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DEFINIÇÃO Conceito de sistema nervoso autônomo e motor somático. Farmacologia do sistema nervoso simpático, parassimpático e somático. Conhecimento da farmacocinética, farmacodinâmica, usos clínicos e efeitos adversos de cada grupo farmacológico. PROPÓSITO Compreender as diferenças entre sistema nervoso autônomo e sistema nervoso motor somático, bem como as características farmacológicas que afetam o funcionamento e as respostas mediadas por cada sistema. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever componentes e aspectos morfofuncionais do sistema nervoso, sistema nervoso autônomo e motor somático e dos receptores colinérgicos e adrenérgicos. MÓDULO 2 Reconhecer os fármacos anticolinesterásicos, antagonistas muscarínicos naturais e sintéticos e bloqueadores neuromusculares, seus efeitos farmacológicos e sua utilização terapêutica. MÓDULO 3 Identificar os fármacos que atuam na transmissão adrenérgica como agonistas diretos, indiretos e antagonistas, além de suas aplicações clínicas e seus efeitos adversos. APRESENTAÇÃO Fonte: Shutterstock Sabe-se que a natureza humana busca desbravar o mundo através da percepção de gostos, cheiros, sons, luzes e toques, que correspondem a estímulos que despertam no ser humano respostas de fuga ou luta para sentimentos aversivos ou de busca e apreço quando falamos de sentidos mais tenros. Nossas decisões dependem de estímulos interpretados pelo nosso encéfalo através de sinais recebidos de partes mais extremas de nosso corpo, que acarretam nas mais variadas respostas no organismo, como salivar ao visualizar um alimento saboroso ou se deparar com uma experiência que cause grande medo, desencadeando a resposta de sair correndo em fuga. Todos esses sentidos são dependentes de uma conversa entre diferentes regiões do sistema nervoso, que promovem importantes respostas de nosso corpo ao longo da vida. Em torno do século XVIII, o sistema nervoso estava completamente dissecado. Reconheceu-se a existência de uma região mais central, constituída de encéfalo e medula espinhal, bem como de uma região periférica constituída por nervos que estava intimamente ligada às regiões centrais, o sistema nervoso periférico. Foi também nesse período que os cientistas demonstraram que os músculos poderiam ser movimentados após a estimulação dos nervos através de correntes elétricas e que o próprio encéfalo também produzia sinais elétricos enviados para a periferia. Essas descobertas esclareceram que os nervos eram como fios que conduzem sinais elétricos para o encéfalo, e vice-versa. SEGUINDO AS INVESTIGAÇÕES, OS CIENTISTAS VISUALIZARAM QUE ESTIMULAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO REGULAVA DIRETAMENTE O FUNCIONAMENTO DE OUTROS ÓRGÃOS, COMO O CORAÇÃO, OS PULMÕES, INTESTINOS, RINS. Eles perceberam que essa interação entre o sistema nervoso central e esses reflexos apresentados no sistema nervoso periférico ocorria de forma autônoma, ou seja, sem o controle direto das vontades apresentadas pelo indivíduo, sendo chamado de sistema nervoso autônomo. Também foi reconhecido que os estímulos elétricos incidentes nas células musculares esqueléticas promoviam ações contráteis e mediavam respostas motoras, sendo os estímulos independentes das vias autonômicas e de controle através da consciência do indivíduo. Assim, denominaram-no sistema nervoso motor somático, ou somente sistema nervoso somático. Fonte:Shutterstock Atualmente, há uma série de fármacos com funções moduladoras das repostas associadas ao sistema nervoso autônomo e motor somático. A regulação farmacológica desses sistemas vem apresentando efeitos terapêuticos importantes na promoção da saúde, no controle de doenças e na realização de procedimentos médicos. Desta forma, dedicamos nossa viagem neste tema para conhecer as particularidades do sistema nervoso autônomo e motor somático, a ação dos fármacos na modulação das respostas adrenérgicas e no controle colinérgico autonômico e motor somático promovido por agentes farmacológicos. MÓDULO 1 Descrever componentes e aspectos morfofuncionais do sistema nervoso, sistema nervoso autônomo e motor somático e dos receptores colinérgicos e adrenérgicos INTRODUÇÃO O sistema nervoso de todos os mamíferos apresenta duas divisões: o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). Neste módulo, identificaremos fatores importantes da excitabilidade de membrana e transmissão do impulso elétrico, vias de síntese e liberação de neurotransmissores. Conheceremos importantes componentes do sistema nervoso periférico, discutiremos as diferenças entre o sistema nervoso autônomo (SNA) e sistema nervoso motor somático (SNMS). A troca de informações entre o SNP e o SNC é regulada de acordo com as informações captadas e coletadas em diferentes regiões do corpo. Dividimos os axônios do SNP de acordo com o envio das informações até ou a partir de um ponto do corpo: Fonte: Shutterstock AXÔNIOS AFERENTES (DO LATIM “QUE LEVA”) Os axônios do SNA ou SNMS que levam as informações para o SNC são classificados como aferentes. AXÔNIOS EFERENTES (DO LATIM “QUE TRAZ”) Os axônios que trazem a informação do SNC para músculos e glândulas são denominados eferentes. A transmissão das informações se dá através de impulsos elétricos enviados através dos axônios e determinados por mudanças nos potenciais da membrana plasmática. EXCITABILIDADE DE MEMBRANA E TRANSMISSÃO DO IMPULSO ELÉTRICO Neurônios e células musculares esqueléticas têm características excitáveis, ou seja, respondem a estímulos elétricos recebidos através de comunicações celulares chamadas de sinapses. Por gerarem diferença na concentração iônica através da bicamada lipídica, as membranas celulares podem armazenar energia na forma de gradiente eletroquímico, os quais são importantes para gerar impulsos elétricos voltados para a comunicação celular. Fonte: Shutterstock Anatomia de um neurônio As bicamadas lipídicas são altamente impermeáveis para a maioria das moléculas polares. Para transportar pequenas moléculas hidrossolúveis para o interior ou o exterior celular ou para compartimentos intracelulares envoltos por membrana, as membranas contam com várias proteínas de transporte, cada qual responsável pela transferência de um soluto ou uma classe de solutos em particular através da membrana. Existem duas classes de proteínas de transporte através da membrana: CARREADORAS CANAIS As proteínas carreadoras ligam solutos (íons) específicos e os transferem através da bicamada lipídica, alterando sua conformação e promovendo a permeabilidade aos íons através da membrana. Algumas proteínas carreadoras transportam um único soluto a favor do seu gradiente eletroquímico, enquanto outras atuam como bombas, carreando os íons contra o gradiente eletroquímico e utilizando energia pela hidrólise de ATP na promoção do transporte, como, por exemplo, a bomba de sódio/potássio ou Na+/K+ ATPase. Fonte: Shutterstock Proteína carreadora A maioria das proteínas de canal na membrana plasmática de células animais e vegetais, que conectam o citosol ao exterior celular, possui poros estreitos fortemente seletivos que podem abrir e fechar. Uma vez que essas proteínas estão envolvidas de modo específicos com transporte de íons orgânicos, são chamadas de canais iônicos. Para a eficiência desse transporte, esses canais possuem uma vantagem sobre as proteínas carreadoras, pois a permeabilidade de íons através dos canais é muito superior em relação aos carreadores, alterando rapidamente o potencial de membrana celular. Fonte: Shutterstock Proteína de canal Ambas formam caminhos proteicos contínuos na bicamada lipídica, comunicando o meio extracelular com o citosol. ENQUANTO O TRANSPORTE POR PROTEÍNAS CARREADORAS PODE SER PASSIVO OU ATIVO, O TRANSPORTE POR CANAIS É SEMPRE PASSIVO. O potencial de membrana tem origem quando existe uma diferença na carga elétrica nos dois lados de uma membrana devido a uma divergência na distribuição de íons positivos e negativos em suas duasfaces. Essas diferenças podem ocorrer por um bombeamento eletrogênico ativo e por um transporte passivo de íons, sendo os últimos de movimentos de maior contribuição para a manutenção do potencial elétrico de membrana. A bomba de sódio/potássio auxilia na manutenção do equilíbrio osmótico através da membrana celular por baixar a concentração intracelular de sódio (Na+), enquanto a manutenção do repouso da membrana se dá pelo bombeamento de potássio para dentro da célula através da Na+/K+ ATPase e também pelos canais de vazamento de potássio (K+), que promovem a permeabilidade dos íons livremente do citosol para o meio extracelular. Essas diferenças geradas entre a permeabilidade do Na+, o vazamento do K+ para o meio extracelular e o seu bombeamento de volta ao citosol geram uma força elétrica importante para a determinação do equilíbrio iônico e geração do potencial de repouso de membrana. A condição de equilíbrio, na qual não existe fluxo de líquido de íons através da membrana plasmática, define o potencial de repouso de membrana. ATENÇÃO Embora o gradiente de K+ tenha sempre uma influência principal nesse potencial, os gradientes de outros íons também têm um papel importante: quanto mais permeável for a membrana a um íon, maior será a tendência de o potencial de membrana ser próximo ao valor de equilíbrio de tal íon. Como consequência, mudanças na permeabilidade de membrana podem acarretar mudanças em seu potencial. Apesar dos diferentes sinais transmitidos pelas células neuronais, a forma do sinal é sempre a mesma, consistindo em mudanças no potencial elétrico através da membrana plasmática do neurônio. A comunicação acontece porque uma alteração elétrica em uma região celular se propaga para outra região, podendo tornar-se mais forte ou fraca dependendo da trajetória, amplificação e força do sinal recebido. Os neurônios utilizam um mecanismo de sinalização ativa, que é uma das características mais marcantes da comunicação celular. Um