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INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO E PIELONEFRITE NA INFÂNCIA DEFINIÇÃO DE ITU • Invasão e multiplicação de microorganismos (principalmente bactéria) único, potencialmente patogênico, em qualquer segmento do trato urinário. Identificado por urocultura, coletada por método confiável. • O diagnóstico precoce é importante para prevenir e minimizar a formação e progressão de cicatriz renal. EPIDEMIOLOGIA • O aumento da incidência ocorre entre 3 e 5 anos de idade, havendo outro pico na adolescência. • A prevalência varia com a idade e sexo da criança. Os picos de incidência são: o Lactentes jovens: < 6 meses, mais frequente em meninos. o 3 a 5 anos: mais frequente em meninas. o Adolescentes: predomínio nas meninas devido alterações hormonais e início da vida sexual. • 10 a 40% de recorrência nos primeiros 12 meses após o 1° episódio. Existe uma maior recorrência no sexo feminino. É, provavelmente, a infecção bacteriana mais prevalente no lactente. FISIOPATOGÊNESE • Via ascendente: uropatógenos entéricos → colonização da região periuretral → ITU. Com exceção do período neonatal → via hematogênica. • Cistite: infecção da bexiga. • Pielonefrite (PNF) → acometimento do parênquima renal, classificado como infecção de vias urinárias superiores. • Os fatores predisponentes para fixação e multiplicação do agente no trato urinário é a virulência do agente e resistência do hospedeiro. HOSPEDEIRO – PREDISPOSIÇÃO E RESISTÊNCIA À ITU • Idade e gênero: o Meninos: neonatos e lactentes < 6 meses. o Meninas: 3 – 5 anos, uretra mais curta? • Raça: maior em brancos ( 2 a 4x). • Circuncisão: menor incidência, menor colonização de Proteus. • Fatores genéticos: maior adesão bacteriana e ascensão ao trato urinário superior. • Obstrução do trato urinário: anomalias obstrutivas, anatômicas, neurológicas e funcionais. • Refluxo vesicoureteral (RVU): anormalidade urológica mais comum na infância. 1% dos RNs e 30 a 40% das crianças maiores com ITU. Atividade sexual: meninas adolescentes. • Cateterismo vesical: longa duração ou repetição. Estado nutricional e imunológico da criança. • Disfunções de eliminação: o Incontinência urinária. o Urgência e polaciúria. o Incontinência fecal. o Obstipação intestinal, encoprese. o Alta prevalência (15%) e alta complexidade. ETIOLOGIA • E.coli uropatogênica (UPEC) – 80% das ITU comunitárias. • A virulência está relacionada com a presença de Pilli ou Fimbrias (S, P e tipo 1). Isso facilita a ascensão ao trato urinário contracorrente, aderindo ao epitélio da bexiga e trato urinário superior. Ficam quiescente até terem oportunidade de se multiplicarem. QUADRO CLÍNICO • Depende da idade e localização (cistite/pielonefrite). • Recém-nascido: geralmente a infecção é devido via hematogênica e os sinais/sintomas podem ser: o Urosepse: acometimento do SNC. o Ganho ponderal insuficiente. o Vômitos. o Dificuldade de sucção. o Irritabilidade. o Hipoatividade. o Hipotermia. o Icterícia: hiperbilirrubinemia direta e/ou indireta. • Lactentes: (3 – 6 meses) o Febre. o Recusa alimentar/hiporexia. o Vômitos. o Dor abdominal. o Baixo ganho ponderal. o Desidratação. o Menos frequente: polaciúria, gotejamento urinário, urina com odor fétido e dor abdominal e lombar. • Pré-escolares e escolares: (> 2 anos) o Febre. o Sintomas do trato urinário – enurese, urgência, polaciúria, disúria, incontinência e/ou retenção urinária com urina fétida e turva. o Pielonefrite: acometimento do estado geral, adinamia, calafrios, dor abdominal e em flancos. • Adolescentes: o Disúria, polaciúria, dor à micção, urgência miccional, hematúria e febre. DIAGNÓSTICO CLÍNICO • Anamnese completa: o Duração e intensidade da febre. o Sintomas urinários. o Dor abdominal, supra-púbica e lombar. o Náuseas e vômitos. o Doenças anteriores recentes e administração de antibióticos. o Atividade sexual em adolescentes. • História médica pregressa: o Sintomas urinários crônicos. o Constipação crônica. o ITU prévia. o Presença de RVU. o Doença febril sem foco aparente. o História familiar de ITU de repetição e anormalidades gênito-urinárias. o Hipertensão arterial. o Déficit de crescimento. o Alterações gênito-urinárias em USG fetal-gestação. • Exame físico: o Estado geral: temperatura, pressão arterial. o Estado nutricional. o Abdome: dor, aumento do volume renal, bexiga palpável após micção. Punho percussão lombar (Sinal de Giordano). o Genitália: jato urinário = continuidade, volume, força de expulsão, disfunção do TU, VUP (meninos), anomalias anatômicas, vulvovaginites e balanopostites. o Coluna lombar: sinais associados à mielodisplasia e bexiga neurogênica. o Outras causas potenciais de febre. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL • EAS não substitui a urocultura, é apenas um auxiliar na tomada de decisão. • Na coleta urinária deve-se realizar limpeza com água e sabão, enxugar com toalha estéril e em pacientes que possuem controle miccional, coleta por jato médio. Se paciente não apresentar controle miccional devemos escolher entre saco coletor (SC), punção supra-púbica (PSP), cateterismo vesical (CV) e Clean-catch. • Coleta urinária com saco coletor: higiene e adaptação do adesivo no contorno da genitália, troca a cada 20 à 30 minutos. Pode apresentar falso positivo em até 80% dos casos. Só tem valor se negativa. • Coleta urinária por PSP: invasivo e doloroso, dependente de habilidade do médico coletor, seguro quando realizado guiado por USG e evita contaminação em caso de diarréia, dermatite perineal, vulvovaginites e balanopostites. • Coleta urinária por CV: invasivo, desconfortável, pode provocar ITU, é contraindicado em casos de dermatites perineais, vulvovaginites e balanopostites. Mais acessível para coleta ambulatorial. • Interpretação de resultados: o Urocultura: padrão-ouro para confirmação de ITU, com sensibilidade de 95%, se tiver mais de 2 cepas de bactérias diferentes indica contaminação na coleta ou exame. • Piúria: mais de 5 leucócitos/campo em microscópico de grande aumento (400x) ou >10.000 piócitos/ml. Possui sensibilidade de 73% e especificidade de 81%. Cilindros piocitários indicam pielonefrite. A piúria na ausência de ITU pode ser provocada por desidratação grave, glomerulonefrites ou tuberculose renal. • Bacteriúria: presença de bactéria (BGN) em gota de urina não centrifugada corada pelo Gram. Possui sensibilidade de 94% e especificidade de 92%. É fácil e de baixo custo. o A bacteriúria pode ser assintomática em 1 a 2 % das meninas e em 0,03% dos meninos. É transitória e desaparece em dias ou semanas. Quando persistente devemos pensar em meningomielocele, bexiga neurogênica e cateterismo vesical de repetição. TRATAMENTO • Tratamento inicial com antibióticos é empírico observando- se a idade e o estado geral do paciente. Tratamento nunca deve ser inferior a 7 dias, e preferencialmente por 10 dais contínuos. Quando por VE, não precisa ser os 10 dias assim, após 48 – 72 horas, reavalia e havendo melhora, pode-se optar por completar por VO. • Tratamento sintomático: dor e febre, se disúria se prescreve antiespasmódicos se necessário. Para sintomas sistêmicos como vômitos, desidratação e choque. • Tratamento erradicador: o Antibióticos após coleta da urina. o Fator de risco para lesão renal → demora no início do tratamento por mais de 72 horas. o Via oral x Via endovenosa: depende da criança e da gravidade da infecção. • Tratamento ambulatorial: o > 3 meses de idade. o Sem sinais de toxemia. o Estado geral preservado. o Hidratado. o Com boa capacidade de ingestão oral. • Tratamento hospitalar: o Febre alta. o Toxemia. o Desidratação. o Vômitos incoercíveis. o Recém-nascidos e lactentes jovens. • Escolha do antibiótico no recém-nascido: o Sepse precoce: Ampicilina ou Penicilina + Aminoglicosídeo. o Staphylococcus ou Enterococcus: Vancomicina + Aminoglicosídeo. QUIMIOPROFILAXIA •Sem consenso definitivo, devemos fazer uma abordagem individualizada e com bom senso, discutindo com os familiares os risco e benefícios. • O objetivo da quimioprofilaxia é diminuir episódios recorrentes de pielonefrite e diminuir a formação ou piora das cicatrizes renais. • As indicações para profilaxia são: o Alterações em ultrassonografia antenatal ou atual. o ITU febril. o RVU grau 4 ou 5. o Uropatias obstrutivas. o ITU recorrentes até o término da investigação: ▪ > 2 episódios de pielonefrite. ▪ 1 episódio de pielonefrite + 1 cistite. ▪ > 3 episódios de cistite. • As drogas usadas para quimioprofilaxia da ITU estão listadas no quadro abaixo: AVALIAÇÃO MORFOFUNCIONAL DO TRATO URINÁRIO • Usada para identificar anormalidades do trato urinário como uropatias obstrutivas e refluxo vesicoureteral. • Reduzir riscos de ITU, lesões renais, complicações a longo prazo. • Evidências para investigação ampla de rotina são limitadas. • AAP e NICE: redução drástica de investigações futuras, além do USG. USG APÓS PRIMEIRO EPISÓDIO DE ITU • AAP → crianças menores de 24 meses. • NICE → crianças menores de 6 meses; maiores de 6 meses com ITU recorrente ou atípica. UCM – INDICAÇÃO • ITU de repetição associados à disfunção miccional. • DSMA alterado. • USG alterado. • Realizar após término de tratamento erradicador (urocultura negativa). CINTILOGRAFIA RENAL ESTÁTICA (DMSA) • Padrão-ouro para avaliar cicatriz renal. • As indicações são: todos lactentes com ITU febril, crianças com pielonefrite e crianças com RVU. • A realização deve ser feita 4 – 6 meses após episódio inicial de ITU. PROGNÓSTICO • Bom prognóstico desde que diagnóstico e tratamento sejam precoce e adequados. • Maior probabilidade de doença renal crônica: anormalidade renal congênita, alteração da função renal prévia, RVU alto grau, cicatrizes renais prévias, ITU recorrente. • Após ITU = monitorização do peso, estatura e PA. ENCAMINHAMENTO PARA ESPECIALISTA • RVU grau 3 a 5. • Uropatias obstrutiva. • Anormalidades renais. • Sinais de função renal reduzida. • HAS. • Disfunção vesical e intestinal refratária às medidas de cuidados primários.
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