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Coordenação Pedagógica - IBRA Curso de Pós- Graduação NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO ABA- Análise do Comportamento Aplicada Sumário 02 1 2 3 4 5 6 04 06 08 09 09 09 11 25 29 39 46 53 Introdução Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos Comportamento Respondente ou Refl exo Comportamento Operante Consequências Reforçadoras Esquemas de Reforçamento Condicionamento Respondente e Operante Transtorno do Espectro Autista Diagnóstico Análise do Comportamento Aplicada (ABA) A Intervenção em ABA Referências Bibliografi cas 04 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA N os esforçamos para oferecer um ma-terial condizente com a graduação e consequente capacitação daqueles que se candidataram à está Pós-Graduação, pro- curando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensá- veis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afi nal, opiniões e bases intelectuais funda- mentam o trabalho dos diversos institu- tos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e prima- mos pelo conhecimento científi co, testado e provado pelos pesquisadores. Apesar de o curso possuir objetivos claros, positivos e específi cos, nos colo- camos abertos para críticas e para opini- ões, pois somos conscientes que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Me- todologia da Educação a Distância, você é livre para estudar do melhor modo que possa. Este arranjo preserva a sua indivi- dualidade impondo, uma responsabili- dade imperativa. Organize-se, lembran- do que: aprender sempre, refl etir sobre a própria experiência se somam, e que a educação é demasiado importante para nossa formação e para o bem-estar dos pacientes. A presente apostila tem como pro- posito oferecer um conteúdo abrangente de Análise do Comportamento Aplicada- -ABA partindo do conceito da analise do comportamento, passando pela compre- ensão do transtorno do espectro autis- ta, analise aplicada até a intervenção em ABA. Neste intuito apresentamos um compendio de conhecimento necessários à analise do comportamento no ambiente de consultório como no ambiente educa- cional. Oferecemos, ainda, ferramentas para o desenvolvimento de procedimen- tos que produzirão mudanças observáveis no comportamento. A apostila agrupa de maneira orde- nada a síntese do pensamento de vários autores cuja obra que entendemos serem as mais importantes para a disciplina. Sendo fruto de exaustiva pesquisa biblio- gráfi ca, cujas fontes são colocadas ao fi m da apostila possibilitando ao aluno, con- forme sua necessidade e disposição, o am- plio de seus conhecimentos. 1 Introdução 06 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA A Análise do Comportamento tem suas raízes fi losófi cas no Behavioris- mo Radical de B. F. Skinner (1904-1990). Seu objeto de estudo é o comportamento em suas relações com o ambiente. Skinner (1953, p.16) afi rma que “o comportamen- to é uma matéria difícil, não porque seja inacessível, mas porque é extremamente complexo. Desde que é um processo, e não uma coisa, não pode ser facilmente imobilizado para observação. É mutável, fl uido e evanescente.” Na Análise do Comportamento o foco a ser analisado é o organismo em suas relações com o ambiente. “O am- biente com o qual a pessoa interage in- clui tanto o organismo quanto o meio ex- terno e também as pessoas com as quais ela interage” (BANACO, DEL PRETTE, MEYER, TOURINHO E ZAMIGNANI, p. 154, 2010). De acordo com Skinner (1953) parte desse ambiente está sob a pele. O ambiente determina as ações dos organis- mos por meio de três processos de seleção que são sobrepostos e associados: a fi logê- nese, a ontogênese e a cultura (SKINNER, 1981). Na Análise do Comportamento, um conjunto de implicações metodo- lógicas explica o estudo dos fenômenos psicológicos em termos comportamen- tais. A Análise do Comportamento seria a área mais ampla da prática behaviorista, composta de três subáreas interligadas a Análise Experimental do Comportamen- to, o Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento Aplicada, formando a tríplice epistemológica que fundamenta o 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos estudo do comportamento humano. Para Banaco, Del Prete, Meyer, Tourinho e Za- mignani (2010): • Análise Experimental do Comporta- mento (uma ciência básica), diz respeito às pesquisas empíricas; • Behaviorismo Radical (uma fi losofi a), se atem aos trabalhos conceituais e fi losó- fi cos; • Análise do Comportamento Aplicada (uma ciência aplicada e uma tecnologia) que trata dos trabalhos de intervenção. A tríplice epistemológica é inter- -relacionada não havendo trabalho con- ceitual desarticulado de programas de investigação empírica e sem demandas relativas à solução de problemas huma- nos; similarmente, trabalhos empíricos devem articular com elaborações concei- tuais e guardar relações que possibilitem a intervenção de caráter analítico-compor- tamental fundamentada em conceitos/ interpretações behavioristas radicais e em princípios derivados da investigação em- pírica do comportamento (TOURINHO, 2003). Análise Aplicada do Comporta- mento se inícia logo que os pesquisadores da Análise Experimental do Comporta- mento: 1. Tem demonstrações empíricas sufi - cientes dos princípios básicos em Análise do Comportamento. Tais demonstrações 07 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA dizem respeito, primordialmente, aos comportamentos respondentes e operan- tes e; 2. Possuem conhecimento o bastante para pensar na aplicação desses conceitos para a resolução de problemas humanos, ou seja, de problemas sociais que afetam diretamente e indiretamente o indivíduo e o meio social no qual ele está inserido (GONGORA, 2003); Os estudos em análise do com- portamento estabeleceram ao longo do acúmulo de conhecimento produzido, critérios para a aplicação dos princípios básicos em intervenções analítico com- portamentais. Como exemplo pode-se citar o trabalho de Baer, Wolf e Risley (1968) que defi nem como deve ser um es- tudo analítico comportamental aplicado, especifi cam algumas características, a sa- ber: deve ser aplicado, comportamental e analítico; além disso, deve ser tecnológico, conceitualmente sistemático e efi caz e de- monstrar certa generalidade. Os termos comportamental e ana- lítico referem-se, respectivamente, a de- monstração empírica do comportamen- to modifi cado e ao controle que deve ser exercido sobre o comportamento a ser modifi cado. O termo tecnológico pres- supõe que os procedimentos e as técnicas comportamentais devem estar comple- tamente identifi cadas e descritas; sobre o conceitualmente sistemático e efi caz, refere que as intervenções devem ser pau- tadas nos princípios básicos; e por último, a generalidade que afi rma que uma mu- dança comportamental apresenta gene- ralidade caso se mostre durável através do tempo, apareça numa grande variedade de ambientes possíveis e/ ou se estenda a uma grande variedade de comportamen- tos relacionados. Se a aplicação de técnicas compor- tamentais não produzir efeitos extensos o sufi ciente para ter valor prático, a aplica- ção terá falhado. A pesquisa não-aplica- da muitas vezes pode ser extremamente valiosa, ao produzir efeitos pequenos, mas fi dedignos, uma vez que esses efeitos comprovam a operação de alguma variá- vel que tem, em si, grande importância te- órica. Na aplicação, a importância teórica de uma variável geralmente não está em questão. Sua importância prática, especi- fi camente seu poder de alterar comporta- mentos o sufi ciente para tornar-se social- mente importante, é o critério essencial. Um estudo que demonstre que uma nova técnica de sala de aula pode elevar as notas de crianças culturalmente caren- tes, de 4 para5, não é um exemplo óbvio de análise comportamental aplicada. Esse estudo pode concebivelmente revolucio- nar a teoria educacional, mas ainda não terá revolucionado a educação. A elevação das notas dessas crian- ças de 5 para 6 pode até ser considerada como um sucesso importante por uma audiência que acha que um resultado 6 é muito diferente de um resultado 5, espe- cialmente se os alunos 6 tiverem uma pro- babilidade muito menor de desistir da es- cola do que os alunos 5. Avaliando se uma determinada aplicação produziu uma mudança comportamental em nível sufi - 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 08 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA ciente para merecer o rótulo, uma indaga- ção pertinente seria: quanto esse compor- tamento precisava ser modifi cado? Obviamente, essa não é uma ques- tão científi ca, mas sim prática. A resposta poderá ser dada por pessoas que têm que lidar com o comportamento. Por exem- plo: funcionários de enfermaria podem dizer que um esquizofrênico mudo, hos- pitalizado, treinado para usar dez rótulos verbais, não está em melhor situação do que antes, em habilidades de auto-ajuda, mas que um paciente que domine 50 des- ses rótulos é muito mais efi ciente. Nesse caso, as opiniões de auxiliares de enferma- ria podem ser mais relevantes que as opi- niões de psicolingüistas. Para Baer, Wolf e Risley (1968) uma análise comportamental aplicada deve ressaltar a relevância social do com- portamento a ser modifi cado, suas carac- terísticas quantitativas, as manipulações experimentais que analisam com clareza o que foi responsável pela mudança, a des- crição tecnologicamente exata de todos os procedimentos que contribuíram para essa mudança, a efi cácia desses procedi- mentos em torná-la sufi ciente e a genera- lização desta modifi cação. Programas de aprendizagem em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) devem seguir estes critérios para serem efetivos e proporcionarem modifi - cação de comportamento. O trabalho com Análise do Com- portamento Aplicada (ABA) demanda o conhecimento dos princípios e concei- tos básicos propostos que embasam a intervenção, os quais serão localizados a seguir: comportamento respondente e comportamento operante, consequências reforçadoras e punitivas, esquemas de re- forçamento e processos de aprendizagem. Comportamento Respon- dente ou Refl exo C omportamento respondente ou re-fl exo é aquele no qual uma respos- ta é eliciada por um estímulo específi co, sendo que esse estímulo é imprescindível para que a resposta ocorra. Para Skinner (1953, p.106), “certa parte do comporta- mento é, pois, eliciada por estímulos, e é especialmente precisa a previsão do com- portamento respondente”. Apesar de im- portância do estudo do comportamento respondente, ele não explica grande parte dos comportamentos humanos, e, para complementá-lo Skinner (1979, p.106) in- troduz o conceito de comportamento ope- rante. (1979, p.106): Não é possivel prever uma resposta que já ocorreu, é claro, ser prevista ou con- trolada. Apenas podemos prever a ocor- rência futura de respostas semelhantes. 