Assim, em conformidade com a legislação, é obrigação das escolas, em especial dos professores, a aplicação da educação ambiental. [...] a questão ambiental impõe às sociedades a busca de novas formas de pensar e agir, individual e coletivamente, de novos caminhos e modelos de produção de bens, para suprir necessidades humanas, e relações sociais que não perpetuem tantas desigualdades e exclusão social, e, ao mesmo tempo, que garantam a sustentabilidade ecológica. Isso implica um novo universo de valores no qual a educação tem um importante papel a desempenhar (PARÂMETROS CURRICULARES NACAIONAIS, 1998, p. 180). Consta no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global de junho de 1992 (MEC, 2011) que para estimarmos as mudanças necessárias no ambiente, devemos compreender coletivamente e sistemicamente as crises que ameaçam o futuro do planeta. As causas primárias de problemas como o aumento da pobreza, da degradação humana e ambiental e da violência podem ser identificadas no modelo de civilização dominante, que se anseia em superprodução e superconsumo para uns e em subconsumo e falta de condições para produzir por parte da grande maioria. Ainda assim, Pelicioni (1998) é otimista em relação à sociedade e a sustentabilidade. Em sua visão, o mundo está aos poucos se estruturando com uma proposta de estilo de vida, caracterizada pela recusa ao materialismo e consumismo exacerbados e por um progressivo deslocamento de Ter para o Ser. Este novo olhar da vida permitirá um aumento da capacidade de escolha e a busca 13 da satisfação dos sonhos e desejos na arte e na filosofia, na religião e na ciência, objetivando a auto realização (PELICIONI, 1998). E então, alcançando a almejada qualidade de vida. 2.2. Educação ambiental: Uma temática transversal Sempre foi claro que o papel do professor dentro de uma instituição de ensino foi e ainda é ensinar. Mas o que é necessário para que isso ocorra? O que se deve aprender durante a formação profissional? Essas são grandes perguntas que pairam sobre as definições dos saberes docentes, uma vez que, não existe modelo fechado para ministrar aulas, e sim, conceitos, metodologias e experiências que devem ser aprendidas, avaliadas e refletidas pelo professor em seu processo de formação e na sua pratica pedagógica. Por conta dos movimentos para profissionalização do ensino, em meados de 1980 e 1990 iniciaram-se discussões a respeito dos saberes docentes (NUNES, 2001) para definirem parâmetros necessários para a formação desses profissionais. Segundo Gauthier et al. (1998), o saber docente inclui não apenas um saber específico, mas sim diversos saberes vindos de diversas situações. O professor, sendo um formador de opiniões e construtor da cidadania deve ter um conhecimento variado sobre os assuntos, entre eles, há uma urgência e importância no saber ambiental. No Artigo 26, § 7 o da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir os princípios da proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios. A Lei de 1996 já demonstra uma preocupação transversal da Educação Ambiental. A transdisciplinaridade não possui fronteiras, as disciplinas são praticamente inexistentes. Para Theophilo (2000), não podemos identificar onde começa ou termina uma disciplina, a transdisciplinaridade é uma forma de ser, saber e abordar, atravessando as fronteiras epistemológicas de cada ciência. Pombo (2005) enfatiza a importância em compreender o progresso do conhecimento não apenas pela especialização crescente, mas como um processo que exige também um olhar transversal. “Há que olhar para o lado para ver outras coisas, ocultas a um observador rigidamente disciplinar” (Pombo, 2005. p 10). Educação Ambiental é um assunto transversal, pois deve ser de conhecimento de todos, já que a principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) os conteúdos de Meio Ambiente foram integrados às áreas, numa relação de transversalidade, de modo que impregne toda a prática 14 educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais, assim como as articulações entre a escala local e planetária desses problemas. Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformaçãodos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998). Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos. A Educação ambiental, na formação docente articulada com as questões sociais que interferem no ambiente, favorecem as habilidades atitudinais e o desenvolvimento da cidadania. Quando se vincula os aspectos sociais, como as infrações ambientais, aos ecológicos, há reflexões que viabilizam uma formação crítica. Diante um alto índice de infrações ambientais cometidas pela sociedade, torna-se urgente o desenvolvimento de pesquisas voltadas ao conhecimento ambiental. E o professor é um diferencial para a propagação desse conhecimento. 3. METODOLOGIA 3.1. Contextualização da pesquisa Utilizamos dados previamente coletados sobre infrações ambientais para a construção de um vídeo. Esses dados abrangeram a quantidade e os tipos de infrações cometidas pelos 97 municípios da região de Bauru em um período de 5 anos. Para o levantamento desses dados foi utilizado o site “Sistema Integrado de Gestão Ambiental (SIGAM)” disponibilizado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Através do levantamento de infrações ambientais cometidas pela, pôde-se observar um elevado número de crimes referentes à fauna (Tráfico/Comércio e pesca com petrechos não permitidos) e à flora (cortes e desmatamento em áreas florestais comum e de preservação). Partindo dessa análise foi produzido um vídeo (https://youtu.be/GV2UN3m1Cnw) com imagens sobre as tipologias 5 das infrações e com duas perguntas ao final: O que é Meio Ambiente? Você faz parte dele? Esse vídeo foi divulgado 5 Maus tratos; Fauna silvestre em cativeiro; Comércio e transporte de fauna silvestre; Caça de fauna silvestre; Intervenção em Área Comum, Área de Reserva Legal, Unidades de Conservação e de Preservação Permanente; Atividade potencialmente poluidora; Pesca com petrechos proibidos, acima do tamanho e peso permito; Pesca em época de piracema; Comércio de produtos pesqueiros sem autorização; Armazenamento, comércio e transporte de produtos florestais sem autorização; Emprego de fogo em áreas agropastoril e de vegetação nativa; Utilizar motosserra sem licença; Dificultar a fiscalização; Destinação incorreta de resíduos sólidos; Introdução de fauna silvestre ou exótica. 