estímulo elétrico que excede certa força de limiar desencadeia uma explosão de atividade elétrica, que é propagada rapidamente ao longo da membrana plasmática axonal e é mantida por amplificação automática por todo o caminho. ESSA ONDA DE EXCITAÇÃO ELÉTRICA É CHAMADA DE POTENCIAL DE AÇÃO OU IMPULSO NERVOSO, QUE PODE CARREGAR UMA MENSAGEM DE UMA EXTREMIDADE A OUTRA DO NEURÔNIO EM VELOCIDADE MUITO ALTA. Fonte: Shutterstock Desenvolvimento de um potencial de ação em uma célula nervosa através da ação de um canal de sódio dependente de voltagem no corpo celular O potencial de ação é uma consequência direta das propriedades dos canais iônicos controlados por voltagem. Ele é desencadeado por uma despolarização da membrana plasmática em células neuronais e musculoesqueléticas. Um estímulo que gere suficiente despolarização prontamente causa a abertura de canais de Na+ controlados por voltagem, permitindo a entrada de uma quantidade de Na+ a favor do seu gradiente eletroquímico e alterando bruscamente o estado de repouso da membrana para a propagação do potencial de ação ao longo axônio. Na maioria das células nervosas, os canais de K+ dependentes de voltagem fornecem um mecanismo importante no retorno do potencial de membrana para o repouso após a propagação de um potencial de ação, preparando-o para o desencadeamento de um possível segundo estímulo. Esses canais se abrem, de modo que o influxo de Na+ seja rapidamente superado pelo efluxo de K+, o qual retorna a membrana, rapidamente, para o seu estado de equilíbrio. Nesse processo, é interessante entendermos o papel dos seguintes canais: CANAIS PERMEÁVEIS SELETIVOS A K+ CANAIS IÔNICOS CONTROLADOS POR VOLTAGEM CANAIS CONTROLADOS POR TRANSMISSORES Apresentam um papel importante para a determinação do potencial de repouso da membrana através da membrana plasmática na maioria das células animais. São responsáveis pela geração dos potenciais de ação nas células eletricamente excitáveis, como os neurônios e as células musculoesqueléticas. Convertem sinais químicos em sinais elétricos nas sinapses químicas. Os neurotransmissores excitatórios, como a acetilcolina, abrem canais iônicos e despolarizam a membrana até um limiar gerador do potencial de ação. VIAS DE SÍNTESE E LIBERAÇÃO DE NEUROTRANSMISSORES: SISTEMAS COLINÉRGICO E ADRENÉRGICO Os sinais neuronais são transmitidos de célula para célula em sítios especializados de contato conhecidos como sinapses. O mecanismo normal de transmissão é indireto. As células são isoladas eletricamente, isto é, a célula pré-sináptica é separada da célula pós-sináptica por uma fenda sináptica estreita. Veja as etapas evolvidas nesse processo: ETAPA 1 Uma mudança de potencial elétrico na célula pré-sináptica desencadeia a liberação de pequenas moléculas sinalizadoras, conhecidas como neurotransmissores, que estão armazenadas em vesículas sinápticas, envoltas por membrana e liberadas por exocitose. ETAPA 2 O neurotransmissor difunde-se rapidamente através da fenda sináptica e provoca uma mudança elétrica na célula pós-sináptica por ligação nos canais iônicos controlados por transmissor. Após a liberação do neurotransmissor, ele é rapidamente removido, degradado por enzimas específicas na fenda sináptica, ou é captado novamente pelas terminações nervosas que o liberaram ou pelas células gliais presentes na sinapse. ETAPA 3 A recaptação é mediada por uma variedade de proteínas carreadoras de neurotransmissores dependentes de Na+, desencadeando a reciclagem dos neurotransmissores e permitindo que os neurônios mantenham a taxa de liberação dessas moléculas. A REMOÇÃO RÁPIDA DOS NEUROTRANSMISSORES DA FENDA SINÁPTICA GARANTE PRECISÃO ESPACIAL E TEMPORAL DE SINALIZAÇÃO SINÁPTICA. Esse mecanismo diminui as chances de um transmissor influenciar as células vizinhas e limpar a fenda sináptica antes de o próximo pulso de neurotransmissor ser liberado, de tal forma que o tempo de repetidos eventos de sinalização possa ser comunicado de maneira precisa entre as células. Esse tipo de sinapses, envolvendo neurotransmissores, é chamado de sinapses químicas, que são muito mais versáteis e adaptáveis, pois utilizam gama de moléculas neurotransmissoras, vias de síntese e degradação específicas para cada sistema de transmissores, bem como os receptores iônicos e não iônicos associados a cada molécula neurotransmissora. Fonte: Shutterstock Sinapse Química Vamos tratar especificamente do sistema nervoso autônomo simpático, parassimpático e do sistema nervoso motor somático. Para tal, há duas grandes famílias de neurotransmissores envolvidos. Quando tratarmos do sistema nervoso autônomo simpático, conheceremos as vias adrenérgicas. Ao passo que, no sistema nervoso autônomo parassimpático e motor somático, veremos as vias colinérgicas de neurotransmissão. A farmacologia de cada sistema será tratada mais adiante, destacando o impacto dos fármacos sobre o sistema nervoso periférico e suas divisões. SISTEMA COLINÉRGICO No sistema colinérgico, a molécula neurotransmissora é a acetilcolina (Ach), que foi a primeira substância identificada como neurotransmissor através de suas funções de diminuição da frequência de batimento cardíaco nas sinapses neuromusculares entre o nervo vago e as células musculares cardíacas. Posteriormente, a Ach foi associada às funções musculoesqueléticos nas sinapses entre o neurônio motor somático e fibra muscular esquelética e, finalmente, nas sinapses dos gânglios viscerais, atuando na regulação das vias autonômicas. Fonte: Shutterstock Estrutura química da acetilcolina A síntese de Ach se dá através da acetilação da colina com a acetil co-enzima, através de uma reação catalisada pela enzima colina acetiltranferase. A colina está presente no plasma em altas concentrações, sendo captada pelos neurônios colinérgicos devido à atuação do transportador de colina de alta afinidade. Após a síntese de Ach no citosol do terminal pré- sináptico neuronal, a Ach é transportada parao interior das vesículas pré-sinápticas pela ação do transportador vesicular de acetilcolina. Uma vez na fenda sináptica, a Ach pode sofrer a ação da enzima acetilconesterase e ser hidrolisada em acetato e colina, fazendo com que as concentrações da Ach sejam reguladas e diminuídas rapidamente. MUITAS AÇÕES PÓS-SINÁPTICAS DA ACH SÃO MEDIADAS PELOS RECEPTORES NICOTÍNICOS DE ACETILCOLINA. ESSES RECEPTORES SÃO CANAIS IÔNICOS QUE PROMOVEM SINAIS EXCITATÓRIOS NAS CÉLULAS PÓS-SINÁPTICAS APÓS A LIGAÇÃO DE DUAS MOLÉCULAS DE ACH EM SEUS SÍTIOS DE LIGAÇÃO ESPECÍFICOS. A íntima associação entre a ligação da Ach nos sítios específicos promove a abertura de poros e a permeabilidade de cátions através desses canais, permitindo a rápida resposta excitatória característica desses receptores. Tais receptores são encontrados no SNC, associados a ações estimulantes relacionadas ao consumo de nicotina e mimetizados na presença de Ach, mas também são os receptores da junção neuromuscular responsáveis pelo potencial excitatório na fibra muscular esquelética na indução do movimento. A segunda classe de receptores colinérgicos são os receptores muscarínicos, membros da classe dos receptores metabotrópicos e mediadores de respostas no SNC e SNA. RECEPTORES MUSCARÍNICOS Cinco subtipos de receptores muscarínicos são conhecidos e associados a diferentes tipos de proteínas G: M1, M2, M3, M4 e M5. Eles são encontrados nos gânglios do SNP e são mediadores de respostas colinérgicas no coração, na musculatura lisa e nas glândulas exócrinas, sendo importantes para a promoção de respostas do SNA parassimpático. Fonte: Shutterstock Estrutura química das catecolaminas javascript:void(0) SISTEMA ADRENÉRGICO – CATECOLAMINAS Membro da família das aminas biogênicas, os neurotransmissores adrenérgicos desempenham muitas funções no SNC, mas também realizam importantes ações no SNP. As aminas biogênicas que compõem o sistema adrenérgico são as catecolaminas (dopamina, noradrenalina e adrenalina). Todas as catecolaminas são sintetizadas a partir de um aminoácido precursor: tirosina. O primeiro passo na síntese das catecolaminas é catalisado pela enzima tirosina hidroxilase, que sintetizará, a partir da tirosina, a dihidroxifenilalanina (DOPA), molécula precursora da dopamina. A dopamina é produzida a partir da ação da descarboxilase sobre a DOPA e conversão na molécula de dopamina. Uma vez sintetizada, a dopamina é transportada para o interior das vesículas pré-sinápticas pela ação do transportador vesicular de monoaminas (VMAT). Já na fenda sináptica, a dopamina pode ser captada novamente para o interior do neurônio pré- sináptico pelo transportador de dopamina, sofrendo novamente a ação do VMAT, ou ser catabolizada pelas enzimas monoamino oxidase (MAO) e catecol O-metiltranferase (COMT). Fonte: Shutterstock Dopamina A dopamina age exclusivamente através de receptores metabotrópicos, ativando ou inibindo a adenilato ciclase. A ativação desses receptores geralmente contribui para comportamentos complexos como hiperatividade e comportamentos estereotipados. Também age na medula, inibindo regiões responsáveis por zonas de gatilho do vômito, o que pode ser um alvo terapêutico de antagonistas de receptores dopaminérgicos para indução de vômito no caso de pacientes em overdose de drogas. A noradrenalina e a adrenalina são catecolaminas sintetizadas a partir da dopamina pela ação da dopamina hidroxilase e da feniletanolamina N-metiltransferase, respectivamente. São transportadas para as vesículas pela VMAT e removidas da fenda sináptica pelo transportador de noradrenalina, podendo ser metabolizada pela ação da MAO e COMT. A noradrenalina e a adrenalina agem em receptores metabotrópicos alfa e beta adrenérgicos, sendo muito importantes na promoção de funções de diversos órgãos associados às respostas simpáticas no sistema nervoso periférico. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Todas as partes do sistema nervoso, com exceção do encéfalo e da medula espinhal, fazem parte do sistema nervoso periférico (SNP). O SNP pode ser dividido em duas grandes partes: sistema nervoso autônomo (SNA) e o sistema nervoso motor somático (SNMS). SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO O SNA é composto por uma grande rede de conexão neuronal distribuída ao longo de nosso organismo. Também é conhecido como sistema nervoso involuntário, visceral ou vegetativo, uma vez que as funções viscerais são normalmente executadas de forma automática, sem controle voluntário. Para facilitar o entendimento, veja um exemplo. COMO FUNCIONA O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO? Imagine que, em uma aula de Farmacologia, logo pela manhã, um aluno está utilizando as redes socais através de seu smartphone e, subitamente, o professor o chama para a frente da javascript:void(0) turma, solicitando que explique as vias bioquímicas de ação dos fármacos em discussão, tema em que o aluno prestou pouca atenção. Nessa hora, ele está exposto a uma situação clássica de luta-ou-fuga, e seu corpo reagirá de acordo com a situação de estresse, mesmo que sua mente admita que ele esteja agindo erradamente ao navegar nas redes sociais em sala de aula e deva se desculpar. Essa resposta ao estresse sentido em seu corpo, chamada de “frio na barriga”, é uma resposta fisiológica de seu organismo, incluindo aumento de frequência cardíaca e da pressão arterial, diminuição das funções vegetativas e mobilização de reservas de glicose. Todas essas respostas são produzidas por uma divisão do SNA, a divisão simpática ou adrenérgica. Agora imagine que, quando o aluno está pensando em atender ao pedido do professor, a campainha toca, indicando o término do horário de aula. Imediatamente, a sensação de alívio toma conta de seu corpo. Ele se senta na cadeira e respira profundamente, sentindo um grande bem-estar. Dentro de pouco tempo, as sensações simpáticas diminuem, e as funções parassimpáticas, ou colinérgicas, agem em seu corpo diminuindo a frequência cardíaca e a pressão arterial, regulando funções digestivas, e ele para de transpirar. Possivelmente, esse aluno ficou “congelado”, pensando em como agir e reagir ao pedido do professor, talvez sequer tenha movido um lápis. Entretanto, seu corpo reagiu de forma drástica a todos os momentos que envolveram o flagra, enquanto mexia nas redes sociais no meio da aula de Farmacologia, ativando vias e redes especificas que compõem o SNA. Entre ouras palavras, o SNA tem uma complexa tarefa de comandar o funcionamento de outros órgãos e tecidos inervados por eles, controlando suas funções de maneira involuntária e independente da consciência, de forma autônoma. ATENÇÃO Apesar de agirem de forma autônoma, o SNA recebe comandos diretamente do SNC, e suas funções são orquestradas de acordo com as trocas de informações entre esses sistemas. Os neurônios que compõem o SNA possuem uma via diferente por serem bissinápticos, ou seja, realizam duas sinapses para enviar seus comandos até os tecidos ou órgãos-alvo. Alguns corpos celulares dos neurônios autônomos localizam-se fora do SNC, em grupamentos celulares chamados de gânglios. Nesses gânglios, encontramos corpos celulares de neurônios chamados pós-ganglionares. Neurônios pós-ganglionares são controlados por neurônios pré-ganglionares, cujos corpos celulares situam-se no SNC, mais precisamente na medula espinhal ou no tronco encefálico, dependendo da divisão em simpático ou parassimpático. As divisões simpática e parassimpática operam em paralelo, mas utilizam vias distintas, com diferentes estruturas e sistemas de neurotransmissores. Os axônios pré-ganglionares do ramo simpático emergem somente da região torácica e lombar da medula espinhal. Os axônios do ramo parassimpático, por sua vez, emergem do tronco encefálico e da porção sacral da medula espinhal. Desta forma, os dois sistemas se complementam anatomicamente. A figura a seguir demonstra a organização anatômica das divisões simpáticas e parassimpáticas. Fonte: Shutterstock Organização anatômicadas divisões simpáticas e parassimpáticas do SNA Diferenças nas aferências pré-ganglionares de ambas divisões e a utilização de acetilcolina como neurotransmissor. A inervação pós-ganglionar parassimpática de órgãos viscerais também utiliza a acetilcolina, mas a inervação pós-ganglionar simpática usa a noradrenalina. A glândula adrenal recebe inervação pré-ganglionar simpática e, quando ativada, secreta adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea. Observe o padrão de inervação da divisão simpática: os órgãos-alvo na cavidade torácica são conectados por neurônios pós-ganglionares originários da cadeia simpática e os órgãos-alvo da cavidade abdominal são contactados por neurônios pós-ganglionares originários dos gânglios colaterais (BEAR, 2008, p. 493). Os neurônios pré-ganglionares simpáticos enviam seus axônios através das raízes ventrais para realizarem sinapses com neurônios ganglionares da cadeia simpática, localizada próxima à coluna vertebral ou em gânglios dentro da cavidade abdominal. Os neurônios pré- ganglionares da divisão parassimpática encontram-se em núcleos do tronco encefálico, e seus axônios passam por nervos cranianos. Na porção sacral da medula espinhal, encontramos outros núcleos de neurônios parassimpáticos. Os axônios pré-ganglionares parassimpáticos possuem axônios longos, em comparação aos simpáticos, uma vez que os gânglios encontram-se próximos aos órgãos-alvo, como demonstrado na imagem. ATENÇÃO Normalmente, o SNA simpático e parassimpático apresenta influências fisiológicas opostas umas das outras. Enquanto a divisão simpática apresenta-se mais ativa em situações de estresse reais ou imaginários (como ser chamado pelo professor para ir à frente da turma enquanto checava as redes sociais), sua resposta é sempre semelhante à reação de luta ou de fuga. Em uma situação como a apresentada no exemplo do aluno que vimos anteriormente, as duas divisões respondem de formas distintas: DIVISÃO SIMPÁTICA Mobiliza frequentemente o organismo em situações de emergência a curto prazo, mesmo que essas alterações possam acarretar problemas a longo prazo. DIVISÃO PARASSIMPÁTICA Age de forma oposta ao mediado pela simpática. O SNA parassimpático aumenta respostas digestórias, crescimento, resposta imunitária e estocagem de energia (reestabelecendo as alterações mediadas pelo estresse causado pelo convite do professor). Essa divisão trabalha calmamente, promovendo o bem-estar fisiológico a longo prazo. AS DUAS DIVISÕES NÃO CONSEGUEM SER MOBILIZADAS CONCOMITANTEMENTE, POIS NORMALMENTE TÊM EFEITOS OPOSTOS. O SNA simpático e parassimpático inervam basicamente três tipos de tecidos corpóreos: músculo liso, músculo estriado cardíaco e glândulas. O balanço entre as divisões simpáticas e parassimpáticas controla função de diversos órgãos, como demonstrado na imagem. Veja alguns exemplos da dualidade da ação desses sistemas: Região do marca-passo cardíaco DIVISÃO SIMPÁTICA Aumenta a frequência e força de batimento cardíaco. DIVISÃO PARASSIMPÁTICA Reduz a frequência cardíaca. Músculos lisos do sistema gastrintestinal DIVISÃO SIMPÁTICA Causaria o relaxamento da musculatura e redução da motilidade intestinal. DIVISÃO PARASSIMPÁTICA Estimularia a musculatura e motilidade intestinal. Sistema reprodutor masculino DIVISÃO SIMPÁTICA Responsável pelas respostas ejaculatórias. DIVISÃO PARASSIMPÁTICA Responsável pela ereção peniana. O balanço entre as divisões é um processo de difícil orquestração pelo SNA. Ansiedades e preocupações têm grande participação das vias simpáticas, tendendo inibir a ereção e induzir a ejaculação precoce, sendo muito comuns em homens estressados ou com distúrbios de comportamento sexual. Podemos perceber que as ações do SNA ocorrem tipicamente em múltiplos órgãos e são bem distribuídas pelo organismo e relativamente lentas. De modo distinto, o sistema nervoso motor somático, cujos neurônios motores alfa podem rapidamente ativar músculos esqueléticos com alta precisão espacial, promove contração muscular e efeitos motores. SISTEMA NERVOSO MOTOR SOMÁTICO (SNMS) O sistema motor somático consiste na comunicação entre os músculos e os neurônios que os comandam. Os músculos corporais podem ser divididos em três tipos: LISOS Revestem o tubo digestivo e as artérias, onde vimos anteriormente que podem regular o peristaltismo e a pressão arterial. É inervado e influenciado pela ação do SNA. ESTRIADO CARDÍACO É o músculo do coração com contração rítmica, mesmo sem inervações, pela presença do sistema de marca-passo. É inervado e influenciado pela ação do SNA. MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO Corresponde à maior parte do tecido muscular corpóreo. Esses músculos promovem movimentação esquelética, ocular, controla a respiração e as expressões faciais. Dentro de cada músculo esquelético, há centenas de fibras musculares – as células do músculo esquelético –, e cada fibra é inervada por uma ramificação proveniente do SNC. Essas células são provenientes do corno ventral da medula espinhal e denominadas neurônios motores inferiores. A parte dos músculos e as fibras nervosas que os controlam formam o sistema motor somático, regulando o controle voluntário responsável por gerar o comportamento. Os axônios dos neurônios motores inferiores se agrupam e formam as raízes ventrais, as quais juntam-se com as raízes dorsais e formam os nervos espinhais. Importantes para a promoção da força de contração muscular, os neurônios motores alfa e as fibras musculares formam a unidade motora, responsável pelas respostas individuais dos grupamentos musculares. É extremamente importante haver regulação da intensidade de força utilizada na contração muscular. Imagine-se quebrando um ovo: caso você exerça grande força, quebrará a casca do ovo de forma bruta e espalhará gema e clara por todos os lados, além de desperdiçar energia metabólica na realização de uma atividade simples. Se for uma força muito pequena, a casca de ovo se tornará muito rígida para um estímulo abaixo do necessário, e a casca não se quebrará. Na grande maioria das atividades diárias, utilizamos contrações musculares fracas. Reservamos grandes forças de contração para atividades pontuais, como corridas, levantamento de peso ou outros estímulos muito intensos. O controle das atividades musculares deve-se a disparos oriundos do SNC destinados ao SNP para controle de eventos de contração muscular. Os neurônios motores comunicam-se com as fibras musculares através da liberação do neurotransmissor acetilcolina na junção neuromuscular, sinapse entre o neurônio motor e a fibra muscular, causando como respostas a contração muscular esquelética. SISTEMA COLINÉRGICO X SISTEMA ADRENÉRGICO Neste vídeo, veremos as especificidades e diferenças entre os dois sistemas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ENQUANTO VOCÊ CHECAVA AS REDES SOCIAIS NO MEIO DA AULA, FOI SURPREENDIDO PELO CONVITE DO PROFESSOR, CHAMANDO-O PARA IR ATÉ A FRENTE DA TURMA E EXPLICAR O QUE ELE ACABARA DE FALAR. ISSO LHE CAUSOU ALGUMAS REAÇÕES, COMO: AUMENTO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA, AUMENTO DA FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA E AUMENTO DO RETORNO VENOSO. ESSAS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS SÃO ESTIMULADAS PELO(S): A) Sistema nervoso parassimpático. B) Sistema límbico. C) Sistema nervoso simpático. D) Reflexos medulares. 