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Anderson Soares 5ºP IESVAP puberdade conceito A puberdade é considerada precoce quando as características sexuais secundárias aparecem antes dos 8 anos de idade em meninas e antes dos 9 anos de idade em meninos, sendo mais prevalente no sexo feminino. Geralmente, o primeiro sinal puberal observado nas meninas é o aumento das mamas, e, nos meninos, o aumento dos testículos (> 4 mℓ ou 2,5 cm no maior comprimento). Entretanto, algumas vezes a puberdade precoce (PP) pode se manifestar inicialmente com o aparecimento de pelos pubianos. A evolução puberal deve ser avaliada de acordo com os estágios de Tanner para características sexuais. O tempo de progressão desses estágios deve ser considerado no acompanhamento de crianças com PP, pois existem duas variações na evolução da puberdade consideradas normais. A primeira é a puberdade avançada de evolução lenta (inicia-se antes da idade normal e evolui de maneira lenta, terminando em época normal), e a segunda é a puberdade de evolução acelerada (inicia-se em idade normal, mas progride rapidamente, atingindo os estágios finais da puberdade em uma idade inadequada). A produção ou exposição aos esteroides sexuais antes da idade fisiológica pode levar ao desenvolvimento de uma característica sexual isolada, denominada variante do desenvolvimento puberal. Quando ocorre o desenvolvimento de mais de uma característica sexual secundária, a PP pode ser classificada em hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH)- dependente (central) ou GnRHindependente (periférica), conforme ativação ou não do eixo hipotálamohipófisegônada, respectivamente. puberdade Anderson Soares 5ºP IESVAP Classificação Puberdade precoce central Puberdade precoce periférica Variantes do desenvolvimento puberal Telarca precoce: presença isolada de mamas em meninas, com crescimento e maturação óssea normais. É mais comum nos primeiros 2 anos de vida (pode estar presente ao nascimento) e entre 6 e 8 anos de idade. Mais frequente em crianças da raça negra e com excesso de peso. A maioria não progride ou até regride, entretanto, alguns casos podem progredir para PP (10 a 18%) Pubarca precoce: também chamada de adrenarca precoce, caracterizada pelo surgimento de pelos pubianos e/ou axilares precocemente sem outros sinais de puberdade ou virilização. É mais comum em meninas, raça negra, obesos e crianças que nasceram pequenas para idade gestacional (PIG). A velocidade de crescimento pode estar pouco aumentada e a idade óssea, pouco avançada, porém sem repercussão na puberdade fisiológica e na altura final Menarca isolada: sangramento vaginal sem mamas ou pelos. É muito rara. Sem repercussão no crescimento. ETIOLOGIA Variantes do desenvolvimento puberal normal • Puberdade avançada de evolução lenta • Puberdade de evolução acelerada Variantes do desenvolvimento puberal • Telarca • Pubarca • Menarca Puberdade precoce central (GnRH-dependente, verdadeira, completa) • Idiopática (90% meninas 50% meninos) • Lesões do SNC o Hamartoma do túber cinéreo: tumor benigno que mais frequentemente causa PPC, especialmente em crianças mais novas o Outros tumores: astrocitomas, gliomas, pinealomas, ependimomas o Radioterapia: baixas doses de radioterapia podem causar PPC o Outras lesões: qualquer lesão que altere a relação hipotálamohipófise, como trauma, infecção, hidrocefalia etc., pode causar PPC • Tratamento da puberdade precoce periférica o Quando inadequado podem desenvolver PPC após queda dos níveis de esteroides sexuais devido à melhora deste tratamento • Adoção o Maior prevalência de PPC em crianças com adoção internacional. Acreditase que a ativação do eixo seja multifatorial, em função da melhora da dieta e do ambiente psicológico • Hipertireoidismo primário • Mutações genéticas Puberdade precoce periféria (GnRH-independente, pseudo, incompleta) • Gonadal o Tumores (cistos e tumores ovarianos, células de Leydig) o Genética (síndrome de McCune-Albringht, em ambos sexos, e testotoxicose) Síndrome de McCuneAlbright é caracterizada pela tríade de manchas “café com leite”, displasia óssea fibrosa e PP. É rara, causada por uma mutação somática ativadora da subunidade da proteína G. Pode ocorrer em ambos os sexos, sendo mais comum em meninas. Deve ser considerada em meninas com cistos foliculares recorrentes e que apresentam menarca como o primeiro sinal puberal Anderson Soares 5ºP IESVAP A testotoxicose é uma causa familiar de ativação precoce das células de Leydig devido à mutação ativadora do receptor do hormônio luteinizante (LH). Meninos apresentam aumento testicular entre 1 e 4 anos de idade • Suprarrenal o Hiperplasia suprarrenal congênita o Tumores do córtex da suprarrenal • Tumores produtores de hCG (meninos) o Podem se localizar no sistema nervoso central (SNC) (corioepitelioma, disgerminoma), nas gônadas (teratoma) e outros (coriocarcinoma, hepatoma). • Desreguladores endócrinos • Exposição a esteroides sexuais fisiologia Puberdade precoce central A ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gônada pode ser decorrente de alguma alteração do sistema nervoso central (tumor, trauma, radioterapia), o que leva à liberação do eixo gonadotrófico, com consequente produção de esteroides sexuais, que desencadeia aparecimento e avanço progressivo das características puberais, com aceleração da velocidade de crescimento e maturação óssea, podendo chegar a maturação sexual completa e fertilidade. É mais comum no sexo feminino. Embora as causas de puberdade precoce