15 para os professores do ensino básico e serviu como uma ferramenta de fomentação à discussão em grupo. 3.2. Caracterização da pesquisa A pesquisa utilizou uma análise qualitativa que é interessante para o assunto abordado, pois é relativamente flexível, estuda o que as pessoas estão fazendo em seu contexto natural e serve para estudar tanto os processos quanto os resultados (SILVERMAN, 2009). Desenvolvemos a pesquisa em dois dias em horário de reunião dos professores de diversas áreas 6 do ensino fundamental e médio de uma escola pública do interior do estado de São Paulo. O tema “Infrações ambientais” foi colocado em formato informal com uma breve apresentação dos professores/pesquisadores e os objetivos do estudo. Por meio do vídeo apresentado houve uma discussão em grupo e o preenchimento de um questionário semiestruturado. Através dessa metodologia utilizada, buscamos investigar os problemas conceituais referentes às infrações ambientais que permeiam os professores, visto que, por se tratar de um assunto transversal, é de extrema importância o entendimento sistêmico sobre o meio ambiente. Ao final do ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo), os professores receberam cópias de estratégias de ensino sobre educação ambiental retiradas do livro “Educação Ambiental- da teoria à prática” dos organizadores, Cassiano Pamplona Lisboa e Eunice Aita Isaia Kindel (2012). 3.3. Instrumentos de coleta de dados 3.3.1 Grupo Focal Foi escolhido o instrumento de Grupo Focal, pois é um grupo de discussão de tamanho reduzido constituído de pessoas que possuem algo em comum e que necessite de um moderador qualificado e um observador que irá anotar a discussão (DEBUS, 2004). Segundo Gatti (2005), o Grupo Focal é uma técnica qualitativa que consiste em captar, entre os sujeitos, percepções, sentimentos e ideias, fazendo emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais. 3.3.2. Questionário O Questionário complementou as discussões do grupo focal por ser um instrumento desenvolvido para evidenciar opiniões e que viabiliza o registro e arquivamento das respostas 6 Português, história, geografia, matemática, química, ciências, artes, sociologia, educação física, inglês, professor mediador, professora da sala de leitura e coordenador. 16 (BARBOSA, 2008). Também optamos pela utilização do questionário, pois garante que as pessoas tenham um tempo maior para pensarem sobre as questões. 4. RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS 4.1. Grupo Focal A análise do grupo focal foi realizada através das anotações do caderno de campo desenvolvido pelo observador. A discussão iniciou-se com a apresentação de um vídeo sobre infrações ambientais e um breve relato do moderador sobre as infrações da realidade do aluno e se essa temática era abordada em sala de aula. O grupo de professores relataram suas opiniões sobre o tema “infrações ambientais” afirmando que discutem apenas os temas desmatamento e descarte de resíduos sólidos em sala de aula, além de abordagens como a economia de água e a poluição atmosférica. Depois de mencionarem relatos sobre o descaso ambiental que os seus alunos possuem jogando lixo no chão e depredando os materiais da escola, alguns professores alegaram que já haviam cometido algumas infrações ambientais e não refletiram sobre suas ações, como abandonarem animal doméstico, possuírem aves silvestres, cortarem árvores nativas, construírem em Área de Preservação Ambiental entre outros. Durante as discussões, um professor de geografia citou a legislação que existe no Código Florestal para a preservação das Matas Ciliares e disse que trabalha legislação ambiental com seus alunos. Os professores, em geral, identificaram o meio ambiente como a união entre os fatores abióticos e bióticos do meio e enfatizaram a importância dos alunos compreenderem que estão inseridos nesse meio e que precisam preservá-lo, disseram que tentarão abranger novas interferências humanas no ambiente para uma compreensão mais totalitária desses problemas ambientais. 4.2 Questionários Para a análise da pesquisa utilizamos o método e as técnicas de Bardin (2009). A análise de conteúdo (AC) se constitui de varias técnicas utilizadas para descrever o conteúdo de falas ou textos e analisá-lo através de procedimentos sistemáticos que proporcionam o levantamento de indicadores que permitem a realização de inferência de conhecimentos. A técnica se resume em: Organização da análise; a codificação de resultados; as categorizações; as inferências; e, por fim, a informatização da análise das comunicações. 17 Obtivemos 23 professores do ensino básico (Fundamental e Médio) que foram observados e responderam a um questionário. Com as anotações realizadas pelo observador e as respostas ao questionário pôde-se categorizar e analisar suas concepções. Para esse trabalho, optamos em analisar uma questão do questionário: “Qual das intervenções do vídeo você considera mais impactante para o meio ambiente? Justifique:” Esse questionário está inserido em uma coleta de dados mais abrangente sobre Meio Ambiente e didática e que para essa pesquisa, a questão mencionada é de extrema importânciapara a análise das concepções dos professores sobre as infrações e os impactos ambientais. 