2. OS POTENCIAIS DE AÇÃO ENVIADOS PELOS AXÔNIOS DOS NEURÔNIOS PROVENIENTES DA DIVISÃO (SN) DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO REDUZEM A FREQUÊNCIA DOS BATIMENTOS CARDÍACOS ATRAVÉS DA LIBERAÇÃO DE UM NEUROTRANSMISSOR (NT) NAS JUNÇÕES NEUROMUSCULARES. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE REPRESENTE OS ITENS SN E NT QUE CORRESPONDEM AOS SEGMENTOS INFORMADOS NO TEXTO ACIMA: A) D1= simpático, M= acetilcolina. B) D1=parassimpático, M= noradrenalina. C) D1= simpático, M= colinesterase. D) D1= parassimpático, M= acetilcolina. GABARITO 1. Enquanto você checava as redes sociais no meio da aula, foi surpreendido pelo convite do professor, chamando-o para ir até a frente da turma e explicar o que eleacabara de falar. Isso lhe causou algumas reações, como: aumento da frequência cardíaca, aumento da frequência respiratória e aumento do retorno venoso. Essas alterações fisiológicas são estimuladas pelo(s): A alternativa "C " está correta. O aumento das frequências cardíaca e respiratória, bem como o aumento do retorno venoso, são característicos de situações de luta-ou-fuga, associadas à liberação de catecolaminas pelo sistema nervoso simpático. 2. Os potenciais de ação enviados pelos axônios dos neurônios provenientes da divisão (SN) do sistema nervoso autônomo reduzem a frequência dos batimentos cardíacos através da liberação de um neurotransmissor (NT) nas junções neuromusculares. Assinale a alternativa que represente os itens SN e NT que correspondem aos segmentos informados no texto acima: A alternativa "D " está correta. Redução na frequência dos batimentos cardíacos são dependentes de sinais colinérgicos enviados pelo nervo vago para o coração. Desta forma, as vias parassimpáticas estão envolvidas nesses efeitos através da liberação de acetilcolina dos neurônios pré-sinápticos para as células musculares cardíacas. MÓDULO 2 Reconhecer os fármacos anticolinesterásicos, antagonistas muscarínicos naturais e sintéticos e bloqueadores neuromusculares, seus efeitos farmacológicos e sua utilização terapêutica INTRODUÇÃO As drogas ativadoras e inibidoras dos receptores colinérgicos são aquelas que atuam no SNA parassimpático. Existem dois tipos de receptores colinérgicos (receptores de acetilcolina), os muscarínicos e os nicotínicos. Dentro desses dois tipos, há os subtipos, sendo que, nas ações no SNA, os muscarínicos se subdividem em M1, M2 e M3, e os nicotínicos dividem-se em receptores nicotínicos de placa motora e nicotínicos ganglionares. Receptores colinérgicos Muscarínicos Nicotínicos M1 M2 M3 Receptoresnicotínicos de placamotora Nicotínicosganglionares Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) MUSCARÍNICOS Os receptores muscarínicos são associados à proteína G. Os subtipos de receptores muscarínicos variam de acordo com a localização de cada um deles. NICOTÍNICOS São acoplados a canais iônicos, principalmente os canais de sódio, e a transmissão do sinal se dá por meio da modulação da entrada de íons dentro da célula, causando despolarização. M1 É mais expresso no SNC e atua alterando, por exemplo, fome, memória, reações emocionais etc. M2 Também chamado de receptor muscarínico cardíaco, é mais expresso no coração e tem efeito oposto ao dos receptores β nesse órgão (receptores adrenérgicos que serão discutidos mais adiante), gerando redução da frequência cardíaca e da força de contração, ou seja, tem efeitos cronotrópico e inotrópico negativos, opondo-se aos efeitos adrenérgicos. M3 Expressa-se mais nas glândulas exócrinas (salivar, gástricas, intestinas etc.), aumentando a secreção dessas glândulas, e se expressa na musculatura do vaso sanguíneo, gerando vasodilatação, opondo-se aos efeitos adrenérgicos. OS RECEPTORES COLINÉRGICOS MEDEIAM IMPORTANTES EFEITOS QUE PODEM SER MODULADOS PELA AÇÃO DE AGENTES FARMACOLÓGICOS. AGONISTAS DE RECEPTORES MUSCARÍNICOS Agonistas de receptores muscarínicos colinérgicos podem ser divididos em dois grupos: ÉSTERES DE COLINA, ACH E VÁRIOS ÉSTERES SINTÉTICOS De várias centenas de derivados sintéticos de colina investigados, apenas a metacolina, carbacol e betanecol tiveram aplicações clínicas. Metacolina é um éster de colina sintético que difere de Ach principalmente em sua maior duração e seletividade de ação. Sua seletividade se reflete em predominância de respostas muscarínicas, com maior manifestação no sistema cardiovascular, sobre pequenas ações nicotínicas. Carbacol e seu análogo betanecol são quase completamente resistentes à hidrólise por colinesterases. Suas meia-vidas são suficientemente longas para que se sejam distribuídas para áreas de baixo fluxo sanguíneo. O carbacol tem atividade nicotínica particularmente em gânglios autônomos. Betanecol tem principalmente ações muscarínicas, com efeitos proeminentes sobre a motilidade do TGI e bexiga urinária. ALCALOIDES COLINOMIMÉTICOS DE OCORRÊNCIA NATURAL E SEUS CONGÊNERES SINTÉTICOS Os principais agonistas alcaloides naturais (particularmente pilocarpina, muscarina e arecolina), muscarina, pilocarina e arecolina, têm os mesmos sítios de ação que os ésteres da colina. A muscarina atua em receptores muscarínicos, e a classificação desses receptores deriva das ações deste alcaloide. A pilocarina tem uma ação muscarínica sobre as glândulas sudoríparas. Arecolina também age em receptores nicotínicos. Embora esses alcaloides de ocorrência natural sejam de grande valor, o uso clínico presente é restrito em grande parte ao emprego da pilocarpina como agente miótico (que faz a contração da pupila). Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS Agonistas muscarínicos são atualmente usados no tratamento de distúrbios da bexiga urinária, xerostomia e no diagnóstico de hiperatividade brônquica. Também são utilizados na oftalmologia como agentes mióticos e para o tratamento de glaucoma. Há um crescente interesse no papel dos receptores muscarínicos na cognição. A utilidade potencial dos receptores M1 no tratamento do prejuízo cognitivo associado à doença de Alzheimer tem sido considerada há muito tempo. Outros subtipos receptores, incluindo M2 e M5, também parecem estar envolvidos na regulação da função cognitiva, pelo menos em modelos animais. FÁRMACOS AGONISTAS DO RECEPTOR MUSCARÍNICO Embora raramente administrada sistemicamente, a Ach é usada topicamente para a indução de miose (contração da pupila) durante a cirurgia oftalmológica; é incutida no olho como uma solução oftálmica de 1%. Fonte: Shutterstock Miose Veja como os fármacos agonistas do receptor muscarínico reagem no organismo: METACOLINA BETANECOL CARBACHOL CLORIDRATO DE PILOCARPINA É administrada por inalação para o diagnóstico de hiperatividade das vias aéreas brônquicas em pacientes que não têm asma clinicamente aparente. Enquanto agonistas muscarínicos podem causar broncoconstrição e aumento de secreções traqueobrônquicas em todos os indivíduos, pacientes asmáticos respondem com intensa restrição brônquica e redução da capacidade vital. Inicialmente, afeta os tratos urinário e gastrointestinais. No trato urinário, o betanecol tem utilidade no tratamento da retenção urinária e esvaziamento inadequado da bexiga, quando a obstrução orgânica está ausente, como na retenção urinária pós-operatória, neuropatia autônoma diabética e em certos casos de bexiga hipotônica crônica, miogênica ou neurogênica; assim, o cateterismo pode ser evitado. No TGI, o betanecol estimula a peristalse (movimentos naturais do intestino) e aumenta a motilidade e o repouso no esôfago inferior. É usado topicamente na Oftalmologia para o tratamento de glaucoma e a indução de miose durante a cirurgia; é incutido no olho através de colírios. É usado para o tratamento da xerostomia, que segue procedimentos de radiação da cabeça e pescoço, ou que está associada à síndrome de Sjögren, uma doença autoimune que ocorre principalmente em mulheres nas quais secreções, particularmente salivares e lacrimais, são comprometidas. É também usada em Oftalmologia para o tratamento de glaucoma e como agente miótico. FÁRMACOS ANTAGONISTAS DO RECEPTOR MUSCARÍNICO Os antagonistas do receptor muscarínico incluem: Os alcaloides naturais, atropina e escopolamina; Derivados semissintéticos desses alcaloides; Derivados sintéticos, alguns dos quais mostram seleção para subtipos de receptores muscarínicos. ANTAGONISTAS MUSCARÍNICOS IMPEDEM OS EFEITOS DA ACH, BLOQUEANDO SUA LIGAÇÃO A RECEPTORES MUSCARÍNICOS EM CÉLULAS EFICAZES EM JUNÇÕES NEUROEFETORAS PARASSIMPÁTICAS (E SIMPÁTICAS) E EM GÂNGLIOS PERIFÉRICOS NO SNC. Em geral, antagonistas muscarínicos causam poucobloqueio de receptores nicotínicos. No entanto, os