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 09 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA Assim, a unidade de uma ciência preditiva não é uma resposta, mas sim uma classe de respostas, para descrever-se esta classe usaremos a palavra ‘operante’. O termo dá ênfase ao fato de que o comportamento opera sobre o ambiente para gerar conse- quências. Comportamento Operante O comportamento operante é aquele que modifi ca o ambiente produzin- do consequências que vão alterar a pro- babilidade de ocorrência futura. Grande parte dos comportamentos emitidos pe- los organismos são comportamentos ope- rantes. O que altera a probabilidade de ocorrência futura de um comportamento são as consequências produzidas pela sua emissão. Skinner (1953), afi rma que as consequências de um comportamento re- troagem no organismo. As consequências mostram quão provavelmente as pessoas farão algo novamente. Essas consequên- cias podem ser reforçadoras ou punitivas. Consequências Reforçado- ras S ão aquelas que aumentam a probabili-dade de determinado comportamen- to acontecer novamente. Para Sidman (1989), os reforçadores têm duas carac- terísticas defi nidoras, ambas diretamente observáveis. Primeiramente, um reforça- dor deve seguir uma ação, ser imediato a ela; em segundo, um reforçador deve fazer com que essa ação seja repetida ou ocorra mais frequentemente, no futuro. Os even- tos tidos como reforçadores podem ser de dois tipos: positivos e negativos. Skinner (1953), afi rma que alguns reforços consis- tem na apresentação de estímulos, acrés- cimo de alguma coisa, como por exemplo, alimento, água, contato sexual, chamados então de reforço positivo; e outros consis- tem na remoção de alguma coisa, como de muito barulho, de luz forte, estes se deno- minam, reforço negativo. Esquemas de Reforçamen- to A efi cácia do reforço depende da forma como ele é administrado e a maneira dessa administração ocorrer é chamada de esquemas. Os esquemas de reforça- mento referem-se a forma como se dá a contingência de reforço, ou seja, quais as condições da resposta para que o reforço seja liberado. O conceito de esquemas de reforçamento sugere que não é somente a apresentação de uma consequência refor- çadora que altera a frequência de respos- ta, mas também o modo como esta con- sequência é apresentada. Tais esquemas podem ser denominados de contínuos e intermitentes (STAATS e STAATS, 1973). Os esquemas contínuos são aqueles nos quais toda e qualquer resposta previa- mente defi nida é reforçada e são especial- mente importantes na modelagem de um comportamento novo, ou seja, são funda- mentais na aquisição de comportamen- to. Os esquemas intermitentes podem se 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 10 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA basear no número de respostas exigidas para a liberação do reforçador ou ainda na passagem do tempo e são especialmente importantes na manutenção de compor- tamentos aprendidos. Para Skinner (1953), os principais esquemas de reforçamento intermitente são: razão fi xa, razão variável, intervalo fi xo e intervalo variável. Medeiros e Mo- reira (2007), afi rmam que os esquemas de razão se caracterizam por exigirem cer- to número de respostas para a apresenta- ção de cada reforçador. No esquema de razão fi xa, o número de respostas exigido para a apresentação de cada reforçador é sempre o mesmo, já no esquema de razão variável, o número de respostas em cada reforçador se modifi ca, isto é, varia. Medeiros e Moreira (2007), no que diz respeito ao esquema de intervalo, afi r- mam que o número de respostas não é relevante, bastando ocorrer apenas uma resposta após o decurso de tempo para obtenção do reforçador. No esquema de intervalo fi xo, o requisito para que uma resposta seja reforçada é o tempo decor- rido desde o último reforçamento. O perí- odo entre o último reforçador e a disponi- bilidade do próximo reforçador é sempre o mesmo para todos os reforçamentos. Por isso, o nome intervalo fi xo, ou seja, os reforçadores estarão disponíveis depois de transcorridos intervalos fi xos desde o último reforçador. (MEDEIROS E MO- REIRA, 2007). Os mesmos autores afi r- mam que o esquema de intervalo variável é similar ao intervalo fi xo, com diferença de que os intervalos entre o último refor- çador e a próxima disponibilidade não são os mesmos, são variaríeis. Além de reforçadoras, as consequ- ências de uma resposta comportamen- tal podem ser punitivas ou aversivas. As consequências punitivas são aquelas que diminuem a probabilidade de que um comportamento aconteça novamente em situações similares futuras. Para Skinner (1953), o comportamento pode ser supri- mido ou ter a sua frequência diminuída temporariamente. O autor afi rma que as consequências punitivas podem se dar de duas maneiras: pelaapresentação de um estímulo aversivo e pela remoção de um reforçador positivo. Assim, quando a fre- quência do comportamento é tempora- riamente reduzida pela apresentação de um estímulo aversivo defi ne-se seu nome como punição positiva, pois a consequên- cia do comportamento é o acréscimo de algo na relação comportamental. Quando a frequência é diminuída temporariamen- te pela remoção de reforçadores positivos disponíveis defi ne-se como punição ne- gativa, pois a consequência do comporta- mento é a remoção de estímulos da rela- ção comportamental. 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 11 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA Condicionamento Respon- dente e Operante O condicionamento respondente, pa-vloviano ou clássico é um tipo de aprendizagem na qual um estímulo, ori- ginalmente neutro em relação à determi- nada resposta, é pareado várias vezes com um estímulo que elicia esta resposta, e en- tão, depois de sucessivos pareamentos, o estímulo inicialmente neutro passa a eli- ciar a resposta. O condicionamento respondente é de fundamental importância na explica- ção e análise das variáveis que controlam um comportamento, pois, segundo Sta- ats e Staats (1973, p. 39): Esse princípio possui ampla generalidade. Muitos tipos diferentes de comportamento são adqui- ridos através deste processo, e não apenas comportamentos “negativos” como o de chorar. O princípio de condicionamento clássico é de grande importância para se compreender como a linguagem é apren- dida, como ocorre a comunicação, e como se desenvolvem as atitudes. O condicionamento operante é um tipo de aprendizagem que se dá atra- vés das consequências. Segundo Skinner (1953), no processo de condicionamento operante ocorre o fortalecimento de um comportamento operante à medida que uma resposta torna- se mais provável e/ ou mais frequente. Para o autor: Através do condicionamento ope- rante, o meio ambiente modela o repertó- rio básico com o qual mantemos o equi- líbrio, andamos, praticamos esportes, manejamos instrumentos e ferramentas, falamos, escrevemos, velejamos um bar- co, dirigimos um automóvel ou pilotamos um avião. Uma modifi cação no ambiente – um novo automóvel, um novo amigo, um novo campo de interesse, um novo emprego, uma nova residência – pode nos encontrar despreparados, mas o compor- tamento ajusta-se rapidamente assim que adquirirmos novas respostas e de deixar- mos de lado as antigas. (SKINNER, 1953). Segundo Skinner (1953), os com- portamentos operantes são aprendidos, assim como os comportamentos respon- dentes, e os processos de aprendizagem são inúmeros. Existem processos de mo- delagem, de modelação, de aprendizagem por instrução (ou governado por regras), de discriminação e de generalização que serão explicados a seguir. A modelagem é um processo de aprendizagem em que um comportamen- to novo é ensinado por meio de reforço diferencial de aproximações sucessivas do comportamento alvo. Para Catania (1999), as respostas próximas do compor- tamento alvo são reforçadas até que seja reforçada somente a resposta que se pre- tende instalar. Segundo Catania (1999, p. 131-132): A modelagem baseia-se no reforço diferencial: em estágios sucessivos, algu- mas respostas são reforçadas e outras não. À medida que o responder se altera, os cri- térios para o reforço diferencial também mudam, em aproximações sucessivas da resposta a ser modelada. A propriedade do comportamento que torna a modelagem efetiva é a variabilidade do comportamen- 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 12 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA to. Duas respostas nunca são uma mesma resposta e o reforço de uma resposta pro- duz um espectro de respostas, cada uma das quais difere da resposta reforçada ao longo de algumas dimensões como topo- grafi a (forma), força, magnitude e direção. Dessas respostas, algumas estarão mais próximas da resposta a ser modelada do que outras e podem, então, ser seleciona- das, para serem reforçadas em seguida. Reforçar estas respostas, por sua