4.1.1. Categorias Iniciais As categorias iniciais (Tabela 01) foram escritas como os professores elencaram as respostas sobre as infrações mais importantes cometidas pelo homem. Nota-se que apesar de 23 professores participarem da pesquisa, obtivemos 13 categorias, já que as respostas se repetiam ou não foram respondidas. Tabela 01. Categorias Iniciais elencadas pelos participantes da pesquisa. Categoria Inicial 1. Desmatamento 2. Morte de animais silvestres 3. Preservação das águas (nascentes e rios) 4. Poluição atmosférica 5. Abandono 6. Descarte incorreto de resíduos sólidos 7. Maus-tratos 8. Tráfico de animais silvestres 9. Contaminação do solo 10. Danos ao ar 11. Queimadas 12. Contaminação da água 13. Danos à água A Tabela de nº01 apresenta as percepções dos professores sobre as infrações ambientais cometidas pela ação humana. Podemos observar que apesar de o vídeo apresentar mais de 20 tipos de infrações, os professores se restringiram em apenas 13 tipos de infrações. 4.1.2. Categorias Finais 18 As categorias iniciais receberam seus conceitos, também estipulados pelos participantes da pesquisa. E a partir das categorias iniciais houve um segundo nível de interpretação que através da aglutinação de significações e ideias emergiram 5 categorias finais (Tabela 02). Tabela 02. Categorias Finais elaboradas a partir das categorias iniciais. Categoria Inicial Conceito dos professores Categoria Final 1. Desmatamento Gera problemas como a fuga dos animais para a cidade, aumento da camada de ozônio; interferência direta e indireta ao meio ambiente e aos seres humanos; Prejuízo ambiental e destruição do Ecossistema; Atinge a cadeia alimentar; gera poluição e doenças relacionadas aos insetos. I. Impactos na Vegetação 11. Queimadas Desequilibram a fauna e a flora e causam poluição do ar. 2. Morte de animais silvestres É algo chocante e imediato que trazem prejuízos ambientais. II. Impactos na Fauna 5. Abandono Gera uma interferência direta e indireta ao meio ambiente, a nós e um prejuízo ambiental e destruição do Ecossistema. 7. Maus-tratos Interfere no meio ambiente e no ser humano, é uma violência gratuita do ser humano. 8. Tráfico de animais silvestres Causa um prejuízo ambiental e destruição do Ecossistema. 4. Poluição atmosférica Causa uma interferência direta e indireta ao meio ambiente e a nós. III. Impactos na Atmosférica 10. Danos ao ar São Impactos mais diretos e visíveis. 6. Descarte incorreto de resíduos sólidos Causa um desequilíbrio ambiental e também para o ser humano. IV. Impactos no Solo 9. Contaminação do solo A recuperação é em longo prazo e nem sempre resolve. 12. Contaminação da água O impacto é mais rápido, devido à concentração humana. V. Impactos Hídricos 3. Preservação das águas (nascentes e rios) Causam impacto. 13. Danos à água São Impactos mais diretos e visíveis. Percebemos na tabela de nº02 uma grande variedade de infrações, porém pouco justificadas. Nota-se que os professores entendem a existência de muitos desses impactos 19 ambientais, porém não compreendem as consequências e a dimensão que eles causam. Com exceção dos impactos na vegetação e na fauna, os outros tipos que envolvem os fatores abióticos do meio (atmosfera, água e solo) não possuem uma conceituação muito específica. Esse fator pode estar relacionado à dificuldade do pensamento sistêmico sobre os processos de inter-relações. Leff (2007) agrega o conhecimento ambiental na forma de pensar as teorias articuladas entre diferentes ciências e disciplinas no campo dos processos históricos, etnológicos e ecológicos para entender suas complexas relações de determinação e de causalidade. Percebemos que apenas integrar ou unir as disciplinas existentes para problematizar as questões ambientais não é o suficiente. Durante o vídeo, diversas outras infrações de grande impacto que favorece o desequilíbrio ambiental foram apresentadas, mas apenas os crimes que possuem uma maior divulgação midiática como o desmatamento das florestas e a escassez da água doce e potável foram lembrados com maior afinco pelos entrevistados. Alberguini (2002) atenta para a influência da mídia na formação do cidadão, pois por um lado é de suma importância que assuntos relacionados ao meio ambiente sejam comentados na grande mídia, mas por outro, apenas os aspectos mais comentados, são entendidos como importantes pela população. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa pesquisa identificou as dificuldades apresentadas pelos professores em compreender os elementos que compõem o ambiente de forma sistêmica. Uma dessas dificuldades é na compreensão em distinguir a complexidade da interferência humana no ambiente e nas consequências de quem comete algum crime ambiental. Os professores sabem da existência de muitos crimes ambientais, mas não relacionam a dimensão da interferência ambiental que essas infrações ocasionam e as consequências para o autor da infração. Begname (2015) indica a crise ambiental como uma crise da razão, pois com a hierarquização de conhecimentos em nossa sociedade e, consequentemente, na mídia, acaba-se dando ênfase nos valores de mercado. Isso faz com que os professores e alunos também tenham essa visão mercantilista, e muitos ainda, um descaso sobre os impactos ambientais. Essa temática que exemplifica a relação homem e ambiente deveria ser inserida como forma de debate nos cursos de formação de professores, juntamente com a o conteúdo sobre Educação Ambiental, que favorece a formação da cidadania que é de extrema importância e urgência esse entendimento sobre a interferência do homem no ambiente em que vive. As universidades deveriam promover uma integração dos saberes cada vez mais profunda para desenvolver as atitudes e hábitos transdisciplinares. 