antagonistas quaternários de amônio geralmente exibem maior grau de atividade de bloqueio nicotínico e são mais propensos a interferir com a transmissão ganglionar ou neuromuscular. A maioria dos antagonistas muscarínicos clinicamente disponíveis são não seletivos, e suas ações diferem pouco das da atropina, o protótipo do grupo. Nenhum antagonista seletivo é completamente seletivo (ou seja, pode ser usado para definir um subtipo de receptor único em relação a todos os outros subtipos receptores). De fato, a eficácia clínica de alguns agentes pode surgir de um equilíbrio de ações antagônicas em dois ou mais subtipos receptores. Fonte: Shutterstock Estrutura química da Atropina EFEITOS FARMACOLÓGICOS DE ANTAGONISTAS MUSCARÍNICOS Os efeitos de outros antagonistas muscarínicos serão mencionados somente quando diferirem significantemente da atropina. Os principais efeitos farmacológicos do aumento das doses de atropina oferecem um guia geral para os problemas associados à administração desta classe de agentes. Fonte: Shutterstock Coração humano O principal efeito da atropina no coração é alterar a taxa de batimento cardíaco. Embora a resposta dominante seja a taquicardia, a frequência cardíaca muitas vezes diminui transitoriamente com doses clínicas médias. A lentidão é modesta (4-8 batidas por minuto) e, geralmente, está ausente após rápida injeção intravenosa. Não há alterações na pressão arterial ou no débito cardíaca. Este efeito inesperado foi atribuído aos receptores muscarínicos pré-sinápticos M1 em terminais nervosos pós-ganglionares parassimpáticos no nó sinoatrial, que normalmente inibem a liberação de Ach. A ATROPINA FREQUENTEMENTE PRODUZ ARRITMIAS CARDÍACAS, MAS SEM SINTOMAS CARDIOVASCULARES. Em doses clínicas, a atropina neutraliza completamente a vasodilatação periférica e a queda acentuada da pressão arterial causada por ésteres de colina. Em contraste, quando administrada sozinha, seu efeito sobre os vasos sanguíneos e a pressão arterial não é marcante. Esse resultado é esperado porque a maioria dos leitos vasculares não tem inervação colinérgica significativa. Em doses tóxicas e ocasionalmente terapêuticas, a atropina pode dilatar vasos sanguíneos cutâneos, especialmente aqueles na área de “blush” (rubor de atropina). Esta pode ser uma reação compensatória, permitindo a produção de calor para compensar o aumento da temperatura induzida pela atropina, que pode acompanhar a inibição da sudorese. ATENÇÃO Embora a atropina possa causar alguma broncodilatação e diminuição da secreção traqueobrônquica em indivíduos normais, bloqueando o tônus parassimpático (vagal) para os pulmões, seus efeitos sobre o sistema respiratório é mais significativo em pacientes com doenças respiratórias. A atropina pode inibir a broncoconstrição causada pela histamina, bradicinina e os eicosanoides, o que presumivelmente reflete na atividade parassimpático reflexo (vagal) na broncoconstrição provocada por esses agentes. A capacidade de bloquear os efeitos broncoconstritivos indiretos desses mediadores forma a base para o uso de antagonistas de receptores muscarínicos, juntamente aos agonistas do receptor β adrenérgico no tratamento da asma. Os antagonistas muscarínicos também têm um papel importante no tratamento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Antagonistas do receptor muscarínico bloqueiam as respostas colinérgicas do músculo esfíncter pupilar da íris e da curvatura da lente controladora do músculo ciliar (bloco de reflexo de acomodação com foco resultante à visão próxima). Assim, dilatam a pupila (midríase) e paralisam a acomodação visual (cicloplegia). A ampla dilatação pupilar resulta em fotofobia; a lente é fixa para visão distante, objetos próximos são borrados, e objetos podem parecer menores do que são. A constrição normal do reflexo pupilar à luz ou à convergência dos olhos é abolida. Esses efeitos podem ocorrer após a administração local ou sistêmica dos alcaloides. Fonte: Shutterstock Comparação entre miose e midríase O conhecimento das ações dos agonistas dos receptores muscarínicos no estômago e intestino levou ao uso desses fármacos como agentes antiespasmódicos para distúrbios de gastrointestinais e no tratamento da doença da úlcera péptica. Embora a atropina possa completamente abolir os efeitos da Ach (e outras drogas parassimpatomiméticas) na motilidade e secreção gastrointestinais, inibe incompletamente as respostas gastrointestinais à estimulação vagal. ATENÇÃO A secreção salivar é particularmente sensível à inibição por antagonistas receptores muscarínicos, que pode abolir completamente a secreção abundante de saliva. A boca fica seca, e pode ficar difícil engolir e falar. Em contraste, a fase intestinal da secreção gástrica é apenas parcialmente inibida. Os nervos parassimpáticos aumentam o tônus e a motilidade e relaxam os esfíncteres, favorecendo a passagem do conteúdo ao longo gastrointestinal. Tanto em indivíduos normais quanto em pacientes com doença gastrointestinal, os antagonistas muscarínicos produzem efeitos inibitórios prolongados sobre a atividade motora do estômago, duodeno, jejuno, íleo e cólon, caracterizados por uma redução no tônus e na amplitude e frequência de contrações peristálticas. Os efeitos podem variar entre os medicamentos: ATROPINA ESCOPOLAMINA A atropina tem efeitos mínimos no SNC em doses terapêuticas, embora possa ocorrer leve estimulação dos centros medulares parassimpáticos. Com doses tóxicas de atropina, a excitação central se torna mais proeminente, levando à inquietação, irritabilidade, desorientação, às alucinações ou ao delírio. Com doses ainda maiores, a estimulação é seguida pela depressão, levando ao colapso circulatório e à insuficiência respiratória após um período de paralisia e coma. Ao contrário da atropina, a escopolamina tem efeitos centrais proeminentes em baixas doses terapêuticas. Especificamente, a escopolamina em doses terapêuticas normalmente causa depressão do SNC, manifestada como sonolência, amnésia, fadiga e sono sem sonhos, com uma redução no sono de movimento rápido dos olhos (REM). A atropina é, portanto, preferida à escopolamina para muitos propósitos. A base dessa diferença é provavelmente a maior permeação de escopolamina através da barreira hematoencefálica. IPRATRÓPIO E TIOTRÓPIO Os compostos quaternários de amônio ipratrópio e tiotrópio são usados exclusivamente para seus efeitos no trato respiratório. Quando inalados, sua ação é voltada para a boca e as vias aéreas. Boca seca é o único efeito colateral frequentemente relatado. Acredita-se que o grau de broncodilatação alcançado por esses agentes reflita o nível de tônus parassimpático basal, complementado pela ativação reflexa das vias colinérgicas provocadas por diversos estímulos. Uma propriedade terapeuticamente importante de ipratrópio e tiotrópio é seu efeito inibitório mínimo na liberação mucociliária em relação à atropina. Assim, a escolha desses agentes para uso em pacientes com doença das vias aéreas minimiza o aumento da acumulação de secreções mais baixas das vias aéreas encontradas com atropina. Fonte: Shutterstock Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS DE ANTAGONISTAS DE RECEPTORES MUSCARÍNICOS Antagonistas do receptor muscarínico têm sido usados no tratamento de grande variedade de condições clínicas, predominantemente para inibir efeitos de atividade parassimpático no trato respiratório, trato urinário, trato gastrointestinal, olho e coração. A maior limitação no uso de drogas não seletivas é muitas vezes a não obtenção de respostas terapêuticas desejadas sem efeitos colaterais concomitantes. Embora estes últimos não sejam graves, podem ser suficientemente perturbadores para diminuir a adesão dos pacientes, particularmente durante a administração de longo prazo. Esses agentes são frequentemente usados com agonistas de receptores adrenérgicos inalados, embora hajapouca evidência de verdadeiro sinergismo. Fonte: Shutterstock ANTICOLINÉRGICOS A função da acetilcolinesterase (AChE) no terminal sináptico colinérgico (Ach) nas junções das várias terminações nervosas colinérgicas com seus órgãos-alvo ou sítios pós-sinápticos foi descrita quando abordamos o sistema nervoso periférico. Drogas que inibem AChE são chamadas de agentes anticolinesterásicos (anti-ChE) . Eles fazem com que a Ach se acumule nas proximidades dos terminais do nervo colinérgico e, portanto, são potencialmente capazes de produzir efeitos equivalentes à estimulação excessiva de receptores colinérgicos em todo o sistema nervoso central e periférico. Em geral, os compostos que contêm um grupo quaternário de amônio não penetram facilmente nas membranas celulares; portanto, os agentes anti-ChE desta categoria são mal absorvidos pelo TGI ou através da pele e são excluídos do SNC pela barreira hematoencefálica. Por outro lado, tais fármacos atuam preferencialmente nas junções neuromusculares do músculo esquelético, exercendo sua ação tanto como agentes anti-ChE como agonistas diretos. Os locais de ação dos agentes anti-ChE de importância terapêutica são: Fonte: Shutterstock Olhos Fonte: Shutterstock Intestino Fonte: Shutterstock Junção neuromuscular do músculo esquelético Quando aplicados localmente à conjuntiva, os agentes anti-ChE causam hiperemia conjuntiva e constrição do músculo esfíncter pupilar ao redor da margem pupilar da íris (miose) e do músculo ciliar. Miose é aparente em poucos minutos e pode durar várias horas por dia. A pressão intraocular, quando elevada, usualmente cai como resultado da facilitação da saída do humor aquoso. Em humanos, a neostigmina aumenta as contrações gástricas e a secreção do ácido gástrico. Após a vagotomia bilateral, os efeitos da neostigmina na motilidade gástrica são muito reduzidos. A porção inferior do esôfago é estimulada pela neostigmina. Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Neostigmina# Estrutura química de Neostigmina A maioria dos efeitos de potentes drogas anti-ChE no músculo esquelético pode ser explicada adequadamente com base em sua inibição de AChE em junções neuromusculares. No entanto, há boa evidência para uma ação direta da neostigmina e outros agentes quaternários no musculoesquelético. TOXICOLOGIA Os aspectos toxicológicos dos agentes anti-ChE são de grande importância na prática médica. Além dos casos de intoxicação acidental do uso de compostos organofosforados, como inseticidas agrícolas, esses agentes têm sido usados com frequência para fins homicidas e suicidas. Organofosfatos representam até 80% das internações relacionadas a pesticidas. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE CLASSIFICA A TOXICIDADE DOS PESTICIDAS COMO UM PROBLEMA GLOBAL GENERALIZADO ASSOCIADO A MAIS DE 200 MIL MORTES POR ANO. A EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL OCORRE MAIS COMUMENTE PELAS VIAS DÉRMICAS E PULMONARES, ENQUANTO A INGESTÃO ORAL É MAIS COMUM EM CASOS DE INTOXICAÇÃO NÃO OCUPACIONAL. Os efeitos da intoxicação aguda por agentes anti-ChE manifestam-se por sinais e sintomas muscarínicos e nicotínicos, e, com exceção de compostos de solubilidade lipídica extremamente baixa, por sinais referenciados ao CNS. Os efeitos sistêmicos aparecem em poucos minutos após a inalação de vapores ou aerossóis. O início dos sintomas é adiado após a absorção percutânea. ATENÇÃO A atropina efetivamente antagoniza as ações dos receptores muscarínicos, incluindo aumento da secreção traqueobrônquica e salivar, bradicardia nas ações centrais. O efeito da atropina no comprometimento neuromuscular periférico pode ser revertido por pralidoxima, um reativador de colinterase, sendo essas duas drogas as mais utilizadas no combate das intoxicações por organofosforados. FÁRMACOS QUE AGEM NA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR E GÂNGLIOS AUTONÔMICOS O receptor nicotínico de acetilcolina medeia a neurotransmissão pós-sináptica na junção neuromuscular e nos gânglios autônomos periféricos; no SNC, controla em grande parte da liberação de neurotransmissores de locais pré-sinápticos. O receptor é chamado de receptor nicotínico de acetilcolina porque tanto a nicotina quanto o neurotransmissor Ach podem estimular este receptor. Existem subtipos distintos de receptores nicotínicos na junção neuromuscular e nos gânglios sinápticos, e vários agentes farmacológicos discriminam entre estes subtipos de receptores. Fonte: Shutterstock RECEPTORES NICOTÍNICOS DE ACETILCOLINA A ligação de Ach no receptor nicotínico de Ach inicia sinais despolarizantes, que se direcionam ao potencial da placa motora (EPM) na muscular esquelética ou um potencial excitatório pós- sináptico (EPSP) nos gânglios periféricos. Trata-se dos locais clássicos da ação dos curares e da nicotina e definiram o conceito de receptor nicotínico de Ach há mais de um século e fizeram deste o receptor farmacológico prototípico dos efeitos da Ach nesses locais. Aproveitando-se de estruturas especializadas que evoluíram para mediar a neurotransmissão colinérgica e de toxinas naturais que bloqueiam a atividade motora, receptores nicotínicos periféricos e, em seguida, centrais foram isolados, caracterizados, e representam marcos no desenvolvimento da farmacologia molecular. AGENTES DE BLOQUEIO NEUROMUSCULAR O bloqueador neuromuscular clássico, o curare, foi a ferramenta que Claude Bernard usou em meados do século XIX para demonstrar um local de ação medicamentosa na junção javascript:void(0) neuromuscular. Os agentes de bloqueio neuromuscular modernos geralmente caem em duas classes, despolarizantes e competitivos/não despolarizantes. Atualmente, apenas um único agente despolarizante, succinilcolina, está em uso clínico geral, enquanto múltiplos agentes competitivos ou não despolarizadores estão disponíveis, mas sem grande utilização clínica. CLAUDE BERNARD O médico e fisiologista francês Claude Bernard (1813-1878) é reconhecido pela criação da medicina experimental/baseada em evidências. Vejamos as propriedades farmacológicas desses agentes: AGENTE DESPOLARIZANTE Os agentes despolarizadores, como a succinilcolina, agem por um mecanismo diferente. Sua ação inicial é despolarizar a membrana, abrindo canais iônicos da mesma forma que a Ach. No entanto, eles persistem por efeitos mais duradouros na junção neuromuscular, principalmente por causa de sua resistência ao AChE. Essa despolarização inicial é seguida pelo bloqueio da transmissão neuromuscular e da paralisia flácida; isto posto, essa sequência é influenciada por alguns fatores, como os agentes anestésicos usados simultaneamente aos bloqueadores musculares. A succinilcolina em doses que produzem relaxamento neuromuscular raramente causam efeitos atribuíveis ao bloqueio ganglionar. No entanto, os efeitos cardiovasculares, às vezes, são observados, provavelmente devido à estimulação sucessiva de gânglios vagais e gânglios simpáticos. AGENTES COMPETITIVOS A tubocurarina e outros agentes de bloqueio neuromuscular são desprovidos de efeitos centrais após doses clínicas comuns devido à sua incapacidade de penetrar a barreira hematoencefálica. Agentes de bloqueio neuromuscular mostram potências variáveis na produção de bloqueio ganglionar. Assim como na placa motora, o bloqueio ganglionar por tubocurarina e outras drogas estabilizadoras é invertido ou antagonizado por agentes anti-ChE. Nas doses de tubocurarina utilizadas clinicamente, o bloqueio parcial provavelmente é produzido tanto em gânglios autônomos quanto na medula adrenal, o que resulta em uma queda na pressão arterial e taquicardia. O pancurônio mostra menos bloqueio ganglionar em doses clínicas comuns. Atracurium, vecurônio, doxacurium, pipecuronium, mivacurium e rocurônita são ainda mais seletivos. O pancurôrio tem uma ação vagolítica, presumivelmente pelo bloqueio de receptores muscarínicos, o que leva à taquicardia. O principal uso clínico dos agentes de bloqueio neuromuscular é como adjuvante na anestesia cirúrgica para obter relaxamento do músculo esquelético,particularmente da parede abdominal, para facilitar manipulações operatórias. Como o relaxamento muscular não depende da profundidade da anestesia geral, basta um nível muito mais leve de anestesia para que o procedimento seja realizado. Assim, o risco de depressão respiratória e cardiovascular é minimizado, e a recuperação pós-anestésica é reduzida. Fonte:Shutterstock ATENÇÃO Esses agentes de bloqueio neuromuscular não podem ser usados para substituir a profundidade inadequada da anestesia. Caso contrário, pode ocorrer um risco de respostas reflexas a estímulos dolorosos e recordação consciente do procedimento cirúrgico. O relaxamento muscular também é de valor em diversos procedimentos ortopédicos, como a correção de desalinhamentos e a realização do alinhamento das fraturas. Agentes de bloqueio neuromuscular de curta duração são usados frequentemente para facilitar a intubação endotraqueal e têm sido usados para facilitar a laringoscopia, broncoscopia e endoscopia em combinação com um agente anestésico geral. Pacientes sob efeito da tubocurarina necessitam de assistência respiratória em decorrência do relaxamento dos músculos intercostais e diafragma. ESTUDO DE CASO Neste vídeo, veremos um estudo de caso sobre intoxicação com organofosforados (“chumbinho”). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. QUAIS OS FÁRMACOS, E CORRESPONDENTES MECANISMOS DE AÇÃO, UTILIZADOS EM CASOS DE INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADOS. A) Atropina, antagonista de receptores muscarínicos e ipratrópio, fármaco anticolinérgico. B) Pralidoxima, fármaco que promove a quebra da ligação entre o organofosforado e a acetilcolinesterase, e neostigmina, fármaco anticolinesterásico. C) Atropina, antagonista dos receptores muscarínicos, e neostigmina, fármaco anticolinesterásico. D) Pralidoxima, fármaco que promove a quebra da ligação entre o organofosforado e a acetilcolinesterase, e atropina, antagonista de receptores muscarínicos. 2. SOBRE OS AGENTES DE BLOQUEIO NEUROMUSCULAR, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) Exerce efeito sobre o nível de consciência; o paciente perde a sensibilidade de dor e torna- se incapaz de comunicar-se com o anestesista. B) Exerce bloqueio competitivo dos receptores colinérgicos no SNC. C) Coadjuvante da anestesia no relaxamento do musculoesquelético. D) Não há necessidade de assistência respiratória em pacientes sob efeito da tubocurarina. GABARITO 1. Quais os fármacos, e correspondentes mecanismos de ação, utilizados em casos de intoxicação por organofosforados. A alternativa "D " está correta. Na intoxicação por organofosforados, objetivamos reduzir os efeitos da Ach sobre os receptores muscarínicos através do uso da atropina e aumentar os níveis de AChE pela utilização da pralidoxima. 