vez, será seguido de outras mais, algumas das quais podem estar ainda mais próximas da res- posta a ser modelada, assim, o reforço po- derá ser usado para mudar o espectro de respostas, até que a resposta a ser mode- lada ocorra. A modelação, por sua vez, é um pro- cesso de aprendizagem por imitação que se dá, segundo Catania (1999), à medida que ocorre uma imitação generalizada do comportamento desejado, além disso, é um processo efetivo complementar a mo- delagem. De acordo com Bandura (1971), a modelação se refere a um processo de aprendizagem social através de um mo- delo, ou seja, um comportamento pode ser aprendido por observação. O compor- tamento de um observador se modifi ca em decorrência da exposição ao compor- tamento de um modelo. Nesta forma de aprendizagem o reforçador é fornecido para o modelo e não para quem observa e sua efetividade do procedimento depende de alguns fatores, tais como: o observador estar com a atenção voltada para pontos essenciais do comportamento do modelo, o observador lembrar os comportamentos do modelo, o observador ter habilidade de reproduzir os comportamentos observa- dos e o comportamento ter consequências reforçadoras para que haja reprodução dos comportamentos desejados. Outro processo de aprendizagem primordial é o de aprendizagem por ins- trução. De acordo com Catania (1999), a instrução substitui as contingências natu- rais por antecedentes verbais. Essa propriedade da instrução verbal tem implicações de alcance muito grande. As instruções podem modifi car o comportamento do ouvinte em situações em que as consequências naturais são, por si mesmas, inefi cientes ou são efi cazes somente a longo prazo. Ao convidarmos amigos para uma visita, lhes damos nos- so endereço, em vez de deixa-los procurar o caminho por si próprios. (CATANIA, 1999, p.275). Sobre o processo de generalização Staats e Staats (1973) afi rmam que o prin- cípio de generalização de estímulos refe- re-se ao fato de uma resposta que, através do condicionamento, passou a ser emiti- da por um estímulo particular e que será também emitida por estímulos similares. 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 13 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA A discriminação se estabelece pelo fato de um comportamento ser reforçado na presença de uma situação estimulado- ra e não ser na presença de outra situação. Complementando, para Skinner (1953, p. 121): A discriminação operanteé usa- da de dois modos. Em primei- ro lugar, os estímulos que já se tornaram discriminativos são manipulados com a fi nalidade de mudar probabilidades. (...) Em segundo lugar, podemos estabelecer uma discriminação para assegurar que um estímu- lo futuro terá um dado efeito quando aparecer. A extinção ocorre quando a consequência reforçadora é cessada, assim a resposta torna-se menos fre- quente. De acordo com Skinner (1953, p.77). O comportamento durante uma extinção é o resultado do condicionamen- to que o precedeu, e a curva de extinção fornece uma medida adicional do efeito do reforço. Se apenas algumas respostas forem reforçadas, a extinção ocorre rapi- damente. A uma longa história de reforço segue-se uma extinção procrastinada. A resistência à extinção não pode ser pre- vista a partir da probabilidade de resposta observada em dado momento. Os processos de modelagem, mo- difi cação e de manutenção de comporta- mento são explicados por um modelo. O modelo de explicação do repertório com- portamental humano para a Análise do Comportamento é a Seleção por Conse- quências, da qual todo comportamento é fruto. Skinner (1981, p.131), declara que a seleção por consequências é um modo causal de explicação: O comportamento humano é o produto conjunto de a) contingências de sobrevivência responsáveis pela seleção natural das espécies, e b) contingências de reforçamento responsáveis pelos re-pertórios adquiridos por seus membros, incluindo c) contingências especiais man- tidas por um ambiente cultural evoluído. (Em última análise, obviamente, tudo isso é uma questão de seleção natural, uma vez que o condicionamento operante é um processo evoluído, do qual as práticas cul- turais são aplicações especiais). Para a Análise do Comportamento, segundo Gongora (2003), todo compor- tamento é adaptativo e os indivíduos se comportam de uma determinada maneira em função de duas variáveis: as atuais e as históricas. As atuais são as contingências presentes no ambiente no momento em que o comportamento se apresenta e as históricas são as contingências já vividas, ou seja, aquelas que estiveram presentes quando o comportamento foi instalado. Assim, todo comportamento é aprendido e a aquisição, a manutenção e a extinção de qualquer comportamento, seja ele sim- ples ou complexo; público ou privado obe- dece aos mesmos princípios. O comporta- mento adequado ou inadequado, normal ou anormal, saudável e patológico obede- ce também a esses princípios. Todo comportamento aprendido 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 14 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA pode ser modifi cado seguindo os proces- sos de aprendizagem. Nesse sentido, cabe localizar brevemente a noção de psicopa- tologia para a Análise do Comportamen- to, visto que, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) se enquadra, segundo os manuais diagnósticos, como uma psico- patologia. O termo TEA é apresentado pelo DSM-V de 2013. A Análise do Comportamento não inclui em seu objeto de estudo nem a mente e nem as doenças. Para Gongo- ra (2003), não é possível falar de doença mental. Contudo, a Análise do Compor- tamento Aplicada (ABA) se estende tam- bém aos problemas psiquiátricos e para melhor compreensão dos profi ssionais envolvidos e maior efetividade das inter- venções foi necessário uma substituição às concepções médicas, de modelos clas- sifi catórios, para explicar os mesmos fe- nômenos comportamentais descritos pela Psiquiatria como “síndromes” das doen- ças mentais. Prado (2013), afi rma que o rótulo de saudável ou patológico vem da cultura, segue normas socioculturais e a Análise do Comportamento atenta para a funcio- nalidade do comportamento psicopato- lógico. Assim, o mesmo comportamento pode ser considerado normal ou anormal dependendo da cultura na qual a pessoa está inserida. O modelo psicológico, pau- tado nas proposições do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento, segundo Gongora (2003, p.93-94), apre- senta as seguintes características: Os distúrbios são vistos como di- fi culdades específi cas de cada pessoa em seus contextos de vida, desvios de normas sociais são vistos como problemas dife- rentes em culturas diferentes e em dife- rentes contextos; Tratando-se de processos compor- tamentais, não pressupõe dicotomia en- tre “normal e anormal”; o diagnóstico de um distúrbio não é condição para o trata- mento; a decisão para intervir em certos comportamentos depende de se avaliar, para cada pessoa, se tais comportamentos representam um problema e se a inter- venção traria benefícios para a pessoa e a sociedade; • O ato de indicar tratamento para al- guém é uma atividade ética, por envolver o julgamento do que é socialmente rele- vante e o melhor para aquela pessoa; • A avaliação dos comportamentos- pro- blema baseia-se predominantemente na análise funcional destes em conjunto com o modelos de variação e seleção por con- sequências; • O conceito de patologia é aplicado ape- nas para desvios de normas biológicas de funcionamento do organismo; compor- tamentos-problema devido a idiossin- crasias em relação às demandas sociais e interpessoais não são qualifi cados como patológicas; • O enfoque da intervenção nem sempre é sobre a queixa e não visa simplesmente eliminar os “sintomas”, visa também ensi- nar as pessoas como intervir mais efi caz- mente em seu ambiente; 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 15 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA • O homem é visto como um sistema unitário; • O conceito de comportamento não está restrito somente às ocorrências observá- veis e o comportamento em si mesmo é o objeto de estudo e não é visto como “sin- toma”de outros processos interiores, inte- ressa a compreensão dos próprios proces- sos comportamentais. Uma intervenção, para ser consi- derada analítico-comportamental aplica- da, o profi ssional deve atender, segundo Meyer (2003), a quatro níveis de análise sendo eles: tecnológico, metodológico, fi - losófi co e conceitual. As habilidades pro- fi ssionais consistem em conhecer e saber aplicar um conjunto de técnicas derivadas de pesquisas no nível tecnológico; saber fazer análise funcional, no nível meto- dológico; rejeitar o mentalismo, no nível fi losófi co, conhecer e aplicar sistematica- mente os princípios de comportamento, no nível conceitual. Considerando que os princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) podem ser utilizados em contex- to escolar e educacional, e que a criança com diagnóstico autista está em processo de desenvolvimento também nessa ins- tancia, Skinner (1953 p.437) afi rma que educação é o estabelecimento de com- portamentos que sejam vantajosos para o indivíduo e para os outros em um tempo futuro. O comportamento fi nalmente será reforçado em muitos modos; entremen- tes os reforços são arranjados pela agência educacional com propósitos de condicio- namento. Nesse sentido, a escola pode tra- balhar conjuntamente com o analista do comportamento para maximizar a efi cá- cia do tratamento baseado nos princípios e conceitos da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), pois o trabalho conjunto facilita a generalização do comportamen- to aprendido pela criança, do contexto clínico para o contexto escolar. À medida que a mesma classe de comportamentos é modelada ou extinta tanto na clínica quanto na escola os resultados esperados do tratamento são mais rápidos