20 As discussões com os professores também fomentaram uma troca de conhecimentos e apropriação de saberes ambientais que irão auxiliar no desenvolvimento pedagógico e didático em sala de aula. Os professores acreditam que as atividades ambientais, sugeridas ao longo do ano letivo serão desenvolvidas com um olhar mais crítico e amplo. A atividade garantiu a troca de experiências entre os professores e os pesquisadores e a reflexão sobre as nossas ações de interferência ambiental. Left (2007) afirma que o pensamento ambiental elabora um conjunto de princípios morais e conceituais que sustentam uma teoria alternativa de desenvolvimento e de novos estilos de consumo e de vida. Nesse sentido, um professor crítico e reflexivo sobre as interferências humanas no ambiente possuirá ferramentas para desenvolver a cidadania e o pensamento ambiental em seus alunos. REFERÊNCIAS ALBERGUINI, A. C. Mídia e Educação Ambiental: Projeto Semear. Dissertação de Mestrado, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo, 2002. BARBOSA, Eduardo. Instrumento de dados de coletas em pesquisas educacionais. 2008. Disponível em: <http://www.inf.ufsc.br/~verav/Ensino_2013_2/Instrumento_Coleta_Dados_Pesquisas_Educa cionais.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2016. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. BEGNAME, T. et. al. Educação ambiental: uma prática interdisciplinar entre universidade e escola. Revista Educação Ambiental, n.53, 2015. BRASIL. Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em 26 abr. 2016. BRASIL, Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em 16 jun. 2016. BRASIL. Leinº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Lei de Crimes Ambientais. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 26 abr. 2016. BRASIL – Ministério da Educação. Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/tratado.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2016. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: temas transversais – Meio Ambiente. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=859&catid=195:seb-educacao- basica&id=12657:parametros-curriculares-nacionais-5o-a-8o- series&option=com_content&view=article>. Acesso em: 26 abr. 2016. CALDEIRA, A.M de A.; ARAUJO. E.S.N.N. de. Introdução à Didática. São Paulo: Escrituras Editora, 2009. 21 DEBUS, M. Manual de excelência em la investigación mediante grupos focales. In: ESPERIDIÃO, Elizabeth. Reflexões sobre a utilização do grupo focal como técnica de pesquisa. São Paulo: Fundação Editora de UNESP, 2004. GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Brasília: Líber Livro, 2005. GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente (Coleção Fronteiras da Educação). Ijuí: Unijuí, 1998. 457p. GRÜM, M. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. 12 ed. Campinas: Papirus, 2009. LEFT, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2007. LISBOA, P. C.; KINDEL, A. I. E.; et al. (Organizadores). Educação Ambiental: da teoria à prática. Porto Alegre: Mediação, 2012. 144p. MARQUEZ, F. B. A. Librarius. Utopìa y Praxis Latinoamericana, Maracaibo, v. 14, n. 44, mar. 2009. 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Acesso em: 16 jun. 2016. 22 ATIVIDADES PRÁTICAS NO ENSINO ESCOLAR DE CIÊNCIAS NATURAIS: CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE Fernando Bastos 1 Eliane Cerdas Labarce 2 Alessandro Pedro 3 Introdução Há um notável consenso em torno da ideia de que atividades práticas (envolvendo ‘observação’, ‘experimentação’) representam importantes componentes do ensino escolar de ciências naturais, e contribuem significativamente para a aprendizagem dos estudantes (HODSON, 1994, p.299-300; GALIAZZI et al., 2001, p.250; KRASILCHIK, 1987, p.49-50). No entanto, por detrás dessa assertiva tão simples, muitos desafios se colocam aos professores da Educação Básica e aos pesquisadores da academia, no que tange a debater e melhorar o ensino prático de ciências. Em primeiro lugar, o próprio conceito de ‘atividade prática’ apresenta uma diversidade de formulações, tanto na literatura especializada como nos materiais didáticos direcionados aos estudantes. Algumas definições inclusive não permitem distinguir entre atividades genuinamente práticas e quaisquer outras em que os estudantes exercitem o ‘fazer’ intelectual e ou manual (LABARCE, 2014), como, por exemplo, atividades de ‘elaboração de desenhos’ e ‘confecção de cartazes’. E, coerentemente com essa variedade de visões, há uma grande quantidade de expressões divergentes para nomear as situações de ensino prático - “trabalho de laboratório”, “atividades experimentais”, “experiência”, “trabalho prático”, “aulas práticas” etc. (LABARCE, 2014; ANDRADE; MASSABNI, 2011; CACHAPUZ et al., 2011; HODSON, 1994). Outro problema central é estabelecer o que se espera das atividades práticas, analisando- as não isoladamente, mas tendo em vista que são partes integrantes de um currículo mais amplo, composto de diversas outras atividades, currículo este que está voltado a determinadas finalidades relativas à formação dos estudantes (CACHAPUZ et al., 2011; MILLAR, 2003; MIZUKAMI, 1986). Assim, é preciso pensar as atividades práticas em termos de sua coesão com determinada proposta de currículo. Isso não é tarefa simples, pois há uma ampla variedade de objetivos que se alegam para o uso de atividades práticas no ensino de ciências, sendo que alguns deles - ‘motivar os alunos’, tornar o conteúdo ‘mais palpável’, informar 1 Professor Dr. do Departamento