2. Sobre os agentes de bloqueio neuromuscular, assinale a alternativa correta. A alternativa "C " está correta. Os bloqueadores neuromusculares são fármacos utilizados na indução do relaxamento muscular em procedimentos cirúrgicos, sem mediar a perda de consciência. MÓDULO 3 Identificar os fármacos que atuam na transmissão adrenérgica como agonistas diretos, indiretos e antagonistas, além de suas aplicações clínicas e seus efeitos adversos INTRODUÇÃO Veremos, em nosso último módulo, que catecolaminas e drogas simpatomiméticas são classificadas como simpatomiméticos de ação direta, indireta ou de ação mista. As drogas simpaticomiméticas de ação direta agem em um ou mais dos receptores adrenérgicos. Drogas de ação indireta aumentam a disponibilidade de noradrenalina ou adrenalina para estimular os receptores adrenérgicos. Fonte: Shutterstock Ampola de adrenalina SIMPATOMIMÉTICOS ENDÓGENOS ADRENALINA A ação vascular principal da adrenalina é exercida sobre as artérias menores e esfíncteres capilares, embora veias e grandes artérias também respondam à droga. A adrenalina injetada diminui significativamente o fluxo sanguíneo cutâneo, a constrição de vasos pré-capilares e as vênulas pequenas. Adrenalina é um poderoso estimulante cardíaco; atua diretamente nos receptores β1 predominantes do miocárdio e das células do marca-passo e dos tecidos condutores. O interesse recente se concentrou no papel dos receptores β1 e β2 no coração humano, especialmente na insuficiência cardíaca. A frequência cardíaca aumenta, e o ritmo muitas vezes é alterado. AS RESPOSTAS DIRETAS À ADRENALINA INCLUEM AUMENTO DA FORÇA DE CONTRAÇÃO, AUMENTO DA EXCITABILIDADE E ACELERAÇÃO DA TAXA DE BATIMENTOS CARDÍACOS. Os efeitos sobre o músculo liso vascular são de grande importância fisiológica, enquanto aqueles no músculo liso do trato gastrointestinal são relativamente menores. O músculo liso do TGI é, em geral, relaxado pela adrenalina. Este efeito é devido à ativação de receptores α e β. No tônus intestinal, a frequência e amplitude das contrações espontâneas são reduzidos. O estômago geralmente é relaxado, e os esfíncteres pilóricos e ileocecal são contraídos. A adrenalina tem uma poderosa ação broncodilatadora, mais evidente quando o músculo brônquico está contraído em decorrência da asma brônquica, por exemplo. Em tais situações, a adrenalina tem um efeito terapêutico marcante, como um antagonista fisiológico a substâncias que causam broncoconstrição. ATENÇÃO Devido à incapacidade deste composto bastante polar de entrar no CNS, a adrenalina em doses terapêuticas convencionais não é um poderoso estimulante. Embora a droga possa causar inquietação, apreensão, dor de cabeça e tremores em muitas pessoas, esses efeitos em parte podem ser secundários aos efeitos da adrenalina no sistema cardiovascular, musculoesquelético, ou seja, podem ser o resultado de manifestações somáticas de ansiedade. TOXICIDADE, EFEITOS ADVERSOS E CONTRAINDICAÇÕES A adrenalina pode causar reações perturbadoras, como inquietação, dor de cabeça latejante, tremores e palpitações. Reações mais graves incluem hemorragia cerebral e arritmias cardíacas. Angina pode ser induzida por adrenalina em pacientes com doença arterial coronariana. O uso de adrenalina geralmente é contraindicado em pacientes que estão recebendo antagonistas não seletivos do receptor β, uma vez que suas ações não colocadas em receptor vascular α1 podem levar à hipertensão grave e hemorragia cerebral. Fonte: Shutterstock Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS Um grande uso é fornecer alívio rápido e emergencial de reações de hipersensibilidade, incluindo anafilaxia, para drogas e outros alérgenos. A adrenalina também é usada para prolongar a ação dos anestésicos locais, diminuindo o fluxo sanguíneo local. Seus efeitos cardíacos podem ser de uso na restauração do ritmo cardíaco em pacientes com parada cardíaca devido a diversas origens. NORADRENALINA A noradrenalina é um grande mediador químico liberado por neurônios pós-sinápticos. Difere apenas da adrenalina pela ausência da substituição de metila no grupo amino. A noradrenalina constitui 10-20% do teor de catecolaminas da adrenal humana e até 97% em alguns feocromocitomas (tumores de adrenal). Fonte: Shutterstock Estrutura química da noradrenalina Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS A pressões sistólicas, diastólicas e, geralmente, a pressão de pulso é aumentada com o uso de noradrenalina. A ativação do reflexo vagal compensatório retarda o coração, superando uma ação direta de aceleração cardíaca, e o volume de pós-carga é aumentado. A resistência vascular periférica aumenta na maioria dos leitos vasculares, e o fluxo sanguíneo renal é reduzido. Noradrenalina promove a constrição dos vasos mesentéricos e reduz o fluxo sanguíneo esplâncnico e hepático. O fluxo coronário geralmente é aumentado, devido à dilatação coronariana indiretamente induzida, e a pressão arterial acaba sendo elevada. Ao contrário da adrenalina, pequenas doses de noradrenalina não causam vasodilatação ou hipotensão, uma vez que os vasos sanguíneos do músculo esquelético contraiam em vez de dilatar-se. A noradrenalina é usada como vasoconstritor para aumentarou apoiar a pressão arterial sob certas condições de cuidados intensificados. DOPAMINA A dopamina é o precursor metabólico imediato da noradrenalina e da adrenalina; é um neurotransmissor central particularmente importante na regulação do movimento e possui importantes propriedades farmacológicas intrínsecas. Na periferia, é sintetizada em células epiteliais do túbulo proximal, onde exerce efeitos diuréticos e natriuréticos locais. A dopamina é um dos substratos da MAO e COMT e, portanto, é ineficiente quando administrada oralmente. Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS A dopamina é usada no tratamento de insuficiência cardíaca congestiva grave, particularmente em pacientes com oligúria de baixa ou normal resistência vascular periférica. A droga também pode melhorar parâmetros fisiológicos no tratamento de choque cardiogênico e séptico. Embora a dopamina possa melhorar agudamente a função cardíaca e renal em pacientes gravemente doentes com doença cardíaca crônica ou insuficiência renal, há relativamente pouca evidência de apoio a longo prazo no resultado clínico. AGONISTAS DOS RECEPTORES Β ADRENÉRGICOS Agonistas dos receptores β adrenérgicos têm sido utilizados em muitos cenários clínicos, mas agora desempenham um papel importante apenas no tratamento da broncoconstrição em pacientes com asma (obstrução reversível das vias aéreas) ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Os β agonistas podem ser usados para estimular a taxa e a força da contração cardíaca. O efeito cronotrópico é útil no tratamento emergencial de arritmias, bradicardias ou bloqueio cardíaco, enquanto o efeito ionotrópico é usado quando é desejável aumentar a contratilidade do miocárdio. ISOPROTERENOL Isoproterenol é um potente agonista não seletivo de receptores β com baixa afinidade para α receptores. Fonte: Shutterstock Estrutura química do isoproterenol Fonte: Shutterstock AÇÕES FARMACOLÓGICAS A infusão intravenosa de isoproterenol reduz a resistência vascular periférica, principalmente no músculo esquelético, mas também em leitos vasculares renais e mesentéricos. A pressão diastólica cai. A pressão arterial sistólica pode permanecer inalterada ou subir, embora a pressão arterial média tipicamente caia. A produção cardíaca é aumentada devido aos efeitos positivos inotrópicos e cronotrópicos da droga em face da diminuição da resistência vascular periférica. Os efeitos cardíacos do isoproterenol podem levar a palpitações, taquicardia sinusal e arritmias mais graves. Isoproterenol relaxa quase todas as variedades de músculo liso quando o tônus está alto, mas esta ação é mais pronunciada em músculo brônquico e gastrointestinal. Previne ou alivia a broncoconstrição. DOBUTAMINA A dobutamina se assemelha estruturalmente à dopamina, mas possui um substitutivo aromático volumoso no grupo amino. Os efeitos farmacológicos da dobutamina são decorrentes de interações diretas com receptores α e β; suas ações não parecem resultar da liberação de noradrenalina de terminações nervosas simpáticas, nem são exercidas por receptores dopaminérgicos. Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS A dobutamina é indicada para o tratamento a curto prazo da descompensação cardíaca, que pode ocorrer após cirurgia cardíaca ou em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou infarto agudo do miocárdio. A dobutamina aumenta a produção cardíaca e o volume de ejeção em tais pacientes, geralmente sem aumento acentuado na frequência cardíaca. Alterações na pressão arterial ou resistência periférica usualmente são menores, embora alguns pacientes possam ter acentuado aumento na pressão arterial ou na frequência cardíaca. AGONISTAS Β2 - SELETIVO DE RECEPTORES ADRENÉRGICOS Alguns dos principais efeitos adversos dos agonistas β no tratamento de asma ou DPOC são causados pela estimulação de receptores β1 no coração. Assim, foram desenvolvidas drogas com afinidade preferencial para receptores β2 em comparação com os receptores β1. No entanto, essa seletividade é relativa, não absoluta, e se perde em altas concentrações dessas drogas. Além disso, até 40% dos receptores β no coração humano são receptores β2, que podem causar estimulação cardíaca. UMA SEGUNDA ESTRATÉGIA QUE AUMENTOU A UTILIDADE DE VÁRIOS AGONISTAS Β2-SELETIVOS NO TRATAMENTO DA ASMA E DPOC TEM SIDO A MODIFICAÇÃO ESTRUTURAL QUE RESULTA EM MENORES TAXAS DE METABOLISMO E MAIOR BIODISPONIBILIDADE ORAL (EM COMPARAÇÃO COM CATECOLAMINAS). O metaproterenol é um exemplo de agonistas β2-seletivos. É um fármaco resistente à COMT, e 40% é absorvido em forma ativa após administração oral. Metaproterenol é considerado um fármaco β2-seletivo, embora provavelmente seja menos seletivo que o albuterol ou terbutalina e, portanto, é mais propenso a causar estimulação cardíaca; como observado anteriormente, até 40% dos receptores β no coração humano são do subtipo β2; assim, mesmo β-agentes seletivos têm o potencial de causar estimulação cardíaca. Outros fármacos que compõem essa classe são: Fonte: Shutterstock AGONISTAS Α1 SELETIVOS DE RECEPTORES ADRENÉRGICOS Os principais efeitos clínicos de uma série de drogas simpatomiméticas ocorrem devido à ativação de receptores α adrenérgicos no músculo liso vascular. Como resultado, a resistência vascular é aumentada, e a pressão arterial é mantida ou elevada. Embora a utilidade clínica dessas drogas seja limitada, elas podem ser úteis no tratamento de alguns pacientes com hipotensão, incluindo hipotensão ortostática, ou choque. A fenilefrina e a metoxamina são vasoconstritores de ação direta e são ativadores seletivos de receptores α1. Fenilefrina é um agonista α1-seletivo; ativa os receptores β apenas em concentrações elevadas. Os efeitos farmacológicos da fenilefrina são semelhantes aos da metoxamina. A droga causa vasoconstrição arterial marcada durante a infusão intravenosa. A fenilefrina também é usada como descongestionante nasal e como agente midriático em várias formulações nasais e oftálmicas. Fonte: Shutterstock AGONISTAS SELETIVOS Α2 DE