e efi cazes. Skinner parece reconhecer no pro- fessor um agente fundamental na me- lhoria do ensino, chegando a identifi cá-lo como um ‘especialista em comportamento humano’, cuja tarefa é produzir mudanças extradordinariamente complexas em um material extraordinariamente complexo. (ZANOTTO, 2004, p. 125). Moroz (1993) afi rma que a educa- ção abarca três pontos de destaque: edu- car envolve atuação de alguém em relação a outrem; o comportamento a ser estabe- lecido por esse alguém deve ser vantajoso não somente ao indivíduo alvo da ação educativa, mas, também, para outros in- divíduos. Ademais, educar implica atua- ção temporal dos agentes educativos ocor- rendo no presente para o estabelecimento de comportamento que ultrapasse esse limite temporal, já que deve ser vantajoso em um tempo futuro, pois a Educação é um dos meios pelo qual ocorre a sobrevi- vência do homem e da cultura. Educar deve ser vantajoso também 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 16 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA em tempo presente, visto que é nesse tem- po que as ações estão acontecendo, logo o ensino deve ser planejado para que tan- to alunos quanto professores obtenham consequências reforçadoras desse proces- so e para que boas práticas de ensino se- jam mantidas. No livro Tecnologia de Ensino, Skinner (1972, p. 62) defi ne ensino como, um arranjo de contingências sob as quais os alunos aprendem. Um aluno aprende sem que lhe ensinem, mas aprenderá mais efi cientemente sob condições favoráveis os professores arranjam contingências especiais que aceleram a aprendizagem, facilitando o aparecimento do comporta- mento que, de outro modo, seria adqui- rido vagarosamente, ou assegurando o aparecimento do comportamento que po- deria, de outro modo, não ocorrer nunca. Para que as consequências das práticas de ensino sejam reforçadoras o professor deve realizar o planejamento das contingências de ensino.Tal planeja- mento de contingências, segundo Skinner (1972, p. 74): Aceleram o processo e podem mes- mo gerar comportamento que, de outro modo, nunca apareceria. Não se pode simplesmente esperar que os alunos se comportem de um dado modo para refor- çá-lo. De um modo ou de outro, nós preci- samos levá-lo a se comportar. No que tange ao professor, de acor- do com Moroz (1993), o foco está nos agentes educativos atuarem de forma pla- nejada tanto em termos da defi nição dos comportamentos a serem estabelecidos, quanto em termos das condições ambien- tais necessárias ao seu estabelecimento. Ao refl etir sobre a escola, sobre os problemas do ensino, sobre os métodos educativos tradicionais, Skinner apon- ta duas grandes falhas: na Escola não se defi nem claramente os objetivos a serem atingidos, o que impede de saber por onde começar , onde chegar e, mesmo, avaliar até onde o aluno chegou, como também não se aplicam métodos que levem em conta as leis da aprendizagem, ao contrá- rio, não se planeja o ensino respeitando o repertório e ritmo de cada aluno, não se liberam os reforçadores contingentes aos comportamentos a serem estabelecidos, tem-se uso de estímulos aversivos uma constante. (MOROZ, 1993, p. 31) Luna, Marinotti e Pereira (2004) afi rmam que falar em educação signifi - ca falar de um sistema que contempla as relações imediatas que se estabelecem entre professor-aluno e aluno-aluno den- tro da sala de aula. No que diz respeito à primeira relação citada, o professor deve ser responsável por planejar atividades para o desenvolvimento da educação que tenham como fi nalidade básica a aprendi- zagem do aluno. 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 17 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA A concepção do professor e as fun- ções que devem ser exercidas são apre- sentadas, metaforicamente, por Skinner (1972 p.251) em Tecnologia de Ensino, na seguinte afi rmação: Os homens aprendem uns com os outros sem serem ensinados. Pode se aprender uma vez a usar uma enxada vendo outro usá-la, mas nem por isso o la- vrador foi um professor. Apenas quando a maior efi ciência do aprendiz se tornou importante para o lavrador é que ele se tornou um professor udando seu próprio comportamento para facilitar a apren- dizagem – movendo-se mais devagar ou exagerando seus movimentos de modo que pudessem ser mais facilmente imita- dos, repetindo alguma parte de uma ação até que fosse efi cientemente copiada, re- forçando bons movimentos com a enxada com sinais de aprovação, arranjando de forma que pudessem ser facilmente cava- das. Segundo Carrara (2007), a Aná- lise do Comportamento destaca alguns itens importantes e necessários para a atuação do professor: garantir a densida- de adequada de reforçamento; assegurar oportunidades, em sala de aula, para que o aluno tenha condições de emitir os com- portamentos selecionados em função de objetivos educacionais relevantes. E, por fi m, utilizar situações de instalação, ma- nutenção ou extinção de comportamen- tos que apresentem maior probabilidade de gerar reforçadores naturais. No que diz respeito à relação entre a Análise do Com- portamento e a atuação do professor, po- dem ser destacados os seguintes aspectos: 3. Os comportamentos do professor e do aluno são considerados eventos naturais, ou seja, trata-se de fenômenos observá- veis e mensuráveis; 4. os comportamentos do professor e do aluno têm causas, não ocorrem de manei- ra espúria. Seu comportamento, em geral, é resultante de interação com o meio edu- cativo, que representa todas as condições que afetam a conduta, quer seja um even- to físico, químico, biológico ou comporta- mental (social); 5. o professor também aprende a ensinar efetivamente pelas consequências que re- cebe ao ensinar; 6. a relação entre o professor e o aluno é necessariamente bidirecional, afetando- -se reciprocamente, daí a importância de atenção à parcela do meio que afeta em comum seus comportamentos; 7. todo professor e todo estudante são dignos de serem tratados como pessoas, o que inclui recomendação para evitar, ao máximo, a utilização de eventos aversivos, priorizando a utilização de consequências positivas; 8. uma vez que considera professor e alu- no como pessoas únicas e não como gru- po, é promovida, onde possível, a utiliza- ção de métodos de ensino personalizados e sistemas de avaliação não comparativos (comparando-se apenas o comportamen- to do aluno com o dele próprio, antes e de- pois de qualquer procedimento de ensino 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 18 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA utilizado); 9. a Análise do Comportamento reco- menda a instalação e manutenção de con- dutas pró-sociais, que contribuam para a ampliação da probabilidade de que cada membro constituinte das comunidades possa produzir reforçadores sociais positi- vos para seus pares. (CARRARA, 2007 p. 5) Carrara (2007) assegura que a Aná- lise do Comportamento compõe um con- junto signifi cativo de conceitos básicos disponíveis para a intervenção no proces- so educacional mediante o rearranjo das contingências vigentes. Ao professor, se devidamente habilitado no domínio des- ses conceitos, caberá planejar, ouvir a co- munidade escolar, pais, professores e alu- nos, quanto ao mérito dos conteúdos, as intervenções e a avaliação dos respectivos resultados. No contexto da Análise do Com- portamento, o professor deve levar em conta a diversidade de cada aluno ou gru- po de alunos. Gusmão, Luna, Marinotti e Pereira (2004) garantem que é preciso respeitar o ritmo de cada um e planejar atividades que sejam compatíveis tanto com aquilo que ele já sabe, quanto com seu ritmo de progresso. É importante o trabalho dos professores com crianças autistas que precisam de um trabalho de arranjo de contingências individual e es- pecífi co para cada procedimento de mo- difi cação de comportamento. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para casos de crianças com autismo exige que o trabalho seja realizado não só em contexto clínico, mas também em contexto familiar e escolar. Para tanto, segundo Carrara (2007), existem alguns princípios que podem sub- sidiar um planejamento de ensino sob esta orientação, que objetivam nortear um bom trabalho do professor, como: manter o aluno em atividade constante, para que seja possível acompanhar seu desempe- nho; prover consequências reforçadoras positivas para os comportamentos do alu- no, as tarefas precisam ser compatíveis ao que o aluno sabe fazer e o professor deve ressaltar ao máximo as aproximações de desempenho adequado e criar condições para que ele possa aprender o que ainda não sabe; evitar consequências aversivas, pois essas geram comportamentos de fuga/esquiva e reações emocionais que podem inibir os comportamentos puni- dos, mas, não ensinam comportamentos adequados; priorizar consequências na- turais em relação à artifi ciais, lembrando que as consequências naturais são ineren- tes a ação do aluno. E, por fi m, envolver o aluno ao máximo na avaliação de seu desempenho, o que é importante para as consequências naturais acontecerem, pois imprimem ao aluno os critérios de avalia- ção. Skinner também contemplou as crianças com necessidades educativas es- peciais, não de forma isolada, como o fez as políticas públicas até a década passada, mas, em sua metodologia. Skiner escla- receu a necessidade de um planejamen- 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 19 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA to que atenda individualmente a todos, tendo em vista o ritmo e o repertório que cada um já possui. As crianças autistas, es- pecialmente a partir da Lei nº 12.764 que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, sancionada em de- zembro de 2013, são consideradas pesso- as com defi ciência e tem direito a todas as políticas de inclusão do país.Historicamente a educação é apon- tada como a solução para os problemas