de Educação, Faculdade de Ciências. Campus de Bauru 2 Membro do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências (GPEC) 3 Membro do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências (GPEC) 23 sobre a ‘natureza da ciência’ etc. - demandam discussão quanto a seu significado e às circunstâncias de sua validade (HODSON, 1994; GALIAZZI et al., 2001; LABARCE, 2014). Particularmente importante é os professores se prevenirem contra expectativas empiristas (segundo as quais a teoria que se ensina poderia ser inferida a partir da simples observação de fenômenos) (CACHAPUZ et al., 2011), e pensarem de que maneira o trabalho com atividades práticas será articulado ao trabalho que lhe é complementar, isto é, ao trabalho com representações - conceitos, hipóteses, modelos, teorias etc. (LABURÚ; SILVA, 2011). Além disso, verifica-se na escola e nas propostas da literatura especializada toda uma gama de desenhos para as atividades práticas, desde o conhecido formato de ‘receita de bolo’, até o emprego das referidas atividades como ferramentas para a resolução de problemas (KRASILCHIK, 1996, p.113-116; CACHAPUZ et al., 2011; CARVALHO, 2014), sendo necessário que os professores analisem criticamente as diferentes alternativas, tendo em vista os objetivos educacionais que perseguem e o contexto geral em que atuam (BASTOS et al., 2004). Esclarecemos que, tanto na discussão sobre atividades práticas no ensino de ciências ou quaisquer outras, defendemos o princípio de que os professores sejam entendidos como intelectuais críticos, autônomos, reflexivos e compromissados com transformação social (GIROUX, 1997; FREIRE, 1974). Diante de tal cenário, gostaríamos de propor algumas questões a serem examinadas ao longo do presente texto, sem a pretensão, obviamente, de esgotá-las: O que são atividades práticas? Que relações existem entre o trabalho com atividades práticas e o trabalho com representações? Quais podem ser os objetivos das atividades práticas no ensino de ciências? Em que aspectos o trabalho com atividades práticas contribui para a formação geral dos estudantes, em especial a formação para a cidadania? Do ponto de vistametodológico, o presente trabalho não se caracteriza como uma investigação empírica. Assim, discutiremos as questões aqui propostas principalmente através do diálogo com o conteúdo de vários trabalhos acadêmicos publicados na área de Didática das Ciências. No entanto, em alguns momentos, consideraremos dados de observação coletados no âmbito de projetos de pesquisa por nós mesmos desenvolvidos (LABARCE, 2014; PEDRO et al., 2013; BASTOS et al., 2013). O que são atividades práticas 24 Iniciaremos nossa discussão com um olhar sobre o que os professores já fazem no ensino “padrão” de conteúdos de ciências naturais (GAUTHIER, 1998), quer no nível da educação infantil, quer no nível da educação fundamental e média. Os professores algumas vezes solicitam aos alunos a observação de componentes e processos do mundo natural, e o local para essa observação pode ser a sala de aula, o laboratório, a residência do estudante, as áreas externas ao prédio da escola, uma praça do bairro e, caso existam na região, o ‘Jardim Zoológico’, o ‘Jardim Botânico’, o ‘Observatório Astronômico’ etc. (BASTOS et al., 2013; PERALES PALACIOS, 1994). Além disso, os currículos de ciências, física e química (e em menor proporção os de biologia) preveem a realização de alguns experimentos, mas parte das atividades práticas propostas não é de caráter experimental, já que não supõem a tentativa de controlar as condições de ocorrência dos fenômenos em estudo (KNELLER, 1980; MAYR, 2008), e sim a observação de componentes e processos do mundo natural da maneira como eles ocorrem no ambiente. Assim, enquadram-se como não experimentais atividades voltadas, por exemplo, à observação (1) do céu noturno, (2) das variações do tempo meteorológico, (3) das características de ecossistemas, (4) das estruturas que compõem o organismo de plantas e animais etc. Diante disso, cabe destacar que toda atividade prática envolve observação, mas que apenas uma parte delas supõe experimentação. Portanto, não é adequado que as atividades práticas empregadas no ensino de ciências sejam coletivamente referidas, na literatura especializada, através de rótulos que as caracterizem como trabalho “de laboratório” ou “experimental” (HODSON, 1994; PERALES PALACIOS, 1994). Muitas delas ocorrem em ambientes que não o laboratório, e não se caracterizam como experimentais. Também entendemos que não cabe utilizar o termo “experiência” com o intuito de indicar o trabalho dos estudantes com experimentos (CACHAPUZ et al., 2011, p.94), já que, em filosofia, a ideia de experiência remete a um tipo de conhecimento vinculado à vivência primeira dos indivíduos, conhecimento este que tende a ser distinto do conhecimento escolar em termos de seu significado subjetivo e interpessoal e de seu processo de constituição e validação. Idealmente, os estudantes da escola básica são solicitados a trabalhar tanto com representações (conceitos, leis, modelos, teorias, hipóteses etc.) quanto com observações (de fenômenos, espécimes, amostras, ambientes etc.). No entanto, é frequente que as aulas de disciplinas científicas sejam carentes em atividades práticas (ANDRADE; MASSABNI, 2011, p.843-844; GALIAZZI et al., 2001; KRASILCHIK, 1987), empobrecendo as oportunidades 25 para a formação dos estudantes. Nesse sentido, é importante que a definição de ‘atividade prática’, a ser adotada por professores e pesquisadores, facilite a identificação de abordagens de ensino que desvalorizem ou excluam a observação, prejudicando a articulação entre teoria e prática. Por outro lado, as elaborações mais significativas das