central (PPC) sejam semelhantes em ambos os sexos, a idiopática tem grande predomínio no sexo feminino. Em meninos a causa orgânica é mais comum. Puberdade precoce periférica Na puberdade precoce periférica (PPP), o excesso de esteroides sexuais é proveniente das gônadas, suprarrenais ou de alguma fonte exógena. Esses casos podem se apresentar com desenvolvimento puberal próprio do seu sexo (isossexual) ou do sexo oposto (virilização em meninas e feminização em meninos = heterossexual). Anderson Soares 5ºP IESVAP Manifestações diagnóstico O diagnóstico das causas em 75% dos casos é feito a partir de minuciosa anamnese aliada a um extenso exame físico e à avaliação da idade óssea (na maioria das vezes avançada em relação à idade cronológica). Para a diferenciação entre PPC e PPP são necessários exames complementares. ANAMNESE: a identificação da raça do paciente e o tempo de progressão das características sexuais são dados de extrema importância para o diagnóstico. A história familiar sobre a época de ocorrência da puberdade ajuda na diferenciação entre as variantes do desenvolvimento puberal. Na história patológica da criança, virilização neonatal, associada ou não a desidratações, pode ser causa de PP heterossexual em meninas com hiperplasia suprarrenal congênita (HSRC). Queixa de cefaleia ou outros sintomas neurológicos pode sugerir PPC. Possível exposição a desreguladores endócrinos ou ingestão acidental de esteroides sexuais poderia constituir a causa do desenvolvimento de características sexuais secundárias. Por fim, não menos importante é o questionamento sobre o entendimento das alterações corporais pelo paciente. EXAME FÍSICO: é preciso observara estatura e a velocidade de crescimento da criança, bem como a presença de obesidade. A classificação do estadiamento de Tanner do paciente é a base do diagnóstico. Mucosa vaginal rósea significa exposição do tecido aos efeitos do estrogênio. Consistência, tamanho e simetria de testículos ajudam na diferenciação da causa da PP. Na PPP, os testículos são assimétricos em tumores ou são de tamanho desproporcional em relação ao grau de virilização em Anderson Soares 5ºP IESVAP meninos, como na HSRC. Máculas “café com leite” podem sugerir síndrome de McCuneAlbright. Nesse caso, além da investigação complementar direcionada ao desenvolvimento puberal, também devem ser avaliadas as funções tireoidiana e suprarrenal e a integridade óssea. US: Em meninas, a ultrassonografia (US) pélvica está sempre indicada para avaliar útero e ovários. Corpo uterino maior que colo uterino, volume de útero maior que 2 a 3 cm3 ou comprimento maior que 34 mm, presença de cistos ou massas, ovários aumentados (maiores que 1,5 a 2 cm3 de tamanho) ou ainda mais específicos e eco endometrial aumentado ocorrem na PP progressiva. No sexo masculino, a US de testículos auxilia na diferenciação de doenças primárias do testículo. A US abdominal está indicada em ambos os sexos para avaliação da suprarrenal ou tumores abdominais produtores de hCG. LABORATORIAIS: A avaliação do eixo gonadotrófico é indicada a partir dos 3 anos de idade. Em crianças menores de 2 a 3 anos de idade, os valores de FSH e LH podem estar aumentados devido à minipuberdade, e é necessário ter precaução ao se administrarem essas dosagens para o diagnóstico de PP. Entretanto, níveis baixos nesse período associados a características sexuais sugerem etiologia periférica. A partir da idade escolar, os pontos de corte das dosagens de FSH e LH são controversos para a definição de PPC. Devese sempre considerar o gênero do paciente e o método adotado na pesquisa. O uso de ensaios por imunoquimioluminescência (ICMA) tem promovido o diagnóstico da puberdade com valores de LH basal acima de 0,1 U/ℓ. No caso do uso de métodos imunofluorométricos (IFMA), valores de LH basal maiores que 0,6 U/ℓ podem servir de base para diferenciação. A relação LH/FSH maior que 1 também é um indicador importante. Quando os valores basais se encontram normais a despeito de uma clínica exuberante, são usados os testes de geração de gonadotrofinas por meio da dosagem de LH e FSH após a administração de análogos de GnRH. Valores de pico de LH maiores que 5 U/ℓ por ICMA, podendose considerar o valor maior que 7,9 U/ℓque corresponde a 2 desvios padrão da média, e para IFMA valores maiores que 9,6 U/ℓ em meninos e 6,9 U/ℓ em meninas, sugerem o diagnóstico de PPC (Tabela 55.3). O uso isolado de valores de FSH não é útil para o diagnóstico. Valores isolados de testosterona acima dos esperados para a idade no sexo masculino parecem ter boa correlação com o diagnóstico, diferente do valor de estradiol em meninas, exceto quando estes encontramse muito elevados, podendo corresponder a um cisto ovariano funcionante ou tumor. Dosagem de hCG é necessária na suspeita de tumores embriogênicos como etiologia para a PP em meninos. Na testotoxicose, encontramse valores de gonadotrofinas baixos com avaliação de testosterona bem acima do esperado para a virilização detectada. A dosagem da 17OHprogesterona impõese na suspeita de HSRC ou em casos de pubarca precoce. O sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA) aumentado é marcador de tumores suprarrenais. Anderson Soares 5ºP IESVAP TRATAMENTO REFERÊNCIAS Bandeira, Francisco Protocolos clínicos em endocrinologia e diabetes. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Endocrinologia clínica / Lucio Vilar ... [et al.] - 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016
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