sociais. Nesse sentido, a educação brasilei- ra tem passado por algumas transforma- ções considerando fatores econômicos, políticos e culturais. Uma dessas transfor- mações, talvez a mais expressiva, segundo Schmidt e Souza (2008), é o movimento pela inclusão de pessoas com necessi- dades especiais nas escolas regulares de ensino. Esse movimento faz parte de um modelo de educação inclusiva, que se refe- re ao processo de educar-ensinar no mes- mo grupo alunos com ou sem necessida- des educativas especiais, durante parte ou na totalidade do tempo de permanência na escola. Schmidt e Souza (2008) afi rmam que a noção de inclusão se fundamenta no princípio do reconhecimento da diversi- dade na vida em sociedade, o que deveria assegurar o acesso de todos os indivíduos às oportunidades, quaisquer que fossem suas peculiaridades. O movimento pela escola inclusiva tem como princípio o di- reito constitucional de educação de quali- dade para todas as pessoas, independen- temente de suas condições biológicas ou sociais. A inclusão representa um movi- mento social em defesa de todas as pes- soas excluídas e marginalizadas sendo que sua efetivação depende de todos os cidadãos e de iniciativas do poder político (Luna e Martins, 2011). A escola inclusiva teve sua origem a partir dos movimentos em prol dos direitos humanos das déca- das de 40 e 50 do século passado, seguidos de perto pelos movimentos de integração da pessoa com defi ciências, e culminaram nas décadas de 80 e 90. Fato marcante desta época foi a produção de vários do- cumentos internacionais, como diretrizes de ações para os países promoverem a inclusão do PNE (Plano Nacional de edu- cação), tais como: o Documento do Ano Internacional do portador de Defi ciência, Declaração de Salamanca, e outros, cujo objetivo, era a operacionalização da pro- posta inclusiva (Schmidt e Souza, 2008). A produção de resoluções e de ações concretas pela comunidade interna- cional exerceu pressão, para que o Brasil e outros países tomassem a iniciativa de implementar medidas decisórias e prá- ticas no sentido de viabilizar a inclusão pessoas com necessidades especiais nas escolas. Inicialmente, as ações implemen- tadas pelo Governo Federal consistiram na elaboração de legislação especifi ca para a garantia legal de acesso da PNE ao ensino público regular; o estabelecimen- to de políticas públicas que permitisse as mudanças necessárias para ajustar física e tecnicamente as escolas que receberiam essa população de alunos, e, a designação de orçamento específi co para a viabiliza- ção de tais políticas. 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 20 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA Ao elaborar a legislação específi ca para regular ações inclusivas, o poder le- gislativo designou uma série de grupos ou agentes como responsáveis pela im- plementação de ações coordenadas que deveriam resultar na inclusão escolar de PNEs. Os três conjuntos de leis mais im- portantes nesse sentido são a Constitui- ção Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, e a Política de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva de 1994. (SCHMIDT e SOUZA, 2008). Sobre à Análise do Comportamento Aplicada (ABA) em contexto de inclusão é importante atentar ao conceito de meta- contingências citado por Schmidt e Souza (2008). Outros estudiosos, como Marto- ne e Todorov (2007, apud Gusmão, Luna e Martins 2011) esclarecem que o referido conceito foi proposto inicialmente por Si- grid Glenn, em 1986, e vem sendo reela- borado para descrever as relações entre um conjunto de contingências compor- tamentais entrelaçadas e seus efeitos am- bientais. Gusmão, Luna e Martins (2001, p.78) defi nem metacontingências como: [...] relações entre contingências comportamentais entrelaçadas e um ambiente selecionador. Juntamente as contingências comportamentais, meta- contingências respondem pela seleção cultural e pela mudança evolucionária em organizações. Em organizações, metacon- tingências apresentam três componentes: contingências comportamentais entrela- çadas, um produto agregado e um sistema receptor. O sistema receptor é o recipiente do produto agregado, e, assim, funciona como o ambiente selecionador das con- tingências comportamentais entrelaça- das. As contingências comportamentais entrelaçadas cessarão sua recorrência se não houver demanda pelos seus produtos. O desenvolvimento do conceito de metacontingência representa a tentativa de formular uma estrutura conceitual uni- fi cada para a análise do comportamento social, propiciando também a probabi- lidade para o planejamento de práticas culturais e, por conseguinte, de mudança social. Sobre a Educação Inclusiva, Gus- mão, Luna e Martins (2011), afi rmam que há um novo paradigma exigindo das escolas transformações em sua estrutura e funcionamento, que implicam reavalia- ção de sua intencionalidade e revisão de seu papel social. As escolas devem garan- tir as mesmas oportunidades a todos ofe- recendo um atendimento condizente com as necessidades dos alunos e buscando meios para obter êxito na aprendizagem. É a construção de um novo modelo de atendimento, que se constitui por meio de ações interdependentes que, para se efeti- varem e perpetuarem, devem resultar em mudanças culturais. Em escolas inclusi- vas é possível identifi car contingências en- trelaçadas, constituídas nas relações que surgem a partir das demandas de alunos e de seus familiares, voltadas para profi ssio- nais de ensino, e ainda, nas relações entre alunos, ou entre outros profi ssionais. O produto agregado destas relações entrelaçadas é a aprendizagem dos alu- 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 21 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA nos, que tem como paradigma a propos- ta de inclusão educacional, que orienta o acesso, permanência e a qualidade de en- sino para todo alunado. O sistema recep- tor é a clientela da escola, alunos e fami- liares, que selecionariam as contingências criadas para a efetivação da aprendizagem e para a eliminação de barreiras que difi - cultam ou impedem a inclusão no ensino comum. Para que se torne inclusive, a escola deverá reconhecer que alguns alunos ne- cessitarão mais de que outros de ajudas e apoios diversos para alcançar sucesso de sua escolarização. Essa postura represen- ta uma mudança na cultura escolar. Sem organização de um ambiente favorável ao atendimento das necessidades dos alunos que precisam de estratégias e técnicas di- ferenciadas para aprender, qualquer pro- posta de Educação Inclusiva é mera retó- rica, discurso político (GLAT e BLANCO, 2007, p. 18). Para Gusmão, Luna e Martins (2011), a evolução do aluno depende do efeito que as relações estabelecidas entre todos os sujeitos que compõe o ambien- te escolar e interferem nele, têm sobre o grupo, dando condições para a continui- dade do processo que tem como produto agregado a aprendizagem. A educação adquiriu uma dupla função, propiciar a aprendizagem e desenvolver práticas que favoreçam a propagação de compor- tamentos exequíveis para o desenvolvi- mento de uma Sociedade Inclusiva. Nesse sentido a Análise do Comportamento tem contribuído, com a organização e o arran- jo de contingências no ambiente educa- cional que visam à aprendizagem e desen- volvimento de todas as crianças. O profi ssional da psicologia escolar com formação em Análise do Compor- tamento tem atuado junto a professores, dirigentes escolares e alunos, na organi- zação de estratégias para facilitar a apren- dizagem e o desenvolvimento dos alunos. Carmo (2012), esclarece que, durante décadas as investigações realizadas por analistas do comportamento no contexto educacional estiveram centradas na mo- difi cação de respostas isoladas em sala de aula, especialmente as respostas conside- radas como disruptivas e desadaptativas dos alunos.Carmo (2012) afi rma que existem evidências sobre a possibilidade de pro- gramar ambientes de aprendizagem es- colar mais efi cazes e efi cientes, tendo em vista uma Psicologia Escolar baseada nos princípios e procedimentos de análise do comportamento. Assim é possível consi- derar os trabalhos na área de Psicologia Escolar, e, num panorama nacional e in- ternacional de produções, é observado que ainda há desafi os a serem superados, principalmente no que tange à identida- de do psicólogo escolar (OAKLAND & STEMBERG, 1993, apud CARMO, 2012, p.230). Nesse sentido, estudos brasileiros apontam a necessidade de sistematizar habilidades e competências necessárias ao psicólogo escolar, desde sua formação inicial até a atuação no ambiente esco- lar e educacional (DEL PRETTE & DEL 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 22 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA PRETTE, 1996; GUZZO, 2002; GUZZO, 1996; MALUF, 2003; NOVAES, 1996, apud CARMO, 2012). Esses estudos apontam para um consenso de que o psicólogo escolar, in- dependentemente da abordagem teórica, deverá pautar suas atividades em inves- tigação e intervenção nas diversas intera- ções e fenômenos que ocorrem em uma instituição educacional, sendo que a inter- venção deverá abranger não apenas ações de enfrentamento de problemas típicos da instituição escolar, mas, sobretudo, a pre- venção de problemas de aprendizagem e a promoção de um ambiente qualitativa- mente rico e propiciador de um ensino- -aprendizagem efi caz e signifi cativo Os objetivos gerais da prática do psicólogo escolar visam minimizar proble- mas relacionados aos processos de ensino e de aprendizagem; ampliar efeitos positi- vos de atividades educacionais; promover repertórios que ampliem a qualidade do atendimento; promover ações de preven- ção a ocorrência de difi culdades futuras (CARMO, 2012, p. 230) A Análise do Comportamento tem muito a contribuir para a atuação do psicó- logo escolar. A perspectiva de atuação da psicologia escolar comportamental parte