ciências naturais (teorias, modelos, conceitos etc.) estão expressas em linguagens caracterizadas por um elevado grau de abstração e formalização, o que faz com que a principal tarefa dos estudantes ao longo das diferentes etapas de escolarização seja a de decifrar satisfatoriamente o que as ciências naturais afirmam a respeito do mundo. Esse desafio não pode ser vencido somente com a exposição dos alunos a atividades práticas, mas requer um trabalho didático em que eles tenham contato com diferentes modos de representação dos conteúdos conceituais, “sejam verbais, gráficos, tabulares, figurativos, diagramáticos, fotográficos, analógicos, metafóricos, [...] maquetes (3-D) e gestos, matemáticos, fílmicos etc.” (LABURÚ; SILVA, 2011) Finalmente, cabe lembrar que os estudantes devem apropriar-se de conhecimentos que não estão sendo elaborados por eles em primeira mão, mas que foram sugeridos ou estabelecidos com antecedência por uma numerosa comunidade de cientistas em diferentes campos de investigação (física, química, biologia, astronomia etc.). Isso impõe a necessidade de conceituarmos as atividades práticas escolares como atividades de natureza didática, evitando nomeá-las com expressões que levem a uma identificação artificial entre o fazer do cientista em sua profissão e o fazer do aluno em seu ofício de estudante. Diante de tais discussões, e levando em conta as sugestões de Andrade e Massabni (2011, p. ), definimos atividades práticas da seguinte maneira: Atividades práticas são atividades didáticas que colocam os estudantes na presença real das entidades, fenômenos ou sistemas em estudo, a fim de favorecer a aprendizagem de uma variedade de conteúdos do ensino de ciências naturais. O trabalho dos estudantes com representações A aprendizagem de conteúdos de ciências naturais requer que o aluno estude entidades, processos e sistemas que não são observáveis ou que, por diversas razões, não são acessíveis à observação nas condições normais de aula. Assim, para contornar tais dificuldades, os professores recorrem ao uso de representações daquilo que ser quer estudar (LABURÚ; SILVA et al., 2011; CHAMIZO GUERRERO; GARCÍA FRANCO, 2010; KRASILCHIK, 1996). Trata-se, pois, de colocar os alunos para trabalharem com 26 ● modelos e maquetes (por ex., globo terrestre; kits de plástico para a representação da estrutura tridimensional de moléculas; modelos dos sistemas do corpo humano etc.), ● ilustrações, esquemas e gráficos (por ex., de um vírus; de uma teia alimentar; de uma árvore filogenética; da trajetória dos raios luminosos através de uma lente etc.). ● filmes, vídeos e documentários (por ex., sobre a Mata Atlântica; sobre clonagem etc.), ● softwares e materiais da web que reproduzam, de maneira virtual, aquilo que se pretende estudar (por ex., aspecto do céu noturno em diferentes horários e dias; síntese de proteínas na célula; cruzamentos entre moscas de fruta etc.), ● jogos de tabuleiro, de computador, de representação de papéis etc., usados fins didáticos, ● representações teatrais (criadas, encenadas ou simplesmente assistidas pelos alunos), ● enunciados verbais ou matemáticos com graus de abstração variados etc. Note-se que o trabalho com representações e o trabalho com atividades práticas constituem os dois polos do binômio teoria-prática no contexto do ensino de física, química, biologia e outras disciplinas de ciências naturais. São, portanto, componentes complementares do processo educativo, conforme indicado nos exemplos a seguir: (a) num estudo sobre flutuação dos corpos, as atividades práticas dão acesso a fenômenos e relações macroscópicos (ABIB, 2014), enquanto que a apresentação de ilustrações ou de vídeos pode sugerir um modelo de partículas para explicar o que se observa; (b) a conservação da massa num experimento em que se misturam vinagre e bicarbonato de sódio fica sem explicação - ou explicada com base em concepções alternativas - se não se disponibilizam aos alunos formas de representação do processo submicroscópico de rearranjo de átomos (BASTOS et al., 2013); (c) os alunos podem verificar ‘na prática’ que uma planta é capaz de sobreviver lacrada num terrário (ZOMPERO; LABURÚ, 2012), mas umaexplicação científica satisfatória para esse fenômeno deve recorrer a representações dos processos bioquímicos da fotossíntese e da respiração, em nível submicroscópico; 27 (d) a literatura especializada costuma propor que a escola ensine a respeito de o que é a ciência (CACHAPUZ et al., 2011), contudo, para que isto ocorra, o aluno deve compreender que a ciência não trabalha apenas no nível do observável, mas também no nível das teorias e modelos (isto é, no nível das representações). Entendemos, portanto, que o ensino escolar de ciências naturais deve buscar o máximo possível a articulação entre o trabalho com representações e o trabalho com atividades práticas ou, dito de outro modo, fomentar o diálogo contínuo entre teoria e prática, a fim de que a vivência escolar dos estudantes, no âmbito dessa aprendizagem, se aproxime de uma vivência da práxis (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2007). Breve discussão sobre objetivos das atividades práticas Professores da Educação Básica, ao serem perguntados sobre o que pretendem com o uso de atividades práticas, muitas vezes apresentam argumentos pouco estruturados em relação a esse tema (PEDRO et al., 2013; ANDRADE; MASSABNI, 2011; GONÇALVES; MARQUES, 2006; GALIAZZI et al., 2001), fazendo supor que tiveram reduzida oportunidade de estudo e reflexão sobre tal questão. Alguns exemplos da referida problemática são os que seguem: (a) professores afirmam que as atividades práticas ‘tornam os alunos mais motivados’, desconsiderando a existência de interesses alternativos