RECEPTORES ADRENÉRGICOS Agonistas adrenérgicos α2-seletivos são usados principalmente para o tratamento da hipertensão sistêmica. Sua eficácia como agentes anti-hipertensivos é um tanto surpreendente, uma vez que muitos vasos sanguíneos contêm receptores adrenérgicos α2-sinápticos, que promovem a vasoconstrição. De fato, a clonidina, o prototípico agonista α2, foi inicialmente desenvolvida como um vasoconstritor descongestionante nasal. Sua capacidade de diminuir a pressão arterial resulta da ativação de receptores α2 nos centros de controle cardiovascular do SNC; tal ativação suprime o fluxo de atividade do sistema nervoso simpático do cérebro. O principal uso terapêutico da clonidina está no tratamento da hipertensão arterial. A estimulação de receptores α2 no TGI pode aumentar a absorção de cloreto de sódio e fluidos, além de inibir a secreção de bicarbonato. Fonte: upload.wikimedia.org Estrutura química da clonidina SAIBA MAIS Clonidina também é útil no tratamento e na preparação de sujeitos viciados para retirada de narcóticos, álcool e tabaco. Essa droga pode ajudar a amenizar parte da atividade nervosa simpática adversa associada à retirada desses agentes, bem como diminuir o desejo pela droga. Os benefícios a longo prazo da clonidina nesses ambientes e em distúrbios neuropsiquiátricos continuam a ser determinados. OUTROS AGONISTAS SIMPATOMIMÉTICOS ANFETAMINAS As anfetaminas têm poderosas ações estimulantes do SNC, além das ações periféricas α e β comuns a drogas simpatomiméticas de ação indireta. Ao contrário da adrenalina, é eficaz após a administração oral, e seus efeitos duram várias horas. No sistema cardiovascular, as anfetaminas administradas oralmente aumentam a pressão arterial sistólica e diastólica. A frequência cardíaca, muitas vezes, é reflexivamente lenta, e, com grandes doses, podem ocorrer arritmias cardíacas. Fonte: Shutterstock Estrutura química da anfetamina As anfetaminassão uma das mais potentes aminas simpatomiméticas em estimulantes do SNC. Estimulam o centro respiratório medular, diminuem o grau de depressão central causada por várias drogas e produzem outros sinais de estimulação do SNC. Acredita-se que esses efeitos sejam decorrentes da estimulação cortical e, possivelmente, da estimulação do sistema ativador reticular. TOXICIDADE E EFEITOS ADVERSOS Os efeitos tóxicos agudos da anfetamina geralmente são extensões de suas ações terapêuticas, e, como regra, resultam da superdosagem. Os efeitos do SNC geralmente incluem inquietação, tontura, tremor, reflexos hiperativos, tensão, irritabilidade, fraqueza, insônia, febre e, às vezes, euforia. Confusão, agressividade, mudanças na libido, ansiedade, delírio, alucinações paranoicas, estados de pânico e tendências suicidas ou homicidas ocorrem, especialmente, em doentes mentais. No entanto, esses efeitos psicóticos podem ser provocados em qualquer indivíduo se quantidades suficientes de anfetamina forem ingeridas por um período prolongado. Fadiga e depressão geralmente ocorrem após a estimulação central. Efeitos cardiovasculares são comuns e incluem dor de cabeça, frieza, palidez ou rubor, palpitação, arritmias cardíacas, dor anginal, hipertensão ou hipotensão e colapso circulatório. Fonte: Shutterstock ATENÇÃO Os sintomas gastrointestinais incluem: boca seca, gosto metálico, anorexia, náusea, vômito, diarreia e cólicas abdominais. Envenenamento fatal geralmente termina em convulsões e coma, e hemorragias cerebrais são os principais achados patológicos. ANTAGONISTAS DE RECEPTORES ADRENÉRGICOS Muitos tipos de drogas interferem na função do sistema nervoso simpático e, portanto, têm efeitos profundos na fisiologia de órgãos simpaticamente inervados. Várias dessas drogas são importantes na medicina clínica, particularmente para o tratamento de doenças cardiovasculares. Antagonistas seletivos de β1 bloqueiam a maioria das ações da adrenalina e noradrenalina no coração, enquanto têm menos efeito sobre receptores β2 no músculo liso brônquico e nenhum efeito sobre as respostas mediadas por receptores α1 ou α2. O conhecimento detalhado do sistema nervoso autônomo e os locais de ação das drogas que atuam nos receptores adrenérgicos é essencial para a compreensão das propriedades farmacológicas e dos usos terapêuticos dessa importante classe de fármacos. Fonte: Shutterstock ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES Α ADRENÉRGICOS Os receptores α adrenérgicos medeiam ações importantes de catecolaminas endógenas. As respostas de relevância clínica incluem a contração no músculo arterial, venoso e visceral liso. Os receptores α2 estão envolvidos no aumento do tônus vagal, facilitando a agregação plaquetária, inibindo a liberação de noradrenalina e Ach das terminações nervosas, e regulando efeitos metabólicos. Estes efeitos incluem a supressão da secreção de insulina e a inibição da lipólise. Os antagonistas dos receptores α têm um amplo espectro de especificidades farmacológicas e são quimicamente heterogêneos. Algumas dessas drogas têm afinidades diferentes para receptores α1 e α2. Por exemplo: Fonte: Shutterstock Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS A prazosina tem sido usada com sucesso no tratamento da hipertensão essencial. O interesse considerável também se concentrou na tendência desse fármaco de melhorar em vez de piorar os perfis lipídicos e o metabolismo de glicose-insulina em pacientes com hipertensão que estão em risco de doença aterosclerótica. Na insuficiência cardíaca congestiva, os antagonistas de receptores α têm sido usados como outras drogas vasodilatadoras. Os efeitos a curto prazo da prazosina para esses pacientes são decorrentes da dilatação das artérias e veias, resultando em uma redução da pré-carga e pós- carga cardíaca e redução do congestionamento pulmonar. Tem pronunciada ação na reversão dos sinais adrenérgicos vasculares em pacientes com quadro de sobredosagem de anfetaminas e cocaína. A hiperplasia prostática benigna produz obstrução uretral sintomática, que leva a fluxo fraco, frequência urinária e nocturia. Esses sintomas são devido a uma combinação de pressão mecânica na uretra em razão do aumento da massa muscular lisa e do receptor α1, mediando um crescimento no tônus muscular liso na próstata e bexiga, sendo esses sintomas e sinais revertidos e controlados pelo uso da prazosina. ANTAGONISTAS SELETIVOS-Α2 DOS RECEPTORES ADRENÉRGICOS Os receptores α2 têm um papel importante na regulação da atividade do sistema nervoso simpático, tanto periférica quanto centralmente. Como mencionado, a ativação dos receptores α2 pré-sinápticos inibem a liberação de noradrenalina e outros transmissores periféricos de terminações nervosas simpáticos. O bloqueio dos receptores α2 com antagonistas seletivos, como a ioimbina, podem aumentar o fluxo simpático e potencializar a liberação de noradrenalina a partir de terminações nervosas, levando à ativação de receptores α1 e β1 no coração e na vasculatura periférica, com consequente aumento da pressão arterial. Fonte: Shutterstock USOS TERAPÊUTICOS A fenoxibenzamina é utilizada no tratamento do feocromocitoma. Feocromocitomas são tumores da medula adrenal, onde o resultado habitual é a hipertensão, que pode ser episódica e grave. A grande maioria dos feocromocitomas são tratados cirurgicamente; no entanto, fenoxibenzamina é usado com frequência na preparação do paciente para a cirurgia. A droga controla episódios de hipertensão grave e minimiza outros efeitos adversos das catecolaminas, como contração do volume plasmático e lesão do miocárdio. ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES Β ADRENÉGICOS Antagonistas competitivos de receptores β adrenérgicos, ou β bloqueadores, têm recebido enorme atenção clínica devido à sua eficácia no tratamento da hipertensão arterial, doença isquêmica do coração, insuficiência cardíaca congestiva e certas arritmias. De forma geral, o propranolol é um antagonista não seletivo competitivo dos receptores β adrenérgicos e continua sendo o protótipo com o qual outros antagonistas β são comparados. Fonte: Shutterstock Estrutura química do propranolol Antagonistas β podem ser diferenciados pelas seguintes propriedades: Afinidade relativa para receptores β1 e β2; Atividade simpática intrínseca; Bloqueio dos receptores α; Diferenças na solubilidade lipídica; Capacidade de induzir vasodilatação; Parâmetros farmacocinéticos. ALGUMAS DESSAS CARACTERÍSTICAS DISTINTAS TÊM SIGNIFICÂNCIA CLÍNICA E AJUDAM A ORIENTAR A ESCOLHA ADEQUADA DE UM ANTAGONISTA DO RECEPTOR Β PARA UM PACIENTE INDIVIDUAL. O propranolol tem afinidade igual para receptores β1 e β2 adrenérgicos; assim, é um antagonista não seletivo β adrenérgico. Agentes como metoprolol, atenolol, acebutolol, bisoprolol e esmolol têm alguma afinidade maior para β1 do que para receptores β2; estes são exemplos de antagonistas β1-seletivos, embora a seletividade não seja absoluta. O propranolol é um antagonista puro, e não tem capacidade de ativar receptores β. Vários bloqueadores β (por exemplo, pindolol e acebutolol) ativam receptores β parcialmente na ausência de catecolaminas; no entanto, as atividades intrínsecas dessas drogas são menores do que a de um agonista completo, como o isoproterenol. Dizem que esses agonistas parciais têm uma atividade intrínseca. A atividade simpática substancial seria contraproducente à resposta desejada por um antagonista β; no entanto, uma ligeira atividade residual pode, por exemplo, prevenir bradicardia profunda ou inotrópica negativa em um coração em repouso. A vantagem clínica potencial desta propriedade, no entanto, não é clara e pode ser desvantajosa no contexto de prevenção secundária do infarto do miocárdio. Além disso, outros antagonistas do receptor β têm a propriedade do agonismo (agonista) inverso. Estas drogas podem diminuir a atividade basal do receptor β, deslocando o equilíbrio de receptores espontaneamente ativos para o estado inativo. Vários antagonistas
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