das contribuições da análise funcional de problemas de comportamento, como ins- trumento e de modelo de aplicação em sala de aula. E ainda, amplia as possibilidades do modelo de análise funcional para situa- ções complexas que envolvem não apenas alunos em interação, mas também outros agentes educacionais. Carmo (2012, p.234) esclarece que um psicólogo escolar comportamental de- verá programar ações a partir de deman- das existentes na instituição escolar e de- senvolver projetos educacionais baseados em princípios, como: • A sensibilidade do comportamento às consequências; • controle de estímulos e o controle por regras; • progressão gradual para estabelecer re- pertórios complexos; • uso de prompts com diversas modali- dades sensoriais; • substituição gradual de reforçadores extrínsecos por reforçadores intrínsecos; • uso de modelos (modelação) e de mo- delagem de repertórios; • planejamento de contingências refor- çadoras de ensino e de aprendizagem; • uso de princípios básicos (discrimina- ção; generalização) e de operações básicas (extinção, esvanecimento, contracontrole, etc). Também é importante utilizar al- guns procedimentos auxiliares, como observação (registro contínuo; por amos- tragem...); defi nição operacional dos com- portamentos investigados; análise funcio- 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 23 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA nal: identifi cação e descrição das relações de dependência entre o comportamento e o ambiente, levantamento de hipóteses e procedimentos de intervenção a fi m de verifi car o efeito de determinadas mani- pulações ambientais sobre o comporta- mento e planejamento de contingências de reforçamento. A Psicologia Escolar Comporta- mental apresenta-se como uma perspec- tiva que oferece relevantes recursos aos profi ssionais que lidam com a educação escolar, bem como aos pais e outros en- volvidos na educação de crianças e jo- vens, mas no que se refere ao trabalho do professo se encontram as principais contribuições educacionais. (ALBERTO & TROUTMAN, 2009; ZIRPOLI, 2005, apud CARMO, 2012, p. 235). Diante das variáveis apresentadas: educação, escola, professores e psicólogo escolar, pode-se afi rmar que a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem pa- pel fundamental no contexto educacional e que pode contribuir imensamente na in- tervenção com crianças autista. Pode, ain- da, acrescentar a intervenção com crian- ças com outras classes comportamentais tidas como problemáticas, como: agres- sividade, difi culdade de aprendizagem, transtorno de défi cit de atenção, entre ou- tros. A Análise Aplicada do Compor- tamento (ABA) caracteriza-se como um processo, em que há a aplicação de prin- cípios de comportamento para a melhoria de comportamentos específi cos. A ABA é um modelo de explicação e modifi cação do comportamento humano baseado em evidências empíricas. E que, segundo Sé- rio e Tourinho (2010), apesar de sua apli- cação se estender à clínica com adultos, escolas, organizações e terapia para pesso- as especiais, ela fi cou mais conhecida no Brasil devido ao trabalho realizado com crianças diagnosticadas com autismo. Uma parte considerável das apre- sentações de trabalhos em eventos em Análise do Comportamento Aplicada, nos Estados Unidos, nas várias categorias, versam sobre o atendimento a autistas, por uma razão simples: há uma legislação federal americana que garante recursos para o atendimento a autistas e um reco- nhecimento da efi cácia de programas com base na Análise do Comportamento. Há, também, por parte dos planos de seguri- dade social existentes em alguns estados norte americanos, a exigência da utilização de ABA para efetuarem os pagamentos ao profi ssional de psicologia. Desta forma, as instituições que oferecem aquele serviço e as agências que fi nanciam a pesquisa na área preferem contratar profi ssionais ou apoiam pesquisadores com formação em Análise do Comportamento. (TOURI- NHO e SÉRIO, 2010). 2 Análise do Comportamento Aplicada: Princípios Básicos 25 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA G rebb, Kaplan e Sadock (1997) afi r-mam que o primeiro psiquiatra a dar atenção mais séria a crianças peque- nas com transtornos mentais severos foi Henry Maudsley (1867), envolvendo um marcante desvio, atraso e distorção nos processos de desenvolvimento. Ini- cialmente, todos esses transtornos eram considerados psicoses. Em 1906, Plouller introduziu o adjetivo autista na literatura psiquiátrica ao estudar pacientes que ti- nham diagnóstico de demência precoce e esquizofrenia, mas foi Bleuler, em 1911, o primeiro a difundir o termo autismo, de- fi nindo-o como perda de contato com a realidade, causada pela impossibilidade ou grande difi culdade na comunicação in- terpessoal. Para Bleuler o autismo é um trans- torno básico da esquizofrenia, que con- siste na limitação das relações pessoais e com o mundo externo, parecendo excluir tudo que parece ser o “eu” da pessoa. Em 1943, Leo Kanner, em seu en- saio: Autistic Disturbances of Aff ective Contact, cunhou o termo autismo infantil e forneceu uma descrição clara e abran- gente dessa síndrome. Para eles, Kanner descreveu crianças que exibiam: Extrema solidão autista, incapacidade para assumir postura antecipatória, desenvolvimento atrasado ou desviante da linguagem, com ecolalia e inversão pronominal (usar você ao invés de eu), repetições monótonas de sons ou expressões verbais, excelente me- mória de repetição, limitação na variedade de atividades espontâneas, estereotipias e maneirismos, desejo ansiosamente obses- sivo pela manutenção da uniformidade, pavor de mudança e imperfeição, relações anormais com outras pessoas e preferên- cia por fi guras ou objetos inanimados. (GREBB, KAPLAN e SADOCK, 1997). Salle et al (2005) pontuam que As- 3 Transtorno do Espectro Autista 26 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA perger(1944), quase na mesma época que Kanner, também diferenciou um grupo de crianças com retardo no desenvolvi- mento, sem outras características associa- das ao retardo mental, e deu o nome de psicopatia autística Em desacordo com a proposta de Kanner, Salle et al(2005), afi rmam que Bender em 1947, usou o termo esquizofre- nia infantil, pois ele e outros consideravam o autismo como a forma mais precoce da esquizofrenia. Já Mahler(1989) utilizou o termo psicose simbiótica, atribuindo a causa da doença ao relacionamento mãe- -fi lho. Conforme Salle et al(2005), Rutter em 1967 fez uma análise crítica das evi- dências empíricas encontradas acerca do autismo e considerou quatro característi- cas principais: 1. Falta de Interesse Social; 2. Incapacidade de Elaboração da Lin- guagem Responsiva; 3. Presença de conduta motora bizarra em padrões de brinquedo bastante li- mitado; 4. Início precoce, antes dos trinta me- ses. O Conselho Consultivo Profi ssio- nal da Sociedade Nacional para Crianças e Adultos com Autismo dos Estados Uni- dos (Ritvo e Freedman, 1978 citados por Salle et al 2005) defi niu o autismo como uma síndrome que aparece antes dos trin- ta meses e que possui as seguintes caracte- rísticas: distúrbios nas taxas e sequências do desenvolvimento, distúrbios nas res- postas a estímulos sensoriais, distúrbios na fala, linguagem e capacidades cogniti- vas, distúrbios na capacidade de relacio- narem-se com pessoas, eventos e objetos. Apesar de Kanner ter descrito o autismo infantil em 1943, foi somente no ano de 1980, na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III) que a síndrome foi reconhecida como uma síndrome clínica distinta. De acordo com Grebb, Kaplan e Sadock (1997), antes de 1980, as crianças com qualquer um dos transtornos invasi- vos do desenvolvimento eram classifi ca- das como tendo um tipo de esquizofrenia infantil. Conforme o CID-10 (1992), o grupo de transtornos que compreende os trans- tornos invasivos do desenvolvimento, no qual o autismo está inserido, é caracteri- zado por anormalidades qualitativas em interações sociais recíprocas e em padrões de comunicação e por um repertório de in- teresses e atividades restrito, estereotipa- do e repetitivo. Fala-se então de autismo infantil, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da in- fância e transtorno invasivo do desenvol- vimento sem especifi cidade. O autismo infantil é um transtor- no invasivo do desenvolvimento defi nido pela presença de desenvolvimento anor- mal e/ou comprometido que se manifesta antes da idade de 3 anos e pelo tipo ca- racterístico de desenvolvimento anormal em todas as três áreas de interação social, comunicação e comportamento restrito e 3 Transtorno do Espectro Autista 27 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA repetitivo. O transtorno ocorre em garotos três ou quatro vezes mais frequentemente que em meninas. Contudo, para Salle et al (2005) quando meninas são afetadas, a gravidade é maior, pois elas apresentam danos cerebrais mais severos. Em geral, não há um período pré- vio de desenvolvimento inequivocamente normal, mas, quando há, as anormalida- des se tornam aparentes antes da idade de três anos. Há sempre comprometimentos qualitativos na interação social recíproca. Tais comprometimentos são observados através de indicadores socioemocionais, como demonstrada por uma falta de res- postas para emoções de outras pessoas e/ ou falta de modulação do comportamen- to, de acordo com o contexto social; uso insatisfatório de sinais sociais e uma fraca integração dos comportamentos sociais, emocionais e de comunicação e, especial- mente, uma falta de reciprocidade socioe- mocional. Similarmente, défi cits qualitativos na comunicação são universais. São ob- serváveis na falta de uso social de quais- quer habilidades de linguagem que es- tejam presentes; comprometimento em brincadeiras de faz-de-conta e jogos so- ciais de imitação; pouca sincronia e falta de reciprocidade no intercâmbio