entre os alunos, e o fato que a aprendizagem pode ser não uma consequência da motivação, mas um requisito para ela (GONÇALVES; MARQUES, 2006; BASTOS et al., 2013); (b) professores afirmam que o aluno ‘aprende melhor na prática’, sem desenvolverem as razões dessa ideia, e sem levarem em conta que uma imensa parte dos conteúdos do ensino escolar de ciências naturais não é de natureza prática (BASTOS et al., 2013); (c) professores não anteveem que um importante potencial do uso de atividades práticas refere-se a ensinar acerca de procedimentos de trabalho empregados pelos cientistas (BASTOS et al., 2013); (e) embora alguns professores entendam que as atividades práticas possam contribuir para formação crítica dos estudantes (BASTOS et al., 2013), os objetivos que geralmente se alegam para o ensino prático não costumam fazer referências às finalidades mais amplas da educação escolar, como a formação para a cidadania (GONÇALVES; MARQUES, 2006; GALIAZZI et al., 2001; HODSON, 1994). Assim, em nosso entendimento, a discussão sobre objetivos das atividades práticas no ensino de ciências precisaria ser ampliada e aprofundada, considerando as possibilidades e limitações desse tipo de atividades para a formação escolar dos estudantes. Especificamente, 28 não há como o professor explorar determinados aspectos das atividades práticas se não possuir uma noção sobre procedimentos de trabalho empregados pelos cientistas. Apresentamos a seguir, para análise crítica por parte do leitor, uma breve lista de objetivos que são alegados para o uso de atividades práticas no ensino de ciências naturais (GONÇALVES; MARQUES, 2006; GALIAZZI et al., 2001; SILVA et al., 2012; HODSON, 1994): ● Estimular o INTERESSE dos alunos pelos assuntos em estudo ● Evitar que os alunos estudem componentes e processos do MUNDO NATURAL apenas através de descrições de livro ● MOSTRAR aos alunos FATOS que eles desconhecem ● "Comprovar" ou ILUSTRAR a teoria (ensino tradicional) (CACHAPUZ, 2000) ● Servir como ponto de partida para a FORMULAÇÃO DE QUESTÕES E HIPÓTESES ● Possibilitar o TESTE DE HIPÓTESES ● Contribuir para que o aluno aprenda a PLANEJAR OBSERVAÇÕES E EXPERIMENTOS ● Criar situações em que as concepções alternativas dos alunos são colocadas em xeque (no ensino por MUDANÇA CONCEITUAL) (POSNER et al., 1982) ● Funcionar como recursos para a investigação de situações problemáticas abertas (no ensino por INVESTIGAÇÃO) (CARVALHO, 2014) ● Contribuir para que o aluno aprenda a construir e interpretar TABELAS E GRÁFICOS ● Estimular o desenvolvimento do PENSAMENTO LÓGICO ● Estimular o desenvolvimento da LINGUAGEM ORAL E ESCRITA ● Estimular o desenvolvimento da capacidade de ARGUMENTAÇÃO E DEBATE ● Estimular o desenvolvimento do PENSAMENTO CRIATIVO ● Estimular o desenvolvimento do ESPÍRITO CIENTÍFICO (curiosidade, valorização de uma abordagem crítica dos problemas, busca de uma conduta baseada em métodos, interesse por situações que permitam a troca de ideias com os pares etc.) ● Contribuir, através dos objetivos anteriores, para uma formação do aluno que vise o Exercício da cidadania Notar, através dessa lista de objetivos, a relação que se estabelece entre as abordagens de ensino adotadas (ensino por transmissão, ensino por mudança conceitual, ensino por investigação etc.) e a função que se atribui às atividades práticas, bem como o grande 29 potencial que é esperado, das atividades práticas, quanto à exploração de conteúdos procedimentais e atitudinais. Necessidade de substituir as concepções empiristas por concepções que valorizem efetivamente o diálogo entre teoria e prática Professores muitas vezes defendem o uso de atividades práticas com base no argumento genérico de que, ‘na prática, o aluno aprende melhor, visualiza melhor, fixa melhor’. Contudo, durante uma atividade prática, que tipo de coisas, exatamente, o aluno aprenderia melhor (ou ‘visualizaria melhor’)? Nos dias atuais, a ideia de que as explicações científicas são diretamente extraídas da observação (concepção empirista) não é mais aceita (CHALMERS, 1993; KNELLER, 1980). A ciência procura ir além das aparências e imaginar entidades e processos que não são observáveis, mas que, hipoteticamente, determinam o modo como o mundo é e funciona. É isto o que ocorre quando a ciência postula a existência de átomos, moléculas e quarks, e processos tais como o surgimento do Universo a partir do Big Bang e a diversificação dos seres vivos através de sequências evolutivas. Nenhuma dessas proposições é diretamente observável, no entanto supõe-se que estejam na base de tudo aquilo que existe e acontece ao nosso redor. Assim, considerando-se que a ciência, para avançar, precisou imaginar e criar, conclui-se que não é possível o aluno chegar aos principais modelos e teorias da ciência baseando-se apenas em observações realizadas em aulas práticas. Tomemos o conhecido exemplo do experimento em que se pinga tintura de iodo sobre um pedaço de pão. O professor às vezes afirma, diante de seus alunos, que esse experimento comprova ‘a existência de amido no pão’. No entanto, o que os alunos observam é apenas que a tintura de iodo era antes marrom, e depois ficou azul. Outro exemplo que ajuda a mostrar a inconsistência das concepções empiristas é o que se refere a experimentos sobre força de empuxo. Esses experimentos podem sugerir uma relação de causa e efeito (força de empuxo diretamente proporcional ao volume do fluido deslocado), mas não explicam submicroscopicamente o porquê da existência de uma força resistente exercida pela água, isto é, não permitem inferir o modelo clássico segundo o qual a água é composta por partículas em movimento que colidem com as superfícies do corpo imerso. Portanto, também nesse caso, a observação, por si só, não conduz a um modelo postulado pela ciência, de maneira que é necessário um trabalho em paralelo com representações, por meio do qual os alunos busquem e discutam informações acerca de modelos explicativos para os fenômenos observados. 30 Cabe lembrar agora um detalhe de grande importância, porém frequentemente esquecido: o aluno, em geral, é confrontado com apenas uma ou poucas atividades práticas ligadas à matéria em estudo, mas as explicações científicas que a escola aborda (como as que estãosubjacentes ao fenômeno da mudança de cor da tintura de iodo, ou ao fenômeno da flutuação dos corpos) foram elaboradas através de um longo e complexo diálogo entre diversas teorias e inúmeras observações e experimentos, não tendo sido obtidas, historicamente, num curto espaço de tempo. Esse é, pois, outro aspecto da discussão que não deve ser negligenciado: qualquer atividade prática realizada pelos alunos, por melhor que tenha sido planejada e conduzida, está infinitamente longe de fornecer a mesma base observacional que sustentou ou vem sustentando as teorias científicas relativas ao assunto em estudo. Assim, atividades práticas escolares (ignoremos aqui, propositalmente, seus possíveis objetivos procedimentais e atitudinais) não são capazes produzir senão pequenos exemplos acerca de como o mundo material se apresenta e se comporta diante de seus observadores. Uma concepção muito comum entre os professores da escola básica é aquela que dá maior importância à teoria do que à prática. Nesse caso, os professores geralmente entendem que as atividades práticas, embora bem-vindas (já que ‘enriquecem’ o conteúdo e o tornam ‘menos abstrato’), não são estritamente necessárias para que se ‘cumpra o programa’; no entanto, se o planejamento escolar incluir atividades práticas, estas devem ocorrer após as aulas teóricas, pois a sequência mais adequada é “primeiro explicar e depois comprovar” (PEDRO; BASTOS; LABARCE, 2013). Assim, tal proposta não estabelece um diálogo efetivo entre aulas teóricas e aulas práticas, pois essas últimas, quando existem, ocorrem num segundo momento, e principalmente com a função de comprovar e enriquecer a teoria. Relação entre atividades práticas e objetivos gerais do ensino de ciências e biologia Os objetivos gerais do ensino de ciências e biologia podem ser ligados a três grandes categorias de preocupações: (1) formação intelectual, (2) formação cultural e (3) formação para a cidadania (ou formação crítica). Cabe perguntar, portanto, de que maneira as atividades práticas contribuiriam para o progresso do aluno nessas três dimensões de sua formação. Conforme indicado acima, as atividades práticas (não sozinhas, mas combinadas com todos os demais componentes do processo de ensino) ajudam o aluno a desenvolver 31 ● seu "espírito científico", isto é, uma atitude que engloba curiosidade, valorização de uma abordagem crítica dos problemas, busca de uma conduta baseada em métodos, interesse por situações que permitam a troca de ideias com os pares etc.; ● sua capacidade de formular questões e hipóteses, planejar e realizar levantamentos e investigações, pensar lógica e criticamente, argumentar e debater, propor soluções inovadoras etc. Assim, as atividades práticas ajudam o aluno a construir uma série ferramentas de pensamento e resolução de problemas, aplicáveis às mais variadas situações de seu cotidiano, nos três eixos acima citados, isto é, participação intelectual, cultural e cidadã. Só para exemplificar, analisemos uma situação plausível que demande a participação dos indivíduos como cidadãos. Vamos supor que o Congresso Nacional esteja votando um projeto de lei que aumente a idade mínima para aposentadoria dos trabalhadores. O posicionamento diante dessa questão precisa considerar aspectos tais como os fatos antecedentes e episódios recentes, as implicações econômicas, sociais e políticas da mudança na lei, os interesses em jogo, as formas de luta por meio das quais os trabalhadores podem garantir seus direitos etc.; desse modo, o posicionamento em tela exige, similarmente ao que ocorre no contexto científico, pensamento lógico e crítico, levantamento de informações e confrontação entre ideias e fatos, argumentação e proposição de formas de intervenção etc. Em particular, uma análise crítica e fundamentada é necessária a respeito das diferentes teses defendidas por parlamentares, governo federal, empresários, setores da sociedade civil etc. Vê-se portanto que, numa situação dessa ordem, parte do problema, tal como em ciência, é enfrentada com as ferramentas intelectuais que possibilitam a crítica, o pensamento lógico, o pensamento criativo e outras intervenções semelhantes. Palavras finais O presente texto levantou questões sobre as seguintes temáticas, entre outras: o que são atividades práticas; que relações existem entre o trabalho com atividades práticas e o trabalho com representações; quais podem ser os objetivos das atividades práticas no ensino de ciências; em que aspectos o trabalho com atividades práticas contribui para a formação geral dos estudantes, em especial a formação para a cidadania. As discussões desenvolvidas procuraram enfatizar a necessidade de reflexão acerca das características das atividades práticas empregadas no ensino escolar de ciências naturais, e o modo como essas atividades se 32 articulam com o trabalho com representações e com os objetivos gerais da educação escolar, de maneira a favorecer a formação intelectual, cultural e crítica dos estudantes. Referências ABIB, M. L. V. S. Por que os objetos flutuam? Três versões de diálogos entre as explicações das crianças e as explicações científicas. In: CARVALHO, A. M. P. 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