de con- versação; pouca fl exibilidade na expres- são da linguagem e uma relativa ausência de criatividade e fantasia nos processos de pensamento; falta de resposta emocional às iniciativas verbais e não verbais de ou- tras pessoas; uso comprometido de varia- ções na cadência ou uma falta similar de gestos concomitantes para dar ênfase na signifi cação falada. A condição é também caracterizada por padrões de comportamento, interes- ses e atividades restritos e estereotipados. Existe uma tendência a impor rigidez e rotina a uma ampla série de aspectos do funcionamento diário, isto se aplica tanto a atividades novas como a hábitos familia- res e padrões de brincadeiras. Particular- mente na primeira infância, pode haver vinculação específi ca a objetos incomuns, tipicamente não macios. A criança pode insistir na realiza- ção de rotinas particulares e em rituais; pode haver preocupação singular com interesses tais como datas, itinerários ou horários; frequentemente há estereotipias motoras; interesse específi co em elemen- tos não funcionais de objetos, tais como cheiro ou tato, é comum e pode haver resistência a mudanças na rotina ou em detalhes do meio ambiente pessoal, tais como movimentações de ornamentos ou móveis da casa. Em adição a esses aspec- tos diagnósticos específi cos é frequente a criança com autismo mostrar uma série de outros problemas não específi cos, tais como medo/ fobias, perturbações de sono e alimentação, ataques de birra e agressão. Comportamentos de autolesão são relativamente comuns, especialmente quando há retardo mental associado. A maioria dos indivíduos com autismo ca- rece de espontaneidade, iniciativa e cria- tividade na organização de seu tempo de lazer e tem difi culdade em aplicar concei- tualizações em decisões de trabalho, mes- mo quando as tarefas em si estão a altura 3 Transtorno do Espectro Autista 28 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA de sua capacidade. Mesmo a manifestação específi - ca dos défi cits característicos do autismo mude à medida que as crianças crescem tais défi cits continuam através da vida adulta com um padrão amplamente similar de problemas na socialização, comunicação e padrões de interesse. A Síndrome de Asperger é um transtorno de validade nosológica incerta, caracterizado por uma alteração qualitati- va das interações sociais recíprocas, seme- lhante à observada no autismo, com um repertório de interesses e atividades res- trito, estereotipado e repetitivo. Ele se di- ferencia do autismo essencialmente pelo fato de que não é acompanhado de um re- tardo ou de uma defi ciência de linguagem ou do desenvolvimento cognitivo. Os indivíduos que apresentam este transtorno são em geral muito desajeita- dos. As anomalias persistem frequente- mente na adolescência e idade adulta e podem ser concomitantes com episódios psicóticos no início da idade adulta. O diagnóstico é baseado na combinação de uma falta de qualquer atraso global clini- camente signifi cativo no desenvolvimento da linguagem ou cognitivo, como no autis- mo, a presença de defi ciências qualitativas na interação social recíproca e padrões de comportamento, interesses e ativida- des restritos, repetitivos e estereotipados. Pode haver ou não problemas de comu- nicação similares àqueles associados ao autismo, mas um retardo signifi cativo da linguagem excluiria o diagnóstico. A síndrome de Rett é um transtor- no, cuja ocorrência é descrita até o mo- mento unicamente em meninas, carac- terizado por um desenvolvimento inicial aparentemente normal, seguido de uma perda parcial ou completa de linguagem, da marcha e do uso das mãos, associado a um retardo do desenvolvimento crania- no e ocorrendo habitualmente entre 7 e 24 meses. A perda dos movimentos das mãos, a torção estereotipada das mãos e a hiperventilação são características deste transtorno. O desenvolvimento social e o de- senvolvimento lúdicoestão detidos, já o interesse social continua em geral con- servado. A partir da idade de quatro anos manifesta-se uma ataxia (falta de coorde- nação) do tronco e uma apraxia (perda da habilidade de realizar movimentos preci- sos), seguidas frequentemente por movi- mentos coreoatetósicos (lento e incontro- lável). O transtorno leva quase sempre a um retardo mental grave. O Transtorno Desintegrativo da Infância é um transtorno global do desen- volvimento caracterizado pela presença de um período de desenvolvimento com- pletamente normal antes da ocorrência do transtorno, sendo que este período é seguido de uma perda manifesta das ha- bilidades anteriormente adquiridas em vários domínios do desenvolvimento no período de alguns meses. Tais manifestações são acompa- nhadas tipicamente de uma perda global do interesse com relação ao ambiente, condutas motoras estereotipadas, repe- titivas e maneirismos e de uma alteração 3 Transtorno do Espectro Autista 29 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA da interação social e da comunicação que se assemelham ao autismo. Em alguns ca- sos, a ocorrência do transtorno pode ser relacionada com uma encefalopatia. Con- tudo, o diagnóstico deve tomar por base as evidências de anomalias do comporta- mento. O transtorno invasivo do desen- volvimento sem especifi cidade é uma ca- tegoria diagnóstica residual que deve ser usada para transtornos que se encaixam na descrição geral para transtornos inva- sivos do desenvolvimento, nos quais uma falta de informação adequada ou achados contraditórios indica que os critérios para qualquer dos outros transtornos não po- dem ser satisfeitos. Atualmente, como será visto a se- guir, não se faz mais a separação do Au- tismo. Segundo Murari (2014), na nova versão do DSM, o DSM-V, todos os trans- tornos invasivos do desenvolvimento, com exceção da síndrome de Rett, deixam de ter diagnósticos distintos e passam a ser consideradas graduações dentro de um mesmo espectro. Esta mudança es- tabelece uma nova classifi cação denomi- nada de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que o transtorno continua a ser defi nido por um conjunto de défi ces de in- teração verbal e não verbal, que ocorrem de forma persistente em diferentes con- textos. Abrange défi ces em reciprocidade social, em interações não verbais e falta de habilidade para compreender determina- das relações. Défi ces estes acompanhados da existência de padrões comportamen- tais restritivos ou repetitivos (MURARI, 2014). Diagnóstico P ara Murari (2014), maior conheci-mento sobre as condições que resul- tam em comportamentos que compõem o quadro do Transtorno do Espectro Au- tista, levam a um diagnóstico precoce e desenvolvimento de intervenções mais efetivas. Um dos sistemas de classifi cação padronizada dos transtornos é o DSM. Materiais deste tipo auxiliam os profi ssio- nais por apresentar critérios padroniza- dos de diagnóstico que, se cumprido por todos, pode produzir dados relevantes para estudos epidemiológicos, os quais são extremamente importantes para o de- senvolvimento de políticas públicas. De acordo com Banaco, Meyer e Zamignani (2010), muitas críticas são di- rigidas ao uso desse tipo de material, tanto por parte de analistas do comportamento quanto por outros profi ssionais. No que diz respeito à Análise do Comportamen- to, Anderson (2007), afi rma que o DSM baseia-se em um modelo médico de psi- copatologia, e que esse modelo indicaria uma etiologia médica ou interna para o problema do comportamento. Isto seria incompatível com a Análise do Compor- 3 Transtorno do Espectro Autista 30 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA tamento, embora reconheça as funções de comunicação e troca de informações do manual. Murari (2014) afi rma que esse tipo de classifi cação padronizada considera os sintomas como sendo idênticos para todos os indivíduos, caracterizando-os como um grupo homogêneo. O Trans- torno do Espectro Autista abrange um espectro heterogêneo de quadros clínicos e comportamentais e que uma padroniza- ção que homogeneíze os indivíduos pode obscurecer os fatores que estão envolvi- dos no desenvolvimento e manutenção do transtorno. Banaco Meyer e Zamignani (2010) afi rmam que o DSM traz descrições das formas de comportamento que não são informações sufi cientes para uma boa in- tervenção analítico-comportamental. As- sumir tais informações como fonte sufi - ciente de informação seria deixar de lado a ferramenta básica que o analista do com- portamento tem para trabalhar: a análi- se funcional. Ainda, o ponto de discórdia principal sobre este ponto, é que: Com o manual e a sua possível uti- lização, os profi ssionais correriam o risco de deixarem de fazer boa parte do que se espera que eles façam: que procurem a função do comportamento por meio de pequenas manipulações nas contingên- cias nas quais o comportamento proble- mático aparece. Como decorrência dessa suposta prática, as escolhas de interven- ções por meio do diagnóstico diferencial proporcionado pelo manual poderiam ser inefi cazes, já que não seriam funda- mentadas em uma análise funcional do caso (BANACO, MEYER e ZAMIGNANI, 2010, p. 179 Entende-se que um instrumen- to que traga padronização será um refe- rencial para a elaboração do diagnóstico de TEA. Um tratamento efetivo baseado em ABA utilizará esse instrumento como apoio para a realização do diagnósti- co, mas contará com a análise funcional como ferramenta principal de interven- ção. O que signifi ca que há um distancia- mento da padronização quando se analisa o comportamento do indivíduio baseado nos três aspectos fi logênese, ontogênese e cultura. Houve mudanças no critério diag- nóstico do Transtorno do Espectro Au- tista na edição de 2013 do DSM, o DSM- -V. No DSM-IV, o diagnóstico era divido em cinco transtornos: transtorno autista, transtorno de asperger, transtorno invasi- vo do desenvolvimento, síndrome de Rett e transtorno desintegrativo da infância. No DSM-V todos esses transtornos, ex- ceto a síndrome de Rett, foram incluídos no diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista. Além dessa alteração, no DSV-IV havia três critérios principais para o diag- nóstico: desafi os de linguagem, défi cits sociais e comportamentos estereotipados ou repetitivos. No DSM-V, há apenas dois critérios principais: comunicação social e os seus défi cits e os comportamentos es- tereotipados e repetitivos. Assim, os atra- sos de linguagem não fazem mais parte do diagnóstico. Segundo o DSM-V (2013), o trans- torno do espectro do autismo deve preen- cher os seguintes critérios: 3 Transtorno do Espectro Autista 31 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA 1. Défi cits clinicamente signifi cativos e persistentes na comunicação social e nas interações sociais, manifestadas de todas as maneiras seguintes, • Défi cits expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para interação social; • Falta de reciprocidade social; • Incapacidade para desenvolver e man- ter relacionamentos de amizade apropria- dos para o estágio de desenvolvimento; 2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e ativi- dades, manifestados por pelo menos dois dos itens, • Comportamentos motores ou verbais estereotipados, ou comportamentos sen- soriais incomuns; • Excessiva adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de comportamento; • Interesses restritos, fi xos e intensos; e 3. Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas capacidades. O manual apresenta algumas jus- tifi cativas para as mudanças. Segundo o DSM-V (2013, p. 31e 32), variáveis depen- dentes do ambiente, e frequentemente as- sociadas à gravidade, nível de linguagem ou inteligência, parecem contribuir mais do que as características do transtorno. Como o autismo é defi nido por um con- junto comum de sintomas, ele pode ser melhor representadopor uma única ca- tegoria diagnóstica, adaptável conforme apresentação clínica individual. B. Três domínios se tornam dois: 1) Defi ciências sociais e de comunicação; Interesses restritos, fi xos e intensos e comportamentos repetitivos. Défi cits na comunicação e comportamentos sociais são inseparáveis, e avaliados mais acura- damente quando observados como um único conjunto de sintomas com especi- fi cidades contextuais e ambientais. Atra- sos de linguagem não são características exclusivas dos transtornos do espectro do autismo e nem universais dentro dele. Podem ser defi nidos, mais apropriada- mente, como fatores que infl uenciam nos sintomas clínicos de TEA, e não como critérios do diagnóstico do autismo para esses transtornos. C. O Transtorno do Es- pectro do Autismo é um transtorno do de- senvolvimento neurológico, e deve estar presente desde o nascimento ou começo da infância, mas pode não ser detectado antes, por conta das demandas sociais mí- nimas na mais tenra infância, e do intenso apoio dos pais ou cuidadores nos primei- ros anos de vida. Murari (2014) reitera que na nova versão do DSM, o DSM-V, todos os trans- tornos invasivos do desenvolvimento, com exceção da síndrome de Rett, passam a ter o mesmo diagnóstico sendo consideradas graduações dentro de um mesmo espec- tro. Esta mudança estabelece uma nova classifi cação denominada de Transtorno do Espectro Autista (TEA). O TEA conti- nua a ser defi nido por um conjunto de dé- fi cits de interação verbal e não verbal, que ocorrem de forma persistente em diferen- 3 Transtorno do Espectro Autista 32 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA tes contextos. Contudo, nessa nova versão do DSM a linguagem deixa de ser critério de diagnóstico. Esta mudança pode afetar a precocidade do diagnóstico, já que agora o médico não precisará esperar até que a linguagem falada se desenvolva para rea- lizar o diagnóstico. Conforme descrito no atual DSM-V, manual mais recente, sinais de autismo são reconhecidos, em geral, entre 12 e 24 meses de vida, mas podem ser notados antes da criança completar um ano, especialmente se o atraso de de- senvolvimento for grave. (MURARI, p. 03, 2014). A proposta apresentada pelo DSM- 5 parece uma tentativa de contemplar uma perspectiva mais abrangente. E, ain- da, contribuir para o diagnóstico precoce ao retirar a fala como um dos critérios e fo- car a avaliação de comportamentos sociais precursoras do comportamento verbal. A precocidade do diagnóstico é um fator es- sencial quando o assunto em questão é o Transtorno do Espectro Autista (MURA- RI, 2014). Grebb, Kaplan e Sadock (1997) re- alizaram estudos que corroboram os da- dos do CID-10 e do DSM-V que norteiam o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estes estudos são divididos em aspectos comportamentais, biológi- cos, familiares, de incidência e socioeco- nômicos. E serão apresentados a seguir. No que diz respeito aos aspectos comportamentais, o transtorno é carac- terizado por comprometimentos persis- tentes nas interações sociais, por desvios na comunicação e por padrões compor- tamentais restritos e estereotipados. Existem também comprometimentos referentes à comunicação e linguagem, instabilidade de humor e afeto. As crian- ças autistas têm difi culdade no desenvol- vimento da conexão habitual com seus pais e outras pessoas, ou seja, não fazem contato visual, não sorriem, não buscam contato físico e afetivo. O transtorno tem caráter evolutivo-comportamental e pode ter muitos fatores. Quando bebês, muitos não exibem o sorriso social e a postura de antecipação para serem erguidos quando os adultos se aproximam. Há falta de apego às fi - guras parentais e difi culdade de vínculo. As crianças com transtorno do espectro autista parecem não diferenciar pessoas importantes tais como pais, irmãos e fa- miliares e não tem difi culdade na separa- ção dos pais como teriam outras crianças. No primeiro ano de vida, a quantidade e o padrão de balbucio das crianças autistas é reduzido ou diferente das outras crianças, pois elas emitem sons de forma estereoti- pada, sem qualquer intenção aparente de comunicação. A linguagem nessas crian- ças, geralmente, dá-se por ecolalia, com frases que não tem relação com o contex- to. Na idade escolar, as crianças autis- tas têm difi culdade em brincar com seus pares e fazer amigos, lhes falta habilidade social e inadequação, há também uma sig- nifi cativa difi culdade no desenvolvimento da empatia. Na adolescência tardia alguns indivíduos com esse transtorno manifes- tam desejo de fazer amigos, mas há uma inadequação na abordagem e uma in- capacidade de responder aos interesses, 3 Transtorno do Espectro Autista 33 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA emoções e sentimentos alheios. Na ado- lescência e na vida adulta, há sentimentos sexuais, mas a inabilidade social impede que eles desenvolvam um relacionamen- to. Sobre as perturbações da comuni- cação e da linguagem há tanto um desvio quanto um atraso na linguagem. As crian- ças autistas fazem pouco uso do signifi ca- do em memórias e processos dos pensa- mentos e quando aprendem a conversar fl uentemente, ainda falta habilidade so- cial. Seus diálogos não se caracterizam por intercâmbio de respostas recíprocas. Com relação aos comportamen- tos estereotipados, nos primeiros anos de vida da criança com autismo, grande parte da atividade exploratória infantil é ausente ou mínima, os brinquedos e ob- jetos frequentemente são manipulados de um modo para o qual não foram feitos, com pouca variedade, criatividade e ima- ginação e poucos aspectos simbólicos. As atividades e jogos são rígidos, repetitivos e monótonos. Fenômenos ritualísticos e compul- sivos são comuns na infância inicial e in- termediária de crianças com diagnóstico autista, as crianças giram, batem com a cabeça e alinham objetos. Além disso, as crianças autistas são muito resistentes às mudanças. Sobre instabilidade de humor e afeto, algumas crianças com transtorno do espectro autista exibem súbitas mu- danças de humor, com surtos de risadas ou pranto sem razão aparente e sem a expressão de pensamentos congruentes com o afeto. Somado a isso, crianças com autismo podem ser super ou sub-respon- sivas aos estímulos sensoriais. Os estudos epidemiológicos e clí- nicos mostram que o risco de transtorno autista aumenta à medida que o Q.I. dimi- nui. Cerca de um quinto das crianças com autismo tem uma inteligência não-verbal normal. Os escores de Q.I. dessas crian- ças tendem a mostrar problemas com o sequenciamento verbal e habilidades de abstração, em vez de envolverem habili- dades viso-espaciais ou de memória de re- petição, sugerindo a importância de defei- tos nas funções relacionadas à linguagem. Aptidões visotomotoras ou cognitivas in- comuns ou precoces estão presentes em algumas crianças autistas. Estas podem existir mesmo dentro de um funciona- mento globalmente retardado e são deno- minadas “ilhas de precocidade”. Talvez, os exemplos mais notáveis sejam os sábios- idiotas, que tem memórias de repetição e capacidades de cálculo prodigiosas. Aqui, as aptidões específi cas geralmente fi cam além das aptidões do grupo de iguais normais. Outras aptidões precoces em crianças com autismo incluem uma boa capacidade de leitura, embora não sejam capazes de entender o que leem, para me- morizar e recitar, ou aptidões musicais, 3 Transtorno do Espectro Autista 34 ABA - ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA cantar melodias ou reconhecer diferentes peças musicais. (GREBB, KAPLAN E SA- DOCK, 1997) Sobre os aspectos biológicos, Gre- bb, Kaplan e Sadock (1997), afi rmam que o transtorno e os sintomas autistas estão associados com condições que provocam lesões neurológicas, notoriamente rubé- ola congênita, fenilcetonuria, esclerose tuberosa e síndrome de Rett. As crianças com autismo apresentam mais evidên- cias de complicações